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Habitação social

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Sumário 
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................. 5 
2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO ............................................. 8 
3. A HISTÓRIA DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL ........... 9 
4. PLANO DIRETOR ....................................................................................... 14 
5. SEGREGAÇÃO SOCIOESPAIAL ................................................................ 16 
6. HISTÓRIA DA CIDADE DE SANTO ANASTÁCIO-SP .................................. 18 
6.1 O município e a região .............................................................................. 18 
6.2 Estruturação intra-urbana de Santo Anastácio .......................................... 20 
6.3 Santo Anastácio e a habitação social ....................................................... 22 
7. Análise de antecedentes. ............................................................................. 25 
7.1 STREETSCAPE PEDRA BRANCA - UM NOVO CONCEITO DE 
URBANIDADE .................................................................................................................... 25 
7.2 HABITAÇÃO URBANA HÍDRIDA .............................................................. 25 
7.3 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL SUSTETÁVEL ............................ 25 
7.4 PRAÇA COLINAS DE ANHANGUERA ..................................................... 25 
9. ADOÇÃO DO PARTIDO ARQUITETÔNICO E DAS ATITUDES PROJETUAIS
 26 
8.1 Condicionantes conceituais ...................................................................... 26 
8.1.1 Conceito do tema................................................................................... 26 
8.1.1.1 Urbanismo Sustentável ....................................................................... 27 
8.1.1.2 A Imagem da Cidade .......................................................................... 28 
8.1.1.3 Cidade Para Pessoas ......................................................................... 28 
8.1.1.4 definindo o conceito do tema .............................................................. 29 
8.1.2 Caracterização da clientela e das funções ............................................. 29 
8.1.2.1 Caracterização da clientela ................................................................. 29 
8.1.2.1.1 Clientela MCMV ............................................................................... 29 
8.1.2.1.2 Clientela – Santo Anastácio ............................................................. 29 
8.1.2.2 Caracterização das funções ............................................................... 30 
8.1.2.3 A carta do Novo Urbanismo ................................................................ 30 
8.1.3 Programa de necessidades ................................................................... 30 
8.1.4 Relações do programa .......................................................................... 31 
8.1.5 Pré-dimensionamento do projeto ........................................................... 33 
8.2 Condicionantes físicos .............................................................................. 34 
8.2.1 A escolha do terreno ............................................................................. 34 
8.2.1.1 O terreno na cidade ............................................................................ 37 
8.2.1.2 O terreno dentro da região .................................................................. 38 
8.2.1.3 O terreno no seu próprio contexto....................................................... 38 
8.2.2 A Planta do Terreno .............................................................................. 39 
8.2.3 Forma e dimensão ................................................................................. 40 
8.2.4 Conformação do relevo ......................................................................... 41 
8.2.5 Orientação quanto ao sol ....................................................................... 42 
8.2.6 Orientação quanto aos ventos ............................................................... 43 
8.2.7 Acessos................................................................................................. 44 
8.2.8 Legislação Pertinente ............................................................................ 44 
8.3 A adoção do partido ................................................................................. 44 
8.3.1 Decisões de projeto ............................................................................... 45 
8.3.2 Ideias dominantes ................................................................................. 45 
8.3.3 Ideias De planos .................................................................................... 46 
8.3.4 A definição do partido e as atitudes projetuais ....................................... 46 
8.3.4.1 O processo da criação ........................................................................ 46 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização 
das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. .................................... 6 
Figura 2- Pirâmides etárias comparativas. ........................................................... 6 
Figura 3 - Localização do município de Santo Anastácio. ................................... 18 
Figura 4 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização 
das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. .................................. 20 
Figura 5 - Evolução da malha urbana de Santo Anastácio - SP.......................... 21 
Figura 6 - Vista aérea com ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua 
Expedicionário José de Souza Santo Anastácio - SP.............................................................. 23 
Figura 7 - Ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua Expedicionário José de 
Souza, Santo Anastácio - SP. ................................................................................................. 23 
Figura 8 - Mapeamento dos conjuntos habitacionais e do centro de Santo 
Anastácio - SP. ....................................................................................................................... 24 
Figura 9 - Localização da igreja matriz (vermelho) e da estação ferroviária 
(vermelho) no centro tradicional do município de Santo Anastácio - SP. ................................. 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 
O recente processo de urbanização brasileiro ocasionou uma série de dificuldades 
no que diz respeito à gestão e ao planejamento urbanos, bem como à organização territorial 
municipal (HONDA, 2011). Conhecer a estrutura intra-urbana se faz necessário para que 
diretrizes de planejamento e gestão urbanos sejam desenvolvidas sobre uma base concreta, 
observando as particularidades de cada cidade. 
Segundo Santos (2013), as cidades de todo o Brasil possuem problemas 
semelhantes relacionados ao modelo de estruturação da malha urbana que, entre outros 
problemas, desencadeiam acentuada segregação socioespacial. Essa estrutura é influenciada, 
não exclusivamente, mas em grande parte, pela camada de alta renda e pelo mercado 
imobiliário, que investem nas áreas onde se instalam, aumentando o valor do solo local dotando-
a de boa infraestrutura, acessibilidade, mobilidade, que acabam por enfatizar as desigualdades 
em relação às áreas ocupadas pelas classes de baixa renda (VILLAÇA, 1998). 
Outro agente que têm interferido significativamente ao longo das últimas décadas 
na estrutura urbana, colaborando com a acentuação da segregação, é o poder público 
responsável pela implementação de políticas de habitação social (ALBANO, 2013). Pode-se 
citar como exemplos os conjuntos habitacionais implantados por meio de financiamento do 
Banco Nacional da Habitação (BNH), durante o GovernoMilitar, tais conjuntos, em sua maioria 
se localizavam nas franjas urbanas, onde o preço da terra era menor (BONATES, 2008). 
Na década de 1990, segundo Maricato (1998, p.5), havia “uma proposta sensível 
e atualizada com as análises técnicas e críticas” sobre políticas habitacionais, com preocupação 
com questões fundiárias e urbanísticas, visando à ocupação de vazios urbanos. No governo 
seguinte, ocorreu retrocesso a esse aspecto, sendo retomada a produção habitacional na franja 
urbana (HONDA, 2011). 
Em 2009, foi lançado o Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, com o 
objetivo de subsidiar produção e aquisição de imóvel urbano para famílias com renda de até 
seis (6) salários mínimos mensais, buscando a construção de 1 milhão de moradias. 
Segundo critérios, o PMCMV financiaria imóveis residenciais nos municípios em 
que houvesse doação de terrenos e/ou glebas pelo poder público local ou estadual. Dessa 
forma, muitas das áreas ocupadas pelos conjuntos habitacionais têm proporcionado a expansão 
territorial, inclusive com a implantação além malha urbana (HONDA, 2011). 
Com base nesse contexto, o presente trabalho de conclusão de curso visa a 
analisar o crescimento urbano da cidade de Santo Anastácio, no interior do estado de São Paulo, 
por meio de levantamento histórico e análise da estruturação intra-urbana. 
Santo Anastácio é uma cidade de pequeno porte, localizada na região oeste do 
estado de São Paulo, a aproximadamente 590 Km da capital do estado. Possui em torno de 20 
mil habitantes (IBGE, 2010), com população urbana um pouco acima de 19 mil habitantes (IBGE, 
2010). 
Segundo Avila Jr (1995), o surgimento dessa cidade está ligado à expansão da 
estrada de ferro Sorocabana, cujo traçado inicial ocorreu segundo trabalho do engenheiro 
Silvano Wendel e do agrimensor Francisco Maldonado, em área em frente à estação ferroviária 
em execução, no ano de 1917, onde se deu as duas primeiras edificações da cidade (Figura 1). 
No ano de 1921, o povoado passou a ser categorizado legalmente como vila, e a 
instalação legal do município ocorreu em 1926, tendo sido desmembrado do município de 
Presidente Prudente. A malha urbana de Santo Anastácio está situada a 436m de altitude, sendo 
que o município faz divisa atualmente com Piquerobi, Marabá Paulista, Mirante do 
Paranapanema, Presidente Bernardes e Ribeirão dos Índios (IBGE, 2016). 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização 
das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. 
 
 
 
Fonte: autores, 2016 
Segundo dados do IBGE(2016), a população do município de Santo Anastácio tem 
decrescido nas últimas décadas. Importante observar também que a pirâmide etária municipal 
é bastante diferente das pirâmides referentes ao Estado de São Paulo e brasileira (Figura 2). A 
população em idade economicamente ativa tem saído da cidade, que deveria resultar aspectos 
diferenciados na expansão territorial urbana. 
Importante destacar, no entanto, que não há dados organizados e sistematizados 
sobre a estrutura urbana da referida cidade, portanto, verifica-se a relevância da pesquisa 
proposta. As informações adquiridas nesta pesquisa científica auxiliarão futuramente ações de 
controle urbanístico e de políticas públicas locais. 
 
 
 
 
 
Figura 2- Pirâmides etárias comparativas. 
 
Fonte: IBGE, 2016 
A economia de Santo Anastácio está apoiada principalmente na pecuária, de corte 
e leiteira, e na agricultura de cana-de-açúcar, milho, soja e algodão. Outro aspecto bastante 
relevante localmente é a comunidade de artesãos voltados ao bordado (CEPAM, 2016). 
Mediante o contexto abordado, apresentam-se os objetivos do trabalho. 
O objetivo geral do presente trabalho é a execução de um projeto urbano, com a 
criação de um loteamento de interesse social. 
Busca-se compreender o processo de expansão territorial da cidade de Santo 
Anastácio, no interior do Estado de São Paulo, por meio da implantação de empreendimentos – 
loteamentos e conjuntos habitacionais - públicos e particulares na malha urbana dessa cidade, 
no período de 1989 e 2016. 
Especificamente busca-se 
 Elaborar levantamentos históricos sobre a cidade, sua formação, ocupação, 
desenvolvimento econômico e populacional; 
 Executar mapeamentos da evolução urbana por períodos, demonstrando se houve 
crescimento populacional e da malha urbana, para poder relacioná-los a questões de 
crescimento e desenvolvimento econômico local; 
 Identificar e mapear os conjuntos habitacionais implantados na malha urbana, 
correlacionando-os à estrutura urbana existente em cada período; 
 Execução de um projeto urbano, com a criação de um loteamento de interesse social que 
visa trazer um desenvolvimento autêntico da cidade do ponto de vista social, econômico 
e ambiental. 
 
