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LIVRO POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL

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APRESENTAÇÃO 
 
O processo de implantação do SUS sempre foi repleto de 
ambiguidades, avanços e dificuldades.O Sistema Público de Saúde brasileiro 
passou por inúmeras crises no século passado até a implantação do sistema 
atual, que ainda passa por revisão e readequação nas políticas de saúde. A 
crise fiscal e as posições conservadoras contribuíram para a formação de 
barreiras, limitando a possibilidade de ampliação dos serviços de saúde e 
dificultando o acesso universal. 
O presente livro é voltado para uso acadêmico nas ciências da saúde, 
pois compendiam literaturas científicas de forma abrangente sobre a 
construção do sistema público de saúde no Brasil, desde a base histórica e 
seu processo evolutivo, normas e protocolos desenvolvidos a partir das 
políticas de saúde no País. 
Nele podemos encontrar os modelos de saúde adotados na história do 
Brasil, até o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) com os princípios 
e diretrizes, Normas e Pactos criados no decorrer dos quase 30 anos do 
SUS, os blocos e a organização que financia o sistema público. 
Também conta com a análise e organização dos Níveis de Atenção à 
Saúde conforme os determinantes do processo saúde e doença, ressaltando 
a atenção primária. Para essa, foi abordada a ferramenta que considero 
essencial para atingir os objetivos da atenção primária que é o Diagnóstico 
Comunitário. 
O livro possibilita, por meio do amplo apanhado referencial, 
desenvolver análise crítica e reflexiva sobre o atual Sistema Único de Saúde, 
proporcionando reflexão acadêmica/profissional com análise dos desafios 
diante das legislações (teoria) versus a prática que devem ser superados 
para a efetivação do SUS. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL................ 05 
 
CAPÍTULO 2 
 
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)........................................ 
 
27 
 
CAPÍTULO 3 
 
 
ESTRUTURAÇÃO DO SUS - NORMAS E PACTOS................... 
 
 
40 
CAPÍTULO 4 
 
FINANCIAMENTO DO SUS.......................................................... 
 
58 
CAPÍTULO 5 
 
NÍVEIS DE ATENÇÃO: ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE 
SAÚDE........................................................................................... 
 
 
68 
CAPÍTULO 6 
 
ATENÇÃO BÁSICA (ATENÇÃO PRIMÁRIA)............................... 
 
83 
CAPÍTULO 7 
 
DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO OU SITUACIONAL................... 
 
99 
CAPÍTULO 8 DETERMINANTES DA SAÚDE.................................................... 115 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
 
CAPÍTULO 1 
 
HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO 
BRASIL 
 
O sistema de saúde no País sofreu constantes mudanças desde o 
século passado, influenciadas pelas transformações econômicas, 
socioculturais e políticas da sociedade brasileira que resultaram nas políticas 
de saúde atuais. 
 
Período Colonial 
 
Quando foi “descoberto” por Pedro Alves Cabral no ano de 1500,o 
Brasil era tido como uma terra de riqueza grandiosa, um lugar onde os 
nativos eram livres das enfermidades que assolavam a Europa. 
 
 
Fonte imagem:educador.brasilescola.uol.com.br 
 
 
 6 
As primeiras imagens do Brasil “paraíso” duraram pouco, pois após a 
chegada dos Europeus que tinham a intenção de explorar a riqueza da 
terra,entraram em conflitos com os indígenas e importaram as doenças 
infecciosasque se tornaram os principais obstáculos para os colonizados. 
Após lutas, isolamentos, enfermidades, os nativos enfrentavam agora o 
medo dos métodosde cura trazidos pelos Europeus que passavam longos 
períodos no Brasil. Os colonizadores por sua vez, recebiambaixos salários, 
vivenciavam a falta de estrutura e medo com os perigos que enfrentariam.Os 
métodos para tratamento para as enfermidades, trazidos pelos poucos 
médicos existentes no País, eram rejeitados pela população. 
Os médicos e cirurgiões que se instalaram no Brasil encontraram 
todosos tipos de dificuldades para exercer a profissão. Além do imenso 
território e da pobreza da maior parte dos habitantes, que não podiam pagar 
uma consulta, o povo tinha medo de se submeter aos tratamentos, pois por 
vezes eram baseados em purgantes e sangrias. Os colonizadores, ao invés 
de recorrer aos médicos formados na Europa e que aqui estavam, preferiam 
utilizar os “remédios” recomendados pelos curandeiros e indígenas. 
Assim, com a escassez e a pouca resolutividade de ações médicas, a 
maioria da população utilizava a medicina popular oriunda da cultura 
indígena, jesuítas e africana. Deste modo, a atenção à saúde limitava-se aos 
próprios recursos da terra (plantas e ervas). Aqueles que por conhecimentos 
empíricos (curandeiros), desenvolviam as suas habilidades na arte de curar. 
Aqueles com melhores condições financeiras e de acesso, com a 
inexistência da assistência médica estruturada, recorriam aos Boticários 
(farmacêuticos) que manipulavam fórmulas existentes. 
Em 1808, no Rio de Janeiro, a Família Real aporta seus navios, 
embora tenha vindo fugida para o Brasil, deu inicio a um grande marco na 
história, pois só em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de reino, de modo 
que todas as terras portuguesas passaram a chamar-se Reino Unido de 
Portugal Brasil e Algarves. 
 
 7 
 
 
 
Devido à vinda da Família real para o Brasil que rapidamente foi 
organizada as questões sanitárias possíveis na época. E assim por ordem da 
Família Real foi fundado escolas de medicinas, daí por diante em função da 
corte real foram surgindo vários outros órgãos com a tentativa de cuidar da 
saúde pública. 
Com o aparecimento e disseminação de diversas doenças 
infectocontagiosas como a febre amarela, a população fragilizada lutava 
contra a morte. Os doentes que possuíam condições financeirasbuscavam 
tratamento na Europa, enquanto os doentes mais pobres eram cuidados por 
curandeiros. Diante desse contexto, nasce a Política de Saúde Brasileira 
com ideias e planos para tentar combater as enfermidades que reduziam a 
vida da população. 
Apenas a partir do ano de 1808, ano em que a Corte Portuguesa chega 
ao Brasil são cridas as duas primeiras escolas de medicina do Brasil: o 
Colégio Médico-Cirúrgico em Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de 
Janeiro. 
 
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Fonte imagem:wikiwand.com 
 
Verifica-se que o interesse primordial estava limitado ao 
estabelecimento de um controle sanitário mínimo da capital do império, 
tendência que se alongou por quase um século. O foco era a delegação de 
atribuições sanitárias às juntas municipais e controle de navios e saúde dos 
portos. 
 
Início do século XX até 1920 
 
Nesse período, a economia baseada na agricultura, principalmente na 
produção do café para exportação e como principal comprador os EUA. Para 
transportar produtos agrícolas até os portos eram necessários transportes 
ferroviários e portuários para escoação da produção. Sem saneamento e 
com controle sanitário insuficiente, as doenças prejudicam as cidades e 
arredores dos portos (epidemias de cólera, peste, varíola e febre amarela). 
 
 9 
Inúmeros países, principalmente europeus eram resistentes em fazer 
acordos comerciais com o Brasil,o país era considerado pestilento, e o medo 
de exportar as doenças para seus países engasgavam os acordos 
comerciais. Os países com acordos comerciais tinham os navios em 
quarentena na ilha de Niterói-RJantes de seguir para o país de origem. Para 
melhorar o comércio e o desenvolvimento econômico, os políticos viram a 
necessidade de saneamento básico nos portos, principalmente no principal 
porto situado no Rio de Janeiro. 
 
 
Fonte imagem:rioquemoranomar.com 
 
Rodrigues Alves, então presidente do Brasil, nomeou Oswaldo Cruz, 
como Diretor do Departamento Federal de Saúde Pública,que adotou o 
modelo das campanhas sanitárias para combater endemias urbanas e 
posteriormente as rurais (modelo epidemiológico que quebra a relação 
agente/hospedeiro).Este modelo de intervenção ficou conhecido como 
campanhista e concebido dentro de uma visão militar em que os fins 
 
 10 
justificam os meios, e no qual o uso da força e da autoridade eram 
considerados os instrumentos preferenciais de ações em meio a população. 
A reforma sanitária de Oswaldo Cruz foi direcionada ao Rio de Janeiro 
que abrigava o principal porto e onde os acordos comerciais eram realizados. 
Nesse período, se aproveitou da reforma urbanística de Pereira Passos, 
recomendando que acabassem com as favelas nos morros centrais da 
cidade, tornando essa área da cidade urbanizada (parques, grandes 
avenidas e edifícios) para que a cidade fosse vista por turistas e estrangeiros 
como limpa e urbanizada. Essas ações apenas mascararam a pobreza 
visível em cortiços e favelas, pois as pessoas foram retiradas de suas casas 
e enviadas às periferias da cidade e região metropolitana, aumentando assim 
às favelas, porém em outras localidades. 
A obrigatoriedade imposta à população gerou insatisfação que se 
agrava com outra medida de Oswaldo Cruz, pela Lei Federal nº 1261, de 31 
de outubro de 1904, instituiu a vacinação anti-varíola obrigatória para todo o 
território nacional. Surge, então, um grande movimento popular de revolta 
que ficou conhecido na história como a Revolta da Vacina. 
 
