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Sumário 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................. 5 2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO ............................................. 8 3. A HISTÓRIA DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL ........... 9 4. PLANO DIRETOR ....................................................................................... 14 5. SEGREGAÇÃO SOCIOESPAIAL ................................................................ 16 6. HISTÓRIA DA CIDADE DE SANTO ANASTÁCIO-SP .................................. 18 6.1 O município e a região .............................................................................. 18 6.2 Estruturação intra-urbana de Santo Anastácio .......................................... 20 6.3 Santo Anastácio e a habitação social ....................................................... 22 7. Análise de antecedentes. ............................................................................. 25 7.1 STREETSCAPE PEDRA BRANCA - UM NOVO CONCEITO DE URBANIDADE .................................................................................................................... 25 7.2 HABITAÇÃO URBANA HÍDRIDA .............................................................. 25 7.3 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL SUSTETÁVEL ............................ 25 7.4 PRAÇA COLINAS DE ANHANGUERA ..................................................... 25 9. ADOÇÃO DO PARTIDO ARQUITETÔNICO E DAS ATITUDES PROJETUAIS 26 8.1 Condicionantes conceituais ...................................................................... 26 8.1.1 Conceito do tema................................................................................... 26 8.1.1.1 Urbanismo Sustentável ....................................................................... 27 8.1.1.2 A Imagem da Cidade .......................................................................... 28 8.1.1.3 Cidade Para Pessoas ......................................................................... 28 8.1.1.4 definindo o conceito do tema .............................................................. 29 8.1.2 Caracterização da clientela e das funções ............................................. 29 8.1.2.1 Caracterização da clientela ................................................................. 29 8.1.2.1.1 Clientela MCMV ............................................................................... 29 8.1.2.1.2 Clientela – Santo Anastácio ............................................................. 29 8.1.2.2 Caracterização das funções ............................................................... 30 8.1.2.3 A carta do Novo Urbanismo ................................................................ 30 8.1.3 Programa de necessidades ................................................................... 30 8.1.4 Relações do programa .......................................................................... 31 8.1.5 Pré-dimensionamento do projeto ........................................................... 33 8.2 Condicionantes físicos .............................................................................. 34 8.2.1 A escolha do terreno ............................................................................. 34 8.2.1.1 O terreno na cidade ............................................................................ 37 8.2.1.2 O terreno dentro da região .................................................................. 38 8.2.1.3 O terreno no seu próprio contexto....................................................... 38 8.2.2 A Planta do Terreno .............................................................................. 39 8.2.3 Forma e dimensão ................................................................................. 40 8.2.4 Conformação do relevo ......................................................................... 41 8.2.5 Orientação quanto ao sol ....................................................................... 42 8.2.6 Orientação quanto aos ventos ............................................................... 43 8.2.7 Acessos................................................................................................. 44 8.2.8 Legislação Pertinente ............................................................................ 44 8.3 A adoção do partido ................................................................................. 44 8.3.1 Decisões de projeto ............................................................................... 45 8.3.2 Ideias dominantes ................................................................................. 45 8.3.3 Ideias De planos .................................................................................... 46 8.3.4 A definição do partido e as atitudes projetuais ....................................... 46 8.3.4.1 O processo da criação ........................................................................ 46 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. .................................... 6 Figura 2- Pirâmides etárias comparativas. ........................................................... 6 Figura 3 - Localização do município de Santo Anastácio. ................................... 18 Figura 4 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. .................................. 20 Figura 5 - Evolução da malha urbana de Santo Anastácio - SP.......................... 21 Figura 6 - Vista aérea com ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua Expedicionário José de Souza Santo Anastácio - SP.............................................................. 23 Figura 7 - Ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua Expedicionário José de Souza, Santo Anastácio - SP. ................................................................................................. 23 Figura 8 - Mapeamento dos conjuntos habitacionais e do centro de Santo Anastácio - SP. ....................................................................................................................... 24 Figura 9 - Localização da igreja matriz (vermelho) e da estação ferroviária (vermelho) no centro tradicional do município de Santo Anastácio - SP. ................................. 25 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O recente processo de urbanização brasileiro ocasionou uma série de dificuldades no que diz respeito à gestão e ao planejamento urbanos, bem como à organização territorial municipal (HONDA, 2011). Conhecer a estrutura intra-urbana se faz necessário para que diretrizes de planejamento e gestão urbanos sejam desenvolvidas sobre uma base concreta, observando as particularidades de cada cidade. Segundo Santos (2013), as cidades de todo o Brasil possuem problemas semelhantes relacionados ao modelo de estruturação da malha urbana que, entre outros problemas, desencadeiam acentuada segregação socioespacial. Essa estrutura é influenciada, não exclusivamente, mas em grande parte, pela camada de alta renda e pelo mercado imobiliário, que investem nas áreas onde se instalam, aumentando o valor do solo local dotando- a de boa infraestrutura, acessibilidade, mobilidade, que acabam por enfatizar as desigualdades em relação às áreas ocupadas pelas classes de baixa renda (VILLAÇA, 1998). Outro agente que têm interferido significativamente ao longo das últimas décadas na estrutura urbana, colaborando com a acentuação da segregação, é o poder público responsável pela implementação de políticas de habitação social (ALBANO, 2013). Pode-se citar como exemplos os conjuntos habitacionais implantados por meio de financiamento do Banco Nacional da Habitação (BNH), durante o GovernoMilitar, tais conjuntos, em sua maioria se localizavam nas franjas urbanas, onde o preço da terra era menor (BONATES, 2008). Na década de 1990, segundo Maricato (1998, p.5), havia “uma proposta sensível e atualizada com as análises técnicas e críticas” sobre políticas habitacionais, com preocupação com questões fundiárias e urbanísticas, visando à ocupação de vazios urbanos. No governo seguinte, ocorreu retrocesso a esse aspecto, sendo retomada a produção habitacional na franja urbana (HONDA, 2011). Em 2009, foi lançado o Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, com o objetivo de subsidiar produção e aquisição de imóvel urbano para famílias com renda de até seis (6) salários mínimos mensais, buscando a construção de 1 milhão de moradias. Segundo critérios, o PMCMV financiaria imóveis residenciais nos municípios em que houvesse doação de terrenos e/ou glebas pelo poder público local ou estadual. Dessa forma, muitas das áreas ocupadas pelos conjuntos habitacionais têm proporcionado a expansão territorial, inclusive com a implantação além malha urbana (HONDA, 2011). Com base nesse contexto, o presente trabalho de conclusão de curso visa a analisar o crescimento urbano da cidade de Santo Anastácio, no interior do estado de São Paulo, por meio de levantamento histórico e análise da estruturação intra-urbana. Santo Anastácio é uma cidade de pequeno porte, localizada na região oeste do estado de São Paulo, a aproximadamente 590 Km da capital do estado. Possui em torno de 20 mil habitantes (IBGE, 2010), com população urbana um pouco acima de 19 mil habitantes (IBGE, 2010). Segundo Avila Jr (1995), o surgimento dessa cidade está ligado à expansão da estrada de ferro Sorocabana, cujo traçado inicial ocorreu segundo trabalho do engenheiro Silvano Wendel e do agrimensor Francisco Maldonado, em área em frente à estação ferroviária em execução, no ano de 1917, onde se deu as duas primeiras edificações da cidade (Figura 1). No ano