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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICA DE QUIXADÁ CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO JÚLIO CESAR SILVA GUERRA INTERVENÇÃO URBANA, COMO RESPOSTA AO PROCESSO DE SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO LUIZ ALMEIDA EM QUIXERAMOBIM-CE QUIXADÁ - CE 2020 2 JÚLIO CÉSAR SILVA GUERRA INTERVENÇÃO URBANA, COMO RESPOSTA AO PROCESSO DE SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO LUIZ ALMEIDA, EM QUIXERAMOBIM-CE Monografia submetida ao curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Católica de Quixadá - Unicatólica, como requisito parcial da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II (TCC II). Orientador(a): Prof. Me. Fernando Natale Rossi Mota Narbal QUIXADÁ - CE 2020 3 JÚLIO CESAR SILVA GUERRA INTERVENÇÃO URBANA, COMO RESPOSTA AO PROCESSO DE SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DO BAIRRO LUIZ ALMEIDA, EM QUIXERAMOBIM-CE Monografia submetida ao curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Católica de Quixadá - Unicatólica, como requisito parcial da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II (TCC II). Orientador(a): Prof. Me. Fernando Natale Rossi Mota Narbal Aprovado em: 02 / 12 / 2020 BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Prof. Me. Fernando Natale Rossi Mota Narbal (Orientador) ________________________________________________ Prof. Me. Simone Farias Cabral de Oliveira (Membro Convidado) ________________________________________________ Prof. Me. Diego Paim Silveira (Membro Convidado) QUIXADÁ - CE 2020 4 Dedico este trabalho de pesquisa a meus país, exemplos de força, superação e honestidade, principais responsáveis por meu êxito acadêmico; a minha filha, meu maior bem, fonte de amor, incentivo e motivação. 5 AGRADECIMENTOS Acima de todas as coisas a Deus, pelo dom da vida. A meus pais, Raimundo Guerra e Raimunda Gustavo, que me incentivaram para a conclusão deste trabalho. A minha filha Júlia Leticya, que sofreu com minha ausência quando precisei focar na realização deste trabalho, abdicando de lhe dar carinho, amor e atenção. A meu irmão Álvaro Pimentel, pelo incentivo e inspiração. A minha companheira Lara Leticya, que permaneceu ao meu lado durante a realização deste trabalho. A orientador, Professor Me. Fernando Natale Rossi Mota Narbal, por toda sua dedicação, apoio, amizade e competência na transmissão dos conhecimentos, durante todas as fases da orientação. A todo o corpo docente pelo conhecimento repassado com total empenho e dedicação ao longo dessa jornada acadêmica. 6 RESUMO A presente pesquisa busca apresentar a partir da temática de intervenção urbana, uma proposta que possa contribuir para o rompimento do processo de segregação socioespacial do Bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE, através da ressignificação do seu espaço público. O conceito de segregação socioespacial tem abrangido boa parte dos novos e velhos conjuntos habitacionais de baixa renda, afetando diretamente na qualidade de vida dos seus moradores. A pesquisa surgiu a partir da problemática encontrada através da desvalorização do espaço público do bairro, e que proporcionou o seguinte questionamento: Como uma proposta de intervenção urbana no bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE, poderá contribuir na sua reestruturação socioespacial, mediante ao contexto de segregação ocorrida ao longo de seu processo histórico de formação? Nesse sentido essa pesquisa objetiva compreender como uma intervenção urbana pode contribuir para a reestruturação socioespacial do Bairro Luiz Almeida. De uma maneira especifica através deste trabalho buscamos: conhecer o processo de origem, dinâmica e a forma de desenvolvimento ocorrida no bairro, mediante ao cenário urbano; identificar através dos aspectos urbanísticos, as circunstâncias que levaram o bairro a sofrer segregação socioespacial; apresentar uma proposta de intervenção urbana que contribua com o processo de regeneração urbana do Bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE; demonstrar a potencialidade que uma intervenção urbana pode inferir dentro da perspectiva de valorização do espaço público e como pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população. Os autores que embasaram teoricamente esta pesquisa, apresentam alternativas para a compreensão da temática e de sua relação com nossa proposta, no qual destacam-se: Jane Butzner Jacobs (2011) e Jan Gehl (2010). Visando a compreensão acerca da ótica sobre o processo de segregação socioespacial, e construção de conjuntos habitacionais, foram elencados autores como Cristina Maria Perissinotto Baron (2011) e Jimmy Lima de Oliveira (2011), sendo complementados por André Alves Prado (2012), em relação ao assentamento de conjuntos habitacionais em periferias. A metodologia realizada se baseia numa proposta de estudos dividas em etapas, iniciando desde a busca por referências teóricas, a busca por projetos de referências, e realização de diagnóstico urbano. Desta forma a pesquisa será realizada no Bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE. Diante das ações desenvolvidas neste estudo, como resultado, acredita-se que o uso de intervenção urbana trará muitos benefícios para a comunidade, alcançando o objetivo principal deste trabalho. Palavras-chave: Espaço urbano. Bairro. Reestruturação. Intervenção Urbana 7 ABSTRACT This research seeks to present, based on the theme of urban intervention, a proposal that can contribute to breaking the socio-spatial segregation process of Bairro Luiz Almeida, in Quixeramobim-CE, through the resignification of its public space. The concept of socio-spatial segregation has covered much of the new and old low-income housing developments, directly affecting the quality of life of its residents. The research arose from the problem found through the devaluation of the public space in the neighborhood, and which gave rise to the following question: As a proposal for urban intervention in the Luiz Almeida neighborhood, in Quixeramobim-CE, it may contribute to its socio-spatial restructuring, through the context of segregation that occurred throughout its historical formation process? In this sense, this research aims to understand how an urban intervention can contribute to the socio-spatial restructuring of Bairro Luiz Almeida. In a specific way through this work we seek: to know the process of origin, dynamics and the form of development that occurred in the neighborhood, through the urban scenario; to identify through urban aspects, the circumstances that led the neighborhood to suffer socio-spatial segregation; present a proposal for urban intervention that contributes to the urban regeneration process of Bairro Luiz Almeida, in Quixeramobim-CE; demonstrate the potential that an urban intervention can infer from the perspective of valuing public space and how it can contribute to improving the quality of life of the population. The authors who theoretically supported this research, present alternatives for understanding the theme and its relationship with our proposal, in which the following stand out: Jane Butzner Jacobs (2011) and Jan Gehl (2010). Aiming to understand the perspective on the process of socio-spatial segregation, and construction of housing estates, authors such as Cristina Maria Perissinotto Baron (2011) and Jimmy Lima de Oliveira (2011) were listed, being complemented by André Alves Prado (2012), in relation to the settlement of housing estates in peripheries. The methodology carried out is based on a proposal for studies dividedinto stages, starting from the search for theoretical references, the search for reference projects, and the realization of urban diagnostics. In this way the research will be carried out in Bairro Luiz Almeida, in Quixeramobim-CE. In view of the actions developed in this study, as a result, it is believed that the use of urban intervention will bring many benefits to the community, reaching the main objective of this work. Keywords: Urban space. Neighborhood. Restructuring. Urban Intervention. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1: As primeiras manifestações de fixação, por intermédio da caverna...................................................................................................... 21 Figura 2: Aldeias e primeiras cidades: Os primeiros registros da vida coletiva....................................................................................................... 23 Figura 3: Influencias colônias sobre o Brasil.......................................................... 24 Figura 4: Igreja matriz de Quixeramobim.............................................................. 28 Figura 5: Quixeramobim atual................................................................................ 30 Figura 6: Complexo Cantinho do Céu pré intervenção......................................... 54 Figura 7: Complexo Cantinho do Céu pré intervenção 2....................................... 