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Carlo Romani
Aula 5
Lutas pela 
independência e 
a descolonização 
após 1945: o 
surgimento do 
“Terceiro Mundo”
História Contemporânea II
2
Meta da aula
Apresentar alguns dos processos de independência das antigas colônias com a 
retirada do antigo país europeu dominante e o surgimento de um bloco de países 
politicamente independentes, mas economicamente menos desenvolvidos.
Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1. reconhecer o debate sobre libertação nacional e descolonização, como uma análise 
das diferentes estratégias adotadas pelos territórios colonizados e pelos impérios 
coloniais na disputa;
2. identificar as peculiaridades da descolonização e das lutas pela independência, e 
os seus desdobramentos em diversas regiões do planeta;
3. analisar o significado do conceito “Terceiro Mundo”, na conjuntura geopolítica pós-
1945.
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
3
INTRODUÇÃO
Luta pela independência e/ou 
descolonização?
As interpretações mais tradicionais para o mundo que se 
forma fora do eixo hegemônico americano-europeu, após a II 
Guerra, apontam para um processo de descolonização dos antigos 
territórios sob domínio colonial, coordenado politicamente pelos 
governos dos países ocupantes, principalmente o britânico e o 
francês. Contudo, principalmente a partir da década de 1970, 
muitos autores, alguns deles provindos dos países que viveram a 
ocupação colonial, começaram a apresentar teses diferentes, nas 
quais a libertação nacional foi resultado de uma longa luta pela 
independência dos povos colonizados que expulsou o ocupante 
estrangeiro. A começar pela desconstrução feita pelo crítico 
palestino Edward Said sobre o orientalismo, os estudos ocidentais 
sobre o Oriente e a crença na existência de uma superioridade 
intelectual e moral do colonizador sobre o habitante da colônia. Foi 
essa crença que legitimou o colonizador a acreditar estar fazendo 
“a melhor forma de governo” nas colônias, mesmo não levando 
em conta sua cultura e a diferente lógica de pensamento, e isso 
persistiu mesmo após o fim da Segunda Guerra (SAID, 2007). Em 
relação ao período pós-guerra, o economista egípcio Samir Amin 
fala do surgimento de um novo tipo de imperialismo, resultante da 
dependência econômica dos países recém-independentes (AMIN, 
1984). Um modo de dominação indireta, principalmente econômico, 
mas também cultural, inclusive em relação ao acomodamento das 
elites acadêmicas nativas (no caso do mundo árabe) que se viram 
reproduzindo conceitos e discursos, criados no Ocidente. Na década 
de 1960, o economista alemão André Gunther Frank foi um dos 
primeiros teóricos a pensar as relações de dependência, a partir da 
perspectiva dos países mais pobres; ele nos falou em um crescente 
História Contemporânea II
4
“desenvolvimento do subdesenvolvimento”, como resultado dos 
novos processos econômicos (mundialização ou globalização) que 
surgiram com o fim das colônias (FRANK, 1966, p. 17-31). 
Os estudos mais recentes têm problematizado o termo 
“descolonização”, como se a independência das colônias tivesse 
sido obra dos próprios colonizadores. A partir dos anos 1970, a 
maior parte da literatura, produzida por estudiosos provenientes 
dos antigos países colonizados, fala em resistência, guerra de 
independência e libertação nacional. Resistência e desobediência, 
por exemplo, são termos recorrentes na literatura histórica anglo-
indiana sobre a luta pela independência. O paquistanês Tariq Ali 
foi um dos intelectuais que encabeçaram essa releitura histórica 
com a valorização das civilizações orientais e a construção de uma 
interpretação crítica sobre o Ocidente. Mas também na Índia, país 
que em função de interesses econômicos, profundamente arraigados, 
continuou mantendo relações privilegiadas com os britânicos, a 
historiografia mais recente discute o papel desempenhado pela 
política colonial britânica – ou a ausência de uma – que teria levado 
aos diversos conflitos internos e à divisão territorial da Índia, em 
1947. Nos estudos culturais britânicos, o antropólogo Jack Goody 
(2006) não poupou esforços para mostrar as violências realizadas 
pelo Ocidente em todas as regiões que colonizou, seja de modo 
físico e explícito, seja numa tentativa implícita de dominação cultural. 
Enfatizou, também, a construção simbólica de um tipo de resistência 
cultural que em última instância é também política e permitiu, por 
exemplo, levar adiante o processo pacífico de desobediência às 
ordens britânicas, liderado por Gandhi. Mesmo tendo uma base 
tecnológica e financeiramente dependente das nações ocupantes, 
com a troca de experiências e na medida em que as construções 
políticas herdadas dos colonizadores foram sendo transformadas, 
os povos submetidos colonialmente buscaram sua emancipação. 
Em alguns poucos casos sem grandes conflitos, como em boa 
parte do mundo árabe, e em outros, foram necessárias guerras de 
independência, como na Argélia, na Indochina, e em grande parte 
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
5
dos países africanos como, por exemplo, a ex-colônia portuguesa 
de Angola. 
Por outro lado, Eric Hobsbawm opôs-se ao relativismo 
dos culturalistas ingleses (HOBSBAWM, 2003, p. 198-219). Ele 
reconheceu o valor e a permanência das culturas locais, mas 
construiu seu argumento histórico com base no fato de que, mesmo 
após a independência, na maior parte dos novos países prevaleceu 
uma forma de administração política, protagonizada pelas elites 
nacionais que reproduziu, em grande medida, as práticas por ela 
aprendidas durante sua formação acadêmica no país colonizador. 
A transferência de poder de uma elite colonizadora para uma 
elite nacional em circunstâncias que impossibilitaram reordenar a 
administração do Estado e a economia para atender às demandas 
dos povos libertados, seria a causa da proliferação de conflitos 
internos pelo controle político, por exemplo, em grande parcela 
das novas nações africanas. A passagem de poder para um 
governo independente, além de deixar de onerar os custeios de 
administração do antigo país imperial, em muitos casos não implicou 
o desmantelamento da antiga base econômica, mantendo-se a 
relação de dependência existente. 