de 1921, o povoado passou a ser categorizado legalmente como vila, e a instalação legal do município ocorreu em 1926, tendo sido desmembrado do município de Presidente Prudente. A malha urbana de Santo Anastácio está situada a 436m de altitude, sendo que o município faz divisa atualmente com Piquerobi, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Presidente Bernardes e Ribeirão dos Índios (IBGE, 2016). Figura 1 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. Fonte: autores, 2016 Segundo dados do IBGE(2016), a população do município de Santo Anastácio tem decrescido nas últimas décadas. Importante observar também que a pirâmide etária municipal é bastante diferente das pirâmides referentes ao Estado de São Paulo e brasileira (Figura 2). A população em idade economicamente ativa tem saído da cidade, que deveria resultar aspectos diferenciados na expansão territorial urbana. Importante destacar, no entanto, que não há dados organizados e sistematizados sobre a estrutura urbana da referida cidade, portanto, verifica-se a relevância da pesquisa proposta. As informações adquiridas nesta pesquisa científica auxiliarão futuramente ações de controle urbanístico e de políticas públicas locais. Figura 2- Pirâmides etárias comparativas. Fonte: IBGE, 2016 A economia de Santo Anastácio está apoiada principalmente na pecuária, de corte e leiteira, e na agricultura de cana-de-açúcar, milho, soja e algodão. Outro aspecto bastante relevante localmente é a comunidade de artesãos voltados ao bordado (CEPAM, 2016). Mediante o contexto abordado, apresentam-se os objetivos do trabalho. O objetivo geral do presente trabalho é a execução de um projeto urbano, com a criação de um loteamento de interesse social. Busca-se compreender o processo de expansão territorial da cidade de Santo Anastácio, no interior do Estado de São Paulo, por meio da implantação de empreendimentos – loteamentos e conjuntos habitacionais - públicos e particulares na malha urbana dessa cidade, no período de 1989 e 2016. Especificamente busca-se Elaborar levantamentos históricos sobre a cidade, sua formação, ocupação, desenvolvimento econômico e populacional; Executar mapeamentos da evolução urbana por períodos, demonstrando se houve crescimento populacional e da malha urbana, para poder relacioná-los a questões de crescimento e desenvolvimento econômico local; Identificar e mapear os conjuntos habitacionais implantados na malha urbana, correlacionando-os à estrutura urbana existente em cada período; Execução de um projeto urbano, com a criação de um loteamento de interesse social que visa trazer um desenvolvimento autêntico da cidade do ponto de vista social, econômico e ambiental. A metodologia empregada será subdividia em três etapas. A primeira etapa metodológica está baseada em aprofundamento teórico e bibliográficos, por meio de levantamentos históricos sobre a formação e crescimento da cidade, aspectos econômicos e sociais. Posteriormente serão realizados levantamentos documentais para organizar dados disponíveis em jornais, cartório de registro de imóveis e Prefeitura Municipal, visando a formar uma base de informações que subsidiem o mapeamento da evolução da malha urbana. Outro viés de pesquisa documental será realizado para levantamento dos conjuntos de habitação social já implantados e em processo de implantação (se houver) na referida cidade, possibilitando seu mapeamento. Também será realizada pesquisa de campo para identificação de tipologias construtivas e existência/carência de infraestrutura urbana, apoiando compreensão sobre localização de bairros de diferentes classes sociais. Será realizado também estudos de antecedentes, para conseguir obter um embasamento de projetos de loteamento de reconhecimento nacional e internacional. Logo após isso será realizado estudos do terreno onde será realizado o projeto, analisando toda sua estrutura física, análises do entorno e dos impactos ambientais. Após os levantamentos de todas essas condicionantes começará a ser realizado estudos de diretrizes projetuais como estudos de conceito, partido arquitetônico que irá nortear todo processo projetual. Por fim, o desenvolvimento do ante-projeto de loteamento de interesse social. 2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO O processo de produção de cidades e de crescimento urbano foi significativamente marcante a partir da década de 1960, no Brasil. Verifica-se, além da expansão de grandes centros urbanos, o desenvolvimento de cidades médias e pequenas, mas seguindo o padrão de especulação intra-urbana (SANTOS, 2013). Segundo Villaça (1998), há segregação de várias naturezas, principalmente de classes e de etnias ou nacionalidades; mas a que domina o território urbano brasileiro é a de classes sociais. Este tipo específico de segregação é definida pelo autor como: “um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros” (VILLAÇA, 1998, p.142). Nesse contexto, verificam-se diversos atores na produção do espaço urbano, que podem reforçar (ou não) os processos de segregação e de especulação; ou seja, a ação dos atores refletem os interessem dominantes, permitindo “transgressões de acordo com os interesses” (CORRÊA, 1999, p.12). Um desses agentes é o Estado, que atua na organização espacial da cidade, por meio da implantação de serviços públicos e da elaboração de leis e normas vinculadas ao solo urbano, e que reflete a dinâmica da sociedade e os interesses dominantes (HONDA, 2011). Importante destacar que é na instância municipal onde esses interesses se tornam mais evidentes. Corrêa (1999, p.26) assinala que a atuação do Estado busca criar “condições que viabilizem o processode acumulação e a reprodução das classes sociais e suas frações”, assim o Estado cria mecanismos que podem levar à segregação espacial. Essa ação do Estado é informada por meio de políticas públicas, desenvolvidas em resposta a problemas urbanos, desde a previsão de bens coletivos e serviços públicos até o controle da expansão urbana, e uso e ocupação do solo; sendo identificada como o setor de ordenamento legal do território das cidades através de conjunto de ações descritas, com a observação das demandas e a tentativa de harmonização (HONDA, 2011). Nesse cenário, verifica-se a importância de levantamentos, mapeamentos e identificação de manchas de ocupação populacional na cidade de Santo Anastácio, no interior do estado de São Paulo, possibilitando a compreensão dos processos intra-urbanos de ocupação territorial. Lacaze (1995) afirma que o papel das políticas públicas locais está baseado na busca de organização da cidade em função de suprir as necessidades econômicas e sociais, passando dos discursos aos atos. As diretrizes definidas nessas políticas (discursos) direcionam os processos de planejamento e gestão urbanos. O planejamento, entendido como tentativa de “prever a evolução de um fenômeno ou [...] tentar simular os desdobramentos de um processo” (SOUZA, 2002, p.46), pode ser ferramenta de auxílio na democratização de acesso ao solo urbano e de benefícios da urbanização, que afetam diretamente a qualidade de vida da população, ou como afirma Souza (2002, p.61): [...] um autêntico processo de desenvolvimento sócio-espacial quando se constata uma melhoria da qualidade de vida e um aumento da justiça social. A mudança social positiva, no caso, precisa contemplar não apenas as relações sociais mas, igualmente, a espacialidade. Por meio da apreensão da realidade urbana de Santo Anastácio, assim como das ações públicas de planejamento territorial, será possível compreender o processo de urbanização e de mudanças morfológicas urbanas que têm ocorrido nessa cidade. Lacaze (1995, p.18) informa que “As investigações de morfologia urbana, associando o olhar do arquiteto a trabalhos sobre os arquivos escritos e os planos antigos, tornam possíveis análises muito precisas”. 3. A HISTÓRIA DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL O Brasil, como um todo, durante séculos foi um país essencialmente agrícola, as cidades no período colonial não possuíam uma significativa vinculação umas com as outras. Por tal motivo, Santos (1993) as compara a um arquipélago, pois eram isoladas, diferente de hoje. Maricato (1997) também afirma que, nesse período, não havia redes de cidades, apenas alguns núcleos que eram ligados à administração colonial. A estratificação social se dava por proprietários rurais, alguns profissionais e comerciantes da cidade e os escravos. Maricato (2007) destaca alguns fatores que ocorreram antes da intensificação do processo de urbanização que tiveram grande influência para que isso ocorresse, tais como a outorga da Lei de Terras, que regulamentou a propriedade privada de terra a partir de 1850; e também, a partir de 1888, a emergência do trabalho livre. Com a abolição da escravatura, os negros, agora livres, começaram a ser despejados das fazendas, que entraram em decadência. Para suprir a mão de obra, ocupada anteriormente pelos escravos, e também para trabalhar nas indústrias recém criadas, houve incentivos à imigração. Ambos os fatores colaboraram para o crescimento das cidades que, despreparadas para receber esse contingente de pessoas, assistiram à sua primeira crise habitacional (VILLAÇA, 1986). Bonduki (2004) afirma que o aglomerado de trabalhadores residindo em moradias insalubres acabou por colaborar com a proliferação de doenças e constituiu uma grave ameaça à saúde pública. Um dos principais problemas era o esgoto sem destino, avolumado pelo incremento demográfico e pela falta de infraestrutura necessária para a qualidade de vida e saúde da população. Frente à expansão da cidade, o poder público encontrou dificuldades – além de desinteresse, no caso dos bairros