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TCC_Serviço Social

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21 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa é fruto dos estudos realizados no Curso de Serviço Social do 
Centro Universitário Católico de Vitória, e tem como tema a “Política de Assistência 
Social destinada as Pessoas em Situação de Rua”. 
A exacerbada expansão da globalização tem sido cada vez mais um “divisor de 
águas na sociedade” (ARAUJO, 2012, p. 9), principalmente concerne às condições 
de vida das pessoas. Aquelas pessoas que tem maior acesso à tecnologia, 
informação e educação, acabam tendo maior chance de se posicionar no atual 
mercado globalizado e tendo maiores e melhores condições de vida (ARAUJO, 
2012). As Pessoas em Situação de Rua estão, por norma, à margem desse cenário 
e fora dos limites da expansão da globalização, tendo em vista que não possuem 
acesso às essas evoluções tecnológicas, à informação e à educação (ARAUJO, 
2012). 
É possível então visualizar que a globalização funciona diferentemente entre grupos 
distintos, mas, também, em países distintos. Às vezes, nem sempre ter acesso à 
tecnologia garante os “benefícios” da globalização, inclusive é possível perceber que 
tanto a globalização quanto o avanço tecnológico algumas vezes têm gerado 
consequências negativas, principalmente quando relacionada à proliferação de 
desigualdades sociais e a falta de garantias sociais para a grande maioria 
populacional (ARAUJO, 2012). 
Para compreensão do fenômeno “pessoas em situação de rua” é preciso considerar 
um vasto número de variáveis que estariam relacionados a sua ocorrência, sendo: 
1ª) biográficos – relativo a história de vida dos indivíduos, ou seja rompimentos de 
relações familiares, doenças mentais, alcoolismo, uso de drogas; 2ª) desastres 
naturais – inundações, secas, deslizamentos de terras; 3ª) estruturais – escassez de 
trabalho, baixa renda, habitação (SILVA, 2009). 
Atendendo ao exposto até aqui, a realidade das pessoas em situação de rua vem 
sendo tratadas por meio de programas e projetos elaborados voltados para esta 
população e, especialmente, por meio da Política Nacional para as Pessoas em 
Situação de Rua, o qual define “[...] objetivos, princípios e diretrizes para a 
formulação de políticas integradoras entre as pessoas em situação de rua e os 
demais membros da sociedade [...]” (ARAUJO, 2012, p. 9). 
22 
 
Neste sentido, este estudo tem o propósito de responder o seguinte questionamento: 
qual o projeto desenvolvido para a população em situação de rua pela Política de 
Assistência Social do município de Vitória/ES? 
Para tanto, o objetivo geral é identificar e descrever qual projeto desenvolvido para a 
população em situação de rua pela Política de Assistência Social no município de 
Vitória/ES, e para conseguir respostas para o objetivo traçado, os objetivos 
específicos são: 1) descrever como funciona o serviço oferecido no Albergue para 
Migrantes de Vitória/ES; e, 2) identificar o perfil sociodemográfico dos usuários 
atendidos nesse espaço. 
No ano de 2004, a PNAS-NOB/SUAS reconheceram a atenção à população em 
situação de rua no âmbito do SUAS. No parágrafo único do art. 23, da LOAS, Lei n° 
11.258, ficou estabelecido que, na organização dos serviços da Assistência Social, 
deverão ser criados programas destinados às pessoas em situação de rua (BRASIL, 
2006). 
Os indivíduos em situação de rua têm todo direito garantido em lei. A Resolução do 
Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), n° 109, de 11 de novembro, de 
2009, define características dos serviços socioassistencias em âmbito nacional 
dentre os quais: o serviço de atendimento a população em situação de rua na 
Proteção Especial (BRASIL, 2009). 
O interesse pelo tema partiu do estágio supervisionado enquanto disciplina e 
experiências profissionais vividas junto aos usuários em situação de rua no Albergue 
para Migrantes de Vitória/ES. 
Espera-se com este estudo a oportunidade de ampliar o conhecimento e 
entendimento a respeito dos programas, projetos desenvolvidos no equipamento, 
compreendendo sua política, desafios, demandas e possibilidades de práticas de 
intervenção com a população em situação de rua assistida pelo projeto, que de 
acordo com o Decreto Nº 7.053 de 2009 (BRASIL, 2009), caracteriza essa 
população. 
A possibilidade de conhecer e melhor compreender quem são as pessoas em 
situação de rua atendidas no equipamento Albergue para Migrantes de Vitória/ES, a 
Política Nacional para População em Situação de Rua, as leis que regulamentam tal 
23 
 
política, seus princípios e diretrizes, são fatores que justificam a presente pesquisa. 
Por isso, a relevância social do estudo. 
A elaboração deste estudo partiu da tentativa de conhecer, entender e aprofundar 
estudos teóricos, por meio de análise documental de Leis, portarias e documentos 
da Secretaria Municipal do Trabalho, Assistência e Cidadania do Município de 
Vitória, tendo como finalidade perceber se a formulação de estratégias de 
atendimento a essa população está de acordo com o que preconiza a lei, 
observando como essas políticas estão interagindo para cumprir seus objetivos de 
forma satisfatória a População em Situação de Rua. 
O estudo abordou os objetivos dos projetos desenvolvidos no Albergue para 
Migrantes de Vitória/ES, com foco nos indivíduos e/ou famílias em situação de risco 
social e pessoal, em processo migratório ou residente há um período igual ou inferior 
a 06 meses, que estejam a procura de trabalho para fixar residência no município ou 
que desejam se deslocar para outra cidade, e as atividades desenvolvidas nesse 
espaço para que as pessoas que ali se encontram possam ter maior apoio, e a partir 
dos programas e serviços oferecidos possam voltar a ter uma vida social, com 
dignidade, respeito, livres de agressões e preconceitos, conforme explicitado pela 
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) que todas as pessoas têm direito a 
uma vida digna. 
O tipo de pesquisa utilizado para este estudo foi documental e descritiva, de 
abordagem qualitativa. 
A estrutura do trabalho está organizada da seguinte forma: o tópico 2 trata do 
Referencial Teórico, onde apresenta-se uma breve introdução dos conceitos de 
políticos públicas, uma contextualização da formação da população em situação de 
rua, e da Política Nacional de Assistência Social; no tópico 3 é apresentado os 
procedimentos metodológicos para realização deste estudo; o tópico 4 trata dos 
resultados da pesquisa; e, por fim, no tópico 5 apresenta-se as considerações finais. 
 
 
24 
 
 
25 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
2.1 UMA BREVE INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
A gestão pública é uma expressão que gera uma área de conhecimento e de 
trabalho relacionados as organizações onde o objetivo seja de interesse público ou 
alcance este. Compreende áreas como Finanças Públicas, Recursos Humanos, 
Politicas Publicas dentre outras. Com interesses que interferem em toda sociedade, 
uma organização pode ser pública ou privada, podendo haver “gestão pública” em 
instituições públicas e privadas, apesar de não ser comum os entes privados se 
preocuparem realmente com a coletividade. Exemplo disso são as Organizações 
não Governamentais (ONGs), que são entidades privadas, mas na maioria das 
vezes visam algum tipo de bem público (BRUM, 1988). Por sua vez, as políticas 
públicas podem ser entendidas como medidas estimuladas pelo Poder Executivo 
nas três esferas do Governo (dos Governos Federal, Estadual e Municipal) com 
intuito de gerar o bem-estar social e a satisfação da sociedade (STOFFEL, 2004). 
Souza (2006), afirma ainda que existem quatro tipos de políticas públicas - 
distributivas, regulatórias, redistributivas e constitutivas. Sechi (2012, p. 17) 
conceitua esses tipos de políticas públicas como: 
Política regulatória - determina modelos de comportamento, serviço ou 
produto para agentes públicos e privados. 
Política distributiva: está relacionada ao que é decidido pelo governo e 
“distribuído”a certos grupos. 
Política redistributiva: abrande uma quantidade maior de pessoas, sendo 
compreendida políticas sociais “universais. 
Políticas constitutivas: está relacionada aos procedimentos, definem 
competências, regras de disputa política e da elaboração de políticas 
públicas. 
A importância da gestão pública, segundo Alcoforado (2006), está em promover o 
desenvolvimento de um país ou região, contendo em sua capacidade de criar 
otimização e melhoria dos fatores de produção existentes, na organização da 
infraestrutura econômica e social, e na implementação de ações que possam 
diminuir as desigualdades sociais. 
Segundo Rua (2009, p. 36), 
As políticas públicas ocorrem em um ambiente tenso e de alta densidade 
política, marcada por relações de poder, extremamente problemáticas, entre 
26 
 
atores do Estado e da sociedade, entre agências intersetoriais, entre os 
poderes do Estado, entre o nível nacional e níveis subnacionais, entre 
comunidade política e burocracia. 
Segundo Araujo (2012, p. 18): 
Os objetivos principais das Políticas Públicas são atender as demandas 
sociais, especialmente as que atendem as necessidades da população 
menos favorecida economicamente; concretizar os direitos de cidadania; 
promover o desenvolvimento social; criar oportunidades de geração de 
emprego e renda, através de políticas sociais e de incentivos fiscais; mediar 
os conflitos entre os diversos setores da sociedade e o poder público e fazer 
com que, através da Gestão Participativa, a sociedade possa, além de 
participar da elaboração da política, mas também discutir os pontos de 
interesse na política, não deixando as decisões apenas nas mãos dos 
gestores e, conhecendo a política de forma mais profunda, possa fiscalizar 
a aplicação dos recursos destinados à mesma. 
A seguir neste estudo, serão tratadas Políticas Públicas voltadas para pessoas em 
situação de rua, em especial a Política de Assistência Social. 
 
