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1 História A Revolução Russa e o Stalinismo Objetivo Vamos estudar a situação do império russo no início do século XX e as revoluções que trouxeram importantes consequências para o mundo. Além disso, vamos entender o processo de ascensão de Josef Stalin após a morte de Lênin, a construção do socialismo real e o totalitarismo stalinista. Se liga Para mandar bem nesse conteúdo é importante revisar a matéria sobre a Primeira Guerra Mundial. Além disso, é importante estar ligado no conteúdo sobre o Socialismo Científico e a Revolução Industrial. Curiosidade Em 1945, o escritor George Orwell publicou uma das fábulas mais lidas do século XX: “A Revolução dos Bichos”. O livro, escrito em um contexto pós-2ª Guerra Mundial e de ascensão da URSS, conta a história de uma fazenda que explora o trabalho de animais domésticos, até que os mesmos, cansados dos abusos, rebelam-se contra a tirania dos humanos. Ao tomarem a produção da fazenda, os animais logo dividem os trabalhos, criam novas regras e coletivizam a produção, mas a formação de uma nova hierarquia logo transforma a experiência revolucionária em uma nova ditadura. O livro, portanto, trabalha com uma clara analogia ao processo de revolução soviética e apresenta críticas ao autoritarismo stalinista. Apesar de ser criticado por comunistas, por apresentar uma visão deturpada do socialismo e da revolução, a obra se tornou um clássico e é figura constante em vestibulares e debates acadêmicos. Teoria O gigante dos pés de barro Durante três séculos a dinastia Romanov se perpetuou no poder com uma sucessão de czares, que, até o final do século XIX, ainda persistiam na manutenção de uma sociedade agrária, de base servil e mercantilista. Salvo por alguns nomes que se destacaram por tentativas de modernização da economia, como Catarina II, durante o século XVIII, a maior parte dos czares e a forte aristocracia rural não embarcaram nas tendências de industrialização e modernização econômica dos impérios ao longo do XIX, o que levou a Rússia a um atraso econômico e ao apelido de “o gigante dos pés de barro”. Assim, dos últimos três imperadores russos, Alexandre II (1858-1881) chegou a encaminhar algumas ações liberais, reformando universidades e abolindo a servidão no país em 1861, mas, após o assassinato do Czar, seu sucessor, Alexandre III (1881-1894), retomou as políticas conservadoras e absolutistas. Dessa forma, as mudanças proporcionadas por Alexandre II não modificaram as estruturas sociais da Rússia e nem desenvolveram sua economia, gerando assim uma manutenção da pobreza, um êxodo 2 História de camponeses para as cidades e um crescimento das oposições e dos protestos que, a partir do final do século XIX, passaram a contar com grupos anarquistas e socialistas. Pega a visão: chama na contextualização histórica e lembra que o século XIX foi recheado de uma série de revoluções que possuiam influência liberal, socialista, anarquista e nacionalista. Com a morte de Alexandre III, em 1894, enfim subiu ao trono o último czar russo, Nicolau II (1894-1917), que, apesar de manter o perfil absolutista e extremamente violento, proporcionou a modernização da economia, com a abertura do país a capitais estrangeiros e a formação de polos industriais, como Moscou e Petrogrado. Essa industrialização russa, nos últimos anos do século XIX, portanto, ajudou no crescimento econômico do império, mas, por outro lado, consolidou também seus movimentos operários, sobretudo com a criação do Partido Operário Social-Democrata Russo, o POSDR, em 1898. Partido Operário Social-Democrata Russo O partido foi criado em 1898, visando reunir diversos setores da esquerda do país e líderes de movimentos sociais e operários da época, que atuariam como oposição ao czarismo e lutariam por uma revolução socialista de caráter muito mais urbano e voltado pra classe operária. Apesar do grupo apresentar uma tendência marxista, em 17 de novembro de 1903, no Segundo Congresso do partido, uma cisão interna deu origem a dois partidos: os bolcheviques, liderados pelo jovem Vladimir Ilyich Ulyanov, o Lenin, e os mencheviques, liderados por Julius Martov. Enquanto os mencheviques acreditavam na participação legal e democrática dos trabalhadores na política, com uma revolução se desenrolando apenas após a consolidação capitalista, os bolcheviques, por outro lado, defendiam ações mais imediatas, impulsionando