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História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 1 História do Brasil 1.1 Expansão Marítima XV - XVI O processo de consolidação e formação da exploração Colonial tem como base, respectivamente, um longo processo de formação dos chamados Estados Nacionais na Europa e por uma relação de aliança entre a Nobreza, já constituída desde os tempos feudais, e da Burguesia, como classe em ascensão que contribuiu para a aceleração da Modernidade e da desintegração dos laços de dependência, típicos do Feudalismo e da relação entre servo e Senhor Feudal. É perceptível que a partir do século XIII, a partir de uma série de Batalhas e conflitos foram definindo-se as atuais fronteiras da Europa. Dentro desses espaços definidos foram surgindo paralelamente ao Estado uma organização política centralizada, cuja figura do Rei ou do Príncipe, apoiava-se na burocracia e na legitimação da Monarquia e da Nobreza. Lembre-se do caso desse sistema, designado de Absolutismo, o exemplo do Rei-Sol Luís XIV, na França, que se personifica como a própria existência do Estado, declarando-se: “O Estado Sou Eu”. Nesse sentido, podemos falar ainda em uma aliança entre nobreza e burguesia, no entanto, esta última dependente da primeira, sem que houvesse ainda relações com as Revoluções Burguesas que irão marcar os séculos XVII e XVIII. Faz-se necessário, portanto, determinar que o ápice desse processo de centralização e formação das Monarquias Nacionais, base da existência do Absolutismo, ocorreu entre 1450 e 1550, com algumas consideráveis diferenças entre Portugal (a pioneira), Espanha (em 1492 com o episódio denominado de Reconquista), França (com a dinastia dos Bourbons de Luís XIV em diante) e a Inglaterra (com a dinastia dos Tudor e dos Stuart). Há de considerar-se salutar a partir desse momento que houvesse uma necessidade de superar a crise que a Europa enfrentava desde o início do séc. XIV (anos 1300) e que consequências como essas teriam impulsionado a expansão geográfica no além-mar e a exploração de matéria-prima e mão-de-obra indígena ou escrava. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 2 Ao passo de reduzirmos a simplicidade da crise enfrentada pela Europa à necessidade da expansão marítima, se faz necessário destacar elementos importantes para o processo de consolidação da Fase dos Descobrimentos ou, como se referência atualmente, o “achamento” das Américas. É deste modo que os historiadores consideram uma série de fatores que expliquem esse processo, mas acima de tudo, o papel da Monarquia Portuguesa nesse processo. A Dinastia de Avis pode ser considerada a precursora desse movimento expansionista. Sempre de tendência a voltar-se para fora da Europa, os portugueses já haviam acumulado experiência necessária ao longo dos séculos para ultrapassar o comércio então dominado por genoveses e venezianos. Aja vista o próprio Cabral ter sido genovês e trabalhar a serviço dos interesses portugueses. Lisboa, portanto, transformava-se já num poderoso centro de distribuição mercantil ligado ao comércio da península Itálica. O constante contato com o mundo islâmico, o avanço das trocas e da utilização de moedas, a posição geográfica portuguesa foram sem dúvida fatores que impulsionaram o comércio e a sua expansão. Em todos os aspectos, no entanto, Portugal percebeu melhores condições para a unificação de seus Reinos do que outros modelos europeus. Sem dúvida a menor suscetibilidade de instabilidades, invasões, disputas contou a favor desse processo. A somar-se a isso a Revolução designada de Avis foi importante na sucessão da dinastia em Portugal. Diferente das revoltas camponesas do resto da Europa, a revolução apresentou um caráter especialmente burguês. Burguês no sentido ainda distante das revoluções que irão assolar a Europa no futuro, mas possibilitando setores essenciais da sociedade portuguesa a desafiar os mares, colocar seus interesses a frente do Estado e impulsionar a arre cação de impostos para a Monarquia. Para tanto, a burguesia disponibilizaria o espírito aventureiro e o Rei os meios necessários para alcançá-los, criando a perspectiva de um bom negócio para a burguesia; e para o rei a oportunidade de novas receitas, onde a nobreza apoiava seu prestígio, a Igreja expandia seus limites e a Metrópole consumia produtos manufaturados vindos da Colônia. Somado a todos esses fatores, o declínio do comércio com as Índias, o fechamento do Mar Mediterrâneo em 1453 História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 3 teriam sido pontos favoráveis para o desenvolver do espírito aventureiro do séc. XV. O Império Ultra-marino Português Acima de tudo, a coroa Portuguesa obteve largos interesses em buscar a expansão de seus mercados. A Europa tornava atraente a busca, principalmente, por especiarias e ouro. O alto valor das especiarias explicava-se pelos hábitos cultivados na Europa. Derivado de substância, o termo especiaria era associado a produto raro e usado em pequenas quantidades, geralmente para disfarçar o gosto estragado de alimentos e produtos. Desde a canela, o cravo, a noz-moscada, o gengibre e até o açúcar foram produtos usados com objetivo de alimentar os mais diferentes gostos, daí a expressão “caro como pimenta” para designar especiarias tão procuradas na Europa. Nesse sentido, a exploração ultramarina Portuguesa tem início no séc. XV. Corriqueiramente associada a conquista de ilhas no Atlântico e na costa da África, Ceuta foi a primeira cidade tomada por portugueses já em 1415. Localizada no Norte da África, é associada a busca do Ouro no Sudão, incursões piratas, saques e até gosto pela aventura. Ao longo de 53 anos a costa da África foi aos poucos sendo tomada pelo interesse de desbravadores e até o alcance das Índias por Vasco da Gama em 1498. Sem explorar intensamente o território africano, os comerciantes portugueses usaram-se da instalação de feitorias na costa da África e do cultivo da cana-de-açúcar nas Ilhas Canárias, da Madeira e de Cabo Verde. As feitorias tornavam mais rápidas e baratas a exploração e agilizavam a comercialização de matéria-prima. Era uma troca comercial considerada precária e que recorria somente às armas e a segurança dos espaços delimitados. Geralmente, os feitores tinham a função de estabelecer mercadorias que seriam transportadas e estocá-las nas feitorias na costa do continente. Já eram perceptíveis controles burocráticos que obrigavam a cunhagem de Moedas pela exploração do Ouro, do Marfim, da pimenta malagueta e, sobretudo, já de escravos que eram comercializados. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 4 Nas ilhas do Atlântico, as primeiras experiências já demonstravam o plantio em larga escala, da mesma maneira que será usada no Brasil. Implantaram, depois da perda das Canárias para espanhóis, por volta de 1471 dois sistemas agrícolas paralelos: o trigo produzido por camponeses portugueses; e produção de cana-de-açúcar, investidas por comerciantes genoveses e judeus que usavam do trabalho escravo do negro que vinha da costa da África. O comércio não durou muito, já que sofreu concorrência do açúcar brasileiro. Já o descobrimento e a efetiva colonização do Brasil irão ocorrer só com a chegada das 13 naus de Cabral em 1500. A experiência da África e o contato com o comércio das Índias irão atrasar a produção no Brasil, que só ocorrerá efetivamente em 1549 com o governo geral. Isso nos leva a constituir que o Brasil nesse momento já era alvo de interesses europeus, que consideraram nesse momento a exploração pura e definida, sem levar em consideração a cultura do indígena e a disputa com a coroa Espanhola da separação dos territórios na América, que sofreram mediação da Igreja em Roma, levando a assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494. Colombo, que descobriu a América em 1500, achava ter chego as Índias e irá creditar esse feito atéa sua morte. Somente com Américo Vespúcio em 1505 teremos a certeza de termos alcançado um novo Continente. 1.2 Brasil Colônia Comumente associamos a colonização do Brasil em 3 fases distintas: a fase de Reconhecimento e Instalação das Capitanias Hereditárias até 1549; a fase que vai da instalação do Governo-Geral até a eclosão de movimentos como a Inconfidência Mineira em 1789-90; e a crise do Sistema Colonial que irá compreender a chegada da Família Real em 1808 e a Independência do Brasil em 1822. As primeiras tentativas de exploração do território brasileiro irão se dar a partir do primeiro contato do elemento colonizador com os indígenas brasileiros. Nesse sentido, essa primeira tentativa, pois ela irá apresentar- se com uma série de problemas a coroa, representa um esforço que irá dispender, ou seja, desconsiderar a necessidade de muitos investimentos História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 5 na América. A extração do pau-brasil foi nesse período a primeira matéria- prima que gerou interesse material e comercial em terras brasileiras. Usada para tingimento de tecidos e na fabricação de móveis, navios e outros instrumentos, a madeira já era comercializada na Ásia. Foi, portanto, nesse momento de poucos investimentos que o mesmo sistema de feitorias adotado na costa da África serviu melhor ao contexto da exploração. Somado a isso, algumas expedições particulares receberam o monopólio do Rei para exploração das terras. Ainda desconhecidas e sem muito respaldo, a mais famosa expedição teria sido a de Fernão de Loronha ou Noronha (nome das Ilhas). Essa forma de exploração durou até 1505, quando a coroa retomou a exploração das terras. A extração do pau-brasil era realizada através do escambo com os indígenas, uma forma de comércio mais simples e que dispendia o uso de cédulas ou moeda. Desse período não demoraria em assumir outras formas de exploração, como a da escravização do indígena. Denominadas de guerra justa, a escravização era