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EDUCAÇÃO SUPERIOR Modalidade Semipresencial Planejamento Energético São Paulo 2018 Planejamento Energético Pedro Henrique Cacique Braga Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL B795p Braga, Pedro Henrique Cacique. Planejamento energético. / Pedro Henrique Cacique Braga. São Paulo: Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual, 2018. 75 p. Inclui bibliografia ISBN: (e-book) 1. Fontes de energia. 2. Energia e sociedade. I. Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual. II. Título. CDD 333.7932 Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr. Autoria: Pedro Henrique Cacique Braga Revisão Técnica: Vivian Fiori Revisão Textual: Selma Aparecida Cesarin 2018 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual. www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais Planejamento Energético Plano de Aula 9 Unidade 1 – Energia e Sociedade 27 Unidade 2 – Fontes não-renováveis de Energia 43 Unidade 3 – Fontes Renováveis de Energia 57 Unidade 4 – Mercado de Energia no Brasil SUMÁRIO 6 PLANO DE AULA Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. formação acadêmica e atuação profissional, siga Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. 7 Objetivos de aprendizagem Un id ad e 1 Energia e Sociedade » Discutir as relações entre energia e crescimento econômico, observando os recursos e a demanda energética. » Trabalhar com a caracterização do perfil de consumo energético nos setores residencial, comercial, industrial, de transportes, rural e de serviços públicos. Un id ad e 2 Fontes não-renováveis de Energia » Começar a estudar os recursos existentes no Planeta Terra para geração de Energia Elétrica – ou transformação por meio de outras formas de energia. » Abordar os principais recursos não renováveis, fazendo uma análise sobre os aspectos econômicos, sociais e ambientais que envolvem a utilização deles. » Analisar, ainda, os perfis dos consumidores específicos de tais recursos e faremos uma abordagem dos custos para a implantação de centros de geração, bem como para a manutenção de tais centros. Un id ad e 3 Fontes Renováveis de Energia » Descrever os sistemas de energia baseados em fontes renováveis e buscaremos estabelecer um quadro comparativo entre eles, determinando o perfil consumidor e os custos para implantação. » Prezar, também, pelo pensamento crítico sobre a utilização de tais sistemas em substituição das fontes não-renováveis. Un id ad e 4 Mercado de Energia no Brasil » Abordar os seguintes temas: » Demografia; » Macroeconomia; » Grandes Consumidores Industriais; » Autoprodução; » Eficiência Energética; » Poder planejar os nossos recursos de acordo com o que cada região tem a oferecer, a fim de suprir todas as exigên- cias nacionais. Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Pedro Henrique Cacique Braga Revisão Técnica: Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin 1 Energia e Sociedade Energia e Sociedade UNIDADE 1 10 Contextualização A produção e distribuição de energia são uma grande tarefa de uma nação. Garantir que a sua população tenha o necessário para o consumo diário e ainda que as fontes de recursos naturais permaneçam em estados utilizáveis requer planejamento bem específico e detalhado. Uma política energética nacional que garanta o fornecimento nacional, a inserção do país no mercado internacional e ainda contenha práticas de redução da emissão de poluentes deve ser estabelecida. Todo governo possui os seus órgãos de regulamentação para criação e cumprimento das leis estabelecidas pela política nacional. Para criar tal política, é preciso levar em consideração alguns tópicos como: quantidade de recursos presente no território nacional, distribuição das reservas e demanda por região, classe e setor. Além de garantir o bom uso dos recursos, é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de conversão do insumo primário em energia. Para Pensar Para esta Unidade, convido você a refletir sobre as políticas energéticas atuais, determinadas na Lei 9478, de 6 de agosto de 1997, que pode ser consultada em: <http://goo.gl/L9fGYi>. Energia e Sociedade 11 Introdução O domínio sobre os recursos naturais para a geração de Energia foi uma conquista marcante na história da Humanidade. Ao ser analisada a trajetória do ser humano, percebe-se que sua evolução em sociedade sempre foi acompanhada pelo avanço da tecnologia. Seja na produção do fogo, na construção de ferramentas, fabricação de bens duráveis ou nas telecomunicações, entre outras grandes inovações. A corrida incessante pela otimização de tarefas simples ou complexas é seguida de perto pela busca por novas tecnologias capazes de realizar em segundos o que antes era feito em horas, dias ou mesmo semanas. A capacidade humana de realizar suas tarefas passa a ser dependente de novas formas de energia. “Energia é aquilo que permite uma mudanç a na configuraç ã o de um sistema, em oposiç ã o a uma forç a que resiste à esta mudanç a” (VIANA et al., 2012, p.14). A definição proposta por Maxwell, em 1872, permanece válida na atualidade e serve como base para os estudos aqui apresentados. Observe que quando tratada como algo que permite uma mudança na configuração de um sistema, a Energia pode ser entendida como algo que não pode ser criado, mas transformado. “A energia se apresenta de diversas formas, que podem ser convertidas entre si. É importante observar ainda que apenas nos processos de conversã o se identifica a existê ncia de energia” (VIANA et al., 2012, p.15). Com base em tais afirmativas, seguem-se os estudos na tecnologia associada à conversão de energia e sua utilização em sociedade. Planeamento de Sistemas Elétricos O Setor Elétrico brasileiro está em constante evolução. Baseado na geração, transmissão e consumo de energia elétrica, este setor deve ser constantemente avaliado e submetido a políticas e regras que garantamseu melhor funcionamento. A fim de garantir a estabilidade, é necessário equilibrar oferta e demanda de energia nacional. Isso não é feito apenas aumentando a oferta desenfreadamente, seguindo o aumento da demanda. Se assim fosse, as reservas de recursos naturais não suportariam o grande consumo de um país com proporções continentais. É preciso uma tecnologia capaz de utilizar a menor quantidade dos recursos visando à maior produção e menor emissão de poluentes. O planejamento energético do país requer o estudo da demanda e das possibilidades diversas de produção de energia. Sendo assim, foram instituídas entidades para a realização destes planos. Energia e Sociedade UNIDADE 1 12 No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) foi criado para auxiliar o exercício do Poder Executivo, criando normas, acompanhando e avaliando programas federais e implantando políticas para o setor energético. Alguns órgãos relacionados ao MME são: • ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão e comercialização de energia elétrica, de acordo com as políticas e diretrizes do governo nacional; • ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – é o órgão regulador das atividades das indústrias de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Responsável pela execução das políticas nacionais para o setor; • DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral – sua principal atribuição é planejar e fornecer o fomento da exploração mineral e dos recursos geológicos do território nacional; • ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico – é uma entidade sem fins lucrativos com finalidade de gerenciar e controlar as instalações de geração e transmissão de energia elétrica em todo o país. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve propor ao Presidente da República políticas nacionais e medidas para o setor. Já as Secretarias de Planejamento e Desenvolvimento Energético, de Energia Elétrica, de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) devem prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético. O trabalho em conjunto destas entidades garante o planejamento e a execução de políticas nacionais para o melhor atendimento à população. Figura 1. Paradigma de produção e consumo de energia. Energia e Sociedade 13 A Figura 1 relata um paradigma que deve ser observado no planejamento energético: a relação entre demanda, consumo e manutenção dos recursos naturais minimizando a poluição do Planeta. A demanda por energia cresce proporcionalmente ao crescimento da população mundial. A energia é a base para a realização de tarefas simples e diárias individuais e também para a produção de bens duráveis e não duráveis, consumidos pela população. Conforme dito anteriormente, a geração da energia é baseada nos recursos naturais do Planeta. Seu uso desenfreado causaria um esgotamento das fontes de insumos primários para produção. Como consequência da extração dos recursos e dos processos de geração de energia, surgem problemas ambientais relacionados à poluição, como chuva ácida, efeito estufa e muitos outros. É necessário que o planejamento energético garanta o equilíbrio entre estes três pontos, para que a população tenha sua demanda suprida e, ao mesmo tempo, sejam preservadas as fontes naturais para as gerações futuras. Figura 2. Recursos naturais renováveis e não-renováveis. Recursos Renováveis Água Ar Biomassa Vento Minerais não-energéticos (Fósforo, Cálcio, etc) Minerais energéticos (Combustíveis fósseis, Urânio) Não-Renováveis Os recursos naturais podem ser classificados em renováveis e não renováveis. Os