Revolta da Vacina de 1904 .Fonte imagem: iea.usp.br 
 
 11 
 
Neste período Oswaldo Cruz procurou organizar a diretoria geral de 
saúde pública, criando uma seção demográfica, laboratório bacteriológico, 
serviço de engenharia sanitária e de profilaxia da febre-amarela, a inspetoria 
de isolamento e desinfecção, e o instituto soroterápico federal, 
posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz. 
Na reforma promovida por Oswaldo Cruz foram incorporados como 
elementos das ações de saúde: Registro demográfico, possibilitando 
conhecer a composição e os fatos vitais de importância da população; A 
introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico e; A 
fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa. 
 
 
 
 
 12 
Na assistência à saúde da população, havia as opões em 
caráterprivado (particular por procura direta) ou em caráter de assistência 
social, exercidos principalmente pelas Santas Casas de Misericórdia que 
abrigavam os considerados indigentes, sem condições para pagar por 
assistência médica. A assistência hospitalar pública apenas abrigava e 
isolava os portadores de psicoses (manicômios), hanseníase(leprosários) e 
tuberculose (sanatórios) no sentido de retira-los do meio populacional. 
As primeiras santas casas criadas pela religião católica atendiam em 
caráter de caridade com princípio revestido da ação de solidariedade e 
caridade cristãs, surgiram logo após o descobrimento do Brasil, precedendo 
a própria organização jurídica do Estado brasileiro, criado pela Constituição 
Imperial de 25 de março de 1824 e foram se ampliando em todo o Brasil a 
partir daí. 
 
De 1920 a 1955 
 
Em 1920, Carlos Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz, reestruturou o 
Departamento Nacional de Saúde, então ligado ao Ministério da Justiça e 
introduziu a propaganda e a educação sanitária na técnica rotineira de ação, 
inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz que era puramente fiscal 
e policial. Criaram-se órgãos especializados na luta contra a tuberculose, a 
lepra e as doenças venéreas. 
Enquanto a sociedade brasileira esteve dominada por uma economia 
agroexportadora, na monocultura cafeeira, o que se exigia do sistema de 
saúde era, sobretudo, uma política de saneamento destinado aos espaços 
de circulação das mercadorias exportáveis e a erradicação ou controle das 
doenças que poderiam prejudicar a exportação. Expandiram-se as atividades 
de saneamento para outros estados, além do Rio de Janeiro e criou-se a 
Escola de Enfermagem Anna Nery. 
 
 13 
Tal processo foi acompanhado de uma urbanização crescente, e da 
utilização de imigrantes, especialmente europeus (italianos, portugueses), 
como mão de obra, visto que os mesmos já possuíam grande experiência 
neste setor, que já era muito desenvolvido na Europa. 
Os operários na época não tinham quaisquer garantias trabalhistas, 
tais como: férias, jornada de trabalho definida, pensão ou aposentadoria. Os 
imigrantes, especialmente os italianos traziam consigo a história do 
movimento operário na Europa e dos direitos trabalhistas que já tinham sido 
conquistados pelos trabalhadores europeus, e desta forma procurou 
mobilizar e organizar a classe operária no Brasil na luta pela conquista dos 
seus direitos. 
 
 
Fonte imagem:saneamentobasico.com.br 
 
Essa pressão ao governo com mobilização popular, aliada à 
necessidade de desenvolvimento focado na economia do país (o 
escoamento da produção agrícola para exportação) fez com que surgisse a 
primeira assistência previdenciária em 1923,criada por Elói Chaves, 
 
 14 
chamada Caixa de Aposentadoria e Pensão (CAP).A lei beneficiava os 
empregados de empresas ferroviárias, que mais tarde, em 1926 estende-se 
aos portuários marítimos.A esses trabalhadores que contribuíam com os 
CAPs eram garantidos aposentadoria, pensão e assistência médica. O 
Estado não participava propriamente do custeio das Caixas, que de acordo 
com o determinado, eram mantidas por empregados das empresas (3% dos 
respectivos vencimentos); empresas (1% da renda bruta); e consumidores 
dos serviços das mesmas. 
 
 
Fonte imagem:cccrj.com.br 
 
Em 1930 Getúlio Vargas torna-se presidente da república em meio a 
uma crise econômica gerada pela quebra da bolsa de Nova Iorque (em 
1929), e faz o café desvalorizar no mercado internacional diminuindo assim o 
trabalho agrícola iminente na época.A crise fez com que populações 
migrassem para regiões onde havia indústrias, aumentando número de 
trabalhadores assalariados.Essa migração aumentou desequilíbrios 
regionais, com grandes êxodos rurais, e a proliferação das favelas nestes 
 
 15 
grandes centros.O resultante da mudança fez com que diminuíssem as 
oligarquias agrícolas, tornando a industrialização o foco do poder econômico. 
Em 1933, Getúlio Vargas cria o primeiro Instituto de Aposentadoria e 
Pensões dos Marítimos (IAPM), que posteriormente substitui os CAP por 
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) e beneficiava também os 
trabalhadores de comercio, transportes e cargas, bancários e funcionários 
públicos. Esses trabalhadores tiveram direito a aposentadoria, pensão e 
assistência médica por meio do IAP que contribuía. Aqueles que não haviam 
contribuições por serem trabalhadores específicos das áreas de contribuição 
dos IAPs, assistência à saúde somente era fornecida de forma privada ou 
por caridade. A saúde pública existente era direcionada somente para 
campanhas para combate às doenças e saneamento. 
A era Vargas também foi marcada pela criação de vários Ministérios e 
Leis, como do Ministério do Trabalho (1930), Consolidação das Leis 
Trabalhistas (1939), Ministério da Educação e Saúde, que posteriormente 
foram individualizados e surge o Ministério da Saúde (1953) objetivando 
controlar doenças de massas como endemias e epidemias do país por meio 
da educação em saúde. 
 
 
 16 
Fonte imagem:todamateria.com.br 
 
Nessa era de crescimento urbano, industrialização e a necessidade de 
emprego para a população, os recursos dos IAPs foram utilizados para 
financiar outros setores, por vezes a fundo perdido, para indústrias 
multinacionais se instalarem, por exemplo. Com o tempo, a escassez de 
recursos financeiros destinados à saúde, previdência e pensões, associado à 
pulverização destes recursos entre diversos órgãos e setores, criou crise 
financeira, aumentando a rigidez no critério de benefícios e diminuição de 
valores concedidos dos assegurados. 
Vale ressaltar que emnível mundial ocorria a 2ª guerra, fazendo com 
que Getúlio Vargas se aliasse aos Estados Unidos. Nessa época,a ideologia 
do Presidente se atrelava à germânica, como na crença da pureza de 
raças(em que o país miscigenado era considerado país de pessoas 
cansadas e doentes), mas mantinha o comércio dependente dos Estados 
Unidos que investiam financeiramente em diversos setores como a produção 
de borracha e o SESP (Serviço Especial de Saúde Pública) que investia na 
pesquisa e combate de epidemias da Amazônia. 
Essa aliança aos EUA influenciou o Brasil em um modelo norte 
americano de saúde, cujo foco era na assistência individualizada, privatista, 
hospitalocêntrica e especializada, com novas tecnologias farmacêuticas e de 
diagnóstico, desenvolvida a partir do esforço da guerra. Com isso, o Brasil 
era induzido a absorver as tecnologias criadas na guerra e muitos produtos 
da indústria farmacêutica americana, com eficácia questionável e não 
aprovados nas normas dos EUA. 
 
1956 a 1967 
 
O período foi marcado por aumento significativo da industrialização e 
da urbanização, o Ministério da Saúde mantido com poucos recursos, 
 
 17 
apenas para campanhas no combate as epidemias, associado à crise 
econômica, agitação e instabilidade política desencadearam a insatisfação 
popular incontrolada. 
A maioria da burguesia defendia a internacionalização da economia e 
das finanças brasileiras, dificultado pela proposta populista de fortalecimento 
das empresas estatais e de economia mista do governo João Goulart. Havia 
ainda, preocupação crescente em relação à proliferação do comunismo e do 
socialismo, e que punham em risco os interesses e a hegemonia do 
capitalismo, especialmente do americano nesta região, era o período da 
chamada guerra fria. 
 
 
Fonte imagem:gazetaonline.com.br 
 
Diante destes fatos as forças armadas brasileiras articularam e 
executaram o golpe de estado em 31 de março de 1964, e instalaram um 
regime militar, com o aval dos Estados Unidos, originando um período de 
 
 18 
ditadura, de caráter repressivo, onde utilizar-se de forças policiais, do 
exército e dos atos de exceção para imposição de medidas. 
Diante deste quadro, o regime instituído procurou atuar por meio da 
formulação de algumas políticas sociais, na busca de uma legitimação do 
governo perante a população. Visto que os IAPs eram limitados a 
determinadas categorias profissionais mais mobilizadas e organizadas 
política e economicamente, o governo militar procura garantir para todos os 
trabalhadores urbanos e os seus dependentes os benefícios da previdência 
social. 
Em 1967 ocorre a unificação dos institutos (IAPs)emInstituto Nacional 
de Previdência Social (INPS). Na medida em que todo o trabalhador urbano 
com carteira assinada era automaticamente contribuinte e beneficiário do 
novo sistema, foi grande o volume de recursos financeiros capitalizados. O 
fato do aumento da base de contribuição (de 4% nos IAPs para 8% no 
INPS), aliado ao fato do crescimento econômico da década de 70 (o 
chamado milagre econômico), do pequeno percentual de aposentadorias e 
pensões em relação ao total de contribuintes, fez com que o sistema 
acumulasse um grande volume de recursos financeiros. 
Para o desenvolvimento econômico, o governo militar se viu na 
obrigação de incorporar os benefícios já instituídos fora das aposentadorias e 
pensões. Esses recursos foram investidos externamente na construção da 
Usina Hidrelétrica de Itaipú, a ponte Rio-Niterói e a abertura da estrada 
Transamazônica, por exemplo.No entanto, ao aumentar substancialmente o 
número de contribuintes e consequentemente de beneficiários, o sistema 
existente ficou esgotado em atender a toda essa população. Diante deste 
fato, o governo teve que decidir onde alocar os recursos públicos para 
atender a necessidade de ampliação do sistema, tendo ao final optado por 
direcioná-los para a iniciativa privada. 
Desta forma, foram estabelecidos convênios e contratos com a maioria 
dos médicos e hospitais existentes no país, pagando-se pelos serviços 
 
