Buscar

Historiografia: conceitos e escolas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 129 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 129 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 129 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ulisses Monteiro Coli Diogo 
 
Doutor em História Contemporânea pela Universidade Federal Fluminense (2016). Mestre 
em História Social pela Universidade Severino Sombra (2014). Graduado em História pela 
Universidade Federal de Viçosa (2008). Atua como professor da rede estadual do Rio de 
Janeiro (2008) e de Minas Gerais (2019). 
 
HISTORIOGRAFIA 
 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 
 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem 
Autorização escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. 
Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos científi-
co (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou 
links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e 
Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo 
abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de 
determinados termos/palavras mostradas ao longo do 
livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões 
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, 
seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
SUMÁRIO 
 
O QUE É HISTORIOGRAFIA? ...................................................................... 8 
1.1 HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA ................................................................................... 8 
1.2 O QUE CARACTERIZA UMA OBRA DE HISTÓRIA? ................................................11 
1.3 O HISTORIADOR ENTRE A OBJETIVIDADE E A SUBJETIVIDADE .............................. 14 
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................19 
 
 
ESCOLA DOS ANNALES ........................................................................... 26 
2.1 APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 26 
2.2 A PRIMEIRA E A SEGUNDA GERAÇÃO DOS ANNALES ......................................... 30 
2.3 LUCIEN FEBVRE E O CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO ................................................. 30 
2.4 MARC BLOCH E A HISTÓRIA TOTAL ........................................................................ 32 
2.5 FERNAND BRAUDEL E AS DURAÇÕES ..................................................................... 35 
2.6 PROPOSIÇÕES METODOLÓGICAS DOS ANNALES ................................................ 38 
FIXANDO O CONTEÚDO..................................................................................................... 45 
 
RENOVAÇÃO DO MARXISMO BRITÂNICO ............................................ 51 
3.1 APRESENTAÇÃO ..................................................................................................51 
3.2 O PARADIGMA TÉORICO-METODOLÓGICO MARXISTA ..................................... 53 
3.3 THOMPSON E A CRÍTICA À RELAÇÃO BASE X SUPERESTRUTURA ........................ 56 
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................60 
 
 
HISTÓRIA CULTURAL ................................................................................ 66 
4.1 APRESENTAÇÃO ..................................................................................................66 
4.2 ANTECEDENTES TÉORICOS ..................................................................................... 67 
4.3 TERCEIRA E QUARTA GERAÇÃO DOS ANNALES ................................................. 71 
4.4A MICRO-HISTÓRIA A PARTIR DE GINZBURG E LEVI .............................................. 73 
4.5A NOVA HISTÓRIA POLÍTICA E CULTURAL .............................................................. 76 
4.6 CONCLUSÃO ......................................................................................................78 
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................80 
 
PÓS-MODERNIDADE E HISTÓRIA ............................................................ 86 
5.1O QUE É PÓS-MODERNIDADE ................................................................................. 86 
5.2 A IMPORTÂNCIA DE NIETSZCHE E FOUCAULT PARA O DEBATE SOBRE A PÓS-
MODERNIDADE .........................................................................................................92 
5.3 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO ....................................................................... 97 
5.4 WHITE (1995) E A QUESTÃO DAS NARRATIVAS ..................................................... 98 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 102 
 
 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
04 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
KOSELLECK E RÜSEN: RESPOSTAS A PÓS-MODERNIDADE? ................. 108 
6.1 QUAL O LUGAR DA HISTÓRIA NA ATUALIDADE? ................................................ 108 
6.2 A HISTÓRIA DOS CONCEITOS .............................................................................. 109 
6.3 A RESPOSTA DE RÜSEN A HAYDEN WHITE ........................................................... 112 
6.4 CONCLUSÃO .................................................................................................... 119 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 121 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 126 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 127 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
Na primeira Unidade, “O que é Historiografia?” você aprenderá o 
significado do termo Historiografia. Também será feito um debate 
sobre sua função e importância para a construção do 
conhecimento histórico, as formas de produzir e a relação com o 
conhecimento científico. 
Para a segunda Unidade, “A Escola dos Annales”, você estudará 
essa importante tradição historiográfica francesa, surgida em fins 
da década de 1920. Iniciada por Marc Bloch e Lucien Febvre, seus 
pressupostos teóricos e metodológicos influenciaram variados 
debates para a Historiografia. 
 
 
Em “A renovação marxista inglesa”, serão apresentados nomes 
como Eric Hobsbawm e Edward Palmer Thompson. Esses 
historiadoresse contrapunham a tradição marxista ortodoxa, 
calcada na relação de dependência ao fator econômico para 
explicar a realidade. Suas propostas envolviam análises de 
formação das classes trabalhadoras a partir de vieses culturais e 
sociais. 
A partir da década de 1960 surge no meio historiográfico uma 
vertente culturalista, apoiada num intenso debate com a filosofia, 
a antropologia e a linguística. Na Unidade “A História Cultural”, o 
objetivo é identificar um momento da Historiografia, onde o foco 
das análises se concentra na forma como as sociedades se 
constituíram, do que uma escola, movimento ou paradigma 
definidos. 
 
 
Em “Pós-modernidade e História”, será descrita a crítica da 
modernidade, latente em meados do século XX. Abrangente, 
envolve a arte, as ciências como um todo, a política, dentre outros 
fatores. Nas Ciências Humanas e Sociais, ganha força em fins da 
década de 1960, momento também conhecido como “crise dos 
paradigmas”. Para a História, uma de suas posições revela uma 
aproximação com a Literatura, principalmente pelo historiador 
White (1995). 
Por fim, em “Koselleck e Rüsen: respostas a pós-modernidade?” 
serão apresentados os pressupostos teóricos e metodológicos 
desses dois historiadores alemães, que fornecem uma interessante 
resposta à pós-modernidade. Koselleck apresenta a História dos 
Conceitos como uma nova forma de relacionar História e Literatura 
e Rüsen demonstra que a literatura é a importante como a forma 
expressiva do saber histórico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
O QUE É HISTORIOGRAFIA? 
 
 
 
1.1 HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA 
O que é História? Essa é uma pergunta que em algum momento, a partir dos 
estudos do tema, surge em nossa formação. De difícil solução, integra a realidade 
dos estudiosos do assunto, e assim, compreender o que é a História como forma de 
conhecimento sobre o passado se torna essencial em sua trajetória como 
historiador. Como apontado na figura que segue, a pesquisa sempre foi um 
componente essencial do trabalho do historiador. 
 
Figura 1 : O Antiquário (óleo sobre tela) 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/33e9C19. Acesso em: 02 dez. 2020. 
 
O antiquarista é um exemplo do historiador em relação as fontes e a 
pesquisa. Na disciplina de “Introdução aos Estudos Históricos” esse foi um dos 
debates realizados e que procurou apontar como teóricos e historiadores se 
referem ao campo do conhecimento, como se relacionam com seus objetos de 
pesquisa. Agora, seguiremos esse debate, porém, com algumas pequenas 
diferenças. 
Admitindo as diversas possibilidades que existem de se tratar do passado, 
aqui teremos como ponto de partida a tradição da História que resultou no formato 
atualmente debatido nas Universidades, considerada como científica. De maneira 
objetiva, pode-se afirmar que o que hoje se concebe como História nas Academias 
e Universidades é um estudo de caráter científico e orientado metodologicamente 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
sobre o passado. Mas a história sempre teve esse formato hoje conhecido e 
estudado? 
Nos modelos de historiográficos influenciados pela lógica ocidental, ponto de 
partida utilizado de nossos estudos, a ideia da existência de uma História com essas 
características remonta o desenvolvimento das ciências modernas, 
aproximadamente a partir do século XVIII. Foi nesse período que ela adquiriu 
atributos de uma disciplina especializada, a partir do modelo das Ciências Naturais 
e Exatas, que tiveram grande repercussão. Portanto, em “Introdução aos Estudos 
Históricos”, o objetivo da disciplina foi encontrar questões acerca dessa origem, os 
tipos de abordagem (mitológica, estruturalista, moderna, antiquarista, marxista...), 
seu caráter científico ou não, as possibilidades de interdisciplinaridade dentre outros 
aspectos. 
Mas qual o objetivo da disciplina “Historiografia”? Além de estudar os 
pressupostos teóricos, ela também busca analisar a História criticamente a partir de 
sua própria trajetória e construção no tempo. No dicionário online Michaelis (2020), 
o verbete “Historiografia” apresenta dois significados para a palavra: “1 A arte de 
escrever a história, a ciência que estuda os eventos passados. 2Estudos críticos sobre 
a história e os historiadores”. 
Na primeira significação, o dicionário aponta para uma definição 
etimológica da palavra. Dessa maneira, a Historiografia é compreendida como o 
estudo do ato de escrever a História. Ela aponta o exercício da função em si, que se 
comprova na sua prática. Porém, na segunda definição é apresentado outro 
sentido para o termo, que indica uma prática sobre a História: o exercício crítico 
que é feito às obras produzidas e aos indivíduos que a realizam. E como essas 
definições podem ser úteis? 
A História como forma de produzir e transmitir conhecimento tem sua própria 
trajetória. Essa história da História é repleta de debates e reformulações sobre a 
natureza do conhecimento que ela própria produz. Assim, pode-se afirmar que seu 
conhecimento efetuado é debatido e reavaliado por seus pares no decorrer do 
tempo. Tal fato acaba por reafirmar a História como campo de estudos e também 
interfere nos seus debates, sua teoria, sua metodologia e objetos de pesquisa. De 
acordo com Malerba (2006, p. 15): 
 
O caráter auto-reflexivo do conhecimento histórico talvez seja o 
maior diferenciador da História no conjunto das ciências humanas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
(...) o trabalho do profissional de história exige um exercício de 
memória, de resgate da produção do conhecimento sobre qualquer 
tema que se investigue. Não nos é dado supor que partimos de um 
“ponto zero”, decretando a morte cívica de todo um elenco de 
pessoas que, em diversas gerações, e à luz delas, voltou-se a este ou 
aquele objeto que porventura nos interessa atualmente. 
 