2.2 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA 
 
A existência de indivíduos em situação de rua é um fenômeno presente na 
sociedade brasileira desde a formação das primeiras cidades (Carvalho, 2002). 
Também Stoffel (2004) menciona que há relatos da existência de pessoas 
itinerantes, que habitavam as ruas desde a Grécia Antiga, decorrentes de 
desapropriações de terras e do crescimento das cidades. Essas pessoas sem 
trabalho ou casa fixa encontravam dificuldades de obter renda, então, passavam a 
fazer das ruas sua moradia e seu meio de sobreviver. 
Considera-se população em situação de rua o grupo populacional 
heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos 
familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia 
convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas 
degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária 
ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite 
temporário ou como moradia provisória (BRASIL, 2009a). 
Silva (2009) aponta a caracterização do surgimento da população em situação de 
rua, dizendo que eles eram camponeses e trabalhadores rurais possuíam o seu 
próprio espaço para habitação e uma área para estabelecerem o cultivo de seus 
bens e criarem os seus animais para a sua sobrevivência. 
O Decreto 7.053 de dezembro de 2009 define a população em situação de rua da 
seguinte forma: 
27 
 
[...] um grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com 
diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza 
absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e inexistência de moradia 
convencional regular, sendo compelidos a utilizarem a rua como espaço de 
moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente 
(BRASIL, 2009). 
A definição de “população de rua” é complexa entre os pesquisadores. O universo 
dessa população pode incluir desde os que fazem da rua sua “residência” 
permanente, quanto os que apenas “tiram” da rua seu sustento sem, no entanto dela 
se utilizarem como “moradia” (ARAUJO, 2012). 
Segundo Mendes (2007, p. 4), nesse universo de pessoas, podem se encaixar como 
população de rua migrantes, “catadores de papel, prostitutas, trabalhadores 
itinerantes, mendigos, desabrigados e camelôs, entre outros”, com suas múltiplas 
motivações para permanecerem parte de sua vida na rua. 
Tiengo (2016) citado por Araujo (2012, p. 22) menciona: 
A principal dificuldade para separar aquelas que se encaixam ou não na 
definição de população de rua é saber dividi-las entre as pessoas que vivem 
nas ruas, as que vivem do que recolhem ou conseguem (de forma licita ou 
ilícita) das ruas ou que vivem em condições precárias de habitação. 
Assim, menciona Tiengo (2016) citado por Araujo (2012, p. 22) que: 
Entre as que tiram seu sustento das ruas, incluem-se as prostitutas e os 
catadores de papel e de material reciclável, os quais geralmente residem 
em locais distantes dos grandes centros urbanos e eventualmente dormem 
nas ruas por causa da dificuldade de retornar às suas casas devido, 
principalmente aos custos desse translado. 
D‟Incao (1992) citado por Araujo (2012) acrescenta nesse conceito, que: 
as pessoas que vieram do meio rural para o meio urbano a procura novas 
chances de emprego e que acabaram vagando pelas grandes cidades 
principalmente por problemas de adaptação e pela falta de qualificação 
profissional, o que impossibilitou sua contratação. A rua, então, passa de 
lugar público e de passagem, para local público de moradia, no qual 
diferentes classes sociais transitam, mas que ao invés de conviverem se 
evitam, apesar de tão próximas, aumentando cada vez mais o abismo que 
as separa. 
Para autora D‟Incao (1992, p. 95), “o processo que exclui a rua como local de 
sociabilização elimina a convivência social das diferentes classes sociais” (D´INCAO, 
1992, p. 95). 
Escorel (2000) menciona em seu estudo uma diferença entre o significado de 
“pessoas em situação de rua” e “moradores de rua”, apontando que a diferença 
maior entre ambos os termos é que os moradores de rua são aqueles que fazem 
uso da rua como “moradia” permanente. Já as pessoas em situação de rua são as 
28 
 
que as usam por um período restrito, ou seja, cuja permanência na rua é transitória 
(ESCOREL, 2000). D‟Incao (1995) trata o comportamento errante desses 
trabalhadores como consequência da falta de oferta de empregos fixos satisfatórios 
que atendam as suas necessidades. 
Araujo (2012, p. 23) menciona que: 
O migrante seria aquele individuo que vai de uma região para outra, 
geralmente em busca de melhores condições de trabalho, mas que possui, 
comumente, um local para o qual ele pode retornar. Os trabalhadores 
itinerantes seriam os trabalhadores que saem das suas cidades para 
realizar trabalhos temporários em outros locais, tais como os trabalhadores 
rurais que saem de sua região para trabalhar nas colheitas em outras 
regiões; as pessoas que vivem do comércio ambulante, os garimpeiros e 
outros trabalhadores que garantem seu sustento com trabalhos temporários, 
os chamados “bicos”. Esses indivíduos se deslocam de forma sazonal e 
geralmente tem para onde voltar. Os trabalhadores itinerantes e o migrantes 
se caracterizem por sua mobilidade em busca de um trabalho que lhe 
permita uma vida menos sacrificada, mantendo os laços familiares, os 
moradores de rua se caracterizam pelo seu nomadismo e pelo processo de 
desterritorialização, na medida em que não tem um ponto de retorno e 
geralmente rompem com os laços familiares. 
A população de rua é caracterizada por Escorel (1999, p. 18) como uma “[...] 
condição limítrofe, que pode ser verificada empiricamente no cotidiano de pessoas 
que moram nas ruas da cidade, é parte de uma trajetória composta por situações 
extremamente vulneráveis”. 
O mesmo autor define mendigo como “[...] aquele que sobrevive pedindo esmola, o 
que não toma banho, não escova os dentes; é o ponto final da degradação humana” 
(ESCOREL, 1999, p. 163). 
Já, segundo Araujo (2012, p.23), “para a Secretaria Nacional de Assistência Social 
do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, as pessoas em 
situação de rua são compelidas a habitar logradouros públicos, áreas degradadas e 
ocasionalmente utilizar abrigos e albergues para pernoitar”. 
As definições da população de rua trazem consequências que se retratam as 
manifestações sociais que as envolve, levando-se em conta seu conceito e o 
nomadismo que a caracteriza (ARAUJO, 2012). “De forma mais didática, usam-se os 
termos “morador de rua” e “pessoa em situação de rua” como sinônimos para definir 
as que têm a rua como habitat e dela também tiram o seu sustento, mesmo que não 
façam dela seu local de moradia” (ARAUJO, 2012, p. 23). 
29 
 
O Censo dos Moradores de Rua da cidade de São Paulo (2000, p. 5) definiu a 
população de rua ou a população moradora de rua como: 
[...] todas as pessoas que não têm moradia e que pernoitam nos 
logradouros da cidade – praças, calçadas, marquises, jardins, baixos de 
viadutos – ou casarões abandonados, mocós, cemitérios, carcaças de 
veículos, terrenos baldios ou depósitos de papelão e sucata. [...] foram 
igualmente considerados moradores de rua aquelas pessoas, ou famílias, 
que, também sem moradia, pernoitam em albergues ou abrigos, sejam eles 
mantidos pelo poder público ou privados. 
Vieira, Bezerra e Rosa (1994) citado por Araujo (2012, p. 24), identificam três 
situações em relação à permanência na rua: 
As pessoas que ficam na rua – configuram uma situação circunstancial que 
reflete a precariedade da vida, pelo desemprego ou por estarem chegando 
à cidade em busca de emprego, de tratamento de saúde ou de parentes. 
Nesses casos, em razão do medo da violência e da própria condição 
vulnerável em que se encontram, costumam passar a noite em rodoviárias, 
albergues, ou locais públicos de movimento. 
As pessoas que estão na rua – são aquelas que já não consideram a rua 
tão ameaçadora e, em razão disso, passam a estabelecer relações com as 
pessoas que vivem na ou da rua, assumindo como estratégia de 
sobrevivência a realização de pequenas tarefas com algum rendimento. É o 
caso dos guardadores de carro, descarregadores de carga, catadores de 
papéis ou latinhas. 
As pessoas que são da rua – são aqueles que já estão faz um bom tempo 
na rua e, em função disso, foram sofrendo um processo de debilitação física 
e mental, especialmente pelo uso do álcool e das drogas, pela alimentação 
deficitária, pela exposição e pela vulnerabilidade à violência. 
Bulla e outros (2004, p. 113) observam que, “embora se apresentando com 
vestimentas sujas e sapatos surrados, as pessoas em situação de rua, nos 
pertences que carregam, expressam sua individualidade e seu senso estético”. 
Araujo (2012, p. 24) expõe que: 
Esse grupo populacional foi mais bem definido na Pesquisa Nacional Sobre 
a População em Situação de Rua, que identificou 31.922 pessoas vivendo 
em situação de rua nos 71 municípios pesquisados. Essas pessoas 
informaram viver em locais públicos (calçadas, praças, rodovias, parques, 
viadutos, praias, túneis, prédios abandonados, becos e lixões), privados 
(postos de gasolina, barcos, depósitos ou ferro-velho) ou pernoitando em 
instituições (albergues, abrigos, igrejas, casas de passagem e de apoio). 
Como essa pesquisa não abrangeu todos os municípios brasileiros, esse 
número não corresponde ao total de pessoas em situação de rua no país 
que deve ser muito superior ao contingente descrito nessa pesquisa. 
Araujo (2012, p. 24) ainda menciona que: 
Os municípios de São Paulo, Belo Horizonte e Recife, embora se 
enquadrem nos critérios definidos para essa pesquisa, não foram incluídos 
na mesma por terem realizado pesquisa própria sobre esse mesmo tema 
nos anos de 2003 e 2005, respectivamente. Porém, em se comparando os 
resultados da Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de Rua 
30 
 
