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Introdução a Ciência Social

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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
INTRODUÇÃO AS CIÊNCIAS 
SOCIAIS 
Mattheus Vinícius Rosa 
Vinícius Teles Córdova 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado 
ao longo da apostila, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar 
a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função 
específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
SUMÁRIO 
A RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUOS E SOCIEDADE NA SOCIOLOGIA 
CLÁSSICA. ................................................................................................ 8 
 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 8 
 INDIVÍDUO E SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO DE ÉMILE DURKHEIM (1858-
1917) ................................................................................................................... 10 
 INDIVÍDUO E SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO DE KARL MARX (1818-1883) . 13 
 O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO DE MAX WEBER (1864-
1920) ................................................................................................................... 15 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 21 
INTRODUÇÃO À TEORIA POLÍTICA ...................................................... 25 
 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 25 
 ARISTÓTELES (384-322 A.C)............................................................................ 25 
 ÉTICA EM ARISTÓTELES ................................................................................. 27 
 JUSTIÇA EM ARISTÓTELES, A ÉTICA DA PÓLIS .......................................... 29 
 PÓLIS COMO UMA FORMA DE ASSOCIAÇÃO ESPECÍFICA E FORMAS DE 
REGIME .............................................................................................................. 30 
 O ESTADISTA .................................................................................................... 33 
 MAQUIAVEL (1469 - 1527) ................................................................................ 33 
 Sociedade em conflito ........................................................................... 35 
 Sugestões de governança..................................................................... 36 
 THOMAS HOBBES (1588-1679) ........................................................................ 39 
 Psicologia mecanicista das paixões ...................................................... 40 
 Estado de Natureza como Estado de Guerra ........................................ 41 
 Estado de Sociedade como Leviatã ...................................................... 43 
 JOHN LOCKE (1632-1704) ................................................................................ 45 
 Conceitos centrais em Locke ................................................................ 46 
 A miséria do Estado de Natureza .......................................................... 47 
 Estado de Sociedade/Sociedade Civil .................................................. 49 
 Estado de Guerra .................................................................................. 49 
 JEAN-JACQUES ROUSSEAU ........................................................................... 50 
 A natureza humana em Rousseau ........................................................ 50 
 Do Estado de Natureza para o Estado de Sociedade ........................... 53 
 O atual Estado de Sociedade ................................................................ 54 
 Sociedade civil ideal .............................................................................. 55 
FIXANDO CONTEÚDO .................................................................................................. 58 
O IMPACTO DAS REVOLUÇÕES DO SÉCULO XVIII ............................ 64 
 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 64 
 PANORAMA GERAL DO SÉCULO XVIII – ANTERIOR ÀS REVOLUÇÕES .... 65 
 AS REVOLUÇÕES E A NOVA SOCIEDADE BURGUESA ............................... 70 
 A Revolução Industrial e o Capitalismo ................................................. 70 
 A REVOLUÇÃO FRANCESA E O LIBERALISMO ............................................ 78 
 AS EXPOSIÇÕES UNIVERSAIS – UM MICROCOSMO DA NOVA SOCIEDADE
 ............................................................................................................................ 81 
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................. 85 
INSTITUIÇÕES SOCIAIS ......................................................................... 91 
 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 91 
 FAMÍLIA .............................................................................................................. 92 
 A FAMÍLIA COMO SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA ............................................... 94 
 EDUCAÇÃO E ESCOLA .................................................................................... 96 
 Escola como porta de entrada aos grupos secundários ....................... 97 
 ESTADO ............................................................................................................. 98 
 Cultura política .................................................................................... 101 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 RELIGIÃO ......................................................................................................... 102 
 A socialização pela religião ................................................................. 104 
 TRABALHO ...................................................................................................... 105 
 Trabalho e socialização....................................................................... 106 
FIXANDO O CONTÉUDO ............................................................................................ 108 
CAMINHOS DA ALTERIDADE: UM PANORAMA SOBRE CULTURAS NÃO-OCIDENTAIS
 ........................................................................................................................................... 113 
 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 113 
 CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O “OUTRO” .................................... 114 
 O ESPAÇO COMO OPERADOR DA DIFERENÇA .......................................... 121 
 O ESPAÇO E O PENSAR NAGÔ..................................................................... 125 
 A CIÊNCIA DO CONCRETO ............................................................................ 130 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................ 134 
GLOBALIZAÇÃO, CULTURA E IDENTIDADE ................................................................. 139 
 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 139 
 GLOBALIZAÇÃO E ANTROPOLOGIA ............................................................ 140 
 Sistema mundial .................................................................................. 141 
 Compressão espaço-temporal ............................................................ 142 
 Níveis de integração sociocultural e panoramas ................................. 143 
 A segmentação étnica do mercado de trabalho .................................. 145 
 IDENTIDADE E CULTURA NA CONTEMPORANEIDADE .............................. 146 
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................152 
REFERÊNCIAS ...................................................................................... 159 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
Nesta unidade discutiremos a maneira como Émile Durkheim, Karl 
Marx e Max Weber constituíram a relação entre indivíduo e 
sociedade. Esta conflituosa relação é essencial para compreender 
o pensamento de cada autor e, então, a maneira como cada um 
pensa os fenômenos sociais. 
Nesta unidade o(a) leitor(a) poderá se debruçar sobre as Teorias 
Clássicas da Política e do Estado. Os principais fundamentos do 
pensamento político de Aristóteles, Thomas Hobbes, John Locke, 
Jean-Jacques Rousseau e Maquiavel estão disponíveis para 
estudo. As concepções de justiça e ética em Aristóteles; a ética 
política em Maquiavel, com as noções de virtú e fortuna, e as 
diferentes concepções sobre estado de natureza e contrato social, 
recorrentes no pensamento de Thomas Hobbes, John Locke e 
Jean-Jacques Rousseau estão contempladas na unidade. 
 
Nesta unidade o(a) leitor(a) poderá compreender os efeitos das duas 
principais revoluções que deram forma a sociedade liberal burguesa: 
a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Aqui é discutida as 
condições socioeconômicas que desencadearam esses eventos; 
seus contextos históricos e seus efeitos para o mundo, de um modo 
geral. 
Nesta unidade os autores discorrem sobre conceitos fundamentais 
para o pensamento sociológico, como Família, Estado, Religião, 
Trabalho e outros. Além disso, é discute-se as noções de 
socialização primária e secundária e, portanto, o próprio papel da 
educação e da escola. 
 
 
 
Nesta unidade os autores se preocuparam em discorrer sobre 
concepções de mundo e humanidades diferenciadas. Para isso, em 
um primeiro momento, consideramos as concepções criadas pelo 
ocidente para se referir ao outro. Posteriormente, as noções de 
Cultura, Território, Territorialidade e Identidade são movimentadas 
para explicitar o modo de construção das diferenças. 
Nesta unidade o (a) leitor (a) poderá se debruçar sobre a relação 
entre Cultura e Globalização e sobre os processos de construção 
de identidades em um contexto no qual os indivíduos estão 
conectados em rede. Conceitos como Identidade e Hibridismo são 
movimentados para a perseguição do objetivo desta unidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente livro didático convida o leitor a se aventurar pelo surgimento da 
filosofia ocorrido na Grécia e a refletir sobre os processos humanos de significação 
da realidade que, consequentemente, determinam a filosofia como uma atividade 
de primeira ordem na constituição do ser humano. 
Cientes da responsabilidade de introduzir e de aprofundar a discussão sobre 
o mundo grego e sobre os processos de pensamento surgidos nesse riquíssimo 
cenário, iniciamos o nosso percurso pela mitologia, compreendendo-a como o 
procedimento original de significação/ordenação das relações entre os humanos e a 
natureza. A partir disso, a figura do poeta Homero, autor da Ilíada e da Odisseia, 
torna-se central para a configuração das futuras narrativas ocidentais e, sobretudo, 
para os métodos educacionais responsáveis pela formação do sujeito grego. 
Contudo, em oposição às determinações mitológicas de ordenação da natureza e do 
sujeito, o nosso caminho irá nos levar até os filósofos pré-socráticos, os primeiros a 
determinarem a superação da mitologia através de um processo regido pelo logos 
(racionalidade) de investigação da natureza e busca pela definição da physis. Assim, 
após o abandono da mitologia como palavra de autoridade, com o surgimento do 
logos a palavra racional torna-se um precioso instrumento de poder na polis e, 
portanto, figurando-se como o instrumento manejado pelo sofista, como veremos 
adiante. 
Finalmente, buscaremos adentrar nos grandes pensadores da Antiguidade, 
como Sócrates, Platão e Aristóteles, procurando sobretudo percorrer as principais 
destinações teóricas desses filósofos na busca pelo conhecimento verdadeiro, 
ilustrando, portanto, os procedimentos socráticos na construção da verdade; o 
idealismo platônico na determinação de um mundo ideal e a filosofia sistemática de 
Aristóteles na reconsideração pela realidade empírica. Como aporte reflexivo final, 
pretendemos apresentar o período helénico e a construção de Escolas de filosofia 
que procuraram, em seu interior, oferecer ao “novo” sujeito grego modelos de vida e 
de significação da realidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
Diante disso, convidamos a todos(as) para se alegrarem na aventura a 
descoberta do saber que a filosofia nos proporciona através da saída da caverna e 
da entrada em um mundo preenchido pela reflexão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
A RELAÇÃO ENTRE 
INDIVÍDUOS E SOCIEDADE NA 
SOCIOLOGIA CLÁSSICA. 
 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
 Uma das preocupações nas Ciências Sociais, de um modo geral, é como se dá 
a relação entre os indivíduos e a sociedade. Essa preocupação, diz respeito, entre 
outras coisas, ao modo como são constituídas as consciências e as ações; do grau 
de liberdade dos indivíduos no que se refere aos padrões e normas sociais; ao modo 
como esses mesmos padrões e normais são construídos, comunicados e 
incorporados, etc. 
 Saber se a sociedade é o resultado da soma dos indivíduos ou se este conjunto 
das partes constitui outra coisa, superior aos indivíduos, é uma das questões 
movimentadas pelos autores clássicos da sociologia. Lembrando que esses autores 
formam a base dos pensamentos contemporâneos, inclusive da antropologia e ciência 
política. Da mesma forma, as explicações sobre as mudanças históricas e as 
revoluções, que reconfiguram – cada uma ao seu modo – o campo das relações, 
incorrem na busca pela compreensão da conflituosa relação entre indivíduo e 
sociedade. De que consistiria as ações individuais, isto é, de qual campo simbólico 
uma ação está embebida é, igualmente, uma preocupação que nos remete ao conflito 
em questão. 
Ao longo do curso o/a estudante perceberá que essas questões permearão 
várias discussões. Cada linha de pensamento nas ciências sociais irá, de uma forma 
ou de outra, buscar responder essas questões. Independentemente se essas linhas 
são afins ou distantes, o fato é que essa relação – indivíduo e sociedade – é muito 
cara para este campo do conhecimento. 
O que você tem em mãos é um material introdutório sobre as ciências sociais, 
um pequeno passo para compreender mais sobre essa ciência da sociedade. Nós, os 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
autores, buscaremos nas próximas páginas instigar você, leitor/a, a querer saber mais 
sobre certos assuntos importantes para a área, revelando as contribuições mais 
consolidadas sobre as temáticas aqui apresentadas. Nesta unidade vamos discutir 
brevemente sobre a ideia de indivíduo e sociedade na sociologia. 
De modo geral, Altomare (2000), buscou organizar as diferentes concepções 
sobre a relação entre indivíduo e sociedade a partir da criação de três grupos nos 
quais essas compreensões melhores se encaixariam. Evidentemente haverá 
peculiaridades para cada autor/a, mas aqui trataremos de forma mais ampla, para 
mapear as ideias principais: 
 
