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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/328659281
Resenha de "Brasil: uma biografia não autorizada" de Francisco de Oliveira
Article  in  Mediações Revista de Ciências Sociais · October 2018
DOI: 10.5433/2176-6665.2018v23n2p492
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2 authors, including:
Rafael Marino
University of São Paulo
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https://www.researchgate.net/institution/University-of-Sao-Paulo?enrichId=rgreq-62167a1e16c749c9353a9d17b3fd5c00-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyODY1OTI4MTtBUzo4NDA3ODYzODM5OTQ4ODFAMTU3NzQ3MDUwMzU3OA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Rafael-Marino-3?enrichId=rgreq-62167a1e16c749c9353a9d17b3fd5c00-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyODY1OTI4MTtBUzo4NDA3ODYzODM5OTQ4ODFAMTU3NzQ3MDUwMzU3OA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/profile/Rafael-Marino-3?enrichId=rgreq-62167a1e16c749c9353a9d17b3fd5c00-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyODY1OTI4MTtBUzo4NDA3ODYzODM5OTQ4ODFAMTU3NzQ3MDUwMzU3OA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
Recebido em 03/05/2018. Aceito em 05/08/2018. 492
RESENHA
DOI: 10.5433/2176-6665.2018.2v23n2p492
Brasil: uma biografia não autorizada
Brazil: An Unauthorized Biography 
OLIVEIRA, Francisco. Brasil: uma biografia não autorizada. São Paulo, Boitempo 
Editorial, 2018.
Por
Leonardo Octávio Belinelli de Brito1
Rafael Marino2
Publicado em um momento de intensa crise política do país, 
Brasil: uma biografia não autorizada, de Francisco de Oliveira, traz ao 
leitor a expectativa de que o livro tome a mencionada crise como seu 
assunto direto. Expectativa razoável, aliás, na medida em que o seu 
autor não é apenas um dos sociólogos críticos mais importantes do 
Brasil contemporâneo, como também pelo sugestivo subtítulo, que 
indica que o livro trará à tona uma revisão profunda (biografia) e não 
comumente percebida (não autorizada). À primeira vista, esse não 
parece ser o caso. Daí que uma primeira leitura do livro possa trazer 
certa insatisfação, tanto mais pelo fato de que todos os artigos que o 
compõem já foram publicados em outras ocasiões. 
Cabe, no entanto, outra perspectiva, menos óbvia e de maior 
fôlego. Isto é: em um momento no qual somos acometidos pelo 
“presentismo” que toda crise de alta voltagem impõe – traduzida, 
1 Doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil. 
Email: belinelli.leonardo@gmail.com. 
2 Mestrando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Email: 
rafaelmarino50@gmail.com. 
mailto:belinelli.leonardo@gmail.com
mailto:rafaelmarino50@gmail.com
493LEONARDO OCTÁVIO B. DE BRITO | RAFAEL MARINO | Brasil: uma biografia não autorizada
empiricamente, nas constantes (e necessárias) discussões sobre a 
conjuntura política, social, cultural e econômica do país –, talvez 
ganhemos algo em nos afastar dele por um momento para olharmos a 
situação de um ângulo mais vasto. Se não estivermos enganados, essa, 
precisamente, parece ser uma das principais contribuições do livro ao 
debate contemporâneo.
Agregado ao afastamento da discussão mais imediata, o 
conjunto de ensaios, muito variado e de densidade desigual, parece 
ter um fio condutor específico: o esforço de interpretar o Brasil. Nesse 
plano, recuo de perspectiva e esforço interpretativo formam um dueto 
afinado: afinal de contas, a interpretação de longo alcance – cujo objetivo, 
não se engane o leitor, é analisar o presente – necessita do recuo, que 
aqui se revela como uma estratégia adequada ao seu propósito. Desse 
prisma, a insatisfação de uma primeira leitura pode se reconverter em 
expectativa, agora de outro alcance. 
Passada a ansiedade da primeira leitura e o reajuste de foco, 
pode-se apontar que se trata de uma obra cujo cerne é discutir as 
raízes e os desdobramentos do capitalismo periférico brasileiro, o 
qual é entendido a partir do processo colonial, revelador do caráter 
vanguardista do nosso truncamento à mundialização capitalista e seu 
consequente desmanche social. Nisso o nosso autor mantém-se fiel 
às lições da tradição crítica brasileira (ARANTES, 1992; ARANTES 
e ARANTES, 1996), da qual é participante destacado, na medida em 
que esposa uma visão antiilusionista da diferença brasileira e, “por 
isso mesmo, sempre projetada sobre o fundo da marcha desigual e 
enganosamente convergente da civilização capitalista em expansão no 
planeta” (ARANTES, 2004, p. 172).
