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CONTABILIDADE DE CUSTOS AULA 1 Prof. Ivanildo Viana Moura CONVERSA INICIAL Olá, tudo bem? Seja bem-vindo(a) à primeira aula de Contabilidade de Custos, essa área das ciências contábeis que é tão importante para os processos decisórios dentro das organizações. Nesta aula, vamos tratar dos seguintes temas sobre a contabilidade de custos: 1. A contabilidade financeira, a de custos e a gerencial 2. Terminologias aplicadas à contabilidade de custos 3. Princípios contábeis aplicados a custos 4. Esquema básico da contabilidade de custos 5. A contabilidade de custos para atender à contabilidade societária e fiscal Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se, a melhor maneira de aprender, é praticando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Competitividade é um termo que resume o que as empresas vivem atualmente por conta da globalização, e sobre o impacto das possibilidades que o consumidor possui diante das tecnologias de informação e comunicação. Hoje em dia o consumidor possui à sua disposição inúmeras opções de compras pelos mais diversos canais de distribuição, e esses fatores fazem com que as empresas tenham que rever seus processos e suas atividades constantemente, sempre buscando se atualizar e se manterem competitivas. Nesse contexto, a contabilidade surge como ferramenta essencial que busca fornecer informações sempre relevantes para o processo de tomada de decisões, principalmente no que tange ao desenvolvimento de novas técnicas operacionais que visem um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis aos gestores, buscando otimizar o resultado das entidades. Diante desse aspecto, a ciência contábil está sempre buscando desenvolver novas técnicas que venham a aprimorar as práticas e satisfazer as necessidades do homem de hoje, principalmente no que tange aos negócios. Uma das formas mais eficientes usadas pelas empresas para se tornarem mais competitivas é o tratamento dos custos nos seus processos produtivos, o que é subsidiado por técnicas desenvolvidas e oferecidas pela contabilidade de custos. TEMA 1 – A CONTABILIDADE FINANCEIRA, A DE CUSTOS E A GERENCIAL A contabilidade se caracteriza como uma ciência social que controla o patrimônio de uma entidade, o que é feito por meio da identificação, classificação, registro e mensuração econômica dos fatos contábeis (Padoveze, 2016). O principal objetivo da contabilidade é fornecer informações úteis para subsidiar a tomada de decisões dos diversos usuários, sejam eles internos ou externos, o que é possibilitado pelos sistemas de informações contábeis. O sistema de informações contábeis pode ser justificado por três objetivos principais, os quais são direcionados aos usuários internos e usuários externos (Horngren, 2004), conforme mostra a Figura 1. Figura 1 – Objetivos dos sistemas de informações contábeis Fonte: Adaptado de Horngren, 2004. Quando se fala de usuários internos e usuários externos, a ênfase dos relatórios é diferente, pois cada tipo de usuário utiliza as informações contábeis para uma finalidade específica. Os usuários internos usam a informação contábil para fins de tomada de decisão interna, ou seja, informações que são usadas para fins administrativos, para gerir a entidade, voltada para os processos de gestão. Por outro lado, a informação destinada aos usuários externos, é diferente, pois visa a atender pessoas de fora da entidade, mas que possuem algum interesse nela. Dessa forma, atualmente a contabilidade é dividida em grandes áreas, cada uma focando um tipo de usuário específico, visando a provê-los de informações que possam servir como base para seus processos decisórios. As três maiores e principais áreas da contabilidade, são: Contabilidade financeira; Contabilidade de custos; Contabilidade gerencial. 1.1 De que forma surgiram essas ramificações (áreas) da contabilidade? De acordo com Martins (2010) a contabilidade financeira foi desenvolvida na era mercantilista, e servia basicamente para atender as entidades comerciais. As empresas viviam do comércio, e os bens eram praticamente produzidos por pessoas ou grupos de pessoas, tornando fácil o conhecimento e a verificação do valor da compra dos bens. Devido à simplicidade do comércio na época, as técnicas de contabilidade para a apuração do resultado e o levantamento do balanço patrimonial davam-se por meio da mensuração dos estoques em termos físicos, o que era feito por meio do seguinte cálculo: Dessa forma, a contabilidade financeira predominou até o século XVIII, quando o advento da revolução industrial, a produção em massa que se estabelecia com o surgimento de grandes indústrias, fez surgir a necessidade de técnicas mais avançadas de apuração de custos e valoração dos estoques. O surgimento da produção em massa, fez com que o contador tivesse mais dificuldades em relação às informações necessárias para a apuração do balanço e do resultado, visto que a complexidade para coletar os dados para a valoração dos estoques tornou-se maior. De acordo com Martins (2010), o contador teve que adaptar as técnicas utilizadas na empresa comercial para uso na empresa industrial, e começou então a fazer a distinção entre os gastos com insumos utilizados diretamente na fabricação dos produtos e aqueles utilizados com as atividades de apoio, dando origem à contabilidade de custos. Com o surgimento da contabilidade de custos, novas técnicas contábeis começaram a surgir dentro das indústrias, técnicas essas que objetivavam fazer a separação dos insumos produtivos, discriminando cada item que compõe o processo, e apropriando aos produtos somente aqueles gastos que estivessem diretamente relacionados ao seu processo de fabricação, ou seja, os custos propriamente ditos. Dessa forma, os gastos que não estavam relacionados ao processo de fabricação, eram classificados como despesas do período, e apresentavam-se como contas de resultado, não sendo ativados, ao contrário dos custos. O papel da contabilidade de custos dentro das empresas, estava relacionado apenas ao controle e mensuração dos estoques, mas apresentou- se tão eficiente nas suas funções dentro das indústrias que acabou concretizando-se como uma importante ferramenta de uso para tomada de decisões internas. Na medida em que ocorriam novas necessidades gerenciais, por meio da contabilidade de custos eram desenvolvidas novas técnicas de auxílio ao processo decisório, não se limitando apenas ao tratamento dos custos de fabricação, mas também a outros fatores importantes que dizem respeito à gestão das empresas. Conforme as empresas iam se desenvolvendo, o seu processo produtivo tornava-se mais complexo, e constatou-se que as informações fornecidas pela contabilidade de custos eram de extrema utilidade para os processos gerenciais, e por esse motivo, começaram a ser utilizadas no processo de tomada de decisões. Dessa forma, surgiu a contabilidade gerencial (BORNIA, 2017). Atualmente, essas são as principais áreas da contabilidade, e suas abordagens são dadas em diferentes