primeiros, como o próprio nome diz, são aqueles que se renovam após sua utilização, como água, ar, biomassa e vento, por exemplo. A biomassa pode ser derivada da cana-de-açúcar, do milho, da lenha, do bagaço de cana, dos resíduos sólidos, da mamona etc. No Brasil, por exemplo, há o etanol oriundo da transformação da cana-de-açúcar em álcool como também o os biocombustíveis vindos de mamona, soja e outras oleaginosas. Todos estes são de biomassa. De forma análoga, os não-renováveis são aqueles que, uma vez consumidos, tornam-se inutilizáveis. Neste grupo, encontram-se os minerais não-energéticos, como Fósforo e Cálcio, por exemplo, e os minerais energéticos, como os combustíveis fósseis e o urânio. Energia e Sociedade UNIDADE 1 14 Os combustíveis fósseis são o petróleo e derivados, o carvão mineral, o xisto betuminoso, o gás natural. Para que a utilização seja ótima, é preciso estabelecer uma proporção adequada para cada tipo de recurso, sem que estes se esgotem. Políticas Energéticas O conjunto de normas e políticas, estabelecidas pelos órgãos responsáveis de um país são conhecidas como Políticas Energéticas. No Brasil, o MME estabeleceu, em agosto de 1997, a Lei nº 9.478, art. 1º, que contém toda a política nacional. Figura 3. Política Energética Nacional. A Figura 3 apresenta os principais tópicos da Política Energética Nacional brasileira. O principal motivador da lei é garantir o interesse nacional por meio de três pilares: o Mercado Internacional, o consumidor e o meio ambiente. Toda a política foi escrita a fim de garantir o equilíbrio dos três pontos principais. Explore Veja a Lei nº 9.478, de 1997, art. 1º, na íntegra em: <http://goo.gl/L9fGYi>. Pensando no Mercado Internacional, a política visa a garantir a livre concorrência das concessionárias de energia, de forma a atrair investimentos internacionais. A pesquisa e o desenvolvimento são fomentados para que novas tecnologias sejam desenvolvidas para melhorar a qualidade do serviço e colocar o Brasil entre os grandes nomes no mercado. Energia e Sociedade 15 O consumidor tem grande foco na lei, pois o fornecimento de energia deve ser garantido a ele por diferentes meios. No Brasil, foi estabelecido que as fontes principais de geração para fornecimento direto ao consumidor são: petróleo, gás natural, biocombustível e também fontes alternativas. Por fim, a lei pretende estabelecer ações para preservação do meio ambiente, estimulando a pesquisa em tecnologias para conservação da energia e redução da emissão de gases poluentes. Energia e Crescimento Econômico O crescimento econômico de uma nação envolve muitos fatores, como saúde, educação, comércio exterior, geração, venda e consumo de energia, entre muitos outros. Todos eles possuem indicadores sociais e numéricos capazes de sintetizar o crescimento por área. Uma das organizações sob coordenação do MME é a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), que publica todo ano um documento chamado Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Explore Acesse <http://www.epe.gov.br> para conhecer todos os dados da empresa e do planejamento energético nacional A observação dos dados presentes no anuário nos permite verificar o perfil da geração e do consumo de energia de diversas formas, separadas por setores, regiões geográficas, classes de consumo, entre outros. Além de verificar o que aconteceu durante o ano que passou, é possível determinar os planos energéticos para o próximo período e tomar decisões para mudanças de cursos, caso seja necessário, ou ainda a intensificação do curso existente, caso o ocorrido esteja conforme o planejado. Vamos analisar alguns dados do Anuário de Energia Elétrica de 2014 (com referência ao ano de 2013). Uma primeira análise a ser feita é sobre a capacidade instalada de geração elétrica no panorama mundial. Observe a Tabela 1. Tabela 1. Capacidade instalada de geração elétrica por Região do Mundo. 2007 2008 2009 2010 2011 ∆% (2011/2010) Part. % (2011) Mundo 4,362.5 4,529.5 4,727.7 4,964.5 5,204.7 4.8 100.0 Ásia & Oceania 1,502.7 1,606.5 1,720.8 1,855.3 2,013.8 8.5 38.7 Energia e Sociedade UNIDADE 1 16 América do Norte 1,156.6 1,173.5 1,198.3 1,216.11,230.8 1.2 23.6 Europa 845.0 868.5 895.7 940.6 978.5 4.0 18.8 Eurásia 347.7 346.9 348.3 353.5 357.3 1.1 6.9 América do Sul e Central 231.6 238.6 248.4 259.2 269.9 4.1 5.2 Oriente Médio 161.6 173.5 187.7 206.6 218.5 5.8 4.2 África 117.2 122.0 128.5 133.2 135.8 1.9 2.6 Antártida 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 60.0 0.0 Fonte: EPE. Perceba que o dado mais importante para a nossa análise, neste momento, é a coluna ∆%, que indica a variação em porcentagem da capacidade de cada região. Observe que, no mundo inteiro, tivemos uma variação de quase 5% em crescimento da capacidade de geração elétrica. A região com maior crescimento percentual foi a que compreende Ásia e Oceania, seguida pelo Oriente Médio e América do Sul e Central. Esta análise nos permite dizer que a nossa região teve aumento significativo da produção em relação ao crescimento mundial. Em relação à participação no mercado mundial, América do Sul e Central ocupam a quinta posição, com 5.2% no ano de 2011. Uma vez que é conhecida a participação da região no âmbito mundial, pode-se traçar o perfil de geração do país em suas regiões e estados da federação. Observe a tabela 2 para comparações. Tabela 2. Capacidade instalada por região e unidade da federação (MW). 2013 Part. % (2013) Brasil 126,743 100.0 Norte 16,869 13.3 Rondônia 2,165 12.8 Acre 189 1.1 Amazonas 2,475 14.7 Roraima 99 0.6 Pará 9,136 54.2 Energia e Sociedade 17 Amapá 361 2.1 Tocantins 2,444 14.5 Nordeste 22,137 17.5 Maranhão 2,366 10.7 Piauí 199 0.9 Ceará 2,607 11.8 Rio Grande do Norte 930 4.2 Paraíba 641 2.9 Pernambuco 2,655 12.0 Alagoas 4,028 18.2 Sergipe 1,703 7.7 Bahia 7,006 31.6 Sudeste 42,204 33.3 São Paulo 18,149 43.0 Minas Gerais 14,254 33.8 Espírito Santo 1,558 3.7 Rio de Janeiro 8,243 19.5 Sul 29,610 23.4 Paraná 17,230 58.2 Santa Catarina 5,377 18.2 Rio Grande do Sul 7,003 23.7 Centro-Oeste 15,923 12.6 Mato Grosso do Sul 5,412 34.0 Mato Grosso 2,728 17.1 Goiás 7,736 48.6 Distrito Federal 47.0 0.3 Energia e Sociedade UNIDADE 1 18 Ao observar a participação das cinco regiões do país, percebe-se a distribuição apresentada no Gráfico 1. Pode-se dizer que, juntas, as regiões Sul e Sudeste produzem mais da metade de toda a energia elétrica do país. Gráfico 1. Capacidade instalada por região do Brasil. Fonte: EPE. Além de verificar a produção por região, ao desenvolver um perfil energético do país, precisa- se averiguar a geração por fonte. Observe o Gráfico 2, criado com os dados fornecidos pelo Anuário de 2014. Gráfico 2. Geração Elétrica por fonte no Brasil (GWh) - 2014. Fonte: EPE. Energia e Sociedade 19 Observando verifica-se que a energia hidráulica é a predominante no Brasil quanto tratamos de energia elétrica. Notas I) Inclui autoprodução; II) Derivados de petróleo: óleo diesel e óleo combustível; III) Biomassa: lenha, bagaço de cana e lixívia; IV) Outras: recuperações, gás de coqueria e outros secundários. Observando o gráfico 2, nota-se que o Brasil possui a maior capacidade de geração de energia elétrica por fontes hidráulicas. São quase 70% de toda a capacidade nacional. Em seguida, tem-se a geração por gás natural e biomassa (lenha, bagaço de cana e lixívia). Graças ao bom potencial hidráulico brasileiro, podemos gerar nossa energia de forma mais limpa, reduzindo os riscos ambientais. É interessante perceber que ainda assim são utilizadas outras fontes para suprir regiões com bacias hidrográficas com rios com baixo potencial hidráulico, o suficiente para criação de usinas hidrelétricas e ainda para possíveis falhas do sistema, causadas por grandes secas, por exemplo. Uma vez observada a geração, deve-se analisar também o consumo, para determinar se uma região é auto-sustentável ou se é preciso que a distribuição de outra região se estenda para ela. Por conta disso, criou-se no Brasil o SIN- Sistema Interligado Nacional e boa parte das regiões brasileiras está interligada, de modo que se falta energia em uma região a outra pode produzir para o sistema e assim não falta energia. A Tabela 3 apresenta o consumo nacional por região. Tabela 3. Consumo por região geográfica (GWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0 Norte 24,083 26,237 27,777 29,115 30,196 3.7 6.5 Nordeste 65,244 71,197 71,914 75,610 79,907 5.7 17.2 Sudeste 204,555 222,005 230,668 235,237 240,084 2.1 51.8 Sul 65,528 69,934 74,470 77,491 80,392 3.7 17.4 Centro- Oeste 24,896 26,310 28,205 30,718 32,756 6.6 7.1 Fonte: EPE Energia e Sociedade UNIDADE 1 20 A fim de entender melhor os dados apresentados nas tabelas 2 e 3, criamos um gráfico que apresenta os dados de geração e consumo das regiões brasileiras. Observe o Gráfico 3 para a comparação dos dados. Gráfico 3. Comparação da geração e do consumo de energia por região do Brasil. Com a análise do gráfico, pode-se observar que a geração esteve acima do consumo em quase todas as regiões, com exceção da região Sudeste, que teve um consumo maior do que a própria geração, e da Região Nordeste, que teve praticamente o mesmo consumo que a capacidade gerada. Contudo, a geração total ainda foi superior à demanda nacional. Este excedente pode ser vendido a países vizinhos, por exemplo, o que acontece com frequência por intermédio da Usina Binacional de ITAIPU. Esta usina hidrelétrica pertence ao Brasil e ao Paraguai. Parte da energia gerada por um pode ser destinada ao outro em caso de excesso ou necessidade. Na