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Logística Empresarial Histórico, evolução e desenvolvimento Rio de Janeiro UVA 2017 Audemir Leuzinger de Queiroz Logística Empresarial Histórico, evolução e desenvolvimento Rio de Janeiro UVA 2017 Copyright © UVA 2017 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ISBN: 978-85-69287-42-1 Autoria do Conteúdo Audemir Leuzinger de Queiroz Projeto Gráfico UVA Diagramação Cristina Lima Revisão Luiz Werneck Maia Janaína Senna Lydianna Lima Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA. Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho. Q3 Queiroz, Audemir Leuzinger de Logística empresarial: histórico, evolução e desenvolvimento [livro eletrônico] / Audemir Leuzinger de Queiroz. – Rio de Janeiro : UVA, 2017. 1,7 MB. ISBN 978-85-69287-42-1 Disponível também impresso. 1. Logística empresarial. 2. Administração de empresas. 3. Logística. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 658.78 SUMÁRIO Apresentação...............................................................................................................7 Sobre o autor................................................................................................................8 Capítulo 1 - Histórico, evolução e desenvolvimento.......9 Evolução e desenvolvimento da logística...........................................16 Fundamentos da logística..........................................................................27 O papel da tecnologia da informação..................................................39 Referências......................................................................................................45 Capítulo 2 - Compreendendo a logística empresarial......47 Projeto de rede de uma cadeia de suprimentos......................49 Configuração de uma cadeia de suprimentos..................................58 Coordenação de uma cadeia de suprimentos..................................75 Referências......................................................................................................88 Capítulo 3 – Integração de marketing e logística..........91 Papel de logística e marketing - Níveis de serviços...........................93 Canais de distribuição.................................................................................102 Embalagem de marketing e logística...................................................113 Referências....................................................................................................124 Capítulo 4 - Organização e controle das operações logísticas....................................................................... 127 Organização das operações logísticas.................................................130 Fatores de custos das operações logísticas........................................140 Indicadores de desempenho em logística.........................................150 Referências....................................................................................................162 Considerações finais.....................................................165 7 APRESENTAÇÃO Este livro trata, conforme aponta o título, de Logística Empresarial e analisa seu histórico, evolução e desenvolvimento, trazendo um con- junto de conhecimentos essenciais para profissionais e estudantes de logística e de áreas correlacionadas. O objetivo da logística é disponibi- lizar produtos e serviços onde são necessários e no momento em que são desejados, com o melhor nível de atendimento e o menor custo possível. Aqui, vamos apresentar um panorama das questões relacionadas à lo- gística empresarial dentro de uma perspectiva contemporânea, que tra- ta da desverticalização das tradicionais estruturas industriais e da im- portância crescente da integração dos ciclos de atividades e atividades logísticas via tecnologia da informação, utilizando a visão de proces- sos, com a integração em tempo real, sincronizada, com compartilha- mento de todas as informações, disponíveis para todos os envolvidos, quebrando as barreiras de tempo e espaço geográfico. Esses conhecimentos, certamente, proporcionarão subsídios aos estu- dantes, profissionais atuais e futuros, para a construção de soluções adequadas para a transformação das realidades como se apresentam. Entendemos que não é uma mera evolução da logística empresarial, pois envolve a coordenação dos fluxos físicos e digitais ao longo de toda a cadeia de suprimentos. Desejamos que você aproveite ao máximo esta experiência, e que a leitura desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conteúdos abordados, contribuindo efetivamente para o seu enrique- cimento acadêmico e profissional. ...................................................................................................................................................................................................................... 8 SOBRE O AUTOR Audemir Leuzinger de Queiroz é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, pós-graduado em Enge- nharia Econômica pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-PE e em Ciências Contábeis pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-RJ. É mestre em Logística pela PUC-RJ, além de possuir cursos de extensão univer- sitária em Planejamento Estratégico, Marketing e Finanças, também pela PUC-RJ, onde criou e foi coordenador do curso de pós-graduação em Logística Empresarial. Foi coordenador nacional dos cursos de pós- -graduação na área de Gestão da Universidade Estácio de Sá – Unesa e criador e coordenador geral do curso de Graduação Tecnológica em Logística. Atualmente é coordenador dos cursos de MBA em Adminis- tração Estratégica e em Gerência de Operações, Produtos e Serviços. Exerceu cargos de supervisão, gerência e direção no Grupo Souza Cruz e em empresas coligadas em várias partes do país ao longo de vários anos. Foi diretor executivo da Ediouro Publicações S.A. Para mais informações, acesse o currículo Lattes do autor, disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8665913435065636>. 9Evolução e desenvolvimento da logística ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 1 HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E DESENVOLVIMENTO A década de 1990 foi marcada pela busca por maior com- petitividade, desenvolvimento tecnológico, oferta de pro- dutos e serviços adequados às expectativas dos clientes, bem como por maior desenvolvimento e motivação dos recursos humanos, identificando a logística como frontei- ra empresarial capaz de possibilitar a exploração de novas vantagens competitivas. Internacionalmente falando, a logística tem alcançado grande crescimento nos últimos anos, tanto no Brasil como no exterior. Todos os países estão tendo que apren- der a lidar com a logística devido à total abertura do mer- cado internacional. A globalização provocou a formação de blocos como a Alca e a União Europeia, impondo esse desafio às nações. Seja para atenderem eficientemente ao mercado interno ou para serem capazes de competir no mercado interna- cional, as empresas têm buscado o desenvolvimento de suas áreas de logística. Diz-se, inclusive, que a competição entre as empresas terá lugar, a partir de agora, na logística de seus negócios. E os desafios vão aumentar no futuro. O desenvolvimento da tecnologia da informação trouxeuma Histórico, evolução e desenvolvimento10 ...................................................................................................................................................................................................................... mudança de paradigma para a logística. Isso significou considerá-la como um sistema dinâmico e integrado em tempo real, englobando todas as atividades logísticas que compõem o fluxo de produtos, desde o ponto de aquisição dos materiais até o ponto de consumo final, assim como os fluxos de informação que dão visibilidade aos produtos em movimento. Surgiu, então, o conceito de Supply Chain Management – SCM. O campo da logística evoluiu de um tratamento mais res- trito, voltado para a distribuição física de materiais e de bens, para um escopo mais abrangente, em que se consi- dera a cadeia de suprimentos como um todo e as ativida- des de compras, administração de materiais e distribuição em conjunto. Assim, não se limita a uma única função, mas representa, de fato, uma área de integração dessas distintas funções do passado, exigindo profissionais bem preparados. O novo ambiente competitivo e a possibilidade de evolu- ção do país trazem notáveis oportunidades no mercado de trabalho para profissionais de logística. À medida que as empresas planejam a modificação de suas bases em- presariais, elas passam a demandar o desenvolvimento e a implementação de estratégias logísticas baseadas nos no- vos conceitos e, obviamente, a requerer profissionais com uma formação consistente capazes de implementá-las. A demanda crescente pelo novo perfil contrasta com a evi- dente carência de oferta de profissionais. A evolução da logística vem ocorrendo tanto no mundo empresarial quanto no acadêmico. Os currículos, no mun- 11 ...................................................................................................................................................................................................................... do acadêmico, sofrem mudanças decorrentes da dinâmica do pensamento