aspectos, de acordo com as finalidades de cada uma, visto que são voltadas para usuários diferentes. A seguir, encontram-se os conceitos de cada uma delas, os quais são fundamentados em autores pesquisadores de cada área. Contabilidade financeira: caracteriza-se como o processo de produzir demonstrativos financeiros para entidades e usuários externos, como acionistas, credores e governo. O processo utilizado por essa área para a produção dos relatórios é norteado por padrões regulatórios oficiais e autoridades fiscais, e por requisitos de auditoria de instituições de contadores (Costa; Ferreira; Saraiva Júnior, 2010). Contabilidade de Custos: “É o ramo da contabilidade que mede, registra erelata informações sobre custos” (Maher, 2001, p. 38). “A contabilidade de custos é o ramo da contabilidade que se destina a produzir informações para diversos níveis gerenciais de uma entidade, como auxílio às funções de determinação e desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisões” (Leoni, 2006, p. 19). Contabilidade gerencial: Trata a informação contábil, com enfoque no planejamento, controle e tomada de decisão, e tem caráter integrativo dentro de um sistema de informação contábil. Esta área da contabilidade é relacionada com o fornecimento de informações para os administradores (Padoveze, 2010). Diferentes tomadores de decisões com base em relatórios contábeis necessitam informações distintas, e as principais bases para o fornecimento dessas informações são as áreas contábeis aqui apresentadas, e o seu teor é dado de acordo com o propósito destinado ao usuário final. Conforme exposto por Bruni (2010), a contabilidade de custos encontra-se entre a contabilidade financeira e a gerencial, conforme mostra a Figura 2. Figura 2 – As diferentes contabilidades e os custos Fonte: Bruni, 2010, p. 20. Conforme demonstrado pela Figura 2, a contabilidade de custos encontra- se na interseção da financeira com a gerencial, e de acordo com o autor supracitado, ela deve em certo momento se preocupar com as imposições legais da contabilidade financeira, e em outros momentos em atender a demanda de informações requeridas pela contabilidade gerencial para subsidiar a tomada de decisão. Nesse sentido, durante as seis aulas que estudaremos em contabilidade de custos, estaremos estudando tanto a parte de custos que visa a atender a contabilidade financeira quanto a parte relacionada aos processos de gestão. TEMA 2 – TERMINOLOGIAS APLICADAS À CONTABILIDADE DE CUSTOS Um aspecto muito importante quando se fala em contabilidade de custos, é a questão da distinção entre os diferentes termos que são utilizados para tratar das nomenclaturas dos insumos utilizados no processo produtivo. É comum que as pessoas confundam as terminologias no seu dia a dia nas atividades domésticas ou pessoais, mas dentro de uma empresa, esse é o tipo de erro que não pode ocorrer, pois é com base na distinção desses termos, que os produtos saem da fábrica com a correta carga de custos que são incorridos no seu processo de fabricação, o que pode impactar nos indicadores de eficiência operacional, na formação do preço de venda, na valoração dos estoques e na apuração do resultado do exercício. Dessa forma, para uma correta separação entre o que é gasto na produção e o que é gasto em atividades de suporte, a contabilidade de custos faz distinção dos termos, trazendo a forma como cada item deve ser classificado em relação ao uso dos recursos. As principais terminologias utilizadas na área de custos são: Gasto; Investimento; Custo; Despesa; Desembolso; Perda. 2.1 Gasto Para Martins (2010, p. 24) o gasto é conceituado como “compra de um produto qualquer, que gera sacrifício financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro)”. De modo análogo, Megliorini (2011) classifica o gasto como os compromissos financeiros assumidos por uma empresa quando da aquisição de produtos tanto para a área de produção, quanto para as áreas de suporte. Conforme os conceitos apresentados, percebe-se que sempre que a empresa incorrer na compra de algum tipo de insumo que será utilizado nas atividades operacionais, seja para suas atividades fim, seja para as atividades de suporte, ela irá incorrer num gasto. Nesse sentido, o fim para o qual ocorre a aquisição do item, não faz distinção deste em relação à nomenclatura, sendo que em ambos os casos, a empresa irá incorrer em um gasto. Outro ponto a ser considerado em ambos os conceitos apresentados, é o uso das sentenças “promessa de entrega de ativos” e “compromissos financeiros assumidos”, o que significa dizer que o pagamento do item pode não ter sido realizado no momento de sua aquisição, podendo acontecer num momento futuro, dependendo do acordo feito pela empresa com o seu fornecedor. Desse modo, quando ocorrer o pagamento do item adquirido, a empresa irá realizar um desembolso. O gasto se configura no momento em que a empresa reconhece contabilmente a dívida assumida ou a redução de um ativo em dado pagamento. A empresa incorre em gastos quando paga a mão de obra dos operários, adquire matéria-prima, compra imobilizados, etc. (Martins, 2010). Os gastos podem ser classificados também como investimento, custo e despesa. 2.2 Investimento Investimentos são gastos ativados em função de sua vida útil ou benefícios futuros (Martins, 2010; Padoveze, 2010). De acordo com Megliorini (2012, p. 7) os investimentos “correspondem à parcela dos gastos registrada em contas do ativo da empresa”. De modo complementar, Martins (2010) afirma que os investimentos podem ser divididos em circulantes (matéria-prima), permanentes (máquinas), sendo essa classificação de acordo com a natureza e o período de ativação do item. Nesse sentido, pode-se dizer que os itens adquiridos pela empresa e que são ativados e utilizados ou consumidos no curto prazo, são considerados como investimentos circulantes, aqueles adquiridos para uso no longo prazo, são considerados como investimentos permanentes. Exemplos: Quadro 1 – Exemplos de investimentos INVESTIMENTOS CIRCULANTES INVESTIMENTOS NÃO CIRCULANTES Matéria-prima Máquinas Material de expediente Instalações Material de limpeza Imobilizados Mercadorias para revenda Ações em outras cias Aplicações financeiras de curto prazo Aplicações financeiras de longo prazo 2.3 Custo “Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços” (Martins, 2010, p. 25). Conforme exposto no conceito, são classificados como custos somente aqueles itens que estão diretamente relacionados ao processo produtivo, ou seja, aqueles recursos que são consumidos pelas atividades fins da empresa, e que não se relacionam com as atividades de apoio. Dentro de uma indústria, os custos mais comuns são a mão de obra dos operários, a matéria prima, embalagens, aluguel da fábrica, salário dos supervisores de produção, etc. Ainda de acordo com Martins (2010, p. 25) “o Custo também é um gasto, só que reconhecido como tal, isto é, como custo, no momento da utilização de fatores de produção (bens e serviços), para a fabricação de um produto ou execução de um serviço”. Nesse sentido, os itens de custo somente são classificados como tal no momento em que os insumos são utilizados na produção, sendo que antes disso, eles possuem outra nomenclatura. Como exemplo, temos a matéria prima. No momento em que é adquirida, a matéria prima é um gasto que é ativado como estoque de matéria prima, e somente se transforma em custo no momento em que é utilizada no processo produtivo. 