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Docência e pesquisa - Paulo Freire

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO TEORIA E PRÁTICA 
DISCIPLINA DOCÊNCIA E PESQUISA 
 
EDUCAÇÃO E LIBERDADE: ASPECTOS DA PEDAGOGIA FREIRIANA 
 
Eliane Griep Gomes Bitencourt (UFPR, elianegriep@homail.com) 
João Paulo Pooli (UFPR, jpooli55@gmail.com) 
 
TEMA DE PESQUISA: Ser criança no currículo da educação infantil: 
a escola como agência civilizadora 
 
RESUMO: Com este trabalho objetivamos abordar o pensamento pedagógico idealizado por Paulo 
Freire, o qual tem a finalidade de melhorar a organização social e colocar em dúvida o poder hegemô-
nico. Foi enfatizado por Freire as dialógicas relações existentes entre o educador e o educando, as quais 
constituem a totalidade do processo educativo, assim como o viés tanto político como também transfor-
mador decorrente da educação. Na época de sua criação, houve atenção de políticos e educadores ao 
método freiriano, já que ele propiciava aos adultos a possibilidade de se alfabetizar de forma acelerada, 
tendo como fundamento as palavras geradoras. Há um direcionamento do método freiriano à alfabeti-
zação tanto de jovens como também de adultos, com priorização de uma educação com conceito crítico 
no diálogo entre alfabetizandos e alfabetizadores, tornando-se um encontro de consciências. É sempre 
necessário pensar que, conforme ensinou Freire, o adulto que está sendo alfabetizado, não deve ser visto 
como objeto da educação, mas deve ser compreendido como possuidor de um saber cultural. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia; Liberdade; Diálogo; Alfabetização. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A sociedade neoliberal sempre foi alvo de críticas por parte de Freire, o qual 
era contra a vigente ordem capitalista de forma radical, afirmando que esta havia in-
ventado a aberração da miséria na fartura. De forma reiterada, Freire baseou seus 
escritos na educação de forma articulada ao contexto político e social. Nas palavras 
do próprio Freire (2002, p. 114): 
 
É reacionária a afirmação segundo a qual o que interessa aos operários é 
alcançar o máximo de sua eficácia técnica e não perder tempo com debates 
“ideológicos” que a nada levem. O operário precisa inventar, a partir do 
próprio trabalho, a sua cidadania que não se constrói apenas com sua eficá-
cia técnica, mas também com sua luta política em favor da recriação da soci-
edade injusta, a ceder seu lugar a outra menos injusta e mais humana. 
 
Freire, nunca deixou de lutar pela transformação da sociedade e de questionar 
o poder dominante. Nunca abriu mão do sonho da mudança radical, da luta pela cons-
trução de uma sociedade igualitária, tanto do ponto de vista econômico e democrático 
como do ponto de vista político e educacional. Segundo Freire é possível, em qualquer 
sociedade, fazer algo institucional e que contradiz a ideologia dominante.1 A isso po-
demos chamar de uso dos espaços de que a gente dispõe. 
Podemos enfatizar as relações dialógicas entre educando e educador que fa-
zem parte de todo o processo educativo, bem como o caráter político e transformador 
da educação, questionando permanentemente a que interesses a educação está ser-
vindo, pois a escola não é boa nem má em si. Depende a que serviço ela está no 
mundo, é preciso saber a quem ela defende. Paulo Freire sempre defendeu radical-
mente os oprimidos, buscando a libertação de todas as formas de opressão, sendo 
que essa busca o levou a desenvolver um método próprio de alfabetização. No artigo 
O método de Paulo freire: primeiras aproximações (2017), os autores afirmam que o 
método de Freire é a aplicabilidade de ensino que tem por base a instrução enquanto 
um processo de dupla via, ou seja, educador e educando são responsáveis por tal 
cada qual desempenhando o que lhe é inerente. O educador despido de modelos 
arcaico que em nada colaboram e ao contrário tendem a manter a hegemonia de pou-
cos e o educando que deve estar disposto a sorver o conhecimento que lhe é trans-
mitido. 
 