 19 
produzidos (pró-labore), o que propiciou a estes grupos se capitalizarem, 
provocando um efeito cascata com o aumento no consumo de medicamentos 
e de equipamentos médico-hospitalares, formando um complexo sistema 
médico-industrial. 
Foram contratados e repassados serviços às pessoas de interesse 
político militar a fim de construir hospitais, importar tecnologias, a fundo 
perdido, para atender os contribuintes do INPS. Os serviços produzidos não 
eram fiscalizados, o pagamento do pró-labore por procedimentos declarados 
realizados pelos hospitais eram questionáveisem número e procedimentos. 
Momento ideal para os procedimentos mais rentáveis, a exemplo de 
amputação e a cesariana que eram mais bem pagos que os cuidados a uma 
ferida ou ao parto normal consecutivamente. 
 
 
Fonte imagem:Memória Fotográfica da UFRJ 
 
1968 a 1986 
 
Com todos esses investimentos na saúde e em outros setores, as 
receitas não foram infinitas. Iniciou-se a falta de verba e aumento da dívida 
 
 20 
externa. Em 1971 estendeu-se da cobertura previdenciária aos trabalhadores 
rurais, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos. 
Para controlar os custos e reduzir gastos o governo criou inúmeras 
medidas para controle e organização. Este sistema foi se tornando cada vez 
mais complexo tanto do ponto de vista administrativo quanto financeiro 
dentro da estrutura do INPS, que acabou levando a criação de uma estrutura 
própria administrativa: 
As medidas para intervir foram a Criação do Ministério da Previdência 
e Assistência Social (MPAS). Juntamente com este Ministério foi criado o 
Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS). A criação deste fundo 
proporcionou a remodelação e ampliação dos hospitais da rede privada, por 
meio de empréstimos com juros subsidiados. 
Em 1975 foi criado o Sistema Nacional de Saúde com objetivo de 
organizar os setores de saúde, financiamentos, convênios, clínicas 
(prestadoras de serviços de saúde).O documento reconhece e oficializa a 
dicotomia da questão da saúde, afirmando que a medicina curativa seria de 
competência do Ministério da Previdência, e a medicina preventiva de 
responsabilidade do Ministério da Saúde. 
Tendo como referência das recomendações internacionais,lideradas 
pela Organização Mundial da Saúde, e a necessidade de expandir cobertura 
da saúde, em 1976 o governo cria o Programa de Interiorização das Ações 
de Saúde e Saneamento (PIASS). O Programa foi criado para ampliação de 
assistência ambulatorial pública para detecção precoce de doenças 
transmissíveis com inserção da comunidade, destinando maior preocupação 
com situação de vida da população em relação à saúde. 
Em 1977, em meio a insustentável insuficiência financeira para manter 
o modelo hospitalocêntrico, individual e curativo, a crise internacional, unido 
a insatisfação popular com as condições de vida e saúde (controlada por 
meio da censura) foi criado oSIMPAS (Sistema Nacional de Previdência e 
Assistência Social),para controle de gastos,composto pelos órgãos: 
 
 
• DATAPREV para controle de contas hospitalares, ampliação dos 
setores conveniados e
• 1978 - INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da 
Previdência) para coordenar a assistência Médica.
• 1981 - Criação do CONASP (Consultivo de Administração da Saúde 
Previdenciária) para reduzir custos.
Porém o esforço não foi suficiente, a população com baixos salários, 
contidos pela política econômica e pela repressão, passou a conviver com o 
desemprego e as suas graves consequências sociais, como aumento da 
marginalidade, das favelas, da mortalidade in
 
 
Marcos da reforma sanitária brasileira
 
21 
DATAPREV para controle de contas hospitalares, ampliação dos 
setores conveniados e normalizações do funcionamento de setores.
INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da 
para coordenar a assistência Médica. 
Criação do CONASP (Consultivo de Administração da Saúde 
Previdenciária) parareduzir custos. 
Porém o esforço não foi suficiente, a população com baixos salários, 
contidos pela política econômica e pela repressão, passou a conviver com o 
desemprego e as suas graves consequências sociais, como aumento da 
marginalidade, das favelas, da mortalidade infantil. 
Fonte imagem:EBC.com.br 
a reforma sanitária brasileira 
DATAPREV para controle de contas hospitalares, ampliação dos 
normalizações do funcionamento de setores. 
INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da 
Criação do CONASP (Consultivo de Administração da Saúde 
Porém o esforço não foi suficiente, a população com baixos salários, 
contidos pela política econômica e pela repressão, passou a conviver com o 
desemprego e as suas graves consequências sociais, como aumento da 
 
 
 
Algumas intervenções em
reforma sanitária no Brasil. 
efetivação da reforma sanitária brasileira: 
 
Em 1978 ocorreu a
debate o conceito de saúde: “estado de completo bem
social” e propõem um pacto em que o Brasil participa
o ano 2000”. O entendimento limitado de saúde enquanto ausência de 
doença ou apenas como assistência médica 
por um mais amplo que
alimentação, habitação, educação, renda, ambiente, trabalho, transporte, 
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de 
saúde. 
Constituição 
Federal (1988)
Leis Orgânicas 
8080 e 1842 
(1990)
22 
Algumas intervenções em nível mundial foram importantes para a 
reforma sanitária no Brasil. São destacados cinco pon
efetivação da reforma sanitária brasileira: 
m 1978 ocorreu aConferência de Alma-Ata (Cazaquistão), 
debate o conceito de saúde: “estado de completo bem-estar físico, mental e 
um pacto em que o Brasil participa “Saúd
entendimento limitado de saúde enquanto ausência de 
ou apenas como assistência médica é progressivamente substituído 
por um mais amplo que adefine como resultante das condições de 
alimentação, habitação, educação, renda, ambiente, trabalho, transporte, 
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de 
Reforma 
sanitária 
Brasileira
Conferência de 
Alma-Ata
(1978)
Carta de Ottawa 
(1986)
8ª Conferência 
Nacional de Saúde 
(1986)
Constituição 
Federal (1988)
foram importantes para a 
pontos-chave para 
 
(Cazaquistão), com 
tar físico, mental e 
“Saúde para todos até 
entendimento limitado de saúde enquanto ausência de 
é progressivamente substituído 
adefine como resultante das condições de 
alimentação, habitação, educação, renda, ambiente, trabalho, transporte, 
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de 
Carta de Ottawa 
(1986)
 
 23 
A Conferência realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) 
expressava a “necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos 
os que trabalham nos campos da saúde, do desenvolvimento e da 
comunidade mundial para promover a saúde de todos os povos do mundo”. 
Saúde na essência básica, com ênfase na atenção primária, não apenas 
curativa (quando a doença já estava instalada) como estava priorizando o 
Brasil, por exemplo. 
 
 
Fonte imagem: opas.org.br 
 
A conferência foi inspiradora em todos os sentidos, pela sua grande 
abrangência, especialmente para países que não tinham nada. Para fazer 
atenção primária à saúde, foi necessário formar profissionais e equipes para 
tal. Nas universidades, os currículos de atenção primária à saúde 
começaram a se desenvolver, baseados na necessidade local e 
determinantes que influenciam no processo saúde e doença. Os 
departamentos de Medicina Social dessas universidades começaram a 
desenvolver conteúdos relativos às ações de atendimento primário à saúde e 
 
 
de formação dos alunos que passaram a interagir com a realidade das 
comunidades. 
No Brasil, houve repercussão com a criação do
1980 (Programa Nacional de Serviços Básico de Saúde).
implantação dasAISs (Ações Integradas em Saúde) com foco em 
necessidades prioritárias da população.
enfraquecimento da ditadura 
aumentava o empobrecimento da população, 
das doenças de massa, 
comunidades os movimentos populares na saúde
contribuíram para a redemocratização
Os movimentos populares de saúde foram essenciais para
sanitária brasileira, expressando a indignação da sociedade frente às 
desigualdades, a mercantilização da saúde, na dimensão democrática 
participativa,destacamos o processo constituinte de ampla e plural 
participação, marca indelével da construç
24 
de formação dos alunos que passaram a interagir com a realidade das 
No Brasil, houve repercussão com a criação do PREV
(Programa Nacional de Serviços Básico de Saúde). Em 1983 ocorreu a 
(Ações Integradas em Saúde) com foco em 
necessidades prioritárias da população.Ao mesmo tempo
enfraquecimento da ditadura por não conseguir sustentar o modelo que 
o empobrecimento da população, da inflação eda
, foram se organizando em meio às periferias e 
ovimentos populares na saúde, que posteriormente 
redemocratização do país. 
Os movimentos populares de saúde foram essenciais para
expressando a indignação da sociedade frente às 
esigualdades, a mercantilização da saúde, na dimensão democrática 
participativa,destacamos o processo constituinte de ampla e plural 
participação, marca indelével da construção do direito à saúde no Brasil.
Fonte imagem:EBC.com.br 
 
de formação dos alunos que passaram a interagir com a realidade das 
PREV-SAÚDE em 
Em 1983 ocorreu a 
(Ações Integradas em Saúde) com foco em atender as 
Ao mesmo tempo que ocorria o 
o conseguir sustentar o modelo que 
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foram se organizando em meio às periferias e 
, que posteriormente 
Os movimentos populares de saúde foram essenciais para a reforma 
expressando a indignação da sociedade frente às 
esigualdades, a mercantilização da saúde, na dimensão democrática 
participativa,destacamos o processo constituinte de ampla e plural 
ão do direito à saúde no Brasil. 
 
