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IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO COM SURDOS EFATÁ CURSO INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS “A Língua de Sinais é, nas mãos de seus mestres, uma linguagem das mais belas e expressivas, para qual, no contato entre si é como um meio de alcançar de forma fácil e rápida a mente do surdo, nem a natureza nem a arte proporcionam um substituto satisfatório. ” J. Schuyler Long ALUN@: ______________________________________________________________ INSTRUTR@: _________________________________________________________ SÃO LUÍS- MA 2017 APRESENTAÇÃO A igreja Evangélica Assembleia de Deus evangeliza os surdos através do Ministério EFATÁ, que vem facilitando o ensino-aprendizagem dentro de um processo contínuo numa perspectiva voltada a futuros profissionais servos preparados para discípula surdos no caminho do Senhor. Diante da dificuldade de inserção do surdo na sociedade, o Ministério EFATÁ, visa capacitar igrejas para transmitir o amor de Deus aos Surdos e despertar vocação de Surdos e Ouvintes, capacitando verdadeiros servos nessa maravilhosa obra, pois pesquisas divulgam que há mais de 6 milhões de surdos brasileiros que não tem a oportunidade de ouvir a mensagem da salvação. Eles não podem compreender esta mensagem se não for propagada em sua própria Língua, a Língua Brasileira de Sinais- LIBRAS. ” É necessário capacitar liderança formadora de discípulos, conforme a ordem deixada por jesus Cristo em Matheus 28.19. Ide fazei discípulos de todas as nações... e levar o povo de Deus ao conhecimento dos surdos mostrando sua língua e cultura”, declara Marília Moraes Manhães, Coordenadora nacional do Ministério com Surdos da JMN.7 “Naquele dia, os surdos ouvirão a mensagem que será lida no livro fechado e lacrado...” (Isaias 29.18ª). O Ministério EFATÁ, deseja que você possa aprender e compreender a LIBRAS crescendo espiritualmente e testemunhando o amor de Deus para com os surdos cumprindo o IDE... DE JESUS CRISTO. E como ouvirão se não há quem pregue? Romanos 10:14c- Você aceita esse desafio? SEJAM BEM VINDOS AO CURSO DE LIBRAS! SUMÁRIO 1. A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS .......................................................................... 5 2. ASPECTOS LEGAIS DA LIBRAS .................................................................................. 7 3. PROPRIEDADES DAS LÍNGUAS HUMANAS NAS LÍNGUAS DE SINAIS .... 20 4. ESTUDOS LINGUÍSTICOS DAS LÍNGUAS DE SINAIS ....................................... 25 4.1 Áreas Da Linguística ......................................................................................................... 25 4.2 Fonologia das Línguas de Sinais ...................................................................................... 26 4.3 Morfologia Em Libras ....................................................................................................... 29 5. VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS ...................................................................................... 32 6. ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE...................................................................... 35 7. MARCADORES NÃO MANUAIS ................................................................................ 38 8. SISTEMAS DE TRANSCRIÇÃO PARA LIBRAS .................................................... 40 9. TIPOS DE VERBOS NA LIBRAS ................................................................................. 45 9.1 Verbos com concordância número – pessoal ................................................................. 45 9.2 Verbos sem Concordância ................................................................................................ 46 9.3 Verbos Espaciais ................................................................................................................ 47 10. ESTABELECIMENTO NOMINAL E SISTEMA DE PRONOMINALIZAÇÃO 48 11. A ORDEM DA FRASE NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA ........................... 50 11.1 Topicalização ................................................................................................................... 50 12. INTENSIFICADOR E ADVÉRBIOS DE MODO ....................................................... 52 12.1 Verbos que Incorporam o Formato dos Argumentos da Sentença ............................. 53 13. CLASSIFICADORES ....................................................................................................... 54 13.1 Tipos de classificadores .................................................................................................. 54 13.2 Os Classificadores e os Adjetivos Descritivos na Libras ......................................... 58 13.3 Verbos Classificadores.................................................................................................... 60 14. UM BREVE PASSEIO PELAS RAÍZES DA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO DE SURDOS ...................................................................................................................................... 62 14.1 Conceitos .......................................................................................................................... 64 14.2 Modelos Educacionais Na Educação De Surdos ......................................................... 65 15. CONHECENDO A ANATOMIA DO OUVIDO .......................................................... 65 15.1 Graus De Surdez: O Que Se Sente? .............................................................................. 66 15.2 Comportamento Auditivo Da Criança De Acordo Com Os Diferentes Graus De Surdez ........................................................................................................................................ 66 15.3 Tipos De Surdez .............................................................................................................. 68 15.3.1 A Surdez É Mista Quando Existe Problema Em Ambos Mecanismos ............. 69 15.3.2 O Tratamento Da Surdez Depende Da Causa ................................................... 69 15.3.3 Prevenindo A Surdez ......................................................................................... 70 15.3.4 Características Da Surdez .................................................................................. 70 15.4 Perdas Auditivas .............................................................................................................. 71 16. CULTURA E IDENTIDADE SURDA ........................................................................... 72 16.1 Tipos de Identidades Surdas ........................................................................................... 73 17. HISTÓRIAS DA DATILOLOGIA ................................................................................ 76 18. EMPRÉSTIMO LINGUÍSTICO .................................................................................... 