com os resultados das pesquisas realizadas nesses municípios, constatou-
se que os índices encontrados foram semelhantes. 
Sobre Pesquisa Nacional Sobre a População em Situação de Rua, Araujo (2012, p. 
25) esclarece que: 
foi realizada entre agosto de 2007 e março de 2008 em 71 municípios 
brasileiros, sendo deles 23 capitais e 48 municípios com mais de 300 mil 
habitantes. A pesquisa buscou responder a diversas questões sobre essa 
população, reunindo dados que possibilitassem a elaboração de uma 
política voltada para esse segmento da população que é, muitas vezes, 
invisível ao poder publico e à sociedade em geral. Essa pesquisa foi 
realizada a partir de um acordo de cooperação entre a Organização das 
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO e o 
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, sendo 
selecionado para a execução da pesquisa, por meio de licitação pública, o 
Instituto Meta, empresa fundada em 1991 e que realiza, entre outras, 
pesquisas nas áreas de investigação de segmentos populacionais e suas 
características socioeconômicas e recenseamento de segmentos 
populacionais e cadastramento de grupos específicos. 
 
2.2.1 Breve contextualização histórica da formação da população de rua no 
Brasil 
 
Desde a Antiguidade registraram-se fatos históricos marcados pela coerção do 
poder político com o objetivo de manter as diferenças entre as classes sociais, o que 
evidenciava quão trabalhosa seria a luta para modificar tal sistema dominante 
(SILVA, 2009). 
No contexto histórico brasileiro, os registros demonstraram que desde o Brasil 
Colônia, até o início do século XIX, as desigualdades sociais foram reforçadas com a 
vinda da Corte Portuguesa (SILVA, 2009). 
De acordo com Dannemann (2013, [s.p.]): 
Com a chegada da família real do Brasil, em 1808, foi criada a Lei das 
Aposentadorias. Por meio dela, representantes da comitiva real escolhiam 
as moradias que lhes interessavam, mesmo estando ocupadas, e o Juiz 
Aposentado fazia as intimações, transformando-as em propriedades da 
realeza. Na prática funcionava assim: o representante da comitiva que 
precisasse de casa para acomodar sua família andava pelas ruas 
acompanhando de um funcionário da Corte e, quando encontrava a que lhe 
agradasse, este funcionário emitia uma intimação ao proprietário, que era 
obrigado a abandonar o imóvel em prazo máximo de três dias, deixando 
para trás todos os móveis que lhe pertenciam, bem como seus veículos e 
escravos. Em seguida, a casa era marcada, a giz ou tinta, com as letras PR, 
que significava “Príncipe Regente”, mas logo elas foram traduzidas pela 
população como as iniciais da ordem “Ponha-se na Rua”. 
Sem condições de enfrentar aquilo que era imposto pela família real, os moradores 
da cidade tinham que improvisar situações para conseguir afastar os olhares dos 
31 
 
portugueses de suas casas, e não correr o risco de risco sem ela. Foi a partir desta 
artimanha de improvisar situações repentinas que nasceu a famosa expressão 
“jeitinho brasileiro”1. O que eles faziam para desviar a atenção dos portugueses de 
suas casas era fazer parecer que eram obras inacabadas, ou seja, deixavam as 
casas sem reboco, sem portas e janelas, as vezes com andaimes à frente, e assim 
as casas pareciam não ter condições de ser habitada. Muitos brasileiros que aqui 
residiam foram moras nas ruas, outros moravam em casas que não lhes pertenciam 
por tempo indeterminado (DANNEMANN, 2013). 
Os moradores conviviam com a desordem e a insegurança, além do medo da 
contaminação de doenças providas da falta de saneamento básico e higiene 
proporcionada, principalmente, pelo comércio de escravos na cidade, que eram 
tratados como mercadorias, sem as mínimas condições de higiene. A insegurança 
gerada no interior da Colônia também causava séria preocupação aos moradores 
criminosos, escravos cativos, escravos libertos, escravos foragidos, ciganos e 
homens de “estranhas vestimentas” – todos estes refletiam verdadeiras ameaças 
aos olhos dos brancos pertencentes à classe dominante (CATARIN, 2017).O tráfico de escravos trouxe pavor e preocupação para a população que transitava 
pelas ruas das cidades. Muitas “peças” ficavam expostas numa espécie de loja de 
escravos. Aqueles que não tinham compradores definidos permaneciam na cidade 
por dias, semanas e até meses, até serem vendidas ou comercializadas. Havia 
imundice e mau cheiro em toda parte pelas ruelas da cidade. Os negros satisfaziam 
todo tipo de necessidade fisiológicas ao ar livre. Vale esclarecer que este fato 
ocorria no cotidiano dos negros pelo fato deles não serem vistos como cidadãos com 
direitos a espaço privado para a satisfação de suas necessidades fisiológicas, mas 
eram vistos e tratados como mercadorias e “bichos”. Outros, ainda, reuniam-se para 
práticas religiosas e “recreativas”, tocando seus tambores madrugada a dentro 
(SILVA, 2009). 
A expectativa do modo de vida na sociedade estava baseada na ordem escravista. 
Este cenário estava presente nas cidades em todo Brasil Colonial e Brasil-Império. 
Posteriormente, a Proclamação da República constituía-se num estímulo às 
mudanças sociais, porém estas não aconteceram (SILVA, 2009). 
 
1
 A expressão “jeitinho brasileiro” está relacionada a maneira do povo brasileiro improvisar soluções 
para certas situações consideradas problemáticas. 
32 
 
Como consequência, houve o excesso de mão-de-obra nos centros urbanos. A 
modernização favoreceu a concentração de renda, e também o aumento da miséria, 
da desigualdade, da exclusão social e da violação dos direitos humanos (SILVA, 
2009). 
Contudo, o Brasil Contemporâneo pós Segunda Guerra Mundial era uma mistura 
paradoxal. De um lado apresentava belíssimas paisagens responsáveis pela visita 
de milhares de turistas todo ano, mas por outro estava presente a proliferação de 
favelas instaladas principalmente nos morros e em regiões de manguezais, o que 
marcava a ocupação desordenada do solo urbano e ampliava a discrepância entre 
cidadãos com direitos garantidos e cidadãos excluídos de direitos (SILVA, 2009). 
A alegria e o colorido do samba presentes anualmente nos desfiles de carnaval 
harmonizam-se com as históricas partidas de futebol, saudosismos que cada vez 
mais se rivalizavam com a exclusão social. Os momentos populares típicos 
brasileiros que “minimizavam” as desigualdades sociais e supunham uma pretensa 
harmonia das diferenças sociais históricas eram o carnaval e o futebol, único 
momento em que o folião e o torcedor se colocam no mesmo patamar social (SILVA, 
2009). 
 
2.2.2 Pontuações teóricas do processo de exclusão/inclusão social e suas 
implicações na formação da população de rua 
 
Segundo o Dicionário Aurélio a palavra exclusão significa “ato de excluir-se”. No 
entanto, para fornecer maior clareza sobre este termo, faz-se necessário esclarecer 
que excluir denota também outras ideias, como: ser incompatível com; eliminar; pôr 
fora, expulsar, retirar; privar, despojar; isentar-se. Em referência à palavra social, o 
dicionário Aurélio diz significar: “da sociedade ou relativo a ela; sociável”. De acordo 
com estes conceitos, exclusão social denota a incompatibilidade de inserção de 
alguns indivíduos na sociedade em geral. 
Exclusão social, para Assmann e Sung (2000, p. 90), está relacionada a 
“impossibilidade ou grande dificuldade que uma pessoa encontra para satisfazer 
seus desejos de consumo e suas necessidades básicas para uma vida digna”. 
Sendo assim, ambos conceitos traduzem a situação vivenciada pela população de 
rua, pois quando estes buscam as ruas ou o abrigamento, significa que tiveram, na 
33 
 
infância ou na vida adulta, seus direitos de convivência familiar e comunitária 
violados ou não garantidos. 
A palavra “exclusão” tornou-se um termo familiar no cotidiano das sociedades 
modernas e está presente nas comunidades dos países pobres, avançando num 
ritmo acelerado, atingindo milhares de pessoas no mundo inteiro. Isso se deve as 
transformações impostas pelo avanço tecnológico globalizado na dimensão 
trabalhista, gerando desigualdades sociais e, consequentemente, a redução da 
qualidade de vida do indivíduo/cidadão (ASSMANN; SUNG, 2000). 
De acordo com a Revista Exame (2016), o município de Uiramutã, no nordeste de 
Roraima, é a cidade com maior índice de exclusão social do Brasil, concentrando as 
piores condições de emprego, pobreza, desigualdades sociais, alfabetização, 
escolaridade, juventude e violência, como mostra a Tabela 01. 
De acordo com a Revista Exame (2016), seguida o município de Uiramutã (RO), os 
cinco municípios com maior índice de exclusão social no Brasil são: Itamarati (AM), 
Amajari (RR), Jutapi (AM), Marajá do Sena (MA) e Santana Isabel do Rio Negro 
(AM), todos com índices em torno de 0,3%. 
 