uma revolução armada e a criação de uma ditadura do proletariado. O ensaio revolucionário de 1905 Durante o governo de Nicolau II, uma série de problemas e crises se desenrolou no país, aprofundando cada vez mais os problemas econômicos e sociais. Um grande catalizador dessas crises, de fato, foi a chamada Guerra Russo- Japonesa, entre 1904 e 1905. Essa guerra teve início graças ao expansionismo japonês, que encontrou na Rússia um forte obstáculo para a conquista de territórios na China e na Manchúria. O Japão, impulsionado pela Revolução Meiji, contava com uma frota extremamente moderna e com tecnologias industriais que eram muito superiores às que a Rússia utilizava, e não se intimidou em declarar guerra contra uma grande potência europeia. Assim, apesar de essa guerra ter contado com um grande investimento bélico do Império Russo, o czar Nicolau II foi derrotado pelos japoneses e obrigado a assinar o humilhante Tratado de Portsmouth, que cedia ao Japão a península de Liaodong, Port Arthur, a soberania sobre parte da Manchúria, a Coreia e metade da Ilha Sacalina. Tendo em vista as derrotas sofridas na guerra, Nicolau II, paralelamente, ainda sofria pressões internas, pois, com os gastos exorbitantes, a miséria e a morte da população, os grupos de esquerda e movimentos 3 História populares passaram a pressionar cada vez mais o czar, que, ao sair da guerra derrotado, passou também a ter a sua honra questionada. Logo, uma série de revoltas se desencadeou, formando o que ficou conhecido como o ensaio revolucionário de 1905. Dentre os eventos desse ano, podemos destacar: • Domingo Sangrento – em 22 de janeiro de 1905, manifestantes pacíficos e pró-monarquia foram massacrados pelas forças militares do czar, após pedirem melhores condições de trabalho, fim da censura, reforma agrária e a convocação de uma constituinte; • Revolta de marinheiros no encouraçado Potemkin – motim de marinheiros em junho de 1905 contra as péssimas condições de trabalho nos navios e os fracassos e mortes na guerra russo-japonesa; • Greve geral – Em 13 de outubro, mais de 2 milhões de trabalhadores declararam greve. Dentre as consequências dessas manifestações e revoltas, podemos citar a criação, no mesmo ano, do primeiro Conselho Operário russo, o chamado Soviete de Petrogrado. O soviete, formado inicialmente por operários de Petrogrado, reunia pautas como a redução da jornada de trabalho, o fim da exploração e dos abusos nas fábricas e até mesmo a criação de um parlamento. Enfim, diante do caos que vivia a Rússia em 1905 e sofrendo pressão da elite aristocrática, dos liberais, de anarquistas e socialistas, Nicolau II decidiu realizar o Manifesto de Outubro, tomando providências para enfrentar a crise. Pelo manifesto, Nicolau II prometeu encerrar o absolutismo, convocando uma constituinte e eleições gerais para o parlamento (Duma). Apesar das promessas liberais, apenas a Duma permaneceu funcionando, mas controlada pela aristocracia rural e pelo czar. Os partidos criados na esperança de participarem da constituinte foram perseguidos, líderes da oposição presos, e o autoritarismo de Nicolau II, por fim, manteve-se forte, mas, agora, com uma aparência mais liberal e apoiado pelos moderados. As Revoluções de 1917 A Revolução de Fevereiro Com o autoritarismo do czar e a pressão dos oposicionistas, os conflitos não cessaram nos anos seguintes; no entanto, em 1914, as questões internacionais se colocaramainda mais latentes do que a crise interna russa, graças ao início da chamada Grande Guerra. O império Russo, alinhado com a França e a Inglaterra na Tríplice Entente, tentava aproveitar a guerra para resgatar seu prestígio como uma potência mundial e a influência hegemônica sobre a região balcânica. Para realizar esses objetivos era fundamental, entretanto, efrentar dois grandes rivais, que eram obstáculos há anos dos interesses russos: o Império Austro-Húngaro e o Império Turco-Otomano. Ainda abalada pelas derrotas na Guerra Russo-Japonesa e contando com um poder bélico atrasado, comparado às outras potências, a Rússia, mais uma vez, viu o acúmulo dos fracassos militares e o crescimento dos próprios problemas internos. A população, cada vez mais miserável, ou morria de fome e frio nas cidades russas, ou nas trincheiras da guerra; logo, a situação do país era insustentável e, definitivamente, a coroa de Nicolau II ameaçava cair. Assim, em uma marcha de trabalhadoras