55 Figura 8: Figura 9: Figura 10: Figura 11: Figura 12: Figura 13: Figura 14: Figura 15: Figura 16: Figura 17: Figura 18: Figura 19: Figura 20: Figura 21: Figura 22: Figura 23: Figura 24: Figura 25: Figura 26: Figura 27: Figura 28: Medellín e as divisões de PUI´s............................................................... Delimitação da área de intervenção PUI-NOR, bairro La Herrera...................................................................................................... Delimitação do bairro La Herrera.......................................................... La Herrera antes das intervenções urbanas.......................................... Componentes do MIB.............................................................................. Parque Linear........................................................................................... Deck, Parque Linear................................................................................. Deck Parque Linear 2.............................................................................. Cinema Parque Linear............................................................................. Banco, Parque Linear.............................................................................. Churrasqueira em área livre, La Herrera............................................. Ponte do M, La Herrera........................................................................... Trechos de intervenção antes/depois...................................................... Trechos de intervenção antes/depois...................................................... Ações no uso solo...................................................................................... Especificação do estado das habitações.................................................. Ação no uso do solo.................................................................................. Ação no uso do solo 2............................................................................... Horta comunitária................................................................................... Salão comunitário.................................................................................... Quadra poliesportiva............................................................................... 57 58 59 60 61 62 63 64 64 65 66 66 67 67 69 70 71 72 84 85 86 9 Figura 29: Figura 30: Figura 31: Figura 32: Figura 33: Figura 34: Figura 35: Figura 36: Figura 37: Figura 38: Figura 39: Figura 40: Figura 41: Figura 42: Figura 43: Figura 44: Figura 45: Figura 46: Figura 47: Figura 48: Figura 49: Figura 50: Figura 51: Figura 52: Figura 53: Figura 54: Figura 55: Figura 56: Figura 57: Figura 58: Figura 59: Figura 60: Modelo de padronização de quadras e lotes............................................ Residência com dois pavimentos, comercial e residencial.................... Residência com fachadas em alto estado se conservação...................... Residência em médio estado de conservação......................................... Residência em baixo estado de conservação......................................... Único ponto de ônibus.............................................................................. Vias pavimentas com infraestrutura precária....................................... Neem no Luiz Almeida............................................................................. Sempre verde no Luiz Almeida............................................................... Centro cultural......................................................................................... Zonas do Bairro Luiz Almeida................................................................ Malha urbana do Bairro Luiz Almeida.................................................. Integração e restauração da malha urbana do Bairro Luiz Almeida..................................................................................................... Parque linear............................................................................................ Implantação comercial parque linear.................................................... Partido do parque linear – Serra Santa Maria...................................... Locas de implantação de praças............................................................. Diagrama conceitual praças ................................................................... Praça 01..................................................................................................... Praça 02..................................................................................................... Praça 03..................................................................................................... Implantação conceitual............................................................................ Terreno para implantação de pista de Bicicross................................... Volumetria da Serra de Santa Maria..................................................... Implantação conceitual pista de Bicicross.............................................. Ciclofaixa como elemento vivo................................................................. Casa popular com fachada em duas águas............................................ Terreno para a implantação de Arena Society..................................... Diagrama conceitual................................................................................ Partido Arquitetônico Arena Society..................................................... Implantação conceitual da Arena Society.............................................. Encontro da Rua Jurandir com a Avenida José Gonsalves Pinheiro... 88 92 96 96 97 100 102 105 106 118 137 137 138 139 140 140 141 142 143 144 145 146 146 147 148 149 150 150 151 151 152 153 10 Figura 61: Figura 62: Acesso atual a CE -0-60............................................................................ Croqui da disposição da Avenida, sentido Norte-Sul............................ 153 154 Figura 63: Figura 64: Figura 65: Figura 66: Figura 67: Figura 68: Figura 69: Figura 70: Figura 71: Figura 72: Figura 73: Figura 74: Figura 75:Figura 76: Figura 77: Sistema de Dreno para ruas em mesmo nível de piso............................ Modelo de poste com placa de Energia solar......................................... Modelo de poste para iluminação pública.............................................. Inserção de canteiro Central.................................................................... Modelo de Assentamento de piso intertravado..................................... Divisão de faixas....................................................................................... Ilustração de Modelo de canteiro........................................................... Parque Linear.......................................................................................... Topografia parque.................................................................................. Pedra Calcária Vermelha........................................................................ Deck pinus seco madeir........................................................................... Modelo de Banco...................................................................................... Modelo de Playground............................................................................. Modelo de gangorra................................................................................. Bicicletário Projetado.............................................................................. 157 158 158 159 160 161 161 163 164 165 165 168 168 168 172 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela 2: Tabela 3: Tabela 4: Tabela 5: Tabela 6: Tabela 7: Tabela 8: Tabela 9: Tabela 10: Tabela 11: Tabela 12: Tabela 13: Critérios para mapeamento do solo....................................................... Instituições dentro do Bairro Luiz Almeida.......................................... Estado de conservação das fachadas...................................................... Quantitativo de tipologia de pavimentação........................................... Aspectos Ambientais................................................................................ Parametros para porte de vegetação...................................................... Tabela de Problemas............................................................................... Tabela de Potencialidades....................................................................... Ações a serem desenvolvidas................................................................... Quadro de Vegetação Parque.................................................................. Quadro de Vegetação Praça 01................................................................ Quadro de Vegetação Praça 02................................................................ Quadro de Vegetação Praça 03................................................................ 81 85 94 100 105 106 112 116 121 166 170 173 176 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Comparativo do quantitativo de pavimentos das edificações............. 93 Gráfico 2: Estado de conservação de fachadas....................................................... 96 Gráfico 3: Tipos de pavimentação de vias............................................................... 101 Gráfico 4: Vias pavimentadas e não pavimentadas................................................ 101 13 LISTA DE MAPAS MAPA 1: Zonas de ocupação................................................................................... 40 MAPA 2: Principais Vias.......................................................................................... 46 MAPA 3: Tipologia e Uso dos solos......................................................................... 82 MAPA 4: Testadas..................................................................................................... 