 
 
 
A metodologia empregada será subdividia em três etapas. 
A primeira etapa metodológica está baseada em aprofundamento teórico e 
bibliográficos, por meio de levantamentos históricos sobre a formação e crescimento da cidade, 
aspectos econômicos e sociais. 
Posteriormente serão realizados levantamentos documentais para organizar 
dados disponíveis em jornais, cartório de registro de imóveis e Prefeitura Municipal, visando a 
formar uma base de informações que subsidiem o mapeamento da evolução da malha urbana. 
Outro viés de pesquisa documental será realizado para levantamento dos 
conjuntos de habitação social já implantados e em processo de implantação (se houver) na 
referida cidade, possibilitando seu mapeamento. 
Também será realizada pesquisa de campo para identificação de tipologias 
construtivas e existência/carência de infraestrutura urbana, apoiando compreensão sobre 
localização de bairros de diferentes classes sociais. 
Será realizado também estudos de antecedentes, para conseguir obter um 
embasamento de projetos de loteamento de reconhecimento nacional e internacional. 
Logo após isso será realizado estudos do terreno onde será realizado o projeto, 
analisando toda sua estrutura física, análises do entorno e dos impactos ambientais. 
Após os levantamentos de todas essas condicionantes começará a ser realizado 
estudos de diretrizes projetuais como estudos de conceito, partido arquitetônico que irá nortear 
todo processo projetual. 
Por fim, o desenvolvimento do ante-projeto de loteamento de interesse social. 
 
 
 
 
 
2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO 
O processo de produção de cidades e de crescimento urbano foi significativamente 
marcante a partir da década de 1960, no Brasil. Verifica-se, além da expansão de grandes 
centros urbanos, o desenvolvimento de cidades médias e pequenas, mas seguindo o padrão de 
especulação intra-urbana (SANTOS, 2013). 
Segundo Villaça (1998), há segregação de várias naturezas, principalmente de 
classes e de etnias ou nacionalidades; mas a que domina o território urbano brasileiro é a de 
classes sociais. Este tipo específico de segregação é definida pelo autor como: “um processo 
segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais 
em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros” (VILLAÇA, 1998, p.142). 
Nesse contexto, verificam-se diversos atores na produção do espaço urbano, que 
podem reforçar (ou não) os processos de segregação e de especulação; ou seja, a ação dos 
atores refletem os interessem dominantes, permitindo “transgressões de acordo com os 
interesses” (CORRÊA, 1999, p.12). 
Um desses agentes é o Estado, que atua na organização espacial da cidade, por 
meio da implantação de serviços públicos e da elaboração de leis e normas vinculadas ao solo 
urbano, e que reflete a dinâmica da sociedade e os interesses dominantes (HONDA, 2011). 
Importante destacar que é na instância municipal onde esses interesses se tornam 
mais evidentes. Corrêa (1999, p.26) assinala que a atuação do Estado busca criar “condições 
que viabilizem o processode acumulação e a reprodução das classes sociais e suas frações”, 
assim o Estado cria mecanismos que podem levar à segregação espacial. 
Essa ação do Estado é informada por meio de políticas públicas, desenvolvidas 
em resposta a problemas urbanos, desde a previsão de bens coletivos e serviços públicos até 
o controle da expansão urbana, e uso e ocupação do solo; sendo identificada como o setor de 
ordenamento legal do território das cidades através de conjunto de ações descritas, com a 
observação das demandas e a tentativa de harmonização (HONDA, 2011). 
Nesse cenário, verifica-se a importância de levantamentos, mapeamentos e 
identificação de manchas de ocupação populacional na cidade de Santo Anastácio, no interior 
do estado de São Paulo, possibilitando a compreensão dos processos intra-urbanos de 
ocupação territorial. 
Lacaze (1995) afirma que o papel das políticas públicas locais está baseado na 
busca de organização da cidade em função de suprir as necessidades econômicas e sociais, 
passando dos discursos aos atos. As diretrizes definidas nessas políticas (discursos) direcionam 
os processos de planejamento e gestão urbanos. 
O planejamento, entendido como tentativa de “prever a evolução de um fenômeno 
ou [...] tentar simular os desdobramentos de um processo” (SOUZA, 2002, p.46), pode ser 
ferramenta de auxílio na democratização de acesso ao solo urbano e de benefícios da 
urbanização, que afetam diretamente a qualidade de vida da população, ou como afirma Souza 
(2002, p.61): 
[...] um autêntico processo de desenvolvimento sócio-espacial quando se constata 
uma melhoria da qualidade de vida e um aumento da justiça social. A mudança social 
positiva, no caso, precisa contemplar não apenas as relações sociais mas, igualmente, 
a espacialidade. 
Por meio da apreensão da realidade urbana de Santo Anastácio, assim como das 
ações públicas de planejamento territorial, será possível compreender o processo de 
urbanização e de mudanças morfológicas urbanas que têm ocorrido nessa cidade. Lacaze 
(1995, p.18) informa que “As investigações de morfologia urbana, associando o olhar do 
arquiteto a trabalhos sobre os arquivos escritos e os planos antigos, tornam possíveis análises 
muito precisas”. 
 
 
 
 
3. A HISTÓRIA DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL 
 
O Brasil, como um todo, durante séculos foi um país essencialmente agrícola, as cidades no 
período colonial não possuíam uma significativa vinculação umas com as outras. Por tal motivo, 
Santos (1993) as compara a um arquipélago, pois eram isoladas, diferente de hoje. Maricato 
(1997) também afirma que, nesse período, não havia redes de cidades, apenas alguns núcleos 
que eram ligados à administração colonial. A estratificação social se dava por proprietários 
rurais, alguns profissionais e comerciantes da cidade e os escravos. 
Maricato (2007) destaca alguns fatores que ocorreram antes da intensificação do 
processo de urbanização que tiveram grande influência para que isso ocorresse, tais como a 
outorga da Lei de Terras, que regulamentou a propriedade privada de terra a partir de 1850; e 
também, a partir de 1888, a emergência do trabalho livre. 
Com a abolição da escravatura, os negros, agora livres, começaram a ser 
despejados das fazendas, que entraram em decadência. Para suprir a mão de obra, ocupada 
anteriormente pelos escravos, e também para trabalhar nas indústrias recém criadas, houve 
incentivos à imigração. Ambos os fatores colaboraram para o crescimento das cidades que, 
despreparadas para receber esse contingente de pessoas, assistiram à sua primeira crise 
habitacional (VILLAÇA, 1986). 
Bonduki (2004) afirma que o aglomerado de trabalhadores residindo em moradias 
insalubres acabou por colaborar com a proliferação de doenças e constituiu uma grave ameaça 
à saúde pública. Um dos principais problemas era o esgoto sem destino, avolumado pelo 
incremento demográfico e pela falta de infraestrutura necessária para a qualidade de vida e 
saúde da população. 
 
Frente à expansão da cidade, o poder público encontrou dificuldades – além de 
desinteresse, no caso dos bairros populares para atender a tantas solicitações. Os 
problemas que mais preocupavam as autoridades eram os que agravavam as 
condições higiênicas das habitações, dado que no final do século foram inúmeros 
surtos epidêmicos que atingiram as cidades brasileiras (BONDUKI, 2004, p.20) 
 
Existiam diferentes tipos de habitações destinadas às camadas trabalhadoras que 
eram alugadas pois, nesse período, não existiam políticas públicas de auxílio à moradia popular. 
As tipologias mais comuns eram os cortiços, instalados em prédios antigos, onde várias famílias 
dividiam a mesma edificação; o cortiço improvisado, onde faziam aproveitamento de um fundo 
de terreno; o cortiço pátio, que ocupava a área interna de um quarteirão; e os abrigos, que 
funcionavam para trabalhadores repousarem conhecido como hotel-cortiço (BONDUKI, 2004). 
Contudo, as características gerais das habitações eram as mesmas: insalubridade 
devido aos ambientes fechados, péssima ventilação, esgoto a céu aberto, falta de infraestrutura 
e, em função da superlotação, não havia privacidade alguma (BONDUKI, 2004). 
Durante a República Velha (1889-1930), uma das preocupações aparentes do 
Poder Público era sobre a insalubridade, que juntamente com a elite, tinha o desejo de remover 
as casas, que tratavam como ameaça para a saúde pública das áreas centrais, expulsando as 
pessoas para a franja urbana. (LEAL, 1990). Honda (2011) afirma que nesse período não havia 
uma preocupação do Estado quanto à questão da habitação, limitando-se apenas ao controle 
sanitário. A iniciativa privada que se encarregava das construções de moradia, visava apenas 
ao lucro através dos aluguéis, ou seja, ambos negligenciavam a qualidade de vida dos 
trabalhadores. 
Entretanto, Villaça (1986) aponta que os interesses dos municípios não eram 
necessariamente a saúde pública, como pode ser verificado no Código de Posturas Municipais 
do Município de São Paulo de 1886 que continha diversas regulamentações para os cortiços 
como por exemplo: “[...] a construção de cortiços era proibida no perímetro de comércio”, ou 
então no Código de Posturas Municipais do Rio de Janeiro de 1889, que declarava “[...] no 
perímetro central da cidade ficavam proibidos o estabelecimento e a construção de cortiços [...]”. 
Observa-se que essas regulamentações não são direcionadas à saúde pública, mas à proibição 
dos cortiços dos locais onde residia a camada de alta renda. 
Os exemplos supracitados tratam das reformas urbanísticas que ocorreram em 
várias cidades brasileiras no final do século XIX e no início do século XX, onde foram realizadas 
obras de saneamento na tentativa de mitigar as epidemias e promover o embelezamento dos 
centros urbanos, demolindo cortiços e prédios antigos e implantando edifícios e avenidas 
modernas (MARICATO, 2008). 
Em função do preço das habitações, tratadas como mercadoria, as camadas de 
baixa renda eram obrigadas a morar nas piores localizações, desprovidas da mesma 
acessibilidade e qualidade de vida das classes mais altas, no caso, essas localizações são as 
periferias (VILLAÇA, 1986). 
 