O debate entre libertação ou descolonização também ocupou 
um capítulo inteiro na obra de Marc Ferro (2006, p. 346-88). O 
historiador francês enfatizou a conveniência econômica em que o 
processo de descolonização tornou-se, favorecendo as combalidas 
economias da Inglaterra e da França do pós-guerra. No caso francês, 
cujo modelo republicano fez com que as colônias tivessem se tornado 
departamentos da nação, a presença cultural e econômica francesa 
persiste ainda hoje em dia, principalmente, na África Ocidental. 
Mas, argumenta Ferro, a redefinição dos envolvidos na exploração 
econômica das ex-colônias mudou também o caráter nacionalista 
do imperialismo da primeira metade do século XX. Por exemplo, 
a Grã-Bretanha, que em 1950 mantinha metade de seu comércio 
ainda praticado com as colônias, em 1970 tinha somente um quarto 
dele, com a acentuada entrada das outras economias europeias, 
História Contemporânea II
6
dos americanos e dos japoneses no comércio mundial. O mundo 
globalizado das corporações que conhecemos hoje em dia tomou 
grande impulso justamente com o fim das “dependências ultramarinas 
que já não precisavam ser mantidas sob o jugo do antigo sistema 
político. Doravante as multinacionais podiam, utilmente, substituí-lo” 
(FERRO, 2006, p. 351).
A retiradabritânica da Índia e suas 
consequências
Figura 5.1: A partição da Índia (1947). Mapa com divisão e conflitos internos. 
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Partition_of_India-en.svg
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Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
7
A historiografia anglo-indiana considera o período de luta 
interna pela independência aquele que vai de 1935, quando 
houve a criação do “Government of India Act”, até o ano de 1947, 
quando houve a partição entre Índia e Paquistão. Contudo, o ato 
de 1935 já havia sido resultado de anos de luta de desobediência 
civil, encabeçada por Gandhi, e de guerrilha urbana e rural, 
liderada por Jawaharlal Nehru, os dois líderes históricos do 
Congresso Nacional Indiano. Além da resistência hindu aos 
britânicos, a significativa parcela de habitantes muçulmanos na 
Índia já era representada politicamente pela Liga Muçulmana. O 
próprio nome Pakstan foi uma invenção recente, de 1933, para 
designar na língua urdu, uma variante do persa, a terra (stan) 
dos puros (pak). A minoria muçulmana receava que, com a futura 
independência, seria alijada do poder político e no ano de 1940 
já lutava por um governo autônomo. Com a chegada da Segunda 
Guerra e a possível invasão japonesa da Índia, o governo britânico 
conclamou os indianos para a defesa nacional. A participação de 
tropas anglo-indianas na guerra, especialmente o famoso exército 
sikh, recrutado no Punjab, foi controversa, já que houve a recusa 
formal das lideranças nacionalistas hindus, para quem os britânicos 
também eram inimigos. Em 1942, houve a prisão de Gandhi, que 
encabeçava o movimento político “Deixem a Índia”, fato que levou 
Subhas Bose da ala radical do partido do Congresso a organizar 
um Exército Nacional Indiano com apoio japonês para combater os 
ingleses. Ao fim da Segunda Guerra, não havia mais clima político 
para a continuidade da ocupação britânica e tornou-se evidente que 
o Império forçosamente teria de se retirar da Índia. Barganhando 
com as diferentes perspectivas do nacionalismo indiano (hindu e 
muçulmano) em confronto, os ingleses apoiaram a partição da 
Índia e a formação de dois estados independentes em 1947, para 
desgosto da maioria hindu. 
Mais do que a luta pela sobrevivência política num futuro 
estado nacional unificado, as elites políticas nacionalistas tiveram de 
enfrentar a resistência do que os asiáticos chamam de comunalismo, 
História Contemporânea II
8
o poder político territorial estabelecido nos diversos principados 
locais. Durante a colonização, as lideranças conservadoras locais 
foram incentivadas pela política colonial do Império Britânico que 
via em sua manutenção aliados para barrar o crescente processo 
de luta pela construção de um estado nacional independente. Os 
principados, herdeiros das antigas tradições medievais indianas, 
mantinham a população local sob um rígido sistema de controle 
social, derivado do sistema de castas do hinduísmo. Na análise 
política dominante na historiografia tradicional, entendia-se a 
resistência dos principados ante a inevitável unificação nacional 
indiana, como uma forma de receber indenizações pela entrega 
das soberanias provinciais. Mas uma nova historiografia cultural, 
desenvolvida desde os anos 1970, vem desmontando essa tese e 
mostrando outro ponto de vista. O apoio popular aos principados 
e as revoltas, genericamente designadas como comunalismo em 
oposição ao nacionalismo, passaram a ser entendidas como 
formas de resistência à centralização estatal e o receio da perda 
dos antigos valores tradicionais, liames para a manutenção de 
uma vida mais autônoma nas comunidades (PANDEY, 2003). O 
comunalismo asiático envolve toda uma prática cultural e religiosa 
tradicional que muitas vezes se confronta com a realidade e a 
necessidade do mundo urbano moderno. Sua permanência não 
deixa de ser uma forma de resistência ao avanço do capitalismo 
contemporâneo, protagonizado pelas grandes corporações, cuja 
dinâmica econômica requer estratégias políticas integradas a nível 
nacional e internacional, desorganizando as economias locais e a 
manutenção do poder político regional.