88 MAPA 5: MAPA 6: MAPA 7: MAPA 8: MAPA 9: MAPA 10: MAPA 11: MAPA 12: MAPA 13: MAPA 14: MAPA 15: MAPA 16: Volumetria................................................................................................. Estado de conservação de fachadas......................................................... Sistema Viário........................................................................................... Pavimentação das vias.............................................................................. Aspectos Ambientais................................................................................. Bairro x Cidade......................................................................................... Entorno do Bairro Luiz Alemida............................................................ Problemas.................................................................................................. Potencialidades.......................................................................................... Ações Básicas............................................................................................. Ações Inovadoras 1................................................................................... Ações Inovadoras 2................................................................................... 90 94 98 103 106 108 111 114 116 124 126 128 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas EDU Empresa de Desenvolvimento Urbano IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MEC MIB QGIS Ministério de Educação e Cultura Melhoramento Integral dos bairros Quantum GIS TCC PDDU PRIMED PUI PTDRS SABESP SEHAB SMA ZEIS Trabalho de Conclusão de Curso Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Programa de Melhoramento Integral do Bairros Desenvolvidos Projetos Urbanos Integrais Plano Territorial de Desenvolvimento Rural e Sustentável Companhia Brasileira de Saneamento Básico Secretaria Municipal de Habitação Secretaria do Meio Ambiente Zona Especial de Interesse Social 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17 2 ESPAÇOS URBANOS...................................................................................... 20 2.1 O PROCESSO HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DAS CIDADES............................................................................................................ 20 2.1.1 A origem das cidades......................................................................................... 20 2.1.2 A formação das cidades no Brasil, e os primeiros sinais da segregação socioespacial....................................................................................................... 24 2.1.3 O surgimento das cidades no Sertão Central: O surgimento de Quixeramobim-CE............................................................................................ 27 2.2 BAIRROS HABITACIONAIS NO CONTEXTO DE UM PAÍS SUBDESENVOLVIDO..................................................................................... 30 2.2.1 A teorização dos bairros, conceitos e perspectivas....................................... 30 2.2.2 Degeneração Urbana de Conjuntos Habitacionais em face do processo de segregação socioespacial................................................................................. 32 2.3 BAIRRO LUIZ ALMEIDA, EM QUIXERAMOBIM-CE............................... 35 2.3.1 Origem .............................................................................................................35 2.3.2 Dinâmica .......................................................................................................... 39 2.3.3 Evolução ........................................................................................................... 48 3 PROJETOS DE REFERÊNCIA .................................................................... 54 4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 77 4.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................ 77 4.2 MÉTODOS E TÉCNICAS DOS DADOS ........................................................ 77 4.3 PROCEDIMENTOS .......................................................................................... 78 5 PROPOSITURA DO PROJETO .................................................................... 81 5.1 5.1.1 5.1.2 5.1.3 5.1.4 5.1.5 5.1.6 5.1.7 DIAGNÓSTICO URBANO DO BAIRRO LUIZ ALMEIDA ........................... Uso do solo.......................................................................................................... Testadas.............................................................................................................. Volumetria.......................................................................................................... Estado de conservação das fachadas............................................................... Sistema viário.................................................................................................... Pavimentação de vias........................................................................................ Aspectos Ambientais......................................................................................... 81 82 87 90 93 98 101 105 16 5.1.8 5.1.9 Entorno.............................................................................................................. Problemas e Potencialidade............................................................................. 108 112 5.2 5.2.1 5.2.2 5.2.3 5.2.4 DIRETRIZES..................................................................................................... Espaço público.................................................................................................. Uso do solo......................................................................................................... Visão interna a intervenção............................................................................. Visão externa a intervenção............................................................................. 120 130 132 134 135 5.3 5.3.1 5.3.2 2.3.2.1 5.3.2.2 5.3.2.3 5.3.2.4 5.3.2.5 5.3.2.6 6 6.1 6.2 6.3 PARTIDO....... ................................................................................................... Partido geral...................................................................................................... Partidos específicos........................................................................................... Parque Linear...................................................................................................... Implantação de praças na zona habitada............................................................. Pista de bicicross................................................................................................. Inserção de ciclofaixas........................................................................................ Arena Society...................................................................................................... Extensão da Avenida José Gonçalves................................................................. MEMORIAL DESCRITIVO........................................................................... INTERVENÇÕES GERAIS................................................................................ SETORES............................................................................................................ POSSIBILIDADES............................................................................................. 136 136 139 139 141 146 149 150 152 156 156 162 176 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 180 REFERENCIAS ................................................................................................ 182 APÊNDICES ..................................................................................................... 186 17 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta como proposta uma intervenção urbana, que parte da ressignificação do espaço urbano de um conjunto habitacional, de baixa renda, por intermédio do Urbanismo, sendo intitulado como: Intervenção Urbana, como resposta ao processo de segregação socioespacial do Bairro Luiz Almeida em Quixeramobim-CE. Esse trabalho monográfico se propõe a intervir no Bairro Luiz Almeida, localizado no município de Quixeramobim-CE, um conjunto habitacional de baixa renda, que deixou de fazer parte das políticas públicas municipais, provocando a desvalorização do bairro e problemas sociais e ambientais, fazendo com que o mesmo e seus moradores sejam discriminados, devidos as características periféricas, com a ocorrência de eventos relacionados a criminalidade, tráfico de drogas, alto índice de vulnerabilidade, além das precariedades encontradas em sua estrutura. A pesquisa parte da seguinte problemática: Como uma proposta de intervenção urbana no bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE, poderá contribuir na sua reestruturação socioespacial, mediante ao contexto de segregação ocorrida ao longo de seu processo histórico de formação? Diante desta problemática, outras questões se mostram de grande relevância, das quais destacam-se: Quais são os meios necessários para a realização de intervenção urbana nesta área? De que forma a segregação urbana norteou a ocupação do bairro Luiz Almeida, direcionando posteriormente o seu desenvolvimento? Qual o tipo de intervenção urbana adequada para contribuir com o cenário presente, identificado por intermédio dos aspectos urbanísticos deste local? Como uma intervenção urbana pode inferir sobre a concepção e requalificação do espaço público? Desta forma o objetivo geral deste trabalho é: Compreender como uma intervenção urbana no bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE, pode contribuir no processo de reestruturação socioespacial do mesmo 1. Diante das questões especificas apresentadas, como objetivos específicos desta pesquisa pretendemos: conhecer o processo de origem, dinâmica e a forma de desenvolvimento ocorrido no bairro, mediante ao cenário urbano; identificar através dos aspectos urbanísticos, as circunstâncias que levaram o bairro a sofrer segregação sócio espacial; apresentar uma proposta 1 GUERRA, Júlio Cesar Silva. Intervenção Urbana, como resposta ao processo de segregação socioespacial do bairro Luiz Almeida em Quixeramobim-CE. (Monografia de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo – Orientador: Me. Fernando Natale Rossi Mota Narbal) - Centro Universitário Católica de Quixadá. Quixadá - CE, 2020. 