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Bruna Oliveira – 144 Medcurso vol. 2 – 2019 Mieloma m ltiplo • Principal represente das neoplasias plasmocitárias • Proliferação maligna de plasmócitos, derivados de um único clone, envolvendo mais de 10% da MO • ‘Idade média 65 anos, mais comum no sexo masculino e em negros • Marcos da doença: ✓ Plasmocitose medular ✓ Gamopatia monoclonal ✓ Lesões de órgãos-alvo (anemia, lesões ósseas líticas, hipercalcemia e insuficiência renal • Acomete vários focos da medula óssea funcionante • Subgrupos mais acometidos: ✓ Classe socioeconômica baixa ✓ Exposição a inseticidadas e agrotóxicos ✓ Expostos ao petróleo-benzeno ✓ Pacientes que tem famíliar de 1º grau com história de MM Patogênese • Origem do clone parece ser linfócito B de memória ou um plasmablasto, formadas no tecido linfoide a partir dos centrócitos (células B presentes nos centros germinativos e que foram selecionadas pela estimulação antigênica) • Plasmablasto (tec. Linfoide) → Plasmócito (MO) → alta capacidade de produzir anticorpos • Produção de grande quantidade de paraproteína (proteína M) reconhecida como IgG, igA, IgM, igE e IgD • O clone neoplásico pode surgir no tecido linfoide, mas apenas na MO é que encontra condições de se proliferar → Medula fic cheia de plasmócitos neoplásicos • Características atípicas: ✓ Assincronia núcleo – citoplasmáticas: núcleo imaturo, com nucléolos e citoplasma maduro, com retículo endoplasmático bem formado ✓ Células de Mott: Plasmócitos grandes, binucleados ou trinucleados, com vacúolos citoplasmáticpos • Células do mieloma ocupam o espaço das células hematopoéticas e inibem a eritrogênese (anemia e eventual pancitopenia). • Ativam os osteoclastos (RANK mais disponível), causando hiperatividade osteoclástica e inibição osteoblástica, em volta dos focos de neoplasia → Destruinção óssea • IL-6 é fundamental para a proliferação das células mielomatosas. • Em 80% dos casos, aparecem cadeias leves na urina (proteínas de Bence Jones - PBJ) – é a sobra da produção das imunoglobulinas → Proteinúria significativa → toxicidade no túbulo renal → nefropatia crônica (rim do mieloma) • Destruição óssea leva a hipercalcemia e hipercalciúria, contribuindo ou causando a insuficiência renal • Nível de imunoglobulinas normal está baixo → Hipogamaglobulinemia funcional → Susceptibilidade a infecções Manifestações clínicas Aparecem de forma lenta e gradual 1. Lesões esqueléticas ✓ Comuns onde possui MO funcionante ✓ Dor intermitente na lombar, extremidades e região torácica ✓ Dor pode irradiar para MMII, sugerindo radiculopatia associada ✓ Fraturas patológicas. Fraturas por compressão dos corpos vertebrais podem impactar na estatura do paciente. ✓ Dor intensa e refratária a AINEs ✓ Dor normalmente é intermitente e associada ao movimento, se for continua, desconfiar de fratura patológica ✓ Alterações radiológicas: lesões líticas, arredondadas, do tipo insuflantes (punched out). Nas costelas, as lesões osteolíticas tem aspecto pontilhado. No crânio, tem múltiplas lesões líticas sugestivas. Acometimento da coluna vertebral é representado por formações tumorais globulares, rarefação óssea de permeio e desaparecimento dos discos intervertebrais, poupando os pedículos. ✓ DD: metástases líticas o Dor óssea no MM é movimento-dependente, enquanto nas metástases é contínua e com piora noturna o Lesões do MM poupam os pedículos vertebrais ✓ Lesões do MM não são detectados na cintilografia óssea. Exames que podem ver: radiografia, TC, RM e pet-scan (mais sensível) Plasmocitoma solitário → Tumor ósseo de plasmóticos neoplásicos monoclonais. Lesão única, cística, de maior tamanho e mais irregular do que a lesão pontilhada no MM. É um mieloma localizados, mas que pode virar múltiplo. 