 
 25 
Em meio ao fim da ditadura, em 1986 ocorreu a I Conferência Mundial 
de Promoção à Saúde, mais conhecida como Carta de Ottawa, realizada no 
Canadá. A conferência veio afirmar e fortalecer que o caminho era o 
investimento na atenção primária. Contemplou 5 campos de ação: 
implementação de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes 
saudáveis, capacitação da comunidade, desenvolvimento de habilidades 
individuais e coletivas e reorientação de serviços de saúde. Enfatizando que 
as condições e requisitos para a saúde são a paz, a educação, a moradia, a 
alimentação, a renda, um ecossistema estável, justiça social e a equidade. 
 Com o fim da ditadura militar, em 1986 o principal marco para a 
reforma sanitária brasileira foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde, 
reunindo interessados de todo o Brasil em Brasília a fim de redefinir o 
modelo de saúde, que garantisse o acesso a todos como direito, buscando 
controle social, econômico e ambiental, onde debateram a reformulação do 
sistema nacional de saúde com o início da criação do Sistema Universal 
Descentralizado de Saúde (SUDS). 
O objetivo da 8ª, já na nova república, foi resultar a criação de um 
Sistema Único de Saúde que efetivamente represente a construção de um 
novo arcabouço institucional, separando totalmente saúde de previdência, 
por meio de uma ampla Reforma Sanitária. A discussão ocorreu no sentido 
de fazer valer o que foi orientado na Conferência de Alma-Ata e modelos 
internacionais de saúde universal. 
Esse amplo processo de mobilização social, articulou representação de 
diferentes segmentos e estimulou a realização de pré-conferências nos 
estados, permitiu a reunião de cerca de quatro mil pessoas em Brasília, dos 
quais mil eram delegados com direito a voz e voto, para discutir os rumos do 
sistema de saúde. Suas propostas foram contempladas tanto no texto da 
Constituição Federal de 1988 como nas Leis Orgânicas da Saúde, nº. 
8.080/90 de 19 de setembro de 1990 e nº. 8.142/90 de 28de dezembro de 
1990. 
 
 
Síntese da linha do tempo dos sistemas de saúde no Brasil. 
Referências: 
AGUIAR ZN (Org) SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafios. 2ed. São Paulo: 
Martinari, 2015. 
BERTOLLI FILHO C. História da Saúde Pública no Brasil
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. As Conferências Nacionais de 
Saúde: Evolução e perspectivas./ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. 
CONASS, 2009. 
COSTA, NR. Políticas públicas : justiça distributiva e inovação. São Paulo :Hucitec, 1998. 
178 p. 
CAMPOS FE, OLIVEIRA M; TONON LM. 
Horizonte :Coopmed, 1998.102 p. (Cadernos de saúde, 2).
CAMPOS FE, OLIVEIRA M, TONON LM. 
:Coopmed, 1998.161 p.(Cadernos de saúde, 3) 
ESCOREL S. A reviravolta na saúde: 
Janeiro: Fiocruz, 1998. 
ESCOREL S, BLOCH RA. As conferências nacionais e saúde na construção do SUS. In: 
LIMA NT. et al. (Org.). Saúde e democracia
Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz
LIMA ALGS, PINTO MMS. Fontes para a história dos 50 anos do Ministério da Saúde, v. 
10, n. 3, p. 1037-1051, set./dez. 2003. 
Janeiro. 
MACHADO CV et al. Políticas de Saúde no Brasil: continuidades e mudanças
Fiocruz, 2012. 
 
1923
• CAP – CAIXA DE APOSENTADORIA E PENSÃO
1933
• IAP – INSTITUTO DE APOSENTADORIA E PENSÃO
1967
• INPS – INSITUTO NACIONAL DA PREVIDÊNCIA 
SOCIAL
1978
• INAMPS – INSTITUTO NACIONAL DA ASSISTÊNCIA 
MÉDICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
1986
• SUDS – SISTEMA UNIFICADO DESCENTRALIZADO 
DE SAÚDE
1990
• SUS – SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
26 
Síntese da linha do tempo dos sistemas de saúde no Brasil. 
) SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafios. 2ed. São Paulo: 
História da Saúde Pública no Brasil. 4ed. Ática. São Paulo, 2008.
Conselho Nacional de Secretários de Saúde. As Conferências Nacionais de 
de: Evolução e perspectivas./ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. 
COSTA, NR. Políticas públicas : justiça distributiva e inovação. São Paulo :Hucitec, 1998. 
CAMPOS FE, OLIVEIRA M; TONON LM. Planejamento e gestão em saúde
8.102 p. (Cadernos de saúde, 2). 
CAMPOS FE, OLIVEIRA M, TONON LM. Legislação Básica do SUS. Belo Horizonte 
:Coopmed, 1998.161 p.(Cadernos de saúde, 3) . 
A reviravolta na saúde: origem e articulação do movimento
ESCOREL S, BLOCH RA. As conferências nacionais e saúde na construção do SUS. In: 
Saúde e democracia: história e perspectivas do Sistema Único de 
Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2005. p. 83-119. 
LIMA ALGS, PINTO MMS. Fontes para a história dos 50 anos do Ministério da Saúde, v. 
1051, set./dez. 2003. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, Rio de 
Políticas de Saúde no Brasil: continuidades e mudanças
CAIXA DE APOSENTADORIA E PENSÃO
INSTITUTO DE APOSENTADORIA E PENSÃO
INSITUTO NACIONAL DA PREVIDÊNCIA 
INSTITUTO NACIONAL DA ASSISTÊNCIA 
MÉDICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
SISTEMA UNIFICADO DESCENTRALIZADO 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Síntese da linha do tempo dos sistemas de saúde no Brasil. 
 
) SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafios. 2ed. São Paulo: 
São Paulo, 2008. 
Conselho Nacional de Secretários de Saúde. As Conferências Nacionais de 
de: Evolução e perspectivas./ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília: 
COSTA, NR. Políticas públicas : justiça distributiva e inovação. São Paulo :Hucitec, 1998. 
saúde. Belo 
. Belo Horizonte 
origem e articulação do movimento sanitário. Rio de 
ESCOREL S, BLOCH RA. As conferências nacionais e saúde na construção do SUS. In: 
: história e perspectivas do Sistema Único de 
LIMA ALGS, PINTO MMS. Fontes para a história dos 50 anos do Ministério da Saúde, v. 
. Manguinhos, Rio de 
Políticas de Saúde no Brasil: continuidades e mudanças. Editora 
CAIXA DE APOSENTADORIA E PENSÃO
INSTITUTO DE APOSENTADORIA E PENSÃO
INSITUTO NACIONAL DA PREVIDÊNCIA 
INSTITUTO NACIONAL DA ASSISTÊNCIA 
SISTEMA UNIFICADO DESCENTRALIZADO 
 
 27 
 
CAPÍTULO 2 
 
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 
 
 
Surgimento do Sistema Único de Saúde – SUS 
 
A reforma sanitária compreende um período de acontecimentos 
relevantes que deu origem ao Sistema Único de Saúde. Pode-se dizer que 
fizeram parte dos marcos significativo para a reforma: a Conferência de 
Alma-Ata e Carta de Ottawa foram os pontos de partida, o marco chave foi 
a 8ª Conferência Nacional de Saúde que moldou o modelo de sistema com 
princípios e que garantisse acesso universal a todos os cidadãos, também a 
Constituição Federal de 1988 que efetiva a saúdecomo “direitos de todos e 
dever do Estado”, garantindo os princípios estabelecidos na Oitava CNS. A 
efetivação do SUS, a criação legal, ocorreu com as Leis Orgânicas da 
Saúde, 8.080 e 8142. 
 
Fonte imagem: Ministério da Saúde, 2000 
 
 
 28 
Assim, com os ideários de pensamento atualizado da amplitude do 
conceito de saúde, atrelado a clareza de determinantes do processo saúde 
doença que prioriza ações de promoção da saúde e prevenção dos 
agravos,na 8ª CNS foi discutido o novo modelo de sistema de saúde a ser 
implantado no Brasil. O resultante foi um conjunto de princípios doutrinários 
(Universalização, Equidade e Integralidade) e organizativos 
(Descentralização, Regionalização/Hierarquização eControle Social), a 
serem postos em prática e com responsabilidade nas três esferas de 
governo: Federal, Estadual e Municipal.Com administração direta e indireta e 
das fundações mantidas pelo Poder Público com participação em caráter 
complementar da iniciativa privada, garantindo assim, o direito à saúde. 
O termo saúde coletiva se origina desse movimento sanitário de 
caráter social que criou o SUS. Esse movimento é composto da integração 
das ciências sociais com as políticas de saúde pública. A saúde coletiva 
identifica variáveis e determinantesvivenciados pela população, de cunho 
social, econômico, ambiental e da saúde que influenciam no processo saúde 
e doença. Com aproximação da realidade, em ações Intersetoriais que 
destinam ações de saúde diante das vulnerabilidades. 
 