18 de intervenção urbana que contribua com o processo de regeneração urbana do Bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE; demonstrar a potencialidade que uma intervenção urbana pode inferir dentro da perspectiva de valorização do espaço público. A escolha pela abordagem se dá por meio de dois fatos, o primeiro diz respeito a forma economista atual em que se tem abordado a Arquitetura e Urbanismo, algo meramente ligado a interesses financeiros, fugindo do proposito utilitário que é de servir as pessoas, do qual, a Arquitetura assim surgiu na história, não em cimado que as pessoas podem pagar e sim sobre o que elas realmente precisam ter. O segundo diz respeito aos problemas sociais presentes em nossa sociedade de uma maneira global, no qual destacam-se: desigualdade e segregação social, precariedade na infraestrutura urbana e segurança pública, rompimento dos direitos fundamentais, habitações de risco, ausência de saneamento básico e degradação do meio ambiente. Somado a isso, assim surgiu a oportunidade de juntar os dois fatores em um único tema, esse que viria a ser trabalhado em uma comunidade de baixa renda que apresenta os problemas relatados. Este trabalho analisará o bairro mediante ao seu contexto histórico, da sua origem aos dias atuais. De uma maneira geral a proposta iniciará com o entendimento das transformações ocorridas no bairro através de uma linha do tempo. Posteriormente, será realizada uma análise acerca da atual situação da área, no qual serão produzidos mapas tipológicos acerca de quadras, lotes e vias. Ao analisar o bairro será possível realizar a produção de diagnósticos, bem como, compreender o contexto interno vivido em épocas distintas durante seu processo de origem e formação, resultando assim na compreensão de quando e como a segregação urbana passou a direcionar o desenvolvimento do bairro. Os problemas e potencialidades encontrados serão subsidio para identificar as reais necessidades, e direcionar possíveis intervenção no bairro, buscando traçar ações para a resolução dos problemas, e intensificação das potencialidades, de modo a conseguir o objetivo secundário deste trabalho que é promover propostas de intervenções urbanas que contemplem as necessidade do bairro, para desenvolver-se, através da descoberta dos fatores que levaram ao surgimento e propagação da segregação social e física do bairro conjunto esperança. Compreender os aspectos sociais, econômicos e culturais dessa área, são de suma importância para poder adequar a realidade, a necessidade. Bem como, serão subsidio para a produção das tipologias que representem como se deu a segregação urbana nesta área diante do seu processo de formação. 19 Desenvolver essa pesquisa permitiria compreender como se deu o processo de segregação do bairro, em qual momento ela passou a inferir sobre o seu desenvolvimento, bem como contribuir diretamente com a sociedade, mediante as possíveis intervenções que podem ser realizadas. As possibilidades de melhoria dão margem a demonstrar como a arquitetura e urbanismo podem influenciar na ressignificação de espaços já existentes, tendo como foco principal, a melhoria da qualidade de vida e valorização dos espaços sobe a perspectiva interna e externa. Além de enfatizar a temática acerca de Intervenção Urbana, esta pesquisa relaciona-se com a temática do planejamento Urbano e Regional, desta forma, este material traria consequentemente uma reflexão da composição urbana de elementos físicos e sociais para o poder público, tendo como ênfase como se deu o processo de segregação nessa área, e como isso norteou no desenvolvimento e na qualidade de vida de seus moradores. Tal contemplação apresentaria as diversas relutâncias acerca da segregação urbana, gerando uma reflexão quanto ao processo de planejamento e ações a serem desenvolvidas nos demais bairros do município que apresentem características semelhantes, embora com suas particularidades. Além de trazer uma reflexão, no que diz respeito ao planejamento de futuros conjuntos habitacionais, o que tornaria este estudo piloto para iniciativa de um planejamento urbano e regional, sob uma nova perspectiva mediante aos demais bairros, cidades e regiões. 20 2 ESPAÇOS URBANOS A fundamentação teórica desta pesquisa, debruça-se sobre a busca por compreender como uma intervenção urbana poderá inferir sobre o processo de segregação socioespacial de um bairro. Para tal, é necessário recorremos a uma revisão bibliográfica, que nos embase, acerca dos temas a virem ser apresentados nas seguintes sessões. Serão apresentadas fontes de autores, que possibilitem a fundamentação desta pesquisa, no qual tomaremos como ideia central que o bairro, é um objeto pertencente a uma rede maior, a cidade. Sendo assim, faz necessário compreender o processo de origem, dinâmica e evolução da cidade, e posteriormente o surgimento dos bairros, a partir destas. Posterior a isso, buscaremos compreender o fenômeno de degeneração urbana e segregação socioespacial de conjuntos habitacionais, e então, será apresentado o objeto central deste estudo, o Bairro Luiz Almeida, para isso, faz-se necessário a revisão da literatura e documental. 2.1 O PROCESSO HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DAS CIDADES 2.1.1 A origem das cidades Segundo Santos (2014), as cidades são formadas por intermédio das realizações humanas, das quais, vão se estabelecendo ao longo de um processo histórico, resultando em assentamentos humanos com variadas características, formas e funções. Segundo Cerdà (1867), a urbanização se inicia com a busca e desenvolvimento de abrigos pelo homem, até da mais rudimentar forma, como por exemplo o uso de cavernas. O desenvolvimento da urbis, assim como é conhecido hoje por cidades, tem sua gênese ainda no paleolítico com as primeiras manifestações da fixação do homem, que se desenvolveu junto à evolução das técnicas construtivas, sendo possível o estabelecimento das primeiras cidades. (SANTOS, A. 2014). De acordo com Spósito (1988): “O período paleolítico é marcado pela não fixação do homem, pelo nomadismo enfim. Contudo, as suas primeiras manifestações de interesse em se relacionar com algum lugar são deste período, e podemos reconhecê-las por dois fatos. Primeiro, pela respeitosa atenção que o homem paleolítico dispensava a seus mortos, preocupando-se com que eles tivessem um lugar, 21 uma "moradia", apesar do caráter itinerante e inquieto dos vivos”. (SPÓSITO, 1988, s/p). Ainda segundo Spósito (1988), deve-se ressaltar a importância do período paleolítico, para a construção da identidade do homem primitivo, sendo esse período, destacado como a “primeira semente” para o surgimento das cidades. Destaca-se principalmente a relação do homem com a caverna, por essa ter sido o primeiro lugar onde o mesmo, praticava seus rituais e suas artes. Impulsos este que posteriormente, acabaram se tornando também, o motivo de sua fixação nas cidades. Figura 01 - As primeiras manifestações de fixação, por intermédio da caverna. Fonte: http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/08/o-surgimento-do-homem-os-primeiros.html Segundo Spósito (1988), a transição do período paleolítico para o período mesolítico, possibilitou ao homem nômade, uma nova perspectiva sobre a sobrevivência. O homem agora, passava a ser um descobridor, e em constante movimento, buscando agora a sobrevivência estática, através da sua fixação e exploração da terra. Com a exploração continua da terra, o homem passou a extrair sua sobrevivência, por intermédio da produção agrícola, através do plantio de frutas e legumes, bem como a exploração pecuária, por intermédio da criação de animais. Isso permitiu que o homem em movimento constante, inicia-se a se fixar, o que o possibilitou o desenvolvimento de assentamentos, sendo essa fixação, paço primordial para o http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/08/o-surgimento-do-homem-os-primeiros.html 22 início da vida coletiva em assentamentos, posteriormente o surgimento das cidades. (CERDÀ, 1867) “Se a "semente" fora lançada durante o paleolítico, é efetivamente no período seguinte, mesolítico, que se realiza a primeira condição necessária para o surgimento das cidades: a existência de um melhor suprimento de alimentos através da domesticação dos animais, e da prática de se reproduzirem os vegetais comestíveis por meio de mudas. Isto se deu há cerca de 15 mil anos e todo esseprocesso foi muito lento, porque somente três ou quatro mil anos mais tarde essas práticas se sistematizaram, através do plantio e da domesticação de outras plantas com sementes, e da criação de animais em rebanhos”. (SPÓSITO, 1988, s/p). A transição do período Paleolítico para o período Mesolítico, possibilitou ao homem nômade, uma nova perspectiva, sobre a sobrevivência, o homem descobridor e em movimento constate, passara procurar uma sobrevivência fixa e exploratória. (SPÓSITO, 1988, s/p). Como decorrência disso, o período