Portanto, segundo o autor, essa incessante reavaliação é inerente a 
realização da História. O exercício da prática historiográfica parte desse diálogo 
com seus iguais e do que foi produzido, sendo essa uma das principais 
características de um trabalho de História. Ainda de acordo com Malerba (2006, p. 
15), ao analisar o que foi produzido anteriormente e assumir isso como prática, os 
historiadores acabam também por elevar “[...] a crítica historiográfica a 
fundamento do conhecimento histórico”, ou seja, reavaliar e compreender a 
trajetória da história se torna parte do que é ser historiador, fundamento do 
exercício. Portanto, essa característica da Historiografia é importante por alguns 
motivos, dentre os quais é possível destacar: 
 
 Reorienta e traz para a prática historiográfica novidades teóricas e 
metodológicas. 
 Possibilita a revisão de temas anteriormente debatidos com novas interpretações, 
não os deixando como verdades estabelecidas ou versões finais. 
 Demonstra as características de tempo e espaço correspondente a cada 
historiador e do contexto em que a obra foi produzida. 
 
Outra característica da História como campo do conhecimento útil à 
discussão, é que não existe uma completa superação daquilo que foi debatido e 
analisado em outras épocas. Diferente de outros campos do conhecimento, como 
em áreas mais voltadas a desenvolvimento tecnológico, por exemplo, uma 
conclusão ou objeto produzido num tempo passado normalmente não é 
completamente deixado de lado. O conhecimento e a tecnologia utilizada na 
produção de um artefato tecnológico, como um computador, é facilmente 
esquecido quando superado. Um celular mais antigo, mesmo que utilize 
fundamentos tecnológicos semelhantes aos mais atuais, raramente tem utilidade 
depois de ter surgido um mais moderno. Tal fato não pode ser compreendido de 
maneira semelhante na História e nas Ciências Humanas e Sociais. 
Mesmo que em certos estudos novas fontes ou procedimentos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
metodológicos possam mudar a orientação e o entendimento sobre um 
determinadoassunto, nem sempre uma obra é completamente superada. Obras 
escritas anos atrás ainda contribuem e compõem o debate historiográfico de forma 
relevante, seja em aspectos metodológicos, filosóficos, teóricos ou temáticos. Assim, 
se algum elemento do debate pode ser abandonado, o tipo de abordagem diz 
algo sobre aquele tempo. Antes de superação, há na História e nas Ciências 
Humanas em geral, a existência de um debate crítico, onde as conclusões indicam 
o rumo das discussões e não encerram completamente as ideias. 
Apresentado o papel da Historiografia, ainda restam duas questões: o que 
caracteriza uma obra de História? Qual o papel do historiador e da subjetividade no 
exercício da História? No decorrer da presente Unidade, o objetivo será responder a 
essas duas questões. 
 
1.2 O QUE CARACTERIZA UMA OBRA DE HISTÓRIA? 
Como apontado até aqui, a Historiografia tem a capacidade de refletir o 
conhecimento realizado pela História. Assim, faz parte do seu papel definir quais 
critérios tornam uma obra relevante para o meio. Um primeiro aspecto, e que 
aparentemente é simples, se refere à intenção do autor. Para ser uma obra História, 
deve referir-se ao passado em relação ao humano como assunto. Mas apenas 
tratar do passado é suficiente para determinar se é uma obra de História? 
Ao falar do passado, uma pesquisa ou estudo também deve ter um 
compromisso com a realidade daquilo que foi ocorrido. Ou seja, não basta se referir 
ao passado, mas também da necessidade de retratar algo verossímil. Essa segunda 
característica, por exemplo, permite diferenciar obras que utilizam elementos do 
passado como uma espécie de pano de fundo de outras que pretendem retratar 
um momento histórico. Obras que tem um caráter mais literário, e sem compromisso 
de relatar fielmente o que ocorreu no passado, mas sim de entreter ou expressar 
uma visão artística. 
São inúmeros romances, filmes, séries de televisão e novelas que utilizam uma 
espécie de pano de fundo histórico, sem necessariamente ter compromisso com o 
passado. Existem, de outra forma, produções que buscam refletir a História com 
certa fidelidade, que tem envolvimento com o real, mesmo assim tem elementos ou 
personagens de ficção. Outras ainda utilizam personagens e elementos reais, porém 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
adaptam o roteiro para que a história siga uma trajetória desejada. Como 
exemplos dessas diversas formas de referência artística ao passado podemos citar: 
O Nome da Rosa, livro de Umberto Eco, que originou o filme; o romance A Escrava 
Isaura de Bernardo Guimarães, que inspirou novelas, o livro Olga do jornalista 
Fernando Morais, que resultou no filme, dentre outros. 
 
Figura 2: Eu não cachorro não. Paulo Cesar de Araújo (2002) 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3nR5KN1. Acesso em: 20 dez. 2020. 
 
É importante também, a partir desse aspecto, lembrar que não apenas 
pesquisadores ligados a universidades e centros de pesquisa produzem 
conhecimento e debates relevantes para a Historiografia. Um exemplo é Paulo 
César de Oliveira, autor de obras como “Eu não sou cachorro não: música popular 
e cafona na ditadura militar e Roberto Carlos em detalhe”s, que mesmo com 
formação acadêmica atuava na rede pública de ensino e quando produziu essas 
obras não tinha vínculo ativo com centros de pesquisa ou universidades. 
 Não se pretende afirmar que apenas aquilo produzido e está de acordo 
com o debatido nas academias deve ser tratado como conhecimento válido do 
passado, mas sim diferenciar seus objetivos e formas de construção. Até mesmo 
uma obra de ficção pode apresentar elementos históricos verdadeiros e trazer 
reflexão e aprendizagem. Na verdade, para a História acadêmica, essa busca é 
oposta: de forma alguma se pode estabelecer um estudo ou obra como dado 
absoluto. O exame crítico das fontes deve permitir revisões, novas metodologias e 
abordagens devem ser consideradas, assim como o surgimento de novas fontes. É 
exatamente esse o papel da Historiografia! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Abordagens do passado produzidas fora dos parâmetros científicos não 
fazem um determinado livro, texto ou filme mais ou menos dignos em suas 
representações, mas demonstram diferentes formas de interpretações do passado. 
Porém, no caso particular da História que aqui estudamos, com pretensões 
científicas e educacionais, que busca informar a sociedade e trazer resoluções 
sobre fatos ocorridos, é necessário outro olhar. O historiador alemão Jörn Rüsen ao 
comentar sobre as características da pesquisa histórica, diz que ela é “[...] é o passo 
metodicamente regulado, e por isso intersubjetivamente controlável, das respostas 
possíveis às reais” (RÜSEN, 2007a, p. 105). A palavra intersubjetivamente indica o 
sentido que o autor pretende dar à prática historiográfica: ela depende da 
subjetividade daquele que a produz, mas não a ponto de se afirmar a partir de uma 
única visão. Precisa estar em debate e em conjunto com a sociedade para ser 
validada. 
Dessa maneira, tem-se a terceira característica que é possível apontar para 
que uma obra possa ser considerada como relevante para a História: além de tratar 
de um passado, que é verossímil, deve ser submetida à crítica e, principalmente, ao 
diálogo com os pares. Por que são importantes o diálogo, a crítica e 
consequentemente a uma metodologia específica? 
Como já afirmado, essas práticas compõem os fundamentos do 
conhecimento histórico. Mas não é só isso. O historiador nunca consegue atingir o 
passado completamente e seus estudos resultam de uma espécie de 
“interpretação de interpretações” que alguém faz de um fato ocorrido. De maneira 
simplista, é como se existisse uma inevitável barreira entre o pesquisador e aquilo 
que aconteceu. Assim, os processos metodológicos e teóricos permitiriam ao 
pesquisador ver nas brechas dessa barreira partes daquilo que ocorreu; e a 
metodologia e a teoria auxiliariam a montar uma espécie de quebra-cabeças 
sobre o passado analisado. 
A partir desse diálogo entre os iguais, das comparações de obras, e do 
desenvolvimento de teorias e metodologias é possível conter distorções e 
interpretações demasiadamente parciais ou que fogem do que habitualmente é 
debatido. Isso também não significa que reviravoltas interpretativas não possam 
ocorrer, mas que para elas aconteçam devem ser submetidas a um profundo 
exame realizado pelo meio historiográfico. Destarte, a História pode ser considerada 
um campo do conhecimento em constante construção, onde a crítica e o debate 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
interno, se não são capazes de nos trazer a verdade sobre fatos passados, auxiliam 
a olhar criticamente para as interpretações que fazemos do que ocorreu. 
 