Nesse sentido, o prefácio escrito por Fabio Mascaro Querido 
e Ruy Braga ocupa lugar decisivo na estruturação do livro, pois 
apresenta uma introdução à original economia política de Oliveira, nos 
aproxima do autor. Concretamente, o texto de Querido e Braga opera 
MEDIAÇÕES, LONDRINA, V. 23 N. 2, P. 492-503, MAI./AGO. 2018494
essa aproximação a partir da análise das diversas molduras intelectuais 
adotadas pelo sociólogo pernambucano na sua busca inquieta por 
desvendar os desdobramentos das formas sociais do capitalismo 
contemporâneo sobre a formação social brasileira3. O fôlego do esforço 
interpretativo de Oliveira é revelado, sobretudo, no primeiro ensaio 
recolhido no livro, intitulado “O adeus do futuro ao país do futuro: 
uma biografia breve do Brasil” e publicado, de maneira reduzida e 
modificada, pela primeira vez em 2006. Nele, o autor analisa as linhas 
mestras da formação nacional, o que fornece chaves analíticas que os 
demais textos exploram, mas remete também a textos não coligidos no 
livro. Nesse sentido, não é exagerado afirmar que se trata de um dos 
textos que conformam a “espinha dorsal” da interpretação de Oliveira 
sobre o Brasil contemporâneo. A partir de um ponto de vista de longue 
durée, ao modo dos clássicos de nossa ensaística nacional (Caio Prado 
Jr., Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, etc.), Oliveira procura 
destrinchar os efeitos de nossos impasses históricos - algo já explorado 
como evolução truncada em O ornitorrinco -, cuja estruturação 
sedimentou, como gostaria Roberto Schwarz (2012a), uma comédia 
ideológica na qual havia um permanente encontro e desencontro entre 
ideias “avançadas” e práticas “obsoletas”. 
Ecoando a linhagem uspiana de “interpretação do Brasil”, 
iniciada sob a influência de Caio Prado Júnior sobre as obras de autores 
como Fernando Henrique Cardoso e Roberto Schwarz, Oliveira remete 
à argumentação de que na colonização da América “o novo” foi parte 
essencial do ressurgimento da Europa, o “velho”, permitindo-lhe aquilo 
que na teoria marxista ficou conhecido como processo de acumulação 
3 Porém, cabechamar a atenção para o fato de que o texto não articula, embora mencione, 
as diversas mudanças de diagnóstico de Oliveira. Por exemplo: lidos em conjunto, os 
ensaios Crítica à razão dualista e O ornitorrinco apresentam leituras e perspectivas 
distintas sobre as formas e destino da industrialização brasileira. Para ficarmos em um 
exemplo: o resgate da teoria cepalina no último indica uma reapreciação da história 
econômica recente do país que não é, infelizmente, explorada por Oliveira. Nada, 
entretanto, que comprometa a qualidade do texto de Braga e Querido. 
495LEONARDO OCTÁVIO B. DE BRITO | RAFAEL MARINO | Brasil: uma biografia não autorizada
primitiva de capital. Muito disputado no concerto das nações estatais 
que surgiam com o Absolutismo, a colônia que viria a ser o Brasil seria 
marcada pelas diversas determinações desse “pecado original” que 
continuaram a se reproduzir, ainda que de formas variadas: a violência 
generalizada com os dominados – indígenas e negros -, a concentração 
de terras e a conjugação, tão brasileira, entre patriarcalismo e 
patrimonialismo. Tudo isso estruturado sobre o processo escravista – 
o cerne do processo colonial, como demonstraram, além dos autores 
já citados, Fernando Novais (2001) e Luiz Felipe de Alencastro (2000) 
-, que imporá os mais importantes problemas para a realização de 
um país decente para todos os seus habitantes. Em suma, nascíamos 
moderníssimos, visto que conosco nascia a modernidade. 
Ao mesmo tempo, esse ensaio de Oliveira traz novidades 
salientes, se comparados a dois de seus principais escritos, como Crítica 
à razão dualista e O ornitorrinco. Em primeiro lugar, avulta a centralidade 
que o sociólogo pernambucano confere aos chamados “intérpretes 
do Brasil” dos anos 1930. Se a presença de Caio Prado Júnior já se faz 
sentir na própria trajetória de sua economia política, as invocações de 
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são menos esperadas. 