Neolítico, foi marcado pelo início da vida estável, que se buscava proporcionar melhores condições de vida (quando comparados com a vida nômades), para a fecundidade (mais tempo e energia para a reprodução), a nutrição (abdicando das atividades predatórias, concentrando para acompanhar e aprimorar as técnicas de exploração e cultivo da terra), e a proteção. Neste contexto, surgem então os primeiros grupamentos habitacionais, sendo denominadas como por aldeias. Sendo a sua formação, baseada na fixação de moradias, por intermédio do interesse da sobrevivência, através da exploração da agricultura e pecuária. (Idem. 1988, n.p.) No período neolítico já havia se realizado a primeira condição para o surgimento das cidades, atribuindo a fixação do homem a terra, através da agricultura e pecuária, mas ainda faltava a concretização da segunda condição, sendo ela, uma organização social mais complexa. (Idem. 1988, n.p.) [...] a cidade é mais que o aglomerado humano que se formou historicamente num ponto do território, cuja razão de ser era o desenvolvimento da agricultura. Mas, sabemos também, que o sedentarismo e o próprio desenvolvimento da agricultura, traços da aldeia, são pré-condições indispensáveis, mas não suficientes, para as origens das cidades. (Idem. 1988, n.p.). Pode-se destacar que as aldeias, foram objetos primordiais para o desenvolvimento da primeira ideologia de organização social, entretanto, esse foi apenas o primeiro sinal, de o quanto dinâmico se tornaria o objeto que asseguraria a vida coletiva em sociedade. (Idem. 1988, n.p.). 23 Contudo, nota-se na própria literatura, dificuldades em conseguir precisar o momento exato da origem das primeiras cidades. Embora a maioria dos autores concordem em apontar que tenha sido em meados de 3500 A.C, tendo origem na Mesopotâmia (área compreendida pelos rios Tigre e Eufrates), e surgido posteriormente no vale do rio Nilo (3100 a.C), no vale do rio Indo (2500 a.C.) e no rio Amarelo (1550 A.C). (Idem. 1988, n.p.) Figura 02- Representação dos primeiros indícios de Cidades - Os primeiros registros da vida coletiva Fonte: http://liceu1e.blogspot.com/2012/02/aldeias-e-primeiras-cidades-catal-huyuk.html Compreender o processo de origem da cidade e o fenômeno da urbanização, associados a sociedade urbana industrial (esta que influenciou sobre os primeiros pensamentos acerca das cidades modernas), significa entender as várias etapas atingidas pela sociedade, por intermédio do desenvolvimento político, social, urbano e econômico ao longo da história humana no planeta. Requer, também, um breve histórico a título de compreensão dos processos e relações sociais que criaram as condições necessárias para a existência das cidades como produto das sociedades humanas. (CASTRO, 2014, p. 40). http://liceu1e.blogspot.com/2012/02/aldeias-e-primeiras-cidades-catal-huyuk.html 24 O processo de origem das cidades, sob a ótica de Castro (2014), é relativamente proporcional aos avanços do homem, sendo que, o conceito de cidade, antes mesmo de se estabelecer-se como propriamente dito, sofrera modificações implícitas, decorrentes das mais variadas formas, pelo qual o homem passará. Pode-se apontar a necessidade básica de abrigo, destacada por Cerdà (1867) na formulação do contexto do Urbanismo do século XIX, classificado como sendo uma realidade complexa, devido a sua formação orgânica e sem infraestruturas básicas e complicadas, justificada pela dificuldade da realização de intervenções por falta de recursos financeiros e pouca atenção do Poder Público, em regiões/cidade de países em desenvolvimento, como é o caso de Quixeramobim-CE. 2.1.2 A formação das cidades no Brasil, e os primeiros sinais da segregação socioespacial O processo de formação das cidades brasileiras, está diretamente associado a forma como o país foi colonizado, portanto, notaremos por intermédio da literatura, os traços das influencias dos países colonizadores, sobre a estrutura urbana das cidades do Brasil. Figura 03 - Influencias colônias sobre o Brasil 25 Fonte: https://brainly.com.br/tarefa/22037065 A cidade brasileira tem sua origem no modelo adaptado da cidade europeia portuguesa (influência dos colonizadores), que por sua vez decorre do encontro histórico da idade média com a modernidade do primeiro Estado Nacional da Europa. (VAL, 2010, p. 01) As cidades europeias, e as suas dinâmicas, pouco se havia mudado com a chegada do renascimento e o eclodir da modernidade dos Estados Nacionais, onde eles se estabeleceram. (Idem. 2010, p. 03). Nos dois primeiros séculos, os principais centros urbanos são litorâneos e nordestinos; sendo exceção meridional, Rio de Janeiro e Fortaleza, esta última, por ser ponto estratégico de ligação com o sul. (Idem. 2010, p. 04). Com a descoberta do ouro no interior da província de Minas Gerais, a exploração do interior pelas drogas do sertão, as missões jesuítas e caça aos índios pelos colonos o eixo urbano se deslocou momentaneamente, inclusive com a perda gradual do prestígio de Salvador que deixaria sua posição de capital para Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, principal ponto de escoamento da produção aurífera e importação da colônia, em 1763. Entretanto, as cidades de Salvador e Recife, emancipada de Olinda após a Guerra dos Mascates, continuariam a ter um peso populacional e para o comércio Atlântico superior ao Rio de Janeiro. (Idem. 2010, p. 04). O princípio do desenvolvimento das cidades, segundo Val (2010), se deu por intermédio da expansão da produção agrícola e pecuária, sendo a geração da rede de comercio, o objeto que desta vez, se fazia necessário para aglomerar as pessoas em determinado ponto, além das áreas de produção. Em meados do século XVIII com a concentração dos centros comercias, ouve centralização econômica, e posteriormente o desenvolvimento de outras atividades comercias. A valorização destas áreas, fez com que a povoação se estabelecesse e se tornasse atrativa, além disso, os donos de fazendas, proprietários de dotes também nas cidades, tornaram como residência principal, suas casas localizadas na zona urbana, fazendo com que as propriedades rurais passassem a ser usada, apenas para acompanhamento de produção. Os aspectos urbanos das principais cidades coloniais portuguesas se assemelham a cidade europeia, tendo como fortes características a presença de igrejas e praças centrais, concentrando os prédios, habitações mais importantes e as fortalezas nas partes altas. Ainda segundo Val (2010), ao observar os caminhos do porto Vale em Salvador, nota-se que a elite se aglomera na parte alta onde a proteção é melhor, e a parte baixa fica para o resto da população; já no Rio de Janeiro ocorre ao contrário, sendo que apenas uma pequena parte se desloca para https://brainly.com.br/tarefa/22037065 26 o interior da cidade. Já em Recife, o rio principal é o divisor de águas, deixando a margem esquerda até ao estuário parte mais “nobre” da cidade, o que repete até os dias presentes. Vale destacar que a revolução industrial, foi o movimento que culminou no avanço do processo de urbanização das cidades europeias, não atingiu o Brasil, antes do século XX. (Idem, 2010, p. 06). Os aspectos econômicos foram fatores determinantes para a demora no desenvolvimento das áreasurbanas no Brasil, característica similar á países com longo período de colonização, sendo este, refém da coroa portuguesa, que impedia principalmente a chegada de industrias e empresas externas, no qual a economia era baseada na exploração de recursos naturais, além do mais, o interesse se dava em cidades que pudessem servir como ponte para recursos para a sede do império português, as chamadas cidades litorâneas. (Idem. 2010, p. 07). Já independente, durante o segundo reinado, foi que se desencadeou o desenvolvimento da industrial no Brasil, através do surgimento de algumas industrias, o que refletiu na valorização das cidades, proporcionando assim, um lugar para a crescente produção e se autopromovendo como mercadoria, por intermédio do surgimento e valorização do capital imobiliário. Entretanto, o crescimento da indústria e do comercio, gerou uma crescente ocupação do território nas cidades, como por exemplo: São Paulo (Idem. 2010, p. 07) Esse crescimento desencadeado, acarretou na super-ocupação dos espaços da cidade, o que gerou a necessidade de se repensar o planejamento do espaço urbano, já que a tendência urbanística do Brasil, não seguiu diretamente as tendências, europeias. Do qual pode-se destacar que “[...] pela primeira vez na história do homem como colonizador, as cidades não eram mais construídas com como aglomerações de espaço público e edifícios, mas como construções individuais”. (GEHL, 2010, p. 03) O crescimento desencadeado, manteve-se, gerando alguns dos problemas urbanísticos presentes ainda no contexto socioespacial, dos quais, serão abordados ao longo deste trabalho, com ênfase na perspectiva de Jan Gehl em sua obra “Cidade para pessoas”, como também na ótica crítica de Jane Jacobs, em, “Morte e Vida nas grandes cidades”. O tema da Segregação Socioespacial urbana merece destaque no início do século XXI pelo agravamento das mazelas sociais em todos os países do mundo globalizado. Os grupos sociais atingidos com maior intensidade geralmente são as camadas mais carentes, que, quase sempre são confinadas em favelas, cortiços e bairros pobres, e sofrem com a constante escassez de água, falta de coleta de lixo, esgoto, deslizamento de encostas e transbordamentos de rios e córregos. Isso acontece, principalmente, porque o modelo de ocupação do espaço urbano reproduz o modelo excludente de desenvolvimento socioeconômico global. Nessa sociedade segregada, os 27 elementos básicos para a sobrevivência como água potável, escola, moradia, hospitais e transporte são concebidos como fontes de lucros”. (RAUBER; LEME, 2009, s/p). Segundo Rauber; Leme (2009), o espaço urbano sofre mutações, e pode ser articulado e modificado conforme a atuação e interesses das lideranças políticas que integram as administrações públicas. Expresso através da projeção dos conjuntos habitacionais, podendo estes, serem determinantes para a origem de um padrão segregador de estruturação do espaço urbano, marcado pela produção residencial, de certa forma, pela moderna produção residencial no centro ou na periferia, resultando na expulsão das classes sociais mais humildes para a periferia ou para os morros, longe dos centros urbanos, gerando assim a segregação socioespacial. 