1) Jusnaturalistas: essa concepção ganha seus contornos a partir da perspectiva 
de Thomas Hobbes (1588-1679) e se estende em outros dois autores que serão 
abordados no próximo capítulo: John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Os 
também denominados contratualistas, por motivos que futuramente serão 
explicados, partem do pressuposto de que o indivíduo é um ser “autônomo 
possuidor de direitos naturais, portador de uma essência humana” (ALTOMARE, 
2000, p.6). Ou seja, considera-se que exista algo particular aos seres, que os 
definemcomo tal e independentemente do ambiente externo. E são esses 
indivíduos que moldarão a sociedade. 
2) Historicista: Começa a se consolidar a partir do século XIX sobretudo por meio 
de dois dos principais intelectuais desse período: Karl Marx e Émile Durkheim. 
No livro que tratará sobre a sociologia clássica o/a estudante perceberá que as 
perspectivas teóricas dos autores se diferenciam em grande medida nos mais 
diversos assuntos. Entretanto ambos, por motivos diferentes, consideram que o 
meio social, ou seja, a totalidade histórico-social condiciona as características do 
indivíduo. Ao contrário dos jusnaturalistas, a perspectiva historicista concede um 
grande peso para a sociedade, sendo que, na perspectiva durkheimiana, a 
consciência individual não é mais do que a encarnação de uma determinada 
consciência coletiva. 
3) A terceira abordagem envolve uma série de teorias muito diversas sendo difícil 
agrupar em um único termo. Parte dessa perspectiva será percebida em Max 
Weber, mas se manifestará de formas muito diversas ao longo das ciências 
sociais contemporâneas. Aqui há, de um modo geral, um rechaço aos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
essencialismos presentes nas duas perspectivas anteriores. Alguns autores 
sendo mais críticos ao essencialismo do indivíduo (como o teórico 
contemporâneo Pierre Bourdieu) e outros ao essencialismo da sociedade (como 
Max Weber). Mas em todos há uma busca de compatibilizar esses dois polos. 
 
O que podemos dizer, de antemão, é que não há sociedade sem indivíduo e 
nem indivíduo que não seja influenciado pela sociedade. As possibilidades de 
compreensão da presente questão não se limitam, entretanto, à sociologia clássica, 
sendo um problema também para o pensamento de Nobert Elias, Claude Lévi-
Strauss, Norberto Bobbio, Pierre Bourdieu, Judith Butler e demais pensadoras e 
pensadores das ciências sociais. No entanto, para os fins desta unidade, nos 
concentraremos nas interpretações construídas pelos autores clássicos, a saber: 
Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber 
 
 
 
 
 
 
 INDIVÍDUO E SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO DE ÉMILE DURKHEIM (1858-
1917) 
Apesar de ser uma discussão recorrente na sociologia de Durkheim, o conflito 
entre os indivíduos e a coletividade estão mais evidentes em seu livro, publicado em 
1893, “Da Divisão Social do Trabalho”. Neste livro, o autor irá elaborar dois conceitos 
a fim de explicar como essa relação procede em um contexto social simples e outro 
complexo, no que se refere ao grau de diferenciação de uma sociedade. 
Tratam-se dos conceitos de Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica. 
A ideia de “solidariedade” pode ser entendida como coesão social. Assim, cada uma 
dessas solidariedades diz respeito a um grau determinado de coesão social. O 
primeiro conceito se refere às sociedades na quais a cultura e o estilo de vida são 
compartilhados. As sociedades indígenas seriam enquadradas neste conceito, uma 
vez que o sistema de crenças, as práticas cotidianas e os costumes da comunidade 
Sugerimos a leitura do seguinte livro para a consolidação desta primeira fase de introdução 
ao pensamento sociológico clássico. Acesse o link: https://bit.ly/2Z6F2W0 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
podem ser observadas com bastante regularidade em cada um dos indivíduos que 
compõem esta coletividade. Aqui, os indivíduos seriam, então, mais coesos entre si, 
semelhantes. O segundo conceito é próprio das sociedades modernas, nas quais 
observamos um elevado grau de individualidade e, consequentemente, de 
diferenciação. A coesão, neste caso, se dá pela interdependência das funções sociais, 
isto é, por estarem divididos em funções produtivas específicas, cada um depende do 
que o outro produz ou sabe. A vida nas grandes cidades é exemplar sobre esta 
interdependência: qualquer indivíduo precisa se nutrir, se informar, de moradia, 
roupas e assim sucessivamente – as necessidades são maiores neste contexto do 
que no primeiro – e, por isso, cumprem essas necessidades recorrendo ao 
conhecimento e à prática de outros indivíduos. Na solidariedade mecânica, ao invés 
da orgânica, o conhecimento é horizontal, o que um sabe, todos sabem. 
 
Figura 1: Maloca Yanomami na região de Toototopí 
 
Fonte: Sato (2010, online) 
 
A maneira como Durkheim formula esses conceitos nos permite inferir a 
existência de uma consciência coletiva. Caso contrário, o que explicaria a semelhança 
entre os indivíduos que compõem as sociedades onde prevalece a solidariedade 
mecânica? Ou por que haveríamos de nos preocupar em pontuar o processo de 
diferenciação desses indivíduos em uma sociedade moderna? 
O que chamamos de consciência coletiva é, para o autor em questão, o 
condensado das crenças e das práticas que orientam o grupo na vida cotidiana. E é 
no processo de socialização, seja no interior da família ou na instituição escolar, que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
esses padrões e essas normas serão ensinados e incorporados pelos indivíduos. Na 
concepção durkheimiana, a maneira como essa consciência se impõem às pessoas é 
determinante para afirmar que a sociedade possui primazia em relação aos indivíduos, 
pois, por exemplo, um determinado sistema de crenças existe independentemente da 
vontade individual; exerce sobre cada um de nós uma coerção social; e esta força se 
impõe à generalidade dos indivíduos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao que se deve, então, essa construção de uma realidade social bastante 
diferenciada, na qual a extensão da consciência coletiva é mais fragmentada, ao 
contrário do que ocorre em uma sociedade de solidariedade mecânica? Para 
Durkheim, esse processo de diferenciação é decorrente do aumento do número de 
indivíduos – volume – e, paralelo a isso, da densidade dessa presença e dos 
processos comunicacionais, das trocas simbólicas, em um dado espaço. Neste 
sentido, conforme nos diz Aron (1999, p. 296), a diferenciação social, na perspectiva 
durkheimiana, “[...] é a solução pacífica da luta pela vida. Em vez de alguns serem 
eliminados para que outros sobrevivam, como ocorre no reino animal, a diferenciação 
social permite a um número maior de indivíduos sobreviver, diferenciando-se”. 
Durkheim, interessado em explicar os fenômenos sociais de maneira objetiva e 
distanciada, propõe pensar os fenômenos de consciência a partir de outro fenômeno 
social, o jurídico. Nesta perspectiva, o autor associa a solidariedade mecânica com a 
noção de direito repressivo na qual busca, por meio de múltiplas sanções, satisfazer 
a consciência coletiva. Nesta acepção, o crime seria uma ação proibida sob o ponto 
de vista de uma dada consciência coletiva e, por isso, relativista. O direito restitutivo, 
por sua vez, pertenceria ao direito comercial, característico das sociedades modernas. 
Aqui prevalece a preocupação em organizar a existência de forma pacífica. 
Raymond Aron nos lembra de que a noção de Divisão Social do Trabalho elaborada por 
Durkheim se diferencia da noção economicista no seguinte sentido: enquanto a segunda 
noção entende este processo de divisão a partir de uma busca consciente para o conforto, 
a primeira entende que a “divisão do trabalho é um fenômeno social, que só pode ser 
explicado por outro fenômeno social: o de uma combinação do volume, densidade material 
e moral da sociedade” (ARON, 1999, p. 296). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Em cada uma dessas formas jurídicas percebe-se a primazia da sociedade 
sobre os indivíduos. A diferença se dá justamente pelo grau de divisão do trabalho 
social existente em cada sociedade: nas sociedades ditas primitivas, prevalece uma 
forma jurídica com baixo grau de diferenciação; nas sociedades industriais, as formas 
jurídicas procuram regular as relações entre os indivíduos, uma vez que a coletividade 
se encontram fragmentada. 
 