O primeiro comparece quando o assunto é a escravidão e o processo 
de formação de um tipo específico da elite brasileira; já o segundo 
aparece quando é empreendida uma comparação entre as colonizações 
portuguesa e europeia na América Latina, bem como em passagem 
alusiva ao contexto do golpe de 1964. Nem mesmo Richard Morse, em 
tudo avesso à sociologia uspiana por sua paixão latino-americana, 
deixa de ser mencionado. As consequências desse enfoque aparecerão 
em outro texto da coletânea, “Jeitinho e jeitão”.
E é precisamente nesse assunto que surge uma segunda 
originalidade do ensaio de Oliveira. Isso porque são relativamente 
poucos os ensaios interpretativos da formação nacional que adotam o 
ângulo latino-americano para entender o país – o que, em boa medida, 
MEDIAÇÕES, LONDRINA, V. 23 N. 2, P. 492-503, MAI./AGO. 2018496
se explica pela própria tese aventada por Oliveira: “somos menos latino-
americanos que nossos vizinhos” (OLIVEIRA, 2018, p.33). Ademais, o 
próprio Oliveira, salvo engano, nunca tinha adotado esse prisma para 
entender a formação do país. Qual, então, o lugar desse tema no ensaio?
É claro que é possível especular que o tema tenha sido tratado 
por razões editoriais; afinal de contas, o ensaio foi encomendado para 
compor um projeto editorial liderado por Emir Sader, Ivana Jinkings, 
Rodrigo Nobile e Carlos Eduardo Martins sobre o subcontinente. 
E a própria tese de Oliveira sobre o assunto poderia sugerir algo 
nesse sentido, pois, se não somos tão latino-americanos como nossos 
vizinhos, poder-se-ia pensar que não há porque adotarmos esse 
prisma para compreender a formação histórica do país. O raciocínio, 
embora verossímil, é enganoso. Depois de analisar os fatos culturais e 
econômicos que afastaram o Brasil dos demais países latino-americanos, 
Oliveira mobiliza o aspecto central de sua argumentação: a viabilidade, 
por via da integração das economias do subcontinente, da retomada de 
certa possibilidade de desenvolvimento - em contraposição à integração 
globalizada predatória proposta pelo neoliberalismo.
Mas a maior parte do ensaio é ocupada por uma reflexão sobre 
o período da economia brasileira pós-1930, um pouco aos moldes de 
Crítica à razão dualista e O ornitorrinco. O período é caracterizado por 
Oliveira como “a vertigem da aceleração de um desenvolvimento de 
quinhentos anos em cinquenta anos de história” (OLIVEIRA, 2018, 
p.41). Em boa medida, as bases para essa aceleração teriam surgido 
com Vargas, que teria promovido inúmeras inovações institucionais 
em planos variados cujo resultado foi a “ampliação da dominação 
burguesa de classes no Brasil”, a despeito da sua direção política ter 
carecido daquilo que Oliveira, utilizando Antonio Gramsci, chamou de 
hegemonia. A prova principal disso estaria na falta de “consenso” da 
relação entre Vargas e São Paulo, estado com a maior economia do país. 
497LEONARDO OCTÁVIO B. DE BRITO | RAFAEL MARINO | Brasil: uma biografia não autorizada
Ainda no plano conceitual, mas em sentido mais amplo, vale 
a penas chamar a atenção para a combinação, também presente em 
O ornitorrinco, que Oliveira promove entre os conceitos cepalino de 
“subdesenvolvimento” e gramsciano de “revolução passiva”. O intuito 
da conjugação é destacar a dimensão repressiva da forma assumida pelo 
processo de modernização brasileira. Essa chave cepalino-gramsciana 
de interpretação do país será desdobrada e refinada em outros dois 
textos constantes na coletânea, “Hegemonia às avessas” e “O avesso 
do avesso”. 
Ao mesmo tempo, no entanto, é decisivo destacar a ambição 
desse processo, que teria chegado mesmo a contestar a direção que os 
Estados Unidos impunham ao mundo ocidental durante a Guerra Fria. 
Esse processo teria continuado sob o governo Juscelino Kubitschek, 
conforme revelaria o projeto de Brasília, momento decisivo em nossa 
história econômica, pois marcado pela chegada das principais empresas 
capitalistas mundiais aos países periféricos. 