2.1.3 O surgimento das cidades no Sertão Central: O surgimento de Quixeramobim-CE Segundo os estudos de Silva (2010) sobre o processo de sesmeiros nos sertões de Mombaça, foi constatado que a formação do sertão cearense, está marcada por ciclos econômicos, sendo que estes, foram os responsáveis diretos por conduzirem e direcionar as fases e os processos de origem, dinâmica e formação das cidades do sertão central. A ocupação do território da capital do Ceará ocorreu por intermédio subvenção de terras para sesmarias, visando a atividade pastoril. De acordo com o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural e Sustentável Sertão Central (PTDRS-2010), as atividades pastoris, se distribuíram por intermédio da necessidade hídrica e de pasto, seguindo os caminhos dos principais rios: Jaguaribe, Banabuiú, Salgado, dentre outros. A formação de adensamentos populacionais e vilas, esteve diretamente ligada ao movimento de concessão de terras para a criação de fazendas de gado, como também dos centros comercias, que surgirão em função da pecuária. Ainda segundo o PTDRS-2010, os municípios se formaram a partir das fazendas que eram compostas pelas sesmarias, onde eram construídas capelas e igrejas católicas. Os municípios mais antigos são Quixadá, Quixeramobim e Senador Pompeu, cujos primeiros registros datam-se no século XVIII. Com o desmembramento dos seus distritos, passaram a se constituírem os demais municípios. O processo de origem, ocupação e formação do município de Quixeramobim, está relacionado ao processo de colonização do estado do Ceará, e em especial do Sertão Central. Assim como no surgimento das primeiras cidades, segundo Costa (2017), o primeiro marco 28 para o início da ocupação do território da cidade de Quixeramobim, foi a construção da igreja Matriz, sendo que a partir desta, assim como nas cidades europeias, como relata Spósito (1988), o núcleo urbano do município passou a desenvolver-se em suas adjacências. Figura 04 - Igreja Matriz de Quixeramobim no século XVIII Fonte: http://leiturafiel.blogspot.com/2017/05/quixeramobim-em-fotos-antigas.html A origem deste município, foi decorrente de outros acontecimentos, dos quais, se faz necessário revisarmos com atenção este processo, para podermos compreender como a cidade formou-se, e como este processo influenciou em seu desenvolvimento. “O passado de um povo marca a sua posição para sempre na história.... Essa cidade, nascida entre as matas verdejantes das margens de belo rio, numa planície, onde ao longe se recortam as cumeadas altaneiras da Serra de Santa Maria, e, bem próximo a abertura do Boqueirão, por onde as águas vazam, no seu extenso curso, em direção ao mar, essa cidade de clima tão saudável e de habitantes generosos, foi o centro de um agrupamento cristão, que honra e enaltece o patrimônio da nacionalidade”. (FURTADO, A. 1955, p. 88). Na região do qual hoje compreende o território municipal de Quixeramobim, antes do povoamento dos portugueses, segundo Sousa (1913), era habitada por tribos indígenas, das quais podemos destacar: os Tapus e os Quixarás. Vale destacar que a expansão do processo dos sesmeiros pelo sertão central, fez com que Quixeramobim, entrasse na rota de interesse para a instalação de fazendas sesmeiras, objetivando a produção agrícola. Do qual ressalta-se que este acontecimento foi primordial para http://leiturafiel.blogspot.com/2017/05/quixeramobim-em-fotos-antigas.html 29 o estabelecimento de uma rede comercial, gerando assim o primeiro grande movimento econômico deste município, além da construção das primeiras habitações para os trabalhadores da fazenda. Um nome muito mencionado na literatura do processo de origem do município de Quixeramobim é de Dias Ferreira, segundo Simão (1996), foi um dos primeiros exploradores desta terra, sendo ele, o responsável por organizar o sistema de trabalho e terras daquela época, além de ter construído a capela de Santo Antônio, esta que viria a se tornar o centro do processo de urbanização do município. O território de Quixeramobim pertencia à sesmaria adquirida por Francisco Ribeiro de Sousa e sua esposa Teresa de Jesus, posteriormente doado ao casal Gil de Miranda e Ângela de Barros, dos quais foi comprado em 1710 pelo português Antonio Dias Ferreira, que fundou a fazenda Santo Antonio do Boqueirão, em 1712. (LEMOS, M. 2013, p. 130). As mudanças no processo de salga das carnes, produziram nos núcleos urbanos mudanças ainda não vivenciadas. Sendo que, estas, possibilitaram o crescimento da população urbana, devido as constantes críticas dos administradores devido ao adensamentopopulacional ainda presente nesta área, do qual exigiam-se medidas que assegurassem a produção, mão de obra. (COSTA, 2017, p. 17) Quixeramobim foi aos poucos sendo sedimentado como entreposto dos tangerinos, tornando-se ponto de descanso, de comercialização, em fim, de negócios em geral. Tal desenvolvimento resultou da elevação de vila para cidade em 14 de Agosto de 1856, tendo como o autor do projeto o deputado provincial, Desembargador Américo Militão de Freitas Guimarães, que era filho natural da Vila. Assim estava criada a Cidade de Quixeramobim. (Idem. 2017, p. 17) Com o crescimento populacional, nas proximidades da fazenda, constituiu-se a povoação denominada “Povoação de Santo Antônio do Boqueirão” e ainda “Povoação de Santo Antônio de Quixeramobim”. (LEMOS, 2013, p. 130). Na segunda metade do século XIX, o território da cidade de Quixeramobim havia diminuído, devido ao desmembramento de Canindé, em 1846, e Maria Pereira (Mombaça), em 1851. A sede possuía, até então, apenas algumas ruas, cujas denominações estavam relacionadas a elementos da natureza e localização de igrejas. (Idem. 2013, p. 134.). Em 1856, a Vila de Campo Maior foi elevada à cidade e passou a usar oficialmente o topônimo Quixeramobim. No entanto, mesmo quando Vila, em alguns ofícios as autoridades não usavam o nome determinado por Portugal, Vila de Campo Maior, e sim Vila de Quixeramobim, o que indica resistência na aceitação deste nome imposto pela legislação portuguesa, que obrigava as vilas criadas no Brasil a receber nomes de localidades existentes em Portugal. (LEMOS, M. 2013, p. 135 30 Figura 05 - Quixeramobim Atual Fonte: https://ipgc.com.br/post_publicacao/desenvolvendo-cidades-inteligentes-quixeramobim-ce-sera-a-primeira- prefeitura-do-brasil-abastecida-por-energia-solar/ 2.2 BAIRROS HABITACIONAIS NO CONTEXTO DE UM PAÍS EM DESENVOLVIMENTO 2.2.1 A teorização dos bairros Jacobs (2014), aborda em sua obra “morte e vida das grandes cidades”, assuntos sobre o planejamento urbano das cidades, do qual, destacamos diante dessa perspectiva, a forma em que se busca mecanizar a expansão urbana e a tentativa de organizar as cidades, da mesma forma padronizada que uma indústria. O pensamento do urbanismo moderno, buscava pela setorização da cidade em áreas para determinadas atividades predominantes em seu uso do solo, classificadas em: residencial, comercial, industrial, entre outras. Buscando a idealização por uma setorização que contribuísse para a organização da cidade, refletindo na forma tipológica de bairro. Jacobs (2014), ainda argumenta de maneira crítica a setorização urbana com a lógica de que esta, acaba se transformando em um formador de problemas e segregação socioespacial, e https://ipgc.com.br/post_publicacao/desenvolvendo-cidades-inteligentes-quixeramobim-ce-sera-a-primeira-prefeitura-do-brasil-abastecida-por-energia-solar/ https://ipgc.com.br/post_publicacao/desenvolvendo-cidades-inteligentes-quixeramobim-ce-sera-a-primeira-prefeitura-do-brasil-abastecida-por-energia-solar/ 31 como estes, influenciam diretamente sobre o funcionamento das cidades na prática. Estes problemas urbanos, como acessibilidades, transporte público e instalação de infraestruturas, ainda são de destaque na questão urbana brasileira socioespacial. Segundo Teixeira e Machado, (1986, p. 66) um bairro se define ou se individualiza por três elementos: paisagem urbana, conteúdo social e função. Sendo a paisagem urbana representada através tipo, estilo e idade das construções, bem como no desenho e topografia de suas quadras e ruas, de uma maneira geral, são as características geográficas da área, naturais ou não. O conteúdo social, é o representativo do modo e padrão de vida dos seus moradores, expresso através das crenças, culturas e costumes. A função é referente ao papel que o bairro desempenha dentro da malha urbana, podendo essa ser: residencial, comercial ou administrativo. Uma cidade é um conjunto de bairros, cada um com sua fisionomia própria, resultante de sua função, de seus habitantes e de sua idade. Todos esses bairros, mais ou menos integrados entre si, formam a cidade. Um bairro urbano tem uma feição que só a ele pertencente, uma vida particular, uma alma. (TEXEIRA; MACHADO, 1986, p.67). Ainda segundo Teixeira e Machado (1986) o reconhecimento de um bairro e o seus limites, está diretamente ligado ao sentimento de percepção da população, sendo que esta, se modifica ao longo do tempo. De acordo com a sua evolução, os bairros vão se expandindo em espaço e população, tornando-se mais complexos, tendenciados a uma subdivisão através da origem de sub-unidades ou sub-bairros. Fato é, que o ao longo deste processo, a percepção dos moradores passa por estágio de indefinição, no que diz respeito ao novo bairro e seus limites, enquanto isso, outros bairros vão surgindo e se firmando dentro de seus limites em pouco tempo. Devido a isso, entende-se porque os órgãos encarregados de elaborarem plantas de cidade e delimitação de bairros, utilizam na produção de seus trabalhos, fontes de informações relacionadas ao reconhecimento da população. (TEIXARA; MACHADO, 1986, p. 67). Segundo o Estatuto da Cidade (2001), no que diz respeito a execução das políticas urbanas, institui na produção do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, a gestão democrática, onde este, deve ser participativo, sendo a participação da popular, fundamental no seu processo de formulação. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, de Quixeramobim (2000), não apresenta uma definição para bairro, entretanto, trata as diferentes áreas povoadas por unidades de vizinhança, definidas como: 32 Unidade física de planejamento para subdividir a zona urbana em núcleos de até 12.000 habitantes, com um raio de caminhabilidade médio de 600,00 m (seiscentos metros), onde o foco central de cada uma delas também denominado Centro Focal de Vizinhança, agrega funções cívicas, comerciais, sociais, de lazer e estação de transporte público, conectada as demais por um sistema de transporte coletivo, promovendo a descentralização do trabalho e reduzindo os custos de transportes para seus habitantes. (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, de Quixeramobim. 2000, p, 41). O PDDU de Quixeramobim (2000), refere-se ao termo bairro, no seu plano de estruturação urbana, em seu parágrafo três, inciso dois, no que diz respeito as diretrizes básicas, quanto a habitação e o desenvolvimento das comunidades, no qual destaca-se: “estabelecer que o centro do bairro será o ponto focal da convergência da comunidade e o elemento de conexão com o circuito de transporte e acessibilidade”. (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, de Quixeramobim. 2000, p, 17). 2.2.2 Degeneração Urbana de Conjuntos Habitacionais, e o fenômeno de Segregação A degeneração urbana de conjuntos habitacionais, segundo Jacobs (2014), é resultado da falta de planejamento no processo de desenvolvimento destes, uma vez que, ao analisar os diversos tipos já construídos observa-se que independente do porte social deste, os conjuntos habitacionais, não conseguem atender as perspectivas do ideário urbanístico. Denotados pela crítica ao comparar os conjuntos habitacionais das diversificadas rendas: baixa, média e alta. Jacobs (2014), ainda desta que a ausência de planejamento nos conjuntos habitacionais, recai diretamente no resultado de suas implantações, como por exemplo: os de baixa renda se tornaram núcleos de delinquência, vandalismo e desesperança social generalizada, piores do que os cortiços; os conjuntos habitacionais de renda média, são reflexos de uma representação padrão e monótona, o que de certa forma os fecham a qualquer tipo de exuberância ou vivacidade da vida urbana, de certa forma, se auto segrega; os conjuntos habitacionais de luxo representam uma busca pela exclusividade,mas são barrados pela falta de conteúdo, dos quais são representados pela subjetividade forçada. A necessidade de construir habitações em grandes quantidades está diretamente relacionada com o processo de urbanização das cidades e consequente crescimento populacional. Em muitos países os processos de urbanização e industrialização se misturam. A produção de conjuntos habitacionais foi uma das soluções fornecidas pelo poder público, como também, por empreendedores privados, tanto no Brasil como na Europa para suprir a demanda habitacional. (BARON, 2011, p. 103.) Segundo Baron (2011), proporcionar Habitação para a população urbana não significa somente possibilitar o acesso a unidades habitacionais, entendidas simplesmente como abrigos. 33 O conceito de conjuntos habitacionais representados por “unidade + infraestrutura urbana + serviços urbanos” sempre estiveram presentes nas discussões sobre a produção habitacional, embora, nem sempre foram efetivadas. A Habitação constitui um conjunto de elementos além da unidade propriamente dita, supondo a existência de infraestrutura urbana (redes de água e esgoto, iluminação pública, drenagem pluvial, pavimentação, redes de informação, etc.) e serviços urbanos (transporte, saúde, educação, coleta de lixo, lazer, cultura, etc.). (BARON, 2011, p. 106). As críticas sobre a ausência de planejamento urbano, antes das medidas de urbanização são reforçadas por Carrilho (2014), no qual, o mesmo argumenta que o processo de urbanização, a cada ano que se passa ganha novas perspectivas, através da ação popular, o que acaba prendendo e direcionando esse processo. Segundo Carrilho (2014), por volta do século passado, apenas 18% da população vivia em cidades, entretanto 50 anos depois já eram 40%, com prognóstico que por volta de 2030 esse valor ultrapasse 60%. Esses números representam o crescimento em constância do processo de urbanização das cidades. Para Jacobs (2014), a urbanização desencadeada provocou um colapso no planejamento urbano já limitado, sendo que esse, jamais conseguira voltar a acompanhar ou atender a sua demanda. Os conjuntos habitacionais, são representados por sua particularidade, embora siga a mesma perspectiva dinâmica da cidade, no que diz respeito a sua constante mudança. Entretanto, a sua dinâmica segundo Jacobs (2014) está diretamente ligada as pessoas que o habitam. Sendo exemplificado por questões e sensações particulares. Então, como os Conjuntos Habitacionais, sofrem degeneração urbana, e se tornam vítimas da segregação socioespacial? O comprometimento ambiental e urbano dos grandes conjuntos habitacionais periféricos se dá a partir de três situações distintas que se somam e se sobrepõem. Em primeiro lugar pela sua condição periférica em relação ao espaço urbano tomado como um todo. Dessa situação decorrem as dificuldades com a mobilidade urbana em função do distanciamento das centralidades urbanas onde se concentram o comércio, os serviços públicos e os equipamentos comunitários. Além disso, a constituição dos espaços urbanos das grandes metrópoles brasileiras se dá de forma que, na medida em que se vai afastando dos centros (do centro principal e das centralidades locais) em direção às franjas, gradativamente vão ficando cada vez mais precárias as condições da infraestrutura urbana, entendida como o conjunto de sistema viário, redes de água e esgoto, sistemas de drenagem urbana e demais redes urbanas. Desta forma, os conjuntos habitacionais que se situam no limite do espaço urbano convivem, muitas vezes, com o grau máximo de precariedade de infraestrutura urbana que existe. (PRADO, 2012, p.02) Segundo Prado (2012), a escolha da área para a implantação dos conjuntos habitacionais, muitas vezes são afastados dos núcleos urbanos da cidade, e quase sempre, 34 próximo a áreas não urbanizadas, o que de formas distintas contribui para o seu comprometimento ambiental. Dos quais esse espaço não-urbano, pode ser cortado por alguma fluente de rio, ter área verde, ter algum riacho que receba esgotos, e este não tenha tratamento adequado. Conforme Jacobs (2014), a reflexão acerca sobre os conjuntos habitacionais, são pautadas sobe aquilo que eles podem oferecer aos moradores, uma vez que a preocupação gira em torno único e exclusivamente das habitações sócias, entretanto, a garantia de uma moradia boa, não é a garantia de bom comportamento. A ausência de mobiliários urbanos nos conjuntos habitacionais, principalmente nos de baixa renda, são pilares para fatores como violência e delinquência, embora, não sejam fatores únicos. A condição de precariedade urbana e ambiental de muitos desses conjuntos habitacionais é clara e agrava-se por estarem somadas circunstâncias originadas por sua condição periférica em relação à cidade, por sua proximidade com um território muitas vezes ambientalmente degradado e por sua própria condição de conjunto habitacional. Mas essa condição de precariedade, como descrita até aqui, diz respeito mais aos lugares do que às populações. Pode-se dizer que alguns conjuntos habitacionais são precários, mas não o são as pessoas que ali moram. A categoria analítica de “precariedade urbana e ambiental” é bastante utilizada na área de arquitetura e urbanismo, como instrumento para balizar ações de intervenção no espaço, mas não consegue aprofundar o olhar sobre as populações que vivem nesses lugares “precários”. Para esse campo, o olhar sobre o ambiente construído é o foco principal de interesse e, assim, um estudo mais aprofundado sobre os grupos sociais que ali constituem seu espaço de reprodução é deixado de lado”. (PRADO, 2012, p.03). Sobe a perspectiva de Gehl (2010), cabe a cidade intervir no sentido de evitar esse cenário de degeneração urbana dos conjuntos habitacionais, uma vez que a cidade viva, muito diferentemente do que se idealizam os urbanistas modernos, é um objeto dinâmico, entretanto, não se delimita apenas a uma causa. O uso do espaço público é o seu cartão de entrada, para um conceito composto daquilo em que a mesma se propõe. Em uma cidade viva, necessita de uma grande densidade construída, além de um grande número de moradias e posteriormente. De acordo com Gehl (2010), podemos compreender a cidade viva como um organismo dinâmico, a mesma necessita está constante adequação e evolução para atender a sua população. Com o crescimento populacional, outros fatores, também elevam-se sendo por exemplo, as necessidades por: serviços de saúde, empregos, moradias, opções de lazer, dentre outros. O que a torna viva, é fato da sua constante busca, por evoluir para atender a sua população, tendo em vista, que o crescimento dessa, é objetivo constante. 