DESENVOLVIMENTO 
 
Especialistas e personagens importantes da política tinham sua atenção vol-
tada ao método Paulo Freire quando este foi criado, já que, através dele, havia uma 
aceleração no processo de alfabetização de indivíduos adultos, método este cujo 
 
1 Eduardo Medina Rubio em seu artigo Freire:consciência e libertação (a pedagogia perigosa) (1997, 
p. 12) afirma que enquanto na teoria antidialógica da ação o poder dominante é obrigado a dividir o 
inimigo para preservar o estado de opressão, na teoria dialógica considera-se que os líderes devem 
buscar a unidade entre os oprimidos e a unidade entre os líderes e oprimidos para conseguir a liberta-
ção. 
ponto fundamental eram palavras geradoras.2 Nesse sentido, havia três entrelaçados 
momentos em seu método, a saber: a investigação temática é o primeiro momento, 
no qual aluno e professor buscam, utilizando do vocabular universo da sociedade 
onde vive e do educando os temas centrais e palavras de sua biografia. Trata-se da 
fase onde o universo vocabular é descoberto e as palavras e temas geradores condi-
zente tanto ao cotidiano dos indivíduos alfabetizandos como também ao seu grupo 
social são levantadas. É pela função da riqueza silábica que se selecionam as pala-
vras geradoras, do seu valor fonético e fundamentalmente em decorrência do seu so-
cial significado, fazendo com que adentre a sala de aula a cultura do aluno. Segundo 
Freire (1967, p. 114): 
 
São situações locais que abrem perspectivas, porém, para a análise de pro-
blemas nacionais e regionais. Nelas vão se colocando os vocábulos gerado-
res, na gradação já referida, de suas dificuldades fonéticas. Uma palavra ge-
radora tanto pode englobar a situação toda, quanto pode referir-se a um dos 
elementos da situação. 
 
A tematização constitui o segundo momento, no qual aluno e professor fazem 
a codificação e descodificação dos temas procurando descobrir seu social significado 
e conscientizando-se do mundo vivido. Elaboram-se nesta etapa, as fichas que tem o 
propósito de decompor as famílias fonéticas utilizadas na escrita e na leitura. Por fim, 
a problematização é o terceiro momento, quando se busca desmistificar a visão inicial 
mágica por uma visão mais real e crítica, adentrando-se na transformação do vivido 
contexto. É nesta alternância do concreto para o abstrato e vice versa que se chega 
ao problematizando concreto, onde possibilidades e limites existenciais que foram 
captados na etapa inicial são descobertos. Experimenta-se a opressiva realidade 
como um passível processo de superação, a libertação através da educação deve 
findar na transformadora práxis (FREIRE, 1979, p.72). 
A característica desse método consiste numa interdisciplinar forma de educar, 
cujo objetivo maior é o de libertar os oprimidos, com um mundo mais humanizado 
através da libertadora ação cultural em desfavor da lógica mecanicista, a qual consi-
dera que a criação da realidade é feita pela consciência, e o mecanismo objetivista 
que tem a consciência como sendo uma cópia da realidade. 
 
2 Segundo Freire, em sua obra Educação como prática de liberdade (1967, p. 111) Palavras geradoras 
são aquelas que, decompostas em seus elementos silábicos, propiciam, pela combinação desses ele-
mentos, a criação de novas palavras. 
Direciona-se o método freiriano à alfabetização tanto de jovens como também 
de adultos, e cuja prioridade é o crítico conceito de educação mediada por um diálogo 
entre alfabetizandos e alfabetizadores, por meio de encontros de consciências. Se-
gundo Elias Celso Galvêas em seu artigo Paulo freire e o método de alfabetização de 
adultos (2005, p. 5): 
 
A população adulta é a que trabalha e que vota, elegendo seus representes 
políticos. Daí a sua importância sob dois aspectos: 1º) com o objetivo de pre-
parar o trabalhador para melhor desempenhar o seu trabalho, podendo ler e 
interpretar os manuais de operação dos equipamentos. No mundo moderno 
o conhecimento técnico é indispensávelpara adquirir alguma especia-
lização, que aumenta a produtividade do trabalhador e lhe garante melhores 
salários. 2º) com o objetivo de preparar o trabalhador para o 
exercício da cidadania, conferindo-lhe status político e lhe permitindo que, 
através da politização, possa participar do poder diretamente ou através da 
eleição de seus representantes. 
 