A vertigem promovida pelas rápidas transformações 
econômicas, políticas, sociais e culturais acabou resultando no golpe de 
1964, o qual, no entanto, não teria produzido uma redução de marcha. 
Em certo sentido, continuava o projeto de Vargas e Kubitschek, sendo 
avesso ao liberalismo econômico, embora tenham sido seus epígonos 
os autores da intervenção estatal na economia do período. Por meio 
dela, o regime militar produziu uma nova correlação de forças sociais 
e políticas cujo resultado, no campo progressista, foi a articulação entre 
o Novo Sindicalismo e os demais setores que dariam origem ao Partido 
dos Trabalhadores (PT), fortalecida pela crise econômica e política do 
final do período militar. Nesse sentido, vale destacar o diálogo tenso 
que Oliveira estabelece ao longo de todo o ensaio com o PT, partido ao 
qual se juntou e do qual se desfiliou no momento em que chegou ao 
poder. Esse é mais um assunto ao qual Oliveira retorna nesse trabalho, 
MEDIAÇÕES, LONDRINA, V. 23 N. 2, P. 492-503, MAI./AGO. 2018498
o que revela seu esforço de integrar diversos assuntos que aparecem 
em sua obra, infelizmente fragmentária em diversos artigos.
 Chegando ao momento contemporâneo, Oliveira não hesita 
em colocar as presidências de Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, 
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva sob o rótulo de 
“neoliberais”. Para Oliveira, todos esses governos seriam caracterizados 
por uma “política antirreformas sociais, antirregulacionista, antidireitos 
do trabalho e direitos sociais em geral, que marca o neoliberalismo.” 
(OLIVEIRA, 2018, p.66). O achatamento de ganhos dos trabalhadores, 
a perda da perspectiva de crescimento, o aprofundamento da 
dependência externa e a obsolescência tecnológica ganharam 
complemento com as políticas em prol dos setores dominantes, os quais 
teriam sido financiados em detrimento da perspectiva de recuperação 
das empresas públicas em vias de privatização. Em diálogo com suas 
análises, Oliveira classifica esse período como de “indeterminação”, 
em boa medida derivada da momentâneaincapacidade de reflexão que 
as ciências sociais têm demonstrado a respeito dos novos fenômenos 
sociais ocorridos sob a égide dessas transformações regressivas. Mas 
um de seus custos já seria possível perceber: a “irrelevância da política” 
(OLIVEIRA, 2018, p.70), tese que o autor desenvolve em estudos 
como “Política numa era de indeterminação” (OLIVEIRA, 2007) e “O 
momento Lênin” (OLIVEIRA, 2007b). Daí que o autor termine o texto 
em tom desolador, emulando a despedida do Brasil em relação ao seu 
suposto futuro promissor.
 Já no segundo ensaio da coletânea, “Quem canta de novo 
l’Internationale?” – lançado primeiramente no ano de 2005 – é feita 
uma interpretação sobre a atuação política do movimento sindical 
brasileiro a partir do final da ditadura militar. Sob a influência decisiva 
de Gramsci – revelada pela utilização dos conceitos de “guerra de 
posição”, “guerra de movimento” e “democracia regulada” e que 
se cristaliza em “Hegemonia às avessas” e o “Avesso do avesso” -, 
499LEONARDO OCTÁVIO B. DE BRITO | RAFAEL MARINO | Brasil: uma biografia não autorizada
Oliveira constrói uma narrativa sobre as relações entre movimento 
sindical, partidos políticos, Estado e sociedade civil em contextos de 
fortes transformações políticas do país. 