logístico, tanto quanto a prática logística, nas empresas, reflete e, ao mesmo tempo, alimenta o pen- samento logístico no mundo acadêmico, em uma criativa interação. Assim, o mercado busca profissionais com competências de análise e de decisão em seu cotidiano de trabalho para dimensionar e desenvolver a organização e estruturar sis- temas de estoque, armazenagem, transportes e tecnologia da informação aplicada, atuando de forma ética e respon- sável em organizações dos setores industrial, comercial, de prestação de serviços, governamental e outros segmen- tos, incluindo os voltados diretamente para o setor de lo- gística. Este livro, como explicaremos adiante, trata o tema de forma introdutória, mas essencial, para dar ao aluno uma visão abrangente. Neste primeiro capítulo, serão apresen- tados os conceitos básicos e os fundamentos da logística. Visão geral O objetivo da logística é disponibilizar produtos e servi- ços onde são necessários e no momento em que são de- sejados. Quando as pessoas vão a um shopping ou a uma loja, esperam encontrar os produtos que desejam. Quan- do compram on-line, esperam que os produtos ou serviços sejam entregues no momento que desejam. Podemos concluir que, dificilmente, qualquer atividade de produção ou comercial prescinda de logística. As prá- Histórico, evolução e desenvolvimento12 ...................................................................................................................................................................................................................... ticas logísticas tornaram-se desafiadoras nos ambientes comerciais e institucionais, seja no setor público, seja no privado. Como podemos ver, elas não são específicas des- se último. A logística compreende os ciclos de atividades — suprimentos, produção e distribuição —, associados às atividades logísticas — informações, transportes, esto- ques, armazenagem, canais de distribuição e embalagem —, compreendendo empresas públicas, privadas e do ter- ceiro setor, nos ambientes nacionais e internacionais. Na realidade, no âmbito das empresas e instituições, den- tro de uma visão conjunta, é um desafio integrar ativida- des com conhecimentos tão específicos e desenvolver um plano de atendimento aos clientes. Na maioria dos proje- tos logísticos, as atividades transcendem o território das empresas e instituições, ultrapassando as fronteiras orga- nizacionais, para incluir desde os fornecedores de mate- riais e serviços, ampliando-se por meio da produção, até os clientes ou consumidores finais, estabelecendo o rela- cionamento e integração na cadeia de suprimentos. É isso que faz a logística atual única, combinando integração in- terna e externa em uma competência central da empresa. A logística tem, portanto, essa responsabilidade de colo- car à disposição matérias-primas e componentes, produ- tos em processo e produtos acabados no local onde são necessários, ao menor custo possível, com o melhor nível de serviços. E, assim, a partir dos processos logísticos, os materiais fluem por meio dos fornecedores, dos sistemas de produção e da distribuição com a utilização dos canais de distribuição. Para termos uma ideia do mundo real, ve- jamos a complexidade da logística da Ambev, que é extra- ordinária! 13 ...................................................................................................................................................................................................................... Fonte: Ambev. A Ambev é sediada em São Paulo, mas com atuação em todo o Brasil e no continente. No total, opera em 19 países das Américas (Argentina, Brasil, Bolívia, Barbados, Cana- dá, Chile, Colômbia, Cuba, El Salvador, Equador, Guatema- la, Nicarágua, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uru- guai, Dominica, Antigua e St. Vincent). • Trinta e quatro cervejarias e maltarias no Brasil. • Trinta e dois mil colaboradores no Brasil. • Cem centros de distribuição direta e seis de exce- lência no Brasil. Histórico, evolução e desenvolvimento14 ...................................................................................................................................................................................................................... O caminho da cerveja até o copo do consumidor brasilei- ro, de fato, é extenso. Ele começa na lavoura, onde, atual- mente, mais de 2,5 mil famílias, com o apoio da Ambev, dedicam-se ao cultivo da cevada no sul do país. A cerve- jaria atua como uma espécie de incentivadora da cultu- ra, fornecendo treinamento, sementes selecionadas e fer- tilizantes para alguns agricultores de menor porte. Pelo menos 10 técnicos da companhia estão, literalmente, em campo para ajudar esses produtores. Cada fábrica da Ambev conta com unidades capazes de envasar as bebidas que saem da linha de produção. Ao chegar às fábricas, todos os insumos são depositados em armazéns, que funcionam 24 horas em 90% dos casos. To- das as fábricas contam com silos. Ao todo são 500 empi- lhadeiras nas fábricas. Das fábricas, os produtos são distribuídos por meio de dois canais: os centros de distribuição direta – CDDs, to- dos da Ambev (a exemplo do de Porto Alegre, Pelotas e Caxias), e as 165 revendas terceirizadas. São dois milhões de pontos de venda em 14 países, sendo um milhão so- mente no Brasil. O principal modal logístico é o transporte rodoviário. São 3.100 caminhões. A frota é gerenciada com a utilização do software TMS (Transportation Management System). O pedido é processado no dia pelo vendedor por meio de um palm e repassado ao final do dia ao roteirizador, que, por meio de sistema integrado, informa o operador logístico, responsável pelo carregamento dos caminhões na madru- gada, para que logo ao amanhecerestes saiam para a rota 15 ...................................................................................................................................................................................................................... a fim de fazer a entrega dos pedidos do dia anterior, com eficiência. A Ambev conta com um roterizador que auxilia no melhor planejamento das entregas. O Tracking permite visualizar em tempo real o trajeto que está sendo feito pelos cami- nhões. Uma central de monitoramento altera em tempo real as rotas a serem seguidas pelos caminhões, verifican- do o melhor e mais eficiente trajeto e acompanhando o desempenho de cada veículo. Para gerenciar o serviço, a Ambev investe de forma contínua em tecnologia. As en- tregas têm o suporte de softwares de gestão on-line (SAP, ERP, entre outros). Histórico, evolução e desenvolvimento16 ...................................................................................................................................................................................................................... EVOLUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LOGÍSTICA Os registros demonstram que logística teve origem na pa- lavra grega logistikos e na latina logisticus, significando, em ambos os casos, “cálculo e raciocínio no sentido ma- temático”. Isso significa que ela existe desde os primórdios e que foi evoluindo ao longo do tempo, modificando nomes e deno- minações diferentes, relacionando-se com suas principais atividades, como transportes, armazenagem, estoques e dis- ponibilidade de produtos e materiais nos locais esperados. A palavra “logística” também teve origem militar, aplicada às suas atividades principais da época, como: transportes, abastecimento e alojamento de tropas, e assim por diante. Em determinado período histórico, a evolução da logística ocorreu devido à sua utilização destacada como instru- mento diferenciado nas guerras, ganhando elevada ampli- tude. Até hoje é uma palavra sempre lembrada quando se trata das questões militares. Os principais generais e comandantes do passado tive- ram seus nomes ressaltados na história também devido às suas habilidades logísticas. Segundo Fernandez (2015), o grande destaque foi Alexandre, o Grande, da Macedônia, que enfatizou a estratégia com base na logística quando 17Evolução e desenvolvimento da logística ...................................................................................................................................................................................................................... seu império alcançou diversos países e expandiu seu rei- nado por quase toda a Ásia. O império de Alexandre, o Grande, alcançou diversos países, incluindo Pérsia e Índia; nascido em 356 a.C., com 16 anos já era general do exército macedônico e, aos 20 anos, com a morte do seu pai, assumiu o império. Suas iniciativas bem-sucedidas não ocorreram por acaso, e po- de-se dizer, resumidamente, que ele foi capaz de superar os exércitos inimigos e expandir seu império em função de alguns fatores, tais como: inclusão da logística no seu planejamento; conhecimentos dos exércitos inimigos, dos terrenos de batalha e dos períodos de intempéries; incor- poração de novas tecnologias de armazenamento; e forma- ção de alianças. Gradativamente, a importância da logística começou a ser sentida, notadamente, durante as guerras; isso foi o que aconteceu durante a retirada de Napoleão Bonaparte da Rússia, quando o exército francês, reconhecidamente o mais eficiente da Europa, foi derrotado, exclusivamente, por falta de um apoio logístico, por não ter