1.3 O HISTORIADOR ENTRE A OBJETIVIDADE E A SUBJETIVIDADE 
A subjetividade do pesquisador torna a História (assim como as Ciências 
Humanas e Sociais) diferente de outros campos do conhecimento, principalmente 
aqueles associados ao modelo científico solidificado nas sociedades a partir do 
século XVIII. Por não conseguir isolar e mensurar os elementos da pesquisa, como faz 
um físico, biólogo ou engenheiro, os estudiosos da sociedade precisam encontrar 
outros meios epistemológicos para atingir seus objetivos. Em consequência seus 
resultados também terão naturezas e conclusões divergentes do modelo científico 
utilizado por outros campos do conhecimento, onde conclusões objetivas 
acontecem com mais frequência. 
Mas como chegamos a conclusões sobre um tema, já que é impossível 
estabelecer versões definitivas das histórias que contamos? É possível a História 
trazer resoluções imutáveis para a sociedade? Apesar da dificuldade em construir 
verdades objetivas, pois o conhecimento construído pela História se dá por debates 
e interpretações, é possível destacar dois aspectos: o primeiro se refere aos fatos. 
Ou seja, ocorridos como uma morte ou uma guerra não podemser 
veementemente negados. Pode-se debater as circunstâncias de um evento, as 
intenções de quem participa, mas dificilmente negar sua ocorrência. Essa é a parte 
mais objetiva produzida pelo conhecimento realizado do passado. 
O segundo aspecto que é possível observar, e essencial ao presente debate, 
se remete a subjetividade do historiador. Um mesmo tema pode ser entendido de 
diferentes formas, e isso não necessariamente significa um problema. Ao admitir 
que não conseguimos respostas finais ou sempre concordantes para o passado que 
estudamos, demonstra-se como a sociedade é dinâmica, assim como sua história. 
Dependendo da distância que se tem de um passado analisado e das condições 
do pesquisador, as questões sobre ele mudam. Esse aspecto é importantíssimo para 
um debate ao qual devemos submeter todo e qualquer tipo de conhecimento que 
se pretende científico. 
Uma das funções da ciência em todos seus diferentes campos é trazer 
resoluções para a sociedade. Essas resoluções se dão através de paradigmas, que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
são constituídos através dos resultados provenientes dos estudos. Eles funcionam 
como regras ou padrões, que orientam o conhecimento produzido, mas são ao 
mesmo tempo passíveis de críticas e mudanças, realizadas no próprio debate 
científico. 
A Química, a Biologia, a Computação ou qualquer outro campo de 
conhecimento têm paradigmas que determinam a forma de pensar e estudar seus 
assuntos, ao mesmo tempo existe uma incessante busca de superação ou de outros 
pontos de vista que podem modificar aquele saber. Essa é inclusive uma espécie de 
vantagem que a ciência tem perante outros campos do saber, como a religião e a 
tradição. Seu debate interno e a incessante busca por novos conhecimentos não 
permitem a construção de um saber definitivo e imutável. Nunca há apenas uma 
resposta certa. Os paradigmas se modificam, são substituídos, são revisados, o que 
faz da ciência um saber dinâmico e que muitas vezes busca responder as 
necessidades e dilemas da sociedade. 
 
 
 
No caso da História, através dessa busca por resoluções e paradigmas, nos é 
permitido dizer, por exemplo, se houve ou não escravidão, se houve ou não 
nazismo, se houve ou não ditadura no Brasil, se existe ou não racismo, dentre outros. 
Exatamente aí reside a importância dos processos teóricos e metodológicos que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
permitam revisar as práticas e aquilo que durante algum tempo foi tido como 
verdade a partir do campo do conhecimento e se modificou perante novas 
situações. Procedimentos epistemológicos específicos para a História são essenciais 
para não nos tornar reféns de uma única versão dos fatos ocorridos, de versões 
parciais ou distorcidas. Esse fator também serve para diferenciar opinião de 
conhecimento debatido e referendado. 
 
 
 
Um exemplo bem claro e que pode ser apontado de como ocorrem essas 
práticas se refere ao que por muito tempo foi tratado pela História oficial, e 
consequentemente reafirmado pela a sociedade se refere ao tema do 
“descobrimento” do Brasil. Diversos estudos e livros tratavam esse assunto como 
verdade dada, reafirmado pela Historiografia e reproduzido na sociedade. Com o 
passar do tempo, novos estudos, inovações epistemológicas, reinterpretação de 
fontes e surgimento de outras passaram a apontar uma diferente visão sobre o 
assunto. O que, por muito tempo foi tratado como “descobrimento”, um ato 
heroico dos portugueses, passou a ser reinterpretado como “conquista”. 
Se compararmos os livros didáticos de 30 anos atrás com os atuais, veremos 
claramente modificações na forma como esse tema é debatido. Não é mais 
apresentada aos alunos a visão de que o português chegou num lugar sem 
“civilização” ou “cultura”, onde apenas marcaram sua presença e tomaram posse 
dessas terras. Por outro lado, são apontados os conflitos e disputas, além da 
transformação cultural e do espaço a partir da chegada dos europeus no território 
que se tornou o Brasil. Tal mudança de abordagem é resultado de uma revisão 
crítica, possibilitada pelo diálogo que a História faz do que produz e uma clara 
demonstração que ela não é um campo do conhecimento que cria axiomas e 
verdades estabelecidas. 
Dessa maneira, reitera-se a importância para quem se forma como 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
historiador de ter consciência da diferença de um determinado conhecimento 
produzido que é ou não submetido à crítica dos seus pares. No exemplo dado, 
ainda é comum escutarmos opiniões que afirmam que o processo colonial só teve 
benefícios ao Brasil e as populações que foram envolvidas nele. Que o europeu 
trouxe a civilidade e o conhecimento. Esse tipo de visão obscurece estigmas da 
submissão dos povos originários da região que acabou se tornando o Brasil, assim 
como dos africanos que foram escravizados e trazidos para cá. Uma opinião sem 
debate pode distorcer conhecimentos produzidos e obscurecer realidades ou 
outras visões sobre um tema. 
 Ao mesmo tempo a defesa de uma prática historiográfica científica não 
pode limitar a compreensão do passado apenas à visão que ela oferece. Diferentes 
formas de refletir o passado também podem compor o debate e serem válidas, 
através da arte, do jornalismo, da produção de memórias, dos debates que 
ocorrem na sociedade. Cabe ao historiador demonstrar suas diferenças, a 
importância da crítica e do debate, numa expressão que seja válida a todos. Desta 
maneira evita-se também que o debate historiográfico fique preso as academias e 
não atinja a sociedade, respondendo a seus anseios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
 
 
 
Apoiados em um momento de polarização política que reflete as questões da 
sociedade, exprimem visões que reforçam estereótipos e visões racistas. A partir de uma 
visão eurocêntrica da História, justificam, em seus discursos e formas, o processo de 
formação do Brasil como natural ou benéfico. Nessas obras, também são observados 
erros metodológicos, principalmente no que se refere às fontes, não submetidas a 
críticas ou tomadas de maneira parcial (MALERBA, 2014, p. 105). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
 
1. (CUITÉ 2019) No final do século XIX, Leopold Von Ranke afirmava: a História deve 
ser narrada como de fato aconteceu. Sobre esta busca da verdade na história, é 
CORRETO afirmar: 
 
a) Para narrar a história como de fato aconteceu, é preciso adotar toda a 
parcialidade e subjetividade possível. 
b) A imparcialidade se assemelha à proposta de uma Escola sem Partido quando, 
definitivamente, foi possível determinar a única verdade para a história. 
c) A busca pela verdade na história, ou seja, da narrativa do passado como de fato 
aconteceu, esteve distante do debate de profissionalização da história. 
d) A história, ao ser narrada como de fato aconteceu, deve ofertar múltiplas 
interpretações sobre os acontecimentos históricos. 
e) A neutralidade deve ser sempre uma meta a ser atingida pelos historiadores no 
desenvolvimento de seu ofício. 
 
2. (MONTE HOREBE 2019) Para a Escola Positivista, metódica, do final do século XIX, 
representada por autores como Leopold Von Ranke e Fustel de Coulanges, a 
história deveria se tornar uma ciência a partir de uma metodologia baseada nos 
seguintes princípios: 
 
I. O conhecimento histórico deveria copiar o método objetivista das ciências 
naturais. 
II. Os historiadores deveriam buscar sempre a neutralidade, com o objetivo de 
encontrar uma única verdade para se narrar os eventos históricos. 
III. O melhor dos historiadores é aquele que menos se afasta dos textos. 
 