77 19. CONHECENDO O INTÉRPRETE DE LIBRAS ....................................................... 78 19.1. Histórico Do Intérprete De Libras ................................................................................ 78 19.2 O Ato De Interpretar ....................................................................................................... 80 19.3 Tradução /Interpretação .................................................................................................. 81 19.4 Os Tradutores ................................................................................................................... 86 19.5 O tradutor – Intérprete de Libras ................................................................................... 86 19.6 Papel Do Intérprete Educacional ................................................................................... 87 20. CÓDIGO DE ÉTICA DO INTÉRPRETE DE LIBRAS ............................................. 91 21.TRANSCRIÇÃO: SIGN WRIGTING........................................................................... 93 22. INICIANDO O MINISTÉRIO COM SURDOS .......................................................... 94 1. A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Muitas pessoas acreditam que a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é o português nas mãos, na qual os sinais substituem as palavras. Outras pensam que é linguagem como a linguagem das abelhas ou do corpo. Muitas pensam que são somente gestos iguais ao das línguas orais. Entre as pessoas que acreditam que é uma língua, há algumas que creem que é limitada e expressa apenas informações concretas e que não é capaz de transmitir ideias abstratas. Pesquisas sobre LIBRAS vêm sendo desenvolvidas, mostrando que, esta língua é comparável em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais. Esta língua não é uma forma do português; ao contrário, tem suas próprias estruturas gramaticais, que deve ser aprendida do mesmo modo que outras línguas. As LIBRAS diferem das línguas orais por utilizar outro canal comunicativo, isto é, a visão em vez da audição. A LIBRAS é capaz de expressar ideias sutis, complexas e abstratas. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho, moda, etc. A LIBRAS pode expressar poesia e humor. Como outras línguas, a LIBRAS aumenta o vocabulário com novos sinais introduzidos pela comunidade surda em resposta à mudança cultural e tecnológica. (Quadros e Karnopp, 2004) A LIBRAS não é universal. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo usam línguas de sinais diferentes. A LIBRAS foi criada e desenvolvida por surdos do Brasil para a comunicação entre eles e existe há tanto tempo quanto a existência das comunidades de surdos. A maior divulgação da língua de sinais no Brasil começou quando foi fundado o Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES) em 1857, chamada, então, de mímica. Sendo o INES a primeira escola para surdos por muitos anos; funcionando em regime de internato, recebia alunos de todas as regiões do Brasil, os quais, ao voltarem para suas cidades, nas férias, difundiam essa língua por todo país. Assim, a LIBRAS difere da língua de sinais de Portugal. Como havia professor que dominava a Língua de Sinais Francesa no INES, na sua fundação, a LIBRAS hoje traz um pouco das características desta língua de sinais francesa e difere da língua de sinais de Portugal, embora os dois países, Brasil e Portugal tenham historicamente dividido a mesma língua oral. A partir do Congresso em Milão, Itália, em 1880, a filosofia educacional começou a mudar na Europa e, consequentemente, em todo mundo. O método combinado que utilizava tanto sinais como o treinamento em língua oral foi substituído em muitas escolas pelo método oral puro, o oralismo. Muitas pessoas acreditavam que a única forma possível para que as crianças surdas se integrassem ao mundo dos ouvintes seria falar e ler os lábios. E assim muitas escolas passaram a insistir com os alunos surdos para que entendessem a língua oral e aprendessem a falar. Os professores surdos já existentes nas escolas, naquela época, foram afastados, e os alunos desestimulados a usarem a língua de sinais (mímica), tanto dentro quanto fora da sala de aula. Era comum a prática de amarrar as mãos das crianças para impedi-las de fazer sinais. Isso aconteceu também no Brasil. Mas apesar dessas tentativas de desestimular o uso da língua de sinais, a LIBRAS continuou sendo a língua preferida da comunidade surda. Os surdos, quando viram que o uso de sinais estava proibido, reconheceram e consideram a LIBRAS como sua língua natural, a qual reflete valores culturais e guarda suas tradições e heranças vivas. A Libras é um sistema linguístico de difusão de ideias e fatos, oriundo das comunidades de pessoas surdas no Brasil. Sua origem mais remota é a Língua de Sinais Francesa, indicando que as línguas de sinais não são universais e que têm nas suas expressões certa dose de regionalismos, como em qualquer outra língua. Esse fato a legitima ainda mais como língua e a coloca no mesmo status das línguas orais, pois se presta às mesmas funções. Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos, sendo que a configuração das mãos pode se dar pela datilologia (alfabeto manual) ou por outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros ou esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos, passando pela expressão facial e/ou corporal, de suma importância para o entendimento do sinal. O abade Charles Michel L’Epée foi um marco na história da educação dos surdos quando, ao aprender a língua de sinais com surdos nas ruas de Paris, associou esses sinais a figuras e a palavras escritas. A união da língua nativa de sinais com a gramática francesa possibilitou que os alunos surdos pudessem escrever o que lhes era dito por meio de um intérprete que se comunicava com sinais. Dessa forma o Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris proporcionou acesso ao conhecimento e à cultura, tornando-se referência científica e cultural para surdos de diversos países. No Brasil, data de 1857 a primeira escola de surdos, criada pela Lei nº. 839, de 26 de setembro de 1857, por Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, denominado Collégio Nacional para Surdos-Mudos, atual INES – Instituto Nacional de educação dos Surdos. Seu primeiro professor foi Hernest Huet, cidadão francês, surdo, que trouxe na bagagem a Língua de Sinais Francesa. Segundo Marques (2009), é de 1873 o mais antigo documento sobre a Libras, denominado ‘Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos’, de autoria de Flausino José da Gama, aluno dessa instituição. Essa Língua de Sinais resistiu na sala de aula até ser banida pelo Congresso de Milão, e sua continuidade só se deu graças aos alunos que a mantiveram viva nos pátios e corredores da escola (MARQUES, 2009). A partir do Congresso de Milão, em 1880, que proibiu o uso da língua de sinais nas escolas, prevaleceu o oralismo na educação dos surdos. Essa medida, além de não provocar os resultados esperados, diminuiu