recebido o material de frente de batalha, de infraestrutura, no local certo e no tempo adequado. As principais fases da evolução da logística Estamos iniciando com uma análise das várias fases pelas quais as atividades logísticas passaram, desde sua con- cepção inicial até sua última fase, de integração total e sincronizada de todos os processos em tempo real, com compartilhamento de todas as informações, disponíveis Histórico, evolução e desenvolvimento18 ...................................................................................................................................................................................................................... para todos os envolvidos, quebrando as barreiras de tem- po e espaço geográfico, tão presentes nos dias atuais, com a introdução do SCM. No passado, as atividades humanas e sociais eram de- senvolvidas com o objetivo de garantir as necessidades de sobrevivência das populações locais. Os produtos de consumo, alimentos ou bens materiais, eram geralmente produzidos em lugares específicos e disponibilizados em quantidades suficientes somente em determinadas épocas do ano. Não havia uma ampla variedade de produção. De- vido à ausência de uma logística integrada, as mercadorias precisavam ser consumidas nos pontos de coleta, ou en- tão transportadas por meios próprios dos consumidores para locais onde pudessem ser armazenadas. A partir do momento em que o homem passou a realizar a troca de excedentes da produção especializada, foram in- troduzidas três das mais importantes funções logísticas: estoque, armazenagem e transporte. O excesso da produ- ção gerada e não vendida transformava-se em estoque, o qual precisava ser armazenado e, mais tarde, transportado até o local de consumo. Um estudo feito por John Kent e Daniel Flint (apud FIGUEI- REDO; ARKADER, 1998) analisa a evolução do pensamento logístico em cinco etapas principais, conforme apresenta- do na figura a seguir e detalhado em seguida: 19Evolução e desenvolvimento da logística ...................................................................................................................................................................................................................... Era do campo ao mercado O pensamento logístico teve sua introdução no início do século XX, em uma época em que prevalecia a economia agrária, de modo que as atividades logísticas desenvolvi- das até então limitavam-se ao transporte e à distribuição física da produção agrícola. Era da especialização – Sistemas desintegrados Durante a Segunda Guerra Mundial, na produção bélica, no período pós-guerra, pôde-se verificar, como decorrência, a formação de grandes lacunas de demandas, sobretudo no mercado de automóveis, eletrodomésticos e bebidas. Preocupadas em atender a essas novas necessidades, as empresas promoveram um considerável aumento no nível de produção. Histórico, evolução e desenvolvimento20 ...................................................................................................................................................................................................................... Assim, surgiu um problema. Por um lado, a produção em grande quantidade deixou de ser problema, mas o pro- cesso de transporte e de distribuição ainda se mostrava bastante precário e insuficiente para a nova realidade que se apresentava (BOWERSOX; CLOSS, 2001). Uma vez que não havia ainda sofisticados sistemas de comunicação e informática disponíveis, as vendas eram feitas de forma manual. O vendedor analisava a disponi- bilidade do produto solicitado no depósito, preenchendo em seguida uma nota de venda ou pedido, o qual era en- caminhado, via papel, ao depósito. A partir de então, era programada a entrega do pedido na casa do cliente. Na busca pelas menores despesas, buscavam-se os fornece- dores com base nos parâmetros de menores preços e me- lhores condições de fornecimento. Os meios de comunica- ção disponíveis eram baseados em telefonemas, envio de correios ou mesmo em visitas e entrevistas marcadas com os fornecedores. Como se pode verificar, somente o ato de se fazer o pedido consumia bastante tempo e custos. Além disso, grandesvolumes de estoques eram gerados ao longo de toda a cadeia logística, levando a um cresci- mento ainda maior dos custos (NOVAES, 2014). Ainda segundo Novaes (2014), os produtos eram transpor- tados em lotes econômicos. Economias eram realizadas, recorrendo-se a modos de transportes mais econômicos, menores fretes, assim como melhor utilização da capaci- dade de cada veículo. O nível de estoque era controlado de forma periódica por meio de práticas como a “quantidade econômica de pedido”. Por meio desta, os estoques tinham reposição de forma a minimizar o valor total gasto com custo de inventário e transporte e para elaborar o pedido. 21Evolução e desenvolvimento da logística ...................................................................................................................................................................................................................... Se já havia uma preocupação com os custos logísticos, esta era ainda sob o enfoque puramente interno. Cada empresa buscava reduzir ao máximo seus custos, mesmo em detri- mento de outros membros da cadeia de suprimentos. Era da integração interna – Busca da eficiência Tal fase é definida como “Era de Integração Interna” e caracteriza um período no qual o pensamento logístico começou a assumir uma abordagem sistêmica com abran- gência interna. As atenções começaram a se voltar espe- cialmente para a distribuição física, migrando para um enfoque mais amplo de funções, motivadas, sobretudo, pela economia industrial. Algumas atividades, como o ge- renciamento de transporte, suprimentos, distribuição, ar- mazenagem, controle de estoque e de manuseio de mate- riais, já começaram a ser colocadas na prática nessa época (FIGUEIREDO; ARKADER, 1998). Inclusive, já a década de 1960 foi bastante influenciada pela necessidade de especialização de cada tipo de produção a nível mundial. Cada produto era fabricado na área que melhor conciliasse as questões de baixo custo e localização geográfica, o que por sua vez conduziu ao aperfeiçoamento dos sistemas de distribuição. O excesso da produção gerado nas regiões especializadas pôde, desse modo, ser transpor- tado de forma econômica para outras áreas produtivas e consumidoras. Da mesma forma, a ausência de mercadorias necessárias era contornada pelas importações. Ainda na década de 1960, teve início a influência da in- formática nos processos produtivos, com a introdução de cartões perfuradores e fitas magnéticas, que foram aos Histórico, evolução e desenvolvimento22 ...................................................................................................................................................................................................................... poucos substituindo alguns procedimentos manuais. O emprego de computadores trouxe grandes progressos ao tratamento de problemas de sequenciamento da produção, localização otimizada de centros de distribuição, otimiza- ção de estoques, entre outras atividades (NOVAES, 2014). Era do foco no cliente – Busca por eficácia Nessa fase, começou a se verificar certa inversão de valo- res no contexto social. A sociedade não se mostrava mais satisfeita com a padronização de produtos, exigindo, por- tanto, uma maior variedade de opções. Dessa forma, aos poucos foram sendo verificadas mudan- ças nos sistemas produtivos, que foram se tornando mais flexíveis, de forma a proporcionar maior leque de opções. No passo em que cresceram as variedades de cada produ- to, aumentaram também as suas concentrações em esto- ques. Maiores estoques, por sua vez, implicavam aumento nos custos de armazenagem. Diante de todas essas mu- danças, os elementos-chave passaram a ser a otimização de atividades, assim como seu planejamento, na busca da racionalização integrada da cadeia de suprimentos. A mesma década é definida, segundo o estudo proposto por John Kent e Daniel Flint (apud FIGUEIREDO; ARKADER, 1998), como um período com foco no cliente. Período esse no qual a logística passou a assumir uma forte preocupa- ção não só relacionada ao produto, mas também à quali- dade de serviços prestados. As operações logísticas busca- vam, dessa forma, conciliar baixo custo com melhora do nível de serviço. Nesse sentido, a logística voltou-se para questões de produtividade e custos de estoque. 