2.4 Despesa “Bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a obtenção de receitas” (Martins, 2010, p. 25). Para Megliorini (2012), as despesas “correspondem à parcela dos gastos consumida para administrar a empresa e realizar as vendas, isto é, para gerar a receita”. Conforme exposto nos dois conceitos, observa-se que as despesas, ao contrário dos custos, não estão diretamente relacionadas com o processo de fabricação dos produtos ou serviços, embora representem sacrifícios de recursos para a obtenção de receitas. Nesse sentido, as despesas são recursos consumidos pelas atividades de apoio, ou seja, todas aquelas atividades necessárias ao funcionamento da empresa, mas que não estão diretamente relacionadas com a produção. De um modo geral, as despesas são classificadas como operacionais, e as despesas operacionais subdividem-seem três grupos: Despesas administrativas: são aquelas despesas relacionadas com as áreas administrativas da empresa, envolve todo o setor administrativo. Exemplos: salários da administração, depreciação dos equipamentos da área administrativa, salários da diretoria, etc. Despesas de vendas (comerciais): são as despesas incorridas pela área de vendas da empresa. Exemplos: salários dos vendedores, comissão dos vendedores, fretes na venda do produto, etc. Despesas financeiras: são despesas incorridas sobre a captação de recursos de terceiros, ou mesmo sobre negociações da empresa com seus fornecedores. Exemplos: juros sobre empréstimos, juros sobre financiamentos, encargos financeiros sobre compras a prazo, juros por atraso no pagamento de fornecedores etc. 2.5 Desembolso Para Bornia (2010) o desembolso é conceituado como o ato do pagamento, podendo ocorrer em momento diferente do gasto. Para Martins (2010) o desembolso é o pagamento da aquisição de um bem ou serviço, e pode ocorrer antes, durante ou após a entrada da utilidade comprada. Em relação ao desembolso, observa-se que diferentemente do gasto, o desembolso pode ocorrer em diferentes momentos, o que irá depender da forma como a aquisição de determinado item ou serviço foi negociada. Exemplo: na aquisição de uma máquina para a produção, a empresa fez o pedido numa determinada data, mas o pagamento irá ocorrer 120 dias depois. Nesse caso, a empresa incorreu em um gasto no momento de aquisição do item, ou seja, no momento da compra, mas o desembolso (pagamento) só ocorrerá 4 meses depois. Também poderia ser o contrário. A empresa poderia ter adquirido a máquina à vista, pagando seu valor integral no momento da compra, e só recebendo o item 3 meses depois. Nesse caso, gasto e desembolso iriam ocorrer no mesmo momento, ou seja, no momento da compra. Uma terceira situação, seria a compra, pagamento e retirada da máquina no mesmo momento. Nesse caso, também ocorreriam gasto e desembolso no momento da aquisição do item. 2.6 Perda “Bem ou serviço consumido de forma anormal e involuntária” (Martins, 2010). Conforme conceituado por Martins (2010) a perda ocorre toda vez que algum bem ou serviço for consumido sem consentimento, ou seja, de forma involuntária. Complementarmente, Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 22) afirmam que “Trata-se de gastos não intencionais decorrentes de fatores externos, fortuitos ou da atividade produtiva normal da empresa”. Como exemplos de perdas, podemos citar a deterioração dos estoques, furtos, obsolescência, etc. 2.7 Classificação dos custos A contabilidade de custos é uma importante fornecedora de informações para tomadas de decisões internas. Os aspectos de custos a serem considerados na tomada de decisão, podem ser demonstrados de maneira mais acentuada em duas situações específicas: a primeira diz respeito a variação dos custos no processo produtivo, e a segunda quando da apropriação deles aos produtos fabricados. Dessa forma, os custos podem ser classificados em fixos e variáveis quando relacionados com o volume de produção e diretos e indiretos quando da sua apropriação aos produtos. 2.7.1 Custos diretos e indiretos Para classificar os custos em diretos ou indiretos, é necessário fazer uma avaliação no sentido de identificar quais os insumos podem ser diretamente alocados aos produtos sem que haja a necessidade de utilizar uma base de rateio, e quais necessitam dessa base para serem alocados. Dessa forma, aqueles facilmente identificáveis são chamados diretos, e os que não possuem uma medida correta de total a ser atribuídos a cada produto, são chamados indiretos. Os custos diretos podem ser facilmente identificados com o objeto de custeio, facilmente atribuídos aos seus portadores, não havendo a necessidade de rateio (Leone, 2006). Esses custos podem ser diretamente apropriados aos produtos, bastando haver uma medida de consumo, que pode ser dada por meio de quilogramas de materiais consumidos, embalagens utilizadas, horas de mão- de-obra ou mesmo a quantidade de energia elétrica consumida (Martins, 2010). Quando da alocação dos custos diretos, é possível saber exatamente quanto cada produto consumiu dos insumos necessários para sua fabricação. Os insumos consumidos são alocados de forma rápida e segura, não existindo subjetividade no processo, o que acarreta maior confiabilidade na mensuração dos estoques. Para que seja possível fazer a distribuição desses custos, basta que a empresa tenha um controle de todos os insumos utilizados na produção, considerando desde a matéria-prima até a energia elétrica (quando esta última for direta). Na apropriação dos custos diretos, não existe o problema da subjetividade, uma vez que estes possuem a característica de individualidade, pois são compostos de elementos passíveis de medições exatas, permitindo ao contador de custos atribuir a carga exata de custo incorrido no processo produtivo de cada serviço ou produto. Por exemplo: a matéria-prima é um insumo individual, pois é possível mensurar a quantidade exata de matéria prima que é consumida na fabricação de cada produto, e dessa forma, o custo com esse insumo é alocado de forma objetiva à cada peça fabricada. Em outras palavras, é possível atribuir uma medida a cada insumo classificado como custo direto. Por sua vez, os custos indiretos são classificados como aqueles que não são facilmente identificados com o objeto de custeio, e que necessitam de uma base de rateio para serem alocados aos produtos (Leone, 2006). Esses custos, não oferecem condição de uma medida objetiva e sua alocação tem que ser feita por estimativa, sendo esta muitas vezes realizada de forma arbitrária (Martins, 2010). Os custos indiretos passam a existir no momento em que a empresa fabrica dois ou mais produtos e utiliza insumos comuns no seu processo de fabricação. A alocação dos custos indiretos, ao contrário do que ocorre com os custos diretos, é feita por meio de bases de rateios, que são critérios estabelecidos pelos contadores de custos e que se imaginam representar a forma mais justa de distribuição desses gastos aos produtos que consumiram esses recursos durante o processo produtivo. Como exemplo de custo indireto, podemos citar uma indústria que paga aluguel por não possuir instalações próprias e que produz três tipos de produtos. O valor do aluguel, nesse caso, deverá ser rateado para cada um dos produtos, sendo necessário encontrar uma base de rateio desses valores. A Figura 3 apresenta como é feita a apropriação dos custos diretos e indiretos aos produtos. Figura 3 – Apropriação dos custos diretos e indiretos aos produtos Fonte: Adaptado de Souza e Clemente, 2007. 