1% dos MM são chamados de não secretores (não produzem nenhum tipo de proteína Ig anormal). Prognóstico desfavorável. Bruna Oliveira – 144 Medcurso vol. 2 – 2019 ✓ Osteoporose ou osteopenia difusa podem ser vistos. 2. Susceptibilidade a infecções ✓ Infecção bacteriana é a principal causa de morte nos pacientes com MM ✓ Queda na produção e aumento na degradação das imunoglobulinas normais ✓ Imunoglobulina do componente M não tem função fisiológica ✓ ↓ dos linfócitos TCD4+ ✓ Opsonização defeituosa de microrganismos invasores ✓ Função granulocítica alterada ✓ Efeito imunossupressor do tratamento ✓ Agentes infecciosos mais comuns nas fases precoces são as bactérias encapsuladas (S. pneumoniae e H. influenzae) → Sinusites e pneumonias de repetição ✓ Fases tardias predominam o S. aureus ou gram negativos entéricos. ✓ Antibiótico profilaxia com sulfametoxazol/trimetropim pode diminuir a frequência das infecções 3. Envolvimento renal ✓ Metade apresenta ↓ do clearence de creatinina ao diagnóstico e 25% tem aumento de ureia e creatinina (azotemia) ✓ As cadeias leves das ig podem provocar lesões tubulares irreversíveis. As células tubulares proximais endocitam a proteína de BJ, extraindo- a do fluido celular, mas ela é extremamente tóxica → disfunção tubular proximal → Sind. De Fanconi ✓ Sind. De Fanconi: o Bicarbonatúria ou acidose tubular tipo II o Aminoacidúria o Glicosúria o Hipofosfatemia o Hipouricemia ✓ Excesso de proteína BJ leva a IRC (“rim do mieloma”): células tubulares não conseguem mais absorver as BJ, então elas atingem a alça de Henle e o néfron distal, se ligando a proteína de Tamm-Horsefall, formando cilindros de cadeia leve, que se acumulam, obstruindo o lúmen e outros segmentos tubulare e interstício renal → NEFROPATIA CRÔNICA OBSTRUTIVA POR CILINDROS ✓ Desidratação pode precipitar uma agudização da insuficiência renal, por aumentar a formação e concentração tubular dos cilindros de cadeia leve ✓ Hipercalcemia: o Maior reabsorção óssea + imobilidade → nefrocalcinose o Cálcio em excesso catalisa a formação dos cilindros de cadeia leve o Cálcio forma cristais de fosfato de cálcio no sistema tubular o Poliúria e vômitos (sind. Hipercalêmica) contribuem para a IRA com desidratação (componente pré-renal) o HIPERCALCEMIA É A PRINCIPAL CAUSA DE IRA NO MM ✓ Amiloidose AL o Em 10% dos MM o Lesão glomerular pela proteína amiloide, através do depósito progressivo de cadeias leves que se transformaram em fibrilas amiloides. o Órgãos mais afetados: língua (macroglossia), coração (cardiomiopatia restritiva) e glomérulos (nefropatia amiloide) o A proteína detectada no exame de urina habitual provavelmente é amiloide. o Evolui com Sd. Nefrótica manifesta o Tende a ser progressiva e evolui para rins terminais em 20% dos casos o A maioria acaba morrendo de cardiopatia amiloide o Tratamento é o mesmo do MM, com preferência pelo transplante autólogo ✓ Nefropatia por ácido úrico o A hiperuricemia crônica é um achado comum, pois o MM tem alto turn over celular o Eventualmente, logo após a quimio, instala-se a síndrome de lise tumoral 4. Envolvimento neurológico ✓ Compressão medular: MM comprime a extradural ou as raízes nervosas, causando dor radicular podendo evoluir para perda de função esfincteriana e paraplegia (mielopatia). Além disso, a fratura patológica também pode contribuir. É uma emergência oncológica. ✓ Crise hipercalcêmica: Principal mecanismo de alteração do estado mental. Cálcio > 12 mg/dl já causa alteração. O paciente refere cefaleia, náuseas, vômitos e evolui com desorientação, convulsões generalizadas, torpor e coma. ✓ Polineuropatia periférica: incomum, geralmente associada a amiloidose AL ou POEMS. 