23Evolução e desenvolvimento da logística ...................................................................................................................................................................................................................... Segundo Novaes (2014), outro fato característico desse pe- ríodo foram as relativas melhoras verificadas nos fluxos logísticos, com a utilização intensiva da multimodalidade de transporte. Por meio do uso combinado de transporte aéreo, marítimo e terrestre, as empresas conseguiram ob- ter redução de custos, assim como melhor aproveitamento de capacidade de transporte, com otimização dos custos. Tal fase, na qual se desenvolveu o importante conceito de logística integrada, foi bastante influenciada pelo empre- go de poderosas tecnologias de informação e sistemas de comunicações, que contribuíram para uma grande revolu- ção na forma de se tratar as informações. A mudança no nível de integração foi favorecida pela adoção de sistemas integrados, que conduziu à flexibilização do processo de programação. As informações, que antes só apresentavam alguma funcionalidade no tratamento histórico, passaram a ser essenciais para atualização de dados em tempo real. Grandes mudanças no sistema de controle de estoque fo- ram propiciadas pela introdução do código de barras em supermercados. Tal tecnologia possibilitou o aumento do nível de integração em tempo real entre o setor de vendas com depósitos e centros de distribuições. A coleta de dados, assim como a troca de informações, antes realizadas de for- ma manual, sujeitas a procedimentos demorados e muitas fontes de erro, passaram a ser realizadas de forma auto- mática, com o emprego de tecnologias de captura de dados operantes em radiofrequência (BOWERSOX; CLOSS, 2001). A interligação entre os elementos da cadeia já adquiriu, nes- sa fase, certo grau de flexibilidade, possibilitando respon- der de forma instantânea a eventuais mudanças externas. Histórico, evolução e desenvolvimento24 ...................................................................................................................................................................................................................... Era do SCM – Vantagem competitiva Na última era, que se estende até os dias atuais, o pensa- mento logístico assumiu uma visão mais estratégica no meio intra e interempresarial, abrangendo toda a cadeia de suprimentos. Diante dos efeitos da globalização, em que a logística pas- sou a ser vista como poderosa arma estratégica na con- quista de novos mercados, desenvolveu-se o importante conceito de SCM. Conceito esse, que propiciou uma inte- gração total entre todos os elementos da cadeia produtiva, levando-os a atuar de forma integrada, visando alcançar um objetivo comum, que gerasse benefícios a todos. Des- sa forma, pretendia-se diminuir custos e desperdícios; re- duzir estoques que se acumulavam ao longo dos vários elos da cadeia de suprimentos; melhorar a qualidade de serviços ao consumidor final e minimizar o ciclo de vida do pedido. Enquanto nas fases anteriores da evolução logística po- dia-se perceber um papel bem delimitado entre os vários elementos que compunham a cadeia logística, nessa fase, tal separação já não é mais tão nítida. Tal fase é denominada, segundo o estudo proposto por John Kent e Daniel Flint, como a “Era do Supply Chain”. Na medida em que a logística abandonou seu caráter ope- racional, migrando para o nível estratégico, passou a ser denominada logísticaintegrada. Verificou-se, assim, uma maior preocupação do processo logístico como um todo, envolvendo maior controle de toda a cadeia produtiva en- tre fornecedores, distribuidores e consumidores. 25Evolução e desenvolvimento da logística ...................................................................................................................................................................................................................... Segundo Novaes (2014), outros aspectos que ganharam maior relevância nessa nova fase são os seguintes: Preocupação com os impactos logísticos no meio am- biente, assim como com o tratamento atribuído à ques- tão da logística reversa. Em uma fase bastante marcada pelos efeitos da globali- zação, que contribuíram para o aumento da circulação de mercadorias por meios terrestres, os congestionamentos de trânsito tornaram-se mais frequentes, elevando bastan- te o nível de poluição atmosférica. Diante do aumento do movimento da sociedade em de- fesa do meio ambiente, começou-se a refletir mais sobre os agentes poluentes envolvidos em operações logísticas. Houve uma maior preocupação também com o descarte de alguns produtos finais, muitas vezes maléficos ao meio ambiente e à saúde, no processo produtivo. Descobriu-se que muito dessas matérias-primas, após se- rem submetidas a uma série de tratamentos ou operações de reciclagem, poderiam ser reaproveitadas. Tentava-se reduzir, dessa forma, os desperdícios de materiais, o que por sua vez possibilitaria uma diminuição de custos. Abertura das fronteiras organizacionais, seja por meio da formação de parcerias com fornecedores e clientes, seja pela prática da terceirização de uma série de atividades. Dessa forma, cresceu de forma intensiva a circulação da informação por toda a cadeia produtiva, possibilitando o acesso mútuo de informações organizacionais e estraté- gicas. Consequentemente, um maior grau de sincronismo 26 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento foi verificado na cadeia de suprimentos, em toda a sua ex- tensão. As diversas operações logísticas deixaram, assim, de atuar isoladamente, não sendo mais exclusivas de um setor específico. Pode-se perceber o grande grau de rele- vância que foi atribuído aos canais de comunicação, assim como aos novos sistemas de informações, ao propiciar um fluxo de informações mais eficiente. A questões como in- tegridade da informação e confiabilidade de transmissão, foi dedicada uma atenção especial. Houve uma preocupação com a satisfação plena do consu- midor, seja ele intermediário ou final, fato esse que, por sua vez, conduziu a uma progressiva melhora na presta- ção de serviços em termos de eficiência, qualidade, redu- ção de preços e otimização de tempo. Diante da forte pressão por redução de estoque, os clien- tes institucionais foram induzidos a realizar compras de forma mais frequente e em menores quantidades, exi- gindo, portanto, o cumprimento de prazos menores de entrega, não sujeitos a eventuais erros ou atrasos e por meio de contratos. Já o consumidor final, com um estilo de vida bastante marcado pelas pressões do trabalho, con- sidera mais relevantes questões de qualidade de serviço e atendimento, capazes de proporcionar maior conforto, confiança e cumprimento fiel de prazos. Tais exigências tornam-se mais críticas e, portanto, mais complexas de se- rem gerenciadas e otimizadas perante o tempo com a prá- tica progressiva do comércio eletrônico (FLEURY; WANKE, 2003). Pode-se imaginar a verdadeira situação caótica que surgiu nas operações logísticas, na medida em que os pro- dutos precisavam ser entregues diretamente na casa de uma infinidade de consumidores finais, em vez de em um único centro de distribuição. 27Fundamentos da logística ...................................................................................................................................................................................................................... FUNDAMENTOS DA LOGÍSTICA No contexto do desempenho geral das empresas, a lo- gística existe para permitir que os produtos ofereçam as vantagens de posse, tempo e lugar desejados pelo menor custo total. Nesse sentido, os produtos têm pouco valor até que sejam posicionados no momento e no local cer- tos para transferência de propriedade ou criação de valor agregado. Uma empresa não tem o que vender se não for capaz de atender de maneira consistente às exigências de prazo e lugar. Então, a logística deve ser posicionada nas empresas como uma das competências que contribuem para o processo de criação de valor para o cliente. A convicção de que um desempenho integrado produz melhores resultados está relacionada ao pleno conhecimento da missão da logística, competência logística, níveis de serviço e custos logísticos. Missão da logística A logística parece que nunca para. Sempre está ocorrendo em todo o mundo, operando 24 horas por dia, sete dias por semana, durante 52 semanas por ano. Praticamente nenhuma área de operações envolve essa complexidade ou abrange esse escopo geográfico. A missão da logística é tornar disponíveis produtos e serviços no local em que são desejados. Quando os consumidores vão ao varejo, es- peram encontrar os produtos disponíveis recém-fabrica- dos. Com esse exemplo, é difícil a realização de qualquer 28 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento atividade de suprimentos, produção e distribuição sem o apoio logístico. Podemos dizer que a logística existe para atender às ne- cessidades dos clientes, com o menor custo possível. Podemos dizer que a missão da logística está relacionada com a disponibilidade de matérias-primas, produtos em processo ou semiacabados, componentes e estoque de produtos acabados no local onde são requisitados, ao me- nor custo possível. É por meio desse fluxo logístico que os materiais e produtos fluem pelos sistemas de produção e são distribuídos para os consumidores por meio dos ca- nais de distribuição. A satisfação dos clientes depende do nível que o serviço é ofertado, e a geração de lucros depende do custo total incorrido para ofertar esse serviço. Nesse sentido, dois pi- lares sustentam a fundamentação da logística integrada: nível de serviço e custo total. A aplicação dos conceitos e das técnicas de logística integrada busca a solução ótima 29Fundamentos da logística ...................................................................................................................................................................................................................... de um processo logístico, que é aquela que melhor atende à equação nível de serviço. Considerando o que já foi exposto, constata-se que a mis- são da logística é planejar e coordenar todas as atividades necessárias para