2.7.2 Custos fixos e variáveis Assim como os custos podem ser classificados em relação à sua apropriação aos produtos, eles também podem ser classificados em relação à sua variação quanto ao volume de produção. Nesse sentido, o comportamento dos custos dá-se de acordo com o volume de produção, sendo que se o volume de produção aumentar ou diminuir, o consumo de alguns elementos de custos acompanhará a oscilação para mais ou para menos, enquanto outros elementos não sofrerão alterações (Megliorini, 2012). Portanto, a variação no volume produzido pode aumentar ou diminuir o valor de alguns custos, enquanto outros permanecem inalterados. Dessa forma, temos as classificações dos custos em fixos e variáveis. Classificam-se como fixos, aqueles custos necessários para manter um nível mínimo de atividade operacional e são mantidos como constantes nessas atividades (Padoveze, 2010). Esses gastos são decorrentes da manutenção da estrutura produtiva da empresa, e independem da quantidade produzida dentro do limite da capacidade instalada (Megliorini, 2012). Conforme os conceitos apresentados, pode-se perceber que os custos fixos sãoaqueles valores diretamente relacionados com a produção, mas que a empresa irá incorrer independentemente de oscilações no volume produzido. Dessa forma, considera-se que esses custos existem mesmo que em determinado período a empresa trabalhe com produção de zero unidades, mas esses gastos já devem ser considerados, pois decorrem da manutenção da estrutura produtiva. Como exemplo de custo fixo, considere o aluguel de uma fábrica. Imagine o seguinte: o gasto com aluguel irá ocorrer todos os meses. Se num determinado mês, a empresa não tiver produção, o aluguel deverá ser pago do mesmo modo. Se por outro lado, ela dobrar a produção, mas conseguir fazê-lo no mesmo espaço alugado, o valor do aluguel será o mesmo. Dessa forma, percebe-se que o aluguel da fábrica é um custo fixo, pois independentemente das oscilações no volume produzido, a empresa irá incorrer nesse gasto. Custos variáveis são aqueles cujos valores variam na proporção direta das variações do nível de atividade (Padoveze, 2010). Esses custos aumentam ou diminuem conforme o volume de produção, e por esse motivo, quanto mais se produz, maior a necessidade desses insumos, e por isso, maior o custo (Megliorini, 2012). Na medida em que uma empresa produz, alguns insumos são utilizados com maior frequência, e por esse motivo, a variação na produção também faz com que o seu consumo varie. Esses itens são classificados como custos variáveis. São classificados nesse grupo todos aqueles insumos diretamente relacionados com o processo produtivo. Podemos citar aqui os itens mais lembrados quando se fala em custos variáveis, tais como matéria-prima, embalagem, energia elétrica, etc. Perceba que todos esses itens têm seu consumo aumentado na medida em que aumenta a produção, pois diferentemente dos custos fixos que dizem respeito à estrutura produtiva da empresa, os custos variáveis estão relacionados à cada item produzido. No fim de um determinado período, temos a apuração do custo total, a qual se dá pela somatória dos custos fixos com as variáveis. A figura 4 demonstra o comportamento dos custos em fixos e variáveis. Figura 4 – Comportamento dos custos Fonte: Megliorini, 2012, p. 12. Percebe-se pelo gráfico que, quando a quantidade é de zero unidades, a empresa já incorreu em custos fixos, o qual tende a se manter independentemente da quantidade produzida. Por sua vez, os custos variáveis começam a aparecer a partir da primeira unidade produzida, e quanto mais se produz, mais se aumentam esses gastos. A classificação dos custos em fixos e variáveis é feita por meio de analogia. Para que possamos fazê-la, basta verificar como um determinado item de custo se comporta em relação ao volume de produção. Se aquele se alterar conforme se altera o volume produzido, será classificado como custo variável, caso contrário, será um custo fixo. TEMA 3 – PRINCÍPIOS CONTÁBEIS APLICADOS A CUSTOS De acordo com Martins (2010), alguns princípios devem ser considerados quando se trata de contabilidade de custos. Para Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 6) “esses princípios representam a essência das doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional”. Os princípios mais relevantes para contabilidade de custos conforme os autores supracitados, são destacados a seguir. 3.1 Princípio da realização da receita Conforme exposto anteriormente, os gastos relativos aos fatores de produção são ativados e classificados como investimentos, mas no momento em que são utilizados no processo de fabricação, tais gastos passam a compor os custos dos produtos ou serviços. Dessa forma, pode-se dizer que já existe a agregação de valores no item fabricado desde a sua elaboração, pois esses valores agregados no processo de produção vão sendo acumulados na forma de estoques. Por esse motivo, economicamente o lucro já surge durante o processo de produção, mesmo que sem se concretizar em recursos monetários ou outros ativos (Martins, 2010). No entanto, a contabilidade possui normas e princípios que determinam o momento em que a receita deve realmente ser reconhecida, para que não haja informações errôneas na apuração do resultado e no levantamento das demonstrações contábeis. Nesse caso específico, o princípio da realização da receita determina que a receita será reconhecida somente no momento de transferência do bem elaborado para o adquirente, ou seja, por esse princípio, a receita será registrada no momento da venda do item, em que ocorre a sua baixa no estoque da entidade e sua posse é transferida para terceiros. 