 
Comentado [SH1]: Nunca separe sujeito do verbo 
Comentado [SH2]: Não coloque muitas vírgulas 
Comentado [SH3]: No o quê? Código de Posturas 
Municipais? 
Corrigido! 
 
 
Para a classe dominante, evidentemente, era mais fácil conviver com as vilas 
operárias do que com os cortiços. A única restrição feita pela legislação era que as 
vilas não fossem construídas em locais nobres ou potencialmente nobres. As 
intenções segregacionistas que visavam mantê-las afastadas dos locais de interesse 
da burguesia ficam claras, por exemplo, no Código Sanitário do Estado de São Paulo 
de 1894. Apesar das vilas serem consideradas, na época modelos de “habitação 
higiênica”, esse Código determinava que elas“... seriam estabelecidas forada 
aglomeração urbana”. A Lei Municipal nº 413 de 1901 isentava de impostos as vilas 
operárias construídas“... fora do perímetro central” (VILLAÇA, p.17, 1986). 
 
Em 1930 Getúlio Vargas assumiu o poder federal, e seu governo perdurou até 1945. 
Neste período houve um novo enfoque, alterando a preocupação principal, que antes era 
apenas com a saúde pública, agora havia uma preocupação voltada para a área social, e um 
cuidado com as condições de moradia dos trabalhadores (ALBANO, 2013), relacionando-as ao 
desenvolvimento econômico do país (BONDUKI, 2004). 
 
Proporcionar meios para que o povo habite de forma decente ou pelo menos humana 
é um dos problemas do governo. Se é fora de dúvida que a principal obrigação do 
governo é cuidar do bem-estar público, não há como negar a sua responsabilidade 
pelas condições calamitosas em que habita a imensa maioria da população do Brasil 
(BONDUKI, 2004, p.79). 
 
Nesse contexto, discutiam-se formas de facilitar o acesso à casa própria através 
do barateamento dos custos. Para tal, era necessário que a implantação fosse em áreas 
distantes do centro, entretanto havia o problema da mobilidade urbana, ou seja, o transporte até 
os locais de emprego desta população. Foi necessário realizar melhorias no transporte coletivo 
(BONDUKI, 2004). 
Todos esses fatores que vieram a favorecer a massa trabalhadora, como produção 
de moradias com subsídios ou financiamento, o barateamento da construção das casas através 
da racionalização de suas produções, congelamento de aluguéis e até mesmo a autoconstrução 
da casa própria, foram pensados também, com o intuito de fortalecer a industrialização do país 
(BONDUKI 2004). 
Outro fator relevante também que interferiu na questão habitacional foi o 
congelamento dos aluguéis através das Leis do inquilinato (1942 à 1964), com intuído de 
combater a exploração dos trabalhadores (BONDUKI, 2004). Porém se por um lado trouxe alívio 
aos trabalhadores, de evitarem pagar aluguéis cada vez mais altos, por outro lado acabou 
desestimulando a oferta de novas moradias, ter imóveis já não seria tão vantajoso (MARICATO, 
1997). 
Rolnik (1988) destaca que, desta forma, observamos as transformações da cidade 
São Paulo, como exemplo deste processo, principalmente no âmbito social, de uma cidade 
comercial com pouca importância num país escravocrata para uma cidade vanguarda da 
produção industrial num país republicano com o trabalho assalariado. 
No governo de Vargas, teve-se a origem da atuação pública no setor da habitação 
social, com a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensão – IAP`s, como forma de recurso 
de financiamento de moradias, posteriormente, foi a base para a criação da Fundação da Casa 
Popular - FCP, no governo Dutra (HONDA, 2011). 
Criada em 1964 a Fundação da Casa Popular foi o primeiro órgão voltado para a 
questão habitacional da classe de menor poder aquisitivo, diferente dos Institutos de e Caixa de 
Aposentadorias e Pensões que atendiam apenas os associados (AZEVEDO; ANDRADE, 1982). 
A Fundação da Casa Popular, com dezoito anos de existência, só conseguiu 
produzir 16.964 mil moradias, quantidade significativamente pequena em relação aos anos de 
produção, foram muitas promessas e poucas que conseguiram de fato ser concretizadas 
(MARICATO, 1997). A FCP foi uma tentativa fracassada devido à falta de interesse e da 
organização de grupos sociais que mais necessitavam desses benefícios, desorganizados em 
relação à formação de uma política social (BONDUKI, 2004). 
 
Ao longo de sua trajetória a Fundação da Casa Popular (FCP) tomou consciência das 
limitações de seu modelo e percebeu que a dependência aos recursos orçamentários, 
a rápida depreciação das aplicações realizadas e a estrutura institucional eram 
entraves à consecução dos objetivos da política habitacional. Em vários momentos 
reconheceu o gasto excessivo com a burocracia e a timidez de suas iniciativas frente 
à magnitude das necessidades que, no inicio da década de 1950, eram estimadas em 
3.600.000 moradias, sem contar as favelas e cortiços que se alastravam por todas as 
grandes cidades brasileiras.(AZEVEDO; ANDRADE, 1982, p.21). 
 
Sem dúvida, os IAP`s e a FCP foram os órgãos que produziram mais moradias do 
que qualquer um outro na década de 1940 e 1950, sobretudo os IAP`s que trouxeram novas 
inovações das tipologias das habitações sociais, influenciados pelo modernismo, por exemplo, 
com edifícios com áreas recreativas, isolada do traçado da cidade, tendo como foco a 
racionalidade, funcionalidade e a economia (BONDUKI, 2004). 
Os dois órgãos criados com a finalidade de agir na questão habitacional, não 
alcançaram os verdadeiros objetivos, visto que os IAP`s, apesar de inovadores, beneficiavam 
apenas os associados, e a FCP, com planos frustrados, não obteve uma maturidade institucional 
(ALBANO, 2013). 
Comentado [M4]: Foi uma série de leis que 
começaram em 1942 e acabaram quando? Corrigido, 
22 anos de duração 
Comentado [SH5]: Evite sempre a primeira pessoa – 
“observa-se” 
Comentado [M6]: Eu tiraria este parágrafo por se 
tratar especificamente de São Paulo. 
Comentado [SH7]: Evite sempre termos tão definitivos 
 
 
Na década de 40, os centros das grandes cidades brasileiras sofreram grandes 
modificações, com o intuito de transforma-las nas cidades modernas, como abertura de grandes 
avenidas, implantação de edifícios de luxo e ampliação de áreas centrais. Essas mudanças com 
a ocasião da Segunda Guerra Mundial acabaram acarretando um processo de especulação 
imobiliária (BONDUKI, 2004). As modernas incorporações imobiliárias atuaram fortemente nos 
centros das cidades, expulsando as camadas de baixa renda para as periferias, contribuindo 
para uma transformação intra-urbana (VILLAÇA, 1998). 
Nos anos 1950, ao invés de o poder público dar prioridade às políticas sociais, 
investiram fortemente nas obras viárias. Neste período acentua-se o processo de urbanização, 
o Brasil crescia economicamente, a classe média se ampliava, porém, a segregação espacial 
tornava-se mais intensa (MARICATO, 1997). 
Maricato (1997) afirma que, ainda nos ideais utópicos modernistas, onde a cidade 
privilegia os carros, organizando as cidades por funções, super- quadras, acabava favorecendo 
a ocupação do solo ilegal, e a construção das casas pelos próprios proprietários, com seus 
recursos técnicos e financeiros. 
Na década de 1960, o Brasil se via em um contexto de crise econômica, política, 
social. O crescimento das cidades trouxe vários problemas e descasos com a qualidade de vida 
da população, problemas com habitação, transporte, infraestrutura e educação, levando a uma 
situação caótica e descontentamento da população (LEAL, 1990). 
Com fim do governo de João Goulart (1961-1964), o Brasil passou a ser governado 
pelos militares. Estes trataram a habitação como uma alternativa para acalmar a população e 
reduzir a tensão social que se agravava (LEAL, 1990). Com a extinção das políticas 
habitacionais existentes, em 1964, deu-se a origem à uma nova, com o intuito de eliminar as 
favelas, facilitar o acesso a casa própria; favor da economia e da estabilidade social, foram 
criados o Banco Nacional da Habitação - BNH e o Sistema de Financiamento da Habitação - 
SFH (HONDA, 2011). 
O SFH foi um programa governamental que teve como propósito pôr um fim no 
déficit habitacional em quatro anos, sendo as suas fontes o Sistema Brasileiro de Poupança e 
Empréstimo - SBPE e também o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, visando à 
auto sustentação financeira, tratando então a habitação como mercadoria (HONDA, 2011). 
O BNH foi criado em 1964, para atender prioritariamente as famílias de baixa 
renda, com a renda mensal de um a três salários mínimos, porém, com a inadimplência destas 
classes sociais, a partir de 1975, o órgão passou a privilegiar famílias com rendimento de três a 
cinco salários mínimos, diferente da sua proposta inicial para “solucionar”os problemas das 
Companhias de Habitação - COHABs (AZEVEDO; ANDRADE, 1982). 
O subsídio do BNH corroborou com a promoção de formas de moradias diferentes, 
apartamentos centrais e grandes conjuntos habitacionais suburbanos, contribuindo com a 
segregação socioespacial (VILLAÇA, 1998). Segundo Cardoso (2008), havia uma contradição 
nos planos de BNH entre os seus principais objetivos, que eram fortalecer o crescimento 
econômico e atender a demanda habitacional da classe de mais baixa renda, entretanto, 
priorizou os investimentos voltados à classe de mais alta renda, tornando-se inadequado e 
ineficaz no financiamento de moradia para a classe baixa, contribuindo com a formação de 
loteamentos periféricos com a autoconstrução e formação de favelas (BONDUKI, 2004). 
Em decorrência a essa dificuldade de atender a demanda das camadas inferiores, 
na década de 1970 foram adotados programas alternativos, através da autoconstrução, sendo 
eficaz para aquele momento, valorizando também a urbanização das favelas, regularização 
fundiária e a criação do Programa Lotes Urbanizados (CARDOSO, 2008). 
No início da década de 1980, houve uma crise econômica no setor habitacional, 
que desencadeou um grande desemprego, o SFH ficou abalado e acumulou grandes dívidas 
(HONDA, 2011). Com extinção do BNH e a crise do SFH, entre 1986 a 1995, a política 
habitacional foi regida por vários órgãos, sem que tivesse conseguido um resultado significativo 
(CARDOSO, 2008). 
Segundo Leal (1990), a parte operacional do BNH passa a ser administrada pela 
Caixa Econômica Federal - CEF, e a questão habitacional sendo responsabilidade das seguintes 
instituições: Caixa Econômica Federal, Banco Central, Conselho Monetário Nacional e Ministério 
do Desenvolvimento Urbano. 
Honda (2011) afirma que, entre 1987 a 1989, foi um período de clara ausência de 
políticas habitacionais, agravando cada vez mais os problemas de moradias, contribuindo com 
o aumento da formação de favelas e habitações precárias promovendo então, não somente 
problemas habitacionais, mas também aumentando a segregação espacial. 
 