É CORRETO o que se afirma em: 
a) II e III. 
b) I e II. 
c) I e III. 
d) I, II e III. 
e) I apenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
3. (IFPE 2012) “Seria uma desgraça para nós, agora que os amplos espaços do 
mundo material, as terras e os mares foram atingidos e explorados,se os limites 
do mundo intelectual fossem dados pelas descobertas dos antigos.” 
Francis Bacon, apud BURKE, Peter. “Uma história social do conhecimento: de Gutemberg a Diderot.” Rio de janeiro: Jorge Zahar, 
2003, p. 105. 
A crença na superioridade da razão é a base do pensamento Iluminista, tão bem 
expresso por Francis Bacon. Nesse sentido, os itens abaixo versam sobre o 
processo histórico Iluminista. 
 
I. A afirmativa de Francis Bacon apresenta uma das ideias fundamentais do 
pensamento científico: a crítica. Para o europeu do século XVI em diante, apesar 
da herança clássica, havia sido ele, e não os gregos, que tinha realizado as 
grandes navegações e a ciência experimental. 
II. A invenção da imprensa conseguiu expandir o conhecimento por meio da 
difusão dos diversos tipos de conhecimento, indo dos relatos aos dicionários e às 
enciclopédias. Apesar disso, o intenso analfabetismo europeu acabou 
impedindo o acesso ao conteúdo das obras e ao desenvolvimento intelectual 
advindo desse fato. 
III. A fé na razão e no entendimento se opunha, para os iluministas, à ignorância do 
pensamento embasado nos mitos da Bíblia e nos dogmas da Igreja. A partir do 
Iluminismo, o homem é livre para construir uma nova religião, e em seu altar, 
colocar a razão. 
IV. A Enciclopédia publicada por Diderot propunha-se a difundir todo o 
conhecimento humano, pronto para ser compartilhado por todos, afinal a 
palavra enciclopédia significa a inter-relação das ciências, nas palavras do 
próprio Diderot. 
V. Se para o filósofo iluminista a razão era libertadora, para a maior parte das 
monarquias europeias ela era reformista. Assim, buscando estimular o acesso às 
obras iluministas, os reis absolutistas providenciaram a distribuição da 
Enciclopédia em todo o seu reino, por isso foram chamados de Déspotas 
Esclarecidos. 
 
Estão corretos, apenas: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
a) I, II e III. 
b) I, III e IV. 
c) III, IV e V. 
d) I, III e V. 
e) II, IV e V. 
 
4. (IFRN 2012) A análise criteriosa do discurso historiográfico é uma das habilidades 
exigidas do professor de História. Considerando essa habilidade, analise os dois 
documentos a seguir: 
 
I. “Em seus escritos, os pensadores iluministas insistiam: somente a partir do uso 
da razão os homens atingiriam o progresso, em todos os sentidos. A razão 
permitiria instaurar no mundo uma nova ordem, caracterizada pela 
felicidade ao alcance de todos”. 
MOTA, Myriam Becho; BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2002, p. 
250. 
 
II. “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo 
cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu; e encontrou pessoas, 
suficientemente simples, que acreditaram nele. Quantos crimes, guerras, 
homicídios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, 
arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus 
semelhantes: não deveis escutar este impostor; estareis perdidos se 
esquecerdes que os frutos pertencem a todos e que a terra não é de 
ninguém”. 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Rio de Janeiro: Editora Rio, 
1977, p. 86. (Grifo do autor) 
 
A partir desses documentos e do conhecimento sobre o pensamento iluminista, 
pode-se afirmar corretamente que as reflexões de Rousseau se diferenciam das 
ideias de outros autores iluministas na medida em que 
 
a) Defende a construção de uma nova ordem gerida por um Contrato Social, 
segundo a qual o progresso humano viria com a superação do estado natural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
b) Relativiza a importância da razão como elemento decisivo para o progresso e 
sugere outros aspectos que precisam ser considerados para a conquista da 
felicidade dos homens. 
c) Questiona a bondade natural dos homens com base na idéia de que a razão 
individualista dificulta a construção de projetos sociais coletivos. 
d) Aponta a Monarquia Esclarecida como única alternativa para conter a 
propriedade privada, considerada por ele o principal entrave para a felicidade 
humana. 
e) Aproxima razão e posse de terras. A ideia de razão e de propriedade são 
dependentes. 
 
5. (Pref. Ribeirão Preto/SP 2013 – VUNESP) O documento foi definido 
tradicionalmente como um texto escrito à disposição do historiador. Fustel de 
Coulanges afirmava que “a habilidade do historiador consiste em retirar dos 
documentos o que contém e nada acrescentar... A leitura dos documentos de 
nada serviria se fosse feita com ideias preconcebidas”. A partir deste pressuposto, 
dois procedimentos básicos deveriam ser adotados, denominados, 
convencionalmente, de crítica externa e crítica interna. 
FUNARI, Pedro Paulo. A Antiguidade Clássica, p. 15. Adaptado 
 
Acerca dos dois procedimentos básicos a que se refere o autor, é correto afirmar 
que a crítica externa analisa: 
 
a) O contexto histórico a que o documento se refere e o seu significado para o 
período, enquanto a crítica interna procura identificar os sujeitos sociais 
envolvidos. 
b) A materialidade do documento, a sua composição física, enquanto a crítica 
interna procura observar se as informações do documento são verossímeis. 
c) O sítio arqueológico ou o arquivo em que foi encontrado o documento, 
enquanto a crítica interna procura situar o documento no tempo e no espaço. 
d) A autoria do documento e, se possível, a biografia do autor, enquanto a crítica 
interna procura observar a coerência e a coesão do texto do documento. 
e) O contexto socioeconômico de produção do documento, enquanto a crítica 
interna procura observar quais são os conflitos sociais que o documento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
apresenta. 
 
6. (IFPI-2014) Desde o nascimento do cinema, a História tem servido de referência 
para a realização de filmes. Nesse sentido, ao longo do tempo, as produções 
cinematográficas passaram a despertar o interesse de professores e alunos em 
sala de aula e tornaram-se fonte de conhecimento. Frequentemente, nas aulas 
de História e nos livros didáticos, é possível encontrar indicação de filmes que 
tratam de assuntos do conteúdo programático daquele ano escolar. A partir 
dessas sugestões, o grande desafio está na leitura de uma obra cinematográfica, 
relacionando-a com uma abordagem histórica que permita o encontro entre 
cinema e História. Para usar a expressão cunhada por Marc Ferro, na conversa 
entre Cinema e História podemos afirmar que: 
 
a) O estudo da imagem tem como objetivo as intenções do cineasta ou do diretor 
de fotografia de modo a promover a compreensão do filme a partir de sua 
condição de obra de arte desvinculada da realidade social. 
b) A utilização do filme na sala de aula faz com que sua projeção preencha o 
espaço de atuação do professor, reconduzindo metodologicamente a 
participação deste para a condição de espectador do processo de 
aprendizagem. 
c) O foco dos esforços de interpretação não deve se confinar à realidade ficcional 
do filme projetado, mas deve abranger também a sociedade que o produziu e 
dele se utilizou para discutir determinados temas e épocas que lhe interessaram. 
d) O método de compreensão de um filme no contexto da sala de aula exige que 
o professor filtre todo conhecimento prévio sobre a época e os temas tratados 
que não esteja sujeito a sua orientação. 
e) O principal objetivo do trabalho com filmes na sala de aula é recuperar o fascínio 
e o encantamento pela história de modo a motivar estudantes e professores 
para o estudo científico do passado pelo passado. 
 
7. (IFPI 2014) Para o historiador Carlo Ginzburg: “A história se manteve como uma 
ciência social sui generis, irremediavelmente ligada ao concreto. Mesmo que o 
historiador não possa deixar de se referir, explicita ou implicitamente, a séries de 
fenômenos comparáveis, a sua estratégia cognoscitiva assim como os seus24 
 
 
códigos expressivos permanecem intrinsecamente individualizantes (mesmo que 
o indivíduo seja talvez um grupo social ou uma sociedade inteira). Nesse sentido, 
o historiador é comparável ao médico, que utiliza os quadros nosográficos para 
analisar o mal específico de cada doente. E, como o do médico, o 
conhecimento histórico é indireto, indiciário, conjetural.” 
 
Carlo Ginzburg. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 156- 157. 
A correta formulação da atitude cognoscitiva enunciada por Ginzburg, isto é, do 
procedimento metodológico próprio à construção do conhecimento histórico (que 
é, a toda prova, uma reconstrução) é: 
 
a) Quando as causas não estão disponíveis, só resta refazer a pesquisa para 
encontrá-las. 
b) Quando as causas não estão disponíveis, só resta conformar-se porque será 
impossível fazer história. 
c) Quando as causas não estão disponíveis, só resta inferi-las a partir dos efeitos. 
d) Quando as causas não estão disponíveis, só resta registrar e publicar os dados 
levantados. 
e) Quando as causas não estão disponíveis, só resta inventá-las a partir da 
criatividade do historiador. 
 
