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Copyright © 2020 Paloma Wite
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Revisão: Wânia Araújo
Capa: Ellen Scofield - E. S. Designer
Diagramação Digital: Jack A. F.
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Edição Digital ǀ Criado no Brasil
 1º Edição
Maio de 2020
SINOPSE
 
Depois de um casamento falido, Juan Elias quer recuperar o tempo
perdido, porém ele não esperava que uma dessas noites de diversão sem
compromisso, lhe traria a maior surpresa de sua vida: um bebê.
Charlie Spencer é uma arquiteta em ascensão que, depois de pegar o
futuro marido na cama com outra, foge deixando para trás o início de uma
carreira brilhante e o sonho de formar a família perfeita.
Buscando recomeçar ela vai parar em uma festa, regada a muita bebida,
sexo e diversão acabando assim na cama de um dos solteiros mais cobiçados
de Nova York.
Uma única noite de prazer mudará a vida deles para sempre.
Será que Elias e Chaly estão preparados para essa encantadora surpresa?
 
AGRADECIMENTOS
 
Olá de novo e mais uma vez quero deixar aqui meus agradecimentos.
Em primeiro lugar, a Deus por ter estado ao meu lado nos momentos
difíceis que passei ao escrever essa história.
Às minhas amigas dos grupos que sempre estão comigo nos momentos
de que preciso, ajudando, aconselhando, motivando.
Às minhas leitoras que foram as maiores motivadoras por acreditarem
que seria possível. Obrigada, meninas.
Com um carinho muito especial, agradeço à minha revisora pitaqueira,
mais uma vez você foi top.
Enfim meninas, essa história é de vocês e para vocês.
Beijos a cada uma.
Paloma White.
Sinopse
Agradecimentos
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Epílogo
Outras Obras
"Biografia de Paloma White”
Minhas redes sociais
 
Charlie Spencer
 
Pela milésima vez, estendi a mão para admirar o brilho do solitário em
meu dedo anelar, meu coração disparou como no dia em que o anel foi
colocado nele. Meu sorriso se espalhou, fazendo uma felicidade plena invadir
meu corpo e aquecer minha alma. Sorriso. Ri, feliz como só um bobo da corte
faria.
— Fique com o troco. — O taxista, que tinha permanecido o tempo
todo de cara fechada, sorriu pela primeira vez. Eu não o culpava pelo
comportamento pouco amistoso, afinal o frio deixava o coração das pessoas
daquela maneira. Gelados. A curva dos lábios se ampliou ainda mais ao
perceber a gorjeta generosa que eu estava deixando em suas mãos. Era muito,
eu sabia, mas não conseguia me controlar, minha felicidade estava nas alturas
e não me permitia atuar de outra forma.
Ao pisar na rua, o salto da minha bota afundou na neve e senti o vento
gélido do inverno glacial soprando com força, espalhando os fios de cabelo
que haviam escapado do gorro. A pele da minha face doeu como se estivesse
sofrendo o ataque de um milhão de microagulhas, automaticamente senti uma
fina capa de gelo se formar sobre meus lábios úmidos. Todo meu corpo se
ressentiu do contraste de temperatura, o calor aconchegante do interior do
táxi, onde até alguns minutos atrás eu estava, era muito diferente do frio da
rua quase deserta.
A neve do dia anterior estava derretida e com a nova camada de gelo
que no momento caía formavam amontoados em todos os cantos. As árvores,
que na primavera exibiam uma gama indescritível de cores, no momento
estavam secas, com seus galhos despidos de toda folhagem e, em contraste
com o céu carregado de nuvens espessas, davam um ar fantasmagórico e
assustador à rua silenciosa.
Puxei minha bota, destravando o salto de onde quer que ele tivesse se
prendido e, mesmo com o corpo quase congelado pelo frio, eu sorria. Quem
em sã consciência sairia pelas ruas de madrugada? Sorri mais uma vez com a
resposta que me veio à cabeça — uma mulher apaixonada que corria para os
braços do seu amor.
O vento aumentou e, ao invés de fechar o casaco, eu abri os braços,
feliz. Nada era capaz de esfriar minha alegria. Subi na calçada, fiz uma
tentativa desastrada de reproduzir a coreografia do filme Cantando na Chuva
e depois subi correndo os degraus para entrar no saguão aquecido do prédio. 
— Boa noite, Tom — cantarolei, retirando o gorro e sacudindo meus
cabelos úmidos por causa da neve derretida. Segui meu caminho com
rodopios e assim meu casaco também se livrou dos respingos.
— Boa noite, Chaly — ele me devolveu com um levantar esquisito de
sobrancelha. Talvez estivesse pensando que eu era um sério caso de
internação.
Acenei para ele, me despedindo, e continuei com minha dancinha
desengonçada pelo corredor até encontrar a porta do elevador. Eram 2h da
manhã, ninguém à vista, então tinha o espaço só para mim. Entrei sozinha e
comecei a cantar Happy, do Pharrell Williams. Saí e continuei com a música,
dançando feliz. Quando procurei a chave dentro da bolsa, o brilho do anel
novamente alcançou meus olhos e, antes de abrir a porta, dei um beijo na
brilhante pedra solitária.
Abri e naquele instante toda a minha felicidade se foi com a velocidade
da luz, ainda sem acreditar no que via, minhas costas procuraram o apoio da
porta atrás de mim. Calcinha, boxer, roupas espalhadas pelo chão, garrafa de
champanhe vazia, uma taça com marca de batom. Tudo gritava traição,
porém minha mente se recusava a aceitar o que estava em frente aos meus
olhos e começou a desenhar desculpas fantasiosas. Talvez tudo aquilo na
minha frente fosse de algum amigo a quem ele tinha emprestado o
apartamento, no entanto as batidas aceleradas do meu coração insistiam em
me mostrar o que eu me negava a ver. Minhas mãos começaram a tremer e,
quando percebi, estava a caminho do nosso quarto, esperando abrir a porta,
dar de cara com duas pessoas estranhas e ver que tudo não tinha passado de
um grande susto.
Sem me preocupar em abafar o ruído dos meus passos e com o coração
aos pulos, segui pelo corredor. Já no início, comecei a ouvir as baixarias que
vinham do nosso dormitório, com minha mente gritando não, não, não,
apoiei minha mão contra a parede, tentando não desabar no chão.
Infelizmente, meu pressentimento estava certo, meu sexto sentido, desde o
princípio, tinha me avisado berrando sim, sim, sim, era eu que não queria ver,
porém agora era impossível continuar me enganando e fingir não reconhecer
a voz do meu futuro marido perfeito. E eu fugi.
 
Duas semanas depois
 
Olhei para baixo e minha vontade de chorar apenas aumentou. O salto
do belo sapato de solado vermelho, que devia custar o salário de um ano
inteiro de alguém, estava enterrado e preso entre as madeiras do píer. Cuide
desse sapato, eu tive que deixar dois foderem meu traseiro por ele. Aquelas
tinham sido as penúltimas palavras da minha amiga antes de se despedir de
mim na porta do táxi. As últimas foram o berro que ela deu quando o táxi já
estava se afastando: você vai ter que dar o seu para três se alguma coisa
acontecer com ele.
Um frio percorreu minha espinha e, de forma involuntária, minha
delicada entrada virgem e proibida se contraiu com a imagem. Não, pelo
amor de Deus, não! Preferia enfrentar a morte, a ter que dar meu... Não
conseguia imaginá-lo sendo arrombado por um, por três, então... Aquilo seria
possível?
Agradeci que o táxi já tinha se afastado e não era mais possível ouvir o
que ela continuava berrando. Eu devia estar maisvermelha que um tomate
maduro. Quem em sã consciência berrava aquelas palavras no meio de uma
rua movimentada? Apenas ela, Evangeline, ou Eva para os amigos.
Ela era louca, estressada, briguenta, mas era a melhor amiga que
alguém poderia ter, só por isso eu desculpava a sua boca suja e as ameaças.
Tínhamos nos separado por anos depois que ela se mudou para Nova Iorque,
mas os laços da nossa amizade nunca se afrouxaram, assim, quando precisei
de ajuda, encontrei a mão da minha louca amiga de infância estendida. 
E quando ela dizia que tinha dado a bunda pelo sapato, era melhor
acreditar, pois minha amiga não se importava em dizer aos namorados ricos
que estava com o aluguel atrasado. Apenas por isso ela podia se dar ao luxo
de morar em um dos bairros mais exclusivos de Nova Iorque, graças aos
presentinhos, era assim que ela chamava os pequenos favores pagos pelos
seus namorados. Bem, eu não a julgava, éramos muito diferentes, enquanto
eu vivia no mundo da lua sonhando com príncipes encantados que sempre
viravam sapos, ela saía com sapos que se transformavam em príncipes.
Olhei novamente para meus pés e rezei para que o sapato não estivesse
com o salto quebrado, mas, ao puxá-lo, vi meus piores pesadelos
transformando-se em realidade. O maldito, além de quebrado, estava com o
finíssimo e delicado couro arranhado. Meu desespero aumentou e minha
entradinha se contraiu ao pensar que a ameaça poderia se tornar realidade.
Meus olhos se fixaram no calçado destruído, tentando encontrar uma
solução e, por mais otimista que eu pudesse ser, percebi que não havia nada a
ser feito, a não ser rezar. Será que dói muito dar a bunda? Quando percebi
que aqueles pensamentos fugiram da minha mente, me dei um soco mental.
Nem louca eu iria dar minha bunda por um sapato, nem minha vagina, ou
mesmo a minha boca, sequer minhas mãos. Inferno, como faria para pagar
aquela porcaria de sapato? Se fosse em outros tempos, eu teria o maior prazer
de dar aquele mimo à minha amiga, mas naquele momento seria jogar fora
um dinheiro que eu não tinha.
Ainda estava divagando sobre entradas virgens proibidas, quando ouvi
risadas, levantei a cabeça e vi um grupo de homens descarregando um barco
que estava ancorado um pouco mais à frente e rindo da minha desgraça. Não
podia acreditar, aonde tinha ido parar o cavalheirismo? Eles continuaram a
rir, enquanto eu tentava puxar a gigantesca mala Louis Vitton, mais um
empréstimo de Eva, assim como a roupa que eu estava usando e a maioria do
que está dentro dela também. Você não irá para esse encontro de Natal da
empresa vestida como uma mendiga. Então ali estava eu, vestida como a
duquesa de Sussex — só faltava o duque, porque até um chapéu ela
conseguiu enfiar na minha cabeça! 
— Levante o pé! — Ouvi um rosnado autoritário em minhas costas.