5. Síndrome de hiperviscosidade ✓ Causado pelo aumento das Ig Bruna Oliveira – 144 Medcurso vol. 2 – 2019 ✓ Manifestações: cefaleia, fadiga, distúrbios visuais, papiledema, epistaxe, hemorragias retinianas, zumbido auditivo e ataxia. ✓ Deve ser feita plasmaferese 6. Mieloma Osteosclerótico (Síndrome POEMS) ✓ Em cerca de 0,5-3% dos pacientes inicialmente diagnosticados com MM, as lesões esqueléticas apresentam um importante componente blástico,isto é, existe HIPOTRANSPARÊNCIA na radiografia →mieloma osteoesclerótico (diferente no MM clássico) ✓ Menor número de lesões ósseas e tem curso indolente, com sobrevida média de 13 anos. ✓ Clinicamente, ele se expressa através da clássica síndrome POEMS (Polineuropatia, Organomegalia, Endocrinopatia, Monoclonagamopatia, alterações cutâneas ou Skin changes). o Polineuropatia sempre está presente. É sensitivomotora simétrica. Pode levar a incapacidade física absoluta. Diagnóstico Laboratorial 1. Anemia (Hb entre 7 e 10 g/dl): normocítica e normocrômica, presente em praticamente todos os pacientes 2. Fenômeno de rouleaux no sangue periférico: paraproteínas anulam as cargas negativas da membrana das hemácias normais → empilhamento das hemácias 3. VHS > 50 mm/h: mecanismo semelhante so rouleaux 4. Hipercalcemia (Ca > 10,5 mg/dL) 5. Albumina baixa: associada com o aumento da IL-6 6. Creatinina elevada 7. Beta-2-microglobulina elevada (>2,5 mg/L): proteína produzida e secretada pelas células do mieloma, níveis acima de 5,5 mg/L incicam prognóstico reservado por corresponderem a alta carga tumoral 8. Dosagem das cadeias leves livres no sangue e na urina (kappa- lambda) Componente M • Diagnóstico e acompanhamento • Exame de escolha → Eletroforese de proteínas • Níveis > 3mg/L → altamente sugestivo • Quanto maior a dosagem, pior o prognóstico • Imunoeletroforese ou imunofixação → faz a tipagem do componente M, dizendo se é IgG, IgA, cadeia leve kappa ou lambda. • O componente M urinário não costuma ser detectado na eletroforese urinária, mas aparece na imunoeletroforese • Eletroforese de proteínas no soro + imunoeletroforese urinária → 99% de detecção do componente M • O tipo IgA é composto apenas por cadeia leve • Kappa é mais comum q lambda • MM-IgE é o mais raro • A gamopatia monoclonal com IgM se chama Macroglobulinemia de Waldenstrom • MM-IgG → melhor prognóstico, menos IR, hipercalcemia e amiloidose, mas cursa com maior componente M e mais infecções. • MM-IgA → causa mais hipercalcemia e hiperviscosidade, menor chance de infecções. • Mieloma de cadeia leve → mau prognóstico, pois tem maior chance de insuficiência renal, hipercalcemia, lesões ósseas disseminadas, amiloidose e sobrevida média mais curta. • MM – IGD → Pior, praticamente 100% apresenta IR ao diagnóstico, sobrevida média de 21 meses. Imagem • RX de crânio, tórax, coluna, bacia (lesão lítica ou osteopenia difusa) • RM coluna ✓ Infiltração do corpo vertebral na MO ✓ Documentar compressão espinhal ou radicular em pacientes com dor ✓ Avaliar eficácia da terapia (melhora