 INDIVÍDUO E SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO DE KARL MARX (1818-1883) 
O método elaborado por KarlMarx e Friedrich Engels para servir ao sociólogo 
em sua interpretação da sociedade é o materialismo histórico. Trata-se de um método 
científico que pretende compreender a maneira como as sociedades, historicamente, 
vão se estruturando. A concepção materialista da história, como o próprio nome 
sugere, está fundamentada em uma perspectiva que compreende os sujeitos como 
fortemente influenciados por suas condições materiais de existência. Isto quer dizer 
que as classes sociais determinam não só os interesses e as práticas dos indivíduos, 
mas, igualmente, sua consciência. 
Esta concepção buscou se distanciar de uma perspectiva – constituída na 
esteira do pensamento do intelectual germânico Georg Wilhelm Friedrich Hegel – que 
entendia a sociedade como determinada pelas ideias e pelos valores. Para Marx e 
Engels os fenômenos sociais devem ser compreendidos colocando no centro da 
discussão a categoria Trabalho, que faz do homem um ser dotado de história, pois 
este, ao produzir suas condições de existência, modifica o meio onde vive e 
reestrutura as relações sociais. 
Neste sentido, a ideia de que cada geração possui o desafio de reproduzir os 
modos de existência precedentes, assim como de reinventá-los é cara para a 
interpretação marxista da história. É a maneira como se produz, em cada período 
histórico, que dá forma social ao pensamento e ao agir. Assim, os indivíduos seriam 
influenciados pelas posições que ocupam nas relações de reprodução e produção da 
vida de uma sociedade, isto é, nas relações laborais. 
 
[...] os ideólogos acreditam que as ideias modelam a vida material, concreta, 
dos homens, quando se dá o contrário: de maneira mistificada, 
fantasmagórica, enviesada, as ideologias expressam situações e interesses 
radicados nas relações materiais, de caráter econômico, que os homens, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
agrupados em classes sociais, estabelecem entre si. Não são, portanto, a 
ideia Absoluta, o Espírito, a Consciência Crítica, os conceitos de Liberdade e 
Justiça, que movem e transformam as sociedades. Os fatores dinâmicos das 
transformações sociais devem ser buscados no desenvolvimento das forças 
produtivas e nas relações que os homens são compelidos a estabelecer entre 
si ao empregar as forças produtivas por eles acumuladas a fim de satisfazes 
suas necessidades materiais. Não é o Estado, com pensava Hegel, que cria 
a sociedade civil: ao contrário, é a sociedade civil que cria o Estado. 
(GORENDER, 1996, p. 11) 
 
 Marx e Engels certamente não descartavam o fato de que, na vida cotidiana, 
eram os indivíduos que se relacionavam e estabeleciam contratos. No entanto, ao 
agirem, representavam interesses próprios de cada classe, de modo que o interesse 
pelo lucro do capitalista era conflitante ao interesse por condições dignas de vida do 
proletariado. 
 Esta contradição de interesses é, segundo o pensamento marxista, inevitável. 
A maneira como organiza no capitalismo não só criam necessidades diferentes a partir 
da posição que cada classe ocupa no modo de produção, mas, ao fazer isso, faz 
emergir uma série de interesses conflitivos que podem ser lidos como Luta de Classe. 
Este conflito se estende para outras dimensões da vida em sociedade, como no 
espaço da política e no da cultura. O mesmo pôde ser observado no feudalismo: não 
só havia um conflito de interesses entre uma aristocracia ligada à terra e os 
emergentes empreendedores capitalistas, mas este conflito resultou na 
reestruturação de novo modo de produção e no desmoronamento de grande parte das 
instituições sociais ligadas ao regime feudal. 
 Assim, a superação do próprio regime capitalista se daria pela progressiva 
conscientização das condições de vida ligadas à classe operária. A exploração 
vivenciada por esta classe é responsável por criar uma fratura na relação desses 
indivíduos com o mundo, pois o próprio modo de interação entre sujeito e objeto, entre 
o indivíduo e o mundo, que se dá por meio do Trabalho, está estruturado, no 
capitalismo, de maneira alienante. Isto, pois, se o homem se reconhece naquilo que 
faz, e como o faz, não só o que se produz, mas o que se faz com esse produto passa 
a ser parte do “eu”. Assim, uma vez que no capitalismo o operário é privado dessa 
relação com o objeto de seu trabalho, isto é, impedido de exercer um trabalho 
significativo para si, ele passa a se confundir com a própria mercadoria. Ele passa a 
ser, portanto, desumanizado, distanciado de sua própria ação no mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 Desta forma, a Consciência de Classe pode ser compreendida como um 
instrumento de emancipação, que se constrói no processo de identificação dos 
sujeitos com as necessidades e com os interesses oriundos de sua classe. Trata-se 
do reconhecimento de pertencimento a uma classe que vivencia os mesmos 
sofrimentos, as mesmas exclusões e, por isso, o mesmo imperativo de luta por uma 
vida digna. 
 
 O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE NA CONCEPÇÃO DE MAX WEBER (1864-
1920) 
Max Weber é contemporâneo de outro sociólogo já visto nesta unidade, Émile 
Durkheim. Mas suas teorias se diferem muito, sobretudo no que será especificamente 
tratado nas próximas páginas: noção de indivíduo-sociedade. Como apontado na 
parte “Início de conversa”, Weber sinaliza para o que será contemporaneamente a 
perspectiva mais amplamente utilizada, ou ao menos buscada, dentro das ciências 
sociais: escapar dos essencialismos e sobre determinação do indivíduo ou da 
sociedade. 
Entretanto, é importante frisar que não se pode considerar Weber como o 
criador acabado de uma perspectiva que compatibiliza de forma mais contemporânea 
o sujeito e o coletivo. Mais prudente seria colocá-lo como um contrapeso às propostas 
mais coletivistas presentes em Durkheim e Marx. Essa precaução vem de uma longa 
tradição crítica ao autor ao apontá-lo como fortemente individualista na sua 
metodologia e teoria, ou seja, seus críticos consideram que o autor dá força 
demasiada ao indivíduo e relega um papel secundário à sociedade. Essa não é a 
perspectiva que os autores deste material tomam. E isso é um ponto que 
constantemente reforçaremos ao longo do material: sempre busque mais de uma 
visão sobre uma teoria e, especificamente, sobre um fenômeno social. Por conta 
disso, costumeiramente apresentamos outras perspectivas sobre o assunto e os 
teóricos aqui apresentados, sinta-se livre para procurar essas novas visões indicadas 
ou outras fontes confiáveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dito isso, tomaremos como referência, além da obra do próprio autor, 
intérpretes de Weber: Fiscina (2015) e Lenardão (2003) que o colocam como um autor 
ainda de foco no indivíduo, mas que tem na sociedade um ponto chave para a 
constituição desse indivíduo. 
Segundo Fiscina (2015), Max Weber colocará o indivíduo como um ser que 
toma decisões diante de uma dada situação. A simplicidade desse enunciado precisa 
ser destrinchada em duas partes para melhorar a compreensão das relações que o 
autor faz entre indivíduo e sociedade. 
Max Weber é um autor com influência da perspectiva econômica vigente na 
época, a liberal, visão essa que legava ao indivíduo uma forte racionalidade em suas 
ações. Racionalidade, no sentido aqui usado, refere-se a obter o que se deseja 
utilizando dos melhores meios para tal, via de regra, que dispensa menos energia para 
a execução. A teoria econômica liberal, na época de Weber, não considerava que 
todas as ações individuais são pautadas pela racionalidade, mas no agregado das 
ações de diversos indivíduos, a racionalidade ocupará lugar de destaque, sendo a 
mais relevante em termos analíticos. Dito isso, Weber pontua que quanto mais livre 
de qualquer coerção, seja explícita ou implícita, tanto mais o indivíduo tomará 
decisões mais racionais, ou seja, ponderará melhor as relações entre os fins 
desejados e os meios para atingir essefim. 
Weber, entretanto, não considera que a reflexão empreendida pelo indivíduo 
ao tomar uma decisão é compatível por completo com a realidade. Essa percepção 
vem de seu lastro filosófico ligado à filosofia de Immanuel Kant, que considerava não 
termos acesso ao objeto em si, somente a percepção que temos desse objeto, o 
fenômeno. Assim, essa decisão que o indivíduo faz não pode ser tomada como tendo 
ciência completa e verdadeira, no sentido de que o fenômeno é igual a coisa em si, 
mas sim que é verdadeira a partir da interpretação que o indivíduo faz da realidade. 
Tal modo de compreensão do indivíduo é denominado, por Fiscina (2015), de 
Os autores recomendam dois sites em particular: https://scholar.google.com/, onde 
encontrará artigos sobre os mais diversos assuntos; https://www.scielo.br/, outro 
repositório de artigos de muita qualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
decisionismo weberiano. 
O segundo ponto para a posição de Weber acerca da ação do indivíduo é uma 
ética da responsabilidade. Esse termo reflete que a ação de um indivíduo não se dá 
em um vácuo, ela sempre vai operar “[...] centrada no conhecimento das 
consequências e das condições técnicas da própria ação, levando em consideração 
os valores e o diálogo institucional” (FISCINA, 2015, p. 80). 
Assim, o indivíduo agirá tendo em vista o seu entorno, no sentido mais amplo 
da palavra que inclui os valores socialmente estabelecidos e as instituições sociais 
(algumas das mais estudadas na sociologia serão abordadas na unidade 4); mas 
também vai considerar o aspecto da possibilidade técnica da ação executada, ou seja, 
o que ela efetivamente é capaz e a própria capacidade do agente em executá-la 
(tópico de especial interesse da antropologia, sobretudo contemporânea, e que será 
explorada nas próximas apostilas da área). 
O aspecto apontado no parágrafo anterior abre a questão, central para Weber, 
da importância das ações sociais, ou seja, ações que são voltadas para outros 
indivíduos. A ação individual weberiana não é isolada, mas está inserida em uma teia 
de reciprocidade que pressupõe e somente existe a partir de uma dimensão social 
que é construída historicamente e altera-se nos diferentes lugares (LENARDÃO, 
2003). 
Max Weber denomina essas ações de ação social, que podem ser divididas em 
quatro (aprofundadas na disciplina de Sociologia I): 
1) Ação social voltada a fins: o indivíduo agirá buscando os melhores meios para 
conseguir atingir um determinado fim 
2) Ação social voltada a valores: o indivíduo agirá buscando respeitar um leque de 
valores importantes à ele 
3) Ação tradicional: o indivíduo age respeitando alguma ação que aprendeu no seu 
meio social 
4) Ação afetiva: a ação do indivíduo é impulsionada por sentimentos dos mais 
diversos, como raiva ou amor. 
 