maior parte do tempo o Brasil importa do Paraguai. Até então, foram analisados apenas dados de geração e consumo. Mas como isso afeta o bolso do consumidor? Vejamos a evolução da tarifa cobrada pela energia no país. Observe a tabela 4. Tabela 4. Tarifa média por região (R$/MWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Média Brasil 259.55 264.58 278.47 292.85 254.17 -13.2% -2.1% Energia e Sociedade 21 Norte 287.95 261.68 294.96 321.17 276.68 -13.9% -3.9% Nordeste 255.87 262.96 278.79 297.09 250.26 -15.8% -2.2% Sudeste 269.87 273.70 281.90 294.78 259.76 -11.9% -3.7% Sul 233.74 248.50 266.68 277.23 235.15 -15.2% 0.6% Centro- Oeste 248.84 253.89 274.37 290.41 257.81 -11.2% 3.6% Fonte: EPE. Comparando os dados das tabelas anteriores, percebe-se que mesmo que algumas regiões tenham um crescimento na geração e consumo de energia, a tarifa não segue uma proporção igualitária. Observe que a região que teve a maior queda na tarifa foi também a que apresentou menor consumo e uma das de menor geração: a região Norte. Em compensação, a região Sudeste, maior produtora e consumidora teve a segunda maior queda de tarifa. Ou seja, não é possível determinar a tarifa apenas pelos fatores oferta e demanda. Deve-se levar em consideração ainda todos os gastos com fornecimento, proporção dos sistemas alternativos e outros fatores para o cálculo da tarifa regional. Perfi l de Consumo Energético Outra análise relevante é feita a fim de traçar o perfil de consumo energético por classe, isto é, residencial, comercial, industrial etc. Tabela 5. Consumo por classe (GWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0 Residencial 100,776 107,215 111,971 117,646 124,896 6.2 27.0 Industrial 161,799 179,478 183,576 183,475 184,609 0.6 39.8 Energia e Sociedade UNIDADE 1 22 Comercial 65,255 69,170 73,482 79,226 83,695 5.6 18.1 Rural 17,304 18,906 21,027 22,952 23,797 3.7 5.1 Poder público 12,176 12,817 13,222 14,077 14,608 3.8 3.2 Iluminação pública 11,782 12,051 12,478 12,916 13,512 4.6 2.9 Serviço público 12,898 13,589 13,983 14,525 14,847 2.2 3.2 Próprio 2,319 2,456 3,295 3,354 3,372 0.5 0.7 Fonte: EPE. A Tabela 5 nos permite dizer que ao longo dos últimos cinco anos a classe que obteve maior variação no consumo foi a Residencial. Observe que em 2009 ela consumia cerca de 101GWh enquanto que em 2013o consumo chega a 125 GWh, uma variação de 6,2%. Apesar dos valores da classe Industrial serem sempre muito elevados, sua variação foi relativamente pouca, com o valor de 0,6%. O setor comercial teve também um grande crescimento de 5,6%, o que deixa o terceiro lugar para a iluminação pública, com 4,6%. Gráfico 4. Consumo livre por classe em 2013 (GWh). Fonte: EPE. O Gráfico 4 apresenta, então, a distribuição do consumo por classes, em 2013. É fácil perceber a grande participação das classes industrial e residencial no consumo total. De um total de 463,335GWh consumidos no país, juntos consumiram 309,505, equivalentes a quase 67%. Energia e Sociedade 23 A tarifa também deve ser diferenciada para cada classe. Observe a Tabela 6, que apresenta os valores por setor. Tabela 6. Tarifas médias por classes de consumo (R$/MWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Residencial 293.33 300.56 315.64 333.44 285.00 -14.5% -2.8% Industrial 228.35 231.89 245.54 257.34 222.88 -13.4% -2.4% Comercial 279.79 284.82 295.16 307.52 269.29 -12.4% -3.8% Rural 188.87 198.29 211.62 219.83 193.89 -11.8% 2.7% Poder Público 299.82 300.22 315.87 329.72 286.09 -13.2% -4.6% Iluminação Pública 163.65 166.39 174.64 182.54 161.27 -11.7% -1.5% Serviço Público 202.96 198.69 209.39 219.20 192.91 -12.0% -5.0% Consumo Próprio 294.37 284.42 309.73 322.51 282.76 -12.3% -3.9% Fonte: EPE Observa-se pela Tabela 6 que a maior tarifa em 2013 foi para o Poder Público, enquanto a menor foi para a Iluminação Pública, com uma diferença entre elas de R$124,82 para cada MWh. Se fizermos as contas de consumo pela tarifa, observaremos que a classe Industrial, maior consumidora, gastou pouco mais de 41 bilhões de reais, enquanto a classe residencial gastou cerca de 35 bilhões. Conclusões Apresentamos nesta Unidade as principais análises sobre o perfil consumidor nacional, as políticas energéticas e tarifas dos últimos anos. O planejamento energético nacional, normalmente pensado para 3 a 5 anos, deve levar todos estes fatores em consideração. Energia e Sociedade UNIDADE 1 24 É importante que estes dados estejam sempre atualizados; por isso, faz-se necessária a existência dos órgãos de pesquisa e manutenção dos dados, como a Empresa de Pesquisa Energética, por exemplo. Garantir que a energia chegue ao consumidor final com o menor custo possível, requer um planejamento detalhado de como ela deve ser gerada e transmitida, distribuindo a carga entre as diferentes usinas instaladas no país. Esta pode não ser uma tarefa fácil, em vista das muitas variáveis, mas, certamente, se bem feita, garantirá a menor tarifa possível e a maior qualidade do serviço prestado. Para Pensar Com base na análise dos dados que foram apresentados sobre os setores e classes com maior consumo, as regiões que mais produzem energia elétrica e as tarifas pagas por ela, você consegue pensar em uma estratégia para a melhoria do sistema? Essa melhoria pode ser desde a redução das tarifas até o melhor fornecimento de energia em âmbito nacional. Energia e Sociedade 25 Material Complementar Explore AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3 ed. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 2008. Disponível em: https://goo.gl/K1gbNc AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. Anuário estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis. Ministério de Minas e Energia, 2015. Disponível em: https://goo.gl/g4juk3 MINISTÉRIO DE MINAS DE ENERGIA (MME). Resenha energética brasileira. Brasília: MME, 2014. Disponível em: https://goo.gl/MnhD5Q PEREIRA, Vicente de Britto. Transportes: História, crises e caminhos. São Paulo: Civilização Brasileira, 2014 (e-book). “Planejamento Integrado de Recursos Energéticos”, Gilberto de Martino Jannuzzi, Ed. Autores Associados, 1ª ed. Sugere-se a leitura do primeiro capítulo do livro Planejamento Integrado de Recursos Energéticos, de Gilberto de Martino Jannuzzi, que aborda questões sobre o que deve conter um documento de planejamento. Energia e Sociedade UNIDADE 1 26 Referências ANEEL – Agência Nacional De Energia Elétrica (BRASIL). Atlas de energia Elé trica do Brasil/Agê ncia Nacional de Energia Elé trica. Brasí lia: Aneel, 2008. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: EPE, 2014. VIANA, A. N. C.; et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI, 2012. Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Pedro Henrique Cacique Braga Revisão Técnica: Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin 2 Fontes não-renováveis de Energia Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 28 Contextualização No mundo em que vivemos, a utilização de eletrodomésticos, computadores, smartphones e outros dispositivos eletrônicos tornou-se essencial para a maior parte da população. Muitos consideram impossível viver sem estas comodidades. A utilização destes bens só é possível graças à energia elétrica que nos é fornecida. O mundo atual sem energia elétrica precisaria ser completamente reformulado. Imagine escolas, hospitais ou até mesmo a sua casa sem energia. Quando experimentamos uma interrupção do serviço, imediatamente nos vemos sem o que fazer, não é mesmo? Quando pensamos na energia elétrica, devemos saber que ela é obtida pela transformação de outras formas de energia, como a energia mecânica, por exemplo, gerada pela movimentação de turbinas por meio da combustão de minerais. Mas e o que aconteceria se um dia os recursos para conversão de energia se acabassem? Como geraríamos energia elétrica se todo o carvão mineral, o xisto, urânio, petróleo e todos as outras fontes se esgotarem? Esta Unidade aborda as formas de geração de energia elétrica por meio de fontes não- renováveis, ou seja, aquelas que podem se esgotar em algum momento. Fontes não-renováveis de Energia 29 Introdução O que você faria se toda a energia elétrica do mundo acabasse e não houvesse mais maneiras de gerar energia? Provavelmente entraria em pânico no começo, não é mesmo? Esse cenário apocalíptico bem explorado em filmes e séries televisivas não é uma simples ficção, sem uma boa base teórica. O mundo vive atualmente uma fase de completa dependência da energia elétrica. Claro que existem vilas e comunidades que optam por não utilizar esta “facilidade” do mundo moderno, mas a grande maioria da população depende deste serviço para realizar suas tarefas diárias. Desde um banho com água quente, luz nos períodos noturnos, uso de bens de entretenimento, como a televisão, ou rádio, até mesmo o acesso à educação a distância, os afazeres cotidianos só podem ser executados por meio da energia elétrica. Imagine como seriam as práticas hospitalares sem os equipamentos eletrônicos de hoje. Sem uma máquina de tomografia computadorizada, muitas pessoas não sobreviveriam a enfermidades que sequer seriam diagnosticadas. Ou ainda um respirador eletrônico não poderia manter vivos pacientes terminais. Como seriam as negociações financeiras entre países sem o uso de telefones, ou da rede mundial de computadores? O transporte entre regiões distantes ainda seria feito por meio de navios ou trens vapor. Sem dúvidas, o avanço tecnológico só é possível hoje graças a esta forma de energia. Sem ela, provavelmente, estaríamos estagnados no tempo, vivendo as mesmas práticas antigas e nem sempre eficazes. “Sabemos que as principais fontes de energia em uso atualmente: movimento das águas e do ar, o calor produzido por reações químicas ou nucleares e a luz solar são toda conversíveis por meio de dispositivos adequados em energia elétrica. Esta por sua vez, depois de servir como ‘intermediária’ até os locais de consumo, é convertida em outras ‘formas’ desejadas.” (BUCUSSI, 2007) Os processos de geração, assim, são baseados na conversão de energia mecânica em elétrica. Para produção da primeiraetapa, geralmente é usada a combustão de minerais energéticos, fissão nuclear e queima de outros insumos. Observe que, para todos os meios, é necessário o consumo de uma substância única, conhecida como insumo primário. Tal substância pode ser algo renovável ou não, isto é, pode ser reposta naturalmente pelo Planeta após o seu uso ou não. Esta unidade abordará os meios de geração de energia através dos recursos não-renováveis. Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 30 Recursos Naturais Com o avanço tecnológico o homem tornou-se capaz de gerar energia elétrica por meio de diferentes métodos. Independente de como o processo é realizado, ele começa por meio da transformação de um recurso natural. Pode-se classificar os recursos naturais em duas grandes categorias: Renováveis, que estão constantemente sendo repostos pelo planeta; e Não-renováveis, que aos poucos vão se esgotando. Dentre os recursos não renováveis a Figura 1 destaca alguns que caracterizam as principais fontes geradoras mundiais, como petróleo, gás natural, carvão, xisto e urânio. Figura 1 - Principais fontes não-renováveis Renováveis Petróleo Gás Natural Carvão Xisto Urânio Não-Renováveis Recursos Pensando pelo lado ambiental, seria sempre mais adequado utilizar recursos naturais renováveis, como água e vento, por exemplo, de modo que toda a geração seria um pouco mais sustentável e não acabaríamos com nenhum recurso do Planeta. Ainda assim, mesmo os recursos considerados renováveis não devem ser usados de maneira desmedida, pois mesmo a água, por exemplo, considerada um recurso renovável pode diminuir em certos momentos ou lugares a ponto de não se poder produzir energia hidráulica. Na prática, veremos que essa prática nem sempre é possível. Seja por motivos econômicos, ou por baixo potencial renovável de uma nação ou outra, ou ainda pela eficiência de determinado método, as fontes não renováveis ainda assumem um grande papel na geração mundial. Estudaremos os principais métodos e criaremos alguns comparativos sobre eles para caracterizarmos os perfis consumidores. Processos de Produção Para entendermos o funcionamento das usinas de geração de energia elétrica, precisamos conhecer alguns processos da termodinâmica que formam a base de tais indústrias. Fontes não-renováveis de Energia 31 Ciclo de Rankine Um dos modelos da termodinâmica que explicam a geração de energia por meio de calor é o Ciclo de Rankine. Este modelo é a base para as usinas térmicas de vapor. “Os ciclos térmicos de potência são uma sequência de processos termodinâmicos (mudanças de estados). Em particular, os ciclos de potência são utilizados para converter energia térmica em trabalho, empregando usualmente como fluídos gases e água, sendo que no último caso os ciclos são denominados ciclos a vapor, ou ciclo Rankine. Este tipo de sistema de potência permite converter a energia de combustíveis de baixo custo em eletricidade.” (ELETROBRÁS/PROCEL) O ciclo de Rankine foi proposto por William J. Macquorne Rankine e é tido como o primeiro ciclo termodinâmico que permite efetivamente obter trabalho do vapor. Este ciclo é composto pelos elementos: • caldeira de vapor; • turbina a vapor; • condensador; • aquecedores de água de alimentação; • bombas necessárias para a circulação da água. O processo consiste na movimentação de um líquido (normalmente água), que sai do condensador e é pressurizado por uma bomba para que entre na caldeira. O calor da caldeira (obtido pela queima de algum combustível) faz com que a água evapore, movimentando a turbina, produzindo assim energia mecânica. A turbina é conectada a um conversor que transforma a energia mecânica em elétrica. O líquido segue seu fluxo pelo condensador, recomeçando o processo. Figura 2 - Esquema de uma usina a vapor simples que opera segundo o ciclo de Rankine Caldeira Turbina Condensador Bomba G qout qint 3 2 1 4 Fonte: (ROCHA et. al., 2012) Segundo ROCHA et. al., os processos que compõem o ciclo de Rankine são: • 1-2: Processo de bombeamento adiabático reversível na bomba. • 2-3: Transferência de Calor a pressão constante na caldeira. Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 32 • 3-4: Expansão adiabática reversível na turbina. • 4-1: Transferência de calor a pressão constante no condensador. O rendimento do ciclo (parcela de calor convertida em energia elétrica) depende, assim, diretamente da condição do vapor que chega à turbina. Quanto mais elevadas a temperatura e a pressão, maior a eficiência do processo. Petróleo “O petró leo é um ó leo inflamá vel, formado a partir da decomposiç ã o, durante milhõ es de anos, de maté ria orgâ nica como plantas, animais marinhos e vegetaç ã o tí pica das regiõ es alagadiç as, e encontrado apenas em terreno sedimentar. A base de sua composiç ã o é o hidrocarboneto, substâ ncia composta por carbono e hidrogê nio, à qual podem se juntar á tomos de oxigê nio, nitrogê nio e enxofre, alé m de í ons metá licos, principalmente de ní quel e vaná dio.” (ANEEL, 2008) Os óleos derivados do petróleo são, atualmente, os principais insumos primários de geração de energia elétrica em todo o planeta. Observe na Figura 3 a distribuição de suas reservas pelo mundo. É fácil perceber a grande influência dessas localizações na politica e economia de muitos países. A briga pela sua exploração é um dos grandes fatores das guerras existentes no Oriente Médio, mas também representa o grande poder das maiores nações. O Brasil mantém uma boa posição no ranking dos maiores produtores, tendo a Petrobrás como empresa nacional de exploração. Figura 3 - Reservas provadas de petróleo em 2007 (milhões de toneladas). Fonte: (ANEEL, 2008) O processo de produção de energia por meio de derivados do petróleo é semelhante ao ciclo de Rankine, exposto anteriormente. Observe na Figura 4 um esquema de como é montada uma planta de geração por meio da combustão de derivados do petróleo. A identificação dos elementos do Ciclo de Rankine é simples e direta. Tem-se a caldeira no começo da imagem, que é ligada à bomba de água. A turbina se localiza à direita da Fontes não-renováveis de Energia 33 chaminé e está conectada ao gerador de energia. A água que passa pela turbina é submetida ao condensador para que volte ao ciclo. Observe ainda que o gerador de energia elétrica por meio da energia mecânica está conectado aos transformadores, que garantem a tensão de saída desejada, passando pelos disjuntores, que mantém a segurança da instalação e, em seguida, seguem as linhas de distribuição. Figura 4 - Perfil esquemático do processo de produção de energia elétrica a partir do petróleo. Fonte: (ANEEL, 2008) Como todo processo de queima, estas usinas liberam gases poluentes na atmosfera. Quanto mais denso o combustível utilizado, maior o potencial de emissões. Por este motivo, ambientalistas tendem a rejeitar a produção através da queima de óleos combustíveis, diesel e ultraviscoso. Nos últimos anos, os investimentos em pesquisa para que a emissão de poluentes seja reduzida tem aumentado, a fim de estabelecer um processo menos nocivo ao meio ambiente. Segundo dados estatísticos lançados pela BP em seu Relatório Estatístico de 2014 (referente ao ano de 2013), no Brasil houve queda na produção de petróleo (-1.7%). O Brasil foi responsável por 2,7% do total de petróleo produzido no mundo em 2013. Figura 5 - Geração Térmica a Derivados de Petróleo no Mundo em 2011 - 10 maiores(%). Fonte: EPE, 2014 Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 34 A Figura 5 apresenta os principais países geradores de energia por derivados do petróleo em 2011. Gás Natural Pode-se dividir os processos de geração de energia por gás natural em duas categorias: geração exclusiva e co-geração (quando utiliza-se também o calor e o vapor utilizado em processos industriais. O primeiro passo do processo consiste em misturar ar comprimido com o gás natural, a fim de se obter combustão, o que resultana emissão de gases em alta temperatura. Tal processo movimenta um turbina. A partir de então, o processo é semelhante às demais formas de geração: a energia mecânica é convertida em elétrica. A Figura 6 apresenta o perfil de uma usina elétrica com base em gás natural. Observe que a entrada do gás natural é combinada com a entrada de ar comprimido nas câmaras de combustão. A turbina é movimentada pelo resultado do processo térmico. Por estar conectada a um gerador, transforma energia mecânica em elétrica que é transformada para a tensão de distribuição. Figura 6 - Perfil esquemático do processo de produção de energia elétrica a partir do gás-natural. Fonte: (ANEEL, 2008) O que é feito com o gás após a movimentação da turbina determina se é um processo simples (aberto) ou combinado (fechado). No ciclo aberto, mais comum, os gases são resfriados e liberados na atmosfera. Já no ciclo fechado, os gases ainda em alta temperatura são transformados em vapor, movimentando novamente as turbinas. Assim, as termelétricas de ciclo fechado operam tanto com o processo movimentação pelo gás quanto pela movimentação por vapor. O processo combinado aumenta a eficiência energética da usina, mas requer um investimento maior. No ciclo simples, o grau de eficiência é de aproximadamente 39%, enquanto o combinado chega a aproximadamente 50%. Trata-se de um processo relativamente novo no Brasil (década de 80). Fontes não-renováveis de Energia 35 A co-geração é feita com o uso de qualquer outro combustível viável para termelétricas (óleo, biomassa, carvão, etc). A queima do combustível gera os gases que passam por todo o processo descrito acima, permitindo simultaneamente a geração térmica e por vapor. São pontos favoráveis para a co-geração: • utilização de energia normalmente descartada em processos térmicos; • independência em relação ao combustível utilizado, fornecido por terceiros; • redução do volume de gases liberados na atmosfera. No período de 2009 a 2013 a geração por gás natural teve um crescimento de 47,6%, o que garantiu no ano de 2013 uma participação de 12,1% na geração total de energia no país. Observe os dados das demais fontes na Tabela 1 Tabela 1 - Geração elétrica por fonte no Brasil (GWh). Fonte: Balanço Energético Nacional - BEN 2014; Elaboração: EPE. 