em Petrogrado, celebrando o Dia Internacional da Mulher (23 de fevereiro no calendário juliano), os protestos contra a participação russa na guerra, contra o autoritarismo e a miséria se intensificaram na Rússia. A partir dessas marchas, uma série de greves, revoltas militares e protestos se espalharam pelo Império, pressionando o czar e exigindo reformas imediatas. Enfim, no dia 27 de fevereiro, trabalhadores e soldados unidos cercaram o Palácio Tauride, onde ficava a Duma, e iniciaram a 4 História chamada Revolução de Fevereiro, ou a Revolução Menchevique, que derrubou o Czar no dia 2 de março e iniciou um período de Governo Provisório, de caráter liberal. Pega a visão: como pudemos ver aqui em cima, as mulheres participaram ativamente do processo revolucionário russo, porém quase não se fala sobre isso. O tema sobre o apagamento das mulheres na História é mega importante, que tal dar uma olhada nessa reportagem aqui? Apesar da manutenção do poder da Duma, com um governo liderado pelo príncipe Georgy Lvov (foi logo deposto e substituído por Alexander Kerensky), o soviete de Petrogrado resistia como uma forma de governo paralelo, com representações operárias. O chamado “duplo poder”, portanto, ficou marcado pela disputa da legitimidade e do apoio do exército nesse momento. Assim, enquanto um era liderado por latifundiários e burgueses, que mantinham a Rússia na guerra e desejavam realizar reformas conservadoras, o outro, ao contrário, desejava uma revolução, com reforma agrária, a saída da Rússia da guerra e maior participação política dos operários. O impasse persistiu e as derrotas russas na guerra ampliavam ainda mais a crise econômica e social; no entanto, a questão da liderança da nova Rússia seria resolvida apenas com uma nova revolução. Dessa vez, o novo levante foi liderado pelo exilado, Vladimir Ilyich Ulianov, popularmente conhecido como Lênin, que retornou para a Russia em abril de 1917 para iniciar a chamada Revolução de outubro, ou a Revolução Bolchevique. A Revolução de outubro Durante a Grande Guerra, o Império Alemão conseguiu vencer diversas batalhas contra o Império Russo; no entanto, os esforços realizados no Leste Europeu mantinham o exército alemão dividido em duas frentes e impediam um ataque mais forte contra a França e a Inglaterra no lado ocidental. Assim, acreditando que Lenin realizaria uma revolução capaz de retirar a Rússia definitivamente da guerra, a própria Alemanha deu dinheiro e apoio para o líder retornar ao seu país e aprofundar o processo revolucionário, que se iniciou em fevereiro de 1917. Logo, em abril de 1917, Lenin voltou do seu exílio, chegando com seus apoiadores na famosa Estação Finlândia, de Petrogrado, e já realizando discursos de apoio aos bolcheviques, condenando o governo da Duma e divulgando suas Teses de Abril. Através do documento declarava “todo poder aos sovietes” e defendia uma revolução com “Paz, pão e terra”, ou seja, a saída da guerra, o fim da fome e a reforma agrária. Com essas diretrizes, Lenin conquistou o apoio do povo e dos sovietes e, em outubro de 1917, liderando os bolcheviques e com apoio de Trótsky e da sua Guarda Vermelha, cercou a capital e iniciou a nova revolução, que, finalmente, derrubou o Governo Provisório menchevique. Lenin ainda instalou o Conselho dos Comissários do Povo, dando inicio às medidas que visavam consolidar a revolução socialista, como a nacionalização dos bancos e a tomada do controle dos meios de produção. Pega a visão: Até o inicio de 1918, o país adotava o calendário juliano, enquanto o Ocidente adotava o gregoriano. Após a revolução bolchevique, que veremos a seguir, foi implantado o calendário gregoriano, o que fez com que o país “perdesse” 13 dias no mês de fevereiro desse mesmo ano. https://www.cartacapital.com.br/blogs/sororidade-em-pauta/o-apagamento-das-mulheres-na-historia-e-o-direito-a-memoria/ 5 História A Guerra Civil Russa (1918-1921) O novo governo, liderado por Lenin, iniciou assim um processo de nacionalização das indústrias, promovendo a autogestão dos operários (seguida da submissão dos conselhos operários ao Estado), realizou uma reforma agrária, com a coletivização do campo, e assinou o armistício de Brest-Litovski com a Alemanha, retirando a Rússia da Guerra. Em 1918, Lenin ainda dissolveu a Assembleia Constituinte, dando mais poder aos sovietes. Foi nesse período que revolucionários assassinaram os membros da família Romanov, o que impossibilitou uma restauração czarista. Assim, uma nova Constituição foi formulada, e, através da publicação da “Declaração dos direitos do povo trabalhador e explorado”, foi criada a República Soviética Federativa Socialista da Rússia (RSFSR). “Tendo-se determinado como missão essencial abolir toda a exploração do homem pelo homem, suprimir por completo a divisão da sociedade em classes, esmagar de modo implacável a resistência dos exploradores, estabelecer a organização socialista da sociedade e alcançar a vitória do socialismo em todos os países(...).