Girei com pude e dei de cara com um dos homens que estavam
descarregando o barco. Ele estava sério. Não, ele não estava sério, estava
bravo. Tentei olhar diretamente em seus olhos, mas não consegui, primeiro
porque ele era muito mais alto que eu, segundo porque, com apenas um salto,
eu ficava em uma posição torta. O ombro direito estava quase 15 centímetros
mais baixo que o esquerdo.
Minha raiva aumentou e abri a boca para dizer a ele que podia me virar
sozinha. Minha vontade era mandá-lo à merda, junto com todos os seus
amigos idiotas que continuavam rindo, mas, antes que eu colocasse em
prática tudo que pensava, ele se agachou e senti uma mão de cadeado
fechando-se em torno ao meu tornozelo e meu pé saindo do chão enquanto
minha perna era levantada.
— O que você pensa que está fazendo, seu idiota? — Tentei me afastar,
mas só consegui apoiar minhas mãos em seus ombros para evitar o
desequilíbrio e consequentemente uma queda. O que aumentaria ainda mais
minha cota de vexame.
— Você tem certeza de que está no lugar certo? Não está perdida? —
ele me perguntou, ignorando meus xingamentos.
— Vou reclamar com seu patrão. Aposto que vocês deveriam estar
ajudando os convidados e não rindo da desgraça deles. Isso é muito
deselegante. — Soquei as costas dele e tentei afastá-lo de mim.
— Perguntei se você tem certeza de que está no lugar certo. — Naquele
momento, ele parecia não estar apenas bravo, mas furioso. Talvez estivesse
preocupado com minha ameaça de contar tudo ao patrão.
De forma brusca, enfiou meus pés em um par botas que deveriam pesar
um quilo cada, além de enormes. Parei de socá-lo e me segurei nele para não
ir direto ao chão. Percebi que estava usando apenas uma jaqueta, com um
pulôver, um cachecol enrolado no pescoço e um jeans desbotado que tinha a
aparência de ter sido usado desde a adolescência, nada muito quente para o
frio absurdo que estava fazendo.
Olhei para o contraste entre nós dois, meu casaco preto, fino e elegante,
que ia até abaixo dos joelhos, o cachecol vermelho de caxemira que não
ficava atrás, as luvas de couro também vermelhas, tudo fazendo jogo com a
calça de lã preta e os sapatos, que agora se encontram inutilizados. Todo o
conjunto era de grife e caro. Viajei, imaginando o que Eva tinha dado por
tudo. Melhor não pensar e tratar de cuidar, porque, se mais alguma coisa
acontecesse com aquelas roupas, não sabia o que teria que dar para poder
pagar e aquilo não me agradava.
— Você não me respondeu! — ele esbravejou. Realmente teria que
conversar com o patrão daquela pessoa sobre os modos insolentes e poucos
educados com que ele tratava as visitas.
— Esta é a ilha da família De La Cruz? — perguntei, enquanto seguia
tentando destravar as rodinhas da mala que também ficaram presas entre os
vãos do píer. — Se for, eu não estou perdida, sou convidada.
— É, talvez você só esteja perdida no vestuário — falou, avaliando
com deboche a minha roupa chique.
Quem aquele idiota pensava que era? Só deveria conhecer jeans, botas
e camisas de flanelas.
— Com toda certeza terei que reclamar com seu patrão — voltei a
ameaçar, mas ele apenas me olhou como se eu fosse alguma espécie rara de
bicho aquático.
Com um suspiro, olhei ao meu redor, dificilmente teria ajuda daquele
bando de selvagens, folgados e mal-educados. Assim que ajustei meu chapéu
na cabeça, amarrei com força o cinto de meu casaco, puxei minha mala, que
ele já tinha destravado, e empinei o queixo para sair como uma madame
refinada do lugar.
Só que usei força demais, as rodas voltaram a travar e com isso eu
escorreguei na madeira coberta pela fina camada de gelo, estatelando a bunda
na frente, não só dele, mas de todos os outros que tinham parado o trabalho e
riam a gargalhadas soltas, assistindo ao meu infeliz momento. Enquanto
continuava tentando me erguer novamente, meus pés calçados com as
gigantescas botas deslizavam para todos os lados sem controle e eu
amaldiçoei todas as infinitas gerações futuras de cada um deles, soluçando
sem querer.
— Podem parar de rir, a senhorita aqui já deu o show da sua entrada. —
No mesmo instante, todos os risos cessaram. Com uma mão ao redor do meu
antebraço, me colocou reta e firme em frente a ele. — Vou levá-la para casa
em segurança ou vamos ter que passar nossa noite em algum hospital.
Com aquilo, começamos a caminhar. Com uma mão, ele segurava a
alça da mala junto com o par de sapatos inutilizados e com a outra mantinha
uma garra de aço firme em meu antebraço. Quando estávamos para sair do
píer, ele parou, abriu a tampa de um tambor de lixo e jogou dentro o par de
sapatos caríssimos como se fosse um guardanapo usado.
— Idiota! — berrei, descontrolada. — Estes sapatos custaram dois paus
na bunda! Você ficou louco?
— O quê? — Meu corpo foi sacudido e girado de frente para ele com
tanta violência que temi que meu ombro tivesse sido deslocado.
— Saia do caminho, infeliz. — Tratei de empurrá-lo para pegar o
sapato de volta, mas ele continuou me segurando.
— O que você disse? — Agora estava espumando, só então percebi
minha gafe gigantesca. A cada segundo que passava, eu conseguia me
superar.
— Disse que o sapato é caro, que custou os olhos da cara. Agora se me
der licença... — Inclinei-me, quase caindo no fundo dotambor, recuperei os
sapatos, que além de esfolados e quebrados, também estavam molhados e
aquilo me levou às lágrimas.
Mas não tive tempo para lamentações, pois fui praticamente lançada
para dentro de um Jeep e minha mala sofreu o mesmo tratamento. Antes que
eu pudesse me revoltar, minha cabeça quase foi decepada quando ele puxou o
cinto de segurança e me prendeu firme ao banco, antes de se lançar a mil
quilômetros por hora em uma estradinha que na minha imaginação não
permitiria nada além de vinte. Quando vi pedrinhas e neve voando ladeira
abaixo, me segurei ainda com mais força. O veículo iniciou uma subida
íngreme e, quanto mais se distanciava do píer, a vista do mar metros abaixo
se ampliava, revelando a beleza do lugar, e era de tirar o fôlego.
Enquanto ele dirigia de forma endemoniada, eu tratava de manter meu
corpo colado no banco, assim como minha língua grudada na boca, não
queria imaginar o que poderia acontecer se ocorresse uma distração da parte
dele. Quando ele parou em frente às portas de ferro forjado de uma
maravilhosa mansão, minhas pernas tremiam tanto que eu não tinha coragem
de me mexer.
— Tome, pode entrar, a porta não está trancada. Diga a eles que você é
a hóspede retardatária e indicaram seu quarto. Agora tenho que voltar ao
trabalho. — Ele tinha retirado minha mala do Jeep e agora esperava eu que
descesse.
— Sim — eu disse, com a voz esganiçada, ainda não estava recuperada
do pavor. Ele esperava que eu descesse, mas minhas mãos estavam grudadas
no banco do carro e não se soltavam.
— Não vai descer? — disse, impaciente.
— Não seja rude, seu idiota! — rosnei para ele. — Por sua culpa acho
que fiz xixi nas calças.
Ele caiu na gargalhada.
— Se eu soubesse que isso poderia acontecer, teria vindo mais rápido
— zombou de mim, rindo ainda mais alto.
O riso continuava ecoando pelo espaço aberto e gelado, mas de uma
forma estranha conseguia me aquecer. Pela primeira vez desde que tinha
chegado, dei a ele um olhar que não era de ódio e, mesmo que ele não
pudesse ver, por dentro eu ria.
— Não zombe de mim — eu disse mais calma, mas ainda sem
conseguir soltar minhas mãos.
— Deixe-me te ajudar. — Ele deixou minha mala perto da porta da
entrada e, sobre ela, os sapatos destruídos.
Depois voltou e se dedicou a soltar um a um os meus dedos, que
insistiam em não largar a barra de apoio. A força com que se aferravam era
tanta que eu duvidava que algum dia eles relaxariam novamente. Ele
continuava rindo enquanto os soltava. Quando conseguiu me deixar livre, me
ajudou a chegar à porta e abriu-a, ao mesmo tempo em que tocava a
campainha. Depois me deu um leve empurrão para dentro, mas eu me neguei
a entrar.
— Acho melhor esperar aqui fora, não fica bem invadir. — Ele me
olhou de forma estranha, como se fosse normal invadir casas alheias.
— Como quiser. Lyn logo virá, mas agora tenho que ir, os rapazes
estão me esperando. Eu trouxe o Jeep que eles tinham levado para trazer os
mantimentos. — Dizendo aquilo, subiu no veículo, mas não saiu do lugar,
como se estivesse com medo de que eu fizesse mais alguma besteira.
Como continuei plantada sem me mover, ele tomou a decisão, acelerou
e saiu cantando os pneus, levantando cascalhos junto com a neve rala e
sumindo no pequeno caminho que descia para a praia.
Admirei mais uma vez a paisagem, o mar, as várias nuances de azul
contrastavam com os topos brancos das árvores. Lindo. Eu não tinha muita
experiência em viagens, não conhecia muitos lugares, minha vida tinha sido
uma sucessão de estudo, trabalho, mais estudo e mais trabalho. Então antes
que alguém aparecesse para me levar para dentro, aproveitei para admirar a
paisagem, eu já tinha visto um pouco durante a subida, mas agora, mais
tranquila, conseguia me embriagar com toda a beleza sem me sentir
aterrorizada.
Enquanto o carro desaparecia, decidi não reclamar com o patrão dele,
pois no final, beeemm no final, ele tinha sido gentil comigo, um pouco rude e
grosso talvez, mas aquilo deveria ser apenas falta de tato. Preferi ficar calada,
afinal estávamos na véspera de Natal.
— Entre, saia desse frio. — Girei e dei de cara com uma garota
sorrindo enquanto esfregava as mãos, em frente à porta aberta.
— Ah, sim, obrigada. — Puxei minha mala e entrei em uma gigantesca
sala de onde escapava um calor aconchegante. — A propósito, sou Chaly. —
É assim que todos me chamavam, eu não gostava do meu nome verdadeiro e
nunca o dizia a ninguém a não ser que fosse necessário.
— Sou, Lindsay, mas me chamam de Lyn — ela completou sorrindo
enquanto me ajudava com a mala. — Nossa, quanto roupa você trouxe! Está
pesada — admirou-se.
— É, acho que exagerei — confirmei para não confessar que minha
mala tinha sido feita pela minha amiga maluca.
