Buscar

O Conceito do Político (RESUMO)

Prévia do material em texto

Estatal e Político
O “conceito do Estado pressupõe o do político”. Entretanto, a relação entre esses dois conceitos pode-se tornar bastante problemática. 
Estado é o status político de um povo organizado dentro de uma unidade territorial.
A concepção pautada na equivalência Estado = político pode indicar uma compreensão errônea se o termo político for utilizado negativamente em oposição a várias outras noções, como política e economia, política e moral, política e direito, entre outras. No geral, político é equiparado de alguma forma a estatal ou, pelo menos, relacionado ao Estado. 
Em alguns casos, quando ocorre a generalização do sentido que a palavra “político” pode veicular, temos o uso prático-técnico do termo, como em situações administrativas ou jurídicas, por exemplo, satisfazendo eventuais necessidades terminológicas justamente por falta de um termo linguístico apropriado para o uso.
Logo, equiparar político a Estado não é satisfatória, pois aquele garante um sentido polêmico às relações humanas no interior do Estado e este com outros em um ambiente externo. 
Do mesmo modo se mostrará um equívoco se equipararmos estatal = política. Na proporção que sociedade e estado se relacionam profundamente, todas as questões até então estatais se tornam sociais e, inversamente, todas as questões até agora “apenas” sociais se transformam em estatais, como ocorre necessariamente em uma coletividade democraticamente organizada. Assim, as áreas até então “neutras” – religião, cultura, educação e economia – cessam de ser neutras no sentido de não-estatal. 
Se uma contraposição – seja ela religiosa, econômica, cultural, educacional, sindical – deixa de ser neutra no sentido de não-estatal e não-político, surgirá o “Estado total da identidade entre Estado e sociedade”. Nele, por conseguinte, tudo, pelo menos enquanto possibilidade, é político e a referência ao Estado não está mais em condições de fundamentar uma característica específica de diferenciação do político. 
A política como relação entre amigo e inimigo 
Uma contraposição será propriamente política se apresentar a relação amigo-inimigo. Este antagonismo representa a essência dos agrupamentos políticos, diferenciando-se das outras contraposições – belo e feio, no estético; bom e mau, no moral – por não ser originado de outros critérios, além de possuir independência e autonomia. A diferenciação entre amigo e inimigo tem o propósito de caracterizar o extremo grau de intensidade de uma união ou separação, de uma associação ou desassociação, podendo existir na teoria e na prática. 
A dicotomia amigo-inimigo nasce da relação conflituosa entre agrupamentos sociais no interior do Estado, objetivando o controle do poder político, ou da alteridade entre dois povos em que um passa a ver o outro como grave ameaça para a sua existência.
Guerra como manifestação de inimizade
Os conceitos de amigo e inimigo devem ser considerados seu sentido concreto e existencial, e não como significados metafóricos correlacionados às noções de economia, religiosas, culturais ou outras de mesmo valor. 
O liberalismo tentou reduzir o inimigo, pelo lado comercial, a um concorrente e pelo lado espiritual, a um adversário nas discussões. Todavia, no âmbito econômico não há inimigos e sim concorrentes. 
Existe uma impossibilidade de negação do agrupamento de alguns povos em relação ao antagonismo amigo-inimigo, pois a dicotomia encontra-se presente nas sociedades modernas atuando como a condição necessária da sua existência política. 
Não se pode confundir o inimigo público – grupos humanos que se contrapõem entre si em uma situação real de combate, originado do conflito entre agrupamentos políticos – com inimigo privado – construído por sentimentos de antipatia – ou um adversário em geral. Assim, ao conceito de inimigo pode ser associado à possibilidade real da ocorrência de uma luta.
 