A partição da Índia foi tida pelos acadêmicos ingleses e 
indianos tradicionais como uma derrota do nacionalismo hindu, 
dirigido por Gandhi e Nehru. Boa parte da historiografia inglesa 
do pós-guerra procurou absolver o regime britânico dos sangrentos 
confrontos que marcaram os anos de 1947 e 48, em seguida 
à divisão da Índia. Para essa historiografia, o imediatismo do 
Congresso Nacional Indiano em obter a independência e a 
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
9
política divisionista de Muhammad’Ali Jinnah, o líder da Liga 
Muçulmana, exacerbaram os ânimos, levando inevitavelmente aos 
confrontos. Interpretações historiográficas mais recentes como de 
Moore Jr., contudo mostraram que a falta de um plano britânico 
de descolonização numa região densamente povoada por grupos 
étnico-linguísticos e religiosos diferentes somente poderia levar 
a conflitos difusos e generalizados. Para essa historiografia, a 
palavra descolonização significou somente a debandada das forças 
militares britânicas, as únicas que poderiam ter evitado os conflitos 
(PANDEY, 2003). O número de mortos estimado varia de 200 mil, 
segundo os observadores britânicos, até dois milhões, segundo as 
novas leituras feitas pelos historiadores indianos. Os conflitos entre 
muçulmanos, hindus e sikhs, que ocorreram nas vilas e no campo 
das regiões do Punjab, noroeste da Índia, e de Bengala, no lado 
oriental, provocaram também as primeiras diásporas de refugiados 
do pós-guerra. Estima-se em mais de 15 milhões o número de 
refugiados que tiveram de se movimentar de uma nova fronteira a 
outra. E ainda houve a luta interna pelos domínios dos príncipes 
que não aceitaram os termos da perda de soberania. Ao norte, no 
Kashmir, um principado de maioria muçulmana, governado por 
um marajá hindu que não aceitou a repartição do território, houve 
um confronto mais amplo, entre os estados da Índia e Paquistão, 
levando a uma segunda guerra em 1965 e provocou a corrida 
armamentista nuclear entre as duas nações. A tensão entre hindus e 
paquistaneses atingiu o ápice na guerra de 1971, quando a Índia 
apoiou a separação da província de Bengala, atual Bangladesh, 
dividindo e enfraquecendo o Paquistão.
História Contemporânea II
10
Figura 5.2: O conflito árabe-israelense em quatro tempos.
Fonte: Adaptado de Courier International Hors-Série, Paris, fev/mar/abr 2009, p. 33.
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
11
O fim do mandato britânico e a partilha 
da Palestina
A retirada da Índia, após o término da Segunda Guerra, 
não modificou, a princípio, a continuidade da posição britânica 
no Oriente Médio. Com o início da “Guerra Fria”, a permanência 
da Grã-Bretanha como potência ocidental na região foi vista 
pelos aliados ocidentais como uma necessidade estratégica para 
a proteção de seus interesses econômicos: o petróleo e a via de 
comunicação marítima com a Ásia. Na maior parte do Oriente 
Médio, o Reino Unido soube lidar com os interesses conflitantes 
entre os diferentes grupos árabes em cada região, menos na 
Palestina, onde a intensificação da imigração judaica, após o 
holocausto nazista, colocou os ingleses numa posição delicada. A 
Shoah, nome que na língua iídiche significa catástrofe e tem sido 
usada para substituir holocausto, criou um ambiente favorável na 
Europa e nos EUA, onde havia uma grande comunidadehebraica 
política e economicamente forte, para a implantação de uma política 
de migração em larga escala para a Palestina. A busca de um 
novo lar e de um refúgio após o holocausto, o êxodo para a terra 
prometida, foi logo direcionada para o desejo sionista de construção 
do estado independente de Israel. E a comunidade hebraica na 
Palestina encontrava-se militarmente bem preparada, tendo inclusive, 
participado junto com as tropas britânicas da campanha da Segunda 
Guerra. A ideia cada vez mais viável da criação de um estado judeu 
trouxe forte reação entre os árabes que temiam a desapropriação 
de suas terras e a perda de poder na região, passando a exigir 
também a criação de um estado árabe na Palestina (SAGHIE, 2001). 
Pressionada pelos Estados Unidos a favor da criação de um 
estado judaico, a Grã-Bretanha resolveu enviar em 1947 um plano 
de partilha à ONU. Esse plano logo recebeu o apoio dos EUA e 
da Rússia, mas foi rejeitado pelos países árabes, membros da ONU, 
que incentivaram a formação de um grupo armado de voluntários 
palestinos para a defesa de seu território. Nessa situação, os conflitos 
História Contemporânea II
12
na Palestina entre árabes e judeus multiplicaram-se, o que colocou 
a Grã-Bretanha numa posição ainda mais delicada, levando-a a 
antecipar a retirada de seu mandato para o dia 14 de maio de 
1948. Assim como na Índia, os britânicos, pressionados por um 
conjunto de fatores contrários, resolveram abandonar o barco na 
expectativa de que os atores diretamente envolvidos na disputa 
acertassem seus ponteiros. Mas, ao retirarem sua força militar do 
território, repetiram-se os fatos ocorridos na Índia. 
Imediatamente, David Ben Gurion, o líder da comunidade 
hebraica, anunciou o nascimento do Estado de Israel, logo reconhecido 
pelos EUA e pela Rússia, enquanto que os países árabes fronteiriços, 
discordando da decisão, entraram com seus exércitos naqueles que 
deveriam ser os territórios árabes do plano de partilha. As forças 
armadas do Egito ocuparam Gaza, as da Síria o norte da Palestina, 
e as da Jordânia e Iraque cruzaram o rio Jordão. Como as fronteiras 
não estavam demarcadas e ambas as populações conviviam no 
mesmo espaço, o conflito rapidamente evolui para uma guerra 
entre os exércitos árabes e os israelenses. Somente em janeiro de 
1949, chegou-se a um acordo de paz supervisionado pela ONU, 
pelo qual, quase três quartos das terras da Palestina, incluindo toda 
a faixa marítima, ficaram para o Estado de Israel. 
O fim da guerra seria apenas o início de um novo e longo 
capítulo de história, ainda longe de acabar. O cessar-fogo de 
1949 foi encarado pela população dos países árabes como uma 
vergonhosa derrota para Israel. Os ingleses foram acusados de 
favorecerem os judeus e os Estados Unidos surgiram aos olhos dos 
árabes como os grandes interessados no estabelecimento de um 
estado sionista no Oriente Médio. A primeira definição das novas 
fronteiras provocou uma fuga de mais de 800 mil árabes que viviam 
nas terras da Palestina, refugiando-se na Jordânia, na faixa de Gaza e 
no Líbano (VIDAL, 2007). A partir dessa diáspora, organizou-se uma 
resistência permanente à nova ocupação israelense, protagonizada 
pelos guerrilheiros fedayin, os mártires, que irá posteriormente, em 
1964, desenvolver um braço político maior através da Organização 
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
13
para a Libertação da Palestina, OLP, liderada por Yasser Arafat, da 
facção nacionalista Fatah. Em 1956, durante a crise do canal de 
Suez, quase houve outra guerra, envolvendo Egito e Israel, que fez 
com que a ONU mantivesse tropas ao longo de toda a fronteira 
dos dois países, no Sinai. Ainda houve outras duas guerras: a de 
1967, rapidamente vencida por Israel que ampliou o seu território; 
e a de 1973, uma ofensiva árabe desencadeada durante o Yom 
Kippur, o feriado do dia do perdão do judaísmo, que trouxe mais 
do que uma vitória militar, uma vitória política aos árabes. A partir 
desse ano de 1973, a união dos países árabes forçou a OPEP, a 
Organização dos Paises Exportadores de Petróleo, a adotar uma 
política de retaliação contra Israel, diminuindo a produção mundial 
de petróleo e fazendo seu preço disparar no mercado internacional. 