— Não quero ser chata, mas por que você está vestida assim? —
Percebi naquele instante seu olhar de incredulidade sobre mim, ela tinha
parado na metade da escada e me encarava.
— Ah, pensei que fosse a roupa adequada.
Olhei para suas roupas, calça de yoga, camiseta de algodão e um tênis
— simples e práticas. Eu não tinha nada parecido.
— Nós vamos dividir um quarto. Julia também será nossa
companheira, você vai ver como ela é legal. — Apenas sorri ao perceber que
ela falava pelos cotovelos.
— Que bom! Assim já começo a conhecer o grupo do escritório. —
Naquilo ela já estava abrindo a porta do quarto.
— Então, você é da área dos que mandam ou dos que obedecem?
— Hã? Como assim mandam e obedecem? — A cada momento, aquela
garota me confundia mais.
— Você é dos que detém algum título ou é assistente? Advogados,
arquitetos e engenheiros mandam, assistentes obedecem. Simples assim.
Alguns dão prazer de obedecer, se é que você me entende — ela completou
com uma piscadela. Sim, eu tinha entendido, eu tinha uma Eva em minha
vida.
— Lyn! Onde você se meteu? — Uma garota afro-americana, com um
par de olhos de gato, negros e belíssimos, estava parada no meio do quarto
com as mãos nos quadris e uma cara que pretendia ser ameaçadora.
— O poderoso patrão me pediu para esperar por Chaly, ela acabou de
chegar e vai ser nossa colega de quarto — Lyn ia explicando, enquanto
puxava minha mala gigante pelo quarto.
— Ah, bem-vinda, Chaly, sou Julia! — ela se apresentou, mas logo
seus olhos se arregalaram, encarando-me. — Por que você está vestida
assim?
— Foi a mesma pergunta que eu fiz a ela — Lyn se intrometeu e eu
tive que me esforçar para não revirar meus olhos.
— Culpa de uma amiga maluca. — Na volta para casa, eu iria matar
Eva. — Esqueçam.
— Será que aí dentro tem algo que você possa usar essa noite sem
parecer a princesa de Gales? — Julia apontou para a mala e eu me senti
afundar, pois sabia que a resposta era não.
— Ah, acho que sim — menti. — Vou procurar algo adequado.
— Nos disseram que seria uma festa à fantasia, Mamães e Papais Noel,
mas como você chegou tarde à empresa, acho que não ficou sabendo. — Julia
continuava encarando minha gigantesca mala e eu tentava desesperadamente
repassar mentalmente todos os modelitos que Eva tinha socado dentro dela.
— Acho que tenho sim.
Retirei o chapéu da minha cabeça e desamarrei o casaco, jogando-os
sobre a única cama que não estava desarrumada. Eva tinha me vestido como
uma madame para a viagem e, para a festa, ela havia colocado vários vestidos
para que eu pudesse escolher, alguns eu tinha certeza de que jamais usaria,
mas não adiantou dizer, ela os colocou da mesma forma.
Vá se divertir e esqueça aquele idiota, ou melhor esqueça todos os
idiotas que já passaram pela sua vida.
 Naquele caso, ela tinha razão. Eu já tinha sido chifrada tantas vezes
que havia perdido a noção de quantos foram, assim como a minha fé nos
homens. A última vez tinha acontecido havia pouco mais de uma semana. 
Logo depois de colocar um anel de noivado no meu dedo, ele decidiu
combiná-lo com os chifres. A lembrança ainda me dava náuseas, eu tinha dito
a ele que iria a uma noite de meninas na companhia das minhas amigas da
época da faculdade e que só voltaria para casa no dia seguinte. Ele, claro, não
havia gostado, mas depoisde muita discussão, por fim, aceitou. Eu tive que
dar a ele a liberdade para que também pudesse sair com seus amigos, ele
disse que sairia, mas que voltaria cedo para casa. 
— Olhe só esse, que lindo! — Voltei dos meus devaneios com as
palavras de Júlia.
Ela tinha aberto minha mala, pegado um dos vestidos e estava se
admirando em frente ao espelho, exibindo um modelo preto em frente ao
corpo — um corpo lindo, diga-se de passagem.
— Sim, ele é lindo — concordei com ela.
— Se não fosse pela fantasia, eu pediria emprestado. — Riu. — E esse
vermelho? Que lindooooo! — berrou. — Se não fosse longo, seria perfeito
para hoje à noite.
— Verdade! — lamentou Lyn, apenas um segundo antes dos olhos
quase saírem das órbitas. — Menina, isso é um Valentino?
— Se aí diz que é, então sim. — Não iria dizer a elas que toda a mala
era emprestada e que todos os vestidos eram de grifes famosas.
— Se é um Valentino, não importa: você o usará. Eu mesma usaria se
tivesse um — sentenciou Júlia.
Enquanto elas continuavam revirando minha mala, me recostei na
cama, tentando retirar um pouco do cansaço e estresse dos últimos dias. Só
percebi que tinha passado do cochilo para o sono pesado, quando Lyn me
acordou com uma pequena sacudida.
— Já é tarde, te deixamos dormir um pouco, mas é melhor se arrumar e
descer. — Passei as mãos no meu rosto, tentando espantar o sono. —
Consegui isso para você, assim não vai ficar tão deslocada.
Julia me entregou um gorro de papai Noel com um pompom branco na
ponta, ela mesmo tinha um na cabeça e usava um vestidinho de Mamãe Noel
tão colado ao corpo que parecia uma segunda pele, além de um par de
sandálias com saltos tão altos que eu me assombrava por ela conseguir se
equilibrar sobre eles.
— Vou me arrumar e já desço, mas nem sei onde fica. — Saí da cama e
alonguei meu corpo. A pequena soneca havia me deixado ainda mais grogue,
o efeito tinha sido o contrário.
— Vou deixar meu anel. — Lyn me estendeu a mão para que eu
admirasse o belo anel de noivado. — Hoje eu quero aproveitar e ele só vai
atrapalhar.
— E seu noivo? Vai trai-lo? — Não estava acreditando! Julia também
deu de ombros como se não fosse grande coisa, será que eu era a única
anormal?
— Não chamo de traição, só quero me divertir um pouco. — Ela deu de
ombros. — Estamos indo. Quando descer, se guie pela música, não tem como
se perder.
Lyn me lançou um beijinho e se foi, balançando os quadris de forma
sensual. Balancei também minha cabeça, sem acreditar no que ela estava
prestes a aprontar e tive pena do noivo que estava a ponto de ser chifrado.
Esperei que desaparecessem para entrar no banheiro e tomar meu banho,
esperando que tirasse um pouco do meu sonambulismo.
Enquanto a água caía, lembrei-me outra vez do noivo que iria receber
um par de chifres. Eu já tinha passado por aquilo. Até uma semana atrás, eu
não só acreditava cegamente nele como me considerava a garota de mais
sorte no mundo. Iria me casar com um homem lindo, inteligente, fino e
educado, o genro com que as mães sonhavam, se não fosse um último
adjetivo: cafajeste. Era como Eva se referia a ele.
Ao sair do banheiro, olhei o deslumbrante vestido estendido sobre a
cama, sem me decidir se o usava ou não, mas Julia havia dito que, se fosse
um Valentino, eu seria perdoada por usar um longo em uma festa à fantasia.
Queria desistir, mas as palavras do meu ex-noivo, atual idiota Freddy Green,
e sua amante ainda ecoavam em minha cabeça.
— Não sei como você teve coragem de ficar noivo daquela garota sem
sal.
— Já te contei todos os meus motivos, mas não se preocupe, nada vai
mudar entre a gente.
— Como você transa com aquilo? Ela deve ser pior que um
congelador. — Ela riu.
— Também não sei. Se ela fosse um pouquinho mais gostosa, eu até
poderia dar uma chance.
— Não me preocupo com isso, aquela coisa nunca vai conseguir
esquentar...
Meia-noite e eu já estava morrendo de saudade e com pena de tê-lo
deixado sozinho, entre xingamentos de umas e apoio de outras, voltei para
casa. Fazia apenas um mês que havíamos decidido morar juntos e uma
semana que eu carregava com orgulho o anel de noivado. Era 1h da manhã
quando deixei a reunião de ‘luluzinhas’ com minhas amigas, na qual
tínhamos nos dedicado a ver pornografia, falar do tamanho dos membros
masculinos, beber e rir como idiotas.
Cansada e com vontade de pôr em ação algumas das cenas que
havíamos visto, tomei o táxi e, toda boba, voltei para casa para fazer a ele
uma surpresa, mas a surpreendida fui eu. Minhas pernas falharam e minha
bunda encontrou o chão, enquanto meus ouvidos se recusaram a continuar
ouvindo. Só continuei ali porque não tinha forças para sair do lugar onde
tinha caído.
— Vai, meu grandão, me fode com força, não sou aquela sua noiva
aguada.
— Eu sei, minha cadela, me dê esse cuzinho maravilhoso que ela
sempre nega para mim
— Ele é todinho seu, meu grandão. Vai com força, sem piedade, mostre
o que você tem para mim e não dá para ela.
— Você me deixa louco, sabia? Passei o dia todo pensando nessa sua
bunda gostosa.
— Então ela é todinha sua agora, meu grandão. Continue, não pare.
E assim as baixarias continuaram. Eu já era uma expert em chifres,
não era a minha primeira vez, então sabia que não adiantava armar um
escândalo, eu sairia perdendo e ainda seria humilhada. Arrastei-me para
fora e fui em busca de um hotel. No dia seguinte, dei uma desculpa para
faltar e, enquanto ele estava trabalhando, aproveitei para fazer minhas
malas. Enviei um e-mail avisando a minha saída da empresa que estávamos
abrindo juntos, desfazendo assim a recém-formada sociedade. Também
aproveitei para mudar meu número de celular, informar o do advogado e
assim resolver toda a papelada. Por correio, enviei o anel.
Com tudo pronto, liguei para Eva contando o que tinha acontecido,
não era a primeira vez que ela me alertava. Depois de me emprestar seus
ouvidos por quase 2h, ela só me disse uma frase: “venha ficar comigo por
uns tempos, não existe lugar melhor para dar a volta por cima do que Nova
Iorque”.
Eu deveria ter viajado no dia seguinte, mas não pude. E assim, apenas
quatro dias depois, lá fui eu dividir um minúsculo apartamento com uma das
minhas melhores amigas de toda a vida. O que eu não tinha contado a Eva
era que ele tinha me encontrado, aquela parte eu queria esquecer e tinha
sido por isso que eu não tinha levado nada. Eu fugi apenas a roupa do corpo
e o pouco de dignidade que ainda me restava.