 A perspectiva weberiana contrapõe-se às perspectivas de Marx e Durkheim 
quando se trata da ênfase que confere ao indivíduo não só como objeto metodológico, 
mas também em sua força quando coloca-se diante da sociedade. Essa perspectiva, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
mais amplamente explorada no contexto contemporâneo, pensa o indivíduo como um 
ser socialmente inserido. O decisionismo weberiano, então, coloca o indivíduo agindo 
tendo necessariamente a sociedade como horizonte de sua ação. 
 
 
 
 
 
 
 
Essa interpretação não pode considerar que o autor estabelece uma relação 
de exterioridade entre indivíduo e sociedade. Essa posição que polariza sujeito e 
coletivo é algo típico dos teóricos jusnaturalistas/contratualistas, tendo seu 
acabamento em John Locke e perpetrado pela teoria econômica liberal atual. Weber, 
ao contrário, defende que há uma existência mútua entre sociedade e indivíduo. Ou 
seja, não é possível separar um do outro. No entanto, essa não separação não se dá 
como na perspectiva de caráter historicista que, no limite, o indivíduo pode ser tido 
apenas como um receptáculo da sociedade. Para Weber não dá para pensarmos as 
ações individuais como manifestações particulares de um complexo sociocultural ou 
socioeconômico. Parte desse rechaço aos dois polos essencialistas ocorre por um 
ponto muito caro à sociologia contemporânea: o indivíduo é dotado de reflexividade. 
Em termos gerais, a reflexividade é a capacidade do sujeito de tanto compreender o 
mundo, como se ver dentro desse mundo, como força agente e sujeito das ações 
sociais. E diante das possíveis análises que esse julgamento pode empreender, esse 
indivíduo pode optar por buscar tanto uma mudança de si, um reposicionamento na 
sociedade ou alteração da própria sociedade. 
A reflexividade tem grande auxílio, não só de uma capacidade individual que o 
sujeito detém, mas também de uma condição social (que varia em intensidade 
dependendo da sociedade) de uma multiplicidade de grupos que agem no cotidiano e 
imaginário do indivíduo. Essa multiplicidade, então, age tanto como força de influência 
Um dos elementos centrais de qualquer ciência é a metodologia, ou seja, os modos pelos 
quais a pesquisa deve ser realizada para confirmar ou refutar uma hipótese. Nas ciências 
sociais são usados dois métodos não excludentes: método quantitativo e qualitativo. 
Enquanto o método quantitativo baseia-se prioritariamente em dados estatísticos, o 
método qualitativo baseia-se em entrevistas, análise de documentos e na participação do 
pesquisador/a com a comunidade estudada no seu dia-a-dia (observação participante ou 
etnografia). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
sobre a reflexividade do indivíduo quanto pode ser por ele movimentado. Assim, para 
recorrer a um exemplo, podemos pensar em alguns pensamentos que seriam 
contrários a essa lógica weberiana que confere maior força ao agente. Pensamos que, 
por exemplo, consideram que um candidato de uma religião evangélica teria, 
necessariamente, ações associadas às práticas desse grupo ao assumir, incorreria 
em um erro no sentido weberiano por dois pontos, o segundo derivado do primeiro. O 
primeiro é que pensamentos como esse ignoram a reflexividade do indivíduo e seu 
poder de agência e inserção em uma diversidade de grupos em potencial, esse 
candidato além de evangélico pode estar inserido em um grupo ambientalista, de 
direitos humanos ou qualquer outro. A consequência é que esse indivíduo poderá 
tanto agir respeitando valores desses grupos diversos ou mesmo agir misturando os 
valores desses grupos inserido componentes da sua vida particular. Derivando do 
primeiro ponto, a prática concreta desse candidato só poderá ser analisada de forma 
factual a partir da prática efetiva do mesmo. 
A perspectiva weberiana foca nas motivações das ações sociais, exemplificado 
pelo seu individualismo metodológico que analisa os tipos de ação, remetendo a um 
foro íntimo. E esse foro será o peso que constituirá os valores formativos da 
personalidade individual, assim, em Weber a identidade e a personalidade, em alguma 
medida, está ancorada no leque de valores individuais. Apesar desse ponto retomar 
para uma essência individualista, Fiscina (2015) reforça que para Weber esses 
valores não foram formados na racionalidade individual, mas sim em esferas diversas 
como religião e família. Esferas essas que não são individuais e sim socialmente 
construídas, tendo variação no tempo e espaço e, em alguma medida, escapando das 
vontades individuais. 
O escape da teoria weberiana é duplo: afasta-se do essencialismo 
jusnaturalista que confere um isolamento constitutivo do indivíduo em relação à 
sociedade; ao mesmo tempo que não se aproxima das análises historicistas que 
relega o indivíduo a ser uma ferramenta para a sociedade se manifestar. A 
consequência teórica que Weber chega é que não é possível atrelar uma 
fundamentação absoluta do indivíduo à sociedade e muito menos fazer o caminho 
inverso, de fundamentar a sociedade ao indivíduo (FISCINA, 2015). 
A fusão sociedade e indivíduona teoria weberiana ganha um novo elemento 
ao debruçar-se sobre sua análise histórica da constituição da racionalidade, sobretudo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
quando consideramos obras que tratam da constituição da modernidade, como “Ética 
Protestante e o Espírito do Capitalismo”. A teoria weberiana aponta para uma 
crescente presença das ações racionais voltadas a fins na modernidade, ou seja, os 
indivíduos motivam suas ações menos por valores, tradição ou afetos e priorizam a 
racionalidade para agir. Esse fenômeno é típico da modernidade porque nesse 
período no qual vivemos a lógica burocrática enraíza-se nas mais diversas atividades 
sociais, escapando da esfera do trabalho e do Estado. A consequência é que 
crescentemente o uso da razão torna-se parte do horizonte cultural dos indivíduos nos 
mais diversos ambientes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se tiver interesse em aprofundar sobre as diversas formas de ética, esse livro oferece um 
panorama sobre o assunto: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/3535 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Raymond Aron (2002), ao apresentar a obra “Da divisão do Trabalho Social“, de 
Émile Durkheim, chama a atenção para a distinção entre os conceitos de 
solidariedade mecânica e orgânica, que corresponderiam à duas formas extremas 
de organização social. 
 