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % Total 466,158 515,799 531,758 552,498 570,025 3.2 (2013) Gás Natural 13,332 36,476 25,095 46,760 69,003 47.6 100.0 Hidráulica (i) 390,988 403,290 428,333 415,342 390,992 -5.9 12.1 Derivados de Petróleo (ii) 12,724 14,216 12,239 16,214 22,090 36.2 68.6 Carvão 5,429 6,992 6,485 8,422 14,801 75.7 3.9 Nuclear 12,957 14,523 15,659 16,038 14,640 -8.7 2.6 Biomassa (iii) 21,851 31,209 31,633 34,662 39,679 14.5 2.6 Eólica 1,238 2,177 2,705 5,050 6,576 30.2 7.0 Outras (iv) 7,640 6,916 9,609 10,010 12,244 22.3 1.2 Notas: i) Inclui autoprodução ii) Derivados de petróleo: óleo diesel e óleo combustível iii) Biomassa: lenha, bagaço de cana e lixívia iV) Outras: recuperações, gás de coqueria e outros secundários Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 36 Quanto as reservas mundiais de gás natural, observe a Figura 7. Percebe-se que os grandes reservas se encontram na Ásia, seguida pela Oceania e América do Norte, principalmente. Um dos motivos de a geração por gás natural não ter uma significância maior no Brasil é o fato de não termos maiores reservas. Figura 7 - Reservas de Gás Natural no mundo em trilhões de m3. Fonte: (ANEEL, 2008) Energia Nuclear De forma simplificada, a geração de energia por meio de fontes nucleares se dá pela fissão de um átomo. Neste processo de divisão atômica, o átomo libera energia, que quando liberada lentamente produz calor e quando liberada rapidamente, produz luz. É muito importante ressaltar que trata-se de um procedimento de alto risco e que a toda cautela durante sua execução é pouca. Quando o Urânio (U235) é bombardeado por um feixe de nêutron, é gerado um isótopo seu, o Urânio (U236). Este, quando bombardeado novamente, desintegra-se em Bário (Ba141) e Criptônio (Kr92), liberando energia e mais nêutrons. Se este processo é descontrolado, uma sequência de reações é desencadeadas, podendo gerar uma carga enorme de energia, que não é suportada pela usina. Uma bomba atômica então é produzida. O processo de geração então é semelhante aos ante- riores que levam o ciclo de Rankine. O calor gerado pela fissão nuclear aquece a água, que por sua vez se torna vapor, movimentando as turbinas. A Figura 8 apresenta o perfil esquemático de uma usina nuclear. Ainda observando os dados da Tabela 1, percebe-se que de 2009 a 2013, a geração nuclear teve uma queda de 8,7%, representando uma participação de 2,6% apenas na geração total de energia no Brasil. O maior consumo de energia nuclear ainda se encontra na Ásia e América do Norte. Figura 8 - Perfil esquemático de uma usina nuclear. Fonte: (ANEEL, 2008) Fontes não-renováveis de Energia 37 Carvão O processo de geração por carvão é semelhante aos demais que se baseiam no ciclo de Rankine. A queima do carvão é a base para a geração do vapor que movimenta a turbina. A Figura 9 apresenta o perfil esquemático de uma usina de geração por carvão natural. Figura 9 - Perfil esquemático do processo de geração de energia elétrico por meio do carvão mineral. Fonte: (ANEEL, 2008) O interessante da geração por carvão natural é a co-geração, que pode aproveitar o calor gerado e a emissão dos gases para movimentação das turbinas. Atualmente existem muitas pesquisas afim de aumentar o poder calorífico do carvão, para aumentar a eficiência energética do processo. A queima do carvão foi uma das primeiras formas de geração dominadas pelo homem. Ao longo do tempo perdeu espaço para outras fontes, como petróleo ou gás natural, mas ainda ocupa uma boa parcela na geração. No Brasil, por exemplo, teve um crescimento de 75,7% de 2009 a 2013, mas apesar disso é responsável por apenas 2,6% da geração total. (Vide Tabela 1) Figura 10 - Tipos de carvão, reservas e uso. Fonte: (ANEEL, 2008) Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 38 Conforme apresentado na Figura 10, 53% do das reservas mundiais são de carvão com alto teor de carbono. O carbono utilizado para geração energética se encontra nos 47% restantes. Destes, o linhito (17%) é usado na geração local e o sub-betuminoso (30%) tem maior valor térmico e, por isso, mais comercializado. Figura 11 - Reservas mundiais de carvão mineral - 2007 (em milhões de toneladas). Fonte: (ANEEL, 2008) Observe a figura 11, na qual encontram-se as maiores reservas de carvão no mundo e qual a participação do Brasil. Xisto Xisto é o nome dado a vários tipos de rochas metamórficas (apresentadas em muitas formas). São facilmente identificadas por serem laminadas. O Xisto betuminoso é uma excelente forma de combustível. Quando submetido a altas temperaturas produz um óleo semelhante ao petróleo. Deste óleo se extraem nafta, óleo combustível, gás liquefeito, óleo diesel e gasolina. A queima de tais produtos movimenta as usinas geradoras de energia. O gás de xisto, presente no interior destas rochas sedimentares porosas é uma outra fonte de energia a ser explorada. O processo de obtenção do gás é polêmico, pois envolve o chamado fraturamento hidráulico, que consiste em introduzir água, areia e outros produtos químicos (tóxicos) nas reservas, o que permite que o gás flua e seja capturado para a geração. Os Estados Unidos vêm utilizando este processo, o que tem causado uma verdadeira revolução energética no país, que visa sua autossuficiência até 2030. O gás de xisto por lá tem se mostrado bem barato, perdendo apenas para o carvão. Fontes não-renováveis de Energia 39 Entre os riscos de exploração do gás de xisto estão: • contaminação da água; • tremores de terra; • mortandade animal; • emissão fugitiva de metano. Desde junho de 2013 as reservas de xisto no Brasil estão em constante atençãono mercado mundial. Até então não existe uma legislação para seu uso no país e não se sabe ao certo como devem acontecer as explorações. Acompanhe a reportagem da Revista Exame sobre os leilões de 2013: • https://goo.gl/nJGbrq Conclusões Muitas conclusões podem ser tomadas a respeito das fontes não renováveis de energia. Pelo ponto de vista ambiental, são fontes que devem ser evitadas, já que apresentam reservas finitas de insumos primários. Também são alarmantes os níveis de poluição causados pelos processos de extração e geração atuais. Como a combustão é o principal método, muitos gases são liberados diariamente na atmosfera. Do ponto de vista econômico, algumas delas são as melhores fontes, pois possuem insumos mais baratos. Entretanto, os métodos de geração podem ser encarecidos quando usada a co- geração. Qualquer alteração nos investimentos reflete em acréscimo na tarifa repassada ao consumidor. Quando analisado por olhos políticos, vários problemas são encontrados, como a disputa pelo controle de reservas, por exemplo. O Oriente Médio, por exemplo, apresenta grandes reservas de fontes não-renováveis, o que atrai a cobiça das grandes nações pelo controle da região que, por este e outros motivos está em constante guerra. O planejamento energético de uma nação, torna-se tão complicado quanto os processos de geração. Contrabalancear todos os pontos levantados não é tarefa fácil, mas é a base para a sobrevivência energética de um país. Fontes não-renováveis de Energia UNIDADE 2 40 Material Complementar Indico os seguintes materiais complementares: Explore Sugerimos o vídeo Opera Mundi, da TV Unesp, que apresenta uma aula pública com o professor Leonam Guimarães, especialista em energia. Na aula, o professor responde à pergunta: - O petróleo continuará sendo a principal fonte de energia do mundo? Acesse o vídeo no perfil do Opera Mundi do youtube: <http://youtu.be/bDSMeVUbrq8>. HISTORY CHANNEL. A história da eletricidade - luz energia elétrica. 7min18. Disponível em: https://youtu.be/Oe1FyK4TrE4 TAIOLI, Fábio. Recursos energéticos. In: TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, Maria Cristina Motta de; FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fábio (orgs). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2004. MATHIAS, Melissa Cristina Pinto Pires. A formação da indústria global de gás natural: definição, condicionantes e desafios. Rio de Janeiro, Tese (Doutorado), Engenharia, UFRJ, 2008. Disponível em: https://goo.gl/hVzTi1 Fontes não-renováveis de Energia 41 Referências ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (BRASIL). Atlas de energia Elé trica do Brasil/Agê ncia Nacional de Energia Elé trica. Brasí lia: Aneel, 2008. BP. Relatório Estatístico da BP 2014. Brasil em 2013. Disponível em: <http://www.bp.com/ content/dam/bp-country/pt_br/PDFs/Statistical Review_Brazil_POR.