Um suspiro involuntário escapou dos meus lábios, eu realmente estava
tentando ir adiante, conhecer novas pessoas, mudar minha vida. Prova
daquilo era ir para uma festa na qual eu não conhecia absolutamente ninguém
e acompanhada apenas da minha coragem.
De banho tomado, era hora de me arrumar. Mesmo não conhecendo os
outros convidados, tentaria me divertir. Duas eu já conhecia e tinham sido
legais e maluquinhas como Eva. Espalhei sobre a bancada do banheiro itens
de primeira necessidade de todas as mulheres, olhei, tentando me decidir para
que lado ir, uma maquiagem simples, batom, máscara e blush ou algo mais
atrevido. Optei pelo atrevido, um Valentino vermelho não merecia nada
menos que aquilo. 
Quando terminei, me olhei no espelho e a vontade de rir de mim
mesma foi grande, me senti a própria Jessica Rabbit. A fenda da abertura do
vestido subia até a metade da coxa e rivalizava com o decote que descia até
quase o umbigo. Ainda rindo, me virei de costas para ver como estava a
retaguarda, nada mal, eu não tinha uma bunda avantajada, mas em
compensação meu corpo era harmonioso. Terminei de calçar as sandálias,
joguei um perfume maravilhoso nas mãos — também de Eva — e espalhei
pelo pescoço.
Ao sair do quarto, fiquei perdida. Não seria tão fácil encontrar o local
assim como Lindsay havia dito, não se ouvia absolutamente nada, mas, à
medida que descia as escadas, um som, que no início era baixo, foi ficando
cada vez mais alto. Fiz como ela havia dito e segui a música que vinha de um
corredor e no final encontrei uma porta antiga fechada, de onde escapava o
som de um rock anos 80. Eu a abri devagar,passei e fechei-a novamente atrás
de mim. Parei no topo da escada que dava acesso à festa, que acontecia no
porão da casa.
Respirei várias vezes para impedir minhas pernas de fugirem do local,
pois percebi que muitos rostos estavam virando em minha direção e o
burburinho que havia no início tinha diminuído em uns oitenta por cento. À
medida que os segundos passavam, meu desconforto apenas aumentava, tanto
que voltei a cogitar a possibilidade de dar a volta e sumir. Ninguém aqui me
conhecia, eu só começaria a trabalhar na volta do recesso de final de ano.
Decidi desaparecer, já que ninguém lá embaixo se mexia, apenas me olhavam
como se eu fosse uma extraterrestre, nem Lindsay ou Julia eu via para pode
pedir socorro.
 
Juan Elías De La Cruz
 
Natal, uma noite feliz, assim tinha sido na minha infância, adolescência
e juventude, porém, nos últimos dez anos, o Natal havia se tornado apenas
uma noite a mais, como outra qualquer. Olhei minha mesa, pensativo, mais
um ano terminando. E o que eu fiz? Nada, além de trabalhar.
O balanço da empresa lá no alto e o balanço da minha vida pessoal?
Arrastando-se pelo chão. Eu tinha acabado de sair de um casamento no qual a
megera havia quase me deixado nu e na rua, só não conseguiu me falir
totalmente porque eu tinha bons advogados. Olhei o calendário, que marcava
que dentro de duas semanas seria Natal... muitas famílias se reuniriam,
encontros, festas, confraternizações e, para mim, seria apenas mais um dia
solitário. Minha família estava longe. Depois de muito tempo, meu avô tinha
conseguido levar minha avó para passar o Natal e o Ano Novo na Grécia, que
era onde eles haviam passado sua lua de mel. Minha mãe e meu pai tinham
decidido que Paris, como sempre, era a melhor opção e minha ex-esposa —
graças a Deus —, eu não sabia por onde andava, só esperava que mais longe
ainda.
Comecei a separar as poucas coisas que pensava em levar para passar o
feriado trabalhando em casa, quando Peter entrou com uma animação fora do
comum, já que ele, assim como eu, seria mais um que passaria o Natal
embebedando-se e assistindo a reprises de filmes antigos na televisão.
Hoje, dia 24, ali estava eu e, como logo perceberão, não estava me
embebedando nem assistindo a filmes velhos sozinho. Pelo contrário, o
ambiente era festivo, música alta estourando os tímpanos, comida e bebida à
vontade, e o melhor, garotas gostosas dispostas a se divertir.
Quando Peter veio com a ideia de reunir os sem festas, como ele nos
denominou, para que passássemos todos juntos a noite de Natal, logo achei a
ideia absurda. Mas, conforme ele falava, fui contagiado com seu entusiasmo
e vi como uma saída para o que seria, para mim, uma noite de bebedeira
solitária. Não que ali não estivesse acontecendo a bebedeira, mas pelo menos
eu não estava bebendo sozinho. Mesmo em cima da hora, conseguimos juntar
mais de uma dezena de solteirões, solteiras, divorciados e todos os tipos de
almas solitárias que não tinham ninguém na cidade para passar o feriado. Não
imaginava que fossem tantos e deu no que deu.
A banqueta onde eu estava sentado era alta o suficiente para que eu
pudesse ter uma bela visão do porão onde estávamos reunidos. Rodei meu
dedo e o líquido âmbar girou, fazendo desenhos ao redor do gelo. Por um
instante, fiquei preso na pequena magia que acontecia dentro do copo,
esquecendo-me completamente do burburinho o meu redor. Mas só por um
instante.
Depois de ficar como uma criança admirando os desenhos no gelo,
levantei o copo e fiz a bebida suave, macia, doce e quente deslizar em minha
boca. O calor, que começou em minha língua, escorregou por minha
garganta, aquecendo meu corpo e nublando minha mente, que era do que eu
precisava.
À minha frente, uma das tantas garotas presentes descruzou e logo
voltou a cruzar as longas e belas pernas de forma lasciva, numa tentativa
falida a la Sharon Stone. A microssaia de Mamãe Noel que ela usava não
cobria absolutamente nada na parte de baixo e o top com pompons vermelhos
e brancos cobria menos ainda a parte de cima. Pisquei para ela, porém logo
desviei meu olhar, esperando assim que ela não se sentisse incentivada.
Um pouco mais adiante, um dos meus sócios chupava sem pudor o
pescoço da sua secretária, seu corpo espetacular estava coberto por um
shortinho vermelho com pompons na bunda imitando um rabinho de coelho.
De forma involuntária, meus lábios se curvaram, tentando evitar um sorriso,
sacudi minha cabeça e olhei para o outro lado. Preferi pensar que talvez ela
tivesse confundido a fantasia de Mamãe Noel sexy, com a de coelhinha da
Playboy.
Peter, por sua vez, já estava com o gorro caído de lado e o casaco
vermelho de seda fina completamente aberto, onde ela esfregava as mãos,
aliás não eram apenas as mãos que eles estavam esfregando um no outro.
Pela forma como as coisas estavam indo, pensei que, para eles, aquilo talvez
fosse normal no dia a dia do escritório. Comecei a me preocupar, a reunião
estava indo para o lado da orgia, ou da putaria mesmo, no sentido cru da
palavra. Desisti de olhar para eles, todos eram adultos, maiores de idade e
certamente com todas as faculdades mentais em pleno funcionamento.
Pedi uma segunda rodada e voltei a apreciar o que estava acontecendo
ao meu redor. Em um dos cantos um pouco mais escuro, Pamela, uma das
nossas mais antigas arquitetas, estava por engolir um garoto, que devia ser
um dos seus jovens estagiários. Não saberia dizer o que estava mais
vermelho, se era o rosto dele ou as calças de papai Noel que usava. Mudei
mais uma vez a direção não só dos meus olhos, mas dos meus pensamentos
também, de nada adiantava ficar me preocupando. Todos estavam se
divertindo, o riso e a música ecoavam no ambiente fechado do porão e eu
nem precisava me esforçar para saber aonde tudo aquilo iria parar.
Sorri por dentro, sentindo-me um verdadeiro garoto rebelde. Até quase
um mês atrás, aquilo seria impossível. Antonella, minha — graças a Deus —
querida ex-esposa, espumava cada vez que algum amigo meu aparecia lá em
casa, ao contrário das suas amigas, que nunca saíam do nosso apartamento.
No entanto aquilo já não importava mais, naquele momento meu pau estava,
literalmente, livre da vaca. Demorei muito para ver como ela, pouco a pouco,
estava decepando minha vida, tanto que eu, sem perceber, tinha me afastado
dos meus melhores amigos e da minha família, tudo para não a deixar
chateada.
Dei mais uma geral no salão lotado, meus arquitetos, secretárias,
assistentes, estagiários, todos divertindo-se, eu tinha certeza de que, ao
voltarem do feriado, estariam em problemas. Pena que eu não conhecia quase
ninguém, nunca pude me reunir ou sair com o pessoal da empresa, por isso
aquela festa tinha um gostinho de vingança e rebeldia, ainda mais no casarão
da ilha.
Se ela soubesse, estaria surtando, mas eu sabia que acabaria
descobrindo e, só de imaginar a cara que faria, saboreei minha bebida com
mais prazer. O gosto da vingança era realmente delicioso. Estendi minha
mão, a marca no meu dedo anelar continuava e eu esperava que não
demorasse a desaparecer.
Apoiei meus dedos em minha testa ao apreciar a cena à minha frente,
que com certeza tinha tudo para dar errado. Mais um casal se devorando e me
horrorizei ao ver quem eles eram. Ela tinha acabado de ficar noiva de um
jogador de futebol e eu só tinha ficado sabendo que era nossa funcionária
porque Peter havia comentado. Já ele, Hector, era um dos nossos designers de
interiores, especializado em escritórios, casado e, segundo os comentários,
muito bem casado. Ele estava aqui só porque a esposa tinha viajado para a
casa dos pais e, como ele tinha um trabalho atrasado, ficou para viajar depois,
porém os aeroportos fecharam e ele acabou aqui. Já o porquê de ela estar
aqui, eu imaginava que o noivo também tinha ficado preso em algum
aeroporto. Eu previa que, na próxima semana, ela estaria com o noivado
desfeito e ele dormindo na casa de algum amigo ou em um hotel. Será que
não pensavam?
Sem que eu conseguisse evitar, um sorriso surgiu em meus lábios, pois
já não precisava mepreocupar com aquele tipo de problema. Durante todo o
tempo de casado e ainda que Antonella fosse uma verdadeira harpia, nunca a
traí, ao contrário, me esforcei o tempo todo para que nosso casamento
funcionasse, só desisti quando vi que não tinha mais solução. No entanto,
justo eu, que estava completamente livre para pegar qualquer uma das bundas
gostosas que desfilavam em frente aos meus olhos, estava sem o mínimo
interesse.