Tabela 01 – Índice de exclusão social da cidade de Uiramutã 
Índice Peso Descrição 
Pobreza 17% Proporção de domicílios com renda igual ou menor que ½ salário 
mínimo. 
Emprego 17% Proporção de trabalhadores com carteira assinado e funcionários 
públicos estatutários na população economicamente ativa. 
Desigualdade 17% Índice de Gini da renda domiciliar per capita da população 
residente. 
Alfabetização 5,70% Taxa de alfabetização das pessoas com 5 anos ou mais de idade. 
Escolaridade 11,30% Proporção de pessoas com 17 anos ou mais que concluíram o 
Ensino Médio. 
Juventude 17% Proporção da população com até 19 anos de idade. 
Violência 15% Taxa de homicídios por 100 mil habitantes. 
Fonte: Revista Exame (2016, [s.p.]). 
 
A representatividade da exclusão social está firmada em determinadas situações 
inseridas numa série de processos e manifestações que demarcam as rupturas dos 
vínculos sociais, dentre os quais pode-se citar: pessoas com deficiência, idosos, 
perda da moradia, preconceito racial, homofobia, desqualificação profissional, 
desemprego, alcoolismo. Neste sentido, Paugam (1996, p. 51) menciona que: 
Dentre essa população, encontram-se pessoas com rupturas sociais graves 
no centro de sua vida profissional e para as quais a „queda‟ foi brutal e 
34 
 
severa [...] No caso das pessoas que as pessoas perderam, ao mesmo 
tempo, o emprego e a moradia e que acumulam inúmeras deficiências, 
pode-se falar não de fragilização, mas de ruptura dos vínculos sociais. 
Cabe ressaltar que a exclusão social é um processo complexo-histórico, onde se 
configuram diferentes nuances no que diz respeito às desigualdades sociais, éticas 
e subjetivas. Grande parte das pessoas estão inseridas em atividades laborais que 
não suprem sequer as suas necessidades básicas. Vista como sinônimo de pobreza, 
a exclusão abre prerrogativas para a discriminação do sujeito que não se enquadra 
no modelo exigido pela sociedade em geral (SOUZA, 2016). 
A presença de pessoas menos favorecidas (mendigos, pedintes, marginais) sempre 
existiu em meio à sociedade e aos espaços públicos. No entanto, foi nos anos 90 
que a percepção da palavra exclusão surgiu como uma nova ideia, centrada no 
debate público e intelectual, mostrando a degradação do mercado de trabalho. Por 
tudo isso, a exclusão não pode ser entendida como um fenômeno a ser abordado 
pelo plano individual, mas sim de forma que atinja o todo (SOUZA, 2016). 
Pode-se destacar como causas da exclusão social o crescimento rápido e 
desordenado da urbanização, o sistema impróprio da educação escolar, o 
nomadismo profissional, as desigualdades financeiras e a falta de acesso aos 
serviços (SOUZA, 2016). Vale ressaltar que a exclusão está alcançando uma 
enorme camada da sociedade, sem fazer distinção. Segundo Xiberras (1993) citado 
por Wanderley (2001, p. 17), “excluídos são todos aqueles que são rejeitados de 
nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores”. 
A exclusão social coloca o indivíduo em uma situação de afastamento geral, como 
se ele fosse um ser que não fizesse parte da sociedade organizada, ou seja, ele é 
visto como um desigual, como se não pertencesseao meio comum, excluído das 
formas de consumo, dos bens e serviços, bem como das relações sociais inclusivas 
(SOUZA, 2016). 
Cabe ressaltar que a exclusão social está relacionada à pobreza. No entanto, não se 
pode considerar somente esse fato para explicar uma situação tão complexa. As 
adversidades que fazem parte da vida dos sujeitos, como a desqualificação 
profissional, a escassez de trabalho, a fragilização dos vínculos familiares, da 
comunidade e das instituições, a dependência química, tudo isso são fatores que 
favorecem a exclusão social (SOUZA, 2016). 
35 
 
Carvalho (1995) citado por Wanderley (2001, p. 81) ressalta que: 
A cultura da tutela e do apadrinhamento, tão enraizada no cenário brasileiro, 
nada mais é do que a ratificação da exclusão e da subalternização dos 
chamados beneficiários das políticas públicas. Por mais que discursemos 
sobre o „direito‟, na prática os serviços das diversas políticas públicas ainda 
se apresentam aos excluídos e subordinados como um „favor‟ das elites 
dominantes. 
A sociedade prega um discurso democrático e igualitário, no entanto, as pessoas 
são excluídas do sistema com uma tendência a aceitar as injustiças que lhe são 
impostas, e mais, precisam tolerar aqueles que não fazem parte de suas relações 
devido ao estado de dominação a que estão sujeitos por parte daqueles que detém 
o poder (SILVA, 2009). 
Além disso, esta mesma sociedade se encarrega de excluir o indivíduo que não está 
integrado na relação grupal que defende os mesmos interesses, os mesmos valores 
e que não tem a mesma identidade. A visão que eles têm do próprio ou encontra-se 
interligada ao grupo a que pertencem, buscando uma posição de defesa de seus 
ideais, o qual, automaticamente, gera diferenciação e exclusão daqueles que não 
estiverem integrados no mesmo grupo (SILVA, 2009). 
No tocante à pessoas em situação de rua, o enfraquecimento dos vínculos sociais 
remete o morador de rua e o indivíduo acolhido, a um patamar de aceitação dos 
serviços prestados pelo Estado, pois os mesmos acumulam uma série de 
problemas, como: falta de emprego, falta de moradia, saúde precária, perda de 
contato com os familiares, carência afetiva e vínculos afetivos, dependência química, 
marginalização, dentre outros. O sentimento presente entre os moradores de rua é a 
incapacidade de reverter a posição na qual se encontram. Esse sentimento mostra 
claramente o estado de desilusão e impotência em que vive o morador de rua o 
também o indivíduo acolhido em abrigos (JODELET, 2001). 
Sobre esse assunto, Jodelet (2001, p. 80) menciona ainda que: 
Todos esses resultados convergem indicando que a ruptura dos vínculos 
sociais é o resultado de um processo: a vida de um morador de rua após 
meses ou anos de privação parece uma fuga sem esperança, onde muitos 
não tem mais nada a perder. Após terem interiorizado sua condição 
marginal passam a procurar, antes de tudo, satisfazer suas necessidades 
imediatas. 
Para concluir as reflexões expostas a luz destes texto, pode-se dizer que a exclusão 
social não é uma situação restrita ao estado de pobreza de um indivíduo, pois ela 
também esta presente em várias outras situações como racismo, preconceitos ao 
36 
 
deficiente físico, ao profissional do sexo, ao travesti, ao transexual, ao migrante e a 
qualquer pessoa que não se enquadre no modelo dito “normal” imposto pela 
sociedade (SILVA, 2009). 
 
2.2.2.1 O paradoxo da globalização com a tecnologia na sociedade capitalista 
 
Paira no mundo contemporâneo um grande abismo separando os povos com 
denominações de Primeiro e Terceiro Mundos. Essas expressões mostram 
claramente as desigualdades entre os países pobres e os países ricos. De um lado, 
um número pequeno de países capitalistas – Estados Unidos, Canadá, Japão, 
Alemanha, França, Inglaterra, Itália e outros países da Europa Ocidental – e de outro 
lado uma quantidade expressiva de países subdesenvolvidos, espalhados pelos três 
continentes: África, Ásia e América Latina (FREITAS, 2017). 
A distância entre os ditos países pobres e países ricos é gerada por processos 
globalizados, tecnológicos e pelo sistema capitalista. Paradoxalmente, pode-se dizer 
que o mundo globalizado é contraditório e duvidoso. Existem os defensores desses 
temas, que vislumbram o crescimento econômico, o avanço tecnológico, a 
integração das pessoas e o consumo universalizado. Por outro lado, há aqueles que 
acreditam que os termos acima são potenciais geradores de processos que causam 
a exclusão social (WERCHEIN; NOLETO, 2003). 
Diante de tal situação, percebe-se que diversas sociedades vivem em um mundo 
contrastante. De um lado, a restrita sociedade de privilegiados – os incluídos – 
usufruindo de bens e serviços sofisticados, como shoppings, roupas de grife, 
restaurantes luxuosos, aeroportos, automóveis, computadores, dentre outros 
privilégios. E, por outro lado, a imensa massa de indivíduos que vivem à margem da 
sociedade – os excluídos-, que recebem as migalhas do sistema globalizado, 
afligidos pelos fantasmas do desemprego, da pobreza, da falta de moradia, entre 
outros problemas sociais (WERCHEIN; NOLETO, 2003). Neste sentido o autor, 
Sonntag (2000, p. 62) diz que: 
Nas últimas décadas, o desnível entre países ricos e pobres tem se 
ampliado ainda mais. Estudos demonstram que, no ano de 2000 a renda 
dos 20% mais ricos era 74 vezes maior que o dos 20% mais pobres, 
quando em 1960 essa diferença era de 30 vezes. 
37 
 