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS: 
 
Universalidade 
 
A Saúde é reconhecida como um 
direito fundamental de todo cidadão, 
cabendo ao Estado garantir as 
condições indispensáveis ao seu pleno 
exercício e o acesso a atenção e 
assistência à saúde. 
Em todo território Nacional “a 
 
 29 
saúde é um direito de todos e um dever do estado”.Estado deve garantir o 
acesso às ações e serviços de saúde às pessoas, independentemente de 
sexo, raça, renda, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais, 
sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. Dessa forma, a 
universalidade é traduzida como garantia, por meio do Estado, o acesso aos 
serviços de saúde. 
Esse direito é garantido efetivamente por meio da Lei Magna, a 
Constituição Federal de 1988 que refere noArt. 196. “A saúde é direito de 
todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas 
que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e 
recuperação”. 
 
Equidade 
 
Fonte:googleimagens.com 
 
Todos devem ter igualdade de oportunidade em usar o sistema de 
saúde, no entanto, o Brasil contém disparidades sociais e regionais em que 
as necessidades de saúde variam. 
Para isso, o princípio da equidade vem para garantir a justiça social 
porque busca diminuir desigualdades,Isto significa tratar desigualmente os 
 
 30 
desiguais de forma desigual, priorizando quem mais necessita, investindo 
mais onde a carência é maior. Sendo assim, as redes de serviços devem 
estruturar-se às necessidades reais da população a ser atendida. A equidade 
é aplicada no planejamento, nas políticas de atenção, nos processos 
decisórios e ações de saúde em todos os níveis de atenção. 
 
Integralidade 
 
 
 
O princípio traduz-se na garantia do fornecimento de um conjunto 
articulado e contínuo de ações e serviços de promoção à saúde, preventivos, 
curativos e de reabilitação, de forma individual e/ou coletivo,exigidos em 
cada caso para todos os níveis de complexidade de assistência. Os três 
níveis de governo são responsáveis por organizar a assistência integral à 
saúde dentro de suas respectivas responsabilidades e estrutura existente. 
Dessa forma, pode-se sistematizar a integralidade em duas esferas: 
integralidade no sentido do ser humano biopsicossocial, tendo em vista o 
usuário como um todo, inserido e sendo influenciado pelo seu meio sistêmico 
(social, ambiental, econômico, cultural e político)em nível físico, mental e 
espiritual. De outra parte, a integralidade vista nos níveis de 
atenção/necessidades (organização de práticas), garantindo assistência em 
todo o processo de saúde doença (promoção, prevenção, recuperação e 
 
 31 
reabilitação), exigindo a horizontalização dos programas anteriormente 
verticais. 
A ‘integralidade’ como definição legal e institucional é concebida como 
um conjunto articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e 
curativos, individuais e coletivos, em cada caso, nos níveis de complexidade 
do sistema. Ao ser constituído como ato em saúde nas vivências cotidianas 
dos sujeitos nos serviços de saúde, tem germinado experiências que 
produzem transformações na vida das pessoas, cujas práticas eficazes 
de cuidado em saúde superam os modelos idealizados para sua realização. 
 
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS: 
 
Os princípios organizativos foram definidos, no sentido de tornar 
factíveis os princípios doutrinários: 
 
Descentralização 
 
A descentralização político administrativa surge no primeiro momento 
para objetivar a municipalização de responsabilidades, para assistência 
básica mais próxima aos cidadãos. São os Municípios que estão próximos da 
realidade populacional, que devem ter capacidade de identificare priorizar 
problemas, identificar necessidades, recursos existentes para melhor 
planejar, programar e desenvolver ações diretas aos usuários, minimamente 
na atenção primária ou atenção básica. A descentralização vai ao encontro 
dos princípios da integralidade, universalidade e equidade. 
Dessa forma, os serviços devem ser oferecidos conforme a 
necessidade populacional e a capacidade de assistência de saúde de cada 
município. Essa inversão de responsabilidades trouxe autonomia e grandes 
 
 
desafios aos Municípios que anteriormente fi
organização política, administrativa e financeira. 
 
Participação Popular
 
O Sistema Único de Saúde foi uma conquista da população, dessa 
forma, para garantir a qualidade e controle deve ter participação contínua e 
empoderada em todo o processo de atuação do sistema. 
Controle Social, os usuários devem participar da gestão do SUS
das Conferências de Saúde
municipal, estadual e federal. 
Com o controle social no SUS
permanentemente se todos os princípios estão sendo postos em prática e a 
eficácia da gestão e prestação de serviços de saúde nos diversos níveis 
governamentais. A participação popular será mais bem disc
posteriormente na Lei 8142 de 28 de dezembro de 1991.
Estadual
Regionais
Municípios
32 
desafios aos Municípios que anteriormente ficavam em última instância de
, administrativa e financeira. 
Participação Popular 
O Sistema Único de Saúde foi uma conquista da população, dessa 
forma, para garantir a qualidade e controle deve ter participação contínua e 
mpoderada em todo o processo de atuação do sistema. 
os usuários devem participar da gestão do SUS
Conferências de Saúde e Conselhos de Saúde, em todas as esferas
municipal, estadual e federal. 
ocial no SUS a população monitora, fiscaliza e avalia 
permanentemente se todos os princípios estão sendo postos em prática e a 
eficácia da gestão e prestação de serviços de saúde nos diversos níveis 
governamentais. A participação popular será mais bem disc
Lei 8142 de 28 de dezembro de 1991. 
Federal
Estadual
Regionais
Municípios
cavam em última instância de 
 
O Sistema Único de Saúde foi uma conquista da população, dessa 
forma, para garantir a qualidade e controle deve ter participação contínua e 
mpoderada em todo o processo de atuação do sistema. Como forma de 
os usuários devem participar da gestão do SUS, por meio 
em todas as esferas: 
a população monitora, fiscaliza e avalia 
permanentemente se todos os princípios estão sendo postos em prática e a 
eficácia da gestão e prestação de serviços de saúde nos diversos níveis 
governamentais. A participação popular será mais bem discutida 
 
 33 
 
Regionalização e Hierarquização 
 
A regionalização dos serviços de saúde deve ser organizada em 
níveis de complexidade e responsabilidades, conforme a capacidade de cada 
instância de governo, diante das demandas e necessidades regionais.A 
Regionalização ocorre na distribuição espacial dos serviços de modo a 
atender ás necessidades da população de forma integral em diferentes níveis 
de complexidade, priorizando ações de nível secundário e terciário em nível 
Regional e Estadual e integral para os Municípios. 
A Hierarquização que visa estabelecer um fluxo ordenado dos 
usuários no sistema de saúde e a organização da rede por meio das 
regionais de saúde, com base na alocação de arsenal assistencial e 
tecnológico diferenciado (maior complexidade), de acordo com o nível de 
atenção no qual o equipamento de saúde está inserido. Quanto mais bem 
estruturado for o fluxo de referência e contra referência entre os serviços 
de saúde, melhor a eficiência e eficácia dos mesmos. 
A regionalização e hierarquização buscam alcançar os princípios da 
integralidade, descentralização, universalização e equidade.Destaca-se a 
integralidade, que para cumpri-la, na assistência de média e alta 
complexidade, os Municípios com menos estrutura dependem da região 
organizacional em que outros Municípios de maior estrutura possuem, dessa 
 
 34 
forma tornam-se referência. Na Figura abaixo, o mapa representa um 
exemplo de regionalização e hierarquização do Estado do Paraná, divido em 
4 macrorregionais e 22 regionais de saúde organizadas para atender as 
demandas de serviços de média e alta complexidade. 
 
 
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, 2018. 
 
Em 1988 foi publicada a nova Constituição Federal, que garante os 
direitos e deveres básicos aos cidadãos e garante efetivamente “a saúde é 
um direito de todos e dever do estado”, transcrevendona Sessão II, em seus 
artigos 196 a 200, referentes à saúde, os princípios resultantes da 8ª CNS: 
 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público 
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua 
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de 
direito privado. 
 
 
 35 
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e 
hierarquizada e 
constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: 
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos 
serviços assistenciais; 
III - participação da comunidade. 
 
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. 
§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de 
saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo 
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. 
§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições 
privadas 
com fins lucrativos. 
§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeirosna 
assistência à 
saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. 
§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos 
e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, 
processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de 
comercialização. 
 
Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: 
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e 
participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e 
outros insumos; 
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do 
trabalhador; 
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; 
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; 
V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; 
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como 
bebidas e águas para consumo humano; 
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de 
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; 
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. 
 
 
Lei 8080 de 19 de Setembro de 1990 
 
A Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº8.080, publicada em 19/09/90 cria e 
efetiva a regulamentação do SUS, orientando a organização do Sistema no 
território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou 
conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou 
jurídicas de direito Público ou privado.Dispõe sobre as condições para a 
promoção, proteção e recuperação da saúde. 
 