A escassez do produto fez do árabe no Ocidente um tipo detestado 
e ameaçador, uma nova imagem que já vinha sendo construída 
desde o atentado palestino contra a equipe olímpica de Israel no 
ano de 1972 em Munique. Segundo Said, houve a “transferência, 
no ânimo antissemita popular, de um alvo judeu para um alvo 
árabe”, o que fortaleceu a política de segregação dos árabes em 
Israel (SAID, 2007, p. 382). 
Após a Segunda Guerra, uma historiografia israelense, 
eminentemente sionista, preocupou-se em investigar os números 
do genocídio e em construir a memória histórica do holocausto. A 
memória da Shoah serviu num primeiro momento para aglutinar as 
forças internas, unindo sionistas e não sionistas e, no exterior, atrair 
os países que de algum modo se sentiram responsáveis por não 
terem conseguido impedir o antissemitismo e o genocídio praticado 
pelos nazistas. Num segundo momento, a Shoah serviu para 
estimular internamente o revisionismo sionista sob o lema “holocausto 
nunca mais”. Segundo Idith Zertal, essa política continuada faz a 
população de Israel perceber-se sempre como uma “vítima inocente 
sem responsabilidades sobre o que lhe aconteceu”. Esse discurso, 
construído sobre a memória do holocausto, justificou a ação violenta 
do Estado de Israel ao impor sua força esmagadora sobre os vizinhos 
História Contemporânea II
14
árabes. A política de defesa tornou-se uma política de ataque 
continuado contra aqueles palestinos que, na impossibilidade do 
convívio comum, passaram a ver na destruição do Estado de Israel 
sua meta de vida. E no plano político interno israelense criou-se um 
clima inseguro ao ponto de a crítica ao sionismo ser interpretada 
como puro antissemitismo. Nos últimos anos, com base no estudo de 
documentos do governo, o grupo de “novos historiadores”, como: 
Ilan Pappe, Benny Morris e Zertal, vem revendo essa posição sionista 
de vítima dominante na historiografia oficial (PAPPE, 2006).
Atende aos Objetivos 1 e 2
1. Aponte as consequências da descolonização e retirada britânica das duas regiões a 
seguir: 
a) na Índia;
b) na Palestina.
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Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
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Resposta Comentada
a) Na Índia, a retirada britânica em 1947 levou à sua divisão em dois estados independentes, 
a Índia de maioria hindu e o Paquistão de maioria muçulmana. A partição da Índia provocou 
um conflito generalizado entre as populações de muçulmanos, hindus e sikhs que tiveram de 
abandonar suas habitações, nos lugares onde eram minoria e migrarem paraoutras áreas. Na 
ausência do exército britânico para impor a ordem houve até dois milhões de mortos, segundo 
algumas estimativas.
b) Na Palestina, ao término da Segunda Guerra, o incremento da migração judaica de 
refugiados do holocausto nazista obrigou a um plano de partilha do território entre árabes e 
judeus. A retirada do exército britânico da Palestina permitiu a imediata criação do Estado de 
Israel, o que levou à primeira guerra com os árabes em 1948/49. A população palestina foi 
obrigada a retirar-se de seu próprio território, dando início a um período de tensão e conflitos 
que se estende até o presente.
A liderança egípcia no mundo árabe
A crise diplomática no canal de Suez em 1956 foi o episódio 
que assinalou a ascensão do Egito ao papel de protagonista político 
internacional, líder do mundo árabe e dos países recém-saídos do 
domínio colonial. Construído e administrado por um consórcio anglo-
francês ainda no século XIX, o canal é uma obra de infraestrutura 
fundamental para a logística de transporte entre a Ásia e Europa. 
O Egito, ocupado pelo Reino Unido desde 1882, sempre manteve 
uma posição autônoma dentro do antigo Império, desde que sua 
realeza não confrontasse a política britânica. Ao final da Segunda 
Guerra, a Grã-Bretanha ainda conseguiu um acordo de controle 
sobre a zona do canal, mantido sob a ameaça velada de intervenção 
militar. Mas, com a instalação da República em 1952, o presidente 
egípcio Gamal Abd al-Nasser desequilibrou as iniciativas ocidentais 
através de suas posições nacionalistas radicais: ele foi o mentor 
História Contemporânea II
16
político do pan-arabismo e da criação de uma futura República 
Árabe Unida a partir do Egito (HOURANI, 2006, p. 524-41). Nasser 
atacou e perseguiu os “Irmãos Muçulmanos”, o grupo egípcio do 
fundamentalismo islâmico e o colocou na ilegalidade. Político 
hábil, Nasser aproveitou-se do sentimento antissionista entre os 
árabes, discursando para multidões no Cairo onde era aclamado, 
e jogou com os interesses capitalistas no canal para barganhar 
investimentos norte-americanos e europeus em seu país.
Figura 5.3: O mundo árabe e os países que compõem a Liga Árabe. 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Arab_world.png
No início da “Guerra Fria”, Nasser liderou o grupo dos 
países não alinhados que estabeleceram conversações paralelas 
com a URSS. Pensava com isso poder obter trunfos futuros junto 
aos EUA, isolando e enfraquecendo politicamente o Estado de 
Israel. O efeito causado foi contrário e os EUA retiraram o apoio 
financeiro ao Egito. Eram os tempos da dura reação ao comunismo 
Pan-arabismo 
Movimento político não 
religioso com objetivo 
de reunir os países de 
língua árabe numa 
grande comunidade 
de interesses. Foi um 
movimento que ganhou 
peso em 1945 com a 
criação da Liga Árabe 
para a unificação 
nacional de todas as 
populações árabes, 
desde o Marrocos até 
o Iraque.