A globalização iniciou-se nos séculos XV e XVI, na época da expansão marítima e 
comercial europeia e teve continuidade com a Revolução Industrial, nos séculos 
XVIII e XIX. Esses acontecimentos fizeram com que os países tivessem um 
crescimento de independência econômica. Com a queda da Bolsa de Nova York, 
ocorreu uma pausa no processo de globalização, sendo que em 1949, após a 
Segunda Guerra Mundial, a globalização foi revitalizada e retornou com toda a força 
no sistema capitalista. No entanto, foi no final da Guerra Frua que ela passou a ser 
percebida efetivamente. As trocas nos continentes aumentaram mais ainda com o 
ingresso dos países da antiga sociedade comunista no comércio internacional 
(BENJAMIN et al., 1998). 
[...] Assim, a parte moderna da economia capitalista deixa de referenciar-se 
em um conjunto das econômicas nacionais vinculadas entre si por fluxos de 
comércio e investimento, para converter-se em uma rede única, tanto no 
nível produtivo como no financeiro (BENJAMIN ET AL., 1998, p. 29). 
Muitos são os fatores que caracterizam a globalização, dentre os quais pode-se 
citar: queda das barreiras tarifárias que protegem a produção de um país; produção 
dos países voltados para o mercado internacional; rápido crescimento das empresas 
transnacionais; notável crescimento da informática e abertura dos países do 
investimento estrangeiro (BENJAMIN et al., 1998). 
A globalização tem o poder de agir em várias dimensões sociais, atingindo 
sociedades, instituições e pessoas em todo o mundo, modificando o cotidiano de 
populações inteiras. Inseridas neste contexto estão as Corporações Transnacionais 
que se instalam em vários países e assumem um caráter decisivo na economia 
mundial. No que se refere às sociedades comerciais, pode-se dizer que estas são 
consideradas de grande relevância para as mudanças que ocorrem no processo de 
produção de um país. Nos dias atuais, existem meios que facilitam a comunicação e 
o transporte e permitem a instalação de indústrias em vários lugares do planeta. 
Esses lugares oferecem às empresas transnacionais uma série de vantagens, entre 
as quais pode-se citar vantagens fiscais, mão-de-obra e matéria-prima ofertadas a 
um valor inferior (BENJAMIN et al., 1998). 
A vinda das transnacionais para países que oferecem os meios que elas precisam 
para desenvolver a sua produção geram situações que comprometem a qualidade 
de vida do trabalhador, tanto no seu local de origem como no local ondeas 
empresas serão instaladas. Em referência ao local de instalação das fábricas alguns 
38 
 
fenômenos podem ocorrer, como por exemplo a perda do vínculo empregatício de 
alguns funcionários, devido a diminuição dos empregos e ao aumentos dos custos 
referentes aos benefícios trabalhistas. A princípio, acreditava-se que o número de 
empregos onde a empresa seria instalada teria um aumento considerável. No 
entanto, não foi bem assim que ocorreu, pois muitas empresas transnacionais foram 
estabelecidas, por exemplo, no Brasil, e nem por isso os empregos aumentaram 
(BENJAMIN et al., 1998). 
Nesse sentido, pode-se considerar o que diz Benjamin e outros (1998, p. 32): 
[...] o desemprego aumenta, o mundo do trabalho se fragiliza, dissemina-se 
a insegurança na vida social, áreas geográficas são abandonadas e assim 
por diante. As massas humanas que se tornaram desnecessárias a 
rentabilidade do sistema são descartadas. 
Esse fato acontece porque, na medida em que as empresas se transferem para 
outros países, ocorre paralelamente um processo de informatização e de 
automação, que acaba por colocar um número considerável de trabalhadores na rua 
(BENJAMIN et al., 1998). 
A era da globalização busca povos e espaços homogêneos, com estratégias de 
grande produções e consumos padronizados. As redes de produção são 
desencadeadas entre vários países, fazendo com que as empresas multinacionais 
adquiram um grande poder sobre a divisão do trabalho, organizando e controlando 
os países de acordo com a sua vontade. As empresas transnacionais são 
responsáveis aproximadamente pela metade da população industrial no mundo 
(BENJAMIN et al., 1998). 
A globalização, apesar de todos os adjetivos a seu favor, não apresenta resultados 
satisfatórios referente ao crescimento econômico, ao aumento da produção e de 
empregos, como também para o crescimento da comercialização nacional e 
internacional (BENJAMIN et al., 1998). 
O impacto mais negativo da globalização está refletido na diminuição do emprego 
e/ou vínculo empregatício derivando deste fato, condições precárias de trabalho, 
serviços terceirizados, contratos temporários. Na década de 70, ocorreu uma 
incorporação em massa, ligando as inovações tecnológicas aos processos de 
produção, promovendo uma mudança geral entre as classes sociais. No anos de 80, 
aconteceu um conflito entre o capital e o trabalho, e este passou a incorporar uma 
nova estrutura nos padrões de produção (BENJAMIN et al., 1998). 
39 
 
A lógica das empresas transnacionais em relação ao campo de trabalho é bem 
definida: ela seleciona, reduz e qualifica, ao mesmo tempo em que exclui os 
trabalhadores que não se enquadram no modelo exigido. Visivelmente, a inclinação 
do mercado de trabalho aponta para uma tendência de redução do número de 
trabalhadores, empregando aqueles que são admitidos sem custos e com maior 
facilidade (DUPAS, 1999). 
Segundo Dupas (1999, p. 78), “o drama do emprego nos países da periferia do 
capitalismo, portanto, tende a se agravar com a baixa qualificação e a enorme 
oscilação da demanda, gerando problemas crônicos de subemprego e 
informatização”. 
O trabalhador se apresenta como um meio para se chegar ao objetivo concreto da 
produção e não mais como um indivíduo imprescindível do processo produtivo, ou 
seja, ela não transforma a matéria-prima no produto diretamente, apenas 
supervisiona a produção em máquinas de alta tecnologia (DUPAS, 1999). 
Em consequência à explanação sobre globalização, faz-se necessário registrar 
algumas colocações sobre a grande tendência tecnológica que se iniciou na era da 
Colonização e se estendeu até à industrialização, colocando o homem num plano 
inferior na vida profissional e, consequentemente, na vida social (DUPAS, 1999). 
Trata-se da máquina que, com seus avanços tecnológicos, excluiu cada vez mais o 
trabalhador de sua atividade laboral, criando um distanciamento entre as relações 
humanas (BOFF, 2000). 
[...] A mesma lógica do sistema imperante de acumulação e de organização 
social que leva a explorar os trabalhadores, leva a depredar a natureza. Não 
se trata mais de fazer correções tecnológicas e redefinições sociais, embora 
deva ser sempre feitas, no estilo de reformas dentro da mesma lógica, 
importa superar esta lógica e o sentido de ser que os humanos se deram 
pelo menos nos últimos três séculos (BOFF, 2000, p. 173). 
A revolução tecnológica atingiu o mercado financeiro mundial como um efeito 
cascata, passando a atuar em vários países, de forma simultânea, através da 
globalização e do aperfeiçoamento dos meios de comunicação. Devido a todos 
esses fatores, a forma de realização da atividade produtiva foi totalmente 
modificada: o homem foi trocado pela máquina, que produzia mais e com menos 
custos (BOFF, 2000). 
Neste contexto, paradoxalmente, algumas sociedades possuem um 
desenvolvimento cultural avançado e uma tecnologia sofisticada, enquanto outras 
40 
 
sofrem com a falta de tecnologia, saneamento básico, transportes, educação, saúde, 
etc. Boff (2000, p. 116) menciona que: 
A crise ecológica implica dois desequilíbrios básicos no nível social: o 
excesso de consumo dos ricos e a carência de consumo dos pobres. Ela 
significa a crise global do sistema de vida, desde a destruição das florestas, 
a proliferação das neuroses urbanas, até o cinismo contemporâneo face ao 
drama de milhões de famintos e o niilismo do rock pesado que inflama a 
juventude. 
Com a implantação de novas tecnologias muitos trabalhadores foram dispensados, 
pois as máquinas realizavam o trabalho com mais rapidez e produtividade, 
necessitando, em muitos casos, de apenas uma pessoa para operá-la. Com isso, as 
indústrias começaram a fazer demissões. Diante desta realidade, os trabalhadores, 
que superlotavam os grandes centros, ficaram desempregados e passaram a ter 
dificuldades para suprir as suas necessidades e as famílias (BOFF, 2000). 
A tecnologia, o processo de globalização e os meios de comunicação trouxeram o 
progresso, mas, ao mesmo tempo, a exclusão social de muitas pessoas. Muitos 
trabalhadores não conseguiram acompanhar a velocidade dos acontecimentos 
tecnológicos e se viram desqualificados frente a essa proposta inovadora de 
produção econômica, enquanto outros eram explorados pelo sistema capitalista. A 
partir desta nova perspectiva de avanços tecnológicos, a sociedade, de um modo 
geral, passou a vivenciar modificações em todos os âmbitos, sejam eles sociais, 
financeiros ou culturais, que geraram classes trabalhadoras desfavorecidas, devido 
à baixa qualificação técnica. Com isso, essas classes de trabalhadores passaram a 
ocupar espaços em zonas rurais e urbanas. Dupas (1997, p. 76) conclui que: 
[...] Enquanto alguns não estão totalmente empregados devido a fatores tais 
como variações sazonais na demanda por trabalho agrícola, outros 
trabalham longas horas durante todo ano, mas ganham muito pouco nesses 
trabalhos de baixa produtividade. Uma característica comum – baixos 
salários – identifica tais trabalhadores como o centro da pobreza [...]. 
O processo de globalização e seus rebatimentos na sociedade evidenciaram um 
problema social de grande complexidade: a exclusão social. O avanço tecnológico 
gerou grandes transformações e muitos trabalhadores que não conseguiram 
acompanhar o ritmo dessas transformações, principalmente pela falta de 
capacitação, foram excluídos do sistema tecnológico globalizado ou explorados pelo 
sistema capitalista (DUPAS, 1997). 
Nos dias atuais, as relações referentes às atividades laborativas e à produção 
passam por novas grandes modificações, sendo que estas estão diretamente 
41 
 
conectadas ao desenvolvimento tecnológico, como a informática, a robótica e a 
utilização do computador, aliados aos meios de comunicação (ALT, 2017). 
 