usada como forma de defesa ao “ataque” de tribos indígenas, usado de desculpa para subordinar em trabalho compulsório escravo o indígena. Nesse momento, a fase de reconhecimento, irá despertar interesses de outras potências sobre o Brasil, como a Inglaterra e a França, que não reconheciam a legitimidade do Tratado de Tordesilhas assinado por mediação da Igreja em 1494. Segundo os preceitos da época, só era conhecido verdadeiro legítimo da terra aquele que a ocupasse, dentro do preceito do uti possidetis. Nesse contexto, que Franceses e Holandeses tomarão conta do espaço brasileiro em períodos distintos. Franceses chegaram a invadir a cidade do Rio de Janeiro e a região do Maranhão, antes de serem expulsos definitivamente pelos portugueses. Capitanias Hereditárias Temendo o risco de perder a efetiva posse das terras, a coroa portuguesa irá testar a primeira tentativa real de colonização do Brasil com a divisão de 15 lotes de terras, distribuídos entre Capitães donatários. Estes História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 6 receberiam a posse da terra, mas não a sua propriedade. Os 12 donatários teriam funções de instalar vilas com intuito de ocupá-las e protegê-la. Os donatários teriam suas funções determinadas pela Carta de Foral e de Doação. Asseguravam-se assim deveres desde a arrecação de impostos e tributos, criação de vilas e aplicação da Justiça. No entanto, não podiam vender, arrendar ou alugar as terras. Podiam distribuir sesmarias, que na prática ‘doava’ porções de terras com intuito de produzi-las num prazo máximo de 5 anos. Apesar de amplas tentativas de efetivar a colonização as capitanias enfrentaram problemas desde a sua instalação em 1535, vindo a ser re- estatizada pela coroa Portuguesa e substituída pelo Governo-Geral em 1549. Coincidindo com a descoberta de Prata pela Espanha em Potosí, na atual Bolívia, e com o declínio do comércio com as Índias, o governo-geral seria a solução para a substituição do modelo de capitanias. Esse modelo de substituição iria aproximar os laços entre Metrópole e Colônia, aumentando a capacidade de organização e de rendimentos dos territórios. Tomé de Souza, 1º governador-geral do Brasil chegou até a Baía de todos os Santos em 1549, fundando a cidade de Salvador e a elevando a Capital da Colônia, que duraria até 1763. Vinham com ele os primeiros jesuítas e as primeiras determinações do Rei de Portugal. Essas determinações permitiam uma centralização política, diminuindo o poder dos donatários e criando Câmaras Municipais nas vilas. De fato, na prática, esse fator irá desencadear em toda a história da Colônia os principais conflitos entre os homens-bons, grandes latifundiários, que entrarão em constante conflito com o abuso e o autoritarismo do Rei sobre a Colônia. Em toda a história da colonização, inclusive segundo as regras do Pacto Colonial e do Mercantilismo, deveria ocorrer um monopólio sobre a exploração, que na prática também relegava a Portugal um sistema de relativa flexibilidade e incapacidade de investimentos e produção, deixando em diferentes momentos a cargo da Holanda e da Inglaterra a comercialização de Produtos. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 7 O ciclo do açúcar As dificuldades enfrentadas pela administração portuguesa foram sentidas em vários aspectos. Desde o ataque de índios repercutindo em falta de mão-de-obra, escassos investimentos, falta de metais preciosos em território brasileiro. Essa ausência de bons rendimentos gera como consequência a aproximação entre Metrópole e Colônia. O Governo-Geral nesse sentido começa por estabelecer os primeiros núcleos de produção agrícola para abastecer de especiarias o mercado europeu. A produção estabelecida em latifúndios irá acompanhar o sistema de Plantation: uma monocultura, agro-exportadora e baseada no uso do trabalho escravo. É, portanto, na produção açucareira que irá se dar a transição da mão-de- obra escrava indígena pela escrava negra. Inicialmente, os índios proibidos de escravização pelos jesuítas irão marcar uma alternativa para a força de trabalho que, por inúmeros motivos, impossibilita a vinda de força de trabalho livre, mas encontra alta rentabilidade no escravo negro. Isso porque o negro era visto como mercadoria, esta que gerava lucros, circulação de mercadorias, cobrança de impostos, interessada a todas as partes envolvidas, além de uma capacidade produtiva muito superior a do indígena. Apesar de ter sido deixada de lado, a mão-de-obra do índio nunca deixou de ser usada, inclusive em períodos de escassez do negro (uma brecha de escravização pelo fato da guerra justa). A sociedade açucareira foi o grande motor da economia da colônia nos primeiros tempos. A Coroa até relegava a propulsão da produção a parceiros econômicos. A Holanda tinha, acima de tudo, a responsabilidade do investimento, do refino, do transporte e da comercialização do produto na Europa. Isso irá possibilitar que a Holanda enquanto parceira comercial da coroa portuguesa permaneça com amplos interesses até o controle dos territórios metropolitanos e coloniais por parte da Espanha. Era o início da União Ibérica ou Hispania, período relacionado a crise de sucessão do trono português pelo desaparecimento de dois Reis D. Sebastião (que desaparece numa batalha no Marrocos sem deixar herdeiros) e seu sobrinho D. Henrique (que também deixa o trono sem herdeiros) História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 8 O período da Hispania, de 1580 a 1640, representa para o Brasil e Portugal um período bastante conturbada que afeta diretamente os privilegiados na produção do açúcar e gera como consequência a tomada dos territórios brasileiros pela Holanda (Invasões Holandesas) e o declínio da produção do açúcar e sua respectiva substituição pela economia aurífera, como descobrimento do Ouro em 1693 na região das Minas Gerais. Nesse aspecto, podemos afirmar que a consolidação da estrutura açucareirarestringe a colonização ao Nordeste do Brasil, numa faixa de terra bastante litorânea e essencialmente agrícola. Isso repercutia nos pesados investimentos e na realização de acordos comerciais e, acima de tudo, numa estrutura social completamente dependente do elemento africano. A dinamização da sociedade, portanto, era baixa, caracterizando- se por uma sociedade extremamente fechada, com pouca mobilidade social, baixos índices de alforria para escravos e alto índice de Status social baseado na propriedade da terra e do número de escravos. Essa foi por excelência a típica forma de organização social que vigorou até o descolamento do eixo Sudeste entre a região da Capitania de São Vicente (atual Estado de São Paulo), Rio de Janeiro e a elevação de Minas Gerais a Vila. A sociedade açucareira foi baseada no modelo tradicional Patriarcal, forte religiosidade, adesão aos ritos católicos. As mulheres brancas eram escassas e a ausência de núcleos urbanos caracterizavam uma sociedade permeada pelas relações de trocas de favores, o clientelismo. A expansão territorial e interiorização da Colônia Podemos efetivamente perceber que até os séculos XVII a colonização do Brasil esteve determinada pela sociedade eminentemente agrária e concentrada nas faixas litorâneas da colônia. Nesse sentido, não havíamos ainda percebido o desenvolvimento do que hoje caracteriza-se pelo interior do Brasil. Esse deslocamento para o eixo RJ=SP, só estará relacionado a presença de dois importantes eventos: a fase de Restauração Portuguesa em 1640, com História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 9 o fim do domínio espanhol sobre os portugueses e a expulsão dos Holandeses do Brasil em 1654; e de outro lado, isso não teria sido possível sem a presença do desbravador, do aventureiro paulista na capitania de São Vicente: estamos nos referindo ao papel do Bandeirante. Dentro desse contexto, o bandeirante foi importante no sentido que permitia o aumento das fronteiras da colônia e ao mesmo tempo em que impulsionava uma nova estrutura econômica: o Ouro. Esse processo se deu pela concorrência do açúcar brasileiro com o açúcar holandês produzido nas Antilhas e pela definição das fronteiras a partir de 3 grandes Tratados: o de Madri (1750), o de Santo Ildefonso (1777) e o de Badajós (1801). A partir deste último e de outras determinações, ficava acertado que o território dos Sete Povos das Missões passasse ao controle de Portugal e a Colônia de Sacramento no Uruguai ao controle da Espanha. 