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2015. BUCUSSI, A. A. Introdução ao Conceito de Energia. Porto Alegre: UFRGS, Instituto de Física, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, 2007. ELETROBRÁS/PROCEL – Centrais Elétricas Brasileiras, Fupai/Efficientia; Eficiência Energética no Uso de Vapor. Rio de Janeiro: Eletrobrás, 2005. EPE - Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: EPE, 2014 ROCHA, G. ; SILVA, A. L. ; SILVA, F. N. Simulação de uma Usina com Ciclo Simples a Vapor (Ciclo Rankine). Revista Conexão (AEMS), v. 9, p. 598, 2012. VIANA, A. N. C. et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI, 2012. Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Pedro Henrique Cacique Braga Revisão Técnica: Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin 3 Fontes Renováveis de Energia Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 44 Contextualização Pensando na importância da energia elétrica no cotidiano da sociedade, nós nos deparamos com uma grande questão: o que vai acontecer quando as fontes não-renováveis se esgotarem? Esta questão nos leva a muitas outras, como: - as fontes se esgotarão na nossa geração?; - Nossos filhos poderão usar a eletricidade assim como nós usamos?; - Existe alguma solução para este problema? Tais questões já estão sendo feitas há algumas décadas e ambientalistas, engenheiros e administradores de todo o mundo estão trabalhando incessantemente em novas estratégias para o planejamento energético mundial. Algumas medidas já vêm sendo tomadas, como o crescimento do uso de fontes renováveis e alternativas de geração. A utilização destas fontes pode prolongar a existência das reservas de insumos não-renováveis. O cuidado com o Planeta vai ainda além, e busca reduzir as emissões de poluentes no meio ambiente. Nosso contexto, então, é a procura pela geração de energia mais limpa e eficiente com o foco nos recursos renováveis. Fontes Renováveis de Energia 45 Introdução Uma das grandes questões que precisam ser respondidas há algumas décadas é: até quando teremos recursos naturais para geração de energia elétrica? Este problema levanta, ainda, muitos outros questionamentos, como: • Se continuarmos no ritmo de exploração que estamos vivendo, nossas gerações futuras terão acesso à eletricidade de forma irrestrita como temos hoje?; • Até quando o Planeta sobreviverá com tamanha exploração?; • O que é preciso fazer para minimizar este consumo? Questionamentos como estes baseiam as teorias sobre fontes renováveis de energia. A busca por formas de geração que não prejudiquem o Planeta, ou que minimizem os danos, é uma tarefa iniciada há algum tempo e deve ser revista a cada geração, adaptada de acordo com os dados estatísticos de geração e consumo. Uma das grandes soluções, apresentadas pelos ambientalistas, engenheiros e administradores é a redução do uso de fontes não-renováveis e, consequentemente, o aumento do uso das fontes renováveis. Fontes renováveis de energia podem ser entendidas como aquelas que têm como insumo primário elementos que são repostos naturalmente pelo Planeta. São elementos que podem ser reutilizados após a geração e não são consumidos definitivamente. No Brasil, segundo dados da ANEEL, no ano de 2013, a participação destas fontes foi de quase 80% no total gerado pelo país. Esta é uma boa proporção, que somente é possível graças ao grande potencial hídrico do país. As fontes hidrelétricas somam 68,1% de toda a carga instalada. Glossário ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Nesta Unidade, discutiremos sobre algumas fontes renováveis, a fim de estabelecermos comparações sobre a real situação no Brasil e no mundo e quais as possíveis ações a serem tomadas em um planejamento energético. Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 46 Hidrelétrica A eletricidade obtida por fontes hidráulicas, conhecida como energia hidrelétrica, só é possível graças à combinação da vazão de rios, à quantidade de água disponível em certos períodos do ano e aos desníveis do relevo (que podem ser naturais ou artificiais). Assim como a maioria das fontes de energia, a hidrelétrica transforma a energia mecânica em elétrica. O perfil de uma usina é relativamente simples. Uma barragem é criada para garantir o maior armazenamento das águas de um rio. Cria-se, assim, uma represa a favor da usina. Além de criar um reservatório que estoca a água para a geração, a barreira cria o desnível necessário para o processo. Algumas usinas hidroelétricas utilizam suas turbinas no mesmo nível do rio e são conhecidas como usinas “a fio d’água”. Estas reduzem a área alagada para a sua construção, mas nem sempre têm o mínimo para uma boa produção. Os vertedouros são comportas nas barreiras que servem para regular o nível de água. Quando abertos, retornam uma determinada quantidade de água ao curso natural do rio, para que haja o equilíbrio entre o que é preciso e o que deve ser “descartado”. Observe que as usinas “a fio d’água” se aproveitam apenas da velocidade do rio e, por não contarem com um reservatório,não permitem o armazenamento de água para períodos de seca. Por fim, as usinas contam com as casas de força, que abrigam suas turbinas. Observe o perfil esquemático de uma usina hidroelétrica na Figura 1. A água estocada no reservatório, quando aberto o canal específico, passa por um duto e é conduzida à casa de força. Uma formação conhecida como caixa espiral é responsável por conduzir a água para movimentação do rotor no pré-distribuidor. A água captada no lago formado pela barragem é conduzida até a casa de força por meio de canais, túneis e/ou condutos metálicos. Após passar pela turbina hidráulica, na casa de força, a água é restituída ao leito natural do rio, pelo canal de fuga. Dessa forma, a potência hidráulica é transformada em potência mecânica quando a água passa pela turbina, fazendo com que esta gire e, no gerador – que também gira acoplado mecanicamente à turbina, a potência mecânica é transformada em potência elétrica. Figura 1. Perfil esquemático de uma Usina Hidroelétrica. Fonte: ANEEL, 2008. Fontes Renováveis de Energia 47 Existem muitos tipos de turbinas, cada uma feita para uma altura e tipo de vazão específicos. A turbina tipo Bulbo é usada nas usinas fio d’água por ser indicada para baixas quedas e altas vazões, não exigindo grandes reservatórios. A Figura 2 apresenta o perfil de uma unidade geradora da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu. A UHE conta com 20 unidades, sendo que a última foi instalada em 2007. Cada uma delas tem capacidade para gerar 700 megawatts (MW). Cada unidade geradora de Itaipu é capaz de abastecer uma cidade com 1,5 milhão de habitantes. Para abastecer os três estados da região sul do país, por exemplo, seriam necessárias apenas 12, das 20 unidades. Para todo o estado do Rio de Janeiro bastariam 7 unidades (ITAIPU, 2015). Glossário UHE – Usina Hidroelétrica. Figura 2. Componentes da unidade geradora do tipo Francis, de ITAIPU. Fonte: ITAIPU, 2015. Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 48 A água é o recurso natural mais abundante na Terra: com um volume estimado de 1,36 bilhão de quilômetros cúbicos (km3) recobre 2/3 da superfície do Planeta sob a forma de oceanos, calotas polares, rios e lagos. Além disso, pode ser encontrada em aquíferos subterrâneos, como o Guarani, no Sudeste brasileiro (ANEEL, 2008). A Figura 3 apresenta o gráfico com a participação mundial na geração de energia hidroelétrica. Observe que a América do Sul e Central (boa parte no Brasil) é responsável por 21,8% de toda a produção, ficando atrás apenas da Oceania, que produz 27,6%. Figura 3. Geração Hidrelétrica por regiões do mundo (%) Fonte: EPE, 2014. No Brasil, segundo os dados da Empresa de Pesquisa Energética, em 2014, a geração hidráulica teve participação de 68,8% no total. Isso se deve ao vasto potencial hídrico nacional. São inúmeros rios que comportam represas para UHEs. A implantação de uma UHE tem custos elevados e nem sempre é possível ser feita, pois implica o desmatamento de grandes áreas, muitas vezes em desapropriação de pequenas cidades e mudanças de cursos de rios. Existem grandes sistemas de produção de energia elétrica, caso das Usinas Hidrelétricas, mas também Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). Biomassa A biomassa é uma das fontes de produção de energia elétrica com maior potencial de crescimento no mundo. Além de reduzir o uso de combustíveis fósseis, ela reaproveita outros materiais como insumo primário. Além disso, dela é possível extrair outros biocombustíveis, como o etanol, por exemplo. Figura 4. Geração de energia mundial por fonte. Fonte: ANEEL 2008. Fontes Renováveis de Energia 49 Qualquer maté ria orgâ nica que possa ser transformada em energia mecânica, té rmica ou elé trica é classificada como biomassa. De acordo com a sua origem, pode ser: florestal (madeira, principalmente), agrí cola (soja, arroz e cana-de-aç ú car, entre outras) e rejeitos urbanos e industriais (só lidos ou lí quidos, como o lixo). Os derivados obtidos dependem tanto da maté ria-prima utilizada (cujo potencial energé tico varia de tipo para tipo) quanto da tecnologia de processamento para obtenç ã o dos energé ticos (ANEEL, 2008). Observe, na Figura 4 que, no mundo, a biomassa ocupa uma parcela de apenas 1,7% da geração. Apesar de ser atrativa, ainda não detém uma boa parcela na geração mundial. As formas de geração de energia pela biomassa são várias, mas podem ser destacadas: • Ciclo a vapor com turbinas de compressão; • Ciclo a vapor com turbinas de condensação e extração; • Ciclo combinado integrado à gaseificação da biomassa. Apesar de ainda não ser muito utilizada diretamente na produção de energia, a biomassa tem se estabelecido na produção de combustível. Observe na Figura 5 a evolução da produção de etanol. Figura 5. Produção de Etanol. Fonte: ANEEL 2008. Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 50 Eólica A energia eólica é aquela que aproveita a força dos ventos para a movimentação das pás de uma turbina. Trata-se de uma forma renovável, perene, de grande disponibilidade e independente de importações e custo zero para obtenção de suprimentos (completamente oposto dos combustíveis fósseis). Ainda no gráfico da Figura 4, observe que a Energia Eólica ocupa 2,1% na geração total. O potencial dos ventos no Brasil é muito bom, cerca de duas vezes mais que a média mundial, o que dá maior previsibilidade do volume a ser produzido. No Brasil há um parque eólico em Osório no Rio Grande do Sul. No Ceará e Rio Grande do Norte há grande potencial devido a intensidade do vento nas regiões litorâneas. Como a previsão nem sempre é possível, muitos países ainda não utilizam esta fonte com uma parcela maior na produção. Os maiores produtores são Estados Unidos, Alemanha e China. O Brasil tem apenas 39 usinas eólicas em todo o território nacional. Entre os benefícios deste métodos, podemos destacar que não são emitidos gases estufa e pode ser usado em áreas remotas. Em compensação, sua implantação tem alto custo, pois o potencial de geração depende de fatores geográficos e climáticos. Observe, na Figura 6, o funcionamento dos aerogeradores. Figura 6 - Funcionamento dos aerogeradores. Fonte: Último Segundo, 2015. Fontes Renováveis de Energia 51 Solar A energia solar, assim como as outras fontes alternativas, não possui participação expressiva nas matrizes energéticas nacional e mundial. Ela chega à Terra em forma térmica e luminosa. Sua irradiação por ano na superfície da Terra seria suficiente para atender toda a demanda por milhares de anos. A radiação solar não chega a todas as partes do Planeta da mesma forma, pois depende muito de condições geográficas e atmosféricas, o que varia muito de região para região e de acordo com as estações do ano. Quando atinge a atmosfera, a radiação pode ser interceptada em forma de calor ou luz e pode ser convertida por meio de processos químicos para energia térmica ou elétrica. Os equipamentos usados na captação determinam qual o tipo produzido. Ao usar uma superfície escura para captação, converte-se a radiação em energia térmica, que é aplicada em uma usina térmica comum que segue o ciclo de Rankine com base. Quando usadas células fotovoltaicas, o resultado é a eletricidade. A Figura 7 apresenta as taxas médias de crescimento anual da capacidade de energia renovável. Observe que a energia solar por células fotovoltaicas é a que teve maior taxa de crescimento. Figura 7. Taxas médias de crescimento anual da capacidade de energia renovável. Fonte: ANEEL 2008. O processo de produção heliovoltaico converte a radiação solar em calor, usado nas usinas termelétricas. O processo compreende quatro etapas: 1. Coleta da irradiação; 2. Conversão em calor; 3. Transporte e Armazenamento; 4. Conversão em eletricidade. Para utilização deste processo, é necessário instalar as usinas em locais com baixo índice pluviométrico e pouca intensidade de nuvens, como o semiárido brasileiro, por exemplo.Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 52 O sistema fotovoltaico transforma a radiação solar em eletricidade direta. Utiliza-se, para tanto, um painel feito de material semicondutor, geralmente o silício que, quando estimulado, permite o fluxo eletrônico. O sistema fotovoltaico não precisa do brilho do Sol para produzir energia, o que permite sua operação em dias nublados. A Figura 8 apresenta a variação da radiação solar no Brasil, mostrando as principais regiões propensas à criação de usinas solares. Figura 8. Variação da radiação solar no Brasil. Fonte: ANEEL, 2008. Geotérmica A energia geotérmica é produzida por meio do calor existente no interior da Terra. Os principais recursos são os gêiseres e o calor existente no interior das rochas. Pode ser de áreas vulcânicas, em algumas regiões do mundo caso da Islândia aproveita-se este potencial. Há ainda energia de marés, ondas e outras menos usadas pelo mundo, mas que são consideradas também fontes alternativas. Glossário Gêiser – fonte de vapor no interior da Terra que apresenta erupções periódicas. Fontes Renováveis de Energia 53 Existem duas possibilidades para o uso do vapor: em uma usina térmica comum e o vapor quente seco, usado para movimentação de turbinas. A Figura 9 apresenta o esquema de uma usina geotérmica. Figura 9. Reservatório geotérmico de alta temperatura. No Brasil, não há nenhuma unidade em operação, nem mesmo sob a forma experimental. Apenas Islândia e Estados Unidos apresentam um crescimento significativo no campo geotérmico. Maremotriz A geração de energia pela força do mar inclui as fontes: marés, correntes marítimas, ondas, energia térmica e gradientes de salinidade. A energia pode ser obtida, por exemplo, por meio da energia cinética, na qual as ondas movimentam as pás de uma turbina, ou pela diferença de nível do mar nas marés. A Figura 10 ilustra o funcionamento de uma usina maremotriz. Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 54 Figura 10. Geração de energia em usina maremotriz. Fonte: ANEEL, 2008. Apesar do bom potencial de geração, esta forma não entra em competição com as principais fontes, pois sua geração não supera o necessário em boa parte das usinas e os custos de implantação são altos, o que as torna inviáveis. Os principais locais para aproveitamento das maré s sã o Argentina, Austrá lia, Canadá , Í ndia, Coré ia do Sul, Mé xico, Reino Unido, Estados Unidos e Rú ssia. Conclusões As fontes renováveis de energia são consideradas, em sua grande maioria, fontes limpas, ou seja, não emitem ou emitem menores quantidades de poluentes no meio ambiente. Apesar de usarem recursos renováveis, grande parte delas requer custo alto de implantação e manutenção e dependem de condições geográficas e climáticas muito específicas, que dificultam sua implantação. As usinas renováveis têm sido implantadas com uma boa taxa de crescimento, mas ainda não competem igualmente com fontes não-renováveis. A energia hidrelétrica é a que tem maior participação mundial e, no Brasil, ocupa o cargo de maior fonte geradora. O planejamento energético deve levar em consideração a utilização equilibrada das fontes disponíveis, para que haja uma renovação dos recursos, balanceando o uso dos não renováveis. Fontes Renováveis de Energia 55 Material Complementar O site Último Segundo, do portal IG, apresenta uma série de infográficos sobre assuntos diversos. Entre os assuntos relacionados à Ciência, temos um material muito interessante e interativo, que compara os métodos de geração de energia por meio de fontes alternativas de energia. A maior parte das fontes abordadas é renovável e se enquadra no que está sendo estudado. Explore Acesse o site para conhecer um pouco mais sobre cada fonte: • https://goo.gl/4QFsHP Acesse para conhecer responsabilidade sobre energia elétrica no Brasil. • https://goo.gl/VrekRD Leia informações sobre energia eólica no Brasil: • https://goo.gl/xNONC1 Energia e sustentabilidade: • PHILIPPI JR, Arlindo; REIS, Lineu Belico dos. Energia e sustentabilidade. Barueri: 2016 (e-book) Fontes Renováveis de Energia UNIDADE 3 56 Referências ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Atlas de energia Elé trica do Brasil/ Agê ncia Nacional de Energia Elé trica. Brasí lia : Aneel, 2008. BP. Relatório Estatístico da BP 2014. Brasil em 2013. Disponível em: <http://www.bp.com/ content/dam/bp-country/pt_br/PDFs/Statistical Review_Brazil_POR.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2015. BUCUSSI, A. A. Introdução ao Conceito de Energia. Porto Alegre: UFRGS, Instituto de Física/Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, 2007. ELETROBRÁS/PROCEL – Centrais Elétricas Brasileiras, Fupai/Efficientia; Eficiência Energética no Uso de Vapor. Rio de Janeiro: Eletrobrás, 2005. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: EPE, 2014 ITAIPU. Unidades Geradoras. Disponível em <https://www.itaipu.gov.br/energia/unidades- geradoras>. Acesso em: 15 mar. 2015. ROCHA, G.; SILVA, A. L.; SILVA, F. N. Simulação de uma usina com ciclo simples a vapor (Ciclo Rankine). Revista Conexão (AEMS), v. 9, p. 598, 2012. ÚLTIMO Segundo. As alternativas de energia. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com. br/ciencia/as+alternativas+da+energia/n1237597605585.html>. Acesso em: 15 mar. 2015. VIANA, A. N. C. et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI, 2012. Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Pedro Henrique Cacique Braga Revisão Técnica: Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin 4 Mercado de Energia no Brasil Mercado de Energia no Brasil UNIDADE 4 58 Contextualização Elaborar a matriz energética de uma nação, ou mesmo de uma região do país, é uma tarefa que requer diversos conhecimentos prévios. Estes não se limitam ao potencial energético de cada região ou quais as fontes de geração mais viáveis. Este conhecimento é fundamental, é claro, mas não é a única preocupação para o planejamento. É preciso conhecer também o mercado em que estamos inseridos. Precisamos conhecer como a população se comporta quando nos referimos à energia elétrica. O crescimento populacional traz consigo um forte aumento na demanda energética. Além disso, é preciso conhecer o perfil do maior consumidor: a indústria. Poderia ela ser autossuficiente na geração da energia que requer? Ou ela precisa de maior atenção dos planos nacionais? Toda a análise qualitativa e quantitativa do mercado energético deve ser bem elaborada antes de realizar uma projeção do que será preciso enfrentar no novo planejamento. Convido você a refletir sobre a região a sua volta: - Quais são as usinas de energia que existem no seu estado?; - Qual a tarifa que você, como cidadão, paga pela energia?; - Você sabe como ela é calculada? E mais: - A população da sua cidade tem aumentado?; - Será que a oferta de energia disponível hoje é capaz de suprir este crescimento? Mercado de Energia no Brasil 59 Introdução O mercado de energia no Brasil pode ser definido pela relação entre a produção e o consumo energético em toda a sua extensão territorial. Para definir as características deste mercado, deve-se conhecer alguns dados nacionais, como: · Capacidade instalada por fonte em cada região; · Perfil dos consumidores por classes (residencial, comercial, industrial, setor público etc.); · Eficiência energética de cada parque elétrico instalado; · Relação entre oferta e procura; · Autoprodução de setores sociais; · Demografia; · Macroeconomia mundial. Estes são alguns dos tópicos que definem o mercado energético. Nesta Unidade, abordaremos algumas estratégias para traçar este modelo e preparar uma projeção energética no país. As principais estratégias abordadas foram estabelecidas pelas normas de pesquisa e planejamento energético da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A Empresa de Pesquisa Energé tica (EPE) é empresa pú blica instituí da nos termosda Lei n° 10.847, de 15 de març o de 2004, e do Decreto n° 5.184, de 16 de agosto de 2004, vinculada ao Ministé rio de Minas e Energia (MME), tem por finalidade prestar serviç os na á rea de estudos e pesquisas destinados a subsidiar o planejamento do setor energé tico, tais como energia elé trica, petró leo e gá s natural e seus derivados, carvã o mineral, fontes energé ticas renová veis e eficiência energética, dentre outras (EPE, 2012). Nesta Unidade, faremos, também, uma análise dos diferentes perfis de consumo de energia elétrica no Brasil e acompanharemos as estratégias da EPE para projeção da demanda energética para um longo período, o que nos permite conhecer o mercado nacional e ao mesmo tempo planejar a matriz energética com base na perspectiva da procura pelo serviço. Setor Elétrico Vamos começar nossa análise com alguns dados sobre o perfil consumidor no Brasil. Neste ponto, já conhecemos as formas de geração de energia por meio de fontes renováveis e não- renováveis. Sabemos, ainda, quais são os requisitos físicos e geográficos de cada uma delas. Assim, podemos analisar os dados de acordo com a realidade brasileira. Mercado de Energia no Brasil UNIDADE 4 60 O setor energético no nosso país é dirigido por diferentes órgãos. A parte política é de responsabilidade do Congresso Nacional e a Presidência da República, representada pelo Ministério de Minas e Energia e o Conselho Nacional de Política Energética. Todas as leis e normas são criadas por estas instituições. A regulação e a fiscalização ficam por conta da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) todas as demais agências sob sua responsabilidade, como a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e os Conselhos de Consumidores, por exemplo. O mercado é gerido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Fechando o quadro de instituições, tem-se as agências institucionais, que são empresas escaladas para diferentes funções, como a EPE e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo. Figura 1. Estrutura Institucional do Setor Elétrico. Fonte: ANEEL, 2008. A Figura 1 apresenta o diagrama esquemático das instituições que compõem o setor elétrico brasileiro. Mercado de Energia no Brasil 61 Observe que mesmo que de forma indireta, a população tem acesso a todos os órgãos citados. Você pode encontrar, nas páginas web de cada uma delas, todas as suas informações e muitos documentos sobre o setor elétrico. Em especial, damos atenção aos sites da ANEEL e da EPE, que são duas das principais referências deste material. Atualize-se periodicamente com os dados de seus boletins e informativos. Geração Nacional Subsistemas elétricos O primeiro passo para podermos criar a projeção de demanda de energia é conhecer o que já temos de oferta no país. Este conhecimento é de suma importância para podermos verificar qual a porcentagem de crescimento esperado para cada região. Segundo o ONS, os subsistemas do setor elétrico são: · Sudeste/Centro-Oeste – abrangendo os estados das regiões Sudeste e Centro-oeste mais Rondônia e Acre; · Sul – toda a região Sul; · Nordeste – toda a região Nordeste, com exceção do Maranhão; · Norte – Amapá, Pará, Tocantins, Maranhão e Amazonas; · Sistemas isolados. A operação dos subsistemas deve ser monitorada e balanceada para que, se necessário, uma supra a outra em eventos especiais e/ou periódicos. Com tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial, o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários. O Sistema Interligado Nacional é formado pelas empresas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Apenas 1,7% da energia requerida pelo país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmente na região amazônica (ONS, 2015). Mercado de Energia no Brasil UNIDADE 4 62 Figura 2. Integração Eletroenergética 2014 set. – horizonte 2015. Fonte: ONS, 2015. A Figura 2 apresenta o mapa de integração eletroenergética entre os subsistemas. Apresenta as principais bacias hidrográficas e, em linhas sólidas, os sistemas que já estão implantados; e os sistemas representados por linhas tracejadas estão em desenvolvimento. Figura 3. Mapa do Sistema de Transmissão – horizonte 2015. Fonte: ONS, 2015. Mercado de Energia no Brasil 63 A Figura 3 apresenta o sistema de transmissão de energia nacional. Quando sobrepostas as Figuras 2 e 3, pode-se perceber que os subsistemas estão bem abastecidos e transmitem energia a quase todo o país (regiões populadas). Dados de geração A Empresa de Pesquisa Energética apresenta anualmente um balanço dos dados de geração e consumo nacionais. Segundo os dados do último relatório (até a produção deste material), sobre o ano de 2013, as regiões com maior geração de energia foram Sul e Sudeste (o que é perfeitamente justificável, segundo a distribuição de sistemas). Conforme visto na Figura 4, as regiões Sul e Sudeste, além de terem a maior geração, tiveram também maior capacidade de autoprodução energética. Figura 4. Geração Regional. Fonte: ANEEL, 2014. É importante ressaltar que os valores apresentados na Figura 4 foram projetados anteriormente e constatados após um ano de produção. Esta participação pode ser melhor visualizada como participação percentual de toda a geração, na Figura 5. Mercado de Energia no Brasil UNIDADE 4 64 Figura 5. Participação Regional na Geração. Fonte: ANEEL, 2014. Além da participação, pode-se acompanhar a evolução dos sistemas por meio da análise das perdas por subsistema. Uma análise rápida sobre o gráfico da Figura 6 nos permite dizer que os subsistemas têm mantido certa constância nas perdas nos últimos anos. Os sistemas isolados apresentam um crescimento nas perdas, ao contrário dos demais que se mantém entre 1% e 20%. Figura 6. Carga de Energia. Evolução das perdas anuais relativas (%) por subsistemas elétricos. Fonte: ANEEL, 2014. Mercado de Energia no Brasil 65 Dados de consumo Agora que conhecemos os sistemas de geração, podemos fazer um comparativo com o que foi consumido no mesmo período. As Tabelas 1 e 2 apresentam os dados de consumo separados por região e por classes, respectivamente. Todos os dados em GWh. Tabela 1. Consumo de energia por regiões (GWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0 Norte 24,083 26,237 27,777 29,115 30,196 3.7 6.5 Nordeste 65,244 71,197 71,914 75,610 79,907 5.7 17.2 Sudeste 204,555 222,005 230,668 235,237 240,084 2.1 51.8 Sul 65,528 69,934 74,470 77,491 80,392 3.7 17.4 Centro- Oeste 24,896 26,310 28,205 30,718 32,756 6.6 7.1 Fonte: ANEEL, 2014. Tabela 2. Consumo de energia por Classes (GWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0 Residencial 100,776 107,215 111,971 117,646 124,896 6.2 27.0 Industrial 161,799 179,478 183,576 183,475 184,609 0.6 39.8 Comercial 65,255 69,170 73,482 79,226 83,695 5.6 18.1 Rural 17,304 18,906 21,027 22,952 23,797 3.7 5.1 Poder público 12,176 12,817 13,222 14,077 14,608 3.8 3.2 Iluminação pública 11,782 12,051 12,478 12,916 13,512 4.6 2.9 Serviço público 12,898 13,589 13,983 14,525 14,847 2.2 3.2 Próprio 2,319 2,456 3,295 3,354 3,372 0.5 0.7 Fonte: ANEEL, 2014. Comparando os dados de geração e consumo, pode-se perceber que o consumo interno teve um total de 463.335 GWh no ano de 2013, para uma geração de 570.025 GWh, o que nos dá uma relação de consumo de 81,28% da energia produzida. Os outros quase 20% puderam ser armazenados e/ou vendidos para os países vizinhos. Mercado de Energia no Brasil UNIDADE 4 66 O maior uso é industrial, como se observa na tabela, vindo depois o uso residencial
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