A guerra representa o momento de maior tensão do conflito político entre as contraposições. Se o combate ocorrer internamente por causa da relação de hostilidade entre as contraposições políticas e o organismo estatal, para o autor, temos uma guerra civil. Quando, de um Estado, as contraposições político-partidárias se tornarem, por completo, as contraposições políticas por excelência, são os agrupamentos do tipo amigo-inimigo intraestatais, não os de política externa, que são normativos para o conflito armado. Destarte, se a luta for entre nações, temos um conflito de um povo contra outro. 
O Estado como forma de unidade política, questionado pelo pluralismo
Estado como uma instituição dotada de unidade política, ou seja, de soberania. Assim, o organismo estatal é formado por instituições politizadas que detém de força suficiente para categorizar os homens em amigo e inimigo. Os agrupamentos humanos são constituídos mediante a obtenção ou divisão do poder político e isso, para o autor, é o que dá sustentação ao Estado. Portanto, a unidade Estatal, soberana, deixará de existir quando ocorrer a perda, a destruição, da unidade política, sendo um dos motivos para a derrocada estatal a falta de interesse das contraposições pelo poder político. O político, por conseguinte, seria o “agrupamento que se orienta na perspectiva da eventualidade séria”. É a força que dá sustentação à unidade estatal. 
Toda contraposição religiosa, moral, econômica, étnica ou de outra categoria transforma-se em uma contraposição política quando é forte o suficiente para agrupar os seres humanos efetivamente em amigos e inimigos. 
Uma comunidade religiosa que, como tal, lidera guerras, seja contra os membros de outras comunidades religiosas, seja outro tipo de guerra, constitui uma unidade política para além da comunidade religiosa. 
O político pode extrair sua força dos mais diversos âmbitos da vida humana; ele não caracteriza nenhum domínio, mas sim o grau de intensidade de uma associação. 
A teoria pluralista do Estado de Laski contesta a unidade soberana do Estado, ou seja, a unidade política. Busca sempre constatar que cada ser humano vive em meio a um grande número de uniões e relações sociais diversas: é membro de uma comunidade religiosa, de uma nação, de um sindicato, de uma família, de um clube esportivo e várias outras associações que, de caso a caso, o determinam com diferente intensidade e o comprometem a uma pluralidade de compromissos de fidelidade e lealdade, sem que se possa dizer que uma dessas associações é absolutamente normativa e soberana.
Assim, o Estado torna-se simplesmente uma associação que concorre com outras associações, torna-se uma sociedade junto com algumas outas sociedades existentes dentro e fora do Estado. Esse é o pluralismo dessa teoria do Estado que dirige toda sua perspicácia contra os antigos exageros do Estado, contra sua altivez e sua personalidade, contra seu monopólio da unidade suprema. 
A decisão sobre guerra e inimigo
A guerra é uma eventualidade real, resultante do clímax conflituoso entre inimigos declarados, de determinação e combate daquele que deve ser aniquilado. Com isso, o organismo estatal, dotado de soberania, possui a exclusividade de decisão sobre a guerra ou a paz, dispondo veementemente sobre o destino dos homens. 
Portanto, além da decisão soberana de exercer o jus belli e a definição do inimigo interno ou externo, é dever do Estado a garantia da satisfação total das necessidades do seu povo, “estabelecer tranquilidade, segurança e ordem” gerando, assim, as condições necessárias para a legitimação das normas jurídicas.
Em situações críticas, essa necessidade de pacificação intraestatal leva a que o Estado determine, por si mesmo, o “inimigo interno”, podendo ser esse tipo mais rigoroso ou mais suave. Esse é o sinal de guerra civil, da dissolução do Estado como uma unidade política organizada, internamente pacificada, fechada territorialmente em si e impenetrável para desconhecidos. 
O mundo não é uma unidade política, e sim um pluriverso político (a partir de agora, o resumo não foi escrito/adaptado por mim, mas sim por um site muito bom queeu vi na net. Serviu para eu entender de boas e espero que sirva para vocês também. Não lembro do professor Hugo dar muita atenção para os tópicos a seguir em aula e nem em prova, mas ele é imprevisível. Não deixem de ler e buscar compreender).
No capítulo sexto, o autor trata da unidade política de modo global, extrapolando os limites territoriais e tomando uma proporção maior. O mundo como unidade política, alocando todos os homens em um só Estado, para ele é impossível de existir. Assim, “a unidade política não pode ser universal no sentido de uma unidade englobando toda a humanidade” porque não teria como decidir sobre o caso da guerra contra uma ameaça externa, pois não se poderia de modo algum determinar o inimigo e aniquilá-lo. Desse modo não seria possível configurar o mundo como unidade política universal, entretanto ele poderia ser considerado como um “pluriversum” político. 