Fundamentalismo 
islâmico
Derivado da palavra 
árabe usulí, refere-se 
historicamente aos 
estudiosos do direito 
islâmico. No presente, 
o fundamentalismo 
aspira adequar um 
estado islâmico às 
necessidades materiais 
do mundo moderno, 
mantendo a aplicação 
da sharia e seguindo 
os ensinamentos de 
Maomé.
Não alinhados 
Nome dado aos países também denominados de Terceiro Mundo. Uma frente de países em 
desenvolvimento que exercia poder político por ser maioria na Assembleia Geral da ONU, mantendo 
independência em relação aos dois blocos opostos de países aliados dos EUA e da URSS.
Va
rd
io
n
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
17
e a política do secretário de Estado Alan Foster Dulles não aceitava 
qualquer tipo de aproximação com a URSS. A resposta de Nasser 
foi nacionalizar a Companhia do Canal. Essa atitude fez com que a 
Inglaterra e a França estimulassem Israel a invadir o Sinai, e ocupar 
a zona do canal, pensando, assim, conseguir forçar a queda de 
Nasser. Quando o impasse diplomático parecia caminhar para 
um segundo conflito árabe-israelense, EUA e URSS entraram em 
conjunto em cena, “dissuadindo” a França e a Inglaterra de suas 
intenções; essa seria a pá de cal no imperialismo anglo-francês, 
tornados atores mundiais de segundo escalão. O Egito de Nasser 
passou a praticar um tipo de “socialismo árabe” não alinhado, com a 
centralização do poder político e o Estado no controle da economia, 
uma liderança que se manteve forte até a derrota na segunda guerra 
árabe-israelense, a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967. A 
vitória relâmpago de Israel, destroçando as posições conjuntas do 
Egito, da Síria e da Jordânia anunciou a esmagadora supremacia 
militar hebraica na região e mostrou ao povo árabe que Nasser e 
o pan-arabismo já não eram tão poderosos assim.
Apogeu e queda do nasserismo
O vídeo a seguir, produzido pela televisão fran-
cesa, mostra a multidão, ovacionando Nasser no 
seu discurso de nacionalização do Canal de Suez: 
http://www.youtube.com/watch?v=YlbdV8bbNUk
Já o breve documentário a seguir, também trata da 
crise diplomática internacional em Suez, mostrando 
cenas da guerra que não houve: http://www.youtube.
com/watch?v=VpIfbBLBmr8
Ambos os documentos servem para situarmos o expres-
sivo apoio popular dado a Nasser, o que lhe permitiu 
emergir como líder político do Terceiro Mundo. Contu-
do, em 1967, Israel ignorou as resoluções da ONU e 
as provocações egípcias, e seu incontestável poder
História Contemporânea II
18
militar redimensionou para baixo a força de Nas-
ser, tanto no cenário árabe, como no mundial. 
Assista a um breve documentário com imagens da 
Guerra dos Seis Dias: http://www.youtube.com/
watch?v=9uQC9RD3W4Y
Atende aos Objetivos 1 e 2
2. Relacione a ascensão do presidente egípcio Nasser ao desenvolvimento de uma política 
nacionalista comum entre os países de fala árabe. 
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Resposta Comentada
Gamal Abd al-Nasser foi o primeiro líder carismático árabe do pós-guerra. O presidente egípcio 
liderou o mundo árabe na criação de um movimento pan-arabista em defesa de interesses 
comuns. Sua atuação, na crise do canal de Suez, isolou a Grã-Bretanha e Israel, jogando com 
os interesses de EUA e URSS, trouxe ao povo árabe de volta a autoestima perdida na guerra 
de 1948 contra Israel.
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
19
A descolonização dos franceses: dois 
capítulos de guerra
Na Argélia, colonizada pelos franceses desde 1830, 
existia uma forte comunidade de descendentes de imigrantes de 
origem francesa, os pied-noirs. Na década de 1940, esses franco-
argelinos eram quase 15% da população total e concentravam-
se principalmente nas principais cidades de Alger e Orã, onde 
compunham a elite econômica e intelectual. Durante a Segunda 
Guerra, a Argélia foi ponto estratégico da resistência francesa 
(desde maio de 1943, Charles De Gaulle comandou a “França 
Livre”, a partir de sua base em Argel), envolvendo os pied-noirs, 
franceses refugiados e árabes argelinos. Boa parte dos pied-noirs 
era formada de intelectuais de esquerda, como Albert Camus, que 
acreditavam numa França e numa Argélia socialista, unidas numa só 
nação. Imaginavam que seria possível um país em que todos fossem 
igualmenteargelinos: franceses, berberes, árabes, judeus, cristãos 
e muçulmanos. Não seria possível. Fora desse pequeno círculo 
franco-argelino de intelectuais, o poder da França impunha-se pela 
força e quando o império colonial deu sinais de fraqueza durante a 
guerra, o nacionalismo árabe surgiu com força na Argélia, calcado 
na revalorização da lei do Islã, sufocada pelo direito francês. 
Com a recusa francesa de conceder a independência à Argélia, a 
radicalização política entre colonos franceses e árabes argelinos 
acirrou-se e o conflito armado tornou-se inevitável (FERRO, 2006, 
p. 325-38). 
Em novembro de 1954, surgia o Front de Liberátion Nationale, 
FLN, que pegava em armas contra o exército francês. O primeiro ano 
do conflito foi marcado pelos atentados a bomba e pela sabotagem 
das posições militares francesas, contra-atacada por uma intensa 
repressão policial aos bairros pobres e às aldeias montanhosas da 
Cabília (bases do FLN), com a prática sistemática da tortura contra 
qualquer suspeito. Mas, em janeiro de 1957, o desembarque de 
oito mil paraquedistas do exército francês em Argel transformou 
História Contemporânea II
20
definitivamente um conflito difuso em uma guerra generalizada 
entre os fellaghas, os guerrilheiros argelinos, e o exército francês 
que contava com mais de 500 mil homens. Até poucos anos atrás, 
o governo francês não admitia nem que o conflito tivesse sido uma 
guerra entre a França e a Argélia, nem a prática da tortura, ciente 
do ônus, financeiro e moral, que esse reconhecimento implica: “A 
tortura não foi apenas ação de alguns militares sádicos e isolados. 