Na minha primeira semana livre, meu pau aproveitou o gosto da
liberdade e se afundou em tantas bocetas e áreas proibidas que tinha perdido
a conta, porém logo perdeu o gosto. Sair pegando todas tinha deixado de ser
novidade. No momento, o idiota estava dando uma de seletivo, não se
entusiasmava com nenhuma das beldades que faziam questão de quase
esfregar suas bundas siliconadas nele.
Tentei lembrar o nome de uma que estava em uma tentativa de dança
sensual/erótica, esfregando-se em um dos nossos advogados. Enquanto ele
pensava que ela dançava com ele, seus olhos estavam o tempo todo grudados
em mim. Desviei meu olhar. A festa estava sendo um sucesso, estavam todos
tão altos que no dia seguinte não se lembrariam de metade do que tinham
aprontado, estavam rindo, cantando, dançando e eu me divertia vendo todos
os micos que, com certeza, seriam um sucesso na volta do feriado.
— Uau, quem é aquela delícia? — Ouvi atrás de mim a voz já meio
passada de álcool de Clark, um dos meus contadores.
Vi seus olhos fixos na escada que dava acesso ao porão. Até aquele
momento, ele tinha permanecido bem-comportado e, assim como eu, apenas
admirava as bundas desfilando em frente aos nossos olhos. Não sabia se era o
medo ou o respeito à sua namorada — que também não estava na cidade —,
Amélia, que o fazia se comportar como um menino bonzinho. No entanto,
pela forma como seus olhos saltaram das órbitas, percebi que aquilo estava
prestes a mudar e segui a direção do seu olhar para ver o que o fazia babar de
forma tão descarada.
Puta que partiu! Ainda bem que não estava muito bêbado e consegui
evitar a tempo o palavrão. Nossa duquesinha de Sussex voltava a atacar.
Enquanto todas as mulheres do encontro estavam usando microvestidos,
shortinhos, disfarces sexys de Mamães Noéis, que mais pareciam luvas de tão
colados em seus corpos, ela aparecia deslumbrante em um longo vermelho.
Percebi que muitas cabeças começaram a girar em direção à escada onde ela
continuava parada como uma rainha olhando seus súditos de cima.
Sua mão seguia apoiada no corrimão e, enquanto seu olhar percorria
toda a área abaixo dela, o meu se fixou nela. No píer, eu já tinha percebido o
quanto era linda, mas agora estava simplesmente incrível. Mesmo na
penumbra do ambiente, ela brilhava como uma deusa.
— Não sei, ela com certeza é convidada de alguém que resolveu fazer
ouvidos surdos à minha recomendação de ser uma reunião exclusiva para os
funcionários — respondi a Clark, quando percebi que apenas admirava a
beldade no alto da escada, sem responder à sua pergunta. Ele, por sua vez,
levantou-se, passando a mão pelos cabelos e preparando-se para atacar.
Mais um que se meteria em encrenca, já que os próprios idiotas faziam
questão de fazer selfies de tudo, sem pensar nas imagens de fundo que,
muitas vezes, pertenciam a casais proibidos.
— Esta é minha. — Deu um sorriso de bêbado convencido, passando a
língua pelos lábios, antecipando o lanche.
Apenas ri, imaginando quanto aquela vampira iria conseguir tirar da
sua carteira, já que ela tinha dito que os Louboutin custaram dois paus na
bunda. Ele não fazia ideia da encrenca em que estava se metendo. Eu teria
que ter uma boa conversa com quem a convidou. Era certo que ela estava
decidida a ter um bom Natal e um final de ano melhor ainda às custas de
qualquer um aqui.
Desviei meu olhar da cara de idiota de Clark e voltei a olhar para a
vampira abusada no mesmo instante em que ela decidiu iniciar a descida.
Engasguei-me, pois meu pau deu um salto tão forte que chegou a doer,
instintivamente, levei minha mão em sua direção para acalmá-lo e o ajeitei,
deixando-o novamente aninhado de forma confortável dentro do jeans.
Agora eram meus olhos que quase saíam das órbitas, pensei que fosse
apenas o decote que chegava até quase o umbigo, mas percebi que ela tinha
vindo armada, e muito bem armada. Quando adiantou o passo para o degrau
seguinte, a fenda do vestido se abriu até a parte superior da coxa, chegando
quase à virilha. O gorrinho de mamãe Noel, encaixado de lado em sua
cabeça, lhe dava um ar de deboche, ao ser usado com o elegante longo de
festa.
Na minha humilde opinião de conhecedor de vestidos femininos caros,
aquele deveria ser um Valentino. Naquele momento, o barulho no sótão tinha
diminuído para apenas murmúrios, imaginei que deveriam ser de homens
babando e mulheres maldizendo, afinal acreditava que não houvesse um que
não estivesse pensando em juntar aquela fenda com o decote e entrar no meio
— eu, inclusive. Tentei desviar os olhos, mas foi impossível, tanto que senti a
boca salivando e enchendo de água.
— Vou lá recebê-la — Clark já estava se distanciando. — Dar as boas-
vindas, se é que você me entende — completou com um sorriso maroto.
Juan, Juan, não seja idiota, fique quieto aqui, você acabou de sair de
uma fria que durou quase dez anos, você já sabe que essa é uma vampira.
Ela mesma, sem querer, já confessou que se vende para conseguir esse tipo
de luxo.
Com uma forte sacudida de cabeça, tentei enviar para longe a minha
vozinha da consciência, que estava fazendo de tudo para me alertar e assim
impedir que eu fizesse uma besteira, porém a outra, que dizia vá, vá, venceu.
Senti minha bunda levantando-se da banqueta almofadada e seguindo rumo à
escada. Parecia que meu pau estava sendo puxado por sua boceta e estava tão
duro que me incomodava ao caminhar.
Por mais que eu quisesse ficar, minhas pernas insistiam em se mover
em direção a ela... Resolvi que uma noite de foda sem compromisso seria
uma ótima forma de comemorar o Natal e minha recente liberdade, afinal não
seria nada inesperado, uma vez que, quando organizamos o encontro, eu já
imaginava terminar a noite entre as pernas de algumas daquelas beldades. Já
tinha feito aquilo antes, seria apenas mais uma diversão.
— Você tem namorada — rosnei para ele, tomando a dianteira e
deixando-o para trás. Não sabia o que me incomodava, mas me senti mal ao
ver a imagem dele babando em cima dela.
— Não acredito que vai usar essa desculpa para me deixar de lado na
festinha! — resmungou, inconformado, e por um instante apenas ficou
parado, mas em seguida decidiu voltar a se sentar.
Cheguei ao pé da escada e alguns que tinham tido a mesma ideia que a
minha começaram a se afastar, deixando para mim a honra de recepcionar
nossa estonteante recém-chegada.
— Ora, ora... Agora sim você se superou! — Apoiei meu braço no final
do corrimão, enquanto esperava que ela terminasse sua descida e assim
aproveitava um pouco mais da visão daquela fenda infernal.
Quando ela adiantou a perna para o último degrau, meus olhos
grudaram na abertura de tal forma que pensei que ficariam colados ali para
sempre. Meus dedos coçaram para entrar no espaço aberto e encontrar seu
ninho da felicidade. Como um idiota adolescente, percebi que, se não fosse
pelo jeans apertado, minha ereção estaria se exibindo em uma esplêndida
barraca.
— Você de novo por aqui? — perguntou ao mesmo tempo em que
olhava ao redor, como se estivesse farejando em busca de uma carteira mais
recheada que a minha, afinal quem era eu, além de um dos muitos
empregados carregadores de caixas. Não importava, ela era linda e eu não
estava a fim de ficar me resguardando, eu só tinha que tomar cuidado.
— Sim. Aceita uma bebida?
— Hum... acho melhor comer algo, não como nada desde a hora do
almoço. — Riu e meu pensamento foi que sua boca ficaria perfeita contra a
minha. — Não pretendo me embebedar antes da hora.
— Venha comigo. — Sem perceber, peguei a sua mão de forma íntima
e ela correspondeu, entrelaçando seus dedos entre os meus. Mão pequena,
macia, parecia quetinha sido feita para estar protegida pela minha. — Tem
uma mesa farta logo ali.
Com os nossos dedos encaixados, eu a guiei pelo grupo de bêbados,
que nos olhava de forma curiosa, a diferença é que agora usava um pouco
mais de discrição. De cima de umas das bancadas, peguei e entreguei a ela
um pratinho com guardanapos, aproveitei e peguei um para mim também. Eu
estava tão distraído que não tinha, assim com ela, comido nada durante a
tarde. Ficamos dando voltas, procurando cada um o que colocar no prato.
Naquele momento, eu estava intrigado. Ela era uma vampira sugadora de
carteiras, aquilo eu já sabia, mas o que estava fazendo ali comigo, um simples
carregador? Eu certamente não era alguém a quem ela dirigiria um segundo
olhar, no entanto ela ria e ficava vermelha como uma adolescente com os
comentários idiotas que eu fazia sobre os diversos petiscos.
— Por que as comidas aqui são todas eróticas? — Corou de uma forma
inesperada ao apontar uma travessa carregada de salsichas adornadas em um
extremo com maionese e no extremo oposto com dois ovinhos de codorna.
— Era para ser apenas uma brincadeira. — Fiquei um pouco
envergonhado ao olhar para a orgia, literalmente falando, de comida sobre a
mesa. — Mas acredito que exageraram um pouco.
— Bem, eu queria comer esses hamburguinhos. — Apontou para uma
bandeja cheia de mini-hambúrgueres em formato de pequenos seios.
— E por que não pega? Devem estar deliciosos. — Peguei um deles e o
coloquei em minha boca. — Sim. Fantásticos.
— É que me eu sinto um pouco lésbica escolhendo-os. — Baixou a voz
para fazer aquela confidência em meu ouvido, como se alguém a pudesse
ouvir. Engasguei-me.
— Você quer dizer que por comer uns hambúrgueres esquisitos vão
pensar que você é lésbica? — Eu não consegui segurar o riso, que aumentou
com a forma como fui fuzilado por duas enormes esferas cor de menta.
Só então me dei conta de que não estava apenas rindo, mas sim
gargalhando, não me lembrava da última vez em que tinha rido daquela
maneira, anos, talvez. Ela continuou com um olhar entre incrédulo, ofendido
e raivoso. Por um momento, me esqueci de que se tratava apenas de uma
vadia. Naquele momento, ela parecia mais uma garotinha recém-saída de um
colégio interno onde tinha sido educada por um monte de freiras e que abria a
boca escandalizada quando via pela primeira vez o pau do namorado safado.