3.2 Princípio da competência (confrontação entre despesas e receitas) Assim como as receitas tem o momento certo para serem reconhecidas, a contabilidade também determina o momento em que os insumos utilizados na produção devem ser contabilizados. Dessa forma, todos os gastos contabilizados anteriormente e que fazem parte do processo produtivo, são contabilizados de acordo com o princípio da competência. O princípio da competência, também conhecido como princípio da confrontação entre despesas e receitas, determina que as despesas incorridas no processo produtivo devem ser reconhecidas no período em que ocorreram. Dessa forma, quando do reconhecimento das receitas de um determinado período, todas as despesas a elas vinculadas devem ser reconhecidas dentro daquele mesmo período. Esse princípio é extremamente importante para a apuração do resultado, pois o lucro ou prejuízo é evidenciado partindo-se das receitas e subtraindo-se as despesas apuradas num determinado período. 3.3 Princípio do custo histórico como base de valor Por esse princípio, os ativos devem ser reconhecidos pelo custo de aquisição, ou seja, o valor de entrada, também chamado de custo histórico. Esse princípio é fundamental para a mensuração dos estoques, visto que visa limitar a forma como a entidade contabiliza os insumos adquiridos para a produção de bens e serviços, uma vez que o resultado do período pode ser impactado por essa prática. Dessa forma, quando os produtos são fabricados, uma vez que os fatores de produção foram registrados pelo custo histórico, a baixa do estoque será contabilizada pelo mesmo valor, não sendo feitas alterações que podem influenciar no resultado. Ou seja, por esse princípio, os custos apurados na baixa do estoque, são os mesmos valores de aquisição dos fatores de produção que deram origem ao produto, não sendo aumentados ou diminuídos por quaisquer critérios estabelecidos pela entidade. 3.4 Princípio da consistência ou uniformidade Algumas vezes, a contabilidade permite que um mesmo evento possa ser registrado de formas diferentes, desde que os critérios estejam de acordo com os princípios contábeis. Diante desse aspecto, para garantir a comparabilidade das demonstrações contábeis de diferentes períodos, o princípio da consistência ou uniformidade preza que a entidade mantenha ao longo do tempo a alternativa escolhida, e esta não poderá ser alterada em cada período. Nesse sentido, esse princípio quando voltado para a contabilização dos custos, torna-se extremamente relevante, visto que os critérios adotados para pela entidade podem ser utilizados para alterar os resultados em períodos diferentes. Por exemplo: se a empresa adotar uma determinada base de rateio para mensurar os custos com a manutenção dentro de um período, e subsequentemente mudar essa base, os resultados podem ser influenciados por essa mudança. 3.5 Princípio do conservadorismo ou prudência Algumas vezes, o contador se depara com situações de incerteza quanto a estimativas na contabilização de ativos e passivos. Diante disso, para que ativos e receitas não sejam superestimados e passivos e despesas não sejam subestimados, o princípio da prudência determina que o contadordeve ser conservador em seu julgamento, no sentido de que quando houver duas ou mais opções, adotar sempre o menor valor para ativos e o maior para passivos. No que tange à contabilidade de custos, esse princípio deve ser levado em conta principalmente na avaliação dos estoques, em que, caso constatado que os produtos tenham valor líquido de venda mais baixos que os da produção, indicando que aqueles perderam valor, pelo princípio da prudência, mesmo que ferindo o princípio do custo histórico, esse item do ativo deve ser registrado pelo valor mais baixo. 3.6 Princípio da materialidade ou relevância O princípio da materialidade leva em consideração o custo benefício na geração de informações contábeis. Nesse sentido, por esse princípio o contador tem autonomia para fazer o julgamento e somente se preocupar em registrar e controlar nas ocasiões oportunas as informações relevantes. Aquelas informações que geram mais ônus do que benefícios para serem registradas, poderão ser realizadas de acordo com o melhor critério estabelecido pelo contador. Como exemplo do uso desse princípio em contabilidade de custos, pode- se relacionar o consumo de papel em um escritório de contabilidade. Cada vez que uma folha de sulfite for utilizada, seria contabilizado um custo referente ao uso desse material. No entanto, esse valor seria tão irrelevante que não precisa ser contabilizado dessa forma, pois o princípio da relevância permite que o registro do custo seja realizado de uma só vez, visto que o gasto com o papel é muito baixo e ficaria mais oneroso registrar a informação do que o benefício trazido por ela. TEMA 4 – ESQUEMA BÁSICO DA CONTABILIDADE DE CUSTOS Conforme vimos no Tema 2, existem várias terminologias que são utilizadas em contabilidade de custos, e essas devem ser aplicadas corretamente quando da apuração dos gastos incorridos no processo produtivo para que os estoques sejam valorados de forma justa. Visando a correta apropriação dos gastos incorridos no processo produtivo, pode-se fazer um passo a passo que permite a alocação dos custos aos produtos, o que pode ser feito por meio de um esquema básico de distribuição. Esse esquema, também conhecido como mapa de rateio é mencionado no art. 294 do Decreto n. 3.000 (Brasil, 1999). Nesta aula, usaremos o esquema proposto por Martins (2010) que é dado em três passos: 1. Separação entre custos e despesas; 2. Apropriação dos custos diretos aos produtos ou serviços; 3. Rateio dos custos indiretos. Importante frisar que existem diferentes métodos de custeio, os quais serão estudados na aula 4, mas o esquema aqui apresentado, baseia-se no Custeio por Absorção, justamente pelo fato de ser ele o método que a legislação brasileira permite que seja utilizado na apuração dos custos. Conforme o custeio por absorção, todos os custos incorridos no processo devem ser alocados aos produtos, sejam eles fixos ou variáveis, diretos ou indiretos. Dessa forma, o esquema começa fazendo a separação entre custos e despesas, uma vez que os produtos só recebem carga daquilo que foi consumido durante o seu processo de produção (custos) e os demais gastos advindos de atividades de suporte (despesas) são lançados diretamente contra o resultado. Após essa classificação, separa-se os custos diretos dos indiretos, sendo os primeiros apropriados diretamente aos produtos, enquanto os outros, indiretos, são alocados por meio de uma base de rateio. A figura 5 permite uma visualização do esquema básico proposto por Martins (2010). Figura 5 – Esquema básico da contabilidade de custos Fonte: Martins, 2010, p. 57. Para um melhor entendimento do funcionamento do esquema básico, vamos trabalhar com um exemplo trazendo o passo a passo da distribuição dos gastos incorridos no processo produtivo, iniciando com a separação dos custos e despesas e finalizando com a apuração do custo total de cada um dos produtos. Exemplo: a Cia Mandirituba fabrica os produtos A e B, e sabe-se que os dois produtos consomem a mesma matéria-prima (MP) e nas mesmas quantidades. Num determinado período, tendo fabricado 2.000 unidades do produto A e 3.000 do produto B, a indústria apurou os seguintes gastos: Tabela 1 – Total de gastos do período Com as informações fornecidas, agora vamos seguir os passos dados no esquema para apurar os custos dos dois produtos. 