 
Comentado [T8]: Parágrafo refeito 
 
 
É necessário enfatizar ainda o desastre, do ponto de vista arquitetônico e urbanístico, 
da intervenção realizada. Dentre os erros praticados se destaca a opção por grandes 
conjuntos na periferia das cidades, o que gerou verdadeiros bairros dormitórios; a 
desarticulação entre os projetos habitacionais e a política urbana e o absoluto 
desprezo pela qualidade do projeto, gerando soluções uniformizadas, padronizadas e 
sem nenhuma preocupação com a qualidade da moradia, com a inserção urbana e 
com o respeito ao meio físico. Indiferente à diversidade existente num país de 
dimensões continentais, o BNH desconsiderou as peculiaridades de cada região, não 
levando em conta aspectos culturais, ambientais e de contexto urbano, reproduzindo 
à exaustão modelos padronizados (BONDUKI, 2008, p.74). 
 
No ano de 1990, Fernando Collor de Mello assumiu o governo, não se teve um 
grande avanço na questão habitacional, apenas algumas alterações sem eficácia do Fernando 
Henrique Cardoso – SFH e o mau uso dos recursos dos programas habitacionais (ALBANO, 
2013). 
Nesse mesmo ano, foi implantado o Plano de Ação Imediata para a Habitação, onde 
tinha como objetivo financiar construção de unidades e lotes urbanizados, atendendo 
famílias com renda de até cinco salários mínimos, financiando projetos de iniciativas 
como COHAB’s, prefeituras, corporativas, entidades previdência e entre outros 
(CARDOSO, 2008, p.4). 
 
Albano (2013) afirma que, no período entre 1990 e 1991 o FGTS foi extremamente 
comprometido pelas 526 mil unidades habitacionais construídas, não podendo haver 
continuidade nesse plano, além do que, tiveram problemas como sistemas construtivos 
inadequados e problemas com comercialização e com projetos que nem mesmo saíram do 
papel. 
Nesse período, vale destacar que, em decorrência a intensificação na formação 
das favelas, e devido ao aumento invasão de terrenos irregulares os problemas ambientais 
também começam a aumentar, como, por exemplo, entre 1991 e 2000 o aumento de domicílios 
em favela foi de 22,5% (717 mil) (RUBALO, 2008). 
Com a destituição do Fernando Collor de Mello após o impeachment, veio a posse 
do Governo o Itamar Franco. Houve tentativas de melhoria na questão da habitação com 
algumas alterações dos rumos políticos, todavia, devido ao FGTS, que estava comprometido 
por mau uso no governo anterior, as produções de unidades habitacionais caíram (ALBANO, 
2013). 
Itamar Franco com a intenção de finalizar as obras que foram iniciadas 
anteriormente, lançou os planos “Habitar Brasil” e “Morar Município”, tomando como recurso o 
Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras - IPMF, porém ainda ficando sobre 
restrições devidos aos gastos anteriores (CARDOSO, 2008). 
Após a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995, houve a 
conferencia UN- HABITAT II, que apresentou preocupações relativas à questão da habitação, 
pressionando o governo, que reagiu divulgando então, as novas Política Nacional de Habitações 
– PNH (HONDA, 2011). 
O governo de Fernando Henrique Cardoso buscou a reorganização institucional 
com a criação da Secretaria de Política Urbana - SEPURB, que foi responsável pela formulação 
e implementação da PNH, este passou a ter um acesso limitado de agente operador dos 
recursos FGTS e agente financeiro SFH, passando a coordenar ações que integravam a 
habitação, saneamento e infraestrutura (CARDOSO, 2008). 
Os programas desenvolvidos por Fernando Henrique Cardoso, diferente de Collor, 
que privilegiava as empresas privadas, buscava ampliar seus interesses aos cidadãos para 
tentar mitigar os déficits habitacionais trazido pelos governos anteriores (BONATES, 2008). 
Segundo Albano (2013), as diretrizes da SEPURB priorizavam o atendimento das 
classes de renda baixa, justamente os mais prejudicados pelo déficit habitacional, envolvendo 
o governo federal, estadual e municipal. Para atender à necessidade dos problemas citados, 
foram criados os programas o Pró-moradia, o Habitar Brasil e a Carta de Crédito. 
O programa Pró-moradia tinha como objetivo conceder financiamentos para 
Estados e Municípios para projetos de unidades habitacionais destinados a camada de baixa 
renda, até com três salários mínimos, famílias que moram em locais inadequados, insalubres e 
sem segurança (ALBANO, 2013). 
O programa Habitar-Brasil também era destinado a Estados e Municípios, além de 
conseguirem recursos externos e pela OGU (Organização Geral da União), este tinha como um 
dos principais objetivos a melhoria da qualidade de vida das famílias que moravam em 
condições inadequadas (ALBANO, 2013). 
O programa Carta Crédito era dividido entre o individual e o associativo. O 
individual buscava reduzir a responsabilidade do poder público de ofertas à moradia para classe 
média, onde o crédito deveria ser destinado para ampliação e melhorias de unidades já prontas 
e materiais construtivos fornecidos pelo FGTS. A Carta Crédito Associativa era adjunta do 
financiamento da construção de condomínios (HONDA, 2011). 
Após a reeleição do Fernando Henrique Cardoso em 1999, além de manter todos 
os programas desenvolvidos, foram criados mais dois novos, o Programa de Subsídio à 
Habitação, no qual era voltada para famílias com renda de até três salários mínimos e o 
Comentado [SH9]: Qual a relação de Collor e FHC? 
 
FHC vem alguns anos depois de Collor 
 
 
Collor criou um programa super importante o PAIH – 
que construiu muitas unidades habitacionais e 
endividou ainda mais o governo federal 
Corrigido, não era fhc mas sfh, troquei as siglas! 
 