2.2.2.2 O processo de globalização e seus rebatimentos na sociedade brasileira 
 
A globalização atinge as sociedade de forma cruele generalizada, inclusive o povo 
brasileiro, que se encontra a mercê das ações governamentais, sendo que estas se 
apresentam de forma equivocada quanto à promoção do bem-estar social. Um dos 
rebatimentos da globalização nos países em desenvolvimento, como o Brasil, é a 
existência de uma dívida monetárias junto aos bancos internacionais, bem como a 
necessidade de seu pagamento (ALT, 2017). 
Diante dessa questão histórica, os presidentes brasileiros procuraram saídas para o 
pagamento da dívida externa, que vem sendo acrescida de juros altíssimos. No 
processo de renegociação da dívida são tomadas medidas que impactam 
diretamente o modo de vida da população brasileira (ALT, 2017). 
Os governantes brasileiros sempre sofreram uma pressão muito grande por parte 
dos banqueiros internacionais no sentido do pagamento da dívida. Foi por este 
motivo que o então Presidente da República, Fernando Collor de Melo, tomou 
decisões drásticas, como o corte de salários e de gastos públicos relacionados à 
saúde, à educação, à aposentadoria e à moradia, dificultando a vida do trabalhador 
em geral (ALT, 2017). 
Cabe ressaltar que, tanto o trabalhador rural como o trabalhador urbano, 
enfrentaram situações difíceis também no período de governo do Presidente 
Fernando Henrique Cardoso. Suas medidas econômicas trouxeram um amargor 
para o homem do campo, que teve a sua expulsão da terra acelerada. Nas cidades, 
quem mais sofreu o impacto das políticas econômicas foi o trabalhador assalariado, 
pois este vivia em áreas de classes média e baixa e precisou passar a morar e 
cortiços, favelas e até mesmo nas ruas dos grandes centros urbanos, sem 
perspectivas quanto ao que fazer para melhorar as suas condições de vida (ALT, 
2017). Em relação a esse tema, pode-se dizer que: 
[...] Tendo como traço comum o trabalho e rendimentos irregulares, bem 
como a dificuldades de acesso aos bens e serviços produzidos pela 
sociedade, os grupos se diferenciam em relação as condições de vida, 
famílias moradoras de favelas na periferia, moradores de cortiços das áreas 
42 
 
centrais, peões que percorrem várias regiões do país (POPULAÇÃO DE 
RUA, 2004, P. 23). 
O Estado Brasileiro, na tentativa de ser mínimo, afastava-se cada vez mais do status 
de provedor de políticas públicas e de programas sociais, passando as suas 
responsabilidade para Instituições Filantrópicas e Organizações Não 
Governamentais (ONGs) (ALT, 2017). 
Em tempos de recessão e arrocho salarial, os trabalhadores foram expulsos do 
mercado de trabalho, acarretando aumento do empobrecimento das famílias 
brasileiras, que se viram abandonadas pelo poder público, ao mesmo tempo em que 
não conseguiam gerar meios para suprir as suas necessidades básicas de 
sobrevivência. Sempre se registrou a ideia de que o homem era o provedor do 
sustento familiar e quando este não conseguia realizar o seu papel de modo 
satisfatório, passava a ser considerado incompetente perante as suas 
responsabilidade de chefe de família. Assim, este homem se afastava do meio 
familiar e passava a aumentar o índice de excludência e de falta de cuidados. A rua 
passava então, a ser o seu lar (ALT, 2017). Em referência a esse tema, pode-se 
citar: 
Um contingente significativa da força de trabalho percorre esse caminho. 
Não especializado, pau para toda obra, vai deslocando-se para diferentes 
atividades e diferentes lugares, alternando trabalho e desemprego. Essa 
diversidade e segmentação impede a criação de vínculos estáveis com o 
trabalho, a família, os lugares. Sua vida está sempre recomeçando. Quase 
nada é permanente, a não ser a procura cotidiano de sobrevivência, o que 
torna sua vida extremamente fragmentada (POPULAÇÃO DE RUA, 2004, p. 
23-24). 
Essa realidade contribuía para a geração do crescimento de pessoas morando 
embaixo de viadutos e marquises e nas calçadas, todas elas vivendo em total 
situação de miséria física, emocional e material. Esses sujeitos perdiam os vínculos 
empregatícios e familiares e sofriam pressões por parte da sociedade em geral, que 
fazia uma interpretação equivocada da situação do indivíduo em situação de rua, 
colocando-o num patamar de associação ao crime e à desordem social, sendo 
vistos, muitas vezes, como uma classe perigosa, de vagabundos e incompetentes 
(ALT, 2017). 
Esse público de brasileiros em situação de “marginalidade” social e em situação de 
rua representa o foco de análise desse estudo. 
 
43 
 
2.3 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIAL SOCIAL 
 
As políticas sociais advém de movimentos sociais realizados por indivíduos na luta 
constante por seus direitos, reconhecimento político e de sua cidadania perante o 
governo, que em contrapartida coloca em prática medidas visando o controle da 
ordem social e das relações capitalistas (MACHADO; BROTTO, 2016). 
Ao longo da história, a proteção social se desenvolve dos moldes 
bismarckianos do seguro social aos benefícios universalistas berevidgianos, 
da ótica da cidadania regulada pelo trabalho ao Estado de Bem-Estar. Na 
contemporaneidade, a proteção social se esbarra com o ideário neoliberal 
que o subordina à satisfação dos mínimos sociais, ao encolhimento e 
desresponsabilização do Estado via ações focalizadas, residuais, pontuais e 
mercantilizadas (MACHADO; BROTTO, 2016, p. 02). 
A assistência social, apesar de ter um caráter universal, não consegue atender a 
todos que dela necessita, volta-se apenas para os mais necessitados, os que se 
encontram em situação de vulnerabilidade social. Para essa população dita como 
mais necessitada, a assistência social então destina ações que visam melhorar seu 
bem-estar num caráter emergencial (BRASIL, 2004). 
Desta forma, a Política de Assistência Social tem o papel de prestar atendimento a 
pessoas em necessidades extremas, como pobreza, rompimento de vínculo com 
familiares, falta de moradia e trabalho. Assim, essas pessoas ficam sujeitas a 
intervenção do governo para se subsistirem, caracterizando assim o discurso da 
assistência social de oferecer serviço a quem dela precisa, sendo esta política um 
dos alicerces do sistema de proteção social no Brasil (BRASIL, 2004). 
De acordo com o artigo 1º da Lei Orgânica de Assistência Social: 
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado é política de 
seguridade social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada 
através de um conjunto integrado, de iniciativa pública e da sociedade, para 
garantir o atendimento às necessidades básicas da população usuária. 
(BRASIL, 1993, p.1) 
Machado; Brotto (2016, p. 03) afirma que: 
De acordo com a Política Nacional de Assistência Social (2004), a proteção 
social é dividida em básica e especial. A primeira tem cunho de prevenção a 
situações de risco social à indivíduos e famílias que vivem em fatores de 
vulnerabilidade. Sua estratégia central são as ações de fortalecimento de 
vínculos familiares e comunitários no combate as expressões da pobreza e 
da desigualdade social. O Centro de Referência em Assistência Social 
(CRAS) é o equipamento responsável pelas atividades da proteção social 
básica que englobam o Programa Bolsa Família, o Benefício de Prestação 
Continuada e o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), entre outros 
serviços sociais. 
44 
 
A proteção social especializada a função de erradicar a exclusão social, indo além 
do que expressa os preceitos da Questão Social o qual se limita à pobreza, miséria 
e desigualdades, mas abrangendo todas as situações de risco sociais que podem se 
configurar numa forma de violação dos direitos dos indivíduos, violência, etc 
(BRASIL, 2004). 
A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial 
destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco 
pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, 
psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de 
medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalhoinfantil, 
entre outras (BRASIL, 2004, p. 37). 
A Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004), prevê que a proteção 
social especializada é subdividida em média e alta complexidade. Na média 
complexidade as ações são direcionadas aos casos de violação de direitos, 
inserindo-se ai o Centro de Referência Especializado em Assistência Social 
(CREAS), o qual desenvolve ações com os indivíduos que buscam a orientação e 
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (BRASIL, 2004). 
A assistência social mesmo tendo um caráter universal, muitas vezes não consegue 
atender a todos que dela necessitam, por isso, procura atender aquelas pessoas 
que se encontram em situação de vulnerabilidade social. A proteção social é dividida 
em básica e especial de acordo com a Política Nacional de Assistência Social 
(2004). 
A assistência social básica atua na prevenção a situações de risco social à 
indivíduos e famílias que vivem em fatores de vulnerabilidade. Suas principais ações 
são fortalecer os vínculos familiares e comunitários no combate as manifestações de 
pobreza e de desigualdade social. Tem como suporte o Centro de Referência em 
Assistência Social (CRAS) que é o equipamento responsável pelas atividades da 
proteção social básica, tais como: Programa Bolsa Família, o Benefício de Prestação 
Continuada e o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), entre outros 
serviços sociais (BRASIL, 2004). 
E a proteção social especial atua no combate à exclusão social, buscando combater 
à pobreza, miséria e desigualdades, principalmente às situações de risco, conforme 
explicitado. 
A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial 
destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco 
pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, 
45 
 
psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de 
medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, 
entre outras (BRASIL, 2004, p. 37). 
Assim sendo, a proteção social especial é subdividida em média e alta 
complexidade. Para a média complexidade as estratégias de ação são voltadas para 
os casos de violação de direitos, mas que ainda permanecem os vínculos familiares 
e afetivos (BRASIL, 2004). 
Na alta complexidade o trabalho deve ser “voltado para a proteção integral de 
indivíduos e famílias que estejam em total desamparo, isto é, sem referência e, ou, 
em situação de ameaça, necessitando serem retirados do núcleo familiar ou 
comunitário” (BRASIL, 2004, p.38). 
A respeito do Serviço de Proteção Especial de Alta Complexidade, este atende às 
famílias e as pessoas que estão em situação de abandono, intimidação ou agressão 
de direitos, precisando ser acolhido de forma momentânea fora de seu núcleo 
familiar e, ou, sua comunidade (BRASIL, 2004). 
Para atender os usuários da proteção social especial de alta complexidade a PNAS, 
assegura alguns serviços que segundo Battini (2007), são: 
Serviços de abrigamento: 
Serviço socioassistencial com caráter de proteção pelo abrigamento 
temporário/transitório, com atendimento integral em caso de riso social ou 
pessoal, decorrente de abandono, maus-tratos, negligencia ou outros 
fatores, com suspensão momentânea ou quebra de vinculo familiar e 
comunitário, sendo ofertados os cuidados primários e viabilizada a 
convivência e as atividades de vida diária (BATTINI, 2007, p. 173-174). 
Família acolhedora: 
Serviços para atendimento por famílias cadastrada e capacitadas para 
oferecer abrigo, acolhimento e convívio temporário às pessoas em situação 
de abandono, negligencia, suspensão temporária ou com vínculos familiares 
rompidos ou, ainda, às pessoas impossibilitadas de conviver com suas 
famílias (BATTINI, 2007, p. 174). 
Execução da medida socioeducativa de semiliberdade: 
Consiste de medida socioeducativa restritiva de liberdade, aplicada aos 
adolescentes em conflito com alei, por determinação judicial, podendo ser 
determinada desde o início ou como forma de transição para o meio aberto, 
que possibilita a realização de atividades externas de escolarização e 
profissionalização, de lazer, e da preservação de vínculos familiares e 
comunitários (artigo 120, ECA) (BATTINI, 2007, p. 174). 
Execução da medida socioeducativa de internação provisória: 
Consiste em medida privativa de liberdade com desenvolvimento de 
atividades socioeducativas junto a adolescentes em conflito com alei que se 
46 
 
encontra em cumprimento de medida de internação, por determinação 
judicial, por um período máximo de 45 dias para o estudo do caso e decisão 
judicial (artigos 121, 122 e 123, ECA) (BATTINI, 2007, p. 174). 
Execução da medida socioeducativa de internação sentenciada: 
[...] aplica aos adolescentes em conflito com a lei, por determinação judicial, 
sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição 
da pessoa em desenvolvimento, com a realização de atividades escolares e 
de profissionalização e preservação dos vínculos familiares e comunitários, 
cumprida em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida 
rigorosas separação por idade, compleição física e gravidade de infração 
(artigos 121, 122 e 123, ECA) (BATTINI, 2007, p. 174-175). 
A Política Nacional de Assistência Social é pioneira ao: 
[...] tornar visível àqueles setores da sociedade brasileira tradicionalmente 
tidos como invisíveis ou excluídos das estatísticas - população em situação 
de rua, adolescentes em conflito com a lei, indígenas, quilombolas, idosos e 
pessoas com deficiência (BRASIL, 2004, p. 17). 
A Política Nacional de Assistência Social ganhou força e regulamentação pós 
Constituição Federal de 1988, sendo incluída no âmbito da Seguridade Social em 
seu artigo 194, regulamentada pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), por 
meio dos artigos 203 e 204, da CF de 1988, a Política Nacional de Assistência 
Social (PNAS) de 2004 e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) de 2005 
(QUINONERO et al., 2013). 
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) foi aprovada pelo Congresso Nacional 
em 1993, “reconhecendo a Assistência Social como política pública, direito do 
cidadão e dever do Estado, além de garantir a universalização dos direitos sociais” 
(BRASIL, 1993). A LOAS recebeu alteração através da Lei nº 11.258/05 instituindo a 
formulação de programas de amparo à população de rua (BRASIL, 2006). 
A Constituição de 1988, em seu artigo 194, menciona que a Seguridade Social 
compreende: 
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações 
de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar 
os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. 
Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a 
seguridade social, com base nos seguintes objetivos: 
I - universalidade da cobertura e do atendimento; 
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações 
urbanas e rurais; 
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; 
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; 
V - eqüidade na forma de participação no custeio; 
VI - diversidade da base de financiamento; 
47 
 
VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a 
participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e 
aposentados (BRASIL, 1988). 
Os principais objetivos da assistência Social previstos pela Constituição Federal de 
1988, no artigo 203, são: 
[...] I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à 
velhice; 
II – o amparo as crianças e adolescentes carentes; 
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; 
IV – a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a 
promoção de sua integração à vida comunitária; 
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoas 
portadoras de deficiência eao idoso que comprovem não possuir meios de 
prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme 
dispuser a lei (BRASIL, 2006, p. 133). 
No artigo 204, da Constituição Federal de 1988, é possível fazer a leitura das 
seguintes diretrizes para a Política de Assistência Social: 
I – Descentralização político administrativa, cabendo a coordenação e as 
normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos 
programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades 
beneficentes e de assistência social; 
II – Participação da população, por meio de organizações representativas, 
na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis 
(BRASIL, 1988). 
Os artigos 203 e 204 da referida Constituição foram regulamentados com a 
promulgação da Lei nº 8.742/1993 - conhecida como a Lei Orgânica de Assistência 
Social (LOAS), que em seu artigo 1º diz: 
Assistência Social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de 
Seguridade não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada 
através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da 
sociedade, para garantir o atendimento ás necessidades básicas (BRASIL, 
1993). 
A Política Nacional de Assistência Social, em consonância com o disposto no art.2º, 
da LOAS, em parágrafo único profere: 
A Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, 
visando ao enfrentamento da pobreza, a garantia dos mínimos sociais, ao 
provimento de condições para atender contingências sociais e a 
universalização dos direitos sociais (BRASIL, 1993). 
De acordo com Brandão (2009), a LOAS foi criada com a finalidade de regulamentar 
e instituir benefícios, serviços, programas e projetos destinados ao enfrentamento da 
exclusão social dos segmentos mais vulneráveis da população. A LOAS prevê, 
dentre outros, que Política de Assistência Social exerça um papel estratégico no 
48 
 
enfrentamento da pobreza de forma a garantir os mínimos sociais para o 
atendimento às necessidades básicas da população. 
Assim a assistência social passou a ser representada por princípios formais que 
garantem direitos igualitários para toda sociedade. Segundo Di Giovanni (1998), 
entende-se por Proteção Social: 
As formas às vezes mais, às vezes menos institucionalizadas que as 
sociedades constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros. 
Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da vida natural ou social, tais 
como a velhice, a doença, o infortúnio, as privações. Incluo neste conceito, 
também, tanto as formas seletivas de distribuição e redistribuição de bens 
materiais (como a comida e o dinheiro), quanto os bens culturais (como os 
saberes), que permitirão a sobrevivência e a integração, sob várias formas 
na vida social (DI GIOVANNI, 1998, p. 10). 
Analisando esses critérios, Pereira (1998) cita que com a Política Nacional de 
Assistência Social, o Estado assegurou um conjunto de condições dignas ao 
cidadão, ao tornar as políticas sociais um direito social e reclamável. Medidas estas 
fundamentais para a instituição do bem-estar social, que tem o dever de atuar em 
defesa e atenção dos interesses e necessidades sociais das pessoas mais 
empobrecidas da sociedade. 
Por este prisma, então, vê-se que são incumbências da Assistência Social o 
desenvolvimento de programas e serviços sociais que cubram, reduzam ou 
previnam exclusões, riscos e vulnerabilidades sociais2 (SPOSATI, 1998). 
Assim sendo, o serviço de proteção social atua e protege os indivíduos contra riscos 
que fazem parte da vida de qualquer ser humano, como: doença, velhice, 
desemprego, pobreza etc, tão presentes e visíveis em nossa sociedade hoje. Como 
política pública, começa seu percurso no campo dos direitos, da universalização dos 
acessos e da responsabilidade estatal (ARGILES; SILVA, 2011). 
A Política de Assistência Social é uma Política Pública que atua de forma a 
possibilitar a superação de extrema vulnerabilidade, buscando proporcionar aos 
indivíduos uma melhor qualidade de vida, e o fortalecimento dos seus direitos e 
vínculos familiares, e sua autonomia na sociedade (BRASIL, 2006). 
 