Para caracterizar os dois tipos ele utiliza, respectivamente, os termos: 
a) anomia e consciência 
b) semelhança e diferenciação 
c) passividade e iniciativa 
d) tradição e carisma 
e) coerção e consenso 
 
2. A obra “Da Divisão do Trabalho Social” (1893), de Émile Durkheim, apresenta como 
tese central as relações entre indivíduos e a coletividade. Nessa obra, o autor 
procura responder aos seguintes questionamentos: como pode uma coleção de 
indivíduos constituir uma sociedade? Como se chega a essa condição da existência 
social que é o consenso? A essas perguntas, Durkheim responde, distinguindo 
duas formas de Solidariedade: a Solidariedade dita mecânica e a Orgânica. 
 
Nesse sentido, a definição de ambas é: 
a) A Solidariedade Mecânica é uma solidariedade manifesta pelas diferenças e 
marcada pela crescente diferença entre indivíduos por suas crenças e tradições. Já 
a Solidariedade Orgânica é marcada pela semelhança, pela proximidade, 
interagindo partes em prol do todo. 
b) A Solidariedade Mecânica é uma solidariedade por semelhança. Quando essa 
forma de solidariedade domina uma sociedade, os indivíduos diferem pouco uns 
dos outros. A Solidariedade Orgânica é aquela em que o consenso, isto é, a 
unidade coerente da coletividade resulta de uma diferenciação, ou se exprime por 
seu intermédio. 
c) A Solidariedade Mecânica é uma solidariedade por simpatia: sujeitos diferentes são 
ligados por valores agregados que constituem o campo da moral e da ética. A 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Solidariedade orgânica é aquela que estabelece a noção da democracia, pela qual 
cada indivíduo é livre para fazer suas escolhas, uma vez que a vontade individual 
é superior à vontade coletiva. 
d) A Solidariedade Mecânica é aquela que estabelece a noção de hierarquia social, 
do status social, impedindo a mobilização social. A Solidariedade Orgânica é 
marcada pela semelhança entre os indivíduos, estabelecendo o equilíbrio, já que 
todos os indivíduos são iguais. 
e) Nenhuma das definições acima é correta. 
 
3. Sobre o Materialismo Histórico é CORRETO afirmar: 
 
a) A concepção materialista da história proposta por Karl Marx buscava compreender 
as mudanças estruturais na sociedade a partir das ideias e dos valores elaborados 
em cada período. 
b) O materialismo histórico se propõe a pensar as mudanças sociais a partir de um 
conflito entre os modos de produção pré-existentes e os elaborados a partir deste 
c) A concepção materialista da história pensa os sujeitos como determinados por suas 
condições materiais de existência. Além disso, pensa a história como construída 
não pelas ideias e pelos valores, mas pelo exercício transformador do trabalho. 
d) O materialismo histórico pode ser denominado também como concepção idealista 
da história. 
e) A concepção materialista da história exclui o conflito, a contradição da análise 
social. 
 
4. Sobre a relação entre indivíduo e sociedade na sociologia marxista, marque a 
opção correta: 
 
a) Para Karl Marx os indivíduos são fortemente influenciados por suas condições 
materiais de existência e, portanto, pela classe à qual pertencem. 
b) O pensamento marxista procura compreender o sentido das ações individuais por 
meio do conceito de ação social. 
c) Para Karl Marx, a consciência coletiva é o condensado das consciências 
individuais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
d) O pensamento marxista o indivíduo só adquire uma consciência sobre o seu papel 
no mundo na medida em que ele é capaz de se desvencilhar das doutrinas 
religiosas. 
e) Para Karl Marx, o que dá forma social às consciências são as doutrinas políticas e 
religiosas. 
 
5. O tema da racionalidade dos indivíduos era debate constante entre intelectuais da 
época de Max Weber, mas ele se distanciava de seus contemporâneos, sobretudo 
os autores da economia liberal por: 
 
a) Considerar que nenhum indivíduo consegue ser plenamente racional devido a uma 
impossibilidade biológica. 
b) Tomar como plenamente racional somente as nações do oeste europeu. 
c) Afirmar que racionalidade individual ocorre dentro de um meio social que a 
influência e é por ela influenciada. 
d) Considerar razão individual é totalmente parte da mentalidade social, por isso é 
possível afirmar que somente algumas nações geram indivíduos racionais. 
e) Atestar que a racionalidade é plena. 
 
6. A noção de racionalidade weberiana é colocada como uma ética da 
responsabilidade, pois: 
 
a) Os indivíduos racionais são conscientes dos impactos de suas ações sobre a 
comunidade, sempre agindo em favor dela. 
b) Os indivíduos consideram a técnica da ação empreendida, assim como as 
consequências da mesma em um determinado contexto social. 
c) O indivíduo sempre realiza um debate interno, a reflexividade, sobre se aquela ação 
está de acordo ou não com a moral vigente em sua sociedade. 
d) Opõem-se a perspectiva de moral platônica, que considera a relação somente do 
indivíduo consigo mesmo. 
e) Abre-se constantemente para o debate com pares para deliberar sobre a melhor 
ação social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
7. Segundo Max Weber, o indivíduo realiza diversas ações, que são denominadas: 
 
a) Ações individuais, a partir da razão, desconsideram efeitos sociais. 
b) Ações coletivas, que buscam a padronização da consciência coletiva. 
c) Ações egoístas, que visam sempre alcançar o maior benefício. 
d) Ações comunitárias, que almejam o estreitamento dos laços sociais. 
e) Ações sociais, que visam outro indivíduo e têm efeitos sociais reais. 
 
8. Max Weber mescla a ideia de indivíduo e sociedade ao: 
 
a) Considerar que as decisões individuais consideram a sociedade, que é constituída 
por indivíduos que têm sua identidade forma por parâmetros sociais. 
b) Considerá-los como totalmente exteriores um ao outro. 
c) Postular que a sociedade tem controle total sobre a mentalidade individual. 
d) Afirmar que os indivíduos são a única fonte de constituição da sociedade. 
e) Considerar que ambos se influenciam em igual medida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
INTRODUÇÃO À TEORIA 
POLÍTICA 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
A história da humanidade é marcada por várias questões: qual o sentido da 
vida, como será o futuro, entre outras. A filosofia, e antes a mitologia, sempre buscou 
dar respostas, ou mais precisamente, apontar caminhos. Nesta unidade, que busca 
trazer uma introdução à teoria política começaremos com a filosofia política.Vários 
dos assuntos abordados por autores aqui, antigos como Aristóteles ou mais recentes 
como Rousseau, ainda são temáticas de grande importância para a atual ciência 
política. As respostas desses filósofos podem não ser sempre tão atrativas nos dias 
atuais, no entanto as perguntas que fizeram e as relações que apontaram, vão 
possibilitar que você não somente abra mais do que seu leque de respostas, como o 
seu leque de perguntas. 
O pensamento do acadêmico é, de alguma forma, pouco original. Nenhum 
pensador amplamente respeitado na sua área elabora suas teorias de forma 
autônoma, seja nos laboratórios mais sofisticados da astrofísica, seja no minucioso e 
silencioso trabalho entre os livros do especialista em literatura. Nós acadêmicos 
sempre estamos apoiados uns nos outros. No caso desse livro, cada capítulo tem um 
ou dois autores básicos, ou seja, pesquisadores e/ou pesquisadoras que compõe o 
cerne do que fora escrito. Neste capítulo o autor base foi Leo Strauss em seu livro 
“História da Filosofia Política”, publicado em português pela editora Forense 
Universitária (Grupo GEN) no ano de 2013. Para evitar que o texto seja poluído com 
citações repetitivas, considere que o texto seja em sua maioria formulado a partir da 
interpretação desse autor, quando for baseado em outros autores, será devidamente 
citado. 
 
 ARISTÓTELES (384-322 A.C) 
Aristóteles elaborou uma das mais importantes filosofias do ocidente, sendo 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
amplamente estudado até os dias atuais. De forma geral, a teoria do autor almeja uma 
explicação puramente científica ou teórica do mundo, a exceção é como trata de 
assuntos referentes à ética e à política. A diferença no tratamento temático o próprio 
Aristóteles explica ao dividir a ciência em duas: teóricas (estudados com vistas ao 
conhecimento per si) e práticas (estudadas buscando o benefício que se obtém delas). 
A política não somente está no segundo grupo, como para o autor é a ciência prática 
por excelência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A análise que o autor faz começa com um apuramento do senso comum sobre 
o assunto, aos moldes da dialética de Sócrates e Platão, esse método ocorre porque: 
 
[...] o tipo de raciocínio adequado para lidar com assuntos políticos está mais 
próximo do raciocínio prático ou prudente do cidadão comum, pois se enraíza 
nos detalhes da experiência cotidiana, do que do raciocínio dedutivo do 
cientista ou filósofo (LORD, 2013, p. 111). 
 