 36 
Discorre também sobre as Competências Intergovernamentais, na 
esfera Federal como gestor o Ministério da Saúde, Estadual como Gestor as 
Secretarias Estaduais de Saúde e Municipais como gestor as Secretarias 
Municipais de saúde: 
 
• Nacional (MS): coordenar, normatizar, formular e avaliar políticas 
nacionais de saúde;Definir normas e mecanismos de controle, 
fiscalização e avaliação, estabelecer critérios e parâmetros de controle 
de qualidade; Repasse financeiro para aplicações/ transferências de 
recursos arrecadados. 
• Estados (SES): promover a descentralização para os Municípios, 
acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas e regulação 
do SUS;Prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios de forma 
supletiva;Participar de formulação de políticas de assistência a saúde, 
fiscalizar e identificar referências (alta complexidade);Acompanhar, 
avaliar e divulgar os indicadores de morbidade e mortalidade no âmbito 
da unidade federada. 
• Municípios (SMS):Formulação de política Municipal de saúde, 
planejamento, regulação complementar, controle e prestação de 
serviços de saúde, diretos ou por meio de referências intermunicipais; 
Viabilizar o desenvolvimento de ações de saúde por intermédio de 
unidades estatais (próprias, estaduais ou federais) ou privadas 
(contratadas ou conveniadas, com prioridade para as entidades 
filantrópicas). 
 
 37 
 
 
Lei 8142 de 28 de Dezembro de 1990: 
 
A Lei Orgânica 8.142/90 existe separadamente da 8080/90 pelo seu 
conteúdo ser vetado pelo presidente em exercício – Fernando Collor de 
Melo. A Lei dispõe sobre a participação popular ou controle socialno Sistema 
Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de 
recursos financeirosda saúde (financiamento é abordado no Capítulo IV). 
A lei estipula que o controle social e a participação popular ocorrerão 
formalmente por meio dos conselhos e conferencias de saúde.O Conselho 
de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto 
por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de 
saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da 
execução da política de saúde, inclusive nos aspectos econômicos e 
financeiros (Lei Federal nº 8142/90). 
Mais do que princípio legal, o controle social é condição indispensável 
para a plena qualificação do SUS, pois fortalece e qualifica a gestão para 
eficácia e efetividade de ações e serviços de saúde por meio do 
acompanhamento contínuo dos investimentos em ações, serviços e 
 
 38 
financiamento da saúde. Os objetivos são garantir transparência no uso dos 
recursos públicos;Garantir o funcionamento do SUS de acordo com o que 
define a legislação (interesses da população usuária);Garantir o direito de 
acesso e a qualidade na atenção à saúde da população;Apropriação da 
tecnologia de funcionamento dos serviços e do poder público. 
Conferências de Saúde:São espaços instituídos destinados a 
analisar os avanços e retrocessos do SUS e propor as diretrizes para a 
formulação das políticas de saúde nos níveis correspondentes. Fiscaliza e 
Avalia, prevê metas e objetivos para a próxima gestão, por meio de ações de 
saúde conforme as problemáticas e recursosexistentes tanto físico, humano 
quanto financeiro e ações à desenvolver. Realizada no mínimo a cada 2 
anos e no máximo a cada 4 anos. 
Conselhos de Saúde: São órgãos permanentes e deliberativos com 
representantes do governo, dos prestadores de serviço, profissionais de 
saúde e usuários. Atuam na formulação e decisão de estratégias e no 
controle da execução da política de saúde, inclusive nos aspectos 
econômicos e financeiros. Devem ser realizados 
mensalmente.Composição:50% de usuários, 25% de trabalhadores da 
saúde, 25% de gestores (12,5%) e prestadores de serviços (12,5%). 
O SUS sofreu as consequências da instabilidade institucional e da 
desarticulação organizacional na arena decisória federal que aparecem para 
o senso comum como escassez de financiamento. Independente da origem 
política e da respeitabilidade, os Ministros da saúde, como será abordado na 
sequencia, foram transformados em reféns das indefinições que sempre 
colocaram à deriva as instituições de saúde do Brasil. 
O exemplo da dificuldade de se implantar o SUS a partir de 1990, em 
1992 realizou-se a 9ª CNS, cujo tema foi a Municipalização da saúde, 
condição indispensável para a efetiva implantação do SUS, buscando a 
descentralização para que assim possa agir em Saúde a partir das suas 
 
 39 
realidades, pois muitos Municípios estavam resistentes em aplicar as Leis 
somadas à inexperiência de um sistema complexo e novo a ser iniciado. 
 
Referências: 
AGUIAR ZN (Org) SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafios. 2ed. São Paulo: 
Martinari, 2015. 
BERTOLLI FILHO C. História da Saúde Pública no Brasil. 4ed. Ática. São Paulo, 2008. 
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. As Conferências Nacionais de 
Saúde: Evolução e perspectivas./ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília: 
CONASS, 2009. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Diário 
Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): Senado; 1988. Título VIII. Da 
Ordem Social. Capítulo II. Seção II. DaSaúde. Arts 196-200. 
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Coletânea de normas para o controle social no 
Sistema Único de Saúde. Conselho Nacional de Saúde. 2ª ed. Brasília (DF); 2006. 
BRASIL. Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da 
comunidade na gestão do SUS e transferências intergovernamentais de recursos 
financeiros na área da saúde e dá outras providências. 1990. 
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, Lei Orgânica da Saúde (LOS). Dispõe 
sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e 
o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 1990. 
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Lista de Conselheiros - 09 de fevereiro de 2009. 
Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/>.40 
 
CAPÍTULO 3 
 
ESTRUTURAÇÃO DO SUS – NORMAS E PACTOS 
 
 
Para efetivamente colocar em prática o novo sistema, com objetivo de 
normatizar e efetivar os ideários de maneira clara e fazer com que cada 
instância assumisse suas responsabilidades foram criadas as Normas 
Operacionais Básicas (NOB) na década de 1990, sequenciadas pelas 
Normas de Assistência à Saúde (NOAS) a partir do ano de 2000. 
 
NOB - SUS 01/91 
 
Redefiniu toda a lógica de financiamento e consequentemente, de 
organização do SUS, instituindo um sistema de pagamento por produção de 
serviços que permanece em grande parte vigorada até os dias atuais. 
Normatizou o Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e Sistema de 
Informação Ambulatorial (SIA), para organização de pagamento por 
internamentos hospitalares (por meio de AIHs) e de procedimentos 
ambulatoriais, definindo os critérios de transferências de recursos para 
custeio e investimento financeiro. 
Estados e municípios passaram a receber do Ministério da Saúde por 
produção de serviços de saúde, com tabelas nacionais existentes para o 
pagamento dos prestadores público ou privado, impondo um modelo de 
atenção à saúde, voltado para a produção de serviços e avaliado pela 
quantidade de procedimentos executados. 
 
NOB-SUS 01/92: 
 
 Criou o CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o 
CONASEMS (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) como 
 
 41 
instâncias gestoras colegiados do SUS. Municípios, os Estados e os próprios 
órgãos do Ministério da Saúde estavam em estágios diferentes de 
transformação e construção do SUS, assim com o CONASS e CONASEMS 
o diálogo torna-se permanente, e a troca de experiências entre as instâncias 
ocorrem com encontros frequentes para o sucesso edo SUS que estava 
sendo implantado. 
Enfatizou a necessidade de descentralização das ações e serviços de 
saúde, incentivando os Municípios para assumirem suas responsabilidades 
na atenção à saúde. Grande número de Municípios foi resistente na 
implantação dos serviços, pois não havia experiência em iniciar o processo 
de forma clara. Dessa forma, a NOB 01/92 veio para enfatizar a necessidade 
de descentralização das ações e serviços de saúde. Descentralizou também 
responsabilidade aos Estados no planejamento e a distribuição das 
Autorizações de Internamento Hospitalares (AIHs) para as Secretarias 
Estaduais de Saúde. 
O NOB-SUS 01/92 também normalizou o Fundo Nacional de Saúde, 
conta bancária específica para saúde e destinada a pagamento com 
repasses financeiros, em todas as instâncias. 
 
NOB - SUS 01/93 
 
Destacou-se no movimento municipalista: “Ousadia de cumprir e fazer 
cumprir a lei”. A partir desse momento o Município que não enquadrar-se 
ficaria sem receber recursos para Saúde. Deu maior impulso a 
descentralização para os municípios (maior autonomia), imediata ou 
gradativamente com o estabelecimento de três condições de gestão para os 
Municípios: Incipiente, Parcial e Semiplena, e para os Estados: Parcial e 
Semiplena. Essas condições de gestão posteriormente foramsubstituídas na 
próxima NOB. 
 
 42 
Essa NOB também cria as Comissões IntergestoresBipartite (CIB) 
para Estados e Municípios e a Tripartite (CIT) Federal, Estadual e Municipal, 
como importante espaço de negociação, pactuação, articulação e integração 
entre gestores. 
 