1.3 Brasil Colônia e economia Aurífera Entre meados do séc. XVI pode-se perceber uma relativa distância entre a estrutura de produção do nordeste e as do sul, longes dos interesses dos feitores e senhores de Engenho. Por esse motivo a região sul da Colônia ficou imortalizada até esse período como uma terra sem Lei e nem Rei. Decorrente tanto das Missões Religiosas quanto da presença de Bandeirantes Paulistas esparramados pelo território brasileiro percebeu-se um relativo desenvolvimento das fronteiras territoriais da colônia. A pecuária teria sido a primeira atividade econômica que possibilitou amplas concentrações de pessoas. Inicialmente acompanharam o curso dos rios e foram adentrando ao interior com o objetivo de abastecer as regiões dos engenhos. Ao decorrer do tempo foram possibilitando a expansão ao Norte do Brasil, principalmente região do Maranhão e Amazonas, e também a região Sul do Brasil, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul com grandes investidas no mercado de charque e couro. Na região central da colônia a função das expedições de bandeiras e entradas buscaram conter invasões estrangeiras, recuperar escravos negros fugidos, apresar indígenas (apesar da resistência dos jesuítas) e encontrar História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 10 ouro. O que as diferiam era de que as entradas tinham organizações oficiais, ou seja, financiadas pela coroa até o período da Restauração não ultrapassaram o limite de Tordesilhas; já as Bandeiras foram expedições particulares organizadas a partir de São Vicente. De caráter desbravador, as bandeiras e a figura do bandeirante enalteceram no séc. XIX os interesses dos Paulistas e sua relativa superioridade. Orgulhava-se de demonstrar que a presença fraca do negro na região sudeste havia possibilitado um melhor desenvolvimento para a capitania, constituindo quase uma raça especial que do cruzamento do branco e do índio provocou o êxito da empreitada expansionista. Tudo fantasias e mitos usados com pretensões científicas. Em muitos aspectos, a presença do indígena na sociedade paulista implicou numa sociedade mais miscigenada, claro, mas longe de ser mais “desenvolvida” que o nordeste brasileiro. A exaltação do bandeirante foi estabelecida de fato por uma sociedade mais rústica, de fraca agricultura, solo pobre e que prevaleceu o costume e a língua indígena. Vestígios disso? O fato das bandeiras terem sido representadas por mais 3 mil homens que percorriam milhares de quilômetros Brasil adentro, mas em sua maioria indígenas que apresavam outros indígenas, de tribos rivais ou inimigos, contaminados pelo interesse do comércio, do abastecimento da atividade agrícola. Estima-se que 300 mil indígenas tenham sido capturados com intuito de abastecer a lavoura no momento de carência de escravos africanos, isso entre 1625 e 1650. E o Ouro? A economia da sociedade aurífera teria se diferenciado da estrutura de organização social estabelecida no Nordeste. Fatos que reforçam esse argumento demonstram uma sociedade muito mais dinâmica, de composição social diferenciada e, sobretudo, de classe média mais larga, devido ao aumento de atividades paralelas no circuito do Ouro. A sociedade aurífera foi de fato a grande contribuinte para o primeiro fluxo migratório (e imigratório) para o Brasil, tendo aproximadamente 600 mil História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 11 pessoas chegando a região das Minas. Mas não pensemos que isso facilitou a exploração, justamente pela característica da sociedade ter sido marcada pela restrição e circulação de pessoas em Minas Gerais. A coroa portuguesa havia dispendido interesses no ouro e o contrabando deveria ser evitado. Para tanto se criou a Intendência das Minas, que administrava, fiscalizava e tributava a exploração do ouro. Toda descoberta deveria ser comunicada as autoridades que demarcavam os espaços e lotes, que passavam a chamar lotes. Deveria se comprovar um número de escravos para poder candidatar-se ao sorteio das minas. Posteriormente as Casas de Fundição, instaladas por toda a Coroa, deveriam tributar e selar o ouro que seguia para a Europa. Todo ouro natural ou em pepita era proibido de circular. A cobrança de impostos realizada pela Coroa deveria estabelecer o Quinto (20%) de tudo que se extraia da Mina, além da Capitação, impostos que deveria ser cobrado em cima das cabeças de escravos que trabalhavam nas Minas. No caso de extração em faisqueiras (ouro encontrado na margem das montanhas e dos rios, portanto mais barato) o explorador pagava imposto sobre ele mesmo e seus trabalhadores. Arrecadas impostos e organizar a sociedade das minas foi o objetivo da Coroa Portuguesa no Brasil. Para tanto, Ordens Militares foram criadas com intuito de cercear a circulação de indivíduos nas Minas. Foram estabelecidas juntas e ouvidores que poderiam intervir em determinados casos e milícias armadas que poderiam enfrentar casos de emergência. No entanto, isso não acabou com o contrabando. Caso das Ordens Religiosas, que mesmo impedidas de entrar nas regiões das Minas, conseguiam contrabandear ouro em Pó em imagens de Santos para a Europa. Esse contexto, portanto, nos leva a pressupor que a sociedade aurífera não tenha sido necessariamente mais rica que outras formas de exploração. Pelo contrário, o ouro gerava riqueza e aumento de preços, dado a sua amplitude e o seu aumento de produção agrícola e de comércio de produtos. Osprodutos chegavam a custar 50 vezes mais que em outras regiões da Colônia. Poucos enriqueceram, mas permitiram uma sociedade mais flexível e que, inclusive, importará ideias da Europa, ideais esses que serão essenciais para os movimentos de emancipação e independência. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 12 Fator principal que nos leve a constituir a região das Minas como uma sociedade mais dinâmica é o fator que propulsiona um número maior de movimentos de resistência e de contestação aos impostos cobrados pela coroa Portuguesa. Até o período de instituição da sociedade açucareira, séc. XVI, a coroa Portuguesa agora administrada pela dinastia dos Orleans e Bragança foi responsável por esgotar as formas de cobrança de impostos, levando a população a se revoltar contra o autoritarismo do Rei. Em nada, portanto, esses movimentos tiveram de ideais radicais, de movimentos ideológicos bem definidos. Essa série de movimentos será chamada de Nativistas por esse principal Motivo. Em muitos aspectos estiveram relacionados a revoltas de Quilombos, com escravos fugidos, e revoltas como a dos Beckman no Maranhão, em 1642; a dos Mascates entre Olinda e Pernambuco, em 1710-11; a Guerra dos Emboabas pelo controle das regiões das minas entre Paulistas de um lado e Estrangeiros de outro; e, por último, a Rebelião de Filipe dos Santos em 1720. Todos eles apresentam em comum o fato de terem se revoltado contra o abuso da cobrança de impostos e pela criação de Companhias de Comércio que monopolizavam a distribuição de produtos em certas regiões. O séc. XVIII e início do séc. XIX por outro lado foram marcados por rebeliões mais bem definidas com propostas bem sólidas. É o caso das Rebeliões de caráter Emancipacionista ou Separatista. A colônia até então havia sido definida pela ausência de uma elite letrada, o que agora em meados do séc. XVIII é possível por meio dos ideais iluministas e impulsionados pela independência dos EUA (1776). Grandes partes dos envolvidos na Inconfidência Mineira estavam matriculados na Universidade de Coimbra, 10 dos 19 eram brasileiros de Minas Gerais. Isso acaba por justificar que o abuso na cobrança da Derrama tenha sido o estopim para a traição a Coroa (a Inconfidência). No entanto, observado a fundo os ideais iluministas percebemos que o levante em MG em 1789 não conseguiu ganhar contornos populares e distanciar-se das elites, à exceção de Joaquim José da Silva Xavier, o único julgado, condenado e esquartejado, representando que o limite para os Inconfidentes terminava onde começa a abolição da escravidão. Por esse motivo, a inconfidência não radicalizou seus ideais, apesar de defender a criação de uma República, História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 13 pelo fato de a maioria de seus integrantes terem sido grandes latifundiários. A Conjuração Baiana ou dos Alfaiates em 1798 já apresentou outros interesses. Considerada a 1ª Revolução Social do Brasil, seus integrantes, na maioria, buscaram ideais mais igualitários, o que representa que estavam dispostos a alcançar tendências ainda mais libertárias, rompendo definitivamente com a condição de exploração que o Brasil até então se encontrava. 1.4 A crise do Sistema Colonial Brasileiro, 1790 - 1822 A situação que se encontrava a Coroa Portuguesa até o descobrimento do Ouro em 1693 era precária. Suprimia apenas uma dívida que só tendia a aumentar à medida que sua dependência passava diretamente da Holanda para a Inglaterra. Em 1703, um Tratado entre Portugal e Inglaterra demonstrava bem isso. Estabelecido com o intuito de alavancar o comércio do Vinho do Porto (já em mão dos Ingleses), o Tratado de Methuen por outro lado obrigava o Brasil e a Coroa a importar tecidos das indústrias Inglesas. Já deu pra imaginar como pagaríamos pelas Manufaturas? Com Ouro! Portanto, de fato compreendemos que o nosso ouro serviu ao capital necessário para a Revolução Industrial inglesa. Com objetivo de um último suspiro, o rei D. José I estabelece medidas que serão necessárias a algumas reformas do sistema Mercantilista. Essas reformas serão de responsabilidade do secretário de Estado do Reino, Marquês de Pombal. Por um curto período de tempo, Portugal sofrerá respectivamente crises econômicas, um terremoto que irá destruir Lisboa, rebeliões que serão insustentáveis para a manutenção de sua colônia e invasões que serão desencadeadas por Napoleão, o conquistador da França. É nessa perspectiva, que em 1808, um acordo entre a coroa Portuguesa e a Monarquia inglesa transformarão a Colônia em sede da Coroa Portuguesa do dia para a noite. Aproximadamente 15 mil nobres chegarão a Salvador escoltados pela Marinha de guerra inglesa. Esse período, História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 14 denominado de Joanino de 1808 a 1821, durará 13 anos de permanência da Família Real no Brasil e mudará o curso do Brasil, culminando com a Independência em 1822. A primeira grande mudança para o Brasil consistiu na abertura dos Portos para as Nações Amigas em 1808. A primeira lei promulgada pelo regente no Brasil, D. João VI, será a responsável pelo primeiro aumento da dívida externa brasileira, elevando o Brasil ao 3º maior mercando consumidor de produtos ingleses. Com essa medida, a Inglaterra tem 14 anos de abertura de mercados na América, discussões sobre a questão da gradativa abolição (que só ira se concretizar em 1888), além de extraterritorialidade a cidadãos ingleses e benefícios de 15% de tarifação sobre mercadorias inglesas exportadas para o Brasil. Esse processo representa um passo importante no sentido de elucidar melhor a capacidade de organização por parte dos primeiros Partidos Políticos no Brasil. Em 1815, findada a Era Napoleônica, o Brasil é elevado a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e a exigência do retorno do Rei a Portugal acontece com uma Revolução em Lisboa, a Revolução do Porto em 1820. De caráter Liberal, a Revolução do Porto implica numa condição irreversível para o Brasil: a recolonizarão do território brasileiro. Formado a partir dos principais interesses dos latifundiários, o Partido Liberal no Brasil será constituído com o objetivo de impedir esses objetivos da Coroa Portuguesa. D. João é obrigado a retornar ao país de origem, no entanto, a permanência de seu filho, D. Pedro I, representará a articulação das elites para privilegiar interesses da produção agrícola. Nascia assim um Novo Império, mais presente nas suas continuidades do que suas rupturas e a exemplo de outros modelos latino-americanos que irá demorar em se constituir República (1889) e para a sua efetiva abolição a escravatura. O Brasil nascia como um Império Liberal e ao mesmo tempo conservador por estar baseado nas tradições coloniais da plantation: monocultura, agroexportadora e escravocrata. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 15 1.5 Brasil Império – ascensão e queda De acordo com a historiografia brasileira, o período designado de Império no Brasil teve início com o processo de proclamação da Independência por D. Pedro I, filho de D. João VI que acabara de retornar a Portugal pelo fim da dominação Napoleônica. Ao exato dia de 7 de Setembro, portanto, as elites coloniais brasileiras interessadas em não retornar a condição do Brasil à Colônia impulsionam o processo de rompimento com a antiga Metrópole, Portugal. Os territórios do então Império do Brasil compreendiam parte dos territórios do atual país além da faixa do Uruguai. De antiga Colônia e sede do governo Monárquico Português entre 1808 e 1821, o Brasil agora desmembrado irá coroar o Imperador D. Pedro I e garantir a legitimidade dos interesses das elites, bem como, da continuidade das características monocultoras, latifundiárias e baseadas no trabalho escravo que marcaram o período de abastecimento de matérias- primas e produtos manufaturados o comércio exterior. O Período designado de Brasil Império irá compreender, portanto,3 fases políticas distintas: a fase do governo de D. Pedro I (1822 – 1831); uma fase intermediária de Regência, quando se governa em nome de uma autoridade ou Monarca, marcada por disputas de poder entre as principais facções políticas do país (1831 – 1840); e uma fase mais extensa marcada pelo governo de D. Pedro II, coroado antecipadamente aos 14 anos pelo Golpe da Maioridade articulado entre as elites do país (1840 – 1889); findando apenas com a Proclamação da República por um novo golpe militar em 15 de novembro. Os primeiros anos da Independência foram marcados por um período de bastante incertezas e divergências políticas no país. Haviam se formado grupos com diferentes interesses que, por ora, apoiaram o governo de D. Pedro, ora se colocavam como contrários às medidas tomadas na discussão da 1ª constituição que o Brasil terá como Império. Esses fatos levam a crer os historiadores que a figura do Imperador apresentasse distintas marcas de contradições. Foi um Imperador de tendências liberais (apoiou o rompimento com a Monarquia Portuguesa) mas com discursos autoritários, reflexos de um período de habilidades de História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 16 governo ainda voltadas ao sistema colonial, as práticas mercantilistas e ao Absolutismo Monárquico. A Constituição outorgada em 1824 foi o melhor exemplo do autoritarismo de um governante, que fechou o Congresso Nacional, cancelou a Constituinte, rasgou uma constituição (a da Mandioca proposta em 1823 pelos latifundiários) e decretou o Poder Moderador, àquele que definia intervenção quando lhe interessasse em determinados assuntos. Resultado: foi obrigado a abdicar ao trono, deixar o filho com apenas 4 anos no poder, retomar o trono em Portugal afetado por problemas dinásticos e abrir precedentes para a crise política, apenas solucionada com a ascensão ao trono do futuro d. Pedro II. A fase Regencial (1831 – 1840) não havia sido diferente. Mostrava ainda os problemas e a falta de habilidade política deixada pelo Imperador D. Pedro I. Fora marcada por constantes disputas entre liberais e conservadores no poder, onde se elegiam regentes por períodos de 4 anos para governar em nome do Imperador. Temerosos que as Revoltas Regenciais pudessem trazer uma radicalização e fragmentação do poder, o partido Liberal consegue aprovar junto aos setores ultraconservadores uma antecipação da coroação do Imperador. Coroado aos 14 anos, o futuro Imperador enfrentará desafios a serem buscados pela conciliação e pacificação de Partidos Políticos. Hábil estrategista e político, D. Pedro II governa com maiores habilidades que fora o pai enquanto Imperador. Concede maiores títulos de nobreza (18 títulos de Barões/ano), permite o revezamento da composição do Parlamento (aproximadamente 33 governos diferente em 50 anos), e dá maior flexibilidade as escolhas de representantes no Congresso Nacional, como determinação da mesma Constituição de 1824. Agora, portanto, Conservadores e Liberais compreenderam que disputas políticas que colocavam o país em guerra não seria positivo aos negócios, firmando assim políticas de alianças ente os dois grupos antagônicos. Essa fase denominada de Parlamentarismo às Avessas é o maior legado do 2º Reinado, já que possibilitou acordos políticos mediados pela figura do Imperador. Às avessas, justamente, pois num Parlamentarismo tradicional (como a Inglaterra) a escolha das Câmaras cabe a própria votação de representantes, no Brasil, ao contrário, o Imperador pode mediar essas História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 17 decisões pelo menos até meados de 1870, antes dos ares Republicanos afetarem decisivamente os rumos políticos do país. A participação do Exército na Guerra do Paraguai em 1865, a debilidade da saúde do Imperador, o fato de não possuir herdeiros masculinos para a sucessão de um 3º Reinado, somado aos fatores Abolicionistas da escravidão aceleraram a queda do Império no País. Por todos os cantos ecoavam sintomas de novas ideologias, regimes e modernização. Os cafeicultores do Oeste Paulista viam a necessidade de substituição da mão- de-obra escrava por livre, perdendo assim, a base de sustentação dos latifundiários sob o regime Imperial. A chegada de imigrantes europeus será decisiva para acelerar a crise de um Império já em decadência, que se mostrava insustentável perante as rápidas mudanças do mundo industrial e capitalista. 1.6 República Velha, da Espada a crise das Oligarquias e do Café, 1889 – 1930. A República Velha é o período designado pelo modelo republicano adotado pelo Brasil após o fim do Império com a Proclamação em 15 de novembro. Articulado pelas camadas do exército e uma parcela da elite civil interessada em manter seus privilégios na produção agrícola, o golpe de Estado que colocou no exílio a Família Real foi fruto de uma falta de mobilização popular, que ocorreu sem muitos abalos, sem que houvesse, assim, rupturas com o Brasil agrário e latifundiário dos tempos da Colônia. Célebre ficou a frase do jornalista brasileiro Aristides Lobo, ao qual o país assistia ‘bestializado’ a proclamação da República, em que o exército que desferiu o golpe de estado mais parecia com um desfile militar do que qualquer outra coisa. Nesse sentido, os anos que sucederam a Proclamação foram de muita instabilidade e incerteza política, marcado pelos ares da antiga monarquia e pelo retorno da Família Real. Nas duas fases que sucederam a República Velha, a da Espada e a Oligárquica, houveram, portanto, articulações e acordos a serem feitos para garantir o desenvolvimento do novo regime político. Os Militares agora, História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 18 eleitos indiretamente para a Presidência da República, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, se encarregariam de normalizar e garantir o funcionamento do país. De outro lado, a parcela civil se apressaria para promulgar a nova Constituição, a primeira republicana, de 1891. O modelo escolhido, de influência das grandes potências, fora o Federalismo. O Brasil se reconheceria pelo nome de Estados Unidos do Brasil, e suas antigas provinciais seriam elevadas a condição de Estados. Estes agora, poderiam ter relativa autonomia para criar leis, taxar impostos sobre produtos de exportação, delinear Tribunais de Justiça e, acima de tudo, para garantir os jogos eleitorais, compor milícias armadas. Estava organizada a base do Coronelismo, o sistema de arranjo político que estabelecia a figura do Coronel, grande proprietário de terras, como intermediário na captação e “compra” de votos para firmar alianças com o governo federal. Essa política, estabelecida no governo Campos Sales, 1902, é a característica mais marcante da República Oligárquica. Essa aliança irá firmar um revezamento político no poder entre as mais importantes Oligarquias do país, a de São Paulo e Minas Gerais. Através dela os grandes produtores de café e gado (leite), tomariam um acordo definido como “Política dos governadores”, onde os governos dos estados elegeriam presidentes, que em troca possibilitaria a distribuição de recursos para áreas que tivessem apoiado sua campanha política eleitoral. Não obstante, o período da República Velha ter sido marcado, quase todo ele, por presidentes de origem civil, sem ligações com os meios militares, exceto em 1910 com a eleição de Hermes da Fonseca, sobrinho do ex- presidente Deodoro. Em vários aspectos, portanto, essa política favorável ao protecionismo do setor cafeeiro foi responsável por privilegiar empréstimos que tornavam o Estado o grande articulador e gestor da exportação e regulação de preços do produto no mercado internacional. O Estado agia como um intermediário na aquisição do produto frente aos cafeicultores. Essa política, em vários, momentos responsabilizava o Estado por gerar dívidas com o café enquanto que o resto do Brasil dependia de sua própria