Por conta disso, o pensamento político de Aristóteles volta-se aos políticos e 
Ficou curioso por saber mais sobre a teoria desse importante filósofo grego? Aprenda um 
pouco mais sobre ele neste resumo sobre a filosofia do autor: 
https://www.youtube.com/watch?v=SXfHE2p7qeY 
Lord (2013) explica que essa diferença, para Aristóteles reside no objeto. Ciências 
teóricas: coisas não sujeitas a mudança ou cujo princípio de mudança reside nelas 
mesmas; o método de estudo é análise dos princípios/causas dessas coisas; objetivo é o 
conhecimento demonstrativo e para o estudo usamos a porção racional e científico da 
alma; exemplos: metafísica (que você pode saber mais sobre nesse link 
https://www.youtube.com/watch?v=4cZLlVt13WM) e matemática. Ciência prática 
preocupa-se com o ser humano em sua capacidade como ser autoconsciente e fonte de 
ação e essa ação é sujeita a mudanças; a finalidade então é a melhoria dessa ação, 
devemos empreender um estudo utilizando a parte racional e prática da alma (também 
chamada de prudência pelo autor), o método de análise concentra-se no refinamento da 
opinião das pessoas a respeito desses fenômenos. Devido essa diferença, o autor não 
busca por uma natureza dos objetos estudados e não usa um vocabulário técnico rigoroso 
do ponto de vista lógica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
não, primordialmente, aos filósofos. Com isso revela a autonomia da política frente a 
questões metafísicas mais aprofundadas, não por serem contraditórias e sim porque 
um excesso de elucubrações poderia nublar as decisões do político. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A política para Aristóteles divide-se em três ramos: a ética (a ciência do caráter), 
a economia (a ciência da administração do lar) e a ciência política (a ciência de 
governar a comunidade política). Tanto a ética quanto a política são codependentes, 
por isso, antes de adentrarmos nos escritos mais especificamente políticos do autor é 
necessário tratar brevemente de seus pensamentos éticos. 
 
 ÉTICA EM ARISTÓTELES 
A primeira frase do livro de Aristóteles Ética a Nicômaco é “... toda ação e toda 
escolha, têm em mira um bem qualquer...”. Esse pensamento é o começo da reflexão 
ética de Aristóteles e estabelece em qual pressuposto ocorrerá a reflexão do autor 
sobre a ciência política. Aristóteles defende essa ciência como a ciência mestra, pois 
organiza e determina quais ciências devem ser estudadas por quais cidadãos e 
utilizando quais habilidades (ou em termos aristotélicos, faculdades). Ou seja, a 
ciência política utiliza as demais ciências e legisla sobre o que devemos ou não fazer 
visando o bem humano, o que para o autor é a felicidade (Eudaimonia). Assim, a vida 
boa para os indivíduos e para a comunidade política é o tema da ciência política para 
Aristóteles, mas o bem da comunidade política é, na visão do autor mais nobre do que 
a felicidade do indivíduo. 
E o que vem a ser a Eudaimonia para o autor? Essa é alcançada quando a 
A dialética socrático-platônica é uma das bases da filosofia ocidental, consistindo na 
chegada à verdade por meio do diálogo. Para saber mais sobre, assista a este vídeo: 
https://www.youtube.com/watch?v=9a7znBgTVZ0. 
Esses seriam os detentores de poder político real ou potencial e/ou ao legislador, pois, 
esse cria a estrutura constitucional dentro da qual ocorre toda a ação política. Nos termos 
de hoje seriam os cargos executivos e legislativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
alma age em conformidade com a virtude do ser, se esse tem várias, com a melhor 
delas. Felicidade para Aristóteles é a conformação do indivíduo a quem ele de fato é, 
o que implica em estar encaixado na sociedade e no universo como um todo para o 
autor. Aristóteles, entretanto, pontua que chegar à felicidade não advém apenas do 
esforço individual, mas, nas palavras do autor, “é um joguete do destino ou uma dádiva 
dos deuses”, pois vai depender de fatores externos como a família, amigos, em suma, 
a sociedade no qual esse indivíduo encontra-se. O fator social da felicidade e, 
consequentemente, das virtudes nos leva para a questão do hábito, pois o autor 
considera que todo ser humano tem potencial para desenvolver qualquer virtude é 
necessária uma prática constante para de fato desenvolvê-las como ocorre com as 
artes. 
Aristóteles lista muitas virtudes, para nós nesse momento, observemos as 
características comuns entre elas. Primeiro lugar, as virtudes são disposições nas 
quais o indivíduo escolhe intencionalmente uma ação que observa o meio termo, que 
não pode ser definido de forma abstrata, mas depende de circunstâncias específicas. 
A razão, na ação moral de Aristóteles, tem caráter fundamentalmente instrumental, 
mas que não visa as consequências do ato e sim a busca da ação virtuosa por si 
mesma. Um exemplo é que a ação virtuosa é a coragem, pois não é uma ação covarde 
e nem uma ação temerária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para o filósofo de Estagira, a pessoa que engloba todas as virtudes é uma 
pessoa magnânima, pois não somente exerce todas as virtudes, mas que não poderia 
existir sem elas, assim possui virtudes e as aperfeiçoa. A pessoa magnânima3 era, 
via de regra, de grande valia para a pólis, no entanto, sua busca constante pela virtude 
poderia ser prejudicial à comunidade política, devido um relativo desprezo à mesma 
na prática do aperfeiçoamento das suas próprias virtudes. 
A discussãosobre o que o indivíduo deve almejar ao realizar uma ação: ela em si ou as 
consequências dela derivadas; é um tópico de intensa discussão ao longo de toda a 
filosofia. Duas correntes de pensamento definem em termos mais modernos essa 
discussão: Kant e a escola utilitarista. Uma breve explicação sobre a ética kantiana pode 
ser vista neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=zVGiAo9MwN0 ; a ética 
utilitarista é resumida neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Qf75AHrr6WI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
Importante salientar que para Aristóteles, traço característico da sua sociedade, homem 
era representativo de toda a humanidade. Apesar de ser possível apontar que para autores 
mais recentes que utilizam a terminologia dê-se mais por um vício de linguagem, no caso 
dos autores gregos a mulher era vista como inferior e dificilmente dotada de virtudes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 JUSTIÇA EM ARISTÓTELES, A ÉTICA DA PÓLIS 
A magnanimidade está para o indivíduo, assim como a justiça está para a 
cidade. Em síntese: 
 
[...] a justiça é aquilo que produz e preserva a felicidade para a comunidade 
política e, por conseguinte, é praticamente idêntica ao cumprimento da lei, já 
que as leis visam garantir o bem comum da cidade [...] na medida em que as 
leis impõem, a realização de todas as virtudes (ARISTÓTELES apud LORD, 
2013; p.117). 
 
E assim como a magnanimidade pode conflitar com as necessidades da cidade, 
a justiça não necessariamente satisfaz as necessidades do indivíduo. Em sentido 
mais exato a justiça é “a disposição de dar ou tomar apenas uma parcela justa ou 
igual (ison) das coisas boas” (LORD, 2013, p. 117). Assim, podemos distinguir dois 
tipos de justiça: 
 
1) Distributiva: distribuição do que puder ser distribuído pelos membros da pólis 
(riqueza, honras e etc.). Essa distribuição é igual entre pessoas iguais, mas 
desigual entre desiguais. Emerge então, quais serão os critérios de mérito para 
essa distribuição, o que será examinado nas formas de regime. 
2) Corretiva: regulação das transações entre indivíduos, seja como contratos, ou 
nas punições à crimes diversos. Ao contrário da justiça distributiva, aqui há uma 
igualdade aritmética, pois formula-se uma lei geral, abstraindo o indivíduo 
particular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
Mais contemporaneamente podemos considerar esse ponto como o início do debate, e 
possível dicotomia, entre Estado e sociedade civil. Esse tema é amplamente discutido 
pelos filósofos contratualistas. 
 
 
 
 
É importante ressaltar que a justiça é algo que só ocorre em uma comunidade 
de pessoas relativamente livres e iguais, de relações reguladas pela lei. Assim, a 
justiça é característica do Estado e o tribunal para exercê-la é própria definição do 
mesmo. Mas como já escrito, Aristóteles tem certa aversão a proposições muito 
generalistas, o que não é diferente da sua percepção sobre justiça e lei, ou seja, 
somente a lei não responde a constituição de uma cidade que garanta a Eudaimonia. 
O vácuo deixado pela lei é em grande medida preenchida pela amizade (philia), que 
tem significado mais amplo do que utilizamos hoje, englobando qualquer tipo de 
associações entre indivíduos. A importância política da philia é a atenuação do apego 
dos indivíduos a seus interesses particulares em favor de uma partilha espontânea 
dos bens externos com os outros, por meio dela, então, há um reforço da comunhão 
de interesses, base de todas as associações humanas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 PÓLIS COMO UMA FORMA DE ASSOCIAÇÃO ESPECÍFICA E FORMAS DE 
REGIME 
Por definição, a pólis é uma associação de pessoas que partilham ou possuem 
Toda sociedade produz determinados bens e é inegável que só conseguimos produzir 
muitos desses bens porque vivemos em sociedade, utilizando do trabalho dos demais 
para produzir nosso próprio trabalho. A questão da distribuição em Aristóteles é bastante 
atual, pois nos faz pensar em quais seriam os critérios que usaríamos para distribuir os 
bens produzidos pela sociedade. Atualmente na nossa sociedade quem possui maior 
renda têm maior acesso aos bens, mas nos faz pensar: o que define a pessoa ganhar 
mais ou menos dinheiro? Esforço individual, trabalho que mais beneficia a sociedade 
como um todo, atividade de mais difícil execução… Qual seria o critério que você usaria 
para fazer essa distribuição? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
determinadas coisas em comum, devido a máxima aristotélica, essa associação tem 
em vista algum bem. No entanto, essa associação possui especificidades que a faz 
não ser confundida com outras formas de associação, como a família ou um governo 
tribal. A diferença reside em: 
 