populares para atender a tantas solicitações. Os problemas que mais preocupavam as autoridades eram os que agravavam as condições higiênicas das habitações, dado que no final do século foram inúmeros surtos epidêmicos que atingiram as cidades brasileiras (BONDUKI, 2004, p.20) Existiam diferentes tipos de habitações destinadas às camadas trabalhadoras que eram alugadas pois, nesse período, não existiam políticas públicas de auxílio à moradia popular. As tipologias mais comuns eram os cortiços, instalados em prédios antigos, onde várias famílias dividiam a mesma edificação; o cortiço improvisado, onde faziam aproveitamento de um fundo de terreno; o cortiço pátio, que ocupava a área interna de um quarteirão; e os abrigos, que funcionavam para trabalhadores repousarem conhecido como hotel-cortiço (BONDUKI, 2004). Contudo, as características gerais das habitações eram as mesmas: insalubridade devido aos ambientes fechados, péssima ventilação, esgoto a céu aberto, falta de infraestrutura e, em função da superlotação, não havia privacidade alguma (BONDUKI, 2004). Durante a República Velha (1889-1930), uma das preocupações aparentes do Poder Público era sobre a insalubridade, que juntamente com a elite, tinha o desejo de remover as casas, que tratavam como ameaça para a saúde pública das áreas centrais, expulsando as pessoas para a franja urbana. (LEAL, 1990). Honda (2011) afirma que nesse período não havia uma preocupação do Estado quanto à questão da habitação, limitando-se apenas ao controle sanitário. A iniciativa privada que se encarregava das construções de moradia, visava apenas ao lucro através dos aluguéis, ou seja, ambos negligenciavam a qualidade de vida dos trabalhadores. Entretanto, Villaça (1986) aponta que os interesses dos municípios não eram necessariamente a saúde pública, como pode ser verificado no Código de Posturas Municipais do Município de São Paulo de 1886 que continha diversas regulamentações para os cortiços como por exemplo: “[...] a construção de cortiços era proibida no perímetro de comércio”, ou então no Código de Posturas Municipais do Rio de Janeiro de 1889, que declarava “[...] no perímetro central da cidade ficavam proibidos o estabelecimento e a construção de cortiços [...]”. Observa-se que essas regulamentações não são direcionadas à saúde pública, mas à proibição dos cortiços dos locais onde residia a camada de alta renda. Os exemplos supracitados tratam das reformas urbanísticas que ocorreram em várias cidades brasileiras no final do século XIX e no início do século XX, onde foram realizadas obras de saneamento na tentativa de mitigar as epidemias e promover o embelezamento dos centros urbanos, demolindo cortiços e prédios antigos e implantando edifícios e avenidas modernas (MARICATO, 2008). Em função do preço das habitações, tratadas como mercadoria, as camadas de baixa renda eram obrigadas a morar nas piores localizações, desprovidas da mesma acessibilidade e qualidade de vida das classes mais altas, no caso, essas localizações são as periferias (VILLAÇA, 1986). Comentado [SH1]: Nunca separe sujeito do verbo Comentado [SH2]: Não coloque muitas vírgulas Comentado [SH3]: No o quê? Código de Posturas Municipais? Corrigido! Para a classe dominante, evidentemente, era mais fácil conviver com as vilas operárias do que com os cortiços. A única restrição feita pela legislação era que as vilas não fossem construídas em locais nobres ou potencialmente nobres. As intenções segregacionistas que visavam mantê-las afastadas dos locais de interesse da burguesia ficam claras, por exemplo, no Código Sanitário do Estado de São Paulo de 1894. Apesar das vilas serem consideradas, na época modelos de “habitação higiênica”, esse Código determinava que elas“... seriam estabelecidas forada aglomeração urbana”. A Lei Municipal nº 413 de 1901 isentava de impostos as vilas operárias construídas“... fora do perímetro central” (VILLAÇA, p.17, 1986). Em 1930 Getúlio Vargas assumiu o poder federal, e seu governo perdurou até 1945. Neste período houve um novo enfoque, alterando a preocupação principal, que antes era apenas com a saúde pública, agora havia uma preocupação voltada para a área social, e um cuidado com as condições de moradia dos trabalhadores (ALBANO, 2013), relacionando-as ao desenvolvimento econômico do país (BONDUKI, 2004). Proporcionar meios para que o povo habite de forma decente ou pelo menos humana é um dos problemas do governo. Se é fora de dúvida que a principal obrigação do governo é cuidar do bem-estar público, não há como negar a sua responsabilidade pelas condições calamitosas em que habita a imensa maioria da população do Brasil (BONDUKI, 2004, p.79). Nesse contexto, discutiam-se formas de facilitar o acesso à casa própria através do barateamento dos custos. Para tal, era necessário que a implantação fosse em áreas distantes do centro, entretanto havia o problema da mobilidade urbana, ou seja, o transporte até os locais de emprego desta população. Foi necessário realizar melhorias no transporte coletivo (BONDUKI, 2004). Todos esses fatores que vieram a favorecer a massa trabalhadora, como produção de moradias com subsídios ou financiamento, o barateamento da construção das casas através da racionalização de suas produções, congelamento de aluguéis e até mesmo a autoconstrução da casa própria, foram pensados também, com o intuito de fortalecer a industrialização do país (BONDUKI 2004). Outro fator relevante também que interferiu na questão habitacional foi o congelamento dos aluguéis através das Leis do inquilinato (1942 à 1964), com intuído de combater a exploração dos trabalhadores (BONDUKI, 2004). Porém se por um lado trouxe alívio aos trabalhadores, de evitarem pagar aluguéis cada vez mais altos, por outro lado acabou desestimulando a oferta de novas moradias, ter imóveis já não seria tão vantajoso (MARICATO, 1997). Rolnik (1988) destaca que, desta forma, observamos as transformações da cidade São Paulo, como exemplo deste processo, principalmente no âmbito social, de uma cidade comercial com pouca importância num país escravocrata para uma cidade vanguarda da produção industrial num país republicano com o trabalho assalariado. No governo de Vargas, teve-se a origem da atuação pública no setor da habitação social, com a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensão – IAP`s, como forma de recurso de financiamento de moradias, posteriormente, foi a base para a criação da Fundação da Casa Popular - FCP, no governo Dutra (HONDA, 2011). Criada em 1964 a Fundação da Casa Popular foi o primeiro órgão voltado para a questão habitacional da classe de menor poder aquisitivo, diferente dos Institutos de e Caixa de Aposentadorias e Pensões que atendiam apenas os associados (AZEVEDO; ANDRADE, 1982). A Fundação da Casa Popular, com dezoito anos de existência, só conseguiu produzir 16.964 mil moradias, quantidade significativamente pequena em relação aos anos de produção, foram muitas promessas e poucas que conseguiram de fato ser concretizadas (MARICATO, 1997). A FCP foi uma tentativa fracassada devido à falta de interesse e da organização de grupos sociais que mais necessitavam desses benefícios, desorganizados em relação à formação de uma política social (BONDUKI, 2004). Ao longo de sua trajetória a Fundação da Casa Popular (FCP) tomou consciência das limitações de seu modelo e percebeu que a dependência aos recursos orçamentários, a rápida depreciação das aplicações realizadas e a estrutura institucional eram entraves à consecução dos objetivos da política habitacional. Em vários momentos reconheceu o gasto excessivo com a burocracia e a timidez de suas iniciativas frente à magnitude das necessidades que, no inicio da década de 1950, eram estimadas em 3.600.000 moradias, sem contar as favelas e cortiços que se alastravam por todas as grandes cidades brasileiras.(AZEVEDO; ANDRADE, 1982, p.21). Sem dúvida, os IAP`s e a FCP foram os órgãos que produziram mais moradias do que qualquer um outro na década de 1940 e 1950, sobretudo os IAP`s que trouxeram novas inovações das tipologias das habitações sociais, influenciados pelo modernismo, por exemplo, com edifícios com áreas recreativas, isolada do traçado da cidade, tendo como foco a racionalidade, funcionalidade e a economia (BONDUKI, 2004). Os dois órgãos criados com a finalidade de agir na questão habitacional, não alcançaram os verdadeiros objetivos, visto que os IAP`s, apesar de inovadores, beneficiavam apenas os associados, e a FCP, com planos frustrados, não obteve uma maturidade institucional (ALBANO, 2013). Comentado [M4]: Foi uma série de leis que começaram em 1942 e acabaram quando? Corrigido, 22 anos de duração Comentado [SH5]: Evite sempre a primeira pessoa – “observa-se” Comentado [M6]: Eu tiraria este parágrafo por se tratar especificamente de São Paulo. Comentado [SH7]: Evite sempre termos tão definitivos Na década de 40, os centros das grandes cidades brasileiras sofreram grandes modificações, com o intuito de transforma-las nas cidades modernas, como abertura de grandes avenidas, implantação de edifícios de luxo e ampliação de áreas centrais. Essas mudanças com a ocasião da Segunda Guerra Mundial acabaram acarretando um processo de especulação imobiliária (BONDUKI, 2004). As modernas incorporações imobiliárias atuaram fortemente nos centros das cidades, expulsando as camadas de baixa renda para as periferias, contribuindo para uma transformação intra-urbana (VILLAÇA, 1998). Nos anos 1950, ao invés de o poder público dar prioridade às políticas sociais, investiram fortemente nas obras viárias. Neste período acentua-se o processo de urbanização, o Brasil crescia economicamente, a classe média se ampliava, porém, a segregação espacial tornava-se