“ (Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, Janeiro de 2018. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1918/01/17.html) Assim, as mudanças radicais realizadas afetaram diretamente a perda dos privilégios da antiga aristocracia e até mesmo da burguesia liberal, que, agora, apoiava os moderados mencheviques. Dessa forma, a oposição aos bolcheviques aumentou e, com o apoio de nações estrangeiras (França, Inglaterra, EUA e Japão), preocupadas com o crescimento do socialismo soviético, grupos mencheviques e czaristas se organizaram em um movimento contra-revolucionário, que levou o país à Guerra Civil. Ainda que muitos grupos com diferentes ideologias e objetivos tenham entrado em conflito durante a Guerra Civil (como o exército negro dos anarquistas da Revolução Ucraniana e os Verdes das milícias camponesas), apenas dois deles protagonizaram os principais embates e disputaram realmente o poder: o chamado exército branco, dos mencheviques e czaristas e, de outro lado, o exército vermelho, comandado por Leon Trotsky e composto por bolcheviques. A Rússia pós-Guerra Durante a Guerra Civil Russa, o novo governo bolchevique, liderado por Lenin, adotou o chamado Comunismo de Guerra, que garantia o total controle da economia, das terras e dos meios de produção por parte do Estado. No projeto econômico implementado, o novo governo almejava arrecadar mais recursos para garantir a vitória durante a Guerra Civil, assim, estatizou empresas, propriedades e bancos, realizou reformas agrárias, ampliou a censura e retirou a Rússia da Grande Guerra. Naturalmente, essa política desagradou a burguesia e expulsou o capital estrangeiro que investia no país, assim como garantiu a vitória do exército vermelho durante a Guerra Civil e a hegemonia dos bolcheviques. Contudo, com uma crise ainda mais profunda apósa Guerra Civil e sem ter como manter as bases do comunismo de guerra, Lenin, em 1921, tentando resolver os problemas econômicos e sociais do país, criou a chamada Nova Política Econômica (NEP), que tinha seu planejamento sintetizado na frase “Um passo atrás para dar dois à frente”. Visto isso, a meta da NEP, basicamente, era a de realizar um recuo estratégico, ou seja, retomar algumas práticas do capitalismo liberal, como o livre comércio interno, a permissão para a entrada limitada de capitais internacionais, o retorno das iniciativas privadas e, enfim, retomar o desenvolvimento do socialismo futuramente. Essa tática visava evitar que a economia russa quebrasse definitivamente. https://www.marxists.org/portugues/lenin/1918/01/17.html 6 História Apesar da NEP permitir um recuo ao capitalismo, o Estado ainda manteve seu domínio sobre setores considerados estratégicos para o desenvolvimento socialista, como a política externa, o setor de indústria de base e o sistema bancário. Na questão rural, os camponeses também voltaram a ter liberdade comercial interna, podendo vender parte da sua produção para o mercado; no entanto, a outra parte era destinada, a preço fixo, para o Estado. A Nova Política Econômica, por ter um caráter provisório, funcionou até 1928, sendo abolida pelo sucessor de Lenin (que morreu em 1924), Josef Stálin. O novo líder russo, que assumiu o poder a partir de 1927, foi o responsável por toda uma construção política e ideológica de uma nova nação, que surgiu oficialmente em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A ascensão de Josef Stálin (1927-1953) Com o falecimento de Lenin em janeiro de 1924, uma crise sucessória se instalou na URSS, pois dois nomes lutavam pela herança do antigo líder: o comandante do Exército Vermelho, Leon Trótski, e o Secretário-Geral do Partido Comunista, Josef Stálin. Apesar de Lênin, antes de sua morte, ter declarado que apoiava Trótski, Bukharin e Piatakov como seus sucessores, Stálin também se tornou um nome