significativamente o número de surdos escolarizados. Sem uma educação condizente às suas necessidades, que proporcionasse condições de apropriação de conhecimento, restou a esses indivíduos ocupar funções em setores inferiores do mercado de trabalho. No final dos anos de 1970, surgiu um novo método chamado de comunicação total, que incorpora múltiplos meios num processo interativo entre oralidade, alfabeto digital, sinais e escrita. Na década de 1980, diversas pesquisas foram iniciadas, uma delas realizada pela professora de Linguística Lucinda Ferreira Brito sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras. Também nessa década surgem discussões acerca do bilinguismo, de extrema importância à língua de sinais. O bilinguismo consiste em uma forma de comunicação e expressão própria das pessoas surdas. Outra característica dessa abordagem é que os surdos aprendem primeiro a sua língua nativa que é a Libras para depois aprender a língua portuguesa. Alguns benefícios da proposta bilíngue são o uso da língua de sinais nas escolas, a inserção de intérpretes, a produção de material multimídia, a criação de leis inclusivas, exigência de mudanças curriculares, entre outros (MARQUES, 2009, p.35). 2. ASPECTOS LEGAIS DA LIBRAS LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais- Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, DECRETA: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. CAPÍTULO II DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudióloga, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. CAPÍTULO III DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS E DO INSTRUTOR DE LIBRAS Art. 4o A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5o A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue. § 1o Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngue, referida no caput. § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 6o A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições credenciadas por secretarias de educação. § 1o A formação do instrutor de Libras pode ser realizada também por organizações da sociedade civil representativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III. § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 7o Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação; II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; III - professor ouvinte bilíngue: Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. § 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. § 2o A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério. Art. 8o O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7o, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. § 1o O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele credenciadas para essa finalidade. § 2o A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente. § 3o O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e linguistas de instituições de educação superior. Art. 9o A partir da publicação deste Decreto, as instituições de ensino médio que oferecem cursos de formação para o magistério na modalidade normal e as instituições de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos: I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curricular deve iniciar- se nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras,ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto, programas específicos para a criação de cursos de graduação: I - para formação de professores surdos e ouvintes, para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngue: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua; II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos; III - de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. CAPÍTULO IV DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. § 1o Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem: I - promover cursos de formação de professores para: a) o ensino e uso da Libras; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas; II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos; III - prover as escolas com: a) professor de Libras ou instrutor de Libras; b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos; IV - garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de conhecimentos expressos em Libras, desde que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos; VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva. § 2o O professor da educação básica, bilíngue, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente. § 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como: I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas da saúde e da educação, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade. Parágrafo único. A definição de espaço para o desenvolvimento da modalidade oral da Língua Portuguesa e a definição dos profissionais de Fonoaudiologia para atuação com alunos da educação básica são de competência dos órgãos que possuam estas atribuições nas unidades federadas. CAPÍTULO V DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa. Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil: I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior; II - profissional ouvinte, de nível médio, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação no ensino fundamental; III - profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e eventos. Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidasneste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, o Ministério da Educação ou instituições de ensino superior por ele credenciadas para essa finalidade promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto, as instituições federais de ensino da educação básica e da educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos. § 1o O profissional a que se refere o caput atuará: I - nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino; II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas; e III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim da instituição de ensino. § 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. CAPÍTULO VI DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS PESSOAS SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de: I - escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II - escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. § 1o São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. § 2o Os alunos têm o direito à escolarização em um turno diferenciado ao do atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação. § 3o As mudanças decorrentes da implementação dos incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos próprios alunos, de sua opção ou preferência pela educação sem o uso de Libras. § 4o O disposto no § 2o deste artigo deve ser garantido também para os alunos não usuários da Libras. Art. 23. As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais, bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação, à informação e à educação. § 1o Deve ser proporcionado aos professores acesso à literatura e informações sobre a especificidade linguística do aluno surdo. § 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 24. A programação visual dos cursos de nível médio e superior, preferencialmente os de formação de professores, na modalidade de educação a distância, deve dispor de sistemas de acesso à informação como janela com tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas, conforme prevê o Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004. CAPÍTULO VII DA GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE DAS PESSOAS SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Art. 25. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Sistema Único de Saúde - SUS e as empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde, na perspectiva da inclusão plena das pessoas surdas ou com deficiência auditiva em todas as esferas da vida social, devem garantir, prioritariamente aos alunos matriculados nas redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades médicas, efetivando: I - ações de prevenção e desenvolvimento de programas de saúde auditiva; II - tratamento clínico e atendimento especializado, respeitando as especificidades de cada caso; III - realização de diagnóstico, atendimento precoce e do encaminhamento para a área de educação; IV - seleção, adaptação e fornecimento de prótese auditiva ou aparelho de amplificação sonora, quando indicado; V - acompanhamento médico e fonoaudiológico e terapia fonoaudiológica; VI - atendimento em reabilitação por equipe multiprofissional; VII - atendimento fonoaudiológico às crianças, adolescentes e jovens matriculados na educação básica, por meio de ações integradas com a área da educação, de acordo com as necessidades terapêuticas do aluno; VIII - orientações à família sobre as implicações da surdez e sobre a importância para a criança com perda auditiva ter, desde seu nascimento, acesso à Libras e à Língua Portuguesa; IX - atendimento às pessoas surdas ou com deficiência auditiva na rede de serviços do SUS e das empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde, por profissionais capacitados para o uso de Libras ou para sua tradução e interpretação; e X - apoio à capacitação e formação de profissionais da rede de serviços do SUS para o uso de Libras e sua tradução e interpretação. § 1o O disposto neste artigo deve ser garantido também para os alunos surdos ou com deficiência auditiva não usuários da Libras. § 2o O Poder Público, os órgãos da administração pública estadual, municipal, do Distrito Federal e as empresas privadas que detêm autorização, concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde buscarão implementar as medidas referidas no art. 3o da Lei no 10.436, de 2002, como meio de assegurar, prioritariamente, aos alunos surdos ou com deficiência auditiva matriculados nas redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades médicas. CAPÍTULO VIII DO PAPEL DO PODER PÚBLICO E DAS EMPRESAS QUE DETÊM CONCESSÃO OU PERMISSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS, NO APOIO AO USO E DIFUSÃO DA LIBRAS Art. 26. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Poder Público, as empresas concessionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta devem garantir às pessoas surdas o tratamento diferenciado, por meio do uso e difusão de Libras e da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, realizados por servidores e empregados capacitados para essa função, bem como o acesso às tecnologias de informação, conforme prevê o Decreto no 5.296, de 2004. § 1o As instituições de que trata o caput devem dispor de, pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários e empregadoscapacitados para o uso e interpretação da Libras. § 2o O Poder Público, os órgãos da administração pública estadual, municipal e do Distrito Federal, e as empresas privadas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar às pessoas surdas ou com deficiência auditiva o tratamento diferenciado, previsto no caput. Art. 27. No âmbito da administração pública federal, direta e indireta, bem como das empresas que detêm concessão e permissão de serviços públicos federais, os serviços prestados por servidores e empregados capacitados para utilizar a Libras e realizar a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa estão sujeitos a padrões de controle de atendimento e a avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em conformidade com o Decreto no 3.507, de 13 de junho de 2000. Parágrafo único. Caberá à administração pública no âmbito estadual, municipal e do Distrito Federal disciplinar, em regulamento próprio, os padrões de controle do atendimento e avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, referido no caput. CAPÍTULO IX DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 28. Os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, devem incluir em seus orçamentos anuais e plurianuais dotações destinadas a viabilizar ações previstas neste Decreto, prioritariamente as relativas à formação, capacitação e qualificação de professores, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 29. O Distrito Federal, os Estados e os Municípios, no âmbito de suas competências, definirão os instrumentos para a efetiva implantação e o controle do uso e difusão de Libras e de sua tradução e interpretação, referidos nos dispositivos deste Decreto. Art. 30. Os órgãos da administração pública estadual, municipal e do Distrito Federal, direta e indireta, viabilizarão as ações previstas neste Decreto com dotações específicas em seus orçamentos anuais e plurianuais, prioritariamente as relativas à formação, capacitação e qualificação de professores, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 31. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 22 de dezembro de 2005; 184o da Independência e 117o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. Art. 3o (VETADO) Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 5o Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente ou por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 6o São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático- pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial: I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida; II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. Art. 8o (VETADO) / Art. 9o (VETADO) Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 1º de setembro de 2010; 189o da Independência e 122o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto Fernando Haddad / Carlos Lupi / Paulo de Tarso Vanucchi LEI Nº 8.564 DE 1 DE JANEIRO DE 2007 Estabelece normas de uso e difusão de Libras para o acesso das pessoas surdas ou com deficiência auditiva à educação no Sistema Estadual de Ensino no Maranhão. Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa do Estado decretou e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º As escolas públicas e privadas que atendam à educação infantil e ao ensino fundamental e médio, localizadas no Estado do Maranhão, devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues. § 1º São denominadas classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. § 2º Os alunos têm o direito à escolarização em um turno diferenciado ao do atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação. § 3º O disposto no parágrafo anterior deste artigo deve ser garantido também para os alunos não usuários das Libras. Art. 2º As escolas públicas e privadas que atendam à educação infantil e ao ensino fundamental e médio, localizadas no Estado do Maranhão, devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em sala de aula e em seminários, cursos e afins,bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação, à informação e à educação. § 1º Devem ser proporcionados aos professores de todas as licenciaturas acesso às informações sobre a especificidade cultural e linguística do aluno surdo. § 2º As instituições privadas e as públicas do sistema de ensino estadual buscarão implementar as medidas referidas neste artigo, como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 3º As escolas públicas e privadas que atendam à educação infantil e ao ensino fundamental e médio, localizadas no Estado do Maranhão, devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação. § 1º Para garantir o atendimento educacional público e privado especializado e o acesso previsto no caput, as instituições de ensino referidas nesta Lei devem: I - promover convênio com a Associação dos Surdos do Maranhão (ASMA), ou entidades congêneres, sem fins lucrativos, para capacitação de ouvintes em Libras através de oficinas de sensibilização ou de cursos intensivos; I - promover cursos de formação de professores ou inscrevê-los em cursos promovidos por outras instituições para: a) o ensino e uso da Libras; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas. I - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos; IV - prover as escolas com: a) professor surdo de Libras ou instrutor surdo de Libras; b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos. V - garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; VI - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VII - adotar mecanismos de avaliação coerentes com o aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; VIII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a difusão da pesquisa no ensino superior e promover publicações de conhecimentos expressos em Libras, registrados preferencialmente em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos; IX - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou pessoa com deficiência auditiva, intérpretes e pesquisadores da cultura e Língua do Surdo. § 2º O professor da educação básica, bilíngue, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras – Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente. § 3º As instituições privadas e as públicas do sistema de ensino estadual buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. Art. 4º Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como: I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e I - áreas de conhecimento sobre cultura surda, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 5º A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas da saúde e da educação, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade. Parágrafo único. A definição de espaço para o desenvolvimento da modalidade oral da Língua Portuguesa e a definição dos profissionais de Fonoaudiologia para atuação com alunos da educação básica são de competência dos órgãos que possuam estas atribuições na esfera estadual. Art. 6º O Poder Público, as empresas concessionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública estadual, direta e indireta, devem garantir às pessoas surdas o tratamento diferenciado por meio do uso e difusão de Libras e da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, realizados por servidores e empregados capacitados para essa função, bem como o acesso às tecnologias de informação. Parágrafo único. As instituições de que trata o caput devem dispor de, pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários e empregados capacitados para o uso e interpretação da Libras. Art. 7º Esta Lei entra em vigor 6 (seis) meses após sua publicação. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e a execução da presente Lei pertencerem que a cumpram e a façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Excelentíssimo Senhor Secretário-Chefe da Casa Civil a faça publicar, imprimir e correr. PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO, EM SÃO LUÍS, 1 DE JANEIRO DE 2007, 186º DA INDEPENDÊNCIA E 119º DA REPÚBLICA. JACKSON LAGO Governador do Estado do Maranhão ADERSON LAGO Secretário-Chefe da Casa Civil LEI Nº 8.708 DE 16 DE NOVEMBRO DE 2007 LEI Nº 8.708 DE 16 DE NOVEMBRO DE 2007 Reconhece oficialmente, no Estado do Maranhão, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente, a linguagem gestual codificada na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DO MARANHÃO, faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa do Estado decretou e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Fica reconhecida oficialmente, pelo Estado do Maranhão, a linguagem gestual codificada na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e outros recursos de expressão a ela associados, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente. Art. 2º (Vetado). Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e a execução da presente Lei pertencerem que a cumpram e a façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Excelentíssimo Senhor Secretário-Chefe da Casa Civil a faça publicar, imprimir e correr. PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO, EM SÃO LUÍS, 16 DE NOVEMBRO DE 2007, 186º DA INDEPENDÊNCIA E 119º DA REPÚBLICA. JACKSON LAGO Governador do Estado do Maranhão ADERSON LAGO Secretário- Chefe da Casa Civil 3. PROPRIEDADES DAS LÍNGUAS HUMANAS NAS LÍNGUAS DE SINAIS Flexibilidade e versatilidade - As línguas apresentam várias possibilidades de uso em diferentes contextos. As línguas de sinais são usadas para pensar, são usadas para desempenhar diferentes funções. Você pode argumentar em sinais, pode fazer poesia em sinais, pode simplesmente informar, pode persuadir, pode dar ordens, fazer perguntas em sinais. Glosas em LIBRAS: VOCÊ GOSTAR MAÇÃ. VOCÊ GOSTAR MAÇÃ? CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR PROJETO AULA EU APRESENTAR Arbitrariedade - A palavra (signo linguístico) é arbitrária porque ésempre uma convenção reconhecida pelos falantes de uma língua. As línguas de sinais apresentam palavras em que não há relação direta entre a forma e o significado. Glosas em LIBRAS: CONHECER AMIGO TRABALHO Descontinuidade - Diferenças mínimas entre as palavras e os seus significados são descontinuados por meio da distribuição que apresentam nos diferentes níveis linguísticos. Na língua de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença formal entre a forma e o significado. Há vários exemplos