— Acho que não vou comer nada daqui. — Sem esperar, ela empurrou
o pratinho perto de umas tortinhas salgadas com formato de bocetinhas. —
No caminho para cá, vi uma mesa de frutas.
— Espere. Você acabou de dizer que estava com fome. — Achei
estranho ela parecer atordoada com a decoração da mesa, mas vampiras da
espécie dela sabiam muito bem como fingir. Não custava seguir seu teatro,
afinal ela estava me divertindo. — Espere aqui. Vou ver se acho um
sanduíche normal para você.
— Não precisa, eu me viro. — Ela apertou um lábio no outro, olhando
ao redor, parecendo buscar uma rota de fuga.
— Prove essas ostras, não tem formato de nada erótico. — Apontei
para uma enorme cuba com gelo e sal onde descansavam dúzias de ostras
suculentas.
— Ah... deixe, não posso comer isso, sou alérgica a frutos do mar. Vou
dar uma volta, obrigada, você foi muito gentil. E fique tranquilo, não vou
contar ao seu patrão sobre o seu comportamento de hoje à tarde.
Com aquilo, ela começou a se afastar, dando a entender que por fim
tinha se cansado do garoto das entregas. Mas ela não iria escapar assim tão
fácil de mim. Eu conhecia seu tipo, sabia me defender de garotas como ela,
porém não me perdoaria se ela fizesse a limpa na carteira de um dos meus
funcionários. Eu não podia deixá-la livre e circulando perto de nenhum deles.
— Uma pena, dizem que são afrodisíacas, talvez por isso estejam aqui.
— Com aquilo, peguei uma das ostras, temperei-a com suco de limão e a
levei à minha boca, fazendo-a deslizar sobre minha língua. O sabor salgado
do mar explodiu em meu interior, fazendo-me gemer de prazer.
— Você não parece precisar desse tipo de vitamina. — Ela olhou para
meu casaco de Papai Noel aberto, onde eu exibia meu peitoral definido de
academia, logo baixou os olhos até onde eu guardava meu brinquedinho,
aquilo só um segundo antes de desviar o olhar, ficando novamente vermelha,
como se olhar fosse algo proibido.
— Sim, mas assim a noite seria mais intensa — confidenciei perto do
seu ouvido e no mesmo instante fui arrebatado pelo perfume que me invadiu.
— Ah, não acredito que seguir com essa conversa seja uma boa ideia.
— Ela se agitou com minha invasão do seu espaço e, mais uma vez, tentou se
afastar. Percebi que eu a afetava, mas ela se negava a aceitar, claro, afinal
tinha zero interesse na minha carteira.
Claro que ela não iria querer nada com um carregador de caixas, o
interesse dela era nos de carteiras e contas bancárias recheadas. Com
delicadeza, segurei-a pelo cotovelo e a guiei novamente pelas pequenas
mesas, sofás e pelos dançarinos. Ao chegar perto da escada, percebi uma leve
resistência, mas incitei-a a continuar.
— Suba, vou levá-la até a cozinha. — Mesmo estando em um lugar
com pouca iluminação, percebi seu desconforto.
— Não quero invadir a cozinha de ninguém. — Balançou a longa
cabeleira castanha, negando-se a continuar.
Ela me confundia e com aquilo estava me deixando cada vez mais
interessado, para não dizer excitado. Toda vez que eu tinha certeza de uma
resposta sua, ela me dava outra que era o oposto do que eu esperava. Fazia
tempo que não me sentia assim.
Com um pouco de esforço, consegui que ela continuasse em frente. Ao
fechar a porta do porão atrás de nós, rezei para que ninguém aparecesse e
continuamos pelo corredor até chegar à cozinha. Fui direto à geladeira e
escancarei a porta, deixando à mostra uma imensa quantidade de produtos.
— Escolha o que quiser. Podemos montar sanduíches ou esquentar
alguma coisa. — Agachei-me e comecei a retirar frios, molhos, caixa de
carne desfiadas e saladas.
— Você não pode fazer isso. — Naquele momento, ela já estava perto
da porta. — Não vou ser pega roubando a geladeira de ninguém.
Percebi o desespero refletido em seus olhos assustados, ela estava
conseguindo enlouquecer meus neurônios. Fui tomado de surpresa, querendo
conhecer um pouco mais daquela garota com cara e jeito de menina inocente,
mas que, mesmo sem querer, já tinha confessado ser uma vadia em busca de
milionários que pagassem por seus luxos. Bem, eu não pensava em pagar
eternamente, mas por uma noite eu poderia pagar.
Coloquei minha mão sobre a dela, impedindo-a de abrir a porta. Colei
meu corpo ao seu e meu pau se acomodou entre as duas metades da bunda
perfeitamente durinha, deixando claro como eu estava e o que pretendia. Com
a mulher presa entre mim e a porta, esfreguei meu pau duro contra ela, um
gemido baixinho ecoou pela cozinha vazia. A forma pacífica com que ela me
aceitou, permanecendo quieta, fez o macho alfa em mim rugir de forma
desesperada, querendo sair e tomar posse de algo que já estava considerando
seu.
Deslizei minhas mãos em ambos os lados do seu corpo, sentindo toda a
firmeza e o calor que emanava através do tecido fino. Quando alcancei os
quadris, a puxei, fazendo com que ficasse ainda mais arrebitada para mim.
Esperava que a qualquer momento ela desse a volta e desferisse contra mim
uma bela bofetada, afinal como ela poderia se entregar a um carregador de
caixas? Mas o que recebi de volta foram mais gemidos roucos e excitados.
Levei minha boca até sua nuca e assoprei devagar para afastar os cabelos,
antes de começar a lambê-la. Naquele momento, ela arqueou ainda mais o
corpo, empurrando a bunda contra meu pau, quase fazendo-me explodir de
tesão.
Eu não sabia o nome daquela garota; e ela, por falta de interesse em
mim, também não tinha perguntado o meu. Mas aquilo não estava impedindo
que eu me visse enterrado nela de todas as formas possíveis.
Enquanto minha mão esquerda subia ao encontro do mamilo, a direita
desceu. A fenda aberta deixava tudo mais fácil e não foi nenhuma surpresa
encontrar o caminho livre. Sem conseguirsegurar o gemido, espalmei a mão
sobre a boceta macia e quente e apertei o clitóris inchado entre o indicador e
o dedo médio. Seus gemidos reiniciaram ainda mais alto, enquanto ela se
empurrava contra meu pau. De forma sorrateira, meu dedo iniciou uma dança
dentro e fora da sua entrada molhada, mas parei quando percebi que ela
estava a um passo de gozar e nem tínhamos começado a brincar.
— Fique nua para mim. — Eu a empurrei devagar até deixá-la
encostada contra a bancada da cozinha e me afastei para apreciar.
— Aqui? Estamos na cozinha! — Seus olhos incrédulos me encararam
com surpresa.
— Sim. Aqui, agora. Ninguém vai entrar, todos estão lá no porão. —
Ao falar, baixei zíper da minha calça e puxei para fora meu membro rijo.
— Eu... — Ela interrompeu o que estava prestes a dizer e cravou os
olhos no que tinha diante de si. Modéstia à parte, eu era muito bem servido
no quesito pau.
— Agora! — insisti.
Deslizando minha mão até a cabeça toda melada, apertei-o por inteiro
para logo puxar de encontro à base, deixando assim livre a cabeçorra do
cogumelo arroxeado do meu membro circuncidado. As veias grossas
latejavam com o desejo reprimido, minhas bolas já estavam cheias,
carregadas e pesadas, querendo jorrar para fora toda a ferocidade do tesão
que tomou conta de mim a ponto de nublar por completo minha mente. E pela
forma como ela me olhava, eu sabia que estava sentindo o mesmo desejo.
Enquanto mantinha meus olhos fixos nela, levei minha mão para frente,
voltei a deslizar para trás e novamente para frente, masturbando-me para ela,
meus dedos se molharam, lambuzados com o pré-sêmen, preparando-se para
o que estava por vir. O peito dela subia e descia com a respiração superficial,
seus olhos continuam presos em mim.
— Tudo bem. — Sua voz saiu pesada, as pupilas já estavam dilatadas,
fixas nos meus movimentos. Levando os dedos à alça do vestido, ela o fez
deslizar devagar sobre os ombros, um pequeno movimento dos quadris e ele
terminou em um amontoado de tecido ao redor dos sapatos altíssimo, outro
Louboutin. Admirei.
— Se toque para mim — pedi, levantando seu corpo e colocando-o
sobre a bancada. Não precisei repetir a ordem, ela deslizou o corpo sobre o
granito frio até ficar completamente deitada.
Meus olhos desceram do rosto para o belo par de seios, o frio da
bancada fazia com que os mamilos ficassem ainda mais rijos e arrepiados.
Continuei descendo minha vista até chegar à pequena almofada perfeitamente
depilada, adornada no centro por um botão de um rosa intenso. Minha luxúria
foi às alturas quando o longo e fino dedo médio deslizou, desaparecendo
dentro da abertura molhada. Assim como eu, ela iniciou um lento vai e vem,
só que acompanhado de gemidos, que começaram baixinhos, mas que foram
ficando cada vez mais altos, assim como as fricções.
Aproximei-me da bancada, ficando na sua frente, forcei-a a abrir a boca
e enterrei todo meu membro dentro dela. Um rosnado escapou da minha
garganta ao ver como ela o engolia e chupava com avidez.
— Abra essa boceta para mim. — Ela se arreganhou, deixando as coxas
separadas e, enquanto ela me devorava, me inclinei como pude e lambi toda
sua extensão. Melada, cheirosa, perfeita, deliciosa! Chupei com vontade,
penetrando minha língua dentro do calor úmido, fiz com ela movimentos
giratórios, bebi com sede todo o sabor que ela derramava em minha boca. Ao
morder seu clitóris, as coxas se fecharam com força, aprisionando minha
cabeça e um grito estrangulado escapou da sua boca.
Empurrei com mais força e senti sua garganta se fechando em torno da
minha dolorida ereção. Suas coxas começaram a tremer já no ponto para ser
levada pelo prazer. Saí rápido de dentro dela, deixando-a se contorcendo
sobre a bancada, me protegi na velocidade da luz e virei-a de costas para
mim, com as pernas fora da bancada, na altura exata. Investi com uma única e
violenta estocada e me enterrei até o fundo, com um urro feroz.