produção e exportação. História | Rodrigo Doninfocusconcuros.com.br 19 No decurso da República Velha, no entanto, foram se formando grupos e ideologias contrárias ao desenvolvimento e proteção ao café. Esses grupos emergiram de um descontentamento dentro das estruturas do próprio exército. Denominado de Tenentismo, o movimento foi, sobretudo uma insatisfação sobre a política do café e as oligarquias. O movimento que tomou contornos armados e em vários momentos percorreu milhares de quilômetros Brasil adentro, foi responsável, simbolicamente, pela desintegração das oligarquias a partir da Revolução em 1930 que colocou Vargas no poder. O poder simbólico dos jovens tenentes foi primordial para engatilhar o movimento revolucionário e que, somado à crise internacional em 1929, tornou insustentável o governo brasileiro proteger e defender única e exclusivamente o café. 1.7 A Era Vargas, 1930- 1945 Contexto Internacional - Introdução Foi consenso entre as sociedades e grandes potências desde a Revolução Francesa que o regime democrático seria a melhor alternativa para decidir o destino da organização das sociedades, que, por meio de eleições, representantes seriam escolhidos para mudar os rumos da Nação. No entanto, os séculos XIX e XX permitiram ao lado da crise de 29 uma radicalização de ideologias que permitissem alcançar alternativas para a então crise do Liberalismo e do Sistema a Capitalista. Esses movimentos denominados de antidemocráticos e antiliberais surgiam para tomar o poder e ganhavam a simpatia pela Europa. Justificavam um autoritarismo de Estado para justificar a “defesa da democracia”, elevando a necessidade das pessoas creditarem a essas ideologias força e poder. Sendo assim, prenderam, censuraram, torturaram e mataram todos que se opunham a suas ideias. Esse período denominado na história geral de Entre-guerras (1918 – 1939) foi o período de maior suscetibilidade e fragilidade da democracia através dos Regimes Fascistas e Nazistas na Europa. Respingaram influências no regime de Francisco Franco na Espanha (Franquismo), no governo de História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 20 Antônio Salazar em Portugal (Salazarismo) e influenciou o regime brasileiro sob a égide de um futuro Ditador, Getúlio Vargas. A Revolução de 30 e a Era Vargas A República do Café (1894 – 1930) que se encontrava no revezamento do poder político do país sofria um duro golpe de Estado em 24 de outubro de 1930. Começava assim a Revolução de 30 que findava a república das oligarquias e colocava no poder o início da Era Vargas, de 1930 a 1945. Os grupos ligados aos setores militares foram primordiais para colocar em curso as contestações ao protecionismo que o café recebia desde a Proclamação da República. O movimento então designado de Tenentismo (pois caracterizava militares de baixa ou média patente) foi responsável pela rebeldia contra o governo da República e, sobretudo, as oligarquias que usavam do poder militar para intervir na política local. Ligados aos setores médios, urbanos e democráticos os Tenentes conheceram duas fases de seu movimento: antes de 30 e depois de 30. Até 1930, foi consenso que o exército deveria exprimir um papel de defesa dos interesses da nação, devendo “moralizar” a República, defendendo o fim das fraudes eleitorais, o fim do voto de “cabresto” e, principalmente, a centralização de poder. Economicamente, defendiam a estabilidade do país, criticavam empréstimos do capital estrangeiro e aumento da dívida externa, opunham-se a proteção econômica do setor cafeeiro, defendendo assim, que a política deveria ser de uma pluralidade econômica maior (café, algodão, cacau, açúcar (álcool), além de uma indústria expressiva). Esses interesses representam na prática, os novos rumos que o Tenentismo enfrentará depois de 1930. Nessa segunda fase, os antigos tenentes serão o sustentáculo da Era Vargas, importantes tanto na queda da República Velha e na deposição de Vargas em 1945. Portanto, em plena eleição de 1929 o café enfrenta uma situação delicada: a safra que esperava-se ser de produção reduzida, alcançou quase 30 milhões de sacas. De outro lado, com a crise, os preços internacionais História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 21 caíram bruscamente devido à alta oferta do produto no mercado. Houve retração do consumo e os fazendeiros agora endividados levavam o Estado também a ficar sem saída. Assim, os prejuízos deveriam ser compartilhados entre o governo e produtores. O presidente paulista em gestão, Washington Luís, deveria enfrentar a crise concedendo novos empréstimos e moratória de dívidas (quando se atrasa novos pagamentos) para os cafeicultores. O banco do Brasil deveria ser o credor da dívida do café. Estava aberto assim o desentendimento entre o setor cafeeiro e o governo federal. Os desentendimentos aumentaram ainda mais quando o presidente insistiu em uma candidatura paulista para sua sucessão, quando pelo acordo um presidente de MG deveria ser o próximo candidato nas eleições. É provável que a candidatura do então governador de São Paulo, Júlio Prestes, teria sido para garantir a permanência da proteção e o incentivo da produção cafeeira. Independente dos fatores, o mais importante é a formação da Aliança Liberal que forçou um novo acordo: agora entre Mineiros e Gaúchos. Nos arranjos eleitorais lançava-se Getúlio Vargas como candidato a presidente e João Pessoa a vice-presidente. Esse eixo RS-MG-PB reforçava assim o descontentamento e projetava o pano de fundo da Revolução de 1930. A Aliança Liberal tinha características bastante próximas das quais defenderam os Tenentes e não faltaram fraudes e apoio de “máquinas eleitorais” que produziam votos para os opositores da política do café. No entanto, o eixo São Paulo saía vencedor e Júlio Prestes fora eleito com o então reconhecimento e até apoio de parte da Aliança Liberal. O estopim da Revolução Outra parte da Aliança Liberal despontava com uma parcela que queria a resposta pelas armas, era o grupo dos “tenentes civis”. Embora derrotado em sua primeira fase, o movimento surgia através de uma nova geração de carreiras políticas que simpatizavam com a carreira no interior do Exército História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 22 e pela experiência militar. A única exceção dos acordos entre a AL fora Luís Carlos Prestes (líder da Antiga Coluna) que agora se declarara socialista revolucionário e condenava o apoio ás oligarquias dissidentes dos paulistas. Mais tarde, o mesmo Prestes aparecerá nos movimentos radicais perseguidos pelo Varguismo. Foi um acontecimento inesperado, no entanto, que abriu possibilidades para a revolução acontecer. O assassinato por motivos públicos e particulares de João Pessoa. Os primeiros foram aproveitados para colocar em prática a ação de mártir da Revolução. Fora assim, que um jovem Tenente-coronel, Goís Monteiro, cuja carreira tivera alianças com o Rio Grande do Sul permitiu desfechar o golpe que acabava com a Primeira República. Todos se preparavam para invadir São Paulo. Do Sul as tropas marcharam e garantiram a força a posse de Getúlio Vargas na presidência, marcando o início do Governo Provisório (1930 – 1934). O Governo Provisório, 1930 – 1934 Empossado como presidente por uma junta provisória, Getúlio Vargas tomaria algumas decisões que viriam a radicalizar o descontentamento pela democracia e a aproximação de regimes de caráter autoritário como aqueles que ganhavam popularidade na Europa de Mussolini e Hitler. Getúlio deixaria isso bem claro em seu diário: “A política, o interesse político, as manobras políticas deturpam ou sacrificam quase tudo para vencer”. Getúlio tomou providências para rasgar a primeira, das duas Constituições que rasgaria a de 1891 e a de 1934. Dessa forma, fechava-se o Congresso Nacional, as assembleias estaduais e acabava-se com a República tal qual a conhecíamos. Nos governos estaduais (menos o de MG) os interventores foram nomeados, emsua maioria todos tenentes. A autonomia dos Estados determinada pelo Federalismo da Constituição de 1891 foi reduzida além da proibição de contração de empréstimos externos. Nos novos tempos, a política brasileira passaria por um processo de centralização política em detrimento da autonomia das federações. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 23 Para tanto, das 3 vertentes políticas do período (Alinhamento nazifascista, retorno do pacto oligárquico e ideais democráticos), Getúlio demonstrava aproximação e simpatia pelas medidas políticas e econômicas assumidas na Europa. Domesticado os opositores podemos sintetizar 3 grandes problemas passíveis de solução pelo governo. A Paz Social Foram criados de imediato 2 novos Ministérios: o da Educação e Saúde e o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Essa preocupação designada como social, visava estabelecer uma relação de cooperação entre os agentes produtores, investidores e estado. Dessa forma, acabava-se com conflitos entre classes, e minando qualquer resquício do movimento operário de inspiração anarquista e socialista. Para o Varguismo, o primeiro grande problema a ser enfrentado pelo Estado era alcançar a Paz Social, tendo o Estado como mediador de conflitos. Claramente de inspiração fascista, esse modelo imposto pelo Varguismo buscou criar mecanismos para solução de problemas trabalhistas numa primeira instância. Assim, a harmonia e a colaboração entre empregados, patrões era alcançada através da mediação do Estado e seus Ministérios através da regulação de profissões e de direitos como férias, aposentadoria, jornada de trabalho, etc. Esse sistema político denominado de Corporativismo atribuía a corporações a função de representar perante o governo os interesses de classe e da participação política. Diferente das ideologias comunistas, o corporativismo deixará marcas profundas na organização dos trabalhadores no sentido de coibir práticas de luta de classes. Getúlio despontava assim, como um líder que tornar-se-ia o emblema do “Pai dos Pobres”, que pela via autoritária transformava os trabalhadores em agentes de sustentação do Estado. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 24 Criação do Conselho do Café Percebemos que o problema relacionado as forças de produção foi intensamente aplicado não apenas pelo Estado, mas em consonância com defensores dessa política na burguesia industrial e entre os militares. Porém, o problema primordial para ser solucionado foi em relação ao café. O Brasil deve-se lembrar, que era responsável por quase toda riqueza de exportações pautadas no café. O Café representava 69% das exportações de produtos e respondia ainda por 60% da produção mundial de café. Portanto, problemas de ordem internacional que atingiam o preço do produto deveriam merecer a atenção do governo brasileiro. Para proteger ainda o preço do café, o governo Varguista precisou comprar estoques dos agricultores e queimar o produto, esperando assim uma redução da oferta de café e forçando um aumento brusco de preços. De 1930 a 1944 o governo queimou mais de 78 milhões de sacas de café, uma quantia necessária para abastecer o mercado por três anos. Impedia-se assim a falência do agricultor e uma desvalorização do preço da mercadoria no mercado internacional. Se os preços caíssem bruscamente isso poderia levar a falência desde os agricultores, bancos e governo que credenciava empréstimos para a produção. Para resolver o problema do café, o governo iniciou uma política de federalização do produto. Criava-se em 1931 o Conselho Nacional do Café (CNC) que vinha a substituir o Instituto Estadual de São Paulo, reiterando assim que o “monopólio” não era função do Estado e sim da União. Em 1933, o CNC passou a ser o Departamento Nacional do Café. Para resolver o problema da dívida externa suspensa até 1934, o governo recorreu a medidas através de uma renegociação de dívidas através de um funding loan (reescalonamento da dívida). Aumentou-se taxas de juros, de importação, criou-se novos impostos e desvalorizou-se o câmbio no sentido de evitar falência de setores da cafeicultura. Isso incentivou em longo prazo uma transferência de setores da agricultura para a indústria. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 25 A diversificação da produção agrícola e a Indústria Cientes de que o problema econômico enfrentado pelo Brasil não seria apenas solucionado com o café, restava apostar na criação de novos mecanismos que pudessem incentivar a diversidade agrícola. Assim o Estado passava a facilitar o descolamento de recursos para outras áreas e regiões do país. Em 1932 foi criado o Instituto do Cacau, responsável pela política do produto no Nordeste. E em 1933 foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool, sob o qual o estado passava a incentivar a produção da cana, além de regular o controle de preços do açúcar e do álcool. Portanto, a crise de 29 possibilitava uma conjuntura desfavorável no mercado internacional, mas que serviu para revisar e impulsionar políticas internas de equilíbrio financeiro que se tornou um fator de crescimento e de diversidade agrícola. Fora assim que o Brasil na Era Vargas soube extrair consequências positivas para a economia num período de fragilidade dos mercados internacionais. Passava-se assim a uma produção agrícola que representava agora 57% de produtos, enquanto que a indústria subia de 21% para 43% de representatividade econômica. O Governo Constitucional, 1934 – 1937 Consequência de uma reação por parte dos Paulistas, a Revolução de 1932, o Governo Provisório inicia-se a partir da eleição indireta de Vargas para Presidente pelo Congresso Nacional. Seu mandato deveria durar até 1938. Para tanto, suas ações que descontentavam setores das oligarquias e forçavam uma reação por parte dos derrotados, o governo de São Paulo. A Revolução de 1932 em si não obteve os resultados desejados de depor o governo Varguista, no entanto, conseguiu ao menos a Constituinte. Designada de Revolução Constitucionalista de 1932, na prática alcançou repercussão a ponto de forçar, respectivamente, eleições para os cargos do Congresso (1933), abertura de uma Constituinte e a aprovação da Constituição em 1934 (a 2ª que Vargas rasgaria). História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 26 Nas eleições de 1933 importantes mudanças foram alcançadas: - Inspirada na Constituição da República Federativa de Weimar na Alemanha; - Voto deixa de ser aberto e passa a ser secreto; - O voto feminino em eleições federais; - Inspiração Nacionalista no que relaciona economia; - Nacionalização de minas, jazidas, quedas d’água e desapropriação de empresas estrangeiras; - Leis trabalhistas; Pelo temor de que um novo arranjo entre as oligarquias pudesse ocorrer o governo antecipará o golpe de Estado, criando o Estado Novo em 1937. Período de intensas radicalizações ideológicas, o governo Constitucional marca uma fase de perseguições, estados de sítio, decretos de Lei de Segurança Nacional e do surgimento das mobilizações de Esquerda e de Direita. Representantes da Revolução Socialista irão se concentrar sob a sigla da ANL, A Aliança Nacional Libertadora. Formada por grupos radicais de tenentes e sob a liderança de Luís Carlos Prestes, compartilhavam a ideia de que somente uma Revolução poderia colocar em curso o Socialismo no País. Para Vargas, a ANL representava os ideais mais radicais da revolução de 1930 e, por isso, haviam traído o movimento quando rediscutiam a questão da reforma agrária e o fim da propriedade privada. O medo comunista assolava o país e para tanto deveriam ser perseguidos, O outro extremo concentrava os ideais da Direita, difundindo a ideia do anticomunismo a aumentando a paranoia contra uma nova revolução no país. Em 1932, vários grupos ligados ao fascismo funda a Ação Integralista Brasileira (AIB). Chamado de fascismo brasileiro, a AIB formava umgrupo paramilitar (de cidadãos armados e fardados, que não pertencem ao exército) que pregavam a permanência da propriedade privada, do regime História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 27 de ditadura com partido único e forte e comandado por um líder carismático (semelhante àqueles da Europa). Aprovada em 1935 uma Lei que previa perseguições a grupos radicais, Vargas abriu fogo contra a esquerda. Fortaleceu a direita enquanto pôde, acabou com adversários políticos e controlou enquanto pode a oposição. Em julho de 1935, um Manifesto que exigia o fim do governo justificou a ação de fechamento da ANL, que teve como consequência um levante militar nos principais quartéis do país que ficaria conhecida como a Intentona Comunista de 1935. As tropas legalistas (as do governo) reprimiram todo o levante, iniciado em Natal (RN), e foram rendidos. Aumentada à tensão política, a paranoia comunista havia se instalado no país. Constantes Estados de Sítio foram decretados e Vargas assumia uma tendência autoritária que justificaria outro golpe de Estado. Reprimidos tanto liberais quanto comunistas, haveria ainda uma esperança que as eleições de 1938 poderiam ocorrer. Não havia mais volta para o regime: estava preparado o Estado Novo (a ditadura de fato Varguista) O Estado Novo, 1937 – 1945 Justificado a partir de um suposto plano, o Plano Cohen, que consistiria em um novo levante semelhante ao de 1935, Vargas justificava o golpe em 11 de novembro de 1937. O suposto Plano na verdade descobriu-se fazer parte de um documento forjado por um capitão integralista que serviu de pretexto para realizar atitudes autoritárias e a abolição das liberdades democráticas. Fato disso é que o Estado Novo surgia gestado a partir de uma Constituição, a Polaca, de 1937. Inspirada nos ideais fascistas e na Constituição da Polônia anos antes do fascismo, ela legitimava o apoio a um ditador que era civil, mas com apoio dos Militares. Durante esse período uma ampla máquina estatal sustentada pela propaganda disseminava a imagem de um ditador que conciliava diferentes interesses na figura de líder do Estado. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 28 Todos os partidos foram extintos além das Assembleias e das votações para Governos de Estado. A polícia política concentrada no DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social) foi fortalecida. Praticava-se ampla espionagem, cerceamento das liberdades, prisões e até mesmo torturas piores que a do Regime de 64. A cultura de massa se popularizou a partir de 1940 com os meios de comunicação como o cinema e o rádio. Com o passar dos anos, o governo ampliava o acesso aos meios de comunicação, popularizando-os. Apoiando-se nesses meios de comunicação o Estado se fortalecia. Fora criado para esses fins o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), responsável por limitar desde a censura até a difusão da imagem e da propaganda pró-Vargas. Buscou se estatizar estações de Rádio, como o caso da Rádio Nacional, empresa até então de domínio privado. Além da criação da Voz do Brasil, programa de rádio para difusão de informações do governo, foi criado a Educação Moral e Cívica nas escolas para impulsionar uma identidade nacional em detrimento da língua de imigrantes que as preservavam quando aqui chegavam. Cartilhas difundidas nas escolas foram responsáveis por disseminar um culto a Getúlio, pintado ao mesmo tempo como “Pai dos Pobres” e “Mãe dos Ricos”, em alusão a defesa da indústria nacional e da propriedade privada da burguesia. Note, portanto, o caráter anticomunista e antidemocrático assumido pelo Estado Novo, que condenava as vias assumidas pelo Liberalismo norte-americano, mas que valorizava a capacidade do Estado regulamentar políticas de crescimento industrial, comercial, de subordinação de sindicatos sob o Estado (os sindicatos pelegos), o planejamento, etc. Para tanto, o Estado Varguista se definia pelo intenso: Intervencionismo, pelo nacionalismo exacerbado, que buscou agora produzir o que antes importávamos (a industrialização de substituição de importações), que soube aproveitar-se da situação e das oportunidades para valorizar aquilo que pensava ser o melhor para o Brasil, e por isso, provocando alinhamento por vezes com a Alemanha (1937), com os EUA e a II Guerra (1941) e, por último, com semelhanças com a esquerda (1945) pela figura do Camarada História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 29 Vargas e pelo Populismo, que é outra história de tantas faces de um líder como Vargas. 