que ilustram isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de SURDO são realizados na mesma locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo assim nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado. Tais sinais apresentam uma distribuição semântica que não permite a confusão entre os significados apresentados dentro de um determinado contexto. Glosas em LIBRAS: TRABALHO VIDEO-CASSETE TV MORENO-SURDO Criatividade/produtividade - Você pode dizer o que quiser e de muitas formas uma determinada informação seguindo um conjunto finito de regras. A partir desse conjunto, você pode produzir uma sentença infinita nas línguas humanas. As línguas de sinais são produtivas assim como quaisquer outras línguas. Glosas em LIBRAS: EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA, LEGAL, ESPECIAL, 1sAJUDAR2s, GOSTAR, TRABALHAR, INTELIGENTE .... Dupla articulação: As línguas humanas apresentam duas articulações: a primeira é das unidades menores sem significado e a segunda, das unidades que combinadas formam unidades com significado. As línguas de sinais também apresentam o nível da forma e o nível do significado. Por exemplo, as configurações por si só não apresentam significado, mas ao serem combinadas formam sinais que significam alguma coisa. Exemplos em LIBRAS: CM sem significado L sem significado M sem significado CM+L+M = significado (L+bochecha+semicírculo para trás) Padrão - As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas por um grupo de pessoas. As línguas de sinais são altamente restringidas por regras. Você não pode produzir os sinais de qualquer jeito ao usar a língua de sinais brasileira, por exemplo. Você deve observar suas regras. Exemplo em LIBRAS: Obedecer às regras de formação de sinais e de sentenças. (Ajudar com CM S – mostrar exemplos de sinais com CM errada, ou L errada, ou M errado) Dependência estrutural - Há uma relação estrutural entre os elementos da língua, ou seja, eles não podem ser combinados de forma aleatória. Também é observada uma dependência estrutural entre os termos produzidos nas línguas de sinais. Glosas em LIBRAS: PAULO TRABALHAR ONTEM *TRABALHAR ONTEM PAULO SINAL BRASIL *BRASIL SINAL Mitos em relação às línguas de sinais Mito: Narrativa de significação simbólica, e que encerra uma verdade cuja memória se perdeu no tempo. (AURÉLIO, 1993) Há várias ideias relacionadas às línguas de sinais e os surdos que não são verdade, não se sinta culpado, isso é fruto do desconhecimento. Várias pesquisas avançaram e comprovaram que tais ideias são equivocadas, Quadros e Karnopp (2004:31-37) organizaram uma lista de mitos, vejamos. MITO DESMISTIFICAÇÃO 1 – A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. Tal concepção está atrelada à ideia filosófica de que o mundo das ideias é abstrato e que o mundo dos gestos é concreto. O equívoco desta concepção é entender sinais como gestos. Na verdade, os sinais são palavras, apesar de não serem orais-auditivas. Os sinais são tão arbitrários quanto às palavras. A produção gestual na língua de sinais também acontece como observado nas línguas faladas. A diferença é que no caso dos sinais, os gestos também são visuais-espaciais tornando as fronteiras mais difíceis de serem estabelecidas. Os sinais das línguas de sinais podem expressar quaisquer ideias abstratas. Podemos falar sobre as emoções, os sentimentos, os conceitos em língua de sinais, assim como nas línguas faladas. 2 – Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas. Esta ideia está relacionada com o mito anterior. Se as línguas de sinais são consideradas gestuais, então elas são universais. Isto é uma falácia, pois as várias línguas de sinais que já foram estudadas são diferentes umas das outras. Assim como as línguas faladas, temos línguas de sinais que pertencem a troncos diferentes. Temos pelo menos dois troncos identificados, as línguas de origem francesa e as línguas de origem inglesa. Provavelmente, nossa língua de sinais pertence ao tronco das línguas de sinais que se originaram na língua de sinais francesa. 3 – Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. Como as línguas de sinais são consideradas gestuais, elas não poderiam apresentar a mesma complexidade das línguas faladas. Isso também não é verdadeiro, pois em primeiro lugar as línguas de sinais são línguas de fato. Em segundo lugar, as línguas de sinais independem das línguas faladas. Um exemplo que evidencia isso claramente é que a língua de sinais portuguesa é de origem inglesa e a língua de sinais brasileira é de origem francesa, mesmo sendo o português a língua falada nos respectivos países, ou seja, Portugal e Brasil. 3 – Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. Como estas línguas de sinais pertencem a troncos diferentes, elas são muito diferentes uma da outra. É claro que não podemos negar o fato de ambas as línguas estarem em contato, principalmente entre os surdos letrados. O que se observa diante deste contato é que, assim como observado entre línguas faladas em contato, existem alguns empréstimos linguísticos. Para além disso, as línguas de sinais não têm relação com as línguas faladas do seu país. Elas são autônomas e apresentam o mesmo estatuto linguístico identificado nas línguas faladas, ou seja, dispõem dos mesmos níveis linguísticos de análise e são tão complexas quanto às línguas faladas. 4 – A língua de sinais seria um sistema de Comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral. Como as línguas de sinais são tão complexas quanto às línguas faladas, esta afirmação não procede. Nós já vimos que as línguas de sinais podem ser utilizadas para as inúmeras funções identificadas na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais para produzir um poema, uma estória, um conto, uma informação, um argumento. Você pode persuadir, criticar, aconselhar, entre tantas outras possibilidades que se apresentam ao se dispor de uma língua. Assim, a língua de sinais não é inferior a nenhuma outra língua, mas sim, tão linguisticamente reconhecida quanto qualquer outra língua. 5 – As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. A ideia de que a língua de sinais seja gestual também reaparece neste mito. As pessoas pensam que as línguas de sinais são de fácil aquisição por estarem diretamente relacionadas com o sistema gestual utilizado por todas as pessoas que falam uma língua. Como isso não é verdade, as línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto quaisquer outras línguas. 5 – As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. Precisamos de anos de dedicação para aprendermos uma língua desinais, mas com base neste mito, as pessoas pensam que sabem a língua de sinais por usarem alguns gestos e alguns sinais que aprendem nas aulas de língua de sinais. A comunicação gestual usada exclusivamente é extremamente limitada, pois torna inviável a comunicação relacionada com questões mais abstratas. Assim, você vai precisar da língua de sinais para poder comunicar estas ideias. É verdade que você pode comunicar algumas coisas utilizando apenas gestos, assim como você faz quando chega a um país em que é falada uma língua desconhecida por você. Mas, também é verdade que você estará limitado à identificação direta entre o gesto e sua intenção, sem poder entrar em níveis de detalhamento necessário para transcorrer sobre um determinado assunto. Para transcorrer sobre um determinado assunto qualquer, você vai precisar de uma língua. No caso da comunicação com surdos, você vai precisar da língua de sinais. 