4.1 1º – Separação entre custos e despesas Para iniciar, o primeiro passo pede que seja feita a classificação dos gastos em custos e despesas. Dessa forma, é importante lembrar do tipo de gasto, e caso haja dúvidas, é válido voltar no tema 2 para rever os conceitos. Vamos começar separando todos os itens de custos que encontramos entre os gastos apresentados. Dessa forma, a classificação dos custos apresenta os seguintes itens: Tabela 2 – Custos de produção Na Tabela 2, encontram-se todos os itens que compõe os custos dos produtos A e B apresentados na Tabela 1. Agora, é necessário que seja feita a separação das despesas. É importante lembrar que as despesas são lançadas diretamente contra o resultado do exercício e, portanto, devem ser classificadas em administrativas, de vendas ou financeiras, de acordo com sua natureza, uma vez que a Demonstração do Resultado do Exercício apresenta todas as despesas operacionais classificadas nessas três categorias, conforme tabelas a seguir. Tabela 3 – Despesas administrativas Tabela 4 – Despesas de vendas Tabela 5 – Despesas financeiras DESPESAS FINANCEIRAS VALOR JUROS PAGOS SOBRE FINANCIAMENTOS R$ 2.700,00 TOTAL DE DESPESAS FINANCEIRAS DO PERÍODO R$ 2.700,00 Após feita a separação dos custos e despesas, o próximo passo proposto pelo esquema é a apropriação dos custos diretos aos produtos. 4.2 2º – Apropriação dos custos diretos aos produtos ou serviços Nessa etapa, todos os custos diretamente relacionados aos produtos são apropriados, sem a necessidade de se encontrar uma base de rateio, bastando apenas saber a quantidade que cada unidade produzida consome desses recursos. Vamos considerar que temos somente quatro tipos de custos diretos, sendo a matéria-prima, as embalagens, parte da mão-de-obra e parte da energia elétrica. Como sabemos que esses são custos diretos? Bem, vamos analisar. A matéria-prima e as embalagens, por si só já são um custo direto, pois podemos saber exatamente quanto cada produto consumiu desses materiais, considerando que a empresa controla sua saída do almoxarifado. Quanto a mão de obra direta (MOD), para saber quanto do valor do salário dos operários se configura em mão-de-obra direta ou indireta, a empresa precisa fazer apontamentos de mão-de-obra (Martins, 2010). Nesse caso, vamos supor que a empresa já tenha essa informação. E por fim, temos a energia elétrica. Esse insumo, para ser considerado como custo direto, necessita de medidores em cada máquina. Consideremos então que parte dos equipamentos tenha esses medidores, e parte deles não. Dessa forma, temos parte da energia como custo direto e outra parte custo indireto. A Tabela 6 mostra a apropriação dos custos diretos aos dois produtos, e os custos indiretos a serem rateados. Tabela 6 – Distribuição dos custos diretos Conforme demonstrado na Tabela 6, os custos diretos do produto A somam R$31.600,00 e do produto B R$47.400,00. Agora, como próximo passo, temos que fazer o rateio dos custos indiretos, os quais somam R$39.500,00. 4.3 3º – Rateio dos custos indiretos Diferentemente dos custos diretos, os custos indiretos não podem ser diretamente alocados aos produtos, pois não se sabe exatamente qual a parcela desses valores correspondente à cada item produzido. Dessa forma, é necessário que seja encontrada uma base de rateio, a qual servirá para fazer essa distribuição. Por conta dessa base de rateio, a alocação dessescustos é resumida por uma palavra: subjetividade. Significa dizer que, por mais que a base encontrada aparente ser a melhor forma de alocação dos custos indiretos, a distribuição não se dará de forma 100% justa, pois os critérios de rateio são baseados em estimativas. Existem várias formas de se fazer o rateio, sendo que geralmente, cada item de custo indireto pode ser apropriado por alguma particularidade. Para o nosso exemplo, vamos fazer a locação de todo o total de custos indiretos por um único critério. Vamos supor que o critério adotado seja o rateio por espaço utilizado pelos produtos dentro da fábrica. Nesse sentido, precisamos saber qual é o espaço utilizado por cada um e o total de m2 das instalações. Suponha que a fábrica tenha espaço total de 1.000 m2, e que o produto A ocupe 450 m2 desse espaço (45% da área total), enquanto o produto B ocupe os outros 550m2 (55% da área total). Diante desse aspecto, a alocação dos custos indiretos ficará da seguinte forma: Tabela 7 – Rateio dos custos indiretos RATEIO PELO ESPAÇO DA FÁBRICA Produto % do espaço Custo indireto Produto A 45% R$ 17.775,00 Produto B 55% R$ 21.725,00 Total 100% R$ 39.500,00 Agora que já fizemos o rateio dos custos indiretos, temos como apurar o custo total (custo direto + custo indireto) dos produtos A e B. A apuração é demonstrada na Tabela 8. Tabela 8 – Distribuição dos custos aos produtos Uma vez que temos os totais de custos, agora precisamos ativá-los. Ativar os custos significa dizer que esses gastos serão contabilizados no nosso ativo, mais precisamente, irão compor a conta estoques. 4.4 Contabilização dos custos A forma de contabilização dos custos que utilizaremos aqui, é a forma analítica, que mostra o passo a passo realizado no esquema básico, sendo que esse registro contábil representa o mesmo grau de detalhamento dos mapas de rateio (Martins, 2010). Dessa forma, temos a nossa contabilização iniciada pela separação entre os itens que possuem parte direta e parte indireta. . a. Separação da mão de obra direta da indireta Débito: Mão de obra direta R$25.000,00 Débito: Mão de obra indireta R$5.000,00 Crédito: Mão de obra R$30.000,00 b. Separação da energia elétrica direta da indireta Débito: Energia elétrica direta R$9.000,00 Débito: Energia elétrica indireta R$3.000,00 Crédito: Energia elétrica R$12.000,00 c. Apropriação da matéria prima aos produtos Débito: Estoques (Produto A) R$16.000,00 Débito: Estoques (Produto B) R$24.000,00 Crédito: Matéria-prima R$40.000,00 d. Apropriação da mão-de-obra direta aos produtos Débito: Estoques (Produto A) R$10.000,00 Débito: Estoques (Produto B) R$15.000,00 Crédito: Mão de obra direta R$25.000,00 e. Apropriação do custo das embalagens aos produtos Débito: Estoques (Produto A) R$2.000,00 Débito: Estoques (Produto B) R$3.000,00 Crédito: Embalagens R$5.000,00 f. Apropriação da energia elétrica direta aos produtos Débito: Estoques (Produto A) R$3.600,00 Débito: Estoques (Produto B) R$5.400,00 Crédito: Energia elétrica direta R$9.000,00 DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS AOS PRODUTOS Produto Custo Direto Custo Indireto Total Produto A R$31.600,00 R$ 17.775,00 R$ 49.375,00 Produto B R$ 47.400,00 R$ 21.725,00 R$ 69.125,00 Total R$ 79.000,00 R$ 39.500,00 R$ 118.500,00 g. Apropriação dos custos indiretos aos produtos Débito: Estoques (Produto A) R$17.775,00 Débito: Estoques (Produto B) R$21.725,00 Crédito: Mão de obra indireta R$5.000,00 Crédito: Aluguel da fábrica R$20.000,00 Crédito: Energia elétrica indireta R$3.000,00 Crédito: Seguros da fábrica R$5.000,00 Crédito: Depreciação da fábrica R$3.000,00 Crédito: Manutenção da fábrica R$3.500,00 Seguindo