 
Programa de Arrendamento Residencial - PAR, uma forma de produção de conjuntos para 
famílias com até seis salários mínimos (BONATES, 2008). 
Foi criado ainda no governo FHC, em 2001, o Programa de Subsídio à Habitação 
de Interesse Social– PSH. Este programa tinha como público alvo a população de mais baixa 
renda, fornecendo subsídios para complementar os valores que os contratantes do credito 
habitacional não conseguiram suportar, estes subsídios poderiam tanto custear o crédito 
habitacional como complementar o preço de compras e vendas ou construções de moradia 
(ALBANO, 2013). 
Em 2003, Luís Inácio da Silva tomou posse do governo, incorporou algumas atividades 
na questão da habitação, e manteve outros como o Habitar-Brasil, Programa de Arrendamento 
Residencial (PAR) e o Programa de subsídio ao PSH (HONDA, 2011). 
No ano de 2004, foi desenvolvida a Política Nacional da Habitação, com o intuito de 
promover um planejamento habitacional, trazer moradias de qualidade em áreas urbanizadas 
dentro da malha urbana para classe de baixa renda. Para isso, utilizou como instrumentos para 
auxiliar sua implementação, o Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento de Habitação 
– SIMAHAB, para garantir um processo de monitoramento para a implementação dessas 
moradias e também o Sistema Nacional de Habitação - SNH (ALBANO, 2013). 
O SNH, funcionou como principal instrumento da Política Nacional da Habitação - PNH, 
que tem por objetivo promover regras para articulação financeira da mesma e a integração dos 
agentes públicos e privados com a União, Estados e Municípios (ALBANO, 2013). O SNH era 
composto por dois subsistemas, o de Habitação de Interesse Social -HIS que segundo Honda 
(2011) tinha como objetivo promover terra urbanizada e a habitação para famílias de baixa 
renda. E por fim, o de Habitação de Mercado, que através do mercado privado de imóveis, 
atendia a famílias com rendimento mensal superior a dois salários mínimos (ALBANO, 2013). 
Em 2007, foi elaborado pela Secretaria Nacional de Habitação - SNH o Plano Nacional 
de Habitação - PlanHab, cujo objetivo era orientar o planejamento das ações públicas e privadas 
para direcionar os recursos para atender as demandas habitacionais, tendo esse plano em longo 
prazo com revisões periódicas (FERNANDES; SILVEIRA, 2010). Segundo Honda (2011), o 
PlanHab possuía três etapas significativas, a contextualização, a definição do plano e por último 
a implementação do plano. 
O Programa Minha Casa Minha Vida, criado em 2009, com o intuito de financiar 
unidades habitacionais para famílias com a renda de até mil e seiscentos reais mensais, após o 
termino da construção, a CAIXA era responsável pelo financiamento das moradias (ALBANO, 
2013). 
O objetivo do Programa Minha Casa Minha Vida era construir um milhão de 
moradias e ao mesmo tempo gerar empregos através do aumento do investimento da 
construção civil (FERNANDES; SILVEIRA, 2010). 
A partir de 2011, o Programa Minha Casa Minha Vida foi incluído no PAC – 
Programa de Aceleramento e Crescimento, com o objetivo de tornar a política habitacional uma 
estratégia de desenvolvimento do país. Nisso, os programas de habitação de interesse social 
estão mais voltados para suprir as necessidades econômicas do país do que suprir o déficit 
habitacional (KRAUSE, C., BALBIM, R. e NETO, V., 2013). 
A cidade de Santo Anastácio, objeto de estudo do presente trabalho, seguiu 
cronologicamente as mudanças das políticas habitacionais no Brasil, o que é perceptível através 
dos financiamentos dos conjuntos habitacionais. 
Como exemplo os primeiros conjuntos habitacionais como “Nosso Teto”, “Jardim 
Vitória Régia” e “Jardim Santa Helena” que foram instalados entre 1984 à 1990 foram 
financiados por órgãos diferentes como a Caixa Econômica do Estado de São Paulo, a Empresa 
Municipal de Habitação de Santo Anastácio, Companhia Brasileira da Habitação e pela 
prefeitura. 
Já nos anos seguintes com as habitações mais recentes foram financiadas pelo 
CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano. 
Desde 2009 a 2016, o Programa Minha Casa Minha Vida entregou 2,3 milhões de 
unidades habitacionais (segundo dados do website do governo federalhttp://www.brasil.gov.br). 
 
 
 
Comentado [SH10]: Até quando? Corrigido, até 2016 
http://www.brasil.gov.br/
 
 
4. PLANO DIRETOR 
 
Na década de 1950 com os problemas de escassez de moradias e outros déficits 
urbanos, surgiu o Movimento Nacional pela Reforma Urbana, que tinha por objetivo a luta por 
um desenvolvimento urbano autêntico, visando sempre, como prioridade, à qualidade de vida 
da população, não se tratando apenas de uma remodelação de um espaço físico, mas uma 
reforma social e estrutural (SOUZA, 2010). 
Porém, o mesmo foi paralisado com a ditadura militar, onde os debates sobre as 
preocupações dos problemas das cidades foram intensamente prejudicados. Somente em 
meados da década de 1980, esse debate seria retomado, durante o processo de 
redemocratização (ALBANO, 2013). 
 Neste momento, foi aberta a possibilidade para uma intensa mobilização social, 
trazendo a oportunidade da sociedade civil apresentar ao congresso propostas legislativas 
chamada de “emendas populares” (SOUZA, 2010). No decorrer desse tramite, após o congresso 
receber as emendas, através muitas negociações, finalmente a Constituição foi promulgada em 
1988 e a ementa popular apresentada pelo Movimento Nacional pela Reforma Urbana resultou 
no capítulo da política urbana em dois artigos: 182 e 183, onde foram estabelecidos instrumentos 
que visam o cumprimento da função social da cidade e da propriedade (CYMBALISTA, 2006). 
A Lei Federal nº 10.257/2001, conhecida como Estatuto da Cidade, que foi 
aprovada onze anos depois em tramitação no Congresso Nacional é a Lei Específica que 
regulamenta o Capítulo de Política Urbana da Constituição Federal (SOUZA, 2010). 
Encarregada pela constituição de definir o que significa cumprir a função social da 
cidade e da propriedade urbana, a nova lei delega esta tarefa para os municípios, oferecendo 
para as cidades um conjunto inovador de instrumentos de intervenção sobre seus territórios, 
além de uma nova concepção de planejamento e gestão urbanos (ROLNIK, 2001, p.1). 
Segundo Honda (2011), o Estatuto da Cidade trouxe a possibilidade de aplicar 
novos instrumentos nos munícipios para um bom uso e aproveitamento do solo urbano. 
O Estatuto da Cidade contém os princípios norteadores da reforma urbana que 
devem ser inseridos no Plano Diretor – PD municipal, que se tornou obrigatório para cidades 
com mais de vinte mil habitantes, sendo este um instrumento fundamental para o 
desenvolvimento adequado das cidades (SOUZA, 2010). Este instrumento deve ser discutido e 
aprovado pela prefeitura de cada município, e no final deve ser promulgado como uma lei 
Municipal (ROLNIK et al, 2004). 
O Plano Diretor seria: 
[...] um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, 
econômica, política e administrativa, da cidade, do município e de sua região, 
apresentaria um conjunto de propostas para o fututo desenvolvimento socioeconômico 
e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infraestrutura e 
de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para município, 
propostas estas definidas para curto, médio e longos prazos, e aprovadas por lei 
municipal (VILLAÇA, 1999, p.2). 
 
Para Rolnik (2001), a adoção deste instrumento é como uma salvação para as 
cidades que enfrentam a expansão horizontal de forma desenfreada, avançando nos locais de 
alto risco, área de preservação ambiental e outras áreas frágeis. 
De acordo com o Estatuto da Cidade, é de extrema importância, em quaisquer 
Planos Diretores, a participação efetiva da população, não somente na elaboração de propostas 
e sugestões, mas também na implementação de cada proposta, sendo assim, o Plano Diretor 
se torna um debate para os cidadãos tomarem as decisões, uma forma de ouvir quais as 
necessidades, e quais providencias devem ser tomadas para o desenvolvimento do seu 
município (ROLNIK, 2001). 
E válido salientar que, não é a proposta da reforma urbana distribuiras diretrizes 
contidas do plano diretor como uma “receita pronta”, ou seja, como algo padronizado e aplicado 
de forma igualitária em todos os municípios, pelo contrário, cada município deve analisar a sua 
realidade social, com suas necessidades e problemáticas intrínsecas e, sempre aberto à 
inovação (ROLNIK et al, 2004). 
Dentro do contexto da habitação de interesse social, que é o foco da presente 
pesquisa, a política habitacional deve estar vincula ao Plano Diretor Municipal, onde suas 
diretrizes são determinadas para cada município (ROLNIK et al, 2004). 
No dia quatro de outubro de 2007, a prefeitura do Município de Santo Anastácio 
promulgou a Lei Complementar nº 51, que dispõe o Plano Diretor Urbanístico-Ambiental do 
referido. Segundo o PDUA de Santo Anastácio (artigo 1º), busca-se cumprir os quesitos gerados 
no artigo 182/§ 1º da Constituição Federal de 1988 e nas disposições da Lei Federal 10.257, de 
10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade) tendo como objetivo a ordenação territorial urbana, a 
proteção ambiental e a justiça social. 
 
 
No Plano Diretor Municipal, no capítulo sobre o ordenamento Territorial, existem 
diretrizes relacionadas ao direito à moradia, instalação de infraestrutura urbana, transporte, 
serviços públicos de forma equilibrada e justa para combater os déficits sociais e também 
proteger e preservar o meio ambiente, patrimônio artístico, histórico, cultural, urbanístico, 
arqueológico e paisagístico (LEI Nº 51 ART 6º). 
O Plano Diretor de Santo Anastácio deixa claro que o crescimento da cidade deve 
ser feito em área já urbanizada, para aproveitar a infraestrutura, serviços e equipamentos 
urbanos, com o intuito de reduzir os custos e também para cumprir o objetivo da função social, 
evitando a segregação espacial (artigo 9º). 
O capítulo II, da referida lei, que trata do parcelamento do solo dentro da zona 
urbana, tem o intuito de ocupar os vazios urbanos dentro dessa zona, a fim de aproveitar a 
infraestrutura instalada e os serviços e equipamentos próximos, gerando mobilidade (LEI Nº 51 
PARÁGRAFO ÚNICO). No que se refere ao parcelamento do solo em áreas de Interesse Social, 
o Plano Diretor afirma que não deve haver um tratamento diferenciado, respeitando as 
condições de serviço e infraestrutura destinadas à população de baixa renda, sendo igual ou 
menor a três salários mínimos (LEI Nº 51 ART 49, PARÁGRAFO ÚNICO E ART 50). 
A política habitacional do Município de Santo Anastácio deve ter como cerne a 
universalização do direito à moradia digna tendo em conjunto, infraestrutura urbana adequada, 
equipamentos comunitários, áreas de lazer e áreas verdes a fim de possibilitar uma melhor 
qualidade de vida aos habitantes (LEI Nº 51, SEÇÃO I – Da Política Habitacional, ART 65, 2007, 
p.18). 
Para a busca de justiça social, deve realizar projetos de habitação de interesse 
social na malha urbana consolidada e dotada de infraestrutura instalada e promover a 
participação da população em todas as decisões que serão tomadas (LEI Nº 51, ART 66). 
Rolnik et al, (2004), afirma que, a importância da política habitacional se relaciona 
com o desenvolvimento social, econômico e territorial do espaço urbano, não se trata somente 
de construções de conjuntos, mas tem como objetivo suprir as necessidades básicas da 
população, nas suas carências de moradia e qualidade de vida, promovendo o desenvolvimento 
social e cultural. 
Todavia, no dia 23 de outubro de 2013, através da lei complementar nº79, que 
alterou o Plano Diretor o Perímetro Urbano e a área de zona de expansão urbana do município 
de Santo Anastácio, bem como outras providencias. Uma das principais providencias tomadas 
a partir dessa publicação, é a afirmação de que todo parcelamento destinado à habitação social 
terá de ser necessariamente desconectada do tecido urbano, apresentando uma distância não 
superior a cento e oitenta mil metros quadrados, uma mudança radical comparado as diretrizes 
propostas anteriormente. 
 