mais intensa (MARICATO, 1997). Maricato (1997) afirma que, ainda nos ideais utópicos modernistas, onde a cidade privilegia os carros, organizando as cidades por funções, super- quadras, acabava favorecendo a ocupação do solo ilegal, e a construção das casas pelos próprios proprietários, com seus recursos técnicos e financeiros. Na década de 1960, o Brasil se via em um contexto de crise econômica, política, social. O crescimento das cidades trouxe vários problemas e descasos com a qualidade de vida da população, problemas com habitação, transporte, infraestrutura e educação, levando a uma situação caótica e descontentamento da população (LEAL, 1990). Com fim do governo de João Goulart (1961-1964), o Brasil passou a ser governado pelos militares. Estes trataram a habitação como uma alternativa para acalmar a população e reduzir a tensão social que se agravava (LEAL, 1990). Com a extinção das políticas habitacionais existentes, em 1964, deu-se a origem à uma nova, com o intuito de eliminar as favelas, facilitar o acesso a casa própria; favor da economia e da estabilidade social, foram criados o Banco Nacional da Habitação - BNH e o Sistema de Financiamento da Habitação - SFH (HONDA, 2011). O SFH foi um programa governamental que teve como propósito pôr um fim no déficit habitacional em quatro anos, sendo as suas fontes o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - SBPE e também o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, visando à auto sustentação financeira, tratando então a habitação como mercadoria (HONDA, 2011). O BNH foi criado em 1964, para atender prioritariamente as famílias de baixa renda, com a renda mensal de um a três salários mínimos, porém, com a inadimplência destas classes sociais, a partir de 1975, o órgão passou a privilegiar famílias com rendimento de três a cinco salários mínimos, diferente da sua proposta inicial para “solucionar”os problemas das Companhias de Habitação - COHABs (AZEVEDO; ANDRADE, 1982). O subsídio do BNH corroborou com a promoção de formas de moradias diferentes, apartamentos centrais e grandes conjuntos habitacionais suburbanos, contribuindo com a segregação socioespacial (VILLAÇA, 1998). Segundo Cardoso (2008), havia uma contradição nos planos de BNH entre os seus principais objetivos, que eram fortalecer o crescimento econômico e atender a demanda habitacional da classe de mais baixa renda, entretanto, priorizou os investimentos voltados à classe de mais alta renda, tornando-se inadequado e ineficaz no financiamento de moradia para a classe baixa, contribuindo com a formação de loteamentos periféricos com a autoconstrução e formação de favelas (BONDUKI, 2004). Em decorrência a essa dificuldade de atender a demanda das camadas inferiores, na década de 1970 foram adotados programas alternativos, através da autoconstrução, sendo eficaz para aquele momento, valorizando também a urbanização das favelas, regularização fundiária e a criação do Programa Lotes Urbanizados (CARDOSO, 2008). No início da década de 1980, houve uma crise econômica no setor habitacional, que desencadeou um grande desemprego, o SFH ficou abalado e acumulou grandes dívidas (HONDA, 2011). Com extinção do BNH e a crise do SFH, entre 1986 a 1995, a política habitacional foi regida por vários órgãos, sem que tivesse conseguido um resultado significativo (CARDOSO, 2008). Segundo Leal (1990), a parte operacional do BNH passa a ser administrada pela Caixa Econômica Federal - CEF, e a questão habitacional sendo responsabilidade das seguintes instituições: Caixa Econômica Federal, Banco Central, Conselho Monetário Nacional e Ministério do Desenvolvimento Urbano. Honda (2011) afirma que, entre 1987 a 1989, foi um período de clara ausência de políticas habitacionais, agravando cada vez mais os problemas de moradias, contribuindo com o aumento da formação de favelas e habitações precárias promovendo então, não somente problemas habitacionais, mas também aumentando a segregação espacial. Comentado [T8]: Parágrafo refeito É necessário enfatizar ainda o desastre, do ponto de vista arquitetônico e urbanístico, da intervenção realizada. Dentre os erros praticados se destaca a opção por grandes conjuntos na periferia das cidades, o que gerou verdadeiros bairros dormitórios; a desarticulação entre os projetos habitacionais e a política urbana e o absoluto desprezo pela qualidade do projeto, gerando soluções uniformizadas, padronizadas e sem nenhuma preocupação com a qualidade da moradia, com a inserção urbana e com o respeito ao meio físico. Indiferente à diversidade existente num país de dimensões continentais, o BNH desconsiderou as peculiaridades de cada região, não levando em conta aspectos culturais, ambientais e de contexto urbano, reproduzindo à exaustão modelos padronizados (BONDUKI, 2008, p.74). No ano de 1990, Fernando Collor de Mello assumiu o governo, não se teve um grande avanço na questão habitacional, apenas algumas alterações sem eficácia do Fernando Henrique Cardoso – SFH e o mau uso dos recursos dos programas habitacionais (ALBANO, 2013). Nesse mesmo ano, foi implantado o Plano de Ação Imediata para a Habitação, onde tinha como objetivo financiar construção de unidades e lotes urbanizados, atendendo famílias com renda de até cinco salários mínimos, financiando projetos de iniciativas como COHAB’s, prefeituras, corporativas, entidades previdência e entre outros (CARDOSO, 2008, p.4). Albano (2013) afirma que, no período entre 1990 e 1991 o FGTS foi extremamente comprometido pelas 526 mil unidades habitacionais construídas, não podendo haver continuidade nesse plano, além do que, tiveram problemas como sistemas construtivos inadequados e problemas com comercialização e com projetos que nem mesmo saíram do papel. Nesse período, vale destacar que, em decorrência a intensificação na formação das favelas, e devido ao aumento invasão de terrenos irregulares os problemas ambientais também começam a aumentar, como, por exemplo, entre 1991 e 2000 o aumento de domicílios em favela foi de 22,5% (717 mil) (RUBALO, 2008). Com a destituição do Fernando Collor de Mello após o impeachment, veio a posse do Governo o Itamar Franco. Houve tentativas de melhoria na questão da habitação com algumas alterações dos rumos políticos, todavia, devido ao FGTS, que estava comprometido por mau uso no governo anterior, as produções de unidades habitacionais caíram (ALBANO, 2013). Itamar Franco com a intenção de finalizar as obras que foram iniciadas anteriormente, lançou os planos “Habitar Brasil” e “Morar Município”, tomando como recurso o Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras - IPMF, porém ainda ficando sobre restrições devidos aos gastos anteriores (CARDOSO, 2008). Após a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995, houve a conferencia UN- HABITAT II, que apresentou preocupações relativas à questão da habitação, pressionando o governo, que reagiu divulgando então, as novas Política Nacional de Habitações – PNH (HONDA, 2011). O governo de Fernando Henrique Cardoso buscou a reorganização institucional com a criação da Secretaria de Política Urbana - SEPURB, que foi responsável pela formulação e implementação da PNH, este passou a ter um acesso limitado de agente operador dos recursos FGTS e agente financeiro SFH, passando a coordenar ações que integravam a habitação, saneamento e infraestrutura (CARDOSO, 2008). Os programas desenvolvidos por Fernando Henrique Cardoso, diferente de Collor, que privilegiava as empresas privadas, buscava ampliar seus interesses aos cidadãos para tentar mitigar os déficits habitacionais trazido pelos governos anteriores (BONATES, 2008). Segundo Albano (2013), as diretrizes da SEPURB priorizavam o atendimento das classes de renda baixa, justamente os mais prejudicados pelo déficit habitacional, envolvendo o governo federal, estadual e municipal. Para atender à necessidade dos problemas citados, foram criados os programas o Pró-moradia, o Habitar Brasil e a Carta de Crédito. O programa Pró-moradia tinha como objetivo conceder financiamentos para Estados e Municípios para projetos de unidades habitacionais destinados a camada de baixa renda, até com três salários mínimos, famílias que moram em locais inadequados, insalubres e sem segurança (ALBANO, 2013). O programa Habitar-Brasil também era destinado a Estados e Municípios, além de conseguirem recursos externos e pela OGU (Organização Geral da União), este tinha como um dos principais objetivos a melhoria da qualidade de vida das famílias que moravam em condições inadequadas (ALBANO, 2013). O programa Carta Crédito era dividido entre o individual e o associativo. O individual buscava reduzir a responsabilidade do poder público de ofertas à moradia para classe média, onde o crédito deveria ser destinado para ampliação e melhorias de unidades já prontas e materiais construtivos fornecidos pelo FGTS. A Carta Crédito Associativa era adjunta do financiamento da construção de condomínios (HONDA, 2011). Após a reeleição do Fernando Henrique Cardoso em 1999, além de manter todos os programas desenvolvidos, foram criados mais dois novos, o Programa de Subsídio à Habitação, no qual era voltada para famílias com renda de até três salários mínimos e o Comentado [SH9]: Qual a relação de Collor e FHC? FHC vem alguns anos depois de Collor Collor criou um programa super importante o PAIH – que construiu muitas unidades habitacionais e endividou ainda mais o governo federal Corrigido, não era fhc mas sfh, troquei as siglas! Programa de Arrendamento Residencial - PAR, uma forma de produção de conjuntos para famílias com até seis salários mínimos (BONATES, 2008). Foi criado ainda no governo FHC, em 2001, o Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social– PSH. Este