Nesse bojo, o movimento sindical é entendido por Oliveira como 
um dos espaços mais importantes para a democratização da sociedade 
brasileira, de modo a fazer uma ponte com a nossa formação social. Um 
sindicalismo de oposição próprio de um momento de constituição de 
uma espécie de fordismo periférico que mesmo sem ser propriamente 
anticapitalista constituía espaços públicos significativamente 
democráticos contrários aos mecanismos de mercantilização - aqui pode-
se notar a influência de Karl Polanyi, conforme argumentam Querido e 
Braga (2018, p.13-14). Todavia, mudanças cruciais aconteceram quando 
da chegada do Neoliberalismo no país, pois foram geradas mudanças 
sensíveis nas bases do sindicalismo, levando-o a uma encruzilhada: 
ou enfatizar uma construção política voltado ao público e contrária ao 
mercado e suas relações ou ceder às pressões neoliberais, gerindo de 
modo rentista fundos milionários de pensão e previdência. O que eram 
linhas políticas contraditórias neste segundo ensaio, resolve-se pelo 
segundo caminho em O ornitorrinco, no qual vemos a gestação, segundo 
Oliveira, de uma nova classe, composta pelos núcleos duros do PT e 
do PSDB, cujo “lugar de produção” é justamente o controle do acesso 
aos fundos públicos. Aprofundando a análise das transformações 
ocorridas no Brasil, pode-se ver o ponto articulador delas justamente 
no surgimento de governos neoliberais simpáticos aos processos de 
integração subalternizada à globalização e à desregulamentação das 
relações trabalhistas, culminando na ascensão daquilo que Oliveira 
denomina “totalitarismo neoliberal”. Como seu resultado, surgiria um 
novo tipo de sociabilidade regressiva. “Uma desesperada fuga para a 
vida privada, cuja mais forte consequência é o medo do outro, e uma 
ânsia de segurança, tendo como resultado a formação do ‘consenso 
dos inocentes’, do silêncio dos inocentes” (OLIVEIRA, 2018, p.95). Com 
MEDIAÇÕES, LONDRINA, V. 23 N. 2, P. 492-503, MAI./AGO. 2018500
acento frankfurtiano, Oliveira relaciona as transformações das esferas 
pública e privada, bem como frisa a incapacidade de gerir, por parte 
do governo, a “caixa de Pandora” aberta por esse processo, que pode 
ser sumarizado na fórmula da privatização da vida. Essa incapacidade 
gera a “exceção permanente” – outro tema que Oliveira retomará em 
estudos posteriores.
Já em trabalhos como “Hegemonia às avessas” e “O avesso do 
avesso”, Oliveira procurar fornecer uma interpretação dos governos 
Lula. Retomando a ideia da “irrelevância da política”, Oliveira 
destaca a desestruturação partidária promovida pelo capitalismo 
contemporâneo, o que resultaria, no Brasil, numa disputa eleitoral 
centrada em personalidades. Novamente utilizando as formulações 
de Gramsci, Oliveira formula sua tese provocativa da “hegemonia 
às avessas” a partir da aproximação entre os governos Lula e Nelson 
Mandela, ambos caracterizadas pela conjugação entre “direção moral” 
dos dominados e reforço da exploração por parte dos dominantes. O 
maior problema desse processo residiria na função despolitizante – 
porque, entre outras coisas, conciliatória - que Lula e Mandela teriam 
desempenhado. Daí o seu caráter mistificador, concretizado, por 
exemplo, na cooptação de setores progressistas e dos movimentos 
sociais. Essa mesma chave interpretativa é utilizada no ensaio “A 
clonagem”, no qual Oliveira analisa a “passagem do bastão” de Lula para 
Dilma Rousseff. Neste artigo, o marxista brasileiro argumenta que as 
dificuldades enfrentadas pela sucessora petista devem-se à curta vida 
do procedimento de clonagem política levada a cabo por Lula. Contudo, 
o truque maior deste não fora ter tirado da cartola uma candidata 
quase sem história prévia no Partido dos Trabalhadores (PT), mas sim 
ter colocado na ordem do dia uma política assentada numa simulada 
coalizão de interesses que negava a luta de classes. Coalizão bastante 
precária e artificial, pois baseada numa estabilidade monetária legada 
pelo Plano Real e um crescimento econômico passageiro, sem o qual 
501LEONARDO OCTÁVIO B. DE BRITO | RAFAEL MARINO | Brasil: uma biografia não autorizada
ricos e pobres não teriam sido beneficiados, aqueles com bilhões e estes 
com migalhas. O que explicaria as crises e dificuldades enfrentadas 
por Dilma Rousseff. É necessário frisar que, para Oliveira, o auge de 
popularidade de Lula teria se dado, por meio do Bolsa Família, pela 
transformação da miséria em uma ativo financeiro; pois destinando 
200 bilhões de reais aos detentores da dívida pública e 14 bilhões aos 
beneficiários do programa, Lula teria tornado os pobres avalistas dos 
títulos públicos.
Já no último ensaio, “Jeitinho e Jeitão”, Oliveira retoma o 
problema do “caráter nacional brasileiro”. Recorrendo a Norbert 
Elias e aos clássicos brasileiros, o sociólogo uspiano nos fornece uma 
explicação materialista para o “jeitinho brasileiro”, ideologicamente 
elevado ao plano de modo de ser brasileiro. Na verdade, ele seria fruto, 
isso sim – conforme a tese marxiana presente em A ideologia Alemã, a 
saber, que as ideias e hábitos da classe dominante transformam-se em 
caráter nacional hegemônico –, de um “atributo das classes dominantes 
brasileiras transmitido às classes dominadas” (OLIVEIRA, 2018, p.139). 