Para completar esse quadro esquemático, resta relembrar o papel, cada vez mais 
importante, do Estado na produção do espaço urbano. É dele o controle do fundo 
público para investimentos, e cabe a ele, sob a forma do poder local, a regulamentação 
e o controle sobre o uso e a ocupação do solo (seguindo, hipoteticamente, planos e 
leis aprovados nos parlamentos) (MARICATO, 2015,p.25). 
 
O Plano Diretor em sua essência visa desenvolver as cidades de forma a melhorar 
a qualidade de vida das pessoas e trazendo justiça social, porém analisando o mesmo Plano do 
município de Santo Anastácio, a sua recente alteração demonstra uma falta de preocupação 
com a população quando decretam que todo parcelamento de solo deve ser necessariamente 
desconectada da malha urbana, o que pode trazer sérios problemas sociais, dificuldades de 
mobilidade urbana e entre outras consequências que está muito longe de promover uma cidade 
acessível e de qualidade. 
 
 
 
 
5. SEGREGAÇÃO SOCIOESPAIAL 
 
Segundo Correa (1995), a segregação na sua mais simples definição, é a 
concentração de um tipo de população em um determinado território, e esta separação se dá 
por áreas sociais, que normalmente pode ser determinado por três características: status 
socioeconômico, urbanização e etnia. 
Caldeira (2000) afirma que, existem três tipos de segregação, a primeira se dá no 
final do século XIX até os anos 1940, onde diferentes grupos sociais segregavam em uma 
determinada área por tipo de moradia; a segunda que foi dos anos de 1940 a 1980, a 
segregação centro – periferia, onde as camadas sociais eram separadas por grandes distâncias, 
onde a classe média alta residia nas áreas centrais da cidade dotada de uma boa infraestrutura, 
enquanto a classe baixa se situava na periferia; e a terceira forma que vem se configurando 
desde 1980, quando as classes sociais muitas vezes estão próximas, porém, separadas por 
muros, tecnologia e o acesso à mobilidade urbana. 
A segregação é um ponto fundamental para compreender a realidade das cidades 
brasileiras, pois ela expressa a ausência da justiça social que está vinculado à economia e ao 
poder político, que tem sido um dos maiores problemas do país (VILLAÇA, 2011). 
Maricato (2015), afirma que, a desigualdade social no Brasil e em toda a América 
Latina, é resultado de um processo histórico de muitos séculos, pela dominação externa que se 
aliava com a interna, é o acentuado patrimonialismo da classe dominante. 
Nos anos onde a industrialização começou a alavancar a economia do país, era 
possível já perceber a segregação pela localização das classes, por mais próximos que 
pudessem estar, a burguesia ficava em partes mais altas, e também era nítida a diferença 
tipológica das moradias, onde a classe de mais alta renda residia em mansões, e as de baixa 
renda em cortiços superpovoados (CALDEIRA, 2000). 
Souza (2008) afirma que, desenvolvimento urbano é alcançado com a melhoria da 
qualidade de vida e a justiça social nas cidades, se houver progresso no sentido econômico, 
porém os problemas sociais continuam intactos ou até mesmo aumentam, então, não é 
desenvolvimento urbano. 
No Brasil, como exemplo, podemos ver essa ausência de desenvolvimento urbano 
no final do século XIX e no início do século XX quando ocorreram as reformas urbanas em 
diversas cidades brasileiras procuraram o embelezamento dos seus centros urbanos buscando 
um padrão europeu, de forma que os centros eram renovados fisicamente e as camadas de 
mais baixa renda eram expulsas para as franjas das cidades, passando por um processo de 
embelezamento e segregação territorial (MARICATO, 2008). 
Isso traz de uma forma clara que as soluções adotadas para a melhoria e 
“desenvolvimento” das cidades e voltado para interesses e objetivos específicos eram 
estritamente voltado para a camada de mais alta renda (DEAK e SHIFFER, 1999). 
 
O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agriculturacapitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos (SANTOS, 1993, p.10). 
 
Por mais que a classe mais baixa viva em situações precárias e desvantajosas em 
relação às demais classes, a cidade é o lugar onde mantém todos os capitais e todos os 
trabalhos, fazendo com que as cidades se tornem um polo da pobreza (SANTOS, 1993). 
Maricato (2008) afirma que, a moradia ilegal corresponde a maior parcela das 
moradias da população brasileira, e apesar disso, a entrada ao mercado privado é algo muito 
limitado e restrito, e as políticas sociais não são inclusivas, consequentemente, o que acaba 
predominando são moradias irregulares. 
Um padrão de segregação que é comum no Brasil desde 1940 chamado de centro-
periferia, tem sido um dos fatores mais marcantes da segregação espacial. As classes sociais 
vivendo longe uma das outras, as mais abastadas nas áreas centrais e as de mais baixa renda 
na periferia; automóvel privado para as classes mais altas e transporte coletivo para a classe 
trabalhadora, gerando então vantagens pra um lado e desvantagem para o outro (CALDEIRA, 
2000). 
Os moradores da periferia sempre tiveram a dificuldade de obter a casa própria, 
alguns programas habitacionais criados para beneficiá-los como o BNH, no meio do caminho foi 
redirecionado para classe média, e outros programas que não obtiveram tanto resultado como 
planejado (CALDEIRA, 2000). 
A segregação tem sido um “selo” do desenvolvimento urbano onde os interesses 
privados com fins lucrativos tem sido prioridade, ignorando o assentamento da maior parte da 
população, enquanto áreas de interesse da renda imobiliária e valorizada, melhorada, vemos as 
demais áreas a deteriorar (MARICATO, 2008). 
 
Comentado [M11]: Ficou solto aqui. 
 
 
O patrimonialismo, impediu o: surgimento da esfera pública, alimentando o 
fisiologismo, o paroquialismo, o clientelismo e o privilégio que é possível constar até 
mesmo numa câmara municipal da mais poderosa cidade brasileira como é ocaso de 
São Paulo, em pleno ano ano 2000 (MARICATO, 2008, p.45). 
 
No Plano Diretor do município de Santo Anastácio que é objeto de estudo do 
presente trabalho, em 2013 passou por uma revisão trazendo consigo novos direcionamentos, 
exigindo que todo parcelamento de solo deve necessariamente ser desconectado da malha 
urbana, ou seja, essa revisão está induzindo a fazer justamente o oposto daquilo que é 
considerado para o desenvolvimento urbano e para evitar a segregação socioespacial. 
 
 
 
6. HISTÓRIA DA CIDADE DE SANTO ANASTÁCIO-SP 
 
Santo Anastácio é uma cidade de pequeno porte, com aproximadamente 21.044 
mil habitantes. Localiza-se no Estado de São Paulo (figura3), na região oeste conhecida como 
Alto da Sorocabana, onde se concentram uma alta quantidade de atividades agropecuárias 
(IBGE, 2017). 
 
Figura 3 - Localização do município de Santo Anastácio. 
 
Fonte: Image:SaoPaulo MesoMicroMunicip.svg 
 
6.1 O município e a região 
 
Por volta de 1850 José Teodoro de Souza, o primeiro desbravador do Vale do 
Paranapanema, trouxe uma abertura de imigração bastante intensa, avolumando o número de 
habitantes na região sem sessar no início do século (LEITE, 1972). 
Com a Guerra do Paraguai, muitas pessoas fugiram para o Vale do 
Paranapanema, já que essa região era famosa pela terra fértil e de longa extensão, e mesmo 
com fim da guerra, a corrente migratória não sessou, colaborando com o povoamento do local 
(ABREU, 1972). 
No início do século XX, cafeeiros e plantadores chegaram ao Vale do 
Paranapanema para realizar a produção do café, aproveitando o trabalho pioneiro deixado pelos 
desbravadores do Vale, onde já haviam abertos caminhos e percursos e a população indígena 
que havia sido dizimada (ABREU, 1972). 
 
[...] A expansão cafeeira trouxe uma extraordinária procura de terras virgens e ficaram 
na mira dos fazendeiros as terras devolutas do extremo oeste de São Paulo. Não era 
pequeno também o interesse dos fazendeiros impedir o acesso fácil dos imigrantes à 
terra, de maneira que não fossem desviados da finalidade precípua por que se 
estimulará sua vinda: servirem de mão de obra para as fazendas de café [...] (ABREU, 
1972, p.25). 
 