1) A cidade é, ou tende a ser, uma sociedade de seres humanos que são livres e 
iguais, diferindo-se pelas especializações de caráter econômico. Desse modo, a 
diferença é um fator de grande importância para a cidade o que leva à unidade 
a partir da educação, hábitos, filosofia e leis 
2) A finalidade da família é a reprodução e a preservação dos indivíduos que fazem 
parte dela, enquanto a finalidade da cidade é o “viver bem”, ou seja, nela é 
possível transformar em ato a potência para a felicidade que todos seres 
humanos têm. Mas ambas, família e cidade, são naturais ao ser humano, daí 
vem a afirmação de que o ser humano é por natureza um animal político. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se existe relativa diferença entre pólis e outras formas de organização, 
Aristóteles precisava construir uma definição de pólis e inicia a partir de sua 
identidade. Para o autor, a identidade de uma cidade advém dos seus cidadãos 
(politai), que podem ser definidos com aqueles que tomam parte das decisões ou do 
governo, por ocupar cargos do mesmo pelo poder voto em assembleias ou júris. Com 
isso, a cidadania depende, e mais especificamente, é uma função do regime (um 
cidadão em uma democracia não necessariamente será cidadão em uma oligarquia). 
Assim, Aristóteles chega à conclusão que a identidade da cidade é definida pelo seu 
tipo de regime. 
O regime, por sua vez, é definido como “um ordenamento de uma cidade com 
A associação em cidades é natural, mas a sua fundação e expansão não, pois advém de 
atos descontínuos e intencionados dos indivíduos. 
Além de suprir a necessidade gregária (para Aristóteles os seres humanos são 
naturalmente inclinados a manter-se próximos um dos outros), para os seres humanos é 
importante o compartilhamento de determinadas percepções do mundo. O que leva a 
afirmar que o ser humano é um animal político porque é um animal racional e moral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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relação a seus ofícios, especialmente aqueles que têm autoridade em todas as 
questões” (ARISTÓTELES apud LORD, 2013; p. 128). 
Em outras palavras: o regime é definido pelo seu corpo governante, sobretudo, 
quem governa. A análise das formas de regime em Aristóteles tem critério quantitativo 
e qualitativo. Critério quantitativo refere-se a quantos governam: um governante, 
poucos governantes ou muitos governantes; o critério qualitativo: o governo visa o 
bem comum ou o bem privado do governante. Assim, há seis formas de governo 
possíveis dentro do pensamento aristotélico, sendo a oligarquia e a democracia as 
formas mais comuns no período em que vivia o autor: 
 
• A monarquia é a forma virtuosa de governo quando há apenas um 
governante. O problema identificado por Aristóteles nesse regime é a 
possibilidade do governante, mesmo que virtuoso, sucumbir às suas paixões, 
o que transformaria o governo em um regime vicioso, uma tirania 
• A tirania é forma viciosa de regime, na qual um governante gere a sociedade 
visando o benefício próprio e não o bem comum, ou seja, possibilitar a 
felicidade de seus cidadãos 
• A aristocracia é forma virtuosa que ocorre quando há poucos governantes, 
sendo esses os melhores cidadãos que existem na pólis. A vantagem dessa 
forma degoverno, em relação à monarquia, é que vários indivíduos virtuosos 
são menos suscetíveis às paixões do que um único indivíduo. Por 
consequência, esse regime é menos propenso a tornar-se vicioso. 
• Oligarquia é a forma viciosa do governo de poucos, sendo esses poucos os 
ricos de uma pólis. Semelhante com as formas virtuosas de governo, esses 
governantes gerem a cidade a partir da justiça distributiva, ou seja, iguais 
recebem igualmente o que é socialmente produzido. Entretanto, o que define 
a desigualdade entre as pessoas é a riqueza, assim, o tratamento desigual é 
baseado nas posses do indivíduo e não em seu mérito. 
• Politeia/governo civil: forma virtuosa do governo de muitos. De todas as 
formas virtuosas essa é a mais propensa a tornar-se viciosa, pois dificilmente 
uma cidade terá uma maioria formada por cidadãos virtuosos, assim 
facilmente as leis e a prática levariam para sua forma viciosa, a democracia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
• Democracia: forma viciosa do governo de muitos, sendo esses as pessoas 
pobres da pólis. Concordam a justiça distributiva, ou seja, pessoas iguais 
recebem coisas iguais. Entretanto a desigualdade não é definida de forma 
apropriada, não havendo justiça em sua distribuição, além da igualdade na 
distribuição ser a pobreza. 
 
 O ESTADISTA 
Voltando para a questão das virtudes e, assim, tratar das formas de governo 
virtuosas, é importante destacar o papel da prudência para político de qualquer regime 
virtuoso. A prudência é a virtude de conseguir adaptar os universais presentes nas 
virtudes morais às circunstâncias particulares em que a ação moral deve ocorrer. 
Devido a isso, é necessário um acúmulo de experiência por parte do indivíduo. A 
prudência pode desenvolver-se em duas formas: arquitetônica, que elabora as leis, e 
prática deliberativa, que se debruça sobre as práticas cotidianas do fazer político. 
Assim, o estadista combina virtude moral com inteligência prática, tendo não somente 
experiência, mas o conhecimento das particularidades do povo que governa. 
Conhecimento esse que pode ser dividido em quatro áreas, na qual o estadista deve 
estar familiarizado: comércio, finanças, defesa e política externa. 
A ênfase na prática desdobra para uma crítica aos sofistas, pois esses 
consideravam que discursos sobre a virtude e elaboração de leis bastavam para que 
os cidadãos praticassem ações virtuosas. Aristóteles contrapõe essa visão ao afirmar 
que a lei só leva à obediência por meio do hábito e do costume, enraizando-se na 
prática somente com o tempo. A ineficácia das leis, quando pensadas desassociadas 
da prática, leva o filósofo a enfatizar a importância da forma de governo, ou regime 
para usar expressão do autor, para instaurar as virtudes. 
 
 MAQUIAVEL (1469 - 1527) 
 
[...] sendo meu intento escrever algo útil para quem me ler, parece-me mais 
conveniente procurar a verdade efetiva das coisas do que o que se imaginou 
sobre elas. Muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram 
vistos e que nem se soube se existiram na verdade [...] (MAQUIAVEL, 2004, 
p. 73). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
Nicolau Maquiavel poder ser considerado como um dos marcos da passagem 
da Idade Média para a Moderna, tanto pela época em que viveu como por sua teoria 
política. Embora em seus livros mais famosos não haja um aprofundamento em 
questões epistemológicas, na análise que o autor empreende sobre a sociedade e 
como deve ser um governo se faz presente dois pressupostos: conhecimento da 
realidade e utilidade desse conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A modernidade é marcada, no plano da epistemologia, por uma perspectiva 
menos contemplativa do conhecimento e mais ativa. No campo científico a física 
aristotélica cede lugar a física experimental de Copérnico e Galileu. Essa nova 
perspectiva carrega a necessidade da análise mais acurada dos fenômenos e um 
conhecimento que ganha contornos de praticidade para a resolução e controle das 
situações analisadas. Não há referência direta na obra de Maquiavel a Copérnico, seu 
contemporâneo, e Galileu nasceu pouco após a morte do autor florentino. No entanto, 
o espírito da época era compartilhado por esses três nomes. Enquanto Copérnico e 
Galileu modificaram radicalmente o modo de fazer ciência, Maquiavel altera como 
analisar e propor formas de governo; enquanto Copérnico e Galileu são os pais da 
ciência moderna, Maquiavel pode ser considerado o pai da filosofia política moderna. 
Ao contrário de Hobbes, que será visto na sequência, que outorgava o título de 
uma ciência política, as preocupações de Maquiavel vinha menos no sentido de uma 
legitimação do seu campo de saber por meio da teoria e mais pela eficácia e 
conhecimento testado ao longo da história. Maquiavel elabora uma teoria política a 
partir de exemplos e fatos históricos buscando tanto construir uma psicologia dos 
governados quanto elencar qualidades que um governante deve possuir, a virtú7. 
Segundo o autor, é de suma importância um governante saber os dois lados que 
compõem qualquer Estado: governante e governados, pois só assim o governo se 
A epistemologia é um conceito muito importante nas ciências como um todo, ela será mais 
abordada na unidade 5 para pensar a questão da identidade e de formas de pensamento 
não-ocidental. Mas aqui estamos utilizando a partir da sua definição mais usual e 
amplamente usada na filosofia tradicional, caso queira saber mais, acesse o link: 
https://www.youtube.com/watch?v=QIFR6hx1X0s 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
manterá diante da fortuna, os acasos da vida, dominando aquilo que o governante 
efetivamente tem capacidade de controlar. 
 
 
 
 
 
 
Assim, a teoria de Maquiavel será dividida em duas partes: análise da 
sociedade e sugestões de governança. Isso ocorre porque ao mesmo tempo que há 
uma valoração da ação no presente, essa ação deve ser embasada em uma 
compreensão histórica que entende as múltiplas relações dos momentos passados. 
Assim, a ação do governante deve ser pautada na realidade dos fatos e não em um 
“dever ser”. Pois a necessidade guia a ação a política, não a idealização. 
 