Nota-se que a concepção do mundo formado por várias unidades políticas é semelhante à ideia liberal de pluralismo estatal apresentada no capítulo quarto. No entanto, há uma grande diferença entre as duas noções de pluralidade. O pluralismo estatal liberal era contra a interferência do Estado na sociedade e considerava cada homem em sua individualidade. Também era pressuposto a equiparação da unidade estatal às outras contraposições, desconsiderando o caráter soberano do Estado. Para Schmitt, o pluralismo de fato enxerga o mundo como um ambiente composto por várias nações dotadas de força política, cada uma com seu território delimitado e sua soberania.
O princípio antropológico das teorias políticas
Todas as teorias sobre o político e o Estado concebem o homem como um ser mau ou bom por natureza. O autor procura demonstrar que o pensamento teórico de algumas doutrinas – como o anarquismo e o liberalismo, por exemplo – são fundadas na concepção de bondade ou maldade do espírito humano. Entretanto, o importante para o autor “é a concepção problemática ou não-problemática do homem como pressuposição para todas as outras ponderações políticas, se o homem é um ser “perigoso” ou não-perigoso, um ser que traz riscos ou é inofensivo, sem “riscos”
Ao analisar o pensamento político de alguns filósofos – Hobbes, Hegel, Nietzsche, entre outros – constatando que o homem é visto como um ser nocivo, mau e perigoso, ele relata que algumas teorias liberais constroem o humano como um ser permeado pela bondade, pois se comportam polemicamente em relação ao Estado, procurando controlar a sua atuação a fim de proteger a individualidade, a livre iniciativa e, principalmente, a propriedade privada. 
A bondade humana, para os liberais, serve apenas de justificativa para determinar que a organização e a gerência da sociedade encontram-se nela mesma e o Estado deve submeter-se a seus serviços. 
Isto é totalmente contrário ao pensamento anárquico que, por conta da fé em uma “bondade natural”, posiciona-se negativamente ao controle estatal. Além disso, há teorias políticas baseadas na dogmática teológica fundamentada na noção de pecado congregando os homens em grupos opostos, semelhante ao antagonismo amigo-inimigo, impossibilitando o conceito humano como ser universal. 
Isso deixa claro que o liberalismo burguês não fundou nenhuma teoria estatal ou preceitos políticos, mesmo procurando restringir a influência e o controle do Estado equiparando-o às outras instituições sociais. Entretanto, a doutrina burguesa não nega radicalmente a existência estatal, embora sempre objetivando consorciar o político ao étnico e subordiná-lo ao plano da economia.
Embora existam postulações liberais que procuram polemizar a política e o Estado baseados na bondade humana, todas as teorias genuinamente políticas presumem o homem como um ser dotado de maldade, considerando-o dinâmico e perigoso. 
A despolitização por meio da polaridade entre ética e economia
Logo, o autor questiona a possibilidade de uma situação política a partir da conceituação do individualismo liberal. Prontamente ao questionamento, Schmitt responde negativamente porque a não aceitação do político, imbuída em qualquer manifestação da individualidade, indica uma situação de desconfiança e hostilidade em relação a todo poder político e forma de Estado. Desse modo, há uma política liberal que se opõe polemicamente a qualquer forma de intervencionismo, sobretudo o estatal, no direito à liberdade do indivíduo, enquanto uma política cultural, educacional, comercial, eclesiástica, sem se caracterizar como uma política liberal burguesa, somente exercendo um papel de crítica liberal ao político e ao Estado.
A teoria sistemática do liberalismo diz respeito apenas à luta política interna contra o poder público, fornecendo uma série de métodos a fim de inibir e controlar esse poder público para proteger a liberdade individual e a propriedade privada, a fim de fazer do Estado um compromisso e das instituições estatais uma válvula de escape. 
É característica de o liberalismo buscar meios para minimizar ou anular o controle estatal e político, movimentando-se tipicamente em uma polaridade cuja alternância pendular evidencia duas esferas, que são a economia e a ética. Ao afirmar que a soberania “precisa exigir o sacrifício da vida”, o autor procura determinar que a individualidade liberal, mediante a defesa do espírito e negócio, cultura e propriedade, jamais aceitaria tal sacrifício para a manutenção da unidade política, pois é impossível de ser praticado. Contudo, a única situação intervencionista estatal que o pensamento liberal prevê é a garantia e a manutenção da liberdade. 
Portanto, deve-se observar que os arquétipos conceituais da doutrina liberal transitam entre a “espiritualidade” e o “negócio”, ou seja, entre a ética e a economia. Assim, mediante esta dualidade, o liberalismo tenta destruir o “poder conquistador” da política para o que a definição objetiva de Estado de “direito” atua como mola propulsora e a conceituação da propriedade privada o ponto central entre o ético e o econômico. 
Dessa feita, o conceito político de luta no pensamento liberal se converte, no lado econômico, em concorrência, enquanto no lado espiritual, se converte em discussão; no lugar de uma clara diferenciação entre ambos os status distintos de guerra e paz surge a dinâmica da eterna concorrência e da eterna discussão. O Estado converte-se em sociedade e, mais precisamente, pelo lado ético-espiritual, em uma concepção ideológico-humanitária da humanidade; pelo outro lado, em uma unidade técnico-econômica de um sistema de produção e circulação uniforme.

Continue navegando