Em 1871, a companhia sorocabana, idealizou a construção de uma ferrovia, cujo 
itinerário partia do nascente parque siderúrgico de São João de Ipanema, e se dirigia a São 
Paulo. Nesse tempo começou a surgir uma necessidade maior de transportar as safras 
cafeeiras, utilizando trilhos para se obter um transporte rápido para o escoamento do café, ou 
como chamavam na época, o “ouro negro” (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Abreu (1972), afirma que, a ferrovia não só ajudou do deslocamento do café de 
forma rápida e com uma fácil comunicação com as cidades, mas também favoreceu a 
penetração, loteamento e as ocupações do solo. 
Santos (1993), afirma que, nesse período o Estado de São Paulo se torna um polo 
dinâmico principalmente por meio da produção do café, e isso fez com que houvesse 
implementação de estrada de ferro e a criação do meio de comunicação para facilitar o influxo 
de comércio. 
 
Na Alta Sorocabana, a fase econômica inicial foi a do café que, embora efêmera, teve 
o mérito de atrair colonizador agricultor. Já em meados da década de 30 iniciava-se a 
fase da policultura. Nos últimos anos, a supremacia da criação de bovinos sobre as 
lavouras tem sido patente, motivando o esvaziamento de certas áreas ruais e a 
consequente procura dos centros urbanos mais bem aquinhoados por vias de acesso 
fácil e serviços (LEITE, 1972, p.9). 
 
Com a primeira Guerra Mundial houve uma queda de exportação do café, 
acarretando em um período de recessão econômica; ao término da Guerra, o mercado 
consumidor do café reaqueceu, aumentando seu preço, o que em 1918 custava Rs.47$390, em 
1919 passou a custar 94$612, com essa mudança significativa a procura por terras, onde muitos 
migraram para a alta sorocabana onde essas terras eram mais baratas do que as antigas 
regiões, para a realização do plantio de café que aumentou muito. E nesse período começou a 
surgir empresas colonizadoras para a realização dos loteamentos (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Diversos fatores influenciaram para o crescimento da região da Alto Sorocabana 
com o processo de loteamento, apesar da região ser grande, existia grandes concorrências de 
empresas colonizadoras de diversas regiões, logo não mediam esforços para divulgar sua 
 
 
mercadoria, como um exemplo muito comum era encontrar nos vagões de trem, cartazes que 
divulgavam suas terras, exibindo desenhos trens entrando em fazendas ricas em cafezais, com 
um homem muito bem vestido dialogando com um caipira, “fiquei rico comprando terras na Alta 
Sorocabana” (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Outro fator que colaborou com a interiorização dessa região, foi em 1906, onde o 
Estado de São Paulo promulgou a Lei nº 10450 que disponha sobre a imigração e colonização 
do território, colaborando também com a interiorização, no contexto da escassez da mão de 
obra após a libertação dos escravos em 1888 (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
E em decorrência a estrada de ferro, em 1919, foram inauguradas as estações de 
memória (hoje Regente Feijó e Presidente Prudente), e, em agosto a inauguração da estação 
Guarucaia (hoje Presidente Bernardes). Na continuidade, no terreno onde seria a próxima 
estação, se depararam com um corte grande a ser feito, cujo volume da escavação era de 
11.300 metros cúbicos, volume grande para época, pois os equipamentos eram precários 
(JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Na tentativa de solucionar o problema, a equipe da locação voltou várias vezes ao 
local, em consequências dessas idas e vindas, resultou o nome da estação “Vai e Vem” 
(JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Todavia, em 25 de julho de 1920, por sugestão do Dr. Fairbanks, essa estação 
passou a denominar Santo Anastácio, em virtude do rio 1 com o mesmo nome que banhava 
aquela região e a antiga gleba de terra conhecida como “fazendaSanto Anastácio” ou Gleba 
Pirapó Santo Anastácio” (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
No dia 9 de setembro de 1917, o engenheiro Silvano Wendel auxiliado pelo 
agrimensor Francisco Maldonado inicia o alinhamento da cidade, tendo começado pela atual 
Avenida Dom Pedro II. Porém, vale lembrar que, primeiramente iniciou-se a ocupação dos lotes 
rurais e só depois os lotes urbanos (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
 Com o tempo o núcleo rural foi aumentando e era natural a necessidade de um 
comércio e assistência de toda ordem e com isso inicia-se a zona urbana, onde se 
estabeleceram os primeiros moradores e comerciantes locais, e, nessa época, em algumas 
ocasiões os que adquiriam seus lotes rurais, recebia de doação um lote urbano, com a finalidade 
de incentivar a colonização e formação de um novo povoado (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
 
denominado por esse nome porque no dia de sua descoberta do mesmo, era o dia desse santo.1 O rio foi 
Entre 1926 e 1930 na região da Alta Sorocabana recebe no total de 17.310 mil 
imigrantes que se distribuíram entre Assis e Presidente Venceslau, um fator que contribui o 
aumento do número de moradores dessas terras, fortalecendo ainda mais o crescimento de 
Santo Anastácio (MONBEIG, 1984). 
Não somente em Santo Anastácio, mas em toda região foram espalhadas 
pequenas e médias propriedades. Sendo estas numerosas, não estava sendo suficiente o modo 
de vida de autossubsistência, trazendo então a necessidade de serviços na cidade, 
influenciando na formação e expansão das cidades (LEITE, 1972). 
As primeiras residências, comércios e serviços se instalaram na Avenida Dom 
Pedro II, Osvaldo Cruz, José Bonifácio e em seguida formando na rua Barão do Rio Branco e 
Visconde de Mauá. O loteamento e o levantamento das primeiras ruas já havia sido feito, e em 
vista a necessidade de melhor comunicação entre dois loteadores, abriram um caminho entre a 
coivara existente, formando um trilho que hoje seria o trecho da Avenida Dom Pedro II, junto a 
praça Ataliba Leonel, e nesse processo começou a surgir comércios e serviços como farmácia, 
hotel, agência de correio, casas defronte a atual praça Ataliba Leonel ( JALOTO e JUNIOR, 
1995). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização 
das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. 
 
FONTE: Autores (2016). 
Com essa aglomeração de comércios, serviços, equipamentos e residências 
nessas primeiras suas fez então surgiu um núcleo que tornaria o centro tradicional do Município 
de Santo Anastácio (VILLAÇA, 1998). 
[...] ela somente se tornará centro ou parte do centro se e quando surgir uma cidade 
ou povoado em torno dela que faça dela seu centro, isto é, se vier a existir algo do que ela se 
torne centro (VILLAÇA, 1998, p.238). 
Com o desenvolvimento de Santo Anastácio, pela lei Estadual nº 1798, de 28 de 
novembro de 1921, que criou município de Presidente Prudente, cria também o distrito da paz 
de Santo Anastácio, passando a pertencer àquele município recém-criado, foi considerado a 
categoria de Vila devido ao número de sua população, porém com o seu progresso começa a 
surgir novas levas de imigrantes ocorrendo expansões rurais e a pequena Vila aumenta o 
número de casas e prédios comerciais (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
A estrada de ferro Sorocabana, com a ligação de São Paulo a Presidente Epitácio 
concluída e inaugurada, proporciona o aumento das levas migratórias em busca de novas terras 
na região (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Preenchido todos os requisitos exigidos naquela época, desde a quantidade da 
população, com número de casas, suas rendas, prédios para repartições públicas, criou-se o 
município de Santo Anastácio, sendo elevado da categoria de Vila para Cidade (JALOTO e 
JUNIOR, 1995). 
A cidade não passava de um pequeno patrimônio, Até meados de 1934 a 
população anastaciana era aproximadamente de 5 mil habitantes, possuindo 568ncasas em 
tijolos e madeira (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
Nesse período, Santo Anastácio teve um desenvolvimento econômico significativo 
pela produção do algodão, onde até os anos de 1940 Santo Anastácio e Presidente Venceslau 
tinham um rendimento de 600kg/ha de algodão, uma fase surpreendente de produção 
algodoeira da Alta Sorocabana (LEITE, 1972). 
Com o desenvolvimento econômico, Santo Anastácio começou a crescer. Com o 
aumento do número de habitantes, cada vez mais mostrou-se necessário uma organização no 
traçado da sua cidade, e consequentemente, na sua estrutura urbana. 
 
6.2 Estruturação intra-urbana de Santo Anastácio 
 
Em 1936 o prefeito municipal Ariosto Orsine, em seu relatório demonstrou 
preocupações sobre a necessidade de um plano de urbanização da cidade de Santo Anastácio, 
“o ideal seria a elaboração de um plano geral de urbanismo, realizado por técnico, para se lhe 
ir dando aplicação por partes”. A malha urbana da cidade não é irregular, suas quadras e 
infraestrutura foi planejada, como alguns requisitos, as principais ruas e avenidas largas, 
fazendo seu traçado de forma homogênea e também um plano de arborização (JALOTO e 
JUNIOR, 1995). 
Porém a medida que a malha urbana foi desenvolvendo ela não acompanhou de 
forma regular como havia sido iniciada, e o plano de arborização não foi preservada, em meados 
dos anos 60, a influência do urbanismo moderno, foi retirado boa parte da arborização das 
cidades (JALOTO e JUNIOR, 1995). 
A área planejada do município de Santo Anastácio é justamente onde se deu 
origem do centro da cidade e concomitantemente, o local onde a classe dominante ocupava. 
Isso se assemelha ao conceito do livro “Espaço intra-urbano no Brasil” onde o autor enfatiza 
que a classe dominante sempre ocupava os lugares mais privilegiados (VILLAÇA, 1998). 
 