8. (ENADE 2017) A história se faz com documentos. Documentos são os traços que 
deixaram os pensamentos e os atos dos homens do passado. Entre os 
pensamentos e os atos dos homens, poucos há que deixam traços visíveis, e 
estes, quando se produzem, raramente perduram: basta um acidente para os 
apagar. Ora, qualquer pensamento ou ato que não tenha deixado traços visíveis 
tenham desaparecido, está perdido para a história: é como se nunca houvesse 
existido. Por falta de documentos, a história de enormes períodos de passado da 
humanidade ficará para sempre desconhecida. Porque nada supre os 
documentos: onde não há documentos não há história. 
LANGLOIS, C.; SEIGNOBOS, C. Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo: Editora Renascença, 1946 (adaptado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
O trecho apresentado foi publicado originalmente em 1898, na França, em um 
manual de História muito influente à época. Com base nesse excerto, infere-se 
que os documentos 
 
a) São equivalentes aos acontecimentos humanos, pois carregam em si os 
pensamentos e os atos pretéritos. 
b) Podem ser substituídos por traços que denotem tanto a presença humana no 
tempo quanto os gostos, gestos e valores do ser humano em determinado 
período. 
c) São registros textuais, preferencialmente produzidos por organismos vinculados 
ao Estado, o que assegura sua autenticidade. 
d) Fornecem testemunho sobre uma parcela dos acontecimentos do passado sem 
os quais a escrita da história é impossível. 
e) Recuperam o passado em si, na medida em que expressam ações e ideias de 
homens que viveram em épocas pretéritas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
ESCOLA DOS ANNALES 
 
 
 
2.1 APRESENTAÇÃO 
A Escola dos Annales é um movimento historiográfico originado na década 
de 1920, na Universidade de Estrasburgo, localizada no nordeste da França. 
Concebida por Marc Bloch e Lucien Febvre, seu início ocorreu com a criação de 
um periódico, o Annales d’historie économique et sociale, no qual os historiadores 
propuseram uma crítica a alguns modelos historiográficos que tinham maior 
repercussão em fins do século XIX. Esse movimento é considerado por muitos 
historiadores como renovador por suas propostas teóricas e metodológicas. 
Um dos aspectos mais notórios do movimento dos Annales é a valorização 
de procedimentos metodológicos relativos à análise de fontes, ampliando suas 
possibilidades de uso e interpretação. Outra característica importante é que por se 
colocarem uma escola, os Annales não tem um único paradigma teórico que os 
norteie, mas sim seguem uma espécie de orientação metodológica. Assim, existe 
entre seus componentes uma diversidade de paradigmas teóricos, discussões e até 
discordâncias entre seus membros. De acordo com o historiador Barros (2012), 
paradigmas e escolas, mesmo que muitas vezes confundidos, não significam a 
mesma coisa. O autor trata de tal questão para justificar a expressão “Escola dos 
Annales”. 
Como já debatido na unidade anterior, o paradigma, para a ciência, pode 
ser entendido como uma resolução de um determinado campo do conhecimento, 
que serve como referência e é amplamente utilizado e veiculado. De outra forma, 
a escola, no sentido do termo aqui aplicado, pode ser definida como: 
 
[...] um certo programa de ação, uma determinada identidade que 
se forma, um campo de escolhas (teóricas, metodológicas, 
temáticas, éticas, associativas, geradoras de inclusão e exclusão) 
que permite ao praticante do campo sintonizar-se com outros que a 
ele se assemelham nas mesmas escolhas. (...) todos se orientam por 
certos princípios em comum, ou compartilham uma espécie de 
programa básico com a qual a totalidade das participantes da 
escola concordam (BARROS, 2012, p. 15). 
 
Portanto, não é possível afirmar, por exemplo, quais orientações teóricas e 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
metodológicas os componentes da Escola dos Annales seguem de maneira rígida. 
Ao mesmo tempo podem-se identificar procedimentos que compõem a forma 
como praticam a História. Escola, no sentido do termo aqui aplicado, se refere mais 
a uma maneira de participar dos debates da Historiografia do que seguir 
paradigmas ou pressupostos. 
Inicialmente, para Bloch (2001) e Febvre (2004), a História precisava romper 
com a metodologia e as tradições historiográficas de fins do século XIX e início do 
XX, que valorizavam demasiadamente os fatos, principalmente os políticos, em 
detrimento de uma visão que abrangesse dos diversos aspectos da sociedade. Era 
essa, inicialmente, a preocupação de ambos ao buscar uma nova visão sobre a 
História, que de acordo com as circunstâncias, acabou se tornando um de grupo 
de historiadores que pretendiam novas formas de produzir o conhecimento 
histórico. 
Portanto, o objeto da crítica dos Annales pode ser identificado entre três 
vertentes: os herdeiros diretos da tradição positivista francesa; setores mais 
conservadores da tradição historicista alemã, que eram aqueles mais preocupados 
com uma história rigidamente factual e oficial; e o que foi identificado como 
Escola Metódica Francesa de História, que segundo Barros (2012, p. 31)era “[...] um 
movimento historiográfico da segunda metade do século XIX, que assumia 
posições teóricas e metodológicas para a História advindas do positivismo de 
Comte e Durkheim e da influência metodológica do historiador alemão Leopold 
Von Ranke” 
De acordo com a crítica que Bloch (2001) e Febvre (2004) fizeram a 
historiadores dessas três vertentes, suas obras tinham pouco valor como 
conhecimento científico válido, considerados como complemento a outras 
ciências ou prática política de apoio aos projetos de nação. Afirmavam também 
que era uma História presa aos fatos e que por estar determinada a buscar 
veracidade e objetividade, acabavam por encerrar suas possibilidades de 
compreender a sociedade de maneira mais ampla. A análise da sociedade ficaria 
como função da Sociologia, considerada a principal ciência capaz de expor o 
funcionamento dos grupos humanos, a partir principalmente das considerações de 
Durkheim. Segundo Barros (2012, p. 15): 
 
Os Annales não elegeram como seu “outro” apenas a Escola 
Metódica, mas também procuraram a seu tempo construir a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
imagem de se opunham a toda uma historiografia tradicional, 
diante da qual podiam se apresentar como uma Nova História 
 
Mas como ocorreu essa busca por uma Nova História? De início, partiu de 
uma crítica ao trabalho de dois historiadores da Escola Metódica: Charles-Victor 
Langlois e Charles Seignobos. O texto escrito por esses dois autores, Introdução aos 
estudos históricos, em fins do século XIX, havia se tornado uma espécie guia 
metodológicopara aqueles que estudavam História na França do período. As 
principais críticas apontadas por Bloch e Febvre era a referente ao resultado de 
outra crítica, feita pelo sociólogo e economista François Simiand. 
Simiand afirmava que a única preocupação metodológica de Langlois e 
Seignobos era o estabelecimento e organização dos fatos através da análise 
objetiva de seus vestígios (CALDAS, 2001a). Influenciados pelo cientificismo 
objetivista de Ranke e pela lógica frágil do Positivismo, que afirmava ser a 
Sociologia a única forma de compreensão do social, a função da História ficaria 
restrita a descrever os fatos em suas minúcias. 
Principalmente a partir do século XVIII, o conhecimento produzido pela 
sociedade ocidental passou por intensas modificações, por conta do surgimento 
do Iluminismo. Modificações que estabeleceram o lugar de importância da ciência 
e do conhecimento formal, influenciando as formas de agir do Ocidente. Neste 
período o conhecimento científico promoveu uma verdadeira revolução nos 
modos de vida, na cultura, e nas sociedades como um todo. Modificações 
permitidas por avanços tecnológicos, oriundos principalmente das ciências 
biológicas e exatas. 
O status adquirido pela ciência permitiu que essa nova forma de entender o 
mundo fosse tomada como ponto de partida e os modelos científicos das Ciências 
Naturais e Exatas, principalmente da Biologia e da Física, se tornaram paradigma 
metodológico de construção de conhecimento. Nesse período também que 
diversos campos do conhecimento reivindicaram um caráter científico, em busca 
de respaldo e reafirmação de suas funções para a sociedade. Não diferente disso, 
as Ciências Humanas passam a compor esse debate e buscar seu espaço no 
campo científico. E é a partir dessa inspiração que os modelos historiográficos do 
século XIX, alvo de debates pelos fundadores da Escola dos Annales, vão embasar 
sua busca objetiva e descritiva dos acontecimentos. 
Ao pretender uma nova prática historiográfica, um dos objetivos de Bloch e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
Febvre ao fundar a revista dos Annales, era o de reafirmar o lugar da história como 
ciência. Segundo Bloch (2001, p. 51), sobre o espaço da História como ciência: 
 
Os próprios sociólogos da era durkheimiana lhe dão espaço. Mas é 
para relegá-la a um singelo cantinho das ciências do homem: 
espécie de calabouço onde, reservando à sociologia tudo que lhes 
parece suscetível de análise racional, despejam fatos humanos 
julgados ao mesmo tempo mais superficiais e mais fortuitos. 
 