forte na disputa, graças ao poder conquistado nos últimos anos, à rede de espiões e ao apoio interno do partido. As diferenças entre Trótski e Stálin não se limitavam ao apoio de Lenin ou às disputas pelo poder, visto que, ambos também apresentavam visões opostas sobre o futuro do socialismo no país. Enquanto Trótski defendia um ideal de revolução permanente, ou seja, a continuidade do processo revolucionário em outros países, como forma de consolidar a revolução russa, Stálin, por sua vez, entendia que o caminho deveria ser diferente, praticamente o oposto, ou seja, com a tese do “socialismo em um só país”, a revolução se consolidaria primeiro na Rússia, para se expandir apenas no futuro. A vitória de Stálin e sua ascensão como chefe de Estado da URSS foi conquistada com manobras políticas que afastaram diversas lideranças e opositores, entre 1924 e 1929. Stálin ampliou as burocracias internas, demitiu funcionários, exilou concorrentes e prendeu aqueles que ameaçavam o seu poder. Um dos maiores exemplos dessa política de perseguições foi o exílio de Trótski, expulso da União Soviética em 1929 e assassinado no México, a mando do próprio Stálin, em 1940. Assim, esse perfil autoritário e violento marcou a chamada stalinização da União Soviética. Após 1929, com a ascensão do novo líder, as perseguições, espionagens, torturas, prisões e exílios aumentaram ainda mais, caracterizando o período entre 1934 e 1939 como o grande expurgo. Nessa conjuntura, antigos bolcheviques, membros do Partido Comunista, generais e oficiais do exército e até mesmo civis foram condenados como “inimigos do povo” e sofreram diversas represálias. Dessa forma, a stalinização da URSS foi marcada pela criação de um Estado Totalitário, unipartidário, ultranacionalista, militarizado e com grande culto à imagem de Stálin como o grande herói e líder soviético, empenhado na reconstrução do país, no desenvolvimento e na vitória da classe trabalhadora. 7 História A economia soviética No plano econômico, a principal mudança realizada por Stálin para desenvolver a URSS e combater os problemas sociais foi a abolição da antiga NEP e a criação dos chamados Planos Quinquenais, que traçavam diretrizes básicas para o desenvolvimento soviético a cada cinco anos. O primeiro plano quinquenal, ocorrido entre os anos de 1928-1933, determinou dois objetivos fundamentais: • Procurou aumentar a produção de forma integral, encorajando a industrialização de bens de produção (siderurgia, maquinaria etc.), e não de consumo. • No meio rural foi estabelecida a coletivização agrícola, inserindo dois modelos de instituições rurais: os Sovkhozes (fazendas estatais) e os Kolkhozes (cooperativas). Com o segundo plano quinquenal (1933-1937), os índices de desenvolvimento eram expressos com clareza, e novos setores receberam investimentos: • A indústria de base crescera aproximadamente sete vezes em relação a 1928; • A indústria de bens de consumo passou a ser mais valorizada e cresceu quatro vezes; O terceiro plano quinquenal, ocorrido no ano de 1938, tinha como objetivo fazer crescer a indústria especializada, dando destaque à química. Contudo, o plano não foi colocado em prática, devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial. 8 História Exercícios de fixação 1. Aqueles que acreditavam que a revolução deveria ocorrer de forma democrática e somente após a consolidação do capitalismo eram os (as) a) mencheviques b) bolcheviques c) sovietes 2. A estratégia econômica conhecida como comunismo de guerra tinha como característica: a) Controle estatal da economia. b) Incentivo à iniciativa privada. c) Intervenção do Estado apenas em setores estratégicos. d) Conciliação entre o capital nacional e internacional privado. 3. As Teses de Abril foram sintetizadas, por Lenin na sua volta do exilio, em um relatório que apontava uma série de ações que deveriam ser tomadas pelos bolcheviques. Tal documento foi essencial para a conquista do apoio da população para uma nova revolução. Seu lema foi sintetizado pelas palavras: a) “Paz, pão e dinheiro” b) “Pão, emprego e terra” c) “Paz, terra e dinheiro” d) “Paz, pão e terra.” 