alcançar níveis dos serviços esperados e ao custo mais baixo possível. Portanto, a logística deve ser vista como o vínculo relacionando o mercado e a ativida- de operacional da empresa. As atividades da logística es- tendem-se sobre toda a organização, do gerenciamento de matérias-primas até a entrega do produto final. Os princí- pios de gerenciamento logístico levaram uns 70 anos ou mais para ser claramente definidos. Segundo Christopher (2014), o gerenciamento logístico, do ponto de vista de sistemas totais, é o meio pelo qual as necessidades dos clientes são satisfeitas por meio da coordenação dos flu- xos de materiais e de informaçõesque vão do mercado até a empresa, suas operações e, posteriormente, para seus fornecedores. Para o autor, o gerenciamento logístico tem potencial para auxiliar a organização a alcançar tanto a vantagem em custo/produtividade como a vantagem em valor. Em síntese, as organizações que serão líderes de mercado no futuro serão aquelas que procurarão e atin- girão os picos gêmeos da excelência: conseguirão tanto a liderança de custos como a liderança de serviços. Dessa forma, as empresas reconhecem que devem estar pron- tas para enfrentar desafios logísticos, pois o impacto nas mudanças do conteúdo competitivo é muito grande, tra- zendo, com isso, novas complexidades e problemas para a gerência. Em verdade, dos muitos problemas estratégicos que as organizações enfrentam, talvez o mais desafiante seja o da logística. 30 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento Competência logística Para aqueles que estão iniciando os seus estudos ou estão estudando e um dia vão trabalhar em logística, é muito importante que tenham um conhecimento pelo menos bá- sico de como as atividades se encaixam no todo. Também é muito importante que os profissionais envolvidos nas atividades compreendam que a logística pode ser a base de construção de vantagens competitivas. A competência logística está diretamente relacionada com o nível de capacidade da empresa de oferecer ao clien- te uma qualidade de serviço superior com o menor custo possível. A abrangência das atividades logísticas compreende des- de o pedido dos clientes até a entrega dos produtos soli- citados, incluindo os fornecedores de matérias-primas e componentes. Isso tem as seguintes características: a) É impossível a supervisão direta de todas as ope- rações logísticas diante da ampla dispersão geográ- fica operacional. b) A grande variedade de atividades logísticas exige o emprego de muitas tarefas especializadas. c) Cada uma das operações pode ser estudada e tem potencial para que seja efetuada padronização, sim- plificação ou, às vezes, eliminação. 31Fundamentos da logística ...................................................................................................................................................................................................................... Competência logística e competitividade A demonstração da competência logística como diferen- cial competitivo está relacionada com a avaliação do nível de capacidade de fornecer um produto ou serviço supe- rior ao cliente ao menor custo possível. Isso quer dizer que, quando uma empresa decide por diferenças competi- tivas com base nas operações logísticas, objetiva superar a concorrência também nas operações logísticas: a) A empresa pode usar as competências para ele- var o nível de desempenho logístico na entrega dos seus produtos, dando apoio a todas as necessidades da produção e distribuição. b) Fornecer um nível mais elevado de serviço com o menor custo possível é a principal estratégia logísti- ca de uma empresa. c) Os serviços disponibilizados por empresas com características de uma logística de vanguarda têm aspectos como: três fatores fundamentais de servi- ço ao cliente: disponibilidade, desempenho e con- fiabilidade. d) As expectativas referentes à competência logísti- ca são relacionadas diretamente ao posicionamento estratégico de cada empresa. O nível de importância que hoje é dado à logística, dentro da perspectiva estratégica, é ditado pela utilização proativa dessa competência com o objetivo de manter uma vanta- gem competitiva. 32 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento Níveis de desenvolvimento de competências logísticas O Fritz Institute, sediado na cidade estadunidense de São Francisco, apresentou, em 1998, com base em suas pes- quisas, que o desenvolvimento de competências é carac- terizado em três níveis no mercado, assim descritos e pu- blicados. No nível de competência logística considerado no primeiro nível, de nível I, as empresas estão buscando desenvolver competências na execução de atividades como transporte, armazenagem, controle e administração de estoques. Ou- tra característica é que as companhias ainda têm barreiras internas significativas em suas estruturas organizacionais para possibilitar uma integração na cadeia, e muitas des- sas barreiras estão sendo reforçadas em vez de removidas. Para passar para uma categoria de nível II, as empresas precisam, principalmente, ultrapassar essas barreiras in- ternas e combater seus inimigos reais. As companhias que se situam no nível I têm competências básicas em serviço, eficiência e flexibilidade, e o planejamento estratégico não abrange a cadeia. Na competência logística de nível II, atividades globais estão sendo integradas, e os desempenhos, combinados desde a aquisição, produção, entrega e assistência técnica, de forma a possibilitar processos otimizados em escala global. A logística é percebida como uma série de fluxos integra- dos ao longo de toda cadeia de suprimentos, em que cada fluxo requer a análise do equilíbrio e um planejamento 33Fundamentos da logística ...................................................................................................................................................................................................................... integrado entre os parceiros. As empresas parceiras no ca- nal enfatizam o foco em competências centrais por meio da combinação do melhor em relação ao produto, posição geográfica e serviços compartilhados ou terceirizados no atendimento aos recursos de: transportes, armazenagem, instalações e equipamentos, tecnologia de informação e pessoal. O planejamento estratégico passa a ter um valor formal ao longo da cadeia. As empresas de nível II têm alcançado uma sofisticação intermediária, em que o custo tem reduzido, e o serviço e a flexibilidade têm ficado acima da média das indústrias, com uma melhora significativa em relação ao nível básico. A competência logística de nível III representa a integra- ção do canal com o mercado. Esse nível requer que empre- sas liguem seus processos de Supply Chain – SC internos com fornecedores de toda a cadeia da matéria-prima até o consumidor final. O canal transforma-se, agora, em uma empresa integrada com: metas comuns, sistemas, estru- tura organizacional, instalações e gerência compartilhada. O gerenciamento da SC passa a se dar de forma integral, como se esta fosse uma empresa virtual, e a competição não se dá mais entre empresas individualmente, mas en- tre cadeias. Somente um pequeno grupo de empresas consegue atingir o nível III, e não mais do que 5% conseguem atingir uma posição de classe mundial. Dentre estas, pode-se citar como empresas de classe mundial por meio da realização de melhores práticas com ênfase em um processo com nível superior: a Procter e Gamble, Walmart — no aspecto 34 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento do controle de estoques para atender à demanda, a Intel, em relação à manufatura, a Dell e a Becton Dickinson, no que se refere à entrega, a Xerox e a HP, com os serviços de pós-venda, e a Federal Express, quanto ao comprometi- mento com a entrega. Avançar do nível I para uma competência de classe mun- dial nãoé possível sem dominar as práticas dos processos de cada nível. A excelência é atingida por meio de um de- senvolvimento comum do valor de serviço e mobilização na execução dos recursos em três dimensões: processos, sistemas e organização (FRITZ INSTITUTE, 1998). A necessidade de se compreender a SCM como uma gestão baseada em processos de negócios, ativos fixos, capital intelectual, tecnologia da informação, iniciativas, práticas e sistemas — em seus eixos de abrangência — potencia- liza os seus ganhos quando estiver focada em suas core competences por cada parceiro e estas fizerem parte da estratégia competitiva do canal, tornando-se efetivamente uma cadeia de suprimentos integrada. Custo total x nível de serviços Cada nível de serviço origina diferentes receitas e diferen- tes custos, determinando os lucros. Se nenhum serviço é ofertado, incorre-se em baixos custos, mas não se criam as utilidades de tempo e de lugar e não se concretizam as vendas. À medida que o nível de serviço alcança o ní- vel oferecido pelos concorrentes, aumentam-se os custos, mas criam-se as utilidades de tempo e de lugar e estimu- lam-se as vendas (BALLOU, 2001). 