 No trecho citado, Bloch (2001) deixa claro que a história, segundo sua visão, 
havia se tornado um “singelo cantinho das ciências dos homens”, lugar onde a 
Sociologia e outros campos do saber apenas buscavam informações. Uma das 
principais contribuições e que demandou um grande esforço por conta dos 
fundadores da Escola dos Annales foi essa busca de reposicionar a História dentro 
do campo científico, a partir de seus problemas e metodologias próprias. E a partir 
dessa busca, surgiu outra importante contribuição desses historiadores, a noção de 
História-Problema. 
Além da História-Problema, um outro ponto colocado pelos Annales como 
forma de confrontar a história factual e descritiva era a ideia de História Total. Um 
debate sobre essas ideias será desenvolvido no decorrer da presente análise. De 
maneira resumida, pode-se afirmar que a História Total não é aquela que almeja 
contar toda a história, mas sim busca analisar a diversidade de fatores que 
compõem um determinado evento social, sejam fatores políticos, econômicos, 
sociais, culturais, dentre outros. 
A presente Unidade tem como intuito apresentar o que foi, as principais 
propostas e como agiam os primeiros historiadores da Escola dos Annales. Desta 
forma, no próximo trecho o objetivo será apresentar três dos principais historiadores 
desse movimento: Bloch, Febvre (primeira geração) e Braudel (líder da segunda 
geração). Eles são considerados elementos fundamentais para a afirmação dos 
Annales, e analisar suas trajetórias e propostas é de grande importância para 
compreender as dimensões e a importância da Escola para a Historiografia. Por 
fim, no último trecho da presente Unidade será apresentado o conteúdo 
programático identificado com a Escola dos Annales de maneira pontual, 
inspirado num gráfico elaborado por Barros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
 
 
2.2 A PRIMEIRA E A SEGUNDA GERAÇÃO DOS ANNALES 
Ao criarem uma revista que tinha como objetivo debater a função da 
História e questionar modelos de produção conhecimento, Bloch e Febvre não 
partiram apenas de debates inéditos para o conhecimento histórico. Na verdade, 
muitas das questões que ambos apontam também foram debatidas de maneira 
semelhante por outros pensadores e em outros lugares. Como exemplos, podemos 
citar vertentes do historicismo alemão que eram mais preocupadas em 
compreender a função da subjetividade e da relação entre indivíduo e 
sociedade, que tinha como Dilthey um de seus mais expressivos representantes. 
Outro exemplo são historiadores que buscavam na cultura os elementos de análise 
e compreensão histórica, como Jacob Burckhardt. 
A importância adquirida pelos Annales pode ser compreendida não a partir 
de um ineditismo (apesar de contribuírem de maneira própria em alguns temas 
como o tempo histórico), mas sim pela sua atitude de confronto a um modelo 
bastante difundido de produção e compreensão da função da História e a 
capacidade de organizar-se em um programa os conteúdos considerados 
importantes. Portanto, agora serão apresentadas de maneira breve as trajetórias e 
as visões históricas de Bloch, Febvre e Braudel. Pretende-se, assim, ressaltar os 
elementos da concepção histórica de cada um, principais obras e trajetórias, que 
ajudaram a delimitar os principais temas que compõem a identidade da Escola 
dos Annales. 
 
2.3 LUCIEN FEBVRE E O CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
Lucien Febvre nasceu em Nancy, no leste da França, em 1878 e estudou na 
École Normale Supérieure, onde se formou em História e Geografia. No ano de 
1911 se tornou doutor e em 1919 professor de História Moderna na Universidade de 
Estrasburgo, na qual mais tarde irá conhecer Bloch e lançar a revista Annales 
d’historie économique et sociale que deu origem a Escola dos Annales. Dentre as 
suas obras, as de mais destaque são Martinho Lutero: um destino (1928), O 
problema da incredulidade no século XVI: A Religião de Rabelais (1942) e 
Combates pela História (1953). A seguir, uma imagem do historiador 
 
Figura 3: Lucien Febvre 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3nUoJGI. Acesso em: 20 dez. 2020. 
 
De acordo com Braudel (1965, p. 403), para Febvre, “segundo sua fórmula 
familiar, ‘a História é o homem’, um cortejo de personagens, mas também uma 
unidade, uma aproximação necessária dos contrários”. No trecho citado, é 
possível notar na forma como Febvre busca compreender a sociedade, através de 
um paralelo entre o indivíduo e o coletivo. A expressão “cortejo de personagens” 
indica como, dos três pensadores que serão expostos, Febvre é o que mais se 
aproximou do indivíduo em suas análises e concepção histórica. A partir da ação 
pessoal, buscava os indícios de uma mentalidade que simbolizasse a totalidade. 
 A busca pela compreensão do todo vai apresentar diferenças nos três 
autores aqui abordados. Ela simboliza um ponto importante do programa dos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
Annales, e no caso de Febvre, seu combate ao factual se concretiza na ideia de 
mentalidade, denominada de “equipamento mental” ou “utensilagem mental”. 
Para o historiador, essa mentalidade consistiria em um repertório cultural 
característicos do tempo em que vive, utilizados de maneira inconsciente, sem que 
o indivíduo as perceba, são marcas sociais e coletivas (CALDAS, 2001a). Assim, de 
acordo com suavisão, é também possível partir do indivíduo para o total. 
Para Febvre (2004), a ideia de civilização e de mentalidade eram muito 
próximas em seus elementos constitutivos. Compreender o equipamento mental de 
um grupo humano era conhecer essa sociedade por seus elementos materiais, 
políticos, sociais, intelectuais, dentre outros. Em um curso ministrado no Collége de 
France, entre 1944-45 sobre a história da civilização europeia e posteriormente 
publicado em formato de livro, o historiador sobre o conceito de civilização: 
 
Todo grupo humano constituído possui uma civilização, sua 
civilização. É o conjunto das características que a vida coletiva de 
um grupo (a vida material, a vida política e social, a vida intelectual, 
moral e religiosa) apresenta aos olhos de um observador imparcial e 
objetivo (FEBVRE, 2004, p. 66). 
 
Essa era a forma como o historiador pretendia se opor a análises factuais e 
descritivas, demonstrando sua visão de História. Por fim, em sua trajetória como 
pesquisador, a percepção do “equipamento mental” de um período foi realizada 
com maior destaque em seus trabalhos sobre Rabelais e Martinho Lutero, onde 
buscou os elementos da mentalidade das sociedades a que pertenciam pela 
análise de dois indivíduos. 
 
2.4 MARC BLOCH E A HISTÓRIA TOTAL 
Marc Léopold Benjamin Bloch foi um historiador francês de origem judia, 
nascido em Lyon, no ano de 1886. Filho de Gustave Bloch, que também fora 
historiador, estudou História na Escola Normal Superior de Paris, em Berlim e Leipzig. 
Posteriormente tornou-se bolsista de doutorado da Fundação Thiers, quando 
escreveu sua tese de doutorado entre 1909 e 1912. Suas principais obras foram Os 
reis taumaturgos, Apologia da história ou o ofício do Historiador e A sociedade 
feudal. Como é possível perceber, os principais temas de Bloch eram de História da 
Europa Medieval. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Figura 4: Marc Léopold Benjamin Bloch 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3h20apC. Acesso em: 02 dez. 2020. 
 
Outro fator importante da vida de Bloch foi sua participação na Primeira e 
na Segunda Guerra mundial, onde lutou no exército francês, e depois da 
anexação da França pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, 
participou da resistência. Tal fato inclusive ocasionou sua prisão e posterior 
fuzilamento no ano de 1944. No cárcere, escreveu uma das suas obras mais 
importantes, Apologia da história, de grande sucesso, onde discorre sobre 
problemas teóricos e metodológicos da História. Sua intenção era passar a seu filho 
Étienne Bloch em forma de livro, o que era e o que significava a História como 
campo do conhecimento (BURKE, 1992). 
A ideia de História Total, mesmo sendo uma bandeira que norteou as críticas 
e os trabalhos de vários dos historiados da Escola dos Annales, teve em Bloch seu 
maior defensor. Como já dito, essa foi uma maneira encontrada pelos dois 
historiadores annalistas pioneiros de confrontar uma prática histórica factualista e 
descritiva. Se para Febvre (2004), a História Total se contemplava numa busca pela 
mentalidade, como Bloch irá concretizar essa busca? 
No caso de Bloch, um primeiro aspecto que podemos denotar em suas 
buscas históricas se concretizava na abordagem as fontes, no método, e na 
relação com a ciência. Portanto, para o autor a metodologia de abordagem ao 
passado seria uma das principais formas de combater a história factualista, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
concretizada através da proposta de alargamento do uso de fontes. O grande 
problema da história política era a abordagem que se fazia das fontes, onde além 
de se buscar as informações oficiais, não se realizava a crítica ao material, que 
ainda preteria certos tipos de fontes como mais verdadeiras ou importantes que 
outras. 
Desta maneira, não bastava apenas decodificar as informações aparentes 
nas fontes, mas também de observar a intenção e a forma como foram 
produzidas, as condições e até a adequação do suporte à pesquisa. É buscar 
além da informação aparente o que fonte a diz, duvidar de sua provável 
veracidade ou até analisar se ela transmite uma informação parcial. Um exemplo 
está em sua obra, Os Reis Taumaturgos, onde Bloch busca explicar o poder político 
de monarcas não apenas a partir da legalidade hereditária e institucional que o 
cargo tem, mas, pelas fontes, busca compreender as ações, simbologias e crenças 
que asseguravam sua posição de poder. 
A outra grande contribuição de Bloch no sentido de compor uma História 
Total se refere à forma como ele propõe as explicações históricas. O historiador 
francês acreditava que ao escrever sobre o passado, o pesquisador não deveria se 
limitar a uma única forma, numa busca objetiva de causas e consequências. Os 
fatores que compõem a realidade devem ter a mesma relevância, e, observadas 
às situações, as explicações do passado deveriam identificar como cada 
dimensão tem influência nos ocorridos. Assim, economia, cultura, sociedade ou 
política poderiam ser mais ou menos importantes, de acordo com as circunstâncias 
e os fatos analisados. De acordo com o historiador Caldas (2001a, p. 58-59), para 
Bloch: “Uma coisa não determina a outra; elas agem ao mesmo tempo”. 
Essa explicação Histórica multifatorial proposta por Bloch nos deixa três 
grandes contribuições: primeiro, que ao analisar uma sociedade, nenhuma 
explicação ou atividade humana pode ser separada da outra; segundo, que as 
questões feitas ao passado podem se modificar com o tempo e o interesse do 
historiador é essencial para compreender as abordagens; e por último, que vários 
fatores e não apenas um explicam o passado. 
Considerado um dos maiores historiadores do século XX, a carreira 
abreviada de Bloch pela Segunda Guerra deixou marcas profundas para questões 
teóricas e metodológicas. Sua busca, ao lado de Febvre, era a de afirmar a 
posição da História como um campo de conhecimento capaz de trazer 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
conclusões sobre a sociedade e dialogar com o meio científico, não limitando a 
História a função de descrever os fatos “como ocorreram”. 
 