4. O projeto socialista de Stálin se baseava em uma teoria conhecida como: a) Socialismo em um só país. b) Revolução permanente. c) Social-democracia. d) Socialismo cristão 5. Apesar de sempre ouvirmos falar em Revolução Russa, o que ocorreu na realidade foram duas revoluções com propósitos bem diferentes. A que possuía um caráter mais radical era a: a) Revolução de Fevereiro b) Revolução dos Mencheviques c) Revolução de Outubro d) Revolução de Março 9 História Exercícios de vestibulares 1. (PUC-SP) O fragmento a seguir estabelece uma relação entre a Revolução Francesa, de 1789, e a Revolução Russa, de 1917. "Para os socialistas da segunda metade do XIX (...) a Revolução francesa é portadora de uma esperança que tem um nome, mas não possui ainda um rosto. Tudo muda com 1917. A partir de então a Revolução socialista possui um rosto: a Revolução francesa deixa de ser a matriz a partir da qual pode e deve elaborar-se uma outra revolução libertadora." Furet, F. Ensaios sobre a Revolução Francesa, Lisboa, A Regra do Jogo, 1978, p. 138. Essa relação é possível, entre outros fatores, pois: a) a primeira delas foi inspiradora da segunda, mas a Francesa teve efeitos apenas nacionais e a Russa expandiu-se para além de suas fronteiras. b) as duas revoluções contiveram, em seu interior, variadas propostas e revelaram, ao final, a vitória de projetos socialmente transformadores. c) a primeira delas foi inspiradora da segunda, mas a Francesa foi dirigida pelos sans-culottes e a Russa pelos bolcheviques. d) as duas revoluções manifestaram caráter exclusivamente político, sendo ambasportadoras de propostas liberais e socialistas. e) a primeira delas foi inspiradora da segunda, mas a Francesa teve caráter burguês e a Russa aristocrático. 2. (UFPR 2018) Quando Lenine desencadeou a insurreição de outubro, não lhe vinha à mente que a Revolução se limitaria a um só país, nem que poderia ser socialista, se reduzida à Rússia. (Marc Ferro. A revolução russa de 1917. São Paulo: Perspectiva, 1974. Adaptado.) De acordo com o texto, a conduta do líder revolucionário foi pautada pela perspectiva de que o: a) socialismo científico fundamentaria a organização dos operários. b) governo soviético representaria o foco de um movimento mundial. c) universalismo cosmopolita estimularia a integração europeia. d) pacifismo humanista precipitaria o fim da Grande Guerra. e) planejamento centralizado originaria blocos econômicos. 10 História 3. (FM Petrópolis RJ/2014) Em 1921 o país estava em ruínas. No inverno de 1921- 1922, houve uma grande fome que, com as epidemias, matou cerca de cinco milhões de pessoas. As revoltas locais, as greves, a insurreição revolucionária do Kronstadt configurava um quadro de descontentamento generalizado. REIS FILHO, Daniel Aarão. As revoluções russas e o socialismo soviético. São Paulo: Editora UNESP, 2003. p. 77. A situação socioeconômica da Rússia no início da década de 1920, resumida no texto, foi causada, dentre outros motivos, pelo: a) fim das restrições ao comércio externo b) isolamento internacional do país c) aperfeiçoamento do regime czarista d) conflito militar contra Hitler e) extermínio dos kulaks 4. (UFPR 2015) O lema dos bolcheviques a partir de abril de 1917 era “Paz, Pão e Terra”, conhecido também como Teses de Abril. Assinale a alternativa que identifica e justifica corretamente qual entre as palavras do lema tem correspondência direta com os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial. a) A palavra é “Paz”, pois reivindicava que a Rússia conduzisse o Tratado de Versalhes, e retirasse vantagens dos países perdedores. b) A palavra é “Terra”, pois reivindicava que a Rússia fizesse reforma agrária nas terras conquistadas durante o conflito. c) A palavra é “Terra”, pois reivindicava que a Rússia anexasse territórios para a constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. d) A palavra é “Paz”, pois reivindicava que a Rússia se retirasse imediatamente da guerra, para livrar sua população do sofrimento e iniciar uma nova ordem socialista. e) A palavra é “Pão”, pois reivindicava que a Rússia se retirasse da guerra para cessar o desabastecimento que ocorreu no país após a invasão alemã. 