6 – As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem. As pesquisas com surdos apresentando lesões em um dos hemisférios apresentam evidências de que as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo da mesma forma que as línguas faladas. Existe sim uma diferença que está relacionada com informações espaciais, pois estas, além de serem processadas no hemisfério esquerdo com suas informações linguísticas, são também processadas no hemisfério direito quanto às suas informações de ordem puramente espacial. Assim, parece haver um processamento até mais complexo do que o observado em pessoas que usam línguas faladas. As investigações concluem que a língua de sinais é um sistema, que faz parte da linguagem humana, processado no hemisfério esquerdo e no hemisfério direito. 4. ESTUDOS LINGUÍSTICOS DAS LÍNGUAS DE SINAIS Tiveram início com Willian Stokoe em 1960, apresentando uma análise descritiva da língua de sinais americana, revolucionando a linguística na época. Houve então pela primeira vez a análise de um linguista sobre os elementos linguísticos de uma língua de sinais. Stokoe apresenta uma análise no nível fonológico e morfológico. Ted Supalla e Carol Padden foram os primeiros surdos linguistas a estudar a língua de sinais americana na década de 80. No Brasil, Ana Regina de Souza Campelo é uma das primeiras surdas a estudar a língua de sinais brasileira em 2005. 4.1 Áreas Da Linguística Fonologia: Fonologia envolve o estudo das unidades menores que irão fazer diferença na formação de uma palavra. Por exemplo, no português, os sons de /p/ e de /b/ são distintivos porque formam um par mínimo /pala/ e /bala/. O par mínimo indica que ao mudar apenas uma unidade mínima, ou seja, /p/ e /b/, em uma determinada combinação determinará mudança de significado. Isso é o que acontece com os pares mínimos listados na língua de sinais brasileira a seguir. (Libras I, UFSC, 2009) Fonética: A fonética é a ciência que estuda os sons como entidades físico- articulatórias isoladas. Tem por objetivo estabelecer um conjunto de traços, ou propriedades, que possam descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas. (Quadros & Karnopp, 2004) Fonema: Fonema é a unidade mínima sem significado de uma determinada língua. Um fonema pode ter alofones, ou seja, realizações variadas de um mesmo fonema. No português, em alguns contextos linguísticos o /t/ pode ser produzido como /tch/ em algumas regiões do Brasil, mas isso não implica em mudança de significado. Por exemplo, /tia/ e /tchia/. (Libras I, UFSC, 2009) Morfologia: Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras (faladas ou sinalizadas), ou seja, das unidades mínimas com significado (morfemas) e todos os aspectos relacionados a elas (sua distribuição, classificação, variantes, etc). Envolve, também, os processos de formação e derivação das palavras. (Libras I, UFSC, 2009) Sintaxe: Sintaxe é a área de estudo que analisa a combinação das palavras para a formação de estruturas maiores (frases). (Libras II, UFSC, 2009) É o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das unidades significativas da frase. (Quadros & Karnopp, 2004) Semântica: Semântica é a área de estudo do significado na linguagem. (Libras II, UFSC, 2009) É o estudo do significado da palavra e da sentença. (Quadros & Karnopp, 2004) Pragmática: É o estudo da linguagem em uso (contexto) e dos princípios de comunicação (Quadros & Karnopp, 2004) 4.2 Fonologia das Línguas de Sinais Quem primeiro percebeu os parâmetros internos dos sinais foi Stokoe em 1960, para ele os sinais são analisáveis como uma combinação de três grupos sem significado: configuração de mão, locação e movimento. Se mudar qualquer desses parâmetros mudamos o significado. A língua de sinais brasileira apresenta um conjunto de unidades menores que são compostas pelas configurações de mãos (CM), pelas locações (L) e pelos movimentos (M). (Libras I, UFSC, 2009) Para Quadros & Karnopp, p. 80, a orientação da mão (Or) e expressões não-manuais (ENM) também são parâmetros fonológicos. Fonologia das Línguas de Sinais Quadros e Karnopp (2004:54): ‘o movimento é definido como um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde movimentos internos da mãos, os movimentos do pulso e os movimentos direcionais no espaço (Klima e Bellugi, 1979)’. “A combinação destas unidades menores sem significado pode formar as palavras na língua de sinais. Ao combiná-las, podemos identificar quais são realmente relevantes na língua de sinais, assim identificamos os “fonemas” da língua de sinais brasileira. ” (Libras I, UFSC, 2009) “Na língua de sinais, ainda não temos estudos que identificam os seus fonemas e alofones, mas sabemos que isso acontece. Por exemplo, o sinal de DOMINGO, pode ser produzido com duas configurações diferentes dependendo de quem sinaliza. ” (Libras I, UFSC, 2009) Exemplos de glosas de sinais em LIBRAS que apresentam alofones: DOMINGO (D aberto e D fechado) SOLDADO (polegar aberto e polegar fechado) TREINAR (na parte de cima do braço e na parte de baixo do braço) “Uma forma de identificar os fonemas distintivos de uma língua é listar pares mínimos. ” (Libras I, UFSC, 2009) “Na língua de sinais podemos também listar pares mínimos em relação às configurações de mão, ou à locação, ou ao movimento em que apenas a mudança de um destes elementos em contraste com os demais idênticos vai identificar o seu valor distintivo na língua. ” (Libras I, UFSC, 2009) Pares mínimos: as formas fonológicas das palavras são idênticas em tudo, exceto em uma característica específica. Por exemplo, em português BALA, PALA. Os sons iniciais de cada uma destas palavras são distintivos, pois mudam o significado da palavra. Assim, /b/ e /p/ são fonemas do português que se diferenciam somente pela sonoridade. (Libras I, UFSC, 2009). Exemplos: “Além destes três conjuntos de unidades mínimas, Quadros e Karnopp (2004) ainda apresentam a orientação da mão e as marcações não-manuais. Em relação ao primeiro, alguns sinais determinam mudança de significado apenas com a mudança na orientação da mão. Por exemplo, assim como observado no sinal de AJUDAR. ” (Libras I, UFSC, 2009) 4.3 Morfologia Em Libras Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma revisão de alguns estudos realizados com a língua de sinais americana e apresentam algumas possíveis aplicações à língua de sinais brasileira. Entre os aspectos discutidos pelas autoras, está o processo de derivação de sinais. (Libras I, UFSC,2009) Derivação: trata da criação de uma palavra (falada ou sinalizada) a partir de outra. Resulta