programa tinha como público alvo a população de mais baixa renda, fornecendo subsídios para complementar os valores que os contratantes do credito habitacional não conseguiram suportar, estes subsídios poderiam tanto custear o crédito habitacional como complementar o preço de compras e vendas ou construções de moradia (ALBANO, 2013). Em 2003, Luís Inácio da Silva tomou posse do governo, incorporou algumas atividades na questão da habitação, e manteve outros como o Habitar-Brasil, Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e o Programa de subsídio ao PSH (HONDA, 2011). No ano de 2004, foi desenvolvida a Política Nacional da Habitação, com o intuito de promover um planejamento habitacional, trazer moradias de qualidade em áreas urbanizadas dentro da malha urbana para classe de baixa renda. Para isso, utilizou como instrumentos para auxiliar sua implementação, o Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento de Habitação – SIMAHAB, para garantir um processo de monitoramento para a implementação dessas moradias e também o Sistema Nacional de Habitação - SNH (ALBANO, 2013). O SNH, funcionou como principal instrumento da Política Nacional da Habitação - PNH, que tem por objetivo promover regras para articulação financeira da mesma e a integração dos agentes públicos e privados com a União, Estados e Municípios (ALBANO, 2013). O SNH era composto por dois subsistemas, o de Habitação de Interesse Social -HIS que segundo Honda (2011) tinha como objetivo promover terra urbanizada e a habitação para famílias de baixa renda. E por fim, o de Habitação de Mercado, que através do mercado privado de imóveis, atendia a famílias com rendimento mensal superior a dois salários mínimos (ALBANO, 2013). Em 2007, foi elaborado pela Secretaria Nacional de Habitação - SNH o Plano Nacional de Habitação - PlanHab, cujo objetivo era orientar o planejamento das ações públicas e privadas para direcionar os recursos para atender as demandas habitacionais, tendo esse plano em longo prazo com revisões periódicas (FERNANDES; SILVEIRA, 2010). Segundo Honda (2011), o PlanHab possuía três etapas significativas, a contextualização, a definição do plano e por último a implementação do plano. O Programa Minha Casa Minha Vida, criado em 2009, com o intuito de financiar unidades habitacionais para famílias com a renda de até mil e seiscentos reais mensais, após o termino da construção, a CAIXA era responsável pelo financiamento das moradias (ALBANO, 2013). O objetivo do Programa Minha Casa Minha Vida era construir um milhão de moradias e ao mesmo tempo gerar empregos através do aumento do investimento da construção civil (FERNANDES; SILVEIRA, 2010). A partir de 2011, o Programa Minha Casa Minha Vida foi incluído no PAC – Programa de Aceleramento e Crescimento, com o objetivo de tornar a política habitacional uma estratégia de desenvolvimento do país. Nisso, os programas de habitação de interesse social estão mais voltados para suprir as necessidades econômicas do país do que suprir o déficit habitacional (KRAUSE, C., BALBIM, R. e NETO, V., 2013). A cidade de Santo Anastácio, objeto de estudo do presente trabalho, seguiu cronologicamente as mudanças das políticas habitacionais no Brasil, o que é perceptível através dos financiamentos dos conjuntos habitacionais. Como exemplo os primeiros conjuntos habitacionais como “Nosso Teto”, “Jardim Vitória Régia” e “Jardim Santa Helena” que foram instalados entre 1984 à 1990 foram financiados por órgãos diferentes como a Caixa Econômica do Estado de São Paulo, a Empresa Municipal de Habitação de Santo Anastácio, Companhia Brasileira da Habitação e pela prefeitura. Já nos anos seguintes com as habitações mais recentes foram financiadas pelo CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano. Desde 2009 a 2016, o Programa Minha Casa Minha Vida entregou 2,3 milhões de unidades habitacionais (segundo dados do website do governo federalhttp://www.brasil.gov.br). Comentado [SH10]: Até quando? Corrigido, até 2016 http://www.brasil.gov.br/ 4. PLANO DIRETOR Na década de 1950 com os problemas de escassez de moradias e outros déficits urbanos, surgiu o Movimento Nacional pela Reforma Urbana, que tinha por objetivo a luta por um desenvolvimento urbano autêntico, visando sempre, como prioridade, à qualidade de vida da população, não se tratando apenas de uma remodelação de um espaço físico, mas uma reforma social e estrutural (SOUZA, 2010). Porém, o mesmo foi paralisado com a ditadura militar, onde os debates sobre as preocupações dos problemas das cidades foram intensamente prejudicados. Somente em meados da década de 1980, esse debate seria retomado, durante o processo de redemocratização (ALBANO, 2013). Neste momento, foi aberta a possibilidade para uma intensa mobilização social, trazendo a oportunidade da sociedade civil apresentar ao congresso propostas legislativas chamada de “emendas populares” (SOUZA, 2010). No decorrer desse tramite, após o congresso receber as emendas, através muitas negociações, finalmente a Constituição foi promulgada em 1988 e a ementa popular apresentada pelo Movimento Nacional pela Reforma Urbana resultou no capítulo da política urbana em dois artigos: 182 e 183, onde foram estabelecidos instrumentos que visam o cumprimento da função social da cidade e da propriedade (CYMBALISTA, 2006). A Lei Federal nº 10.257/2001, conhecida como Estatuto da Cidade, que foi aprovada onze anos depois em tramitação no Congresso Nacional é a Lei Específica que regulamenta o Capítulo de Política Urbana da Constituição Federal (SOUZA, 2010). Encarregada pela constituição de definir o que significa cumprir a função social da cidade e da propriedade urbana, a nova lei delega esta tarefa para os municípios, oferecendo para as cidades um conjunto inovador de instrumentos de intervenção sobre seus territórios, além de uma nova concepção de planejamento e gestão urbanos (ROLNIK, 2001, p.1). Segundo Honda (2011), o Estatuto da Cidade trouxe a possibilidade de aplicar novos instrumentos nos munícipios para um bom uso e aproveitamento do solo urbano. O Estatuto da Cidade contém os princípios norteadores da reforma urbana que devem ser inseridos no Plano Diretor – PD municipal, que se tornou obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, sendo este um instrumento fundamental para o desenvolvimento adequado das cidades (SOUZA, 2010). Este instrumento deve ser discutido e aprovado pela prefeitura de cada município, e no final deve ser promulgado como uma lei Municipal (ROLNIK et al, 2004). O Plano Diretor seria: [...] um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa, da cidade, do município e de sua região, apresentaria um conjunto de propostas para o fututo desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infraestrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para município, propostas estas definidas para curto, médio e longos prazos, e aprovadas por lei municipal (VILLAÇA, 1999, p.2). Para Rolnik (2001), a adoção deste instrumento é como uma salvação para as cidades que enfrentam a expansão horizontal de forma desenfreada, avançando nos locais de alto risco, área de preservação ambiental e outras áreas frágeis. De acordo com o Estatuto da Cidade, é de extrema importância, em quaisquer Planos Diretores, a participação efetiva da população, não somente na elaboração de propostas e sugestões, mas também na implementação de cada proposta, sendo assim, o Plano Diretor se torna um debate para os cidadãos tomarem as decisões, uma forma de ouvir quais as necessidades, e quais providencias devem ser tomadas para o desenvolvimento do seu município (ROLNIK, 2001). E válido salientar que, não é a proposta da reforma urbana distribuiras diretrizes contidas do plano diretor como uma “receita pronta”, ou seja, como algo padronizado e aplicado de forma igualitária em todos os municípios, pelo contrário, cada município deve analisar a sua realidade social, com suas necessidades e problemáticas intrínsecas e, sempre aberto à inovação (ROLNIK et al, 2004). Dentro do contexto da habitação de interesse social, que é o foco da presente pesquisa, a política habitacional deve estar vincula ao Plano Diretor Municipal, onde suas diretrizes são determinadas para cada município (ROLNIK et al, 2004). No dia quatro de outubro de 2007, a prefeitura do Município de Santo Anastácio promulgou a Lei Complementar nº 51, que dispõe o Plano Diretor Urbanístico-Ambiental do referido. Segundo o PDUA de Santo Anastácio (artigo 1º), busca-se cumprir os quesitos gerados no artigo 182/§ 1º da Constituição Federal de 1988 e nas disposições da Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade) tendo como objetivo a ordenação territorial urbana, a proteção ambiental e a justiça social. No Plano Diretor Municipal, no capítulo sobre o ordenamento Territorial, existem diretrizes relacionadas ao direito à moradia, instalação de infraestrutura urbana, transporte, serviços públicos de forma equilibrada e justa para combater os déficits sociais e também proteger e preservar o meio ambiente, patrimônio artístico, histórico, cultural, urbanístico, arqueológico e paisagístico (LEI Nº 51 ART 6º). O Plano Diretor de Santo Anastácio deixa claro que o crescimento da cidade deve ser feito em área já urbanizada, para aproveitar a infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos, com o intuito de reduzir os custos e também para cumprir o objetivo da função social, evitando a segregação espacial (artigo 9º). O capítulo II, da referida lei, que trata do parcelamento do solo dentro da zona urbana, tem o intuito de ocupar os vazios urbanos dentro dessa zona, a fim de aproveitar a infraestrutura instalada e os serviços e