Entendem-se, além desse laborativo caráter educativo, que é fundamental os 
encontros de caráter de consciência na ação de aprendizagem, já que se pressupõe 
que a educação iria além da transmissão de conhecimento, adentrando na transmis-
são de consciência, de um aprendizado pré-existente para outro, o que definiria a 
educação como sendo também um elemento de determinada ordem consciente gui-
ado pela consciência objetiva e social tanto do indivíduo em si como também do 
mundo. A atividade pedagógica como uma característica da alienação educacional, 
trazendo o alerta para a imprescindível necessidade de que deve o educador se con-
verter a sua realidade, tornando-se, sobretudo, seu próprio povo, passando a ter uma 
consciência crítica da prática social através da educação, sendo esta intransferível 
entre as sociedades, instrumentalizando-se em prol da transformação e desenvolvi-
mento do indivíduo e suas lutas. 
A inspiração da educação baseada em Freire tem que conter afetividade, ainda 
que não se deixe que esta interfira no ético cumprimento e no dever e autoridade do 
professor, uma pedagógica relação cultural que não diz respeito somente de compre-
ender a educação como mera forma de transmissão de curriculares conteúdos pelo 
educador, mas como a participação necessária do educando, considerando-o como 
ser autônomo e estabelecendo com a escola uma prática dialógica. Com isso é im-
portante salientar que: 
 
(...) compreende-se que o diálogo aliado a afetividade possibilitará o profes-
sor a conhecer as singularidades de cada um, mediante o interesse de 
comunicação tanto do professor, quanto dos alunos no processo de al-
fabetização. Nesse processo, as metodologias diversificadas, trabalhadas a 
partir da ludicidade e da integração, nas atividades propostas para a turma, 
também serão ótimas aliadas. Seguindo este raciocínio, Freire (2002), afirma 
que “O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu dis-
curso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele (p. 43)”. Dessa 
forma, uma prática educativa diversificada contribui efetivamente para 
uma boa relação dos sujeitos envolvidos e do objeto de estudo (ALMEIDA; 
BITTENCOURT, TORRES, 2017, p. 34). 
 
Ressalta ainda Freire que no processo de transformação é grande a relevância 
da dimensão cultural, uma vez que se pode compreender a educação além da mera 
instrução, pois precisa criar raízes na cultura para ser um agente transformador. As-
sim, conteúdos estruturados transmitidos fora do contexto do aluno é vista como 
sendo uma invasão cultural, já que não surge a partir do saber popular. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O aluno, no pensamento de Paulo Freire, não constitui um mero depósito que 
o professor deve preencher. Juntos, cada um tem condições de descobrir e aprender 
dimensões e possibilidades novas na realidade da vida, uma vez que o educador 
serve apenas um mediador, aprendendo junto com o aluno no decorrer do processo 
de ensino-aprendizagem. Freire observa a educação como sendo uma pedagogia li-
bertadora com a capacidade de ser mais transformadora e humana tanto para homens 
como para mulheres que tenham o entendimento de que são sujeitos de sua própria 
história. 
Freire, seguindo este pensamento, fez críticas a denominada educação banca-
ria, a qual, segundo ele, considerava como ignorante o analfabeto, como sendo uma 
lata vazia cujo conhecimento deveria ser depositado pelo professor. Defendia Freire 
uma ação de educação que fosse transformadora através do diálogo, aceitando sua 
cultura. 
Essas reflexões conduzem ao pensamento sobre adequadas e novas metodo-
logias pensadas com base na realidade do aluno, de forma que não se siga uma car-
tilha padronizada e reducionista do aprendizado a pré-determinados símbolos que não 
levam em conta o contexto, mas priorizar o individual conhecimento do educando pela 
sua trajetória de vida. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5. Ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e 
Terra, 1981. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da tolerância. São Paulo: Editora UNESP, 2004. 
 
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Tradução de Moacir Gadotti. Rio de Janeiro: 
Editora Paz e Terra, 1979. 
 
GALVÊAS, Elias Celso. Paulo freire e o método de alfabetização de adultos. Dis-
ponível em: https://docero.com.br/doc/xnvx181. Acesso em: 27 nov 2020. 
 
PLÁCIDO, Lara R; SOUZA, Tiago B. Método Paulo freire: primeiras aproximações 
A Revista Científica Eletrônica do Curso de Licenciatura em Pedagogia, V.16, N. 28. 
2017. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_desta-
que/psR18Fk8vYsjPac_2018-3-17-11-34-46.pdf. Acesso em 28 nov 2020. 
 
TORRES, Anieli R. de O.; ALMEIDA, Thiago. As relações afetivas entre educador-
educando no processo de ensino-aprendizagem. Revista EDUC-Faculdade de Du-
que de Caxias V. 04. Nº 1. 2017. 
 
RUBIO, Eduardo Medina. FREIRE: CONSCIÊNCIA E LIBERTAÇÃO (A PEDAGO-
GIA PERIGOSA). Rev. Fac. Educ. [online]. 1997, vol.23, n.1-2. 
 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102 
25551997000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 nov 2020.

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