2
Apresenta-se como uma baixa capacidade material, simbólica e comportamental, de famílias e 
pessoas, para enfrentar e superar os desafios com os quais se defrontam, o que dificulta o acesso à 
estrutura de oportunidades sociais, econômicas e culturais que provêm do Estado, do mercado e da 
Sociedade. BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal Adjunta de Assistência 
Social (Dicionário de termos técnicos da assistência social. Belo Horizonte: ASCOM, 2007, p. 132). 
49 
 
Para dar ênfase a informação contida no artigo 203 da Constituição Federal de 
1988, Pereira (1996), colabora assinalando quem são os beneficiários da política de 
assistência social: 
É beneficiário da assistência social, todo cidadão pobre, isto é, todo cidadão 
que, por razões sociais, pessoais ou de calamidade pública, esteja em 
situação de incapacidade ou impedimento permanente ou temporária de 
prover para si e sua família, ou ter por ela provido, o acesso à renda e aos 
serviços sociais básicos (PEREIRA, 1996, p.106). 
A Lei Orgânica de Assistência Social define entre outras coisas, que a assistência 
social trata da organização e gestão da política e de seus benefícios e programas do 
financiamento da política. Um dos fatores definidos pela LOAS é que a assistência 
social será gerida de maneira compartilhada entre União, Estados e Municípios 
(BRASIL, 1993). 
Subtende-se que o Plano de Assistência Social: 
É um instrumento de planejamento estratégico da política de assistência 
social – elaborado pelo gestor é aprovado pelo conselho em cada esfera de 
governo – que organiza, regula e norteia a execução da política na 
perspectiva do SUAS. Sua estruturação comporta os objetivos gerais e 
específicos, as diretrizes e prioridades deliberadas, as ações e estratégias 
correspondentes para sua implementação, as metas estabelecidas, os 
resultados e impactos esperados, os recursos materiais, humanos e 
financeiros disponíveis e necessários, os mecanismos e fontes de 
financiamento, a cobertura da rede prestadora de serviços e os indicadores 
do monitoramento e avaliação (ESPIRITO SANTO, 2009, p.61-62). 
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) trabalha com (BRASIL, 2004): 
Cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidades e 
riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos 
de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades 
estigmatizadas em termos étnicos, cultural e sexual; desvantagem pessoal 
resultante de deficiência; exclusão pela pobreza e/ou no acesso às demais 
políticas públicas; uso de substância psicoativas; diferentes formas de 
violência advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária 
ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e 
alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco 
pessoal ou social (BRASIL, 2004, p.27). 
Para alcançar os objetivos estabelecidos, as Políticas Públicas são submetidas às 
regras amparadas e definidas em documentos legais que orientam a aplicação dos 
recursos públicos definidos para cada fim que guiam as ações do poder público. De 
forma bem consistente Teixeira (2002) define tal regulamentação como: 
[...] diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e 
procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, 
mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, 
políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, 
programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente 
envolvem aplicações de recursos públicos (TEIXEIRA, 2002, p.2). 
50 
 
De acordo com a Norma Operacional Básica – NOB/SUAS: 
A Política Nacional de Assistência Socialde 2004 foi aprovada pela 
resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004, do Conselho Nacional de 
Assistência Social (CNAS) e publicada no DOU de 28/10/2004, expressa as 
deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada 
em Brasília em dezembro de 2003. O SUAS foi aprovado em julho de 2005, 
pelo CNAS, por meio da NOB130, de 15 de julho de 2005 (BRASIL, 2005, p. 
27). 
Segundo a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUASNOB-
RH/SUAS, “para a implantação do SUAS e para alcançar os objetivos previstos na 
PNAS/2004, é necessário tratar a gestão do trabalho como uma questão estratégica” 
(BRASIL, 2006, p. 15). 
A Política Nacional de Assistência Social, em consonância com o disposto na LOAS 
capítulo II, seção I, artigo 4º, baseia-se concepções democráticas abaixo: 
I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as 
exigências de rentabilidade econômica; 
II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da 
ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; 
III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a 
benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e 
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade 
(BRASIL, 2004, p.32). 
A PNAS legitima o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), criado em 2005. 
São dele serviços essenciais como: a garantia da segurança da sociedade, a 
vigilância, e a defesa dos direitos socioassistenciais. Seus principais objetivos são: 
enunciar responsabilidades; estabelecer níveis de gestão de cada esfera; determinar 
as competências das instâncias que formam a rede de proteção social e sua 
articulação; descrever a forma de gestão financeira, transferências e critérios de 
partilha (BRASIL, 2004). 
A Assistência Social desenvolve: 
ações de prevenção, proteção, promoção e inserção, bem como o 
provimento de um conjunto de garantias ou seguranças que cubram, 
reduzam ou previnam os riscos e vulnerabilidades sociais e que busquem o 
atendimento de necessidades tanto de caráter emergenciais quanto as 
consideradas permanentes (SIMÕES, 2009, p. 296). 
No sentido de garantir o direito à assistência social, diversos são os serviços 
oferecidos no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), aquelas pessoas 
que se encontram em situação de vulnerabilidade social, suas principais ações são 
fortalecer os vínculos familiares e comunitários no combate as manifestações de 
pobreza e de desigualdade social (BRASIL, 1993). 
51 
 
A presente pesquisa tem sua atenção voltada para a temática do Fenômeno 
População em Situação de Rua, destacando a proteção social especial oferecido no 
Albergue para Migrantes de Vitória/ES, um programa de acolhimento que é 
fundamental às famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal 
e social (BRASIL, 2004). 
Tais programas oferecidos no Albergue para Migrantes de Vitória, ES são 
mencionados ao longo da pesquisa, uma vez que julgou-se relevante caracterizar 
primeiro a população em situação de rua por meio de uma retrospectiva histórica. 
O Decreto 7.053, de 23 de dezembro de 2009a, que institui a Política Nacional para 
a População em Situação de Rua, na busca de uma definição legalmente amparada, 
Considera-se população em situação de rua o grupo populacional 
heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos 
familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia 
convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas 
degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária 
ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite 
temporário ou como moradia provisória. (BRASIL, 2009a) 
Segundo Silva (2009, p. 91): 
O fenômeno social população em situação de rua constitui uma síntese de 
múltiplas determinações, cujas características, mesmo com variações 
históricas, o tornam um elemento de extraordinária relevância na 
composição da pobreza nas sociedades capitalistas. 
Para a Política Nacional para a Inclusão Social da População em Situação de Rua: 
as ações estratégicas em assistência social devem atender à requisitos de 
rede de acolhimento dessa população nos equipamentos, garantindo 
acesso às políticas setoriais como serviços de saúde e de educação, 
inclusão e acompanhamentos dos usuários no CAD-único, com vista à 
concessão de benefícios como Bolsa-Família e o BPC (BRASIL, 2009b). 
Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais: 
a assistência social, em consonância com a Política Nacional para Inclusão 
social da População em Situação de Rua, atende a esses usuários por via 
dos seguintes serviços: no âmbito da média complexidade, existe o Serviço 
Especializado em Abordagem Social, operado no CREAS, buscando 
realizar trabalho social, orientando e encaminhando para acolhimento 
institucional e o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de rua, 
realizado no Centro de Referência Especializado para a População em 
Situação de Rua (CREPOP ou Centro POP), que visam atender e ofertar 
atividades que visem o fortalecimento de vínculos, a sociabilidade e 
autonomia dos usuários, a partir de um espaço técnico que permita a 
higienização, alimentação, provisão de documentos e localização de 
referências familiares; no âmbito da alta complexidade, são disponibilizados 
o Serviço de Acolhimento Institucional e o Serviço de Acolhimento em 
Repúblicas, ambos ofertando o acolhimento fixo e provisório contra o 
abandono e a perda de moradia e rompimento de vínculos familiares, de 
acordo com o perfil de cada grupo atendido (BRASIL, 2009c). 
52 
 
Assim, de acordo com a observação de Couto e outros (2014), percebe-se que a 
variedade de ações em assistência social propõe potencializar a garantia e defesa 
dos direitos da população em situação de rua. No entanto, é visto que a realidade do 
SUAS no Brasil, em relação aos serviços e equipamentos públicos, é precária e não 
atende as expectativas. Couto e outros (2014) ainda mencionam que as 
experiências são marcadas pelo déficit no investimento público e pela segregação 
das ações o qual variam de acordo com o município e não seguem ao que é 
estipulado nas políticas sociais. 
A implementação do Creas constitui questão das mais desafiantes para a 
consolidação do Suas, sobretudo por não existir desenvolvimento anterior 
nessa modalidade. Traz inúmeras indagações para exame que, por sua vez, 
parecem exigir um novo estágio de formulações. São questões que 
emergem do processo de sua implementação e do próprio Suas e apontam 
necessidades de orientações técnico-metodológicas e desenhos de gestão 
e gerência para sua operacionalização (COUTO et al., 2014, p.208). 
Assim, é possível concluir que a assistência social é uma principais políticas para 
viabilização de estratégias para o enfrentamento do fenômeno população em 
situação de rua, mas, no entanto, é preciso defender a efetivação das proposições 
estabelecidas pelas normativas do SUAS para que de fato se concretize a garantia 
dos direitos desses indivíduos (COUTO et al., 2014). 
 
 
 
53 
 
3 METODOLOGIA 
 
Este estudo tem como objetivo geral identificar e descrever qual projeto 
desenvolvido para a população em situação de rua pela Política de Assistência 
Social no município de Vitória/ES, e para conseguir respostas para o objetivo 
traçado, os objetivos específicos são: 1) descrever como funciona o serviço 
oferecido no Albergue para Migrantes de Vitória/ES; e, 2) identificar o perfil 
sociodemográfico dos usuários atendidos nesse espaço. 
A metodologia apresentada ao longo da pesquisa procura mostrar os meios 
utilizados para atingir os objetivos da pesquisa, onde: 
[...] metodologia significa realizar uma escolha de como se pretende 
investigar a realidade. Metodologia é o caminho de estruturação do projeto, 
a forma de proceder do pesquisador ao longo de um percurso, onde se 
pode eleger os métodos

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