radiológica ocorre em 30% dos pacientes tratados) • TAC corpo inteiro em baixas doses • PET-CT Tríade clássica do MM 1. Plasmocitose na MO > 10% 2. Lesões ósseas líticas ou massa extramedular 3. Componente monoclonal no soro e na urina Bruna Oliveira – 144 Medcurso vol. 2 – 2019 Critérios diagnósticos Critério obrigatório: plasmocitose medular > 10% e/ou presença de plasmocitoma (confirmado por biópsia) Um ou mais dos seguintes: 1. Presença de alguma lesão de órgão-alvo C – cálcio (hipercalcemia) A – anemia R – rim (insuficiência renal) O – Osso (lesões ósseas líticas) 2. Presença de algum biomarcador Plasmocitose medular > 60% Dosagem de cadeiras leves no soro com relação cadeias envolvidas / cadeias não envolvidas > 100 Presença de > 1 lesão focal vista por RM Diagnóstico diferenciais Fatores prognósticos e estadiamento • Sobrevida em torno de 50 anos • Fatores envolvidos: ✓ Magnitude do componente M ✓ Grau de anemia ✓ Número de lesões ósseas ✓ Nível de cálcio sérico e de escórias nitrogenadas, de albumina e de beta-2-microglobulina ✓ Caracterísicas morfológicas e fenotípicas das células do mieloma (todos esses são de prognóstico desfavorável) o Morfologia plasmablástica o Presença de plasmócitos circulentes no sangue periférico (leucemização do MM) o Expressão de CD138 e CD 56 ✓ Deleção do braço longo do cromossomo 13 e hipoploidias → alto risco, baixa sobrevida • Estadiamento CRITÉRIO OBRIGATÓRIO + 1 OU 2 ADICIONAIS (independente da presença do componente M no soro e/ou urina) Bruna Oliveira – 144 Medcurso vol. 2 – 2019 Tratamento Metas da terapia • Alivio da dor e controle dos sintomas • Controle da atividade da doença, prevenindo futura lesão orgânica • Extender disease-free survival (DFS) • Prolongar overall survival (OS) • Preservar o status performance e QOL o maior tempo possível Agente imunomodulador (talidomina, lenalinomida) + glicocorticoide em doses moderadas a altas (dexametasona 40mg/dia durante 4d/mês). Pode-se acrescentar inibidores de proteassoma – induz apoptose (bortezomib) Todo paciente com idade inferior a 76 anos deve ser encaminhado para o transplante autólogo de células hematopoiéticas, após tratamento inicial bem sucedidao com esquema RVD (lenalinomida, bortezomib, dexa) → Aumento da sobrevida Radioterapia direcionada → Paliação para regiões com lesão óssea dolorosa ou fratura patológica Tratamento das complicações Crise hipercalcêmica: • Cálcio sérico > 12 mg/dL • Quadro: ✓ Poliúria ✓ Vômitos ✓ Desidratação ✓ IRA ✓ Encefalopatia aguda • Potencialmente fatal • Pontos básicos do tratamento: 1. Soro fisiológico 0,9% → Aumento da excreção urinária de sódio também aumenta a eliminação de cálcio 2. Furosemida → Efeito calciúrico. Deve ser empregado em pacientes já hidratados 3. Corticoterapia → prednisona 25mg 4x/dia 4. Bifosfonados → Diminui a atividade dos osteoclastos. Pamidronato de sódio e zolendronato Insuficiência renal aguda: • Hidratação venosa (SF 0,9%) e plasmaferese (retira boa parte da cadeia leve do plasma do paciente) • Se tiver hipercalcemia, acrescenta-se um bifosfonato • Se tiver hiperuricemia, acrescenta-se alopurinol 300mg/dia • Se tiver síndrome urêmica, instalar a hemodiálise ou diálise peritoneal • Melhor forma de melhorar a função renal é tratamento o MM Estado de rins terminais: • Diálise Compressão medular: • Confirmar por RM • Dexa 4-10mg IV 6h/6h + radioterapia local • Descompressão cirúrgica indicada em casos refratários
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