35 A segregação socioespacial está situada como questão de destaque e ganha relevância enquanto problema à medida que o poder público implanta políticas que produzem e reproduzem a pobreza, a desigualdade e a exclusão social. (RAUBER, 2009, s/p). As desigualdades sociais se materializam na paisagem urbana. Quanto maiores as disparidades entre os diferentes grupos sociais, maiores as desigualdades de moradia, de acesso aos serviços públicos e de qualidade de vida, e portanto, maior é a segregação espacial. No entanto, mesmo num bairro de população pobre, essa qualidade de vida pode ser melhorada, caso os serviços públicos de educação, saúde, transporte coletivo, entre outros, passem a funcionar de forma adequada. Essas mudanças positivas têm maiores chances de se concretizarem quando a comunidade se organiza para melhorar o seu cotidiano e reivindicar os seus direitos, ou ainda quando o poder público oferece uma educação de qualidade de cunho crítico e libertador. Quando isso não acontece, as desigualdades e a exclusão socioespacial tendem a se manter, e muitas vezes a aumentar. (Idem. 2009, s/p). A segregação socioespacial está situadacomo questão de destaque e ganha relevância enquanto problema à medida que o poder público implanta políticas que produzem e reproduzem a pobreza, a desigualdade e a exclusão social. (RAUBER, 2009, s/p). Para Rauber (2009), as desigualdades sociais se materializam na paisagem urbana, sendo resultantes da discrepância econômica entre as mais variadas classe sociais da cidade, das quais são relativamente proporcionais as desigualdades das moradias, da infraestrutura, bem como o bem-estar social. Falamos aqui, de um fenômeno resultante de fatores socioeconômicos, dos quais, a sua existência infere diretamente sobre a qualidade de vida das pessoas, bem como a valorização do espaço público. Diante da crítica de Jacobs (2011), compreendemos como fundamental para o rompimento do processo de segregação socioespacial, a recuperação da arquitetura do cotidiano. A busca pelo ideal de um conjunto habitacional, seguiria os conceitos idealizados por Jacobs (2011), sendo: o exercício de função do bairro no complexo organismo que é a cidade, a segurança nas suas ruas, a sua integração de funções na cidade e os usos das áreas públicas (parques e praças). 2.3 O BAIRRO LUIZ ALMEIDA, EM QUIXERAMOBIM-CE 2.3.1 Origem O processo de origem do Bairro Luiz Almeida em Quixeramobim-CE, popularmente conhecido como Conjunto Esperança, se deu por intermédio da benfeitoria de um empresário 36 da cidade de Quixeramobim, o Sr. Luiz Prata Girão. Este, sensibilizado com os frequentes pedidos para a doação de terrenos para a construção de moradia, por parte de habitantes de Quixeramobim, que não detinham condições financeiras para adquirirem lotes. (informação verbal) 2 De acordo com os moradores mais antigos, por volta do ano de 1988, a área hoje ocupada pelo bairro, fazia parte da denominada Fazenda Betânia, e se desvinculou desta, por intermédio da doação, no qual Luiz Prata Girão, nomeou o Sr. Argemiro da Silva Coutinho (conhecido popularmente como Coutinho - topografo informal) e sua esposa, Maria Ildjan Bezerra de Sousa (conhecida popularmente como Índia), como encarregados por lotear e distribuir a área. Ambos já haviam inclusive sidos responsáveis pelo loteamento que deu origem a outros bairros, como por exemplo a Cohab, loteada por meados de 1982, outra área proveniente de doação do empresário. No início de 1989, foram iniciados os trabalhos que deram origem ao que se constitui hoje ao bairro Luiz Almeida, nisso se inseria por parte dos encarregados (Coutinho e Índia), o dimensionamento das quadras, bem como das ruas, e seus traçados. Inicialmente foram traçadas as oito primeiras ruas do bairro no sentindo nascente-poente, sendo as ruas em sentido paralelos, oriundas a partir do distanciamento entre as quadras. A conquista do tão sonhado local para construção de moradia, se dava por intermédio de pedido direto ao Sr. Luiz Prata Girão, ou por solicitação indireta aos encarregados Coutinho e Índia, estes que passaram a ser um dos fundadores do bairro, sendo responsáveis principalmente pela subdivisão dos lotes e quadras. A única restrição a aquisição destes, era a construção imediata dentro do lote, sendo que, se não fosse possível a construção da residência completa, fosse construído pelo menos um ambiente ou parte desta. Vale destacar, que quando se iniciou o traçado das ruas e quadras, já constava na área, a primeira edificação da área que hoje compreende o bairro, como também a primeira moradora, sendo a proprietária a senhora Francisca Peronca (popularmente, chica das broas), residência essa, ocupada até os dias atuais, além da fábrica e galpões do grupo Betânia Laticínios. Os primeiros três moradores do bairro, foram respectivamente a Sra. Francisca Peronca, o Sr. José Liberato e Sra. Antônia Raimunda. Sendo que, Coutinho e Índia, após realizarem o parcelamento do solo, acabaram ficando no bairro, e sendo um dos principais gestores e 2 Informação Fornecida pela senhora Maria Ildjan, líder comunitária durante o processo de formação do bairro Luiz Almeida; foi responsável pelo auxilio na realização do loteamento, bem como uma das primeiras moradoras. Quixeramobim-CE, 08/03/2020. 37 responsáveis pelo surgimento, reconhecimento e desenvolvimento do bairro. (informação verbal) 3 Data-se segundo fontes populares, que o bairro foi inaugurado informalmente no dia 31 de agosto de 1990, data em que a primeira etapa de loteamento foi concluída e iniciada a ocupação por intermédio das pessoas. Entretanto oficialmente o bairro passou a compor de maneira formal o mapa do município no ano de 1991, segundo a Lei de nº 1.502, de 20 de agosto de 1991. Além do reconhecimento formal das suas primeiras três ruas: José Adolfo Nogueira, João Crisostomo de Assis (atualmente, Rua Francisco de Assis Crisostomo) e Liberato José de Freitas (Paço Municipal de Quixeramobim, 1991, Lei de nº 1.502, de 20 de agosto de 1991). Vale ressaltar que segundo o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural e Sustentável Sertão Central (PTDRS-2010), que 84,6% dos municípios em 1991, apresentam uma proporção de pobres acima de 80%, dentre eles: Ibaretama, Ibicuitinga, Choró, Quixeramobim, Banabuiú, Mombaça, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Deputado Irapuan Pinheiro, Milhã e Solonópole. No ato de doação das áreas pertencente a sua fazenda, , a intenção por parte de Luiz Girão, era impulsionar o processo de desenvolvimento urbano do município de Quixeramobim- CE, vale destacar que nessa época, sua indústria de laticínios, já funcionava e tinha sede na área que corresponde o bairro. Entretanto, com os problemas econômicos já enfrentados naquela época, muitas pessoas não detinham poder financeiro para a construção de suas casas. O rápido crescimento desta área se deu por intermédio de um projeto de cem casas, conseguidos através da então primeira dama Sra. Aldenora Machado, esse projeto era destinado para a construção de um conjunto habitacional, sendo essa verba conseguida, por intermédio de uma pareceria de Aldenora Machado com a então Ministra de Ação Social do Governo Collor, a Sra. Margarida Procópio. Inicialmente, a proposta seria para a construção de cem casas, entretanto, além disso, o programa conseguiu auxiliar a conclusão de casa que foram iniciadas, mas não haviam sido concluídas, e mesmo assim eram habitadas. Dentre as quais haviam ausência de portas, janelas, revestimentos de piso, coberta, entre outros. Cada morador contemplado por este programa, recebia além do auxílio para a construção da casa, e um kit para captação e tratamento de águas pluviais. 3 Informação Fornecida pela senhora Antônia Raimunda Gustavo da Silva, a terceira moradora do bairro Luiz Almeida; Quixeramobim, 08/03/2020. 38 O programa das cem casas, colaborou com o aumento das habitações no bairro, consequentemente aumento o número de moradores, bem como com o desenvolvimento do bairro, no que diz respeito a conquista de marcos significantes como por exemplo a instalação de rede, elétrica e hidráulica, além da contribuição no seu processo de avanço ao que tange a ocupação, infraestrutura, mobilidade e equipamentos urbanos. Além deste, outro programa habitacional também foi de grande relevância para a ocupação do bairro, sendo denominado por PROUP, que concedeu a formação de um subconjunto, o mutirão, denominado por Luiz Prata Girão, entretanto que está dentro da área do bairro Luiz Almeida, sendo este outro ponto importante para o desenvolvimento do bairro. De uma maneira geral o processo de origem do bairro Luiz Almeida, em Quixeramobim-CE, se deu de forma compassada, sendo percebido de uma maneira geral uma divergência de contextos, por um lado temos a perspectiva de humanidade acerca da doação de terras para que pessoas necessitadas pudessem construir suas habitações, como também, essa ação foi em prol do desenvolvimento urbano do município, por parte
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