35Fundamentos da logística ...................................................................................................................................................................................................................... Fonte: Bio, Robles e Faria (2003). Para Ballou (2001), o custo total logístico é a soma dos custos de transporte, estoque e processamento do pedi- do, sob a perspectiva da cadeia de suprimentos. Decisões tomadas com base no conceito de custo total logístico não conseguem enxergar os custos existentes fora da empresa. Esse tipo de análise torna-se um tanto quanto restritivo, por não conseguir gerenciar os custos gerados pelas ati- vidades desempenhadas por uma cadeia de suprimentos. Pelo fato de estar restrita a aspectos internos da empresa, tal análise não permite uma visão estratégica dos custos. Segundo Ballou (2001), uma administração eficaz e econo- mias reais de custos serão obtidas analisando a logística como um sistema integrado e minimizando o custo total. As categorias de custo logístico a serem analisadas, se- gundo Lambert, Stock e Vantine (2000), são: Custos de vendas perdidas: são associados aos níveis de serviço ao cliente. Normalmente de difícil mensuração, ser- vem de parâmetro para determinação dos demais custos. 36 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento Custos de transporte: o transporte de mercadoria envolve não apenas os custos de frete, mas também os aspectos que sustentam essa atividade, como terceirização de ser- viço, agentes, despesas alfandegárias, movimentação de materiais etc. Custos de armazenagem: referentes à estocagem e variam de acordo com o nível de estoques em poder de um depósito. Custos de processamento de pedidos: incluem os custos de transmissão de pedidos, entrada, processamento e mo- vimentação, bem como os custos de comunicação interna e externa. Custos de lotes: são relativos à produção interna ou à aquisição externa. Referem-se ao custo de preparação da produção (setup de máquinas, inspeção, refugo e inefici- ências), movimentação, programação e expedição de ma- teriais. Custos de manutenção de estoques: incluem os custos de capital (custo financeiro de oportunidade da empre- sa multiplicado pelo investimento variável em estoques), custos de serviços de inventário (seguros, impostos etc.), custos de espaço de armazém e os custos de riscos de in- ventário (obsolescência, roubo, avarias e realocação). O nível adequado de custos logísticos está relacionado com o desempenho desejado de serviços. A obtenção si- multânea de grande disponibilidade, confiabilidade e de- sempenho operacional tem um alto custo. A dificuldade de aplicar o conceito é decorrente do fato de que a rela- 37Fundamentos da logística ...................................................................................................................................................................................................................... ção entre o custo logístico e um melhor desempenho não é diretamente proporcional. É possível que uma empresa que assume compromisso com seus clientes com relação à disponibilidade de estoque, com a promessa de entregas consistentes, duplique o seu custo logístico. Podemos di- zer que a chave para alcançar a excelência logística é do- minar a arte de combinar competência com expectativas e necessidades básicas dos clientes. Nível de serviços Na realidade, considerando o ambiente tecnológico, o fa- tor que oferece restrições não é a tecnologia, mas o fator econômico. É sempre impossível ter disponibilidade dos recursos para todas as situações desejadas. Em última análise, o nível de serviço logístico representa um equilí- brio entre nível de serviços e custos. Preliminarmente, para obter resultados em níveis de ser- viços, é necessário grande flexibilidade logística e grande disponibilidade de produto. Também para novos produ- tos, o planejamento de apoio deverá permitir que a empre- sa forneça um rápido e consistente ressuprimento. Também devemos observar a qualidade da gestão da de- manda, compreendendo, assim, um sistema sustentável de previsões da demanda, com acompanhamento perma- nente da trajetória da demanda, em tempo real, com utili- zação da tecnologia da informação, ajustando as variações ocorridas imediatamente. Como a posição do mercado não está totalmente assegurada, as empresas poderão op- tar por remessas pequenas com maior frequência. ...................................................................................................................................................................................................................... 38 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento Existem várias maneiras como o serviço ao cliente pode ser visto, entre elas: (1) Como uma atividade gerencial: uma visão de serviço ao cliente como uma atividade gerencial sig- nifica que as operações podem ser gerenciadas. (2) Em termos de níveis de desempenho: pensar no serviço ao cliente em termos de níveis de desem- penho significa que o serviço pode ser mensurado com precisão, inclusive com a utilização de indica- dores. (3) Como uma filosofia de gestão: a noção de servi- ço ao cliente como uma filosofia de gestão demons- tra uma preocupação permanente com a atividade orientada para o consumidor. 39O papel da tecnologia da informação ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ O PAPEL DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO O impacto da nova tecnologia da informação no desen- volvimento da logística provocou uma mudança de para- digmas na coordenação e integração ao longo de toda a cadeia após os anos 1990. Já na década de 1980, tiveram início as aplicações iniciais do código de barras, acarretando o aprimoramento do de- sempenho logístico. Também teve início o uso de sistemas integrados com o intercâmbio eletrônico de dados (ele- tronic data interchange – EDI), para facilitar a integraçãodas empresas. A existência de sistemas e dispositivos na leitura e transferência imediatas de informações, com ple- na integração e disponibilidade de informações em tempo real, tornou o desempenho logístico mais eficiente. Veio, também, a integração de redes de computadores, internas e externas, facilitando a disponibilidade de informações 40 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento precisas e em tempo hábil, tanto para clientes como para fornecedores. Já no início dos anos 1990, apareceram as tecnologias mais avançadas e disponíveis no mercado. Estava claro que a capacidade de transmissão de mensagens gravadas, som e imagem já disponíveis iriam evoluir e ficar viáveis economicamente. Então, essa evolução que proporcionou a capacidade de se obter informações em tempo real por meio de comunicação via satélite ganhava um padrão “su- perstar” ou de “empresa de ponta”. Já se podia empre- gar os resultados da aplicação de uma tecnologia de in- formações rápidas, em tempo real, precisa e abrangente, quebrando paradigmas, introduzindo uma concepção da logística baseada no tempo, com fluxos de informações e produtos sincronizados. Nos anos vindouros, o desenvolvimento contínuo da tec- nologia da informação sobre as atividades logísticas ofe- receu oportunidades contínuas para a integração de pro- cessos logísticos. Também continuou em declínio o custo de aquisição e implantação de sistemas de informações para logística, o que favoreceu a continuação do seu de- senvolvimento. Desse modo, a tecnologia da informação tornou-se a chave para a evolução e desenvolvimento da logística, permitin- do que a gestão tome decisões sobre amplas atividades operacionais, atravessando funções e empresas, desde fornecedores a clientes. É importante ter informações pre- cisas e oportunas sobre todas as funções e organização da empresa ao longo da cadeia de suprimentos, uma vez que 41O papel da tecnologia da informação ...................................................................................................................................................................................................................... está disponível em tempo real. Ao tentar determinar os cronogramas de produção, não basta que o fabricante sai- ba quanto de estoque a empresa tem disponível. Também precisa saber a demanda a jusante e também os tempos de espera e variabilidade do fornecedor a montante. Para preencher as necessidades de informações na logísti- ca, estas precisam ter as características a seguir para que sejam úteis no cumprimento da missão da logística. Os sistemas de informação logísticos podem ser definidos como o nível de integração das atividades logísticas, em tempo real, capazes de criar um processo integrado. A fim de atender às necessidades de informação, assim como ser capaz de apoiar o planejamento e operações das empresas, os sistemas de informação devem abranger alguns princí- pios básicos, tais como disponibilidade, precisão, atuali- zação em tempo hábil e flexibilidade. Esses princípios são definidos a seguir (BOWERSOX; CLOSS, 2001): Disponibilidade: por muitos anos, as informações cos- tumavam ser documentadas em papel, o que conduzia a procedimentos de lenta transferência e baixa confiabili- dade, assim como uma maior propensão a erros. Pode-se imaginar o baixo grau de satisfação do cliente, em virtude de operações de compra e venda limitadas pela velocidade dos procedimentos dependentes do fluxo de papéis. Nes- se sentido, mais tarde, diante dos efeitos da mudança de paradigmas da produção, houve necessidade de disponi- bilizar as informações logísticas em tempo hábil e de for- ma consistente. A própria natureza descentralizada das operações logísticas torna necessário o acesso imediato à informação em qualquer área geográfica. Informações 42 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento como prazo e status do pedido e do estoque devem estar disponíveis não só ao acesso interno da empresa, como também aos clientes finais. Precisão: as informações disponíveis pelos sistemas de in- formação em uma base de dados centralizada devem ser precisas, ou seja, devem apresentar conformidade com as novas informações que entram no sistema, tais como sta- tus atualizado e contagens físicas. A consistência entre o nível de estoque físico e o estoque disponibilizado pelos sistemas de informação elimina a necessidade de manter estoques de segurança, o que gera, em decorrência, redu- ção de custos de armazenagem. Atualização em tempo hábil: o tempo de atualização pode ser definido como a diferença entre o momento em que determinada atividade ocorre e o tempo em que ela é disponibilizada no sistema de informação. A atualização de informações em tempo hábil proporciona um feedback rápido de informações a nível gerencial. Eventuais atra- sos em tal atualização ocasionam inconsistência entre a demanda real e a registrada no sistema, o que muitas ve- zes implica perda de vendas e aumento de estoque. A dis- posição de informações em tempo real já é possível hoje graças à adoção de poderosas tecnologias de captura de dados em radiofrequência, tais como os códigos de barras e etiquetas eletrônicas. Flexibilidade: por fim, os sistemas logísticos de informa- ção devem ser flexíveis o suficiente para que promovam a satisfação do cliente e atendam às suas necessidades mais específicas. Assim, por exemplo, em algumas aplicações, o 43O papel da tecnologia da informação ...................................................................................................................................................................................................................... cliente é capaz de realizar o acesso a informações restritas a determinada área geográfica. Os sistemas de informação oferecem uma ampla variedade de aplicações, mediante o emprego de tecnologias, abran- gendo tanto a parte de software quanto a de hardware, por meio dos quais se pode gerenciar, controlar e medir as atividades logísticas. Enquanto o hardware abrange com- putadores, dispositivos periféricos de entrada e saída e meios de armazenagem de dados, o software inclui siste- mas e programas aplicativos, empregados nas operações transacionais e gerenciais, bem como na análise de deci- são e planejamento estratégico. Essas tecnologias apresentaram uma grande evolução, so- bretudo nas últimas décadas, produzindo impactos posi- tivos sobre o planejamento, execução e controle logístico. Neste capítulo, você estudou o histórico, evolução e desen- volvimento da logística por meio de três tópicos: evolução e desenvolvimento da logística, fundamentos da logística e o papel da tecnologia da informação. Entendemos que, primeiramente, fazendo uma retrospec- tiva da trajetória da logística empresarial, podemos com- preender melhor a sua evolução e desenvolvimento, com elevado impacto da tecnologia da informação e suas re- percussões no ambiente de negócios. No segundo tópico, abordamos os fundamentos da logís- tica, iniciando com a sua missão como um esforço inte- grado com o objetivo de criar valor para o cliente. Depois, 44 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento abordamos as competências logísticas, o que significa de- senvolveruma estrutura que relaciona os aspectos mais básicos da logística com a estratégia logística da empresa. Abordamos, também, a necessidade de obter o menor ní- vel de serviços com o menor custo possível nas operações logísticas. Finalmente, explicamos o desenvolvimento da tecnologia da informação e seu papel na integração de todos os pro- cessos logísticos, em tempo real, com compartilhamento de todas as informações. 45 ...................................................................................................................................................................................................................... REFERÊNCIAS BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2001. BIGATON, A. L. W.; ESCRIVÃO FILHO, E. Logística e a tec- nologia da informação. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 2004, Resende. Anais... Resende: AEDB, 2004. BORNIA, A. C.; LORANDI, J. A.; ALBERON, L. Estabelecen- do competências na gestão da cadeia de suprimentos. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 2., 2006, Resende. Anais... Resende: AEDB, 2006. BOWERSOX, J. D; CLOSS, D.; J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Pau- lo: Atlas, 2001. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gestão da Cadeia de Suprimentos. São Paulo: Pearson, 2011. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo, Cengage Learning, 2014. FERNANDEZ, F. A. Histórico e evolução da logística. Log- fácil Soluções, Rio de Janeiro, 4 jun. 2015. Disponível em: <https://goo.gl/HLNZWP>. FLEURY, P. F.; WANKE, P. Logística e gerenciamento da ca- deia de suprimentos. São Paulo: Atlas, 2003. LAMBERT, D. M.; STOCK, J, R.; VANTINE G. Administração estratégica da logística. São Paulo: Vantine Consultoria Editora, 2000. 46 ...................................................................................................................................................................................................................... Histórico, evolução e desenvolvimento NOVAES, A. G. Logística e Gerenciamento da cadeia de distribuição. São Paulo: Elsevier, 2014. PEDREIRA, L. N. Tecnologia da informação. In: . Pro- posta para um sistema de controle de armazéns (WCS) com aplicação em uma empresa de pequeno porte. 2006. 114 f. Dissertação (Mestrado em Gerência de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. 47 ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 2 COMPREENDENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL Neste capítulo, apresentaremos os conceitos de uma rede logística ou uma cadeia de suprimentos e os aspectos relacionados com o seu projeto, configuração e coorde- nação. Discutiremos o significado da configuração dos componentes da cadeia de suprimentos e do impacto da coordenação no seu desempenho para o sucesso de uma empresa, apresentando diversos exemplos para ilustrar os assuntos tratados. Projeto de rede de uma cadeia de suprimentos Começamos com os estudos sobre um projeto de rede ou cadeia de suprimentos, observando os requisitos impor- tantes em um projeto de rede e as características para cada caso. Configuração de uma cadeia de suprimentos Neste tópico, discutiremos a estrutura de uma cadeia de suprimentos e o papel de cada um dos seus componentes principais: os ciclos de atividades e as atividades logísticas. 48 ...................................................................................................................................................................................................................... Compreendendo a logística empresarial Coordenação de uma cadeia de suprimentos Neste tópico, será discutido como a falta de coordenação traz problemas e leva a uma queda de eficiência e a um aumento de custo dentro de uma cadeia de suprimentos. Serão descritos os vários obstáculos que poderão levar a essa queda no desempenho. 49Projeto de rede de uma cadeia de suprimentos ...................................................................................................................................................................................................................... PROJETO DE REDE DE UMA CADEIA DE SUPRIMENTOS O que é uma cadeia de suprimentos? Uma cadeia de suprimentos consiste em todas as partes envolvidas, direta ou indiretamente, na realização de um pedido do cliente. Ela inclui não apenas o fabricante e os fornecedores, mas também transportadoras, centros de distribuição, varejistas e, às vezes, os próprios clientes. Dentro de cada organização, assim como em um fabrican- te, a cadeia de suprimentos inclui todas as funções envol- vidas na recepção e na realização de uma solicitação do cliente. Considere um cliente entrando em um supermercado para comprar detergente, por exemplo. A cadeia de suprimen- tos começa com o cliente e sua necessidade por detergente. O estágio seguinte é a loja de supermercado que o cliente visita para atender às suas necessidades. O supermercado abastece as suas prateleiras usando os produtos em es- toque, que pode ter sido fornecido por um armazém ou centro de distribuição ou por um distribuidor usando ca- minhões fornecidos por terceiros. O distribuidor, por sua vez, é abastecido pelo fabricante de detergente. A fábrica de detergente recebe matéria-prima de diversos fornece- dores, que, por sua vez, podem ter sido abastecidos por fornecedores de camadas inferiores. O material de emba- lagem pode vir de um outro fornecedor que, por sua vez, recebe de outros fornecedores matéria-prima para fabri- 50 ...................................................................................................................................................................................................................... Compreendendo a logística empresarial car a embalagem. Assim, cada cadeia de suprimentos tem os seus fluxos para atender às necessidades dos clientes. Uma cadeia de suprimentos é dinâmica e envolve o fluxo constante e contínuo de informações, produtos e servi- ços ao longo da cadeia de suprimentos. Na descrição ci- tada, o supermercado oferece o produto ao cliente, além de informações de preços e disponibilidade. O cliente efetua a compra e o pagamento, e o supermercado con- duz dados do ponto de vendas e pedido de reposição dos estoques da loja. O supermercado efetua o pagamento ao fornecedor após a reposição, e o fornecedor também ofe- rece informações de preços e a programação de entrega. O supermercado pode retornar o material descartado de embalagem para ser reciclado. 