equipamentos próximos, gerando mobilidade (LEI Nº 51 PARÁGRAFO ÚNICO). No que se refere ao parcelamento do solo em áreas de Interesse Social, o Plano Diretor afirma que não deve haver um tratamento diferenciado, respeitando as condições de serviço e infraestrutura destinadas à população de baixa renda, sendo igual ou menor a três salários mínimos (LEI Nº 51 ART 49, PARÁGRAFO ÚNICO E ART 50). A política habitacional do Município de Santo Anastácio deve ter como cerne a universalização do direito à moradia digna tendo em conjunto, infraestrutura urbana adequada, equipamentos comunitários, áreas de lazer e áreas verdes a fim de possibilitar uma melhor qualidade de vida aos habitantes (LEI Nº 51, SEÇÃO I – Da Política Habitacional, ART 65, 2007, p.18). Para a busca de justiça social, deve realizar projetos de habitação de interesse social na malha urbana consolidada e dotada de infraestrutura instalada e promover a participação da população em todas as decisões que serão tomadas (LEI Nº 51, ART 66). Rolnik et al, (2004), afirma que, a importância da política habitacional se relaciona com o desenvolvimento social, econômico e territorial do espaço urbano, não se trata somente de construções de conjuntos, mas tem como objetivo suprir as necessidades básicas da população, nas suas carências de moradia e qualidade de vida, promovendo o desenvolvimento social e cultural. Todavia, no dia 23 de outubro de 2013, através da lei complementar nº79, que alterou o Plano Diretor o Perímetro Urbano e a área de zona de expansão urbana do município de Santo Anastácio, bem como outras providencias. Uma das principais providencias tomadas a partir dessa publicação, é a afirmação de que todo parcelamento destinado à habitação social terá de ser necessariamente desconectada do tecido urbano, apresentando uma distância não superior a cento e oitenta mil metros quadrados, uma mudança radical comparado as diretrizes propostas anteriormente. Para completar esse quadro esquemático, resta relembrar o papel, cada vez mais importante, do Estado na produção do espaço urbano. É dele o controle do fundo público para investimentos, e cabe a ele, sob a forma do poder local, a regulamentação e o controle sobre o uso e a ocupação do solo (seguindo, hipoteticamente, planos e leis aprovados nos parlamentos) (MARICATO, 2015,p.25). O Plano Diretor em sua essência visa desenvolver as cidades de forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas e trazendo justiça social, porém analisando o mesmo Plano do município de Santo Anastácio, a sua recente alteração demonstra uma falta de preocupação com a população quando decretam que todo parcelamento de solo deve ser necessariamente desconectada da malha urbana, o que pode trazer sérios problemas sociais, dificuldades de mobilidade urbana e entre outras consequências que está muito longe de promover uma cidade acessível e de qualidade. 5. SEGREGAÇÃO SOCIOESPAIAL Segundo Correa (1995), a segregação na sua mais simples definição, é a concentração de um tipo de população em um determinado território, e esta separação se dá por áreas sociais, que normalmente pode ser determinado por três características: status socioeconômico, urbanização e etnia. Caldeira (2000) afirma que, existem três tipos de segregação, a primeira se dá no final do século XIX até os anos 1940, onde diferentes grupos sociais segregavam em uma determinada área por tipo de moradia; a segunda que foi dos anos de 1940 a 1980, a segregação centro – periferia, onde as camadas sociais eram separadas por grandes distâncias, onde a classe média alta residia nas áreas centrais da cidade dotada de uma boa infraestrutura, enquanto a classe baixa se situava na periferia; e a terceira forma que vem se configurando desde 1980, quando as classes sociais muitas vezes estão próximas, porém, separadas por muros, tecnologia e o acesso à mobilidade urbana. A segregação é um ponto fundamental para compreender a realidade das cidades brasileiras, pois ela expressa a ausência da justiça social que está vinculado à economia e ao poder político, que tem sido um dos maiores problemas do país (VILLAÇA, 2011). Maricato (2015), afirma que, a desigualdade social no Brasil e em toda a América Latina, é resultado de um processo histórico de muitos séculos, pela dominação externa que se aliava com a interna, é o acentuado patrimonialismo da classe dominante. Nos anos onde a industrialização começou a alavancar a economia do país, era possível já perceber a segregação pela localização das classes, por mais próximos que pudessem estar, a burguesia ficava em partes mais altas, e também era nítida a diferença tipológica das moradias, onde a classe de mais alta renda residia em mansões, e as de baixa renda em cortiços superpovoados (CALDEIRA, 2000). Souza (2008) afirma que, desenvolvimento urbano é alcançado com a melhoria da qualidade de vida e a justiça social nas cidades, se houver progresso no sentido econômico, porém os problemas sociais continuam intactos ou até mesmo aumentam, então, não é desenvolvimento urbano. No Brasil, como exemplo, podemos ver essa ausência de desenvolvimento urbano no final do século XIX e no início do século XX quando ocorreram as reformas urbanas em diversas cidades brasileiras procuraram o embelezamento dos seus centros urbanos buscando um padrão europeu, de forma que os centros eram renovados fisicamente e as camadas de mais baixa renda eram expulsas para as franjas das cidades, passando por um processo de embelezamento e segregação territorial (MARICATO, 2008). Isso traz de uma forma clara que as soluções adotadas para a melhoria e “desenvolvimento” das cidades e voltado para interesses e objetivos específicos eram estritamente voltado para a camada de mais alta renda (DEAK e SHIFFER, 1999). O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agriculturacapitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos (SANTOS, 1993, p.10). Por mais que a classe mais baixa viva em situações precárias e desvantajosas em relação às demais classes, a cidade é o lugar onde mantém todos os capitais e todos os trabalhos, fazendo com que as cidades se tornem um polo da pobreza (SANTOS, 1993). Maricato (2008) afirma que, a moradia ilegal corresponde a maior parcela das moradias da população brasileira, e apesar disso, a entrada ao mercado privado é algo muito limitado e restrito, e as políticas sociais não são inclusivas, consequentemente, o que acaba predominando são moradias irregulares. Um padrão de segregação que é comum no Brasil desde 1940 chamado de centro- periferia, tem sido um dos fatores mais marcantes da segregação espacial. As classes sociais vivendo longe uma das outras, as mais abastadas nas áreas centrais e as de mais baixa renda na periferia; automóvel privado para as classes mais altas e transporte coletivo para a classe trabalhadora, gerando então vantagens pra um lado e desvantagem para o outro (CALDEIRA, 2000). Os moradores da periferia sempre tiveram a dificuldade de obter a casa própria, alguns programas habitacionais criados para beneficiá-los como o BNH, no meio do caminho foi redirecionado para classe média, e outros programas que não obtiveram tanto resultado como planejado (CALDEIRA, 2000). A segregação tem sido um “selo” do desenvolvimento urbano onde os interesses privados com fins lucrativos tem sido prioridade, ignorando o assentamento da maior parte da população, enquanto áreas de interesse da renda imobiliária e valorizada, melhorada, vemos as demais áreas a deteriorar (MARICATO, 2008). Comentado [M11]: Ficou solto aqui. O patrimonialismo, impediu o: surgimento da esfera pública, alimentando o fisiologismo, o paroquialismo, o clientelismo e o privilégio que é possível constar até mesmo numa câmara municipal da mais poderosa cidade brasileira como é ocaso de São Paulo, em pleno ano ano 2000 (MARICATO, 2008, p.45). No Plano Diretor do município de Santo Anastácio que é objeto de estudo do presente trabalho, em 2013 passou por uma revisão trazendo consigo novos direcionamentos, exigindo que todo parcelamento de solo deve necessariamente ser desconectado da malha urbana, ou seja, essa revisão está induzindo a fazer justamente o oposto daquilo que é considerado para o desenvolvimento urbano e para evitar a segregação socioespacial. 