 
 
2.5 FERNAND BRAUDEL E AS DURAÇÕES 
Fernand Braudel foi um historiador francês, também considerado pela crítica 
historiográfica como um dos maiores nomes da ciência em todos os tempos. Em 
1929, período em que foi criada a Revista dos Annales, Braudel tinha 27 anos e 
trabalhava numa escola da Argélia, onde paralelamente começou a escrever e 
pesquisar tese sobre o Mediterrâneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
Figura 5: Fernand Braudel 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/2Rne9Mf. Acesso em: 22 dez. 2020. 
 
Em sua carreira também trabalhou na Universidade de São Paulo (USP) entre 
1935-37 em seu período de criação, junto de outros grandes nomes da Ciências 
Sociais como Claude Lévi-Strauss e Roger Bastide. Em São Paulo ajudou a formar as 
primeiras turmas do curso de História da USP, onde adquiriu experiência 
universitária. No retorno de São Paulo conheceu Febvre, que acabou se tornando 
uma espécie de padrinho intelectual. A influência da Geografia e dos debates 
teóricos de História a partir de Febvre acabaram influenciando Braudel, o que o fez 
dele também um integrante da forma de pensar a História característico dos 
Annales. 
Assim como Bloch e Febvre, se alistou no exército. Em 1939 combateu na 
Segunda Guerra Mundial, sendo feito prisioneiro pelos alemães em 1940. Nesse 
período, confinado como prisioneiro no campo de Lübeck, elaborou o argumento 
de O Mediterrâneo e Felipe II, que viria a se tornar sua grande obra. Nesse livro, 
Braudel desenvolveu uma de suas principais colaborações à Historiografia, em 
torno da ideia de duração. 
Ao analisar a região do Mediterrâneo, percebeu que as mudanças na 
região se davam em três ritmos temporais, os quais ele identificou como durações. 
Essas durações (durée) seriam divididas em longas, médias e curtas, de acordocom as quais sua obra também foi dividida. Portanto, a longa duração 
corresponde, para o autor, ao tempo da Geografia, da paisagem, àquele tempo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
lento, que quase se arrasta e pouco se percebe suas modificações. A média 
duração seria a da língua, da economia, das formas sociais e políticas, que se 
desenrolam num tempo mais dinâmico, mas que necessitam de um olhar mais 
distante que o do evento. Por fim, a curta duração seria aquele referente ao 
cotidiano, às ações políticas pontuais, aos fatos em si. 
Na obra Escritos sobre a História, Braudel dedica um capítulo para tratar da 
relação entre as Ciências Sociais e a longa duração. No texto o historiador faz uma 
espécie de debate com o estruturalismo do antropólogo Claude Lévi-Strauss, que 
buscava em diferentes sociedades elementos comuns. Ao encontrá-los, sua 
intenção era demonstrar como essas sociedades partilhavam características, 
como o incesto, rituais funerários ou padrões artísticos geométricos, numa busca 
daquilo que pudesse trazer explicações estruturais para a sociedade. 
 
 
 
Assim, em comparação aos pressupostos de Lévi-Strauss, esse estruturalismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
seria muito próximo daquilo que Braudel propõe como longa duração, ou seja, 
elementos que estão muito distantes no tempo, de modificação muito lenta, quase 
imperceptível. Esse debate entre Braudel e Lévi-Strauss foi essencial para o 
desenvolvimento do modelo historiográfico da Escola dos Annales, que em sua 
essência parte da ideia de interdisciplinaridade e da necessidade de afirmar o 
lugar da História perante as Ciências do Homem. Desta maneira, segundo Braudel 
(1978, p. 43): 
 
Uma razão a mais para assinalar com vigor, no debate que se 
instaura entre todas as ciências do homem, a importância, a 
utilidade da história, ou antes, da dialética da duração, tal como 
ela se desprende do mister, da observação repetida do historiador; 
pois nada é mais importante, a nosso ver, no centro da realidade 
social, do que essa oposição viva, íntima, repetida indefinidamente 
entre o instante e o tempo lento a escoar-se. 
 
 Com o tempo e devido à abrangência de suas obras e debates, Braudel 
tornou-se importante dentro da Escola dos Annales, diretor da revista e uma espécie 
de liderança para a segunda geração do movimento, que também contava com 
nomes como Ernest Labrousse, Pierre Goubert, Georges Duby, Pierre 
Chaunu e Robert Mandrou. Sob a direção de Braudel a Revista dos Annales atingiu 
um momento de grande prestígio e reconhecimento internacional, divulgando o 
programa e os ideais do movimento por diversos lugares. Portanto, pode-se dizer 
que Braudel e a segunda geração do movimento foram em boa parte responsáveis 
pela grande abrangência que a Escola dos Annales adquiriu para a Historiografia. 
 
2.6 PROPOSIÇÕES METODOLÓGICAS DOS ANNALES 
Conforme apresentado, a contribuição dos Annales para a História não se 
deu através da criação de um paradigma, mas por um projeto metodológico e 
teórico, que visava reafirmar o espaço da História no campo científico e encontrar 
novas respostas para a prática historiográfica. Esse projeto pretendeu conduzir um 
debate com a História e acabou resultando inicialmente na criação de uma revista 
e no surgimento da Escola dos Annales. Mas quais contribuições efetivas essa 
Escola trouxe para a História? Quais suas principais propostas? Posto isso, o objetivo 
agora é apontar como se deram essas contribuições, através de um quadro 
esquemático. O quadro esquemático a seguir foi elaborado por Barros (2012) e 
aponta de maneira objetiva as principais orientações para do programa da Escola 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
dos Annales. Esse trecho do presente texto é inspirado no segundo capítulo “Os 
Annales e seu programa”, da coleção Teoria da História. Vol. V: A Escola dos 
Annales e a Nova história, de Barros (2012). 
 
Figura 6: A Escola dos Annales 
 
Fonte: (BARROS, 2012, p. 103) 
 
 
 Interdisciplinaridade: atualmente, esse termo tem fluência nos diversos campos 
do saber científico e é muito comentado na realidade escolar. A palavra, em 
si, indica alguns sentidos, dentre os quais podemos destacar: a interação entre 
disciplinas; a interação no interior de uma disciplina, que busca assimilar 
métodos e teorias de outro campo do saber; a uma formação ou obra que 
não se limitou a um único tipo de conhecimento; a perspectivas que 
incorporam dois ou mais campos do saber criando uma nova prática. Neste 
sentido, para os historiadores dos Annales, a busca interdisciplinar se fortalecia 
na construção de uma Nova História que se inspirava em conhecimentos 
diversos como Economia, Psicologia, Cultura, Geografia, Sociologia, dentre 
outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
Ao ter contato com novos aportes, sistemas conceituais e metodologias, à 
História foi possível ampliar os tipos de fonte e problemas. Com isso a atitude 
interdisciplinar, pretendiam não serem confundidos com uma simples literatura que 
relatava fatos passados (BARROS, 2012). 
 
 A História-Problema: essa noção foi um dos instrumentos mais combativos 
adotados pelos annalistas. Através da noção de História-Problema, Bloch e 
Febvre se opuseram a História Factual, a História Narrativa e a História Política 
(em uma vertente conservadora e tradicionalista). Para eles, a História que não 
fosse “[...] interpretativa, problematizada, apoiada em hipóteses” e capaz de 
estudar novamente eventos por novos pontos de vista (BARROS, 2012, p. 109) 
seria frágil intelectualmente, por se tornar uma mera descrição. 
 