a contabilização, vamos fazer a apuração dos razonetes. Obs.: Os saldos iniciais dos razonetes têm origem nos itens do enunciado do exercício. Uma vez que terminamos a contabilização, os custos apresentados compõem os estoques da empresa. Esses valores permanecem ativados até que o produto seja vendido, e no período em que isso ocorrer, a quantidade vendida será lançada contra o resultado do período, na conta Custos dos Produtos Vendidos (CPV) da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Lembrando apenas que, quando da venda, deve-se considerar o custo unitário dos produtos, o qual é encontrado dividindo o custo total pelo total produzido. c) c) d) d) e) e) f) f) g) g) b) a)a) b) Mão de obra 30.000,00R$ 30.000,00R$ a) Energia elétrica 12.000,00R$ 12.000,00R$ b) Manutenção da fábrica 3.500,00R$ 3.500,00R$ g) Seguros da fábrica 5.000,00R$ 5.000,00R$ g) Depreciação da fábrica 3.000,00R$ 3.000,00R$ g) g) Energia elétrica indireta 3.000,00R$ 3.000,00R$ g) Energia Elétrica Direta 9.000,00R$ 9.000,00R$ f) Mão de obra indireta 5.000,00R$ 5.000,00R$ g) 69.125,00R$ Embalagens 5.000,00R$ 5.000,00R$ e) Aluguel da fábrica 3.000,00R$ 5.400,00R$ 21.725,00R$ 10.000,00R$ 15.000,00R$ 49.375,00R$ 2.000,00R$ 3.600,00R$ 17.775,00R$ Mão de obra direta 25.000,00R$ 25.000,00R$ d) 20.000,00R$ 20.000,00R$ Matéria prima consumida 40.000,00R$ 40.000,00R$ c) Estoque Produto A 16.000,00R$ Estoque Produto B 24.000,00R$ Tabela 9 – Custo unitário por produto Sempre que a empresa vender uma quantidade, os custos somente serão baixados conforme a quantidade vendida. As despesas, ao contrário, devem ser baixadas em sua totalidade no fim do exercício em que ocorreram. TEMA 5 – A CONTABILIDADE DE CUSTOS PARA ATENDER À CONTABILIDADE SOCIETÁRIA E FISCAL As empresas brasileiras precisam seguir as regras impostas pela legislação nacional, na qual a contabilidade societária fornece os métodos e critérios que as entidades devem seguir, principalmente no que tange à constituição das sociedades e as práticas que devem ser adotadas no andamento de suas atividades. Nesse sentido, Iudicibus et al. (2010) afirmam que a contabilidade sempre sofreu influências dos critérios fiscais, particularmente os da legislação de Imposto de Renda, uma vez que a a maioria das empresas fazia sua contabilidade com base nos preceitos e forma da legislação fiscal. Sendo ela uma ramificação da contabilidade geral, a contabilidade de custos também sofre influências da legislação. Se por um lado ela visa o fornecimento de informações gerencias para a tomada de decisões dos usuários internos objetivando principalmente maior eficiência no processo produtivo, por outro lado ela também tem a função de atender a contabilidade societária e o fisco, uma vez que a atividade contábil é regulamentada e deve seguir as normas e leis a ela aplicadas. Para o tratamento dos custos, a legislação brasileira possui uma série de leis, normas, pronunciamentos e decretos que visam nortear a atividade contábil no que tange à avaliação, apuração e contabilização de seus estoques, buscando sempre a correta apuração dos custos. Como primeiro ponto, citamos a redação dada pelo art. 261 do Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999, o qual menciona outras leis que trazem o mesmo texto no que tange aos livros fiscais obrigatórios: No Livro de Inventário deverão ser arrolados, com especificações que facilitem sua identificação, as mercadorias, os produtos manufaturados, as matérias-primas, os produtos em fabricação e os bens em almoxarifado existentes na data do balanço patrimonial levantado ao fim de cada período de apuração (Lei nº 154, de 1947, art. 2º, § 2º, Lei nº 6.404, de 1976, art. 183, inciso II, e Lei nº 8.541, de 1992, art. 3º). Essa redação dada pela lei já impõe a utilização do inventário permanente pelas empresas, que visa o controle dos estoques, abrangendo desde amatéria- prima adquirida até os produtos finais, visando o registro permanente das movimentações dessas mercadorias e a correta apuração dos custos incorridos. Ainda no contexto do Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999, o art. 289 aborda sobre a apuração dos custos dos estoques, conforme redação a seguir: Art. 289. O custo das mercadorias revendidas e das matérias-primas utilizadas será determinado com base em registro permanente de estoques ou no valor dos estoques existentes, de acordo com o Livro de Inventário, no fim do período de apuração (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 14). § 1º O custo de aquisição de mercadorias destinadas à revenda compreenderá os de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na aquisição ou importação (Decreto- Lei nº 1.598, de 1977, art. 13). § 2º Os gastos com desembaraço aduaneiro integram o custo de aquisição. § 3º Não se incluem no custo os impostos recuperáveis através de créditos na escrita fiscal. Conforme exposto, pode-se perceber que a lei do imposto de renda já determina a forma como devem ser avaliados os estoques tanto de matéria- prima, quanto dos produtos fabricados, sendo a valoração desses materiais de acordo com o registro permanente, o que indica o custo histórico como base de valor (custo de aquisição). Do mesmo modo, os parágrafos 1 ao 3 indicam quais itens devem compor os custos das mercadorias destinadas a revenda. Percebe- se nesse artigo que a lei abrange tanto as empresas industriais quanto as do ramo comercial, indicando como devem proceder quanto à valoração e custos de seus produtos/mercadorias. Numa abordagem voltada mais para a indústria, a lei traz o seu contexto no art. 290 instruindo sobre os custos de produção, conforme abaixo. Art. 290. O custo de produção dos bens ou serviços vendidos compreenderá, obrigatoriamente (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 13, § 1º): I - o custo de aquisição de matérias-primas e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção, observado o disposto no artigo anterior; II - o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta, manutenção e guarda das instalações de produção; III - os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de depreciação dos bens aplicados na produção; IV - os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção; V - os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção. O contexto desse artigo é algo primordial para a contabilidade de custos, e seu entendimento torna-se de suma importância para a apuração dos custos dos produtos fabricados, pois é com base na interpretação que se adotará o método de custeio que a empresa deverá utilizar para custear seus produtos. Megliorini (2012) expõe que as empresas precisam atender as exigências legais no que tange aos métodos de apuração dos custos, estando em conformidade com as normas e legislações vigentes. No que se refere à apuração dos custos, embora existam vários métodos de custeio, a legislação atua no sentido de nortear as empresas no método que deve ser empregado. Conforme contexto do artigo supracitado, percebe-se que a lei determina que sejam alocados