6. HISTÓRIA DA CIDADE DE SANTO ANASTÁCIO-SP Santo Anastácio é uma cidade de pequeno porte, com aproximadamente 21.044 mil habitantes. Localiza-se no Estado de São Paulo (figura3), na região oeste conhecida como Alto da Sorocabana, onde se concentram uma alta quantidade de atividades agropecuárias (IBGE, 2017). Figura 3 - Localização do município de Santo Anastácio. Fonte: Image:SaoPaulo MesoMicroMunicip.svg 6.1 O município e a região Por volta de 1850 José Teodoro de Souza, o primeiro desbravador do Vale do Paranapanema, trouxe uma abertura de imigração bastante intensa, avolumando o número de habitantes na região sem sessar no início do século (LEITE, 1972). Com a Guerra do Paraguai, muitas pessoas fugiram para o Vale do Paranapanema, já que essa região era famosa pela terra fértil e de longa extensão, e mesmo com fim da guerra, a corrente migratória não sessou, colaborando com o povoamento do local (ABREU, 1972). No início do século XX, cafeeiros e plantadores chegaram ao Vale do Paranapanema para realizar a produção do café, aproveitando o trabalho pioneiro deixado pelos desbravadores do Vale, onde já haviam abertos caminhos e percursos e a população indígena que havia sido dizimada (ABREU, 1972). [...] A expansão cafeeira trouxe uma extraordinária procura de terras virgens e ficaram na mira dos fazendeiros as terras devolutas do extremo oeste de São Paulo. Não era pequeno também o interesse dos fazendeiros impedir o acesso fácil dos imigrantes à terra, de maneira que não fossem desviados da finalidade precípua por que se estimulará sua vinda: servirem de mão de obra para as fazendas de café [...] (ABREU, 1972, p.25). Em 1871, a companhia sorocabana, idealizou a construção de uma ferrovia, cujo itinerário partia do nascente parque siderúrgico de São João de Ipanema, e se dirigia a São Paulo. Nesse tempo começou a surgir uma necessidade maior de transportar as safras cafeeiras, utilizando trilhos para se obter um transporte rápido para o escoamento do café, ou como chamavam na época, o “ouro negro” (JALOTO e JUNIOR, 1995). Abreu (1972), afirma que, a ferrovia não só ajudou do deslocamento do café de forma rápida e com uma fácil comunicação com as cidades, mas também favoreceu a penetração, loteamento e as ocupações do solo. Santos (1993), afirma que, nesse período o Estado de São Paulo se torna um polo dinâmico principalmente por meio da produção do café, e isso fez com que houvesse implementação de estrada de ferro e a criação do meio de comunicação para facilitar o influxo de comércio. Na Alta Sorocabana, a fase econômica inicial foi a do café que, embora efêmera, teve o mérito de atrair colonizador agricultor. Já em meados da década de 30 iniciava-se a fase da policultura. Nos últimos anos, a supremacia da criação de bovinos sobre as lavouras tem sido patente, motivando o esvaziamento de certas áreas ruais e a consequente procura dos centros urbanos mais bem aquinhoados por vias de acesso fácil e serviços (LEITE, 1972, p.9). Com a primeira Guerra Mundial houve uma queda de exportação do café, acarretando em um período de recessão econômica; ao término da Guerra, o mercado consumidor do café reaqueceu, aumentando seu preço, o que em 1918 custava Rs.47$390, em 1919 passou a custar 94$612, com essa mudança significativa a procura por terras, onde muitos migraram para a alta sorocabana onde essas terras eram mais baratas do que as antigas regiões, para a realização do plantio de café que aumentou muito. E nesse período começou a surgir empresas colonizadoras para a realização dos loteamentos (JALOTO e JUNIOR, 1995). Diversos fatores influenciaram para o crescimento da região da Alto Sorocabana com o processo de loteamento, apesar da região ser grande, existia grandes concorrências de empresas colonizadoras de diversas regiões, logo não mediam esforços para divulgar sua mercadoria, como um exemplo muito comum era encontrar nos vagões de trem, cartazes que divulgavam suas terras, exibindo desenhos trens entrando em fazendas ricas em cafezais, com um homem muito bem vestido dialogando com um caipira, “fiquei rico comprando terras na Alta Sorocabana” (JALOTO e JUNIOR, 1995). Outro fator que colaborou com a interiorização dessa região, foi em 1906, onde o Estado de São Paulo promulgou a Lei nº 10450 que disponha sobre a imigração e colonização do território, colaborando também com a interiorização, no contexto da escassez da mão de obra após a libertação dos escravos em 1888 (JALOTO e JUNIOR, 1995). E em decorrência a estrada de ferro, em 1919, foram inauguradas as estações de memória (hoje Regente Feijó e Presidente Prudente), e, em agosto a inauguração da estação Guarucaia (hoje Presidente Bernardes). Na continuidade, no terreno onde seria a próxima estação, se depararam com um corte grande a ser feito, cujo volume da escavação era de 11.300 metros cúbicos, volume grande para época, pois os equipamentos eram precários (JALOTO e JUNIOR, 1995). Na tentativa de solucionar o problema, a equipe da locação voltou várias vezes ao local, em consequências dessas idas e vindas, resultou o nome da estação “Vai e Vem” (JALOTO e JUNIOR, 1995). Todavia, em 25 de julho de 1920, por sugestão do Dr. Fairbanks, essa estação passou a denominar Santo Anastácio, em virtude do rio 1 com o mesmo nome que banhava aquela região e a antiga gleba de terra conhecida como “fazendaSanto Anastácio” ou Gleba Pirapó Santo Anastácio” (JALOTO e JUNIOR, 1995). No dia 9 de setembro de 1917, o engenheiro Silvano Wendel auxiliado pelo agrimensor Francisco Maldonado inicia o alinhamento da cidade, tendo começado pela atual Avenida Dom Pedro II. Porém, vale lembrar que, primeiramente iniciou-se a ocupação dos lotes rurais e só depois os lotes urbanos (JALOTO e JUNIOR, 1995). Com o tempo o núcleo rural foi aumentando e era natural a necessidade de um comércio e assistência de toda ordem e com isso inicia-se a zona urbana, onde se estabeleceram os primeiros moradores e comerciantes locais, e, nessa época, em algumas ocasiões os que adquiriam seus lotes rurais, recebia de doação um lote urbano, com a finalidade de incentivar a colonização e formação de um novo povoado (JALOTO e JUNIOR, 1995). denominado por esse nome porque no dia de sua descoberta do mesmo, era o dia desse santo.1 O rio foi Entre 1926 e 1930 na região da Alta Sorocabana recebe no total de 17.310 mil imigrantes que se distribuíram entre Assis e Presidente Venceslau, um fator que contribui o aumento do número de moradores dessas terras, fortalecendo ainda mais o crescimento de Santo Anastácio (MONBEIG, 1984). Não somente em Santo Anastácio, mas em toda região foram espalhadas pequenas e médias propriedades. Sendo estas numerosas, não estava sendo suficiente o modo de vida de autossubsistência, trazendo então a necessidade de serviços na cidade, influenciando na formação e expansão das cidades (LEITE, 1972). As primeiras residências, comércios e serviços se instalaram na Avenida Dom Pedro II, Osvaldo Cruz, José Bonifácio e em seguida formando na rua Barão do Rio Branco e Visconde de Mauá. O loteamento e o levantamento das primeiras ruas já havia sido feito, e em vista a necessidade de melhor comunicação entre dois loteadores, abriram um caminho entre a coivara existente, formando um trilho que hoje seria o trecho da Avenida Dom Pedro II, junto a praça Ataliba Leonel, e nesse processo começou a surgir comércios e serviços como farmácia, hotel, agência de correio, casas defronte a atual praça Ataliba Leonel ( JALOTO e JUNIOR, 1995). Figura 4 - Local de início do traçado urbano de Santo Anastácio - SP e localização das áreas de implantação das duas primeiras edificações construídas. FONTE: Autores (2016). Com essa aglomeração de comércios, serviços, equipamentos e residências nessas primeiras suas fez então surgiu um núcleo que tornaria o centro tradicional do Município de Santo Anastácio (VILLAÇA, 1998). [...] ela somente se tornará centro ou parte do centro se e quando surgir uma cidade ou povoado em torno dela que faça dela seu centro, isto é, se vier a existir algo do que ela se torne centro (VILLAÇA, 1998, p.238). Com o desenvolvimento de Santo Anastácio, pela lei Estadual nº 1798, de 28 de novembro de 1921, que criou município de Presidente Prudente, cria também o distrito da paz de Santo Anastácio, passando a pertencer àquele município recém-criado, foi considerado a categoria de Vila devido ao número de sua população, porém com o seu progresso começa a surgir novas levas de imigrantes ocorrendo expansões rurais e a pequena Vila aumenta o número de casas e prédios comerciais (JALOTO e JUNIOR, 1995). A estrada de ferro Sorocabana, com a ligação de São Paulo a Presidente Epitácio concluída e inaugurada, proporciona o aumento das levas migratórias em busca de novas terras na região (JALOTO e JUNIOR, 1995). Preenchido todos os requisitos exigidos naquela época, desde a quantidade da população, com número de casas, suas rendas, prédios para repartições públicas, criou-se o município de Santo Anastácio, sendo elevado da categoria de Vila para Cidade (JALOTO e JUNIOR, 1995). A cidade não passava de um pequeno patrimônio, Até meados de 1934 a população anastaciana era aproximadamente de 5 mil habitantes, possuindo 568ncasas em tijolos e madeira (JALOTO e JUNIOR, 1995). Nesse período, Santo Anastácio teve um desenvolvimento econômico significativo pela produção do algodão, onde até os anos de 1940 Santo Anastácio e Presidente Venceslau tinham um rendimento de 600kg/ha de algodão, uma fase surpreendente de produção algodoeira da Alta Sorocabana (LEITE, 1972). Com o desenvolvimento econômico, Santo Anastácio começou a crescer. Com o aumento do número de habitantes, cada vez mais mostrou-se necessário uma organização no traçado da sua cidade, e consequentemente, na sua estrutura urbana. 