Pelo contrário, ela se inscreve dentro da história da colonização” 
(BRANCHE, 2001). O fim da guerra veio em março de 1962, em 
parte porque o presidente De Gaulle, como estadista que era, sabia 
do enorme peso político para um país, símbolo do republicanismo 
moderno, insistir em manter uma colônia que guerreava pela sua 
libertação. O preço foi alto: 300 mil mortos entre os argelinos e 
vinte mil entre os franceses. Mas mesmo com o final da guerra ainda 
houve uma violenta retaliação francesa através dos terroristas da 
Organização do Exército Secreto, OAS, destruindo a infraestrutura 
do país. A permanência dos imigrantes e de seus descendentes 
tornou-se impossível. Em 1965, o socialista independente Houari 
Boumediene assumiu o poder, fortemente influenciado pelo 
nasserismo, e a Argélia retomaria o diálogo com a França, inspirada 
numa cultura de nacionalismo republicano.
O cinema como documento histórico da 
Guerra da Argélia
A batalha de Argel, uma produção ítalo-argelina 
de 1966, dirigida por Gillo Pontecorvo, narra a 
guerra de independência da Argélia, utilizando-se de 
técnicas cinematográficas do neorrealismo italiano em 
que se misturam ficção e documentário. A ação con-
centra-se entre 1954 e 1957, mostrando como agiam 
os dois lados do conflito: o exército francês recorria à 
política de eliminação e à tortura, a Frente de 
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
21
Libertação Nacional [FLN] praticava a guerrilha e os 
atentados contra os dominadores franceses. Veja o trailer 
em http://mais.uol.com.br/view/a56q6zv70hwb/a-
batalha-de-argel-040266D8A123C6
A Indochina foi outra região onde a descolonização francesa 
resultou em desastre. Em todo o Sudeste Asiático, ao final da Segunda 
Guerra, houve uma completa desorganização da administração 
colonial anterior. A ocupação japonesa já havia substituído os 
impérios europeus e as forças libertadoras nacionais eram fortemente 
influenciadas pela guerrilha comunista de Mao Tsé-tung. Assim, na 
Birmânia, na Malásia, na Indonésia e no Vietnã, a guerra pela 
independência nacional foi acompanhada da tentativa de implantação 
de estados comunistas. No Vietnã, em agosto de 1945, Ho Chi Min 
organizou o governo comunista do Vietminh com sede em Hanói, no 
norte do país. O governo francês aceitou a independência do Vietnã, 
mas em março de 1946 buscou retomar seu domínio colonial, através 
da instalação de uma república autônoma na Conchinchina, na 
região de Saigon. O Vietminh não aceitou essa divisão do Vietnã em 
dois, na expectativa de que o governo da França, pressionado pela 
esquerda francesa, revisse sua posição. Como Marc Ferro escreveu, 
“Ho Chi Min conhecia a diferença entre a França que liberta [a da 
Revolução e a da Comuna] e a que oprime” (FERRO, 2006, p. 305). 
A esperança nos comunistas franceses foi em vão. Minoritários no 
governo provisório do pós-guerra, a França não reviu sua posição 
e em dezembro de 1946 iniciava-se a Guerra da Indochina. Uma 
guerra na qual a França, ao contrário da Argélia onde residiam mais 
de milhão de franceses, somente tinha interesses econômicos; viu-se 
envolvida no contexto norte-americano da “Guerra Fria” que, com 
a vitória da Revolução Chinesa de Mao, em1949, concentrou no 
Extremo Oriente as operações militares. 
História Contemporânea II
22
A França, enfraquecida pela reconstrução do pós-guerra, foi 
presa fácil do Vietminh que venceu a guerra na batalha decisiva de 
Dien Bien Phu, em maio de 1954, uma derrota humilhante para os 
franceses e que encorajaria os argelinos em sua guerra de libertação 
nacional. Contudo, no contexto da Guerra Fria, sofrendo pressão 
dos EUA e da URSS, o Vietnã aceitou provisoriamente a divisão do 
país em duas áreas no paralelo 17, a do Norte e a do Sul, enquanto 
se organizaria a retirada francesa até as eleições de 1956. O novo 
governo sul-vietnamita, comandado por Ngo Dinh Diem, envolvido 
pelos interesses do capitalismo e apoiado pelos EUA, não aceitou 
a reunificação sob o regime comunista, implantou uma ditadura 
militar e levou o país à guerra civil, em 1959. A guerrilha da Frente 
de Libertação Nacional (chamada pejorativamente de vietcong) foi 
criada, unindo os comunistas e os nacionalistas vietnamitas, atuando 
na parte sul do país. Durante os cinco primeiros anos, a intervenção 
dos EUA no Vietnã limitou-se ao apoio logístico e bélico ao governo 
de Dihn Diem até que em 1964 o exército norte-americano em 
Saigon assumiu o controle das ações militares, passando a atacar 
o norte, dando início à “guerra americana” do Vietnã. O conflito 
somente acabaria em 1975, com a amarga derrota e a debandada 
das tropas norte-americanas de Saigon; seguiu-se a unificação do 
Vietnã e a extensão da revolução comunista para os vizinhos Laos 
e Camboja.
Os múltiplos Vietnã do cinema
O cinema, particularmente o norte-americano, 
até como um exercício de catarse da intervenção 
no Vietnã, logrou um conjunto excepcional de 
filmes para analisarmos os diferentes enfoques dados 
à guerra. Começando pelo nacionalismo anticomunista 
dos Boinas Verdes de John Wayne (1968); passando 
pelo pacifismo de Peter Davis em Corações e mentes 
(1974); ou a reflexão sobre o gênero humano em 
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
23
Franco atirador (1978) de Michael Cimino; até chegar 
a Apocalipse Now (1979) de Francis Coppola, talvez 
o filme definitivo sobre a loucura da guerra; Gritos do 
silêncio (1984) do inglês Roland Joffé enfoca outra 
guerra, a da revolução cambojana do Khmer Vermelho; 
e voltamos com Platoon (1986) e a visão violenta e 
destrutiva sobre a guerra, de Oliver Stone; e também 
a de Stanley Kubric, em Nascido para matar (1987). 