Naquele exato momento, a porta da cozinha foi aberta. Ouvi vozes, mas
não me importei, nada seria capaz de me fazer parar, pelo contrário,
intensifiquei ainda mais minhas estocadas. Eu sabia que ela também ouvia as
mesmas vozes em nossas costas, mas, assim como eu, se encontrava em um
estado em que nada mais importava, a não ser o prazer. Era aquilo que estava
acontecendo. Quando senti que tinha alcançado o limite, me inclinei sobre
ela, enterrando-me ainda mais fundo, ao mesmo tempo em que mordia seu
ombro, levando-a ao encontro de um gozo alucinado. Ela gritava e, apenas
naquele instante, a porta foi fechada. Saí dela e apertei a base do meu pau
com força, tremi, urrei, tentando evitar o gozo que já estava vindo. Meu
corpo inteiro se contraiu em espasmos, travei meu maxilar e soltei o ar em
baforadas, até o desejo de chegar ao clímax passar.
— Venha comigo.
Retirei o preservativo seco e o coloquei no bolso. Não iria jogar no lixo
da cozinha, mesmo que já tivesse usado a bancada.
Ela tentou sem sucesso se colocar de pé, então a puxei da bancada
enquanto ainda continuava atordoada com a intensidade do orgasmo. Peguei
o vestido que estava jogado no chão, naquele momento vi que era realmente
um Valentino, aquele era o aviso de que tipo de garota ela era. Fingindo não
ter visto nada, eu a peguei no colo e fui em direção às escadas de serviço que
davam no andar superior. Abri a primeira porta de um quarto de hóspedes
que eu sabia que estava livre, entrei e empurrei-a com o pé para fechar. Fui
direto para a cama e, sem dar tempo a ela de pensar no que estava
acontecendo, puxei um travesseiro, encaixando-o embaixo da sua bunda.
Vesti um novo preservativo, levantei ambas as pernas sobre meu ombro e me
deitei sobre seu corpo, enterrando-me novamente até as bolas dentro dela, de
onde não pretendia sair tão cedo.
Com a respiração entrecortada, acelerei minhas estocadas, aquela
garota estava me matando de tesão, meu corpo inteiro ardia, cada entrada
fazia um urro fugir da minha garganta. Minhas bolas começaram a se contrair
e a latejar com o orgasmo iminente, porém eu queria mais, forcei-me a ir
ainda mais fundo, meus dedos faziam estragos na pele sensível das suas
coxas. Minha respiração ficou pesada, entrecortada, senti a intensidade do
orgasmo que começava a tomar conta de mim.
— Não pare agora, por favor — implorou, já quase gozando
novamente. Desci meus dedos e os deslizei sobre seu clitóris.
— Não vou parar. — Massageei-o antes de um pequeno apertão,
apenas aquilo bastou para que todo seu corpo colapsasse. Dobrei-me sobre
ela e aproveitei a massagem que seu canal fazia no meu pau.
— Siiiim! — gemi alto, com a voz estrangulada, enquanto sentia os
jatos do meu gozo derramando-se dentro do preservativo.
Desabei ao lado dela e a puxei para cima de mim. Rimos os dois,
quando percebemos toda a loucura que tínhamos acabado de fazer. Retirei
algumas mechas do cabelo que pelo suor ficaram grudadas em seu rosto, ela
aproveitou para deslizar os dedos sobre minha barba e terminou em forma de
concha sobre meu queixo. Em um impulso, segurei seu queixo delicado, os
lábios vermelhos cheios e perfeitos, sem me conter, levei minha boca à sua.
Para minha surpresa, ela desviou, fazendo com que meus lábios tocassem
apenas o seu rosto.
— O que foi? Estou com mau hálito? — perguntei meio brincando,
meio ofendido, pois não sabia como interpretar o que tinha acabado de
acontecer. Pela primeira vez em minha vida alguém tinha recusado minha
boca, o que poderia dizer? Não era um sentimento muito bom, digamos.
— Não. — Sorriu ao me responder. — É que tenho uma amiga e ela
sempre diz melhor dar a bunda que a boca.
— O quê? — Ela está falando sério? Bem aquilo era apenas para eu
lembrar quem era ela, mesmo assim meu peito apertou com uma sensação
indefinida, algo que doía de forma desconhecida, nada boa. Tratei logo de
mudar o rumo do que eu estava sentindo.
— Sim, assim mesmo como eu te falei. — Ela mordeu a carne interna
do lábio, de forma travessa, fazendo novamente meu tesão disparar, a
vontade de devorá-los era quase insuportável.
Admirando seu corpo curvilíneo,levantei-me e me posicionei mais
uma vez entre suas pernas. Olhei para baixo, embebedando-me com seu sexo
brilhante com os líquidos do gozo recente. Novamente deslizei meu dedo e
acariciei seu clitóris molhado, fazendo-a se contorcer e gemer. Ela estava
totalmente entregue ao meu bel-prazer, meu coração disparou, aquilo estava
distante de ser apenas desejo, sexo e paixão, algo muito errado estava
tomando forma. Vi quando ela levantou a mão e a posicionou sobre a minha,
ajudando-me a dar o prazer que ela queria. Enquanto isso, a outra se
posicionou sobre o mamilo endurecido, aprisionando-o entre os dedos.
Engoli em seco, assistindo à cena, ficando cada vez mais enlouquecido
de desejo, e foi naquele momento que me dei conta de que já não tinha mais
preservativos. Eu não podia me enterrar nela sem estar muito bem protegido,
seria uma loucura arriscada e muito perigosa. Ela mudou as mãos de lugar e
uma alcançou meu peitoral, emaranhando os dedos nos pelos ralos do meu
peito. A outra me levou direto ao céu e o inferno ao mesmo tempo, pois, sem
me avisar, ela tomou a minha e a empurrou até meus dedos alcançarem sua
entrada proibida.
— Me faça sua mais uma vez — gemeu, totalmente fora de controle.
Minha garganta travou seca, meu coração estava a um ponto de
enfartar. Meu mamilo sofria entre os dedos finos e delicados, vi sua língua
escapando por entre os lábios em uma vã tentativa de umedecê-los. Joguei
para cima o que ela havia dito sobre os beijos e ataquei sua boca com uma
fome até então desconhecida para mim, senti uma dor em minha nuca quando
os fios dos meus cabelos foram puxados com força para manter minha boca
presa contra a dela.
Forçando meu dedo, violei sua entrada, meu lábio foi mordido com
força e o gosto maltado do uísque se misturou com o sabor cobre do sangue.
Aumentei um dedo e continuei minhas estocadas, àquela altura ela já não
gemia, apenas gritava. Quando parou, percebi que estava pronta, me inclinei
e abri a gaveta da mesinha de luz rezando para encontrar pelo menos um
preservativo.
Tateei dentro e encontrei um pequeno envelope, sem perda de tempo
rasguei e me protegi. Com minhas coxas, afastei suas pernas delicadas,
apontei meu falo, de uns belos 20 centímetros marcados por veias grossas,
direto para a entrada rosada que se derramava de tão molhada que estava.
Rosnei como se fosse um animal prestes a ser abatido ao deslizar para dentro.
Fora do quarto, a neve tinha voltado a cair com mais intensidade, mas
dentro o calor era intenso, ambos estávamos suados como se o sol do verão
estivesse sobre nossas cabeças. Pequenos calcanhares apertavam minha
bunda, forçando-me a continuar com as estocadas. Procurei mais uma vez sua
boca e ela já não me negou, aproveitei sua língua, chupando com gosto. Uma
batalha se iniciou, pois, assim como eu queria sentir o seu gosto, ela também
queria sentir o meu.
Meu corpo começou a entrar em colapso, a força do calcanhar em
minha bunda ficou ainda mais forte, incitando-me a ir mais fundo. Ajoelhei-
me e, segurando ambas as pernas, não só acelerei os movimentos, forcei meu
pau a ir fundo, até sentir que não tinha mais nenhum espaço entre nós. Uma,
duas, três vezes e chegamos juntos.
Urrei, liberando-me. Cada jato que saía do meu corpo fazia com que eu
sentisse minhas bolas virando ao avesso, tal era a intensidade, e ela estava
igual, as pernas adquiriram uma força inesperada e os gemidos se
transformaram em gritos, acompanhando os meus urros.
Mais uma vez me deixei desabar, meu corpo inerte e completamente
melado de suor, como se tivesse corrido os últimos metros de uma maratona
sob um sol escaldante e sem ter condições. Fiquei um tempo sobre ela,
apoiando-me apenas sobre os cotovelos, a sensação maravilhosa da maciez
morna do seu corpo me impedia de me afastar.
Quando percebi que tinha adormecido, ajeitei suas pernas, me afastei,
puxando para fora meu pau, que por fim parecia ter se tranquilizado, e para
meu horror percebi que o preservativo estava vazio. Ao olhar para sua
entrada, percebi que um leite branco deslizava por ela e alcançava o lençol,
deixando uma mancha branca sobre ele, que me petrificou.
Com as mãos trêmulas de pavor e raiva, puxei para fora o maldito
preservativo, a ponta estava toda rasgada. Não precisava ter um QI alto para
perceber que a porcaria devia estar vencida. Deixando-a dormindo, segui em
direção ao banheiro, tentando organizar minhas ideias e achar uma solução
para a bagunça em que eu, por ter me comportado como um adolescente,
tinha me metido. Entrei embaixo da ducha e, enquanto a água caía sobre
minha cabeça, eu continuava pensando.
A primeira coisa que, com certeza, teria que fazer seria correr para uma
consulta, já imaginava a quantidade de exames e coquetéis de remédios que
seria obrigado a tomar. Segundo, se ela estava naquela vida, eu não
acreditava que não tomasse cuidados para evitar alguma gestação indesejável,
mesmo assim eu me preocupava, não queria ter filhos com uma.... Só de
pensar, me desesperava e meu ódio subia. Eu era um maldito idiota que tinha
pensado apenas com o pau.
Saí do banheiro e vi que continuava dormindo, porém eu já estava mais
tranquilo, durante o banho já tinha resolvido o que fazer. Eu tinha dinheiro
vivo comigo, dinheiro que era para pagar muitos fornecedores e algumas
reformas que eu havia solicitado. Tinhas trazido para evitar dar cheques, já
que naquela época do ano seria difícil para qualquer um ir ao banco. Ainda
bem, assim não precisaria dar a ela um cheque que irremediavelmente teria
meu nome. Naquele momento, agradeci não saber o nome dela e muito mais
por não ter dito a ela o meu. Fui até meu quarto, peguei um maço de mil
dólares, era mais que suficiente, escrevi um bilhete e voltei para onde ela
continuava dormindo.