6.2 Estruturação intra-urbana de Santo Anastácio Em 1936 o prefeito municipal Ariosto Orsine, em seu relatório demonstrou preocupações sobre a necessidade de um plano de urbanização da cidade de Santo Anastácio, “o ideal seria a elaboração de um plano geral de urbanismo, realizado por técnico, para se lhe ir dando aplicação por partes”. A malha urbana da cidade não é irregular, suas quadras e infraestrutura foi planejada, como alguns requisitos, as principais ruas e avenidas largas, fazendo seu traçado de forma homogênea e também um plano de arborização (JALOTO e JUNIOR, 1995). Porém a medida que a malha urbana foi desenvolvendo ela não acompanhou de forma regular como havia sido iniciada, e o plano de arborização não foi preservada, em meados dos anos 60, a influência do urbanismo moderno, foi retirado boa parte da arborização das cidades (JALOTO e JUNIOR, 1995). A área planejada do município de Santo Anastácio é justamente onde se deu origem do centro da cidade e concomitantemente, o local onde a classe dominante ocupava. Isso se assemelha ao conceito do livro “Espaço intra-urbano no Brasil” onde o autor enfatiza que a classe dominante sempre ocupava os lugares mais privilegiados (VILLAÇA, 1998). O município de Santo Anastácio, como cidade interiorana, ela cresce em todas as direções, todavia, ela se expandiu de uma forma significativa na direção sul onde se concentra a maior parte da população, já na direção norte, pouco se desenvolve (JALOTO e JUNIOR, 1995). A ferrovia ela se torna como uma barreira dentro da cidade, ou seja, um lado será escolhido para concentrar as principais atividades comerciais da cidade, geralmente tendo em vista os locais mais vantajosos, com uma topografia menos acentuada (VILLAÇA, 1998). Em Santo Anastácio, na direção sul é onde se encontra o centro da cidade, considerado pelo autor Flávio Villaça em sua obra “Espaço intra-urbano no Brasil” (1998) como “lado de cá”, ou seja, o lado privilegiado, justo a região onde se desenvolve tendo em vista a acessibilidade apresentando menor tempo e custo para deslocamento, já a região norte considerado como o “lado de lá”, onde se tem maior dificuldade para acessar o centro, sendo esta região desvantajosa, não se desenvolve de forma significativa. A Vila Oriente, é o único Bairro existente da cidade na direção norte, ou seja, na área desvantajosa até os dias atuais como Afirma Flávio Villaça em sua obra “Espaço intra- urbano no Brasil”(1998), o “lado de lá”. Tomado pelo desinteresse da classe dominante pelo local, o bairro só comporta um único clube, fora isso, o uso do bairro é residencial. Outro fator que influenciou a expansão na direção sul, segundo Flávio Villaça em sua obra “Espaço intra-urbano no Brasil”(1998) é a relação interurbana, onde a implementação da Rodovia Raposo Tavares traz uma melhoria em relação a acessibilidade e comunicação, com isso a valorização do local influenciando mais ainda o crescimento da cidade nessa direção. Assim, a simples presença da via já significa, imediata e automaticamente, melhoria de acesso. Em virtude dessa facilidade para concretizar o acesso, o automóvel e as rodovias provocam um tipo de expansão urbana distinto da ferrovia, que é rarefeito e menos nucleado (VILLAÇA, 1998, p.82). Segundo a autora Ermínia Maricato em sua obra “Brasil,cidades: alternativas para a crise urbana”(2008), afirma que o automóvel, trouxe uma mudança significativa no modo de vida das pessoas, desde valores, culturas e rotinas. Isso influenciou também na cidade de Santo Anastácio apresentando todas essas mudanças como também mudança na cidade e nas direções de expansão urbana. Figura 5 - Evolução da malha urbana de Santo Anastácio - SP. FONTE: Prefeitura Municipal de Santo Anastácio –SP. Devido à ausência de informações em relação ao registro da fundação de alguns bairros do município, o mapa se encontra de forma incompleta. 6.3 Santo Anastácio e a habitação social Após a formação da área central da cidade, em 1982 e 1984 foi inaugurado os dois primeiros conjuntos habitacionais do município de Santo Anastácio, Jardim Vitória Régia que fica ao lado direito do centro e o Jardim Nosso teto, que fica afastado do centro na direção sul as margens da rodovia Raposo Tavares, deixando um vazio urbano entre o conjunto habitacional e a malha urbana consolidada da cidade (Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo cartório de registro de imóveis do Município de Santo Anastácio -SP). O Jardim Vitória Régia foi construído em um regime de mutirão, onde os próprios moradores que adquiriam o terreno, juntavam amigos e familiares para construírem suas casas, sem nenhum tipo de apoio técnico, viabilizando a obtenção dos materiais de construção, e assim, erguendo as suas casas (BONDUKI, 2004). [...]. As cidades são evidências notáveis dessa formulação teórica, e, nelas, o melhor exemplo talvez seja a contrução da moradia (e parte das cidades) pelos próprios trabalhadores (trabalhadores de baixa renda). Essa construção se dá aos poucos, durente seus horários de folga, ao longo de muitos anos, ignorando toda e qualquer legislação urbanística, em áreas ocupadas informalmente (MARICATO, 2015, p.26). No entanto, houve diversos problemas e reclamações por parte da população que os terrenos não foram sorteados de forma devida, entregando-os para famílias que não possuíam de fato tal necessidade (JORNAL OESTE PAULISTA, 1988). O fato que se dá a autoconstrução e que a habitação dos trabalhadores não é considerada problema ou preocupação para os interesses capitalistas, nem mesmo para o Estado (MARICATO, 2015). Uma política de habitação social devria estabelecer critérios de investimento que dirigissem os subdísios para quem de fato tinha necessidade, definindo a origem dos recursos necessários para cobri-los (BONDUKI, 2004, p. 108). No caso do Jardim Nosso Teto, que foi construído longe da malha urbana consolidada traz então o início da segregação territorial, enquanto a classe mais alta reside nas áreas centrais, privilegiadas pela proximidade e acesso fácil ao serviço, comércio, os moradores do conjunto que são de classe baixa, não desfrutam do mesmo privilégio (MARICATO, 2008). Partimos da constatação que é uma falácia separar a política social do mercado imobiliário especialmente se constatamos que nenhum dos dois responde ou respondeu, historicamente, às necessidades de moradia da maior parte da população do País (MARICATO, 2008, p.130). Já entre 1985 e 1992 começaram a surgir bairros novos, sendo estes: Vila Sanches Postigo que fica próximo ao Jardim Nosso Teto; Vila Ortega e Vila Martins que fica próximo ao Centro; e por fim Jardim Maringá e o Solar das Andorinhas que se encontra na direção oeste (Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo cartório de registro de imóveis do Município de Santo Anastácio –SP). Entre 1993 e 2006, foram implantados mais três conjuntos habitacionais, sendo em sequência: Jardim Santa Helena, localizada no lado oeste da cidade; Jardim Novo Horizonte, que está implantado no lado leste da cidade, onde, posteriormente recebeu um prolongamento do conjunto habitacional em 2002 adicionando mais unidades, dividindo assim Novo Horizonte 1 e 2, sendo esses dois conjuntos separados por uma bacia hidrográfica; e por fim a Vila Moreno que fica próximo ao Novo Horizonte (Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo cartório de registro de imóveis do Município de Santo Anastácio –SP). De 2011 até 2016 foi implantado também mais alguns bairros e o mais recente conjunto habitacional, o Jardim das Orquídeas que está situado na franja urbana da região oeste (Levantamento de registro Da fundação de Bairros realizado pelo cartório de registro de imóveis do Município de Santo Anastácio –SP). Villaça (1998), afirma que, o “funcionamento da sociedade urbana transforma seletivamente os lugares”, isto é, alguns pontos das cidades se tornam mais atrativos do que outros, e consequentemente, tudo o que traz aglomeração em um determinado ponto, gera afastamento. Na Vila Oriente, o único bairro localizado do “lado de lá”, a direção sul após a linha férrea, conseguimos compreender o desinteresse da classe dominante pelo local, visto que, por ser desvantajoso, há uma presença significativa de ocupações irregulares, com ausência de infraestrutura adequada (VILLAÇA, 1998). A segregação com o poder político, econômico e o papel desses poderes na pressão sobre o estado, de modo a promover uma distribuição desigual dos investimentos em infraestrutura (VILLAÇA, 1998, p.151). Segundo a SABESP (www.sabesp.com.br) a Rua Expedicionário José de Souza que se encontra na Vila Oriente (figura 6), é a única rua com ausência de esgoto, sendo esta rua não pavimentada, que acaba trazendo problemas em dias de chuva. http://www.sabesp.com.br/ Contudo, a SABESP sedeu água ao local. O município de Santo Anastácio inteiro possui água, tendo 7392 ligações ao todo, e dentro disso, 118 lotes sem esgoto, sendo a Rua Expedicionário José de Souza e os vazios urbanos existentes onde ainda não realizaram ligações. Caldeira (2000), afirma que, a diferença das classes sociais trás a organização do espaço urbano, através da separação entre essas classes, trazendo então a segregação como uma característica importante das cidades. Em Santo Anastácio, ao analisar o mapa observando aonde se localizam as habitações de interesse social, a organização do espaço urbano através da separação das classes fica nítida, enquanto na área central estão localizadas as camadas da população de mais alta renda, nas áreas periféricas, as de baixa renda (CALDEIRA, 2000). Ao analisar as formas de provisão de moradia desses conjuntos habitacionais que foi erguido através da autoconstrução, ou até mesmo as ocupações irregulares com ausência de infraestrutura, é possível promover um diagnóstico sobre os produtores e promotores aonde favorece uns e outros não, promovendo a segregação territorial (MARICATO, 2008). Santo Anastácio, ainda tem como característica de uma cidade dispersa, ou seja, o padrão de segregação Centro-Periferia, que possui características de uma cidade não concentrada, as classes sociais vivem longe uma das outras, as mais favorecidas nas áreas centrais, e as menos favorecidas na periferia (CALDEIRA, 2000). Esse padrão de segregação, se consolidou nas cidades nas décadas de 1940, onde as cidades se tornará um grande centro industrial do país, como São Paulo, no caso de Santo Anastácio, esse padrão prevalece, pois ainda não atingiu ao padrão de “enclaves fortificados”, ou seja, espaços privatizados para residências, seja fisicamente através de muros ou simbolicamente, já que boas partes da camada de alta renda ainda se localizam na área central (CALDEIRA, 2000). . Figura 6 - Vista aérea com ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua Expedicionário José de Souza Santo Anastácio - SP. FONTE: https://www.google.com.br/maps (2016). Figura 7 - Ocupação irregular no bairro Vila Oriente, Rua Expedicionário José de Souza, Santo Anastácio - SP. FONTE: https://www.google.com.br/maps
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