Assistam e comparem: o Vietnã é um prato cheio.
O continente africano: a descolonização 
demorada
No continente africano, a independência política das ex-
colônias demorou um pouco mais a chegar. Em sua maioria, os 
paísestornaram-se independentes na década de 1960. Abaixo do 
Saara, Gana, a terra do líder pan-africanista Kwame Nkrumah, 
foi o primeiro país a obter a independência política em 1957. As 
próprias lideranças políticas dessa região da África ocidental de 
colonização inglesa, berço do pan-africanismo, Gana, Nigéria e 
Serra Leoa, optaram por realizar a transição gradual de poder, 
através de eleições legislativas supervisionadas, entendendo que a 
retirada abrupta do governo britânico seria desastrosa. A Nigéria 
conquistou sua independência em 1960 com as mesmas delimitações 
de fronteira do período colonial, contudo sua diversidade étnica 
e cultural (hauçás muçulmanos ao norte, ibós e iorubás, ao sul) 
dificultou a construção de uma nova nação. Obafemi Awolowo, 
líder político iorubá do Action Group Party, entendia que a Nigéria 
ainda era apenas uma representação geográfica e que haveria um 
longo caminho a percorrer até ela se tornar uma nação. As tensões 
entre os diferentes povos eclodiram em uma guerra civil, a partir 
História Contemporânea II
24
do ano de 1967, na região denominada Biafra, no delta do rio 
Niger, coincidentemente a mais rica em petróleo. Os separatistas 
ibós de Biafra receberam o apoio da França, interessada na 
exploração de suas riquezas, mas foram derrotados pelas forças 
nigerianas, apoiadas pela Inglaterra e pela URSS. Já em todas as 
áreas colonizadas pelos franceses, apesar de ter havido diversos 
movimentos ativos que empreenderam lutas de libertação nacional, 
tanto na África Ocidental como na Equatorial, a estratégia adotada 
pela França em relativo acordo com as elites negras locais foi adotar 
um processo de autonomia político gradual até as independências 
em 1960 (SURET-CANALE; BOAHEN, 2010, p. 191-227).
De todos os casos de libertação nacional na África, o de 
maior repercussão internacional foi o da luta da população negra da 
África do Sul contra o regime de segregação racial, apartheid. Em 
1950, de 13 milhões de habitantes, aqueles considerados brancos 
(a maioria de origem holandesa e inglesa) alcançavam 19% da 
população, ainda com uma parcela de 12% considerados mestiços 
(na maioria, de indianos) e a grande maioria de negros. Desde a 
década de 1920, com o mandato sul-africano na Namíbia, houve 
uma campanha internacional de povoamento para a imigração de 
trabalhadores brancos, o que acabou aumentando sua quantidade 
e criando uma economia quase que exclusivamente de brancos, 
enquanto que os negros eram segregados em reservas territoriais, 
denominadas bantustões. De todos os territórios colonizados no 
continente africano, somente na África do Sul e na Argélia, o 
contingente de brancos superou a casa dos 10%. Um percentual 
concentrado nas grandes cidades sul-africanas, como Cidade do 
Cabo e Johannesburgo, onde, no meio urbano, eram uma efetiva 
maioria. Em 1948 a segregação racial tornou-se oficialmente uma 
política de estado: apartheid. A partir de 1950, o governo sul-
africano designou os mestiços como coloured people, diferenciando 
seus direitos políticos dos negros e criando, assim, três “categorias” 
de cidadãos.
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
25
A minoria branca procurou defender sua supremacia 
econômica e seu espaço de circulação física, através de uma 
política de segregação e privação de direitos dos não brancos, 
que foi sendo gradativamente ampliada, na medida em que a 
maioria negra foi inserindo-se na dinâmica econômica urbana 
do pós-guerra e reivindicando sua integração política na esteira 
dos outros povos negros africanos. Por exemplo, no subúrbio de 
Sophiatown, posteriormente transferidos para Soweto, que em junho 
de 1976 seria o palco de grandes distúrbios estudantis contra a 
política discriminatória do Education Act. No campo político, a 
luta contra o apartheid ganhou mais intensidade na medida em 
que a legislação foi tornando-se mais restritiva, paradoxalmente, 
num continente onde ano após ano os outros povos conquistavam 
sua emancipação política. O Congresso Nacional Africano, partido 
originalmente fundado em 1912, na década de 1950, passou a 
ser o principal porta-voz dos direitos civis da população negra, 
emergindo a liderança do advogado Nelson Mandela. Em 1963, 
Mandela foi condenado à prisão perpétua e tornou-se o símbolo 
internacional da luta contra o apartheid.
Encerrando o ciclo colonialista europeu, os territórios colonizados 
por Portugal (Angola, Moçambique, Guiné Bissau e Cabo Verde) 
foram os últimos a conquistarem sua independência política nos 
anos de 1974 e 1975. O governo ditatorial de Antonio de Oliveira 
Salazar impediu um processo pacífico de transição política da 
soberania no pós-guerra e levou as populações africanas nativas 
a terem de enfrentar sangrentas guerras de independência que se 
estenderam desde o início da década de 1960 até abril de 1974, 
quando a Revolução dos Cravos pôs fim à ditadura portuguesa. A 
descolonização nas ex-colônias portuguesas foi sangrenta, deixou 
profundas cicatrizes e levou, em seguida à independência, a 
guerras civis pelo controle do poder político local após a retirada 
dos portugueses.