aos produtos todos os custos incorridos no processo de fabricação (fixos, variáveis, diretos e indiretos), o que nos leva ao método de custeio por absorção, também conhecido como Custeio Integral, tornando-se dessa forma, o método aceito pela legislação fiscal do Brasil. Outro ponto a ser considerado em relação à atuação da legislação sobre as práticas contábeis no que tange aos custos, diz respeito ao método de valoração dos estoques. Sobre esse aspecto, analisemos o que é exposto por Iudicibus et al. (2010, p. 78) sobre a apuração do custo: Conhecendo os componentes do custo de aquisição, o problema agora se prende ao fato de a empresa ter em estoque o mesmo produto adquirido em datas distintas, com custos unitários diferentes. Assim, surge a dúvida sobre qual preço unitário deve ser atribuído a tais estoques na data do Balanço. Vamos a seguir analisar as diversas possibilidades existentes. Antes disso, cabe lembrar que, no Brasil, a Legislação do Imposto de Renda tem permitido, apenas a utilização do método do preço específico, do custo médio ponderado móvel ou ados bens adquiridos mais recentemente (FIFO ou PEPS). Vale destacar, como não era permitido para fins fiscais, o uso do LIFO ou UEPS era esporádico. A partir do CPC 16 - Estoques, sua utilização também não é contabilmente admitida. Por tudo isso, a maioria das empresas, no Brasil, utilizou e continua utilizando principalmente o custo médio ponderado móvel. Conforme exposto pelos autores supracitados, a legislação impõe o uso do custo médio ou do método PEPS (“Primeiro que Entra, Primeiro que Sai”) para valoração dos estoques, não sendo admitido o método UEPS (Último que Entra, Primeiro que Sai) desde o CPC 16. Nesse sentido, torna-se relevante saber o que diz o CPC 16 sobre a valoração dos estoques. 23. O custo dos estoques de itens que não são normalmente intercambiáveis e de bens ou serviços produzidos e segregados para projetos específicos deve ser atribuído pelo uso da identificação específica dos seus custos individuais. 24. A identificação específica do custo significa que são atribuídos custos específicos a itens identificados do estoque. Este é o tratamento apropriado para itens que sejam segregados para um projeto específico, independentemente de eles terem sido comprados ou produzidos. Porém, quando há grandes quantidades de itens de estoque que sejam geralmente intercambiáveis, a identificação específica de custos não é apropriada. Em tais circunstâncias, um critério de valoração dos itens que permanecem nos estoques deve ser usado. 25. O custo dos estoques, que não sejam os tratados nos itens 23 e 24, deve ser atribuído pelo uso do critério Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (PEPS) ou pelo critério do custo médio ponderado. A entidade deve usar o mesmo critério de custeio para todos os estoques que tenham natureza e uso semelhantes para a entidade. Para os estoques que tenham outra natureza ou uso, podem justificar-se diferentes critérios de valoração. Conforme redação dada pelo CPC 16, percebe-se que o método preferencial a ser utilizado para a valoração dos estoques é o custo específico, mas nem sempre ele é possível de ser utilizado. Nesses casos, a legislação permite que seja utilizado o custo médio ou o método PEPS. Na próxima aula, aprenderemos mais sobre os estoques e os métodos de avaliação, explorando cada critério e verificando o impacto de seu uso nos custos dos produtos. TROCANDO IDEIAS Você já sabia que a contabilidade era dividida em grandes áreas? Tinha conhecimento de que essas áreas têm objetivos específicos de fornecer informações para usuários diferentes, cada um focando um tipo de decisão? Nesse ínterim, a contabilidade de custos, a financeira e a gerencial, tornam-se as principais áreas da contabilidade, e tem como funções fornecer informações voltadas para usuários diferentes, embora devam trabalhar em conjunto, visando sempre manter a entidade em continuidade. Diante desse aspecto, pense nas empresas que você conhece, se possível, a empresa em que você trabalha, e tente relacionar essas três grandes áreas da contabilidade no contexto dessas entidades. Busque encontrar características de cada uma delas, e a forma como elas contribuem para a tomada de decisão para os gestores das empresas. O conhecimento sobre essas áreas faz com que o tomador de decisões saiba onde buscar as informações, e as pessoas responsáveis por fornecê-las, agilizando os processos e tornando a entidade mais competitiva. NA PRÁTICA Responda às questões propostas: 1. Classifique as assertivas de acordo com a área da contabilidade destacada por cada uma delas. (a) Contabilidadede financeira (b) Contabilidade de custos (c) Contabilidade gerencial ( ) Apresenta técnicas voltadas para a eficiência do processo produtivo, fazendo a separação dos recursos utilizados no processo de fabricação, discriminando cada item que compõe o processo, e apropriando aos produtos somente aqueles gastos que estão diretamente relacionados a sua fabricação. ( ) Os principais usuários das informações fornecidas por essa área da contabilidade são usuários externos. Suas informações podem ser utilizadas para fins de fiscalização, concessão de empréstimos, acordos trabalhistas, etc. ( ) Área da contabilidade relacionada com o fornecimento de informações para os administradores, tratando a informação contábil, com enfoque no planejamento, controle e tomada de decisão. 2. Classifique os gastos abaixo de acordo com a terminologia apropriada conforme o seu uso no processo de uma empresa. (a) Custo (b) Despesa (c) Investimento (d) Desembolso (e) Perda ( ) Aquisição de matéria-prima. ( ) Pagamento de uma máquina adquirida. ( ) Estoque de mercadorias vencidas. ( ) Utilização da matéria prima no processo de fabricação. ( ) Depreciação dos computadores do setor administrativo. FINALIZANDO Na nossa primeira aula, conhecemos um pouco sobre o surgimento da contabilidade de custos, bem como sua interação com as outras contabilidades, a financeira e a gerencial. Foi possível perceber a diferença entre essas três áreas da contabilidade, bem como o foco de cada uma delas no que diz respeito ao fornecimento de informações para os seus usuários. Em relação às nomenclaturas utilizadas, conhecemos as terminologias utilizadas em contabilidade de custos, e pudemos perceber o quanto algumas delas podem ser parecidas e as vezes utilizadas como sinônimo, o que é um erro muito grave no processo produtivo, pois a classificação correta de todos os fatores é essencial para a eficiência do processo produtivo. Tão importante quanto a classificação, é a seguir os princípios e a legislação no que tange à normatização da contabilidade de custos, e pudemos perceber o quanto a contabilidade é influenciada pelo fisco, principalmente pela legislação do imposto de renda. A partir da próxima aula, estaremos aplicando os aprendizados adquiridos aqui, em aspectos mais práticos, voltados para a contabilização dos custos. REFERÊNCIAS BORNIA, A. C. 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