51Projeto de rede de uma cadeia de suprimentos ...................................................................................................................................................................................................................... Projeto de rede O projeto de rede é uma responsabilidade básica da gestão logística, visto que as instalações da empresa são usadas para fornecer produtos e materiais para os clientes. Fábri- cas, armazéns, instalações, lojas de varejo etc. constituem também típicas operações logísticas. A determinação da quantidade necessária de cada tipo de instalação, sua lo- calização geográfica e os processos que serão realizados em cada um são algumas das questões mais importantes no projeto de rede. Em situações específicas, a operação pode ser terceirizada, delegada a especialistas em serviços logísticos. Independentemente de quem executa as ope- rações, todas as instalações devem ser gerenciadas como uma parte integrante da rede logística da empresa. O objetivodo projeto de rede é determinar a quantidade e a localização de todos os tipos de instalações necessárias para a execução dos processos logísticos. Também é pre- ciso determinar o tipo de estoque e o volume a ser arma- zenado em cada instalação, assim como é preciso vincular os pedidos dos clientes aos locais de onde deve ser feita a expedição. A rede de instalações forma uma estrutura a partir da qual as operações logísticas são executadas. Assim, a rede incorpora capacidades relacionadas com a informação e o transporte. Todas as tarefas específicas associadas ao processamento de pedidos dos clientes, à manutenção dos estoques e ao manuseio de materiais são executadas da estrutura do projeto de rede. O projeto de uma rede deve considerar as diferenças geo- gráficas. A existência de grande diferença entre mercados 52 ...................................................................................................................................................................................................................... Compreendendo a logística empresarial geográficos é de fácil explicação. Portanto, uma empresa que atua em escala nacional deve desenvolver capacidades e competências logísticas para atender aos mercados es- pecíficos. Quando uma empresa tem operações globais, as questões relacionadas ao projeto de rede tornam-se cada vez mais complexas. a) A importância da modificação da rede de insta- lações, visando adaptá-la às mudanças nas infraes- truturas da oferta e da demanda, deve estar sempre presente. b) A variedade de produtos, a demanda dos clientes e as necessidades de produção estão em constante mudança em um ambiente dinâmico e competitivo. c) Embora a realocação simultânea de todas as ins- talações logísticas seja inconcebível, existe uma li- berdade de ação considerável na realocação ou na revisão de instalações existentes. d) Ao longo do tempo, todas as instalações devem ser reavaliadas para determinar se sua localização ainda é a mais adequada. e) A seleção de uma melhor rede em termos de lo- calização pode significar o primeiro passo para a obtenção de vantagem competitiva. A eficiência da logística é, ao mesmo tempo, dependente e limitada pela estrutura da rede. Papel do projeto de rede na cadeia de suprimentos Decisões de projeto de rede de cadeia de suprimentos in- cluem a atribuição a cada instalação do papel de instala- ções, da localização de instalações relacionadas à produ- 53Projeto de rede de uma cadeia de suprimentos ...................................................................................................................................................................................................................... ção, do armazenamento e do transporte e da alocação ou do transporte e da alocação de capacidade e mercados. Decisões de projetos de rede têm um impacto significa- tivo no desempenho, pois determinam a configuração da cadeia de suprimentos e estabelecem restrições dentro das quais outras atividades na cadeia podem ser usadas ou para diminuir os seus custos ou para aumentar a sua responsividade. Todas as decisões relacionadas ao proje- to de rede afetam umas às outras e precisam ser feitas levando esse fato em consideração. Decisões com relação ao papel de cada uma das instalações são significativas, pois determinam a quantidade de flexibilidade que a ca- deia de suprimentos tem em mudar a forma como atende à demanda. A Toyota tem fábricas localizadas pelo mundo afora, em cada mercado que atende. Antes de 1997, cada fábrica era capaz de atender somente ao seu mercado local. Isso pre- judicou a Toyota quando a economia asiática entrou em recessão no final da década de 1990. As fábricas locali- zadas na Ásia tinham capacidade ociosa, que não poderia ser usada para atender a outros mercados, que estavam experimentando demanda em excesso. A Toyota aumen- tou a flexibilidade de cada fábrica para poder atender a mercados outros que não os locais. Essa flexibilidade adi- cional ajuda a empresa a lidar de modo mais eficaz com mudanças em condições de mercado global. De modo semelhante, a flexibilidade das fábricas da Hon- da nos Estados Unidos de produzir tanto utilitários quan- to carros de passeio na mesma fábrica foi muito útil em 54 ...................................................................................................................................................................................................................... Compreendendo a logística empresarial 2008, quando a demanda por utilitários caiu, exceção a carros pequenos. Decisões de fontes de suprimentos, capacidade e locali- zação das instalações exercem um impacto a longo prazo sobre o desempenho de uma cadeia de suprimentos, pois é muito caro fechar uma instalação ou mudá-la para um local diferente. Aprendendo com uma descrição real do projeto de rede da Dell Computer Corporation “O modelo Dell de negócios” é tema de interesse de di- ferentes setores industriais pelo fato de a empresa não possuir quase estoque, não produzindo seus produtos e não possuindo lojas, trocando estoques por informações. A organização Dell Computer Corporation, uma empresa de computadores de uso pessoal e corporativo, foi fun- dada em 1984, com plano arrojado, fazendo negócios diretamente para o cliente, eliminando revendedores, distribuidores, varejistas e atacadistas de sua cadeia de suprimentos, garantindo uma relação sem precedentes entre o cliente e o fabricante, relação essa que permite estender o ciclo de vida do produto e prioriza a satisfação do cliente. Beneficia-se do conhecimento adquirido por seus parcei- ros da área de tecnologia, e seus parceiros se beneficiam pelo retorno em vendas e suporte tecnológico. Michael Dell tornou on-line o negócio da Dell em 1994. Três anos depois, apresentava um catálogo eletrônico que 55Projeto de rede de uma cadeia de suprimentos ...................................................................................................................................................................................................................... permitia aos clientes adquirir computadores pela internet. Porém, até a metade dos anos 2000, a Dell reduziu seus custos com pedidos via funcionários. Investiu na constru- ção do seu próprio canal direto com o cliente, podendo visualizar informações, conseguindo, assim, responder às mudanças com maior rapidez. Ele chama esse seu modelo de negócios de “integração vir- tual”, em que a empresa está voltada ao consumidor indi- vidual e integra a cadeia de suprimentos com foco mais no fluxo de informação do que no tradicional fluxo físico de materiais. A filosofia de negócios se baseia em construir sob encomenda (built-to-order), combinada com exigên- cias dos clientes. Por possuir uma estrutura de manufa- tura flexível e administração de estoques, permite atender rapidamente a pedidos únicos de diferentes tamanhos e complexidade. A Dell acredita em uma abordagem baseada na relação di- reta com o cliente, uma estratégia de distribuição e foco em operar eficientemente. Como resultado, possuem pro- dutos com qualidade elevada, alta flexibilidade, custos reduzidos, entrega rápida e capacidade de adaptação da produção. A Dell oferece uma solução personalizada para atender a suas necessidades empresariais ou pessoais. Por meio do site, o cliente pode ter uma resposta imediata sobre configurações e preços do produto; isso possibilita que a Dell crie uma configuração personalizada para todo com- prador. Seus produtos são customizados e montados por módulos após a confirmação da compra, enviados ao cen- 56 ......................................................................................................................................................................................................................
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