11 História 5. (UNESP 2014) No final da primavera de 1921, um grande artigo de Lenin define o que será a NEP [Nova política econômica]: supressão das requisições, impostos em gêneros (para os camponeses); liberdade de comércio; liberdade de produção artesanal; concessões aos capitalistas estrangeiros; liberdade de empresa - é verdade que restrita — para os cidadãos soviéticos. [..] Ao mesmo tempo, recusa qualquer liberdade política ao país: “Os mencheviques continuarão presos”, e anuncia uma depuração do partido, dirigida contra os revolucionários oriundos de outros partidos, isto é, não imbuídos da mentalidade bolchevique. (Victor Serge. Memórias de um revolucionário, 1987.) O texto identifica duas características do processo de constituição da União Soviética: a) a reconciliação entre as principais facções social-democratas e a implantação de um sistema político que atribuía todo poder aos sovietes de soldados, operários e camponeses. b) o reconhecimento do fracasso político e social dos ideais comunistas e o restabelecimento do capitalismo liberal como modo de produção hegemônico no país. c) a estatização das empresas e dos capitais estrangeiros investidos no país e a nacionalização de todos os meios de produção, com a implantação do chamado comunismo de guerra. d) a aguda centralização do poder nas mãos do partido governante e o restabelecimento temporário de algumas práticas capitalistas, que visavam à aceleração do crescimento econômico do país. e) o fim da participação russa na Guerra Mundial, defendida pelas principais lideranças do Exército Vermelho, e a legalização de todos os partidos socialistas. 6. (Famerp 2017) Seja como for, o comunismo não se limitava à Rússia. [...] Uma das minhas primeiras experiências políticas, quando me tornei membro do partido [comunista] na época em que ainda estudava em Berlim, foi uma discussão com o companheiro responsável por meu recrutamento. Ele ficou desconcertado quando lhe disse: “Bem, todo mundo sabe que a Rússia é um país atrasado, por isso podemos esperar que o comunismo tenha suas derrotas por lá.” (Eric J. Hobsbawm. O novo século, 2000.) A afirmação do estudante de Berlim e futuro historiador inglês baseava-se na ideia de que a) as revoluções operárias vitoriosas ocorreram ao longo da história nos países mais industrializados. b) as rupturas sociais radicais, inauguradas pela Revolução Francesa, deram origem a regimes totalitários. c) o sucesso revolucionário seria possível somente no caso da propagação da revolução para países dominados pelos europeus. d) a vitória dos comunistas na Rússia foi liderada por partidos oriundos dos movimentos camponeses. e) a revolução bolchevista deveria enfrentar a questão do desenvolvimento econômico do país. 12 História 7. (UEFS 2018) Uma política foi sendo aos poucos colocada em prática, desde 1919, pelos países vencedores na Primeira Guerra Mundial: não intervir, porém conter o bolchevismo. Formar uma “barragem contínua”, apoiando-se no exército polonês e no exército romeno. Era o primeiro esboço do mais tarde chamado “cordão sanitário”. (Jean-Jacques Becker. O Tratado de Versalhes, 2011. Adaptado.) O historiador alude, implicitamente, a) à irrelevância da revolução russa nas relações internacionais. b) à ausência de plano no combate dos capitalistas ao socialismo soviético. c) à aliança entre nações capitalistas e forças czaristas no combate ao socialismo. d) à defesa pelo Ocidente das liberdades democráticas nos estados socialistas. e) à consolidação da revolução socialista na Rússia soviética. 8. (UEFS BA/2012) Caracterizou a composição político-ideológica da URSS (União Soviética), no período compreendido entre o stalinismo e a dissolução da própria URSS: a) o investimento maciço em propaganda externa. b) o culto à personalidade, associado à centralização burocrática. c) a representatividade das repúblicas socialistas, associadas no alto comando da URSS. d) a doutrina do isolamento e da autossuficiência, representada pela expressão “Cortina de Ferro”. e) o pluripartidarismo como expressão das diferentes correntes de interpretação do marxismo existentes no país. 9. (UPE 2018) Observe a imagem a seguir: V. N. Deni, Camarada Lenin livra a Terra de todo lixo, 1920. In: GRECO, Patrícia. Arte e Revolução na Rússia Bolchevique. Fonte: http://www.uff.br/revistacontracultura/Arte%20Revolucao%20Greco.pdf A imagem de 1920 evidencia uma das principais características sociopolíticas da Revolução Russa de 1917. Trata-se da a) constituição de um Estado anarquista. b) adoção de uma política externa imperialista. c) implementação de um capitalismo de mercado. d) criação da política econômica desenvolvimentista. e) ascensão dos sovietes com a adoção do lema paz, terra e pão. 13 História 10. (PUC-CAMP.