NOB – SUS 01/96 
 
Estabeleceu maior autonomia e responsabilidade aos municípios, com 
transferências fundo a fundo, em que todos são, a partir daqui, gestão plena 
da Atenção Básica Ampliada ou Plena do Sistema Municipal. Assim,os 
repasses de recursos para saúde são diretamente do Fundo de Saúde 
Federal para o FS Municipal, ou seja, verbas Municipais oriundas do 
Ministério da Saúde deixam de passar pelo estado para serem repassados 
diretamente aos Municípios. Os estados passam a ser mediadores, a União 
normaliza e financia e o município gere e executa. 
Os municípiostiveram que enquadrar-se em duas formas de gestão: 
Gestão plena da atenção básica: município assume responsabilidade pela 
assistência básica (condição mínima) ou; Gestão plena do sistema 
Municipal: tem responsabilidade pela atenção integral em todos os níveis de 
assistência, tendo maior autonomia e referência de outros municípios em 
atenção secundária e terciária. Os Estados: Gestão avançada do sistema 
Estadual ou Gestão Plena do Sistema Estadual. 
Para o financiamento da Atenção Básica, instituiu-se o PAB - Piso da 
Atenção Básica, dividido em Fixo (a partir do número de 
habitantes)repassados anualmente e Variável (por blocos de ações e 
serviços) repassados mensalmente. 
Instituiu a Programação Pactuada e Integrada (PPI), onde em 
consonância com o processo de planejamento são definidas e 
quantificadas as ações de saúde para população residente em cada 
território, bem como efetuados os pactos intergestores para garantia de 
 
 43 
acesso da população aos serviços de saúde. Tem por objetivo organizar a 
rede de serviços, dando transparência aos fluxos estabelecidos e definir, a 
partir de critério e parâmetros pactuados, os limites financeiros destinados à 
assistência da população própria e das referências recebidas de outros 
municípios. 
Além disso, a NOB reorganiza a gestão dos procedimentos de média 
e alta complexidade ambulatorial, incorpora as ações de Vigilância Sanitária, 
criando o incentivo para as ações básicas de Vigilância Sanitária e às ações 
de Epidemiologia e Controle de Doenças. 
 
NOAS – SUS 2001/2002 
 
Fortaleceu a gestão do SUS, das anteriores com ampliação das ações 
básicas, com ênfase na equidade e regionalização da assistência: Integração 
entre os sistemas municipais em organizações regionais conforme as 
demandas e recursos de cada região. 
Realçou as políticas para atendimento de média e alta complexidade 
com base regionalizada, criando o Plano Diretor de Regionalização (PDR). 
Fundamenta-se na conformação de sistemas funcionais e resolutivos de 
assistência à saúde, por meio da organização dos territórios estaduais em 
regiões/microrregiões e módulos assistenciais, dando conformação de redes 
hierarquizadas de serviços, com estabelecimento de mecanismos e fluxos de 
referência e contra referência intermunicipal (regionais de saúde). 
Os objetivos do PDR são contribuir para o desenvolvimento de 
Regiões Sanitárias com maior grau de autonomia e maior resolutividade; 
integrar regiões sanitárias e regiões administrativas, contribuir para 
construção da integralidade das ações e serviços de saúde na região e, 
garantir o acesso dos cidadãos, o mais próximo possível de sua residência, a 
um conjunto de ações e serviços que sejam necessários. 
 
 44 
Uma das partes integrantes do PDR é o Plano Diretor de 
Investimentos (PDI), que visa identificar prioridades e desenvolver 
estratégias de investimento de forma a promover a equalização da oferta de 
recursos assistenciais em todos os níveis de complexidade. Na elaboração 
do PDR, um dos passos mais importantes é a definição dos conceitos-chave, 
a ser feita de acordo com a realidade de cada Estado. São eles: 
Região de Saúde: base territorial de planejamento de atenção à 
saúde, a ser definida pela Secretaria de Estado da Saúde, de acordo com as 
especificidades e estratégias de regionalização da saúde em cada Estado, 
considerando as características demográficas, socioeconômicas, sanitárias, 
epidemiológicas, oferta de serviços, entre outras. Dependendo do modelo de 
regionalização adotado, um Estado pode dividir-se em regiões e/ou 
microrregiões de saúde. 
Módulo Assistencial: é o espaço territorial que dispõe da 
resolutividade correspondente ao primeiro nível de referência, podendo ser 
constituído por um ou mais municípios, com área de abrangência mínima a 
ser estabelecida para cada Unidade Federada. 
Município-Polo de uma região ou microrregião: é aquele que de 
acordo com a definição da estratégia de regionalizaçãode cada Estado, 
apresente papel de referência para outros municípios, em qualquer nível de 
atenção. 
Microrregião de Saúde: é a unidade territorial mínima para 
qualificação na assistência à saúde, que deverá dispor de complexidade 
assistencial acima do exigido para os Módulos Assistenciais, sendo que esta 
definição deverá ser feita no âmbito estadual. 
No que diz respeito à ampliação do acesso e da qualidade da atenção 
básica, a NOAS/SUS 01/01 instituiu a Gestão Plena da Atenção Básica 
Ampliada. E define como áreas de atuação estratégicas mínimas para a 
habilitação nesta condição o controle da tuberculose, a eliminação da 
 
 45 
hanseníase, o controle da hipertensão arterial, o controle da diabetes 
mellitus, a saúde da criança, a saúde da mulher e a saúde bucal. 
 
NOAS – SUS 2006 
 
Estabelece três tipos de Pactos: Pacto da Gestão; em Defesa da Vida; em 
Defesa do SUS. 
 
1 - Pacto pela Vida: 
 
Pacto pela Vida foi constituído por um conjunto de compromissos 
sanitários, expressos em objetivos de processos e resultados e derivados da 
análise da situação de saúde do País e das prioridades foram definidas pelos 
governos federal, estaduais e municipais. Significa ação prioritária no campo 
da saúde a ser executada com foco em resultados e com a explicitação 
inequívoca dos compromissos orçamentários e financeiros para o alcance 
desses resultados: 
• 1. Implantar a política nacional da pessoa idosa; 
• 2. Redução da mortalidade por câncer de colo de útero e de mama; 
• 3. Redução da mortalidade materna e infantil; 
• 4. Fortalecer a capacidade de resposta do sistema de saúde às 
doenças emergentes e endemias (dengue, hanseníase, tuberculose, 
malária e influenza); 
• 5. Instituir a política nacional de promoção da saúde, com ênfase na 
adoção de hábitos saudáveis de vida. 
• 6. Fortalecimento da atenção primária à saúde – consolidar e qualificar 
a Estratégia da Saúde da Família. 
 
2 - Pacto em defesa do SUS 
 
 
 46 
O Pacto em Defesa do SUS envolveu ações concretas e articuladas 
pelas três instâncias federativas no sentido de reforçar o SUS como política 
de Estado, mais do que política de governos; e de defender, vigorosamente, 
os princípios basilares dessa política pública, inscritos na Constituição 
Federal. A concretização desse Pacto passa por um movimento de 
repolitização da saúde, com uma clara estratégia de mobilização social 
envolvendo o conjunto da sociedade brasileira, extrapolando os limites do 
setor e vinculada ao processo de instituição da saúde como direito de 
cidadania, tendo o financiamento público da saúde como um dos pontos 
centrais. 
 
• Dessa forma, foram estabelecidas duas prioridades: 
• 1. Implementar um projeto permanente de mobilização social: Mostrar a 
saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público 
universal garantidor desses direitos; Alcançar, no curto prazo, a 
regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, pelo Congresso 
Nacional; Garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos 
orçamentários e financeiros para a saúde; Aprovar o orçamento do 
SUS, composto pelos orçamentos das três esferas de gestão, 
explicitando o compromisso de cada uma delas. 
• 2. Elaborar e divulgar a carta dos direitos dos usuários do SUS. 
 
3 - Pacto de Gestão 
 
Tornar mais evidente as responsabilidades federal, estaduais e 
municipais, contribuindo com o fortalecimento da gestão compartilhada e 
solidária no SUS, com ênfase na Descentralização; Regionalização; 
Financiamento; Programação Pactuada eIntegrada; Regulação; Participação 
e Controle Social; Planejamento; Gestão do Trabalho eEducação na Saúde. 
Também previu o estabelecimento das diretrizes para gestão do SUS. 
 
 47 
 
PACTO PELA VIDA 2008 
 
Definiu outras prioridades além das descritas no pacto pela vida de 
2006, com monitoramento e avaliação de relatórios do Pacto pela Saúde: 
• Implementação da política nacional de atenção à saúde do homem; 
• Saúde mental – aumentar o acesso da população para saúde mental. 
• Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às 
pessoas com deficiência –ampliação da rede de reabilitação. 
• Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência - ampliar 
a rede de prevenção e cobertura da Ficha de Notificação/ Investigação 
de Violência Doméstica, Sexual e/ou outras violências. 
• Saúde do trabalhador - aumentar a identificação e a notificação dos 
agravos à Saúde do Trabalhador 
O PACTO PELA VIDA é atualmente monitorado e segue como 
prioridade nas ações de saúde nas três instâncias de gestão do SUS. 
 
OUTRAS LEGISLAÇÕES RELEVANTES 
 
DECRETO Nº7508, DE 28 DE JUNHO DE 2011:Regulamenta a Lei 
8080 de 1990. Segue abaixo partes do decreto na íntegra, pois contém 
informações relevantes para o entendimento de todo o processo do SUS: 
 
CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 
 
Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, paradispor sobre a 
organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde,a assistência à saúde e 
a articulação interfederativa. 
 
Art. 2º Para efeito deste Decreto, considera-se: 
I - Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos deMunicípios 
limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociaise de redes de 
comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com afinalidade de integrar a 
organização, o planejamento e a execução de ações e serviços desaúde; 
II - Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde - acordo de colaboraçãofirmado entre entes 
federativos com a finalidade de organizar e integrar as ações eserviços de saúde na rede 
 
 48 
regionalizada e hierarquizada, com definição deresponsabilidades, indicadores e metas de saúde, 
critérios de avaliação de desempenho,recursos financeiros que serão disponibilizados, forma de 
controle e fiscalização de suaexecução e demais elementos necessários à implementação 
integrada das ações eserviços de saúde; 
III - Portas de Entrada - serviços de atendimento inicial à saúde do usuário no SUS; 
IV - Comissões Intergestores – instâncias de pactuação consensual entre os entesfederativos 
para definição das regras da gestão compartilhada do SUS; 
V - Mapa da Saúde - descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e deações e 
serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, considerando-sea capacidade 
instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido a partir dosindicadores de saúde do 
sistema; 
VI - Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e serviços de saúde articuladosem níveis de 
complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade daassistência à saúde; 
VII - Serviços Especiais de Acesso Aberto - serviços de saúde específicos para oatendimento da 
pessoa que, em razão de agravo ou de situação laboral, necessita deatendimento especial; e 
VIII - Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica - documento que estabelece:critérios para o 
diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado,com os medicamentos e 
demais produtos apropriados, quando couber; as posologiasrecomendadas; os mecanismos de 
controle clínico; e o acompanhamento e a verificaçãodos resultados terapêuticos, a serem 
seguidos pelos gestores do SUS. 
 