Evitei olhar para ela para não cair em nenhuma nova e estúpida
tentação. Deixando tudo sobre o criado-mudo, voltei ao meu quarto e joguei
minhas roupas na pequena mochila que tinha trazido comigo. Com tudo
pronto, liguei para um dos pilotos que faziam a travessia da ilha até o litoral,
ele não tinha ficado nada feliz com minha chamada às 4h da manhã e em
pleno Natal, mas... Minha ligação seguinte foi para o caseiro, deixando-o
encarregado de seguir adiante com tudo que já tínhamos combinado. A
maioria dos convidados deixariam a ilha na manhã do dia seguinte, ou seja,
dia 26, minha ideia original era continuar até a virada do ano, curtir uma
semana de férias. Meu plano ainda continuava em pé, só que agora o mais
longe possível da ilha.
Com tudo providenciado, vesti um casaco e um gorro, enrolei em meu
pescoço meu cachecol preferido e, sentindo-me bem agasalhado, desci as
escadas, ainda ouvindo a música que continuava vindo do porão. Imaginava
que deveriam estar tão bêbados que não se lembrariam de metade das
estupidezes que haviam aprontado durante a noite, infelizmente eu lembrava
muito bem da minha.
Fui em direção à garagem, liguei um dos Jeeps para descer até o píer,
mas, ao abrir o portão, vi que a quantidade de neve que havia se acumulado
durante a noite estava alta. Sem opção, troquei o Jeep pela moto de neve e
com ela desci os quilômetros que uniam o casarão ao píer. Ao pisar na
lancha, fui recebido com uma ladainha de maldições, em qualquer outro
momento eu teria rido do meu piloto mal-humorado, porém naquele instante
preferi fingir que não o ouvia.
Enquanto a lancha tomava velocidade, admirei a fraca luz laranja do
futuro amanhecer de Natal. A lancha continuava se afastando e a silhueta da
mansão começou a ficar cada vez mais distante. Não me sentia bem pelo que
tinha feito, mas tinha sido minha única opção. Voltei a imaginar seu corpo
quente contorcendo-se, espreguiçando-se ao acordar e aquilo me deixou com
ainda mais raiva, tanta beleza e tão pouco caráter.
Admirei a beleza da ilha iluminada com as luzes do amanhecer,
anunciando que o Natal já tinha chegado. Por um momento, fiquei perdido,
pensando em como tudo tinha acontecido de uma forma totalmente
inesperada. Mesmo que tivesse sido com uma pessoa totalmente errada,
minha previsãode noite solitária tinha se transformado em uma das melhores
da minha vida. E porque não dizer a melhor.
 
Acordei de um sono profundo e reparador, sentindo meu estômago
roncando de fome. Espreguicei-me sem vontade de abrir os olhos tal era a
sensação de bem-estar que eu estava sentindo. Fora do quarto, podia perceber
luzes laranjas que começavam a iluminar o céu, mesmo faltando muito para
amanhecer totalmente, já era um anúncio de que o Natal tinha chegado. Todo
meu corpo estava imerso na torpeza de uma noite incrivelmente bem
dormida, me aconcheguei feliz embaixo do edredom fofo. Um delicioso
latejar entre minhas pernas me fez quase ronronar de satisfação plena. Rolei
pelo colchão e, naquele momento, percebi que estava completamente nua. No
mesmo instante, me sentei, já completamente acordada.
De forma instintiva, puxei o edredom até o queixo enquanto analisava
tudo ao meu redor, totalmente perdida. Onde eu estava? No entanto não foi
preciso pensar muito, pois pouco a pouco as lembranças das últimas horas
foram ficando cada vez mais claras em minha mente. Agucei minha audição,
tentado saber se meu companheiro de quarto ainda estava por perto, no
banheiro, talvez, porém tive apenas o silêncio como resposta.
Continuei tentando captar qualquer tipo de ruído, entretanto o silêncio
era total. Queria acreditar que ele não tinha sido tão canalha comigo e me
abandonado como a maioria dos homens faziam, porém uma pontada em meu
coração me alertava de que eu estava certa. Tentei imaginar que tinha saído
apenas para buscar nosso café da manhã e que logo estaria de volta com uma
bela bandeja carregada de delícias para repor nossas energias. Talvez
trouxesse até uma rosa entre os lábios, ri só de imaginar a cena. O dia estava
frio, perfeito para que continuássemos entre os lençóis.
Foi então que, com o canto do olho, vi sobre o criado-mudo um
envelope fechado. Minha idiotice era tanta que até o último segundo eu
continuava tentando encontrar desculpas, ainda sonhava que a qualquer
momento ele poderia voltar. Peguei o bilhete que havia dentro e li várias
vezes apenas para ter certeza de que aquilo não era um pesadelo, mas não, era
pior, eu tinha sido simplesmente usada e descartada como um preservativo
nojento.
Sufoquei e engoli as lágrimas que queriam deslizar sobre meu rosto,
mais uma vez eu tinha sido rejeitada. Talvez Freddy e sua amante tivessem
razão e eu fosse mesmo uma garota aguada, sem sal, que era incapaz de
chamar a atenção de um homem, suspirei.
Depois do que Freddy tinha feito comigo, eu precisava mais do que
nunca me sentir uma pessoa desejável, no entanto consegui apenas um selo
validando minha incompetência. Assim como eles diziam, eu não valia nada.
Com raiva, amassei o envelope, no entanto, um segundo depois, voltei a
abrir, desamassei e dobrei-o com cuidado. Eu não iria jogá-lo fora, iria deixar
para esfregar na cara dele. Contei o dinheiro, era muito para um simples
carregador, e eu não imaginava a quem ele tinha pedido emprestado apenas
para se livrar de mim e das consequências da sua irresponsabilidade. Ainda
não querendo acreditar no que tinha acontecido, me levantei, levando comigo
o edredom enrolado ao meu corpo e coloquei a mão sobre a boca, tentando
sufocar meu lamento de ódio e desespero.
Com o dinheiro na mão, caminhei sem rumo, perdida dentro do quarto,
olhando tudo sem ver nada. Recostei-me contra a parede e meus olhos se
desviaram para a cama. Como uma simples espectadora vendo um filme,
assisti ao meu corpo nu sendo jogado sobre o colchão, os músculos de sua
bunda se contraindo a cada estocada, meus pés puxando-o para mim,
ajudando-o a ir cada vez mais fundo e mais rápido. Não era minha intenção,
porém meu corpo idiota voltou a se incendiar ao vê-lo tomado pela luxúria e
logo sendo arrebatado comigo pelo prazer. Assistindo a tudo aquilo do lado
de fora, nada indicava que logo depois eu seria descartada e ele partiria como
se eu não merecesse um segundo olhar. Parei de olhar para a cama.
Como uma idiota totalmente sem noção ou talvez porque meu cérebro
se recusasse a aceitar e vivenciar aquele momento, eu olhei para baixo,
sorrindo ao perceber a agradável sensação dos meus pés descalços sendo
acariciados ao tocarem as tábuas de madeira polida. Eu sabia o que estava
acontecendo, minha mente estava travada, usando qualquer coisa, qualquer
tipo de desculpa, para impedir que eu passasse outra vez pela mesma
humilhação vivida somente alguns dias antes.
Caminhando devagar e ainda arrastando o edredom, cheguei até uma
das janelas e afastei as pesadas cortinas, deixando a tímida luz do amanhecer
entrar e iluminar a penumbra do quarto. Parecia que a neve tinha caído sem
trégua durante a noite e havia coberto todo o caminho que levava ao píer,
fazendo desaparecer os cascalhos da estradinha pela qual havíamos subido no
dia anterior. Com aquilo, lembrei-me do aviso da nevasca que se aproximava.
Agora, com o dia amanhecendo, a neve que havia se acumulado sobre
os galhos começava a derreter, fazendo com que as luzes que atravessavam as
gotículas derretidas exibissem nelas milhares de diminutos vitrais coloridos.
Meu olhar ficou preso nas pequeninas joias distribuídas ao longo dos galhos
e, por um momento, eu me esqueci de que mais uma vez tinha sido
abandonada como algo que usavam e descartavam. Eva tinha razão, eu era
muito idiota — e era assim mesmo que ela dizia, sem pena.
Infelizmente, ainda no píer e mesmo estando com raiva, eu tinha me
sentido atraída por ele. Moreno, alto, olhos e cabelos castanhos, quase
negros, porte latino, era o tipo de homem que sempre levava meu juízo. E, ao
encontrá-lo no porão, eu sabia que as tortas linhas do meu destino já tinham
escrito minha desgraça. Deixei de olhar a janela e, arrastando o edredom pelo
chão, me dirigi ao banheiro. No caminho, juntei meu vestido, que estava
jogado como lixo perto da porta, não adiantava reclamar, eu sabia muito bem
que aquilo poderia acontecer quando simplesmente aceitei o jogo dele sem
fazer nenhuma pergunta.
O espelho em minha frente não deixava dúvidas da intensidade da
noite, porém nem precisava, a deliciosa dor entre minhas pernas e o constante
latejar do meu ponto mais sensível gritavam o tempo todo tudo o que eu tinha
feito e vivido. Ao soltar o edredom, minhas pernas ficaram descobertas e
pude notar as marcas arroxeadas por toda a minha coxa. Ainda que elas
estivessem distribuídas de forma aleatória ao longo de toda minha perna,
perto da minha virilha encontrei quatro pequenas, uma perto da outra e dava
para perceber perfeitamente que tinham sido feitas por dedos. Minha
memória tentou resgatar o momento em que aquilo tinha acontecido, porém
foi impossível.
Deixando de me preocupar com as pernas marcadas, voltei a minha
atenção ao meu rosto refletido no espelho, aquela era a parte que me
preocupava, pois eu me lembrava perfeitamente de ter sentido seus dentes em
mim apenas um segundo antes de gozar. E eu tinha razão de me preocupar,
contudo não esperava que fossem tantas mordidas, eu me lembrava apenas de
uma e não que meu pescoço fora praticamente destruído. Levei a pontas dos
meus dedos, deslizando-os por toda a extensão, algumas mais vermelhas,
outras um pouco mais azuladas, no entanto lá estavam elas brilhando como
um farol no escuro para quem quisesse ver. Suspirei, se Eva colocasse seus
olhos naquilo com certeza pensaria que eu havia transado com um vampiro e
ela não estaria do todo equivocada, pois aquelas criaturas tomavam suas
vítimas, sugavam tudo delas e, satisfeitas, as deixavam à sua própria sorte.
Fazer o quê? Dizer o quê? Poderiam me chamar de louca, estúpida,
burra, o que fosse, mas eu sabia que jamais esqueceria aquela noite. Eva
sempre dizia que para se apaixonar bastava beijar, se o beijo fosse bom, você
estava perdida. Bem, ela mais uma vez tinha razão e eu me perdi quando senti
aquela boca tomando a minha, nunca tinha sido beijada daquela maneira e eu
também nunca tinha atacado a boca de nenhum homem da forma que fiz com
a dele. Soltei o ar, desanimada, ao perceber

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