1.8 A República Populista, 1946 – 1964 O Fim do Estado Novo e a Redemocratização, 1945 Por que um Estado programado com tanta cautela durou apenas 8 anos? O problema em relação ao Fim do Estado Novo se encontra numa conjuntura externa desfavorável somada a divergências internas no interior do Governo. Os Alinhamentos do Brasil na II Guerra provocado pela pressão dos EUA repercutiram em um modelo de governo ditatorial que levou os pracinhas a Europa combater ditaduras. Sendo assim, os políticos liberais, inimigos do Varguismo, perceberam uma brecha para enfraquecer o governo, tendo como consequências a articulação de eleições e projeção de Partidos além do fato das Forças Armadas apoiarem a Redemocratização. Em 1945, Getúlio imerso nesse contexto de forças contrárias e forçado a renunciar. Reconhece o fim do Estado Novo e legitima a abertura de novas eleições. Presos foram anistiados e a liberdade de imprensa aprovada. As Forças Políticas se concentraram nos principais partidos desse período. A UDN formava a oposição liberal alinhada com os EUA. Eram os verdadeiros inimigos do Varguismo. E os Partido de aliança a Vargas formavam-se a partir do PTB e PSD. O primeiro representando trabalhadores e sindicalistas do governo e o segundo, dissidentes do aparato burocrático do Estado Novo, funcionários públicos. Foi nesse contexto que surgiu um movimento de apoio a Vargas no poder. Denominado de Queremismo, com o lema de ‘queremos Getúlio’, e apoiado pelo líder da antiga ANL, Luís Carlos Prestes, esse grupo representava os interesses da classe trabalhadora no poder, ao mesmo tempo que minava qualquer possibilidade de oposição fortalecer a hegemonia dos EUA no Brasil. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 30 O Governo Dutra, 1946 – 1950 O governo do General Dutra foi eleito pela ampla aliança com o PTB e o declarado apoio de Getúlio, que por não ter sido deposto não foi exilado do país. No aspecto econômico o governo Dutra foi marcado respectivamente por uma fase mais conservadora liberal, com ampla abertura de mercado e livre comércio; e uma segunda fase mais intervencionista, influência das consequências econômica que voltaram a permitir uma maior ingerência do Estado. Esse livre mercado permitiu que o governo esgotasse as reservas cambiais (montante de dinheiro estrangeiro acumulado pelo país durante a Era Vargas) com produtos supérfluos, de chicletes a cigarros. Segundo a nova constituição de 1946, amplos direitos constitucionais eram garantidos, mas a greve e o movimento sindical ainda ficavam sob a tutela do Estado e perdia grande parte de sua autonomia. Fato esse, que garantiu que a pouca representatividade do PCB fosse cassada e seus parlamentares tivessem seus direitos cessados. Apesar disso, salários foram congelados, a inflação esteve em alta. O 2º Governo Vargas, 1950 – 1954 (data do suicídio) Nessa fase de um novo governo Vargas irão se acentuar as diferenças presentes entre as Forças Armadas: ideologicamente estavam dividas entre “Nacionalistas e Entreguistas”. Os Nacionalistas creditavam ao papel do estado o de mantenedor da ordem, do crescimento, da relativa autonomia frente ao interesse estrangeiro no país, e da ‘nacionalização’ de setores estratégicos como indústrias. Portanto, eram os apoiadores do ideal do Varguismo, que sustentarão desde a Campanha pelo Petróleo, como a fundação do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimentoeconômico para financiar a indústria). Os Entreguistas estavam concentrados nos inimigos do Varguismo, aqueles que creditavam ao capital estrangeiro a iniciativa privada o ‘direito’ de explorar e investir no Brasil. Era a corrente dos adeptos do liberalismo econômico e da prática de livre comércio defendida por aqueles que História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 31 ‘entregavam’ o Brasil ao eixo EUA. Nacionalistas, na sua maioria, apresentavam-se como direita ou esquerda, no entanto, entreguistas tendiam ser sempre mais ‘conservadores’ em relação a economia, liderados pela UDN. Vargas eleito pelo PTB e por setores do PSD buscou incentivar novamente o crescimento do país e o controle da inflação. Baseava-se na política trabalhista como proposta de governo, além do incentivo a indústria nacional. Nesse contexto surge a Campanha pelo “Petróleo é Nosso” em 1951, numa clara alusão a política de defesa dos interesses nacionais, baseado no monopólio da extração petrolífera e seguida de forte apoio popular. Surgia, assim, em 1953 a Petrobrás. Aumentando investimentos nas áreas estratégicas, Vargas ainda monopolizou o setor energético com a criação da Eletrobrás em 1954 e que seria efetivada em 1962. Soma-se ainda o projeto de limitar remessas de lucros ao exterior por lei de caráter nacionalista. E por fim, em 1954, em alusão a comemoração do dia do trabalhador, o salário mínimo é amentado em 100%. Vargas através de medidas consideradas populares, aumentava sua capacidade de representante do povo e se aproximava ideologicamente de uma política comum e característica na América Latina, antecedendo a fase de intervenções Militares, o Populismo. Todo Populismo típico da América Latina poderia apresentar-se como tipicamente de esquerda ou direita, reforçando assim, uma ausência de Partidos definidos pelo Populismo. Vargas, Ademar de Barros, Jango (João Goulart) JK, Jânio Quadros, Brizola eram típicos populistas no Brasil. Na América há ainda forte presença do Peronismo na Argentina e do Cardenismo no México. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 32 A queda e o suicídio de Vargas Rotulando as medidas tomadas por Vargas pelo Nacionalismo de Esquerda, a principal oposição representada na UDN por Carlos Lacerda tecia críticas e calúnias apresentadas no Jornal Tribuna da Imprensa. A corrupção e a associação ao comunismo denunciadas pela UDN, levaram o governo a tomar atitudes drásticas de tentativa de assassinato de Carlos Lacerda em agosto de 1954. O atentando, porém, matara o major da aeronáutica Rubem Vaz. O Atentado da Rua Toneleros, como ficou conhecido o episódio e tema de filme sobre os últimos dias de Vargas, foi um dos motivos mais perceptíveis da queda de Vargas. A investigação agora conduzida pela aeronáutica conseguira implicar, mesmo que indiretamente, a responsabilidade de Vargas pelo atentado. Veracidade ou não, a alta Cúpula das forças Armadas, a República do Galeão, agora implicara na saída e na renúncia de Vargas do Palácio do Catete no RJ. Diante disso, Vargas desfecha o suicídio e acusa, em sua carta testamento, a espoliação do Brasil e as difamações como responsáveis pelo ato. Uma clara alusão aos inimigos externos, como os EUA, são responsabilizados diretamente por Vargas em seu testamento. Dois episódios são importantes para caracterizar a sucessão de Vargas e a garantia das próximas eleições: o 1° impeachment do Brasil, do presidente da Câmara dos Deputados (que permanece por 4 dias no poder) Carlos Luz; e o Golpe Preventivo do General Lott, o primeiro caso político em que um golpe servirá para garantir a posse de um presidente eleito, Juscelino Kubitschek, e não para depô-lo. O governo JK, 1956 – 1960 O presidente eleito JK surgia como uma esperança após um período de instabilidade política no país. Seguindo o discurso Nacionalista, pretendeu modernizar o país através de uma política que irá defini-la como desenvolvimentista ou nacional-desenvolvimentista. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 33 Para tanto criou como Slogan de Campanha o crescimento do Brasil de 50 anos em 5, representando os “Anos dourados” do crescimento brasileiro. Combinava, portanto, ações que se diferenciavam no Nacionalismo Varguista em alguns pontos, como a combinação do capital privado e estrangeiro ao capital Nacional. Esses três capitais conjuntos formariam o Plano de Metas que consistia em 30 objetivos mais 1, a construção de Brasília. Áreas como Saúde, Transporte, Energia, Alimentação, indústria de base seriam contempladas pelo Plano. Em meio a um moderado processo de desenvolvimento, JK buscara combinar o melhor de ambos os projetos: o de nacionalizar e modernizar o Brasil com apoio do capital estrangeiro. Amplos incentivos de Multinacionais se estabeleceram no Brasil ganharam repercussão no período, com destaque para a indústria automobilística. O crescimento cresceu significativamente até 1961, mas com um alto custo: grande quantidade de emissão de papel moeda, aumento significativo da dívida externa e de empréstimos, altos índices de inflação que repercutiram negativamente numa tentativa de reeleição de JK. Vários setores do Exército e da UDN eram contrários aos ideais desenvolvimentistas, mas foram controladas pela habilidade de General Lott, que conseguiu conter a oposição e as eleições para 1960. O Governo Jan-Jan: Jânio Quadros, UDN, e João Goulart (Jango), PTB, 1960-60 Jânio e Jango foram os primeiros presidentes a assumirem a presidência da República na recém-inaugurada Brasília. Agora, no entanto, presidente eleito pela UDN e vice eleito pelo PTB-PSD pertenciam a coligações diferentes (sim, isso era possível pela constituição de 1946), o que permitirá um vazio nos curtos 7 meses de Governo Jânio Quadros. Antecipado por motivo da renúncia, não muito bem explicada pelo próprio presidente, Jânio foi o governo mais curto de um presidente da República: 7 meses! A sucessão de acontecimentos será inclusive contraditória, mesmo para um Populista como Jânio. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 34 Internamente e externamente, uma ambiguidade política. Nem mesmo seu vice que estava na China no momento sabia da sua renúncia, abrindo possibilidades para um golpe de Estado em 1960. Jango era visto com desconfiança por encarnar um dos maiores herdeiros do Getulismo (Jango fora Ministro da Fazenda em 1954 de Getúlio). O Brasil passará, portanto, em pouco tempo, por uma política Janista que se definirá como uma Política Externa Independente; condecorará Che Guevara em solo brasileiro com a maior honraria que um civil possa receber em 1961; entregará Ministérios a UDN e permitirá um crise de sucessão que só será solucionada pela intervenção de Brizola com a Campanha da Legalidade para garantir posse de Jango (semelhante ao Golpe Preventivo de Lott). O governo Jango, 1961 – 63, e o Parlamentarismo Um breve período de sistema político Parlamentarista foi a condição entre o acordo dos setores militares e do governo para que Jango assumisse a presidência. O Período de Parlamentarismo durou pouco mais de 2 anos apenas, sendo revogado por uma antecipação de um plebiscito de caráter popular, sendo retomado o Presidencialismo e os poderes do Presidente. No sistema Parlamentarista, Jango teve seus poderes reduzidos e dificuldade de aprovação de projetos, tornando-se refém do Congresso Nacional e do 1º Ministro. As medidas que Jango defendia eram pautadas nas Reformas de Base, que compreendiam além da nacionalização de empresas e controle de remessas de lucro ao exterior a Reforma Agrária e Urbana. Num segundo momento, fora lançado ainda como programa de governo, já estabelecido o Presidencialismo, o Plano Trienal. No plano econômico, pretendia-se reduzir a inflação e estabelecer o índice de crescimento necessário ao país. No entanto, a preocupação em relação a medidas do governo aumentou quando se reveloua possibilidade de suspender a dívida externa (moratória) e a negociação de desapropriação de empresas estrangeiras de petróleo e de serviços públicos como telefonia e energia. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 35 Pressionados pela parcela civil das Reformas de Base, trabalhadores iniciaram greves por todo o país e alertavam as Forças Armadas para uma possibilidade de golpe. No campo, as Ligas Camponesas, organizações formadas por trabalhadores rurais fortaleciam as medidas e reformas do governo juntando-se a sindicatos, trabalhadores e movimentos estudantis como a UNE. Não tendo êxito no Congresso Nacional pela aprovação de Reformas constitucionais, o governo convocava a população às ruas para pressionar as bases de oposição do governo. Foram realizados, no início de 1964, uma série de comícios que empunhavam bandeiras vermelhas e milhares de simpatizantes do governo. Em 13 de março a significativa presença de 150 mil pessoas na estação Central do Brasil reforçava a ideia da aprovação de medidas consideradas populares. Pelo temor de que Jango proclamasse uma República Sindicalista no país apoiado por manifestações nas ruas e possivelmente armando a população, os setores conservadores reagiram convocando a população para a Marcha para a família com Deus, que reuniu 500 mil pessoas em SP. Faltava apenas o apoio da parcela favorável ao golpe para em 31 de março (madrugada de já 01 de abril) para os militares deflagrarem a deposição de Jango, exilado agora com a maioria dos populistas para evitar uma guerra civil. Era o início de um regime que duraria 21 anos, até 1985. 1.9 O Regime Militar, 1964 – 1985 Introdução Durante o período de vigência do Regime militar, na prática, houve pela primeira vez decisões que foram tomadas pela mais alta instância das Forças armadas para a indicação/votação de presidentes. No entanto, esses mesmos militares na sua maior parte do tempo dividiram-se entre correntes que divergiam quanto aos rumos tomados pelo regime. Era as alas dos militares mais moderados e mais radicais, a linha-dura do regime. Somados essas correntes os militares ainda História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 36 contavam com a parcela civil interessada e privilegiada pelo golpe em 64. Essa parcela civil evidenciou seus interesses na formulação da economia e de medida que contribuíram para instaurar um liberalismo econômico de interesse dos EUA e do alinhamento político em plena Guerra Fria. De um lado, figuras como o ministro da Fazenda Delfim Netto e Mário Simonsen, privilegiaram setores do Estado que se associavam aos militares na tomada de decisões que favorecessem um associação ao capital internacional e aos ideias de livre-comércio. Não foi acaso que o país percebeu seus maiores ritmos de desenvolvimento e crescimento nesse período de associação ao Regime. De fato, percebe-se, portanto, que o período de desenvolvimento de regimes militares tanto no Brasil quanto na América Latina representaram interesses da política de boa-vizinhança imposta pelo governo norte- americano. Não foram regimes que se apresentaram como fascistas, onde se organizaram as massas a favor do Estado; mas ao contrário, mantiveram-se as aparências de um regime semidemocrático, permeado pela presença da esquerda (mesmo que perseguida), onde o temor de perseguição levava a uma despolitização do indivíduo ou uma apatia política. Há de fato, setores que consideram que salvo o governo Médici, o Brasil se impôs a uma situação quase que autoritária para legitimar interesses do período pós-guerra do que por Totalitarismo ditatorial de fato. Para tanto, esse regime impôs um fim de fato ao Populismo, deixando de ser guiada pela classe operária e pelos programas assistencialistas, mas sem o desaparecimento dos sindicatos e dos movimentos sociais do período. Houve, claramente, um benefício a classe dominante (não exclusivamente), mas em grande parte permanecendo a presença do Estado na atividade e regulação econômica. O empréstimo e o estímulo ao capital estrangeiro desde JK tornar-se-ia fator propulsor do necessário crescimento e desenvolvimento. Chamado de desenvolvimento associado permitiu estímulos tanto a multinacionais quanto empresas estatais e privadas nacionais. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 37 Politicamente falando, não mais que um período onde o regime presidencialista continuou vigorando (com 5 presidentes) em períodos que variaram de 4 a 6 anos; pela existência, mas constantes fechamentos, do Congresso Nacional; pela eleição de deputados, senadores, em muitos casos prefeitos; pela existência, inicial, de vários partidos para um modelo Bi-partidarista; e, acima de tudo, um período em que Presidentes Militares foram escolhidos para governar o país divididos em duas cisões ideológicas distintas. O Governo Castelo Branco, 1964 – 67 A partir do Golpe que depôs o presidente Jango, o poder automaticamente passava para o Congresso Nacional e, respectivamente, ao Comando Supremo da Revolução, uma junta provisória que teria dois objetivos: primeiro, afastar o perigo do comunismo e, segundo, restaurar a democracia, pelo menos na teoria. Nosso primeiro presidente, portanto, era classificado por uma linha mais moderada, que admitia uma democracia mais restringida, com perspectivas determinadas de intervenção para então restaurar o regime constitucional do país. Esse grupo ligado a ESG, representava a principal ligação do Brasil com os EUA e a CIA, doutrinados a defender o capitalismo e assumir o caráter de livre-mercado na América. Estabelecido o governo, os militares trataram de baixar os Atos Institucionais (AI´s), que funcionavam como decretos a serem cumpridos do Executivo pelo Congresso Nacional. Ao todo foram 17 AI´s e 104 atos complementares a Constituição outorgada em 1967. Os primeiros Atos vieram colaborar com o fortalecimento do Executivo. Fecharam o Congresso Nacional, cassaram deputados (AI-1). Logo em seguida, vieram o fim dos Partidos Políticos, ou seja, foi instituído o Bipartidarismo (ARENA dos militares e MDB da oposição pelo AI-2), a determinação das eleições indiretas para governos e prefeitos (AI-3) sintetizadas pelo SNI (Serviço Nacional de Informações) e pela política de perseguição ao comunismo. História | Rodrigo Donin focusconcuros.com.br 38 No aspecto econômico, outros pontos foram relevantes para os interesses do grande capital. Se definiu políticas de privatizações, benefícios a grandes indústrias, revogação da Lei de Remessas ao Exterior e de quebra no monopólio de setores energéticos. De outro lado, medidas de austeridade (corte de gastos) foram perceptíveis. Suspendeu-se o direito a greve, reduziu-se salários com objetivo de reduzir preços e inflação além de acabar com estabilidade de emprego, mas pela criação do FGTS (Fundo de garantia para trabalhadores). Essas ações foram realizadas através do PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo), sob responsabilidade dos ministros civis do Planejamento e da Fazenda. Na prática até surtiram um efeito desejado, pois aumentaram a arrecadação de reservas através de exportações que redirecionaram áreas de exploração estratégicas, como bens de consumo, produção agrícola e riquezas naturais. Em dezembro de 1966, era baixa o AI-4 com intuito de discutir uma nova constituição para o país, a de 1967. O Governo Costa e Silva e o enrijecimento da ‘Ditadura’ Movimentos de Resistência Nesse contexto da história do Brasil, o regime Militar entrava no seu período de maior perseguição politica que irá durar até o Governo de Médici (1969 -1974). Durante esse período, o ex-presidente Castelo Branco havia morrido em acidente de avião sob circunstâncias duvidosas, fortalecendo assim tendências autoritárias e repressivas sob o regime. As influências dessa fase da Ditadura forma impulsionadas pelo ano de 1968. Decisivo e particularmente definido por uma geração de pessoas