na mudança do significado lexical ou na categoria lexical. (Libras I, UFSC, 2009) Há vários exemplos de derivação de sinais que mudam a categoria do substantivo para a categoria do verbo. Entre eles, mencionamos os seguintes: FUTEBOL – CHUTAR CADEIRA – SENTAR ESCOVA – ESCOVAR TELEFONE – TELEFONAR TESOURA – CORTAR PERFUME – PERFUMAR PENTE – PENTEAR OUVINTE – OUVIR LADRÃO – ROUBAR Nestes exemplos, percebe-se uma mudança no padrão do movimento. Na produção do substantivo, o movimento é curto e repetido rapidamente, enquanto que na produção do verbo é longo e repetido lentamente. (Libras I, UFSC, 2009) Há vários processos de composição que foram identificados por Quadros e Karnopp (2004). Apresentamos a seguir apenas um tipo que está associado à regra de contato. Neste caso, o contato do primeiro, do segundo e do possível terceiro sinal é mantido. Observe que no sinal de ESCOLA, composto pelos sinais de CASA e ESTUDAR, o movimento associado a cada sinal de origem é apagado e o contato se mantém nos dois sinais formando um sinal único, o sinal de ESCOLA. (Libras I, UFSC, 2009) Exemplos de glosas em LIBRAS: ESCOLA (CASA+ESTUDAR) IGREJA (CASA+CRUZ) As autoras também apresentam a incorporação do numeral ao sinal. Há vários exemplos deste tipo na língua de sinais brasileira. Todos se restringem e incorporam no máximo os numerais até quatro. No exemplo a seguir, as glosas do sinal de HORA incorporam os números dois, três e quatro. (Libras I, UFSC, 2009) 1 HORA, 2 HORAS, 3 HORAS, 4 HORAS 1 DIA, 2 DIAS, 3 DIAS E 4 DIAS 1 MÊS, 2 MESES, 3 MESES E 4 MESES Há também a possibilidade de incorporação da negação em alguns verbos. Nestes casos, ao invés do sinalizante utilizar o item lexical de negação, ele produz o sinal já com a negação incorporada ao verbo. Isso se dá com a adição de um movimento. A seguir apresentamos glosas com outros exemplos em LIBRAS (Libras I, UFSC, 2009): GOSTAR / NÃO-GOSTAR QUERER / NÃO-QUERER SABER / NÃO-SABER TER / NÃO-TER Foi observado também que há empréstimos do português em que o sinal é produzido com a soletração, embora esta sofra um processo de lexicalização moldando-se às regras da língua de sinais brasileira. A seguir apresenta-se o sinal de SOL que tem duas configurações de mão. A inicial é a configuração de mãos que representa também a letra S no alfabeto manual e a segunda é a configuração que representa a letra L no alfabeto manual da língua de sinais brasileira. (Libras I, UFSC, 2009) Ao invés da soletração S-O-L, a produção do sinal ocorre em uma locação diferenciada da produção da soletração e omite a vogal O, passando a ser produzida S-L. Esse processo fonológico observa a restrição de que um sinal deve ter no máximo duas configurações de mãos ao ser produzido com uma mão. Glosas com outros exemplos: (Libras I, UFSC, 2009): PAI (P-I) / LUA (L-A) / SOL (S-L) / VAI (V-I) Flexão: tem como função principal marcar privilégios de ocorrência distintos, através das categorias gramaticais peculiares a determinadas classes de palavras. (Libras I, UFSC, 2009) Existem vários processos de flexão na língua de sinais brasileira. Eles foram identificados a partir de estudos realizados por Klima e Bellugi (1979) com a língua de sinais americana. (Libras I, UFSC, 2009). Pessoa (deixis): é a flexão utilizada para marcar as referências pessoais nos verbos com concordância. O referente é realizado por meio da apontação para diferentes locais no espaço, estabelecidos para identificá-los quando estes não estão presentes no discurso. No caso de referentes presentes, a apontação é direcionada para a posição real do referente. A seguir, apresentamos algumas glosas com exemplos (Libras I, UFSC, 2009): ENTREGAR PARA MIM / ENTREGAR PARA ELE ENTREGAR PARA TI / ENTREGAR PARA ELES Número: é a flexão que indica o singular, o dual, o trial e o múltiplo. Existem várias formas de substantivos e verbos apresentarem a flexão de número na língua de sinais brasileira. Uma delas é a diferenciação entre singular e plural realizada por meio da repetição do sinal. No caso de verbos com concordância, a flexão de número refere-se à distinção feita para um, dois, três ou mais referentes. A seguir, apresentamos algumas glosas com exemplos (Libras I, UFSC, 2009): ENTREGAR PARA UM ENTREGAR PARA DOIS INDIVIDUALMENTE ENTREGAR PARA TRÊS INDIVIDUALMENTE ENTREGAR PARA VÁRIOS INDIVIDUALMENTE Grau: apresenta distinções para ‘menor’, ‘mais próximo’, ‘muito’, etc. A seguir, apresentamos algumas glosas com exemplos (Libras I, UFSC, 2009): CASA, CASINHA, MANSÃO CASA_LONGE, CASA_PERTO Aspecto: esta categoria está subdividida em (Libras I, UFSC, 2009): 1. Aspecto distributivo: está intimamente relacionado com a flexão de número nos verbos com concordância e também nos verbos espaciais. (Libras I, UFSC, 2009) a) exaustiva: a ação é repetida exaustivamente: DAR, AVISAR, TRATAR b) distributiva específica: quando a ação de distribuição é feita para referentes específicos. DAR, AVISAR, TRATAR c) distributiva não-específica: quando a ação de distribuição é feita para referentes indeterminados. AVISAR_todos 2. Aspecto temporal: refere-se exclusivamente à distribuição temporal, não envolve a flexão de número. (Libras I, UFSC, 2009) a) incessante: a ação ocorre incessantemente. CUIDAR , AVISAR b) ininterrupta: a ação inicia e continua de forma ininterrupta. CUIDAR, AVISAR c) contínua: a ação apresenta recorrência sistemática. GASTAR, DAR d) duracional: a ação tem um caráter durativo, permanente: GASTAR, DAR 5. VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Na maioria do mundo, há, pelo menos, uma língua de sinais usada amplamente na comunidade surda de cada país, diferente daquela da língua falada utilizada na mesma área geográfica. Isto se dá porque essas línguas são independentes das línguas orais, pois foram produzidas dentro das comunidades surdas. A Língua de Sinais Americana (ASL) é diferente da Língua de Sinais Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de Sinais Francesa (LSF). Ex.: NOME ASL LIBRAS Além disso, dentro de um mesmo país há as variações regionais. A LIBRAS apresenta dialetos regionais, salientando assim, uma vez mais, o seu caráter de língua natural. Variação Regional: representa as variações de sinais de uma região para outra, no mesmo país. Ex.: VERDE Rio de Janeiro São Paulo Curitiba MAS Rio de Janeiro São Paulo Curitiba Variação Social: refere-se à variações na configuração das mãos e/ou no movimento, não modificando o sentido do sinal. Ex.: AJUDAR CONVERSAR AVIÃO SEMANA Mudanças Históricas: com o passar do tempo, um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o utiliza. Ex.: AZUL 1º 2º 3º BRANCO 1º 2º 3º 6. ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a LIBRAS é produzida e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais são o ´desenho´ no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente. Vejamos alguns exemplos entre os sinais icônicos e arbitrários. a) Sinais Icônicos Uma foto é icônica porque reproduz a imagem do referente, isto
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