História Contemporânea II
26
Agostinho Neto, a luta pela indepen-
dência e pela paz em Angola
Este documentário, produzido pela Fundação 
Agostinho Neto, trata da atuação do primeiro presi-
dente angolano na luta pela independência de Angola à 
frente do MPLA, Movimento Popular pela Libertação de 
Angola, apoiado por Cuba. A ênfase está na importân-
cia da luta diplomática, travada logo após a independên-
cia pelo seu reconhecimento internacional. Assista a esse 
documento histórico, com partes da entrevista dada por 
Agostinho à televisão romena ARHIVA TVR: 
http://www.dailymotion.com/video/xeu903_agostin-
ho-neto-entrevista-romenia_news
Após a independência nacional, em 1975, os militan-
tes socialistas do MPLA formaram um governo cen-
tral em Luanda e foram reconhecidos pela ONU. O 
governo do MPLA foi muito combatido pelas forças 
conservadoras da UNITA (União Nacional pela Inde-
pendência Total de Angola), baseadas na Namíbia 
e com o apoio da África do Sul. A guerra civil em 
Angola estendeu-se até 2002 e provocou dezenas de 
milhares de vítimas. Ainda assim, desde o término, 
mais de 70 mil angolanos foram mutilados, vítimas das 
minas enterradas no país. A seguir, indicamos alguns 
artigos do professor Marcelo Bittencourt, da UFF, para 
o aprofundamento do estudo da história de Angola 
(memórias de combatentes, debate historiográfico) e 
que se encontram disponíveis on-line:
http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/Me-
morias_da_Guerrilha.pdf
http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/A_
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
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Atende aos Objetivos 1 e 2
3. Em comparação com a britânica, quais as consequências da descolonização francesa?
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Resposta Comentada
Nos principais pontos de domínio colonial, a Argélia e a Indochina, os franceses não proveram a 
descolonização e a retirada de seu governo, como fizeram os britânicos. Dessa atitude, resultou uma 
efetiva guerra pela independência e libertação nacional, primeiro no Vietnã e, em seguida, na Argélia. 
No caso do Vietnã, o contexto maior da “Guerra Fria” envolveuposteriormente os EUA na guerra.
CONCLUSÃO
O significado político do conceito de 
“Terceiro Mundo”
Em 1952, o demógrafo francês Alfred Sauvy propôs dividir o 
mundo em três porções: um primeiro mundo capitalista desenvolvido, 
um segundo mundo socialista e um terceiro mundo, composto pelos 
História Contemporânea II
28
países economicamente subdesenvolvidos. O nome Terceiro Mundo 
foi inspirado no Terceiro Estado que antecedeu a Revolução Francesa. 
Com isso, ele pretendia alertar para as demandas desses novos 
países no cenário internacional, antes que irrompesse uma possível 
revolução mundial dos países mais pobres. Em abril de 1955, 29 
países africanos e asiáticos recém-saídos da dominação colonial, 
reuniram-se na Conferência de Bandung, na Indonésia, onde criaram 
o movimento dos países não alinhados e adotaram a designação 
de Terceiro Mundo. A ideia de um grupo de países não alinhados 
foi uma estratégia adotada no contexto da “Guerra Fria” com o 
objetivo de deslocar o foco dos conflitos internacionais da relação 
Leste-Oeste, ou seja, Ocidente capitalista – Oriente comunista, para 
uma relação Norte-Sul, ou seja, entre um Norte rico e desenvolvido 
e um Sul pobre e subdesenvolvido. 
Liderados por Nasser, os não alinhados queriam alertar aos 
países ricos e ao comunismo soviético sobre suas necessidades 
próprias de desenvolvimento. O Terceiro Mundo incluía toda a África 
e a Ásia, à exceção da China e do Japão, e também a América 
Latina, apesar de formalmente sua aplicação ser mais ativa para 
os dois primeiros continentes, por conta das novas necessidades 
administrativas e econômicas, geradas após a descolonização. 
Na prática, foram os movimentos socialistas em todo o mundo que 
incorporaram ativamente em sua estratégia de luta a ideia de terceiro-
mundismo. Com essa retórica, estabeleceu-se uma relação direta 
com a exploração por um novo imperialismo capitalista, surgido 
após a Segunda Guerra Mundial, identificado de forma simplificada 
como imperialismo norte-americano. Na década de 1960, em 
muitas situações os EUA, através da CIA, planejaram a saída de 
governantes não alinhados. No ex-Congo Belga, o assassinato do 
líder da independência, Patrice Lumumba, permitiu a subida ao poder 
do ditador Mobutu Sese Seko. Em contrapartida, ao se eleger como 
grande algoz da exploração os EUA, o problema da dominação 
econômica interna foi simplificado e os potentados regionais, 
envolvidos na perpetuação de sistemas de política clientelistas, foram 
Aula 5 – Lutas pela independência e a descolonização após 1945: o surgimento do “Terceiro Mundo”
29
poupados ou, em muitos casos, não foram duramente combatidos 
pelos grupos de esquerda, permitindo o surgimento de ditaduras que, 
mesmo sendo antiamericanas, continuavam explorando sua própria 
população; por exemplo, Idi Amin Dada em Uganda.
Atividade Final 
Atende ao Objetivo 3
Desenvolva o significado do conceito de Terceiro Mundo, no contexto das relações 
internacionais no mundo que emergiu do pós-guerra. 
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Resposta Comentada
A ideia de Terceiro Mundo foi criada na década de 1950, para se referir àqueles países 
economicamente mais pobres e recém-saídos da dominação colonial. Terceiro Mundo como 
uma analogia do Terceiro Estado que antecedeu a Revolução Francesa, mas que serviu também 
para diferenciar esses países mais pobres daqueles desenvolvidos, do primeiro mundo, e dos 
comunistas, do segundo mundo.
História Contemporânea II
30
RESUMO
Nesta aula, estudamos diferentes situações, vividas nos 
territórios colonizados pelos impérios coloniais, após o fim da 
Segunda Guerra Mundial. O debate sobre guerra de independência 
ou descolonização deve-se ao fato de que, em algumas regiões, 
o processo de retirada dos colonizadores ocorreu de modo mais 
pacífico, enquanto que em outras, como a Índia e a Palestina, 
a saída do dominador estrangeiro levou a distúrbios e guerras 
pela posse dos territórios. E em outras ainda, como em algumas 
colônias francesas e nas portuguesas, a guerra restou como única 
alternativa para a conquista da independência política. Nesse 
cenário conflituoso que coincidiu com o surgimento da “Guerra 
Fria”, algumas personalidades surgiram como líderes de uma nova 
categoria de países, o chamado Terceiro Mundo; um conjunto de 
países que se situou numa posição independente em relação às 
duas superpotências.
Informação sobre a próxima aula
A seguir, veremos a emergência política e econômica dos 
países asiáticos, após 1945.

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