CAPÍTULO II - DA ORGANIZAÇÃO DO SUS 
 
Art. 3º O SUS é constituído pela conjugação das ações e serviços de promoção,proteção e 
recuperação da saúde executados pelos entes federativos, de forma direta ouindireta, mediante a 
participação complementar da iniciativa privada, sendo organizadode forma regionalizada e 
hierarquizada. 
 
Seção I - Das Regiões de Saúde 
Art. 4º As Regiões de Saúde serão instituídas pelo Estado, em articulação com osMunicípios, 
respeitadas as diretrizes gerais pactuadas na Comissão IntergestoresTripartite - CIT a que se 
refere o inciso I do art. 30. 
§ 1º Poderão ser instituídas Regiões de Saúde interestaduais, compostas porMunicípioslimítrofes, 
por ato conjunto dos respectivos Estados em articulação com osMunicípios. 
§ 2º A instituição de Regiões de Saúde situadas em áreas de fronteira com outrospaíses deverá 
respeitar as normas que regem as relações internacionais. 
 
Art. 5º Para ser instituída, a Região de Saúde deve conter, no mínimo, ações eserviços de: 
I - atenção primária; 
II - urgência e emergência; 
III - atenção psicossocial; 
IV - atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e 
V - vigilância em saúde. 
Parágrafo único. A instituição das Regiões de Saúde observará cronogramapactuado nas 
Comissões Intergestores. 
 
Art. 6º As Regiões de Saúde serão referência para as transferências de recursos 
entre os entes federativos. 
 
Art. 7º As Redes de Atenção à Saúde estarão compreendidas no âmbito de umaRegião de Saúde, 
ou de várias delas, em consonância com diretrizes pactuadas nasComissões Intergestores. 
Parágrafo único. Os entes federativos definirão os seguintes elementos em relaçãoàs Regiões de 
Saúde: 
I - seus limites geográficos; 
II - população usuária das ações e serviços; 
III - rol de ações e serviços que serão ofertados; e 
 
 49 
IV - respectivas responsabilidades, critérios de acessibilidade e escala paraconformação dos 
serviços. 
 
Seção II - Da Hierarquização 
 
Art. 8º O acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde seinicia pelas 
Portas de Entrada do SUS e se completa na rede regionalizada ehierarquizada, de acordo com a 
complexidade do serviço. 
 
Art. 9º São Portas de Entrada às ações e aos serviços de saúde nas Redes de Atenção à 
Saúde os serviços: 
I - de atenção primária; 
II - de atenção de urgência e emergência; 
III - de atenção psicossocial; e 
IV - especiais de acesso aberto. 
Parágrafo único. Mediante justificativa técnica e de acordo com o pactuado nasComissões 
Intergestores, os entes federativos poderão criar novas Portas de Entrada àsações e serviços de 
saúde, considerando as características da Região de Saúde. 
 
Art. 10. Os serviços de atenção hospitalar e os ambulatoriais especializados, entreoutros de maior 
complexidade e densidade tecnológica, serão referenciados pelas Portas deEntrada de que trata o 
art. 9º. 
 
Art. 11. O acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de saúde seráordenado pela 
atenção primária e deve ser fundado na avaliação da gravidade do riscoindividual e coletivo e no 
critério cronológico, observadas as especificidades previstaspara pessoas com proteção especial, 
conforme legislação vigente. 
Parágrafo único. A população indígena contará com regramentos diferenciados deacesso, 
compatíveis com suas especificidades e com a necessidade de assistênciaintegral à sua saúde, 
de acordo com disposições do Ministério da Saúde. 
 
Art. 12. Ao usuário será assegurada a continuidade do cuidado em saúde, em todasas suas 
modalidades, nos serviços, hospitais e em outras unidades integrantes da rede deatenção da 
respectiva região. 
Parágrafo único. As Comissões Intergestores pactuarão as regras de continuidadedo acesso às 
ações e aos serviços de saúde na respectiva área de atuação. 
 
Art. 13. Para assegurar ao usuário o acesso universal, igualitário e ordenado àsações e serviços 
de saúde do SUS, caberá aos entes federativos, além de outrasatribuições que venham a ser 
pactuadas pelas Comissões Intergestores: 
I - garantir a transparência, a integralidade e a equidade no acesso às ações e aosserviços de 
saúde; 
II - orientar e ordenar os fluxos das ações e dos serviços de saúde; 
III - monitorar o acesso às ações e aos serviços de saúde; e 
IV - ofertar regionalmente as ações e os serviços de saúde. 
 
Art. 14. O Ministério da Saúde disporá sobre critérios, diretrizes, procedimentos edemais medidas 
que auxiliem os entes federativos no cumprimento das atribuiçõesprevistas no art. 13. 
 
CAPÍTULO III - DO PLANEJAMENTO DA SAÚDE 
 
Art. 15. O processo de planejamento da saúde será ascendente e integrado, do nívellocal até o 
federal, ouvidos os respectivos Conselhos de Saúde, compatibilizando-se asnecessidades das 
políticas de saúde com a disponibilidade de recursos financeiros. 
§ 1º O planejamento da saúde é obrigatório para os entes públicos e será indutor depolíticas para 
a iniciativa privada. 
 
 50 
§ 2º A compatibilização de que trata o caput será efetuada no âmbito dos planosde saúde, os 
quais serão resultado do planejamento integrado dos entes federativos, edeverão conter metas de 
saúde. 
§ 3º O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretrizes a serem observadasna elaboração 
dos planos de saúde, de acordo com as características epidemiológicas eda organização de 
serviços nos entes federativos e nas Regiões de Saúde. 
 
Art. 16. No planejamento devem ser considerados os serviços e as ações prestadospela iniciativa 
privada, de forma complementar ou não ao SUS, os quais deverãocompor os Mapas da Saúde 
regional, estadual e nacional. 
 
Art. 17. O Mapa da Saúde será utilizado na identificação das necessidades desaúde e orientará o 
planejamento integrado dos entes federativos, contribuindo para oestabelecimento de metas de 
saúde. 
 
Art. 18. O planejamento da saúde em âmbito estadual deve ser realizado demaneira 
regionalizada, a partir das necessidades dos Municípios, considerando oestabelecimento de 
metas de saúde. 
 
Art. 19. Compete à Comissão IntergestoresBipartite - CIB de que trata o inciso IIdo art. 30 pactuar 
as etapas do processo e os prazos do planejamento municipal emconsonância com os 
planejamentos estadual e nacional. 
 
CAPÍTULO IV - DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE 
 
Art. 20. A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na Rede deAtenção à 
Saúde, mediante referenciamento do usuário na rede regional e interestadual,conforme pactuado 
nas Comissões Intergestores. 
 
Seção I 
 
Da Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde - RENASES 
Art. 21. A Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde – RENASEScompreende todas as 
ações e serviços que o SUS oferece ao usuário para atendimentoda integralidade da assistência à 
saúde. 
 
Art. 22. O Ministério da Saúde disporá sobre a RENASES em âmbito nacional,observadas as 
diretrizes pactuadas pela CIT. 
Parágrafo único. A cada dois anos, o Ministério da Saúde consolidará e publicaráas atualizações 
da RENASES. 
 
Art. 23. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pactuarão nasrespectivas 
Comissões Intergestores as suas responsabilidades em relação ao rol deações e serviços 
constantes da RENASES. 
 
Art. 24. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão adotar relaçõesespecíficas e 
complementares de ações e serviços de saúde, em consonância com aRENASES, respeitadas as 
responsabilidades dos entes pelo seu financiamento, deacordo com o pactuado nas Comissões 
Intergestores. 
Seção II 
 
Da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME 
Art. 25. A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME compreendea seleção e a 
padronização de medicamentos indicados para atendimento de doenças oude agravos no âmbito 
do SUS. 
 
 51 
Parágrafo único. A RENAME será acompanhada do Formulário TerapêuticoNacional - FTN que 
subsidiará a prescrição, a dispensação e o uso dos seusmedicamentos. 
 
Art. 26. O Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre aRENAME e os Protocolos 
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas em âmbito nacional,observadas as diretrizes pactuadas pela 
CIT. 
Parágrafo único. A cada dois anos, o Ministério da Saúde consolidará e publicaráas atualizações 
da RENAME, do respectivo FTN e dos Protocolos Clínicos e DiretrizesTerapêuticas. 
 
Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município poderão adotar relaçõesespecíficas e 
complementares de medicamentos, em consonância com a RENAME,respeitadas as 
responsabilidades dos entes pelo financiamento de medicamentos, deacordo com o pactuado nas 
Comissões Intergestores. 
 
Art. 28. O acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica pressupõe, cumulativamente: 
I - estar o usuário assistido por ações e serviços de

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