 
O município de Santo Anastácio, como cidade interiorana, ela cresce em todas as 
direções, todavia, ela se expandiu de uma forma significativa na direção sul onde se concentra 
a maior parte da população, já na direção norte, pouco se desenvolve (JALOTO e JUNIOR, 
1995). 
A ferrovia ela se torna como uma barreira dentro da cidade, ou seja, um lado será 
escolhido para concentrar as principais atividades comerciais da cidade, geralmente tendo em 
vista os locais mais vantajosos, com uma topografia menos acentuada (VILLAÇA, 1998). 
Em Santo Anastácio, na direção sul é onde se encontra o centro da cidade, 
considerado pelo autor Flávio Villaça em sua obra “Espaço intra-urbano no Brasil” (1998) como 
“lado de cá”, ou seja, o lado privilegiado, justo a região onde se desenvolve tendo em vista a 
acessibilidade apresentando menor tempo e custo para deslocamento, já a região norte 
considerado como o “lado de lá”, onde se tem maior dificuldade para acessar o centro, sendo 
esta região desvantajosa, não se desenvolve de forma significativa. 
A Vila Oriente, é o único Bairro existente da cidade na direção norte, ou seja, na 
área desvantajosa até os dias atuais como Afirma Flávio Villaça em sua obra “Espaço intra-
urbano no Brasil”(1998), o “lado de lá”. Tomado pelo desinteresse da classe dominante pelo 
local, o bairro só comporta um único clube, fora isso, o uso do bairro é residencial. 
Outro fator que influenciou a expansão na direção sul, segundo Flávio Villaça em 
sua obra “Espaço intra-urbano no Brasil”(1998) é a relação interurbana, onde a implementação 
da Rodovia Raposo Tavares traz uma melhoria em relação a acessibilidade e comunicação, 
com isso a valorização do local influenciando mais ainda o crescimento da cidade nessa direção. 
 
Assim, a simples presença da via já significa, imediata e automaticamente, melhoria 
de acesso. Em virtude dessa facilidade para concretizar o acesso, o automóvel e as 
rodovias provocam um tipo de expansão urbana distinto da ferrovia, que é rarefeito e 
menos nucleado (VILLAÇA, 1998, p.82). 
 
Segundo a autora Ermínia Maricato em sua obra “Brasil,cidades: alternativas para 
a crise urbana”(2008), afirma que o automóvel, trouxe uma mudança significativa no modo de 
vida das pessoas, desde valores, culturas e rotinas. Isso influenciou também na cidade de Santo 
Anastácio apresentando todas essas mudanças como também mudança na cidade e nas 
direções de expansão urbana. 
 
Figura 5 - Evolução da malha urbana de Santo Anastácio - SP. 
 
FONTE: Prefeitura Municipal de Santo Anastácio –SP. 
 
Devido à ausência de informações em relação ao registro da fundação de alguns bairros do 
município, o mapa se encontra de forma incompleta. 
 
 
 
 
6.3 Santo Anastácio e a habitação social 
 
Após a formação da área central da cidade, em 1982 e 1984 foi inaugurado os dois primeiros 
conjuntos habitacionais do município de Santo Anastácio, Jardim Vitória Régia que fica ao lado 
direito do centro e o Jardim Nosso teto, que fica afastado do centro na direção sul as margens 
da rodovia Raposo Tavares, deixando um vazio urbano entre o conjunto habitacional e a malha 
urbana consolidada da cidade (Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo 
cartório de registro de imóveis do Município de Santo Anastácio -SP). 
O Jardim Vitória Régia foi construído em um regime de mutirão, onde os próprios moradores 
que adquiriam o terreno, juntavam amigos e familiares para construírem suas casas, sem 
nenhum tipo de apoio técnico, viabilizando a obtenção dos materiais de construção, e assim, 
erguendo as suas casas (BONDUKI, 2004). 
[...]. As cidades são evidências notáveis dessa formulação teórica, e, nelas, o melhor 
exemplo talvez seja a contrução da moradia (e parte das cidades) pelos próprios 
trabalhadores (trabalhadores de baixa renda). Essa construção se dá aos poucos, 
durente seus horários de folga, ao longo de muitos anos, ignorando toda e qualquer 
legislação urbanística, em áreas ocupadas informalmente (MARICATO, 2015, p.26). 
 
No entanto, houve diversos problemas e reclamações por parte da população que 
os terrenos não foram sorteados de forma devida, entregando-os para famílias que não 
possuíam de fato tal necessidade (JORNAL OESTE PAULISTA, 1988). 
O fato que se dá a autoconstrução e que a habitação dos trabalhadores não é 
considerada problema ou preocupação para os interesses capitalistas, nem mesmo para o 
Estado (MARICATO, 2015). 
 
Uma política de habitação social devria estabelecer critérios de investimento que 
dirigissem os subdísios para quem de fato tinha necessidade, definindo a origem dos 
recursos necessários para cobri-los (BONDUKI, 2004, p. 108). 
 
No caso do Jardim Nosso Teto, que foi construído longe da malha urbana 
consolidada traz então o início da segregação territorial, enquanto a classe mais alta reside nas 
áreas centrais, privilegiadas pela proximidade e acesso fácil ao serviço, comércio, os moradores 
do conjunto que são de classe baixa, não desfrutam do mesmo privilégio (MARICATO, 2008). 
 
Partimos da constatação que é uma falácia separar a política social do mercado 
imobiliário especialmente se constatamos que nenhum dos dois responde ou 
respondeu, historicamente, às necessidades de moradia da maior parte da população 
do País (MARICATO, 2008, p.130). 
 
Já entre 1985 e 1992 começaram a surgir bairros novos, sendo estes: Vila Sanches 
Postigo que fica próximo ao Jardim Nosso Teto; Vila Ortega e Vila Martins que fica próximo ao 
Centro; e por fim Jardim Maringá e o Solar das Andorinhas que se encontra na direção oeste 
(Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo cartório de registro de imóveis 
do Município de Santo Anastácio –SP). 
Entre 1993 e 2006, foram implantados mais três conjuntos habitacionais, sendo 
em sequência: Jardim Santa Helena, localizada no lado oeste da cidade; Jardim Novo Horizonte, 
que está implantado no lado leste da cidade, onde, posteriormente recebeu um prolongamento 
do conjunto habitacional em 2002 adicionando mais unidades, dividindo assim Novo Horizonte 
1 e 2, sendo esses dois conjuntos separados por uma bacia hidrográfica; e por fim a Vila Moreno 
que fica próximo ao Novo Horizonte (Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado 
pelo cartório de registro de imóveis do Município de Santo Anastácio –SP). 
De 2011 até 2016 foi implantado também mais alguns bairros e o mais recente 
conjunto habitacional, o Jardim das Orquídeas que está situado na franja urbana da região oeste 
(Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo cartório de registro de imóveis 
do Município de Santo Anastácio –SP). 
Villaça (1998), afirma que, o “funcionamento da sociedade urbana transforma 
seletivamente os lugares”, isto é, alguns pontos das cidades se tornam mais atrativos do que 
outros, e consequentemente, tudo o que traz aglomeração em um determinado ponto, gera 
afastamento. 
Na Vila Oriente, o único bairro localizado do “lado de lá”, a direção sul após a linha 
férrea, conseguimos compreender o desinteresse da classe dominante pelo local, visto que, por 
ser desvantajoso, há uma presença significativa de ocupações irregulares, com ausência de 
infraestrutura adequada (VILLAÇA, 1998). 
A segregação com o poder político, econômico e o papel desses poderes na pressão 
sobre o estado, de modo a promover uma distribuição desigual dos investimentos em 
infraestrutura (VILLAÇA, 1998, p.151). 
 
Segundo a SABESP (www.sabesp.com.br) a Rua Expedicionário José de Souza 
que se encontra na Vila Oriente (figura 6), é a única rua com ausência de esgoto, sendo esta 
rua não pavimentada, que acaba trazendo problemas em dias de chuva. 
http://www.sabesp.com.br/
 
 
Contudo, a SABESP sedeu água ao local. O município de Santo Anastácio inteiro 
possui água, tendo 7392 ligações ao todo, e dentro disso, 118 lotes sem esgoto, sendo a Rua 
Expedicionário José de Souza e os vazios urbanos existentes onde ainda não realizaram 
ligações. 
 Caldeira (2000), afirma que, a diferença das classes sociais trás a organização do 
espaço urbano, através da separação entre essas classes, trazendo então a segregação como 
uma característica importante das cidades. 
Em Santo Anastácio, ao analisar o mapa observando aonde se localizam as 
habitações de interesse social, a organização do espaço urbano através da separação das 
classes fica nítida, enquanto na área central estão localizadas as camadas da população de 
mais alta renda, nas áreas periféricas, as de baixa renda (CALDEIRA, 2000). 
Ao analisar as formas de provisão de moradia desses conjuntos habitacionais que 
foi erguido através da autoconstrução, ou até mesmo as ocupações irregulares com ausência 
de infraestrutura, é possível promover um diagnóstico sobre os produtores e promotores aonde 
favorece uns e outros não, promovendo a segregação territorial (MARICATO, 2008). 
Santo Anastácio, ainda tem como característica de uma cidade dispersa, ou seja, 
o padrão de segregação Centro-Periferia, que possui características de uma cidade não 
concentrada, as classes sociais vivem longe uma das outras, as mais favorecidas nas áreas 
centrais, e as menos favorecidas na periferia (CALDEIRA, 2000). 
Esse padrão de segregação, se consolidou nas cidades nas décadas de 1940, 
onde as cidades se tornará um grande centro industrial do país, como São Paulo, no caso de 
Santo Anastácio, esse padrão prevalece, pois ainda não atingiu ao padrão de “enclaves 
fortificados”, ou seja, espaços privatizados para residências, seja fisicamente através de muros 
ou simbolicamente, já que boas partes da camada de alta renda ainda se localizam na área 
central (CALDEIRA, 2000). 
 
 
. 
Figura 6 - Vista aérea com ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua 
Expedicionário José de Souza Santo Anastácio - SP. 
 
FONTE: https://www.google.com.br/maps (2016). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7 - Ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua Expedicionário José de 
Souza, Santo Anastácio - SP. 
 
FONTE: https://www.google.com.br/maps

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