Também nessa reflexão, o nosso autor empreende uma viagem pela 
nossa história para revelar o processo de construção dessa ideia.
Deste modo, o jeitinho, ao invés de ser compreendido como 
um pretenso mau-caratismo das classes dominantes pátrias, é tomado 
como uma forma de se adotar o capitalismo como solução incompleta 
- dado que traria para cá a revolução das foças produtivas, mas não 
soluções civilizacionais próprias do centro sistêmico - na periferia do 
sistema. Somado a isso, haveria a sensação, de acordo com o sociólogo 
pernambucano, de que no Brasil pessoas estão “sobrando”, isto é: como 
resquícios de relações não mercantis, não cabem no universo civilizado. 
E a estas tudo pode ser pedido e exigido, do modo mais, por assim 
dizer, “brascubianamente” possível, caso lembremos da volubilidade 
estruturante do narrador machadiano (Cf. SCHWARZ, 2012b). Escravos 
e “sobrantes” de ontem, tornam-se a superpopulação trabalhadora do 
MEDIAÇÕES, LONDRINA, V. 23 N. 2, P. 492-503, MAI./AGO. 2018502
Brasil no século XX, constituindo-se num excedente populacional cuja 
incorporação na industrialização nacional era inviável. Por conseguinte, 
esse setor populacional massivo fora relegado a toda sorte de trabalhos 
informais; antes pintados como se fossem passageiros e agora vistos 
como efetivamente são: uma característica estrutural essencial ao 
capitalismo brasileiro. Plasmando, feito feitiçaria, segundo dissera o 
nosso autor em obra anterior (2008),um novo mundo do trabalho, no 
qual todo o tempo de trabalho converte-se em tempo de trabalho não-
pago, posto que o capital utiliza o trabalho apenas na medida em que 
necessita dele, pagando-lhe por produto realizado e não adiantando-
lhe um salário anterior às vendas e aos resultados. Desta feita, ao 
invés de afim a um mundo mais aberto e democrático, consoante ao 
que apostara outro clássico da ensaística nacional (CANDIDO, 2010), 
a dialética entre ordem e desordem, movimento central de nosso 
Jeitinho, abriu-nos as portas para um horizonte ainda mais rebaixado 
de expectativas quanto à nossa potencial civilidade. 
Comprometimento, originalidade crítica e imaginação 
sociológica: três características de Oliveira trazidas também à tona 
pela seleção, feita por Fábio Querido, de entrevistas concedidas pelo 
sociológico pernambucano que fecham o livro. Ideias e posturas que 
servem de boa inspiração para as tarefas que o presente e o futuro 
reservam para a democracia brasileira. 
Referências: 
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
ARANTES, Otília. Mário Pedrosa: itinerário crítico. São Paulo: Cosac Naify, 2004. 
ARANTES, Paulo Eduardo. Sentimento da dialética na experiência brasileira: dialética e 
dualidade segundo Antonio Candido e Roberto Schwarz. São Paulo: Editora Paz e Terra, 
1992.
503LEONARDO OCTÁVIO B. DE BRITO | RAFAEL MARINO | Brasil: uma biografia não autorizada
ARANTES, Paulo Eduardo e ARANTES, Otília. Sentido da Formação: três estudos sobre 
Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Lúcio Costa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 
1997. 
CANDIDO, Antonio. “Dialética da malandragem”. In: CANDIDO, Antonio. O 
discurso e a cidade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. 
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). 
São Paulo: Hucitec, 2011. 
OLIVEIRA, Francisco de. Crítica à razão dualista; O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 
2008.
OLIVEIRA, Francisco de. “O momento Lenin”. In: OLIVEIRA, Francisco de e RIZEK, 
Cibele Saliba. A era da indeterminação. São Paulo: Boitempo, 2007.
OLIVEIRA, Francisco de. “Política numa era de indeterminação: opacidade e 
reencantamento”. In: OLIVEIRA, Francisco de e RIZEK, Cibele Saliba. A era da 
indeterminação. São Paulo: Boitempo, 2007. 
SCHWARZ, Roberto. Ao Vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios 
do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012a.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São 
Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012b. 
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