 Sociedade em conflito 
Maquiavel, a partir de relatos históricos, observou que seres humanos sempre 
tendem à divisão e à desunião. Essa situação gera uma tensão social entre dois 
grupos sociais: o povo, que deseja não ser oprimido e busca a liberdade, e o que 
Maquiavel denomina de “grandes”, pessoas abastadas da comunidade e que buscam 
dominar o povo. Assim, o Estado é constituído por uma correlação de forças que se 
origina das características do ser humano para o autor: perseguir seus interesses, 
mesmo que disso decorra o prejuízo dos demais. Para Maquiavel o ser humano age 
segundo impulsos egoístas, pois se consideram acima de qualquer princípio moral. A 
consequência é que a bondade se manifesta por coação, enquanto a maldade cada 
vez que tem oportunidade. Em termos práticos o povo sempre será oprimido seja 
pelos grandes, pelo governante ou por ambos. Esse último é preferível, pois pode 
frear os impulsos de dominação dos grandes, assim como seu intento final é o poder, 
enquanto que os grandes além do poder almejam a opressão do povo. 
O autor empreende um rebaixamento da política no sentido de que não objetiva 
a perfeição do ser humano, mas constrói sua teoria a partir das metas inferiores 
almejadas pela maioria das pessoas, seja no âmbito coletivo quanto no privado. Pois 
o apoio que os governados, povo ou grandes, darão a um governante advém de uma 
intricada relação de amor e temor. Considerando que os indivíduos estão em 
7 Capacidade de agir diante das situações e realizar suas vontades no curso das coisas 
(fortuna) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
constante busca para suprir suas paixões, obtendo o que deseja ou se afastando o 
que rejeita, temos uma dinâmica peculiar na qual os seres humanos são mais 
facilmentesuscetíveis a temer do que amar algo. Pois o amor é algo volátil, portanto, 
menos controlável por agentes externos; enquanto o temor é mais presente e objetivo, 
podendo ser instigado mais facilmente. E nisso entre a polêmica teoria do autor do 
governante alternar entre vícios e virtudes, que será explicado mais detalhadamente 
nas sugestões de governança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Sugestões de governança 
A finalidade última do governante é manter-se no poder por meio de ações que 
alcancem o bem coletivo, na visão de Maquiavel, isso ocorre por meio da estabilidade 
do Estado. A partir de exemplos históricos, Maquiavel elabora sugestões, que giram 
em torno da administração da tensão social inerente à sociedade, assim como 
proceder no controle das paixões dos governados a partir da alternância de “virtudes 
e vícios”. 
Ao tratar da alternância entre virtudes e vícios que o governante deve 
empreender, é necessário pensar a divisão entre moral individual e moral política, pois 
o governante não gere apenas o seu destino particular, mas o interesse coletivo. Por 
conta disso, o chefe de Estado deve agir de acordo com as consequências e não a 
partir de preceitos morais individuais. A valoração da ação política é determinada se 
essa ação atende ou não o bem coletivo. Por conseguinte, algumas virtudes no 
sentido cristão e grego clássico, caso empreendidas pelo estadista, podem arruinar o 
Estado enquanto que os vícios podem ser benéficos ao mesmo. De modo geral, a 
política adequada é 
A liberdade dos governados, que é uma das questões fundamentais na modernidade, 
sobretudo no pensamento político da época, começa a ganhar maior relevância com 
Maquiavel e será tônica das discussões sobre os autores Contratualistas 
Maquiavel empreende uma importante ruptura no nível da perspectiva sobre o ser humano 
ao enfatizar a luta pelo poder. A perspectiva anterior predominante, a tradição cristã, 
coloca relevo sobre a unidade dos seres humanos, pois todos são iguais perante os olhos 
de Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
[...] aquela que se concilia com o ser da sociedade, que acolhe os contrários, 
se enraíza no tempo, se dispõe a costear o abismo sobre o qual repousa a 
sociedade, de enfrentar o limite constituído pela impossibilidade de compor 
os desejos humanos (WINTER, 2006, p. 121). 
 
Maquiavel empreende uma dissociação da ética cristã, laicizando a prática 
política, pois não existem critérios prévios que restringirão uma determinada conduta, 
pois o que balizará o ato do governante é a consequência, que deve ser de conquista 
e manutenção do poder, apoiado no povo. A autonomia política tem como 
consequência o distanciamento de qualquer ética que estabelece uma hierarquia 
prévia de valores. A ênfase constante que Maquiavel dá esse aspecto deve-se à 
consideração do autor de que a prática de atos guiados por valores não políticos, 
levará ao governante a gerir o Estado para o fracasso, tornando-se um chefe de 
Estado incompetente. 
 
 
 
 
 
Virtude e vício serão termos utilizados em relação a uma moralidade que não 
se refere a lógica política em si, pois se for para o bem coletivo toda ação, qualquer 
que seja, será virtuosa. Considerando a ética cristã, um governante deve alternar 
entre ações virtuosas (como a generosidade) e viciosas (como a violência) a fim de 
manter-se no poder, pois cada situação exige uma política específica. Essa 
alternância propicia uma relação de amor e temor dos governados. Entretanto, é difícil 
a existência conjunta de ambos os sentimentos, nesse caso, o governante deve optar 
que seus governados o temam. A razão disso advém de uma busca por parte de 
Maquiavel em permitir maior encargo para a virtu do governante e menor espaço para 
elementos exteriores ao mesmo, a fortuna. 
Uma temática muito debatida na teoria de Maquiavel é o uso da força e da 
violência pelo governante. Para o autor a violência é justificável caso seja política, ou 
seja, que ocorra em função do bem coletivo, pois os atos violentos sem atender esse 
intento, ou seja, por sadismo, gerarão paulatinamente não o temor da população, mas 
ódio. Assim como a tomada da propriedade dos governados pelo chefe de Estado. 
Difere de uma amoralidade, pois há a defesa de uma moralidade específica no qual o 
critério normativo é a utilidade à comunidade política. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
Em certa medida, é possível afirmar que para Maquiavel a violência é a última 
instância de ação do governante, ação essa que visa dosar a liberdade dos 
governados de modo a permitir o desenvolvimento da humanidade dos mesmos. O 
uso constante da violência é mais comum e necessário em Estados novos ou com 
governantes novos, pois com o tempo ocorre o estabelecimento do governo. Isto gera 
um reconhecimento, por parte dos súditos, da autoridade do governante como 
legítima, de modo que a força não seja necessária a todo instante. Desse modo, a 
legitimidade ocorre quando governantes e governados se concebem como 
pertencentes ao mesmo destino, a mesma fortuna. Mediar as relações conflitivas entre 
os dois grupos sociais antagônicos é um dos papéis do governante. De modo que o: 
 
[...] desafio do príncipe é manter o equilíbrio do Estado diante dos desejos 
dos diferentes atores que encenam a realidade social e política. Quando o 
príncipe reconhece esta verdade (veritá effetuale) e enxerga o óbvio, então é 
capaz de manter o Estado. A obviedade está na não existência de uma 
verdade política estabelecida. A estabilidade do Estado é a instabilidade 
política gerada pelo conflito social (WINTER, 2006, p. 126). 
 
Essa mediação deve respeitar a seguinte sugestão: o domínio sobre o povo 
deve ser mais fortemente exercido pelo governante do que pelos grandes devido a 
uma questão estratégica e de bem coletivo. A última é pela razão de que o governante 
busca somente o domínio e o poder do povo, enquanto que os grandes, além dos dois 
elementos anteriores, visam a opressão do mesmo. O apoio no povo, por parte do 
governante, também ocorre por motivação estratégica, pois o povo almeja apenas a 
não-opressão, caso isso seja efetivado ele torna-se inofensivo. O mesmo não pode 
se dizer sobre os grandes, que rivalizam com o governante o poder, podendo tomar-
lhe. Além disso, é mais fácil proteger-se dos grandes, pois são poucos, do que do 
povo, por ser numeroso. 
Fica evidente que Maquiavel, ao contrário dos seus antecessores na filosofia 
política, não buscava eliminar as paixões dos indivíduos, mas afirmava a necessidade 
do governante gerir o Estado a partir delas. Pois, para o autor, a unidade política não 
pressupunha a aniquilação do conflito social, algo que necessariamente ocorrerá e 
gerará melhorias sociais. De modo que o dever do Estado é dar vazão ao conflito de 
desejos, sem estimulá-lo e sim gerenciá-lo. Re resumo, o governante de virtu 
compreende as relações conflitivas e determina sua ação a partir dessas relações, e 
não a partir de um ideal de governo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 THOMAS HOBBES (1588-1679) 
Thomas Hobbes em seu estudo tem uma dupla intenção: dar base científica 
para a filosofia moral e política e contribuir para uma paz cívica; de modo que teoria e 
prática estavam interligadas para evitar o fracasso, no mundo prático, das teorias da 
Grécia e da Roma antigas (BERNS, 2013). 
Para isso, baseava-se na matemática, que, em sua concepção, construía as 
suas análises e descobertas a partir de: 
 
1) Método compositivo (sintético): raciocina a partir das causas primeiras, dos 
elementos mais básicos, e a partir deles deriva o restante de seu pensamento 
2) Método resolutivo (analítico): dos elementos aparentes, ou relevantes, chega 
até as causas de sua produção. 
 
O método resolutivo é importante para sua filosofia política, pois é a 
metodologia que utilizará para seus estudos na filosofia política. Hobbes

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