-2009) “Aqui jaz Rosa Luxemburgo Judia da Polônia Vanguarda dos operários alemães Morta por ordem dos opressores. Oprimidos enterrai as vossas desavenças! (Bertold Brecht. Epitáfio para Rosa Luxemburgo. Trad. Apud Adhemar Marques. Pelos caminhos da História. Curitiba: Editora Positivo,2006. p.451) Os últimos versos do poema podem ser relacionados ao processo revolucionário soviético mais especificamente: a) à rivalidade entre o exército branco e o exército vermelho, que resultou no Domingo Sangrento. b) às divergências entre trotskistas e leninistas durante a Revolução Democrático-Burguesa. c) ao questionamento do plano econômico apresentado por Stalin, denominado NEP. d) às discordâncias em torno da "Revolução Permanente" e do "Socialismo num só país". e) à competição entre os principais sovietes durante a guerra contra o czar Nicolau I. 14 História Gabaritos Exercícios de fixação 1. A Ainda que insatisfeitos com a situação da Rússia, os mencheviques defendiam que a revolução socialista só poderia ocorrer após a consolidação do sistema capitalista no país, que deveria ser liderada pela burguesia. 2. A O comunismo de guerra, adotado por Lênin durante a Guerra Civil, visava ampliar o controle do Estado sobre a economia, para garantir que a produção soviética se voltasse para os esforços de guerra. 3. D As Teses de Abril foram sintetizadas na frase “Paz, pão e terra”, que significava que a ação bolchevique deveria atuar em três grandes pilares em um primeiro momento: a saída da Rússia da Grande Guerra, o fim da fome que afetava o povo e a necessidade de uma reforma agrária. 4. A Para Stálin, o socialismo deveria primeiro se instalar na URSS, garantindo a estabilidade do regime no país e sua posição como liderança política no mundo, para depois se expandir. 5. C Liderada pelos bolcheviques, a Revolução de Outubro destituiu o governo provisório, liderado pelos mencheviques, e deu início à implantação dos ideais socialistas na Rússia. Exercícios de vestibulares 1. B Ambas as Revoluções puderam transformar a sociedade de suas respectivas épocas; no entanto, é importante ressaltar que a Revolução Francesa foi uma revolução burguesa, enquanto a Revolução Russa teve um caráter operário, defendendo ideais socialistas. 2. B A revolução socialista russa seguia alguns dos preceitos do socialismo científico e, dentre eles, o internacionalismo, em que a revolução proletária não seria um evento isolado em determinados países. Assim, para Lenin, ela serviria de exemplo e incentivo para levantes revolucionários em outros locais. 3. B O isolamento internacional após a revolução e a Grande Guerra dificultaram uma resolução simples da crise na qual a Rússia estava inserida. 4. D Vivendo simultaneamente um processo revolucionário e o caos da Grande Guerra, a proposta de paz lançada pelos bolcheviques visava retirar a Rússia do conflito bélico, uma vez que não fazia sentido permanecer nela, já que o país estava inserido em um contexto de miséria e transtorno social. 15 História 5. D Uma das características a que o autor do trecho se refere é a concentração de poder na mão do partido vitorioso, os bolcheviques; a outra é sobre a NEP (Nova Política Econômica), que visava realizar algumas reformas econômicas ligadas ao capitalismo, para promover um crescimento interno. 6. E No momento da sua revolução, a Rússia era um país que não havia consolidado completamente o modo de produção capitalista e a produção industrial em larga escala, portanto, o texto se referia à questão econômica como um dos obstáculos para o sucesso do comunismo no local. 7. E O texto aponta como a consolidação da revolução socialista na Rússia, especialmente após a vitória dos bolcheviques na guerra civil, levou a um medo, por parte das potências capitalistas, de que os ideais e a revolução se estendessem para outros espaços. 8. B A União Soviética, ao longo do século XX, ficou muito marcada pelo personalismo, com a adoração à imagem de líderes socialistas e pela centralização burocrática, com o controle político e econômico do país nas mãos de um grupo. 9. E A imagem retrata a ascensão dos sovietes ao poder, com a Revolução de Outubro, e a ação dos bolcheviques. Na charge, Lenin está “varrendo” a família real, ou seja, a monarquia, e está “varrendo” a burguesia liberal, representada pelo Governo Provisório dentro daquele contexto. 10. D O texto em seu último verso se refere às divergências entre os projetos socialistas em vigor após a consolidação da revolução, disputas essas que levaram à morte muitas pessoas.
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