Barros afirma que durante muito tempo, vários historiadores que deram 
continuidade à tradição dos Annales, como Braudel, Le Goff, Vovelle, Chartier, 
dentre outros, utilizaram a História-Problema como uma bandeira, “[...] o mais 
comovente de todos os instrumentos programáticos empunhados pelos annalistas” 
(BARROS, 2012, p. 109). Assim, a Escola dos Annales fez da noção de História-
Problema um dos principais elementos da formação de sua identidade e de seu 
programa, essenciais no estabelecimento de suas pretensões no meio 
historiográfico. 
Por fim, o fato histórico então não seria mais, a partir de História-Problema, 
algo neutro e capaz de ser analisado de forma objetiva. O tempo e o lugar em que 
o estudioso vive, a sua formação teórica, o recorte histórico e principalmente as 
perguntas que ele faz as fontes é que irão dar forma as conclusões do historiador. 
Esse movimento promoveu uma troca entre a valorização da objetividade pela 
subjetividade do historiador, ao compreender a importância da visão de mundo e 
das hipóteses formuladas na compreensão de um passado. 
 
 Fontes e cientificidade: a questão das fontes é outro ponto importante do 
programa dos Annales, e junto da proposta de História-Problema, foi tratado 
como bandeira do movimento. Ao romper com um modelo de História mais 
voltado ao político, ao narrativo e ao factual, um dos problemas notados era a 
existência de um rígido controle, análise e classificação de fontes, além da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
predileção por documentos escritos. Era preciso propostas transformadoras que 
ampliassem o uso de fontes, restrito a arquivos oficiais e crônicas. 
O alargamento das possibilidades de fontes incluía o uso de documentos até 
então desprezados: de objetos e imagens a textos, vestuário, arqueologia, dados 
estatísticos etc. sem ordem de importância pré-determinada pelo método. O que 
hoje, para nós historiadores se apresenta como costumeiro, passou a ser uma 
importante defesa dos annalistas no período. É importante ressaltar que em nossa 
atual prática historiográfica a busca e a valorização de diversos tipos de fontes 
ainda é muito atual e que esse debate não foi exclusivo da Escola dos Annales. Essa 
busca, porém, vinha acompanhada de novos dilemas metodológicos e teóricos 
propostospelo grupo francês. 
 Como a intenção de Bloch e Febvre incluía reafirmar o espaço da História, é 
importante também explicitar a forma como esses historiadores descreviam o 
conhecimento histórico como científico. Segundo Barros, a ideia de ciência dos 
seres humanos no tempo simboliza aquilo que a Escola dos Annales descreve como 
“[...] ciência capaz de assumir-se como conhecimento em perpétua mudança, não 
apenas de seus resultados, mas também de seus pressupostos” (BARROS, 2012, p. 
109). Essa capacidade de mudança é que traz a História constante reavaliação 
teórica e metodológica, adequada às realidades, objetos de estudo, hipóteses 
formuladas e que busca responder as questões colocadas pela sociedade, sem se 
ater um modelo rígido e objetivista. 
 
 O coletivo, o estrutural e o espaço: A visão sobre o coletivo, segundo Barros, é 
um ponto de debate onde é possível notar algumas diferenças entre Bloch e 
Febvre. Para o autor, Bloch tem notoriamente preocupações em produzir 
pesquisas que levem em conta o todo, o social, aproximando-se de uma visão 
estruturalista, enquanto Febvre buscava compreender a importância social do 
indivíduo (BARROS, 2012). Mesmo assim, as concepções teóricas de ambos 
tinham um ponto em comum, numa busca de compreender o social, seja pela 
análise do coletivo ou pela busca da compreensão dos elementos sociais nos 
indivíduos. 
 
Em relação ao espaço, Bloch e Febvre tiveram na Geografia um ponto de 
aproximação teórica e metodológica. Ambos compreendiam a importância do 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
espaço, e não apenas do tempo na construção do conhecimento histórico. Através 
das modificações que o humano impõe ao espaço e as suas adaptações a ele, 
“[...] o espaço natural, nas mãos dos novos historiadores, pode se tornar fonte 
histórica com a mesma legitimidade que um grande conjunto documental” 
(BARROS, 2012, p. 151). 
 
 O tempo: De acordo com Barros, as inovações relativas ao tempo “[...] 
relacionam-se aos novos modos de conceber o tempo, de representá-lo, de 
utilizá-lo como aliado para produzir inovadoras leituras de história, pensar 
inusitados objetos e mobilizar novos tipos de fontes históricas” (BARROS, 2012, p. 
152). 
 
Ao se opor a uma História Factual, os pioneiros da Escola dos Annales, Bloch e 
Febvre, estavam também questionando a relação que o historiador teria com o 
tempo. Foi uma maneira de se distanciar da importância do fato, alargando as 
possibilidades e concepções. Simultaneamente, não é possível afirmar que houve 
uma consonância clara de suas concepções de tempo histórico. Enquanto Bloch 
partia de elementos estruturais para o evento, Febvre tinha uma proposta inversa, e 
compreendia a partir de eventos e indivíduos a História Total. 
Desta maneira, Braudel, grande nome da segunda geração dos Annales, foi 
quem orientou de maneira mais clara o debate da relação do tempo com o 
historiador. Ao diferenciar as dimensões da temporalidade em três durações, 
Braudel também considera a possibilidade de superposição de umas as outras. 
Assim, se entrecruzam e se superpõem, existem ao mesmo tempo e não 
necessariamente anulam umas as outras. Segundo Barros: “A articulação possível 
entre as durações – sempre uma construção do historiador, e nunca um dado da 
própria realidade – permite ainda questionar sobre a qual seria o melhor modelo 
para o trabalho historiográfico” (BARROS, 2012, p. 164). Portanto, a importância de 
saber articular e reconhecer a importância das temporalidades serve também 
como caminho para a História não se mostrar demasiadamente descritiva ou 
despreocupada da importância do fato. 
 
 Passado e presente: A partir das propostas dos historiadores dos Annales, a 
construção do passado histórico não podia ser compreendida como uma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
operação objetiva, onde o pesquisador buscava descrever os fatos e trazê-los 
ao presente. Prevalecia a noção de que a História, mesmo ao buscar o 
passado, se realizava no presente. 
 
Com a perspectiva dos Annales, o presente coloca as questões de 
sua época para o passado, estruturando-o a partir de uma 
problematização, e reciprocamente o passado recoloca novas 
questões para o presente, permitindo que na operação histórica 
não apenas o historiador compreenda o passado, tal como ocorre 
na perspectiva historicista mais tradicional (neorrankeana), mas 
também compreenda a si mesmo (BARROS, 2012, p. 187). 
 
Dessa maneira, ao historiador a busca pelo passado, que não era mais um 
objeto, dependia da dinâmica e das questões que o historiador trazia em sua 
abordagem a partir de perguntas e hipóteses. Outra questão importante refere-se 
ao anacronismo. Ao reconhecer que a busca do passado se dá no presente, um 
cuidado que deve ter o historiador é não levar conceitos do presente diretamente 
para o passado. Um exemplo simples, é que expressões palavras podem ter outro 
significado em outros tempos, e ao ter contato com esse tipo de informação o 
historiador deve pensar o que essa palavra representava naquele passado, e não 
utilizar o conceito do presente. Note que isso delimita a diferença entre passado e 
presente, noção que é muito forte para a Escola dos Annales. Assim, Reis (2000) 
apud Barros (2012, p. 191). “o passado e o presente são diferentes que dialogam, e 
não a continuidade cumulativa dos mesmos” 
 
 História Total: A ideia de História Total é apresentada por Bloch em diversos de 
seus escritos, e reafirmada principalmente por Braudel, em suas obras. Por 
História Total, Bloch compreende a capacidade que uma análise histórica tem 
de compreender as diferentes dimensões: política, social, cultural, ambiental, 
em busca de uma compreensão mais abrangente, e distante do modelo 
factualista que os Annales se opunham. Segundo Bloch (2001, p. 152): “Numa 
sociedade, seja ela qual for, tudo está interligado, tudo se comanda 
mutuamente, a estrutura política e a social, a economia, as crenças, as 
manifestações mais elementares e também as mais sutis da mentalidade.”. 
 
Por fim, o objetivo da Unidade foi apresentar um breve histórico da Escola 
dos Annales, seus três principais personagens, além de suas propostas e inovações. 
Na próxima Unidade, será abordada a História Cultural, que também tem uma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
importante colaboração do movimento dos Annales, que em sua terceira e quarta 
gerações aprofundou seus debates nessa vertente da historiográfica. Essas duas 
próximas gerações, mesmo mantendo a essência de seu conteúdo programático, 
promoveu rupturas com as primeiras gerações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
 
1. (ENADE 2014) “Destruídos todos os documentos sobre um determinado período, 
nada pode ser dito por um historiador. Uma civilização da qual não tivéssemos 
nenhum vestígio arqueológico, nenhum texto e nenhuma referência por meio de 
outros povos, seria como uma civilização inexistente para o profissional de 
História? A categoria documento define uma parte importante de atuação do 
historiador e a amplitude de sua busca.” 
KARNAL, L; TATSCH, F. G. A memória evanescente. In: PINSKI, C. B.; LUCA, T. R. O historiador e suas fontes. Contexto, 2009, p. 9. 
 
“Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, os artefatos, as máquinas, 
por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições 
aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a 
história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um 
serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde 
fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça.” 
BLOCH, M. Apologia da História ou o ofício do historiador. São Paulo: Zahar, 1989, p. 54. 
 
Considerando a necessidade dos historiadores se valerem de registros 
documentais para produzir conhecimento e, paralelamente, o enorme 
alargamento de nossa

Continue navegando