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Ciências políticas e teorias do estado

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
CiênCia PolítiCa
Prof. Sandro Luiz Bazzanella
Prof. Walter Marcos Knaesel Birkner
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Sandro Luiz Bazzanella
Prof. Walter Marcos Knaesel Birkner
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
B364c
Bazzanella, Sandro Luiz
Ciência política. / Sandro Luiz Bazzanella; Walter Marcos Knaesel 
Birkner. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
253 p.; il.
ISBN 978-65-5663-176-9
ISBN Digital 978-65-5663-177-6
1. Ciência política. - Brasil. I. Birkner, Walter Marcos Knaesel. II. Centro 
Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 320
aPresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Ciência Política. 
Para melhor compreensão do conteúdo, distribuímos nosso estudo em três 
unidades. Cada unidade contém três tópicos que, em conjunto contemplam uma 
abordagem sobre temas, conceitos e autores elementares a uma compreensão 
inicial sobre o significado e a importância dessa ciência. 
A Ciência Política possui seus objetos específicos de investigação, 
análise e se utiliza do método científico imprescindivelmente. Esse 
método implica rigorosamente a observação empírica do objeto (factual ou 
documental); na formulação racional da análise e na imparcialidade analítica, 
características que serão devidamente explicadas. Os objetos específicos 
constituem o campo de investigação, que não é exclusivo, mas próprio do 
espectro de interesses prioritários da Ciência Política. 
Há uma enorme gama de assuntos de interesse investigativo da 
Ciência Política. Todos giram em torno de objetos de pesquisa e análise, que 
pertencem aos conceitos elementares dessa ciência, que são: a Política, em 
todo o seu universo formal e informal de associações e disputas; o Poder, 
compreendido como o “leitmotiv”, objetivo último no mundo da política 
e fonte de todos os conflitos e negociações; e o Estado, que representa 
a conformação institucional mais acabada em resposta às necessidades 
de organizar o poder e responder à sociedade. Esses são os conceitos 
fundamentais ao conhecimento politológico a partir dos quais essa ciência 
se constitui. E não é por acaso conceitual que a Ciência Política é também 
denominada de Ciência do Estado e Ciência do Poder. 
Esses conceitos abrem a abordagem deste livro didático, constituindo 
o Tópico 1 da Unidade 1. No Tópico 2, apresentamos as três formas clássicas 
de governo, que foram indicadas pela primeira vez pelo filósofo grego 
Aristóteles, e que ao longo do tempo, encontraram adornos conceituais 
na modernidade em vigor até hoje. No Tópico 3, expomos a abordagem 
propriamente moderna das formas de governo. Essa contextualização inicia 
com a apresentação do fundador da Ciência Política Moderna, o filósofo 
florentino Nicolau Machiavel e sua tese de separação entre moral e política. 
Em seguida, passa pela tese da divisão dos poderes de Montesquieu e até 
chegar ao seu conterrâneo francês Tocqueville e a magistral descrição sobre 
a democracia na América. No cerne da teoria moderna da Política está o 
conceito de República.
Na Unidade 2, o objetivo é oferecer uma explicação sobre o significado 
e a constituição dessa ciência do poder. E demonstramos a origem histórica e 
conceitual desse campo do conhecimento das Ciências Sociais. Na sequência, 
aprofundamos uma justificação sobre a especificidade de seu objeto de 
investigação e da condição imprescindível do método científico, devidamente 
caracterizado. Além disso, abordamos uma análise dos conceitos de sistema 
político, da racionalidade inerente às ações dos agentes políticos e às relações 
com as instituições. Ao final da Unidade 2, expomos uma inescapável reflexão 
sobre os partidos políticos, como também, as formas de representação e de 
participação, elementos centrais no cotidiano público.
 Por fim, a Unidade 3 representa o esforço de apontar conceitos e 
tendências contemporâneas, pois a Ciência Política tem o compromisso de 
enfrentá-las analiticamente. Nessa perspectiva, tratamos de dissertar sobre 
uma tríade terminológica elementar à constituição histórica republicana: que 
é composta pelos conceitos de igualdade, liberdade e justiça, expressando a 
síntese possível dos desafios da democracia no século XXI. Nesse espectro, 
é inevitável contemporizar os fenômenos da burocracia, do corporativismo 
e do patrimonialismo. E, ao demonstrar esses fatores como elementos de 
crise e necessidade de reforma do Estado, discutimos mais dedicadamente 
o problema republicano. Isso consiste em questionamento dos processos 
decisórios, perguntando quem faz as leis e para qual finalidade. 
Vale destacar a importância que conferimos no apontamento aos 
movimentos de descentralização do poder como expressão de uma tendência do 
Estado republicano durante o século XXI. É uma espécie de desfecho analítico 
a prenunciar desdobramentos cognitivos para a Ciência Política atual e futura. 
Nessa perspectiva, desenvolvemos um exercício reflexivo apoiado na filosofia 
política moderna. Portanto, é uma avaliação politológica ante o processo 
histórico e, ousamos dizer, evolutivo das instituições e dos valores políticos do 
Ocidente, somados a experiências contemporâneas da democracia. 
Esperamos que este livro didático inspire a atenção que a Ciência 
Política merece, para o bem da formação profissional e cidadã. Bons estudos!
Prof. Sandro Luiz Bazzanella
Prof. Walter Marcos Knaesel Birkner
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos paraseu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA ........ 1
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER ................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 POLÍTICA .............................................................................................................................................. 3
2.1 SISTEMA POLÍTICO ...................................................................................................................... 9
3 ESTADO .............................................................................................................................................. 10
3.1 PRECEDENTES GREGOS E ROMANOS .................................................................................. 13
3.2 MACHIAVEL E BODIN ............................................................................................................... 14
3.3 HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU................................................................................................ 16
3.4 HEGEL ............................................................................................................................................ 17
3.5 BENTHAM E MARX .................................................................................................................... 18
3.6 VARIADAS CONCEPÇÕES ........................................................................................................ 19
4 PODER ................................................................................................................................................. 21
4.1 AUTORIDADE COMO QUESTÃO NORMATIVA ................................................................. 23
4.2 AUTORIDADE COMO QUESTÃO SOCIOLÓGICA .............................................................. 24
4.3 AUTORIDADE COMO QUESTÃO PSICOLÓGICA ............................................................... 25
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 32
TÓPICO 2 — FORMAS CLÁSSICAS DE GOVERNO: MONARQUIA, 
ARISTOCRACIA E DEMOCRACIA ....................................................................... 33
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 33
2 MONARQUIA .................................................................................................................................... 34
2.1 MONARQUIAS CONTEMPORÂNEAS ................................................................................... 37
2.2 MONARQUIA NO BRASIL ........................................................................................................ 40
3 ARISTOCRACIA ............................................................................................................................... 43
4 DEMOCRACIA .................................................................................................................................. 49
4.1 A DEMOCRACIA ATENIENSE.................................................................................................. 53
4.2 DEMOCRACIA NAS SOCIEDADES MODERNAS ................................................................ 55
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 61
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63
TÓPICO 3 — FORMAS MODERNAS DE GOVERNO: DE MACHIAVEL A 
MONTESQUIEU E TOCQUEVILLE ....................................................................... 65
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65
2 MACHIAVEL ...................................................................................................................................... 66
2.1 VIDA E CARREIRA ...................................................................................................................... 67
2.2 ESCRITOS ...................................................................................................................................... 70
2.2.1 O príncipe ............................................................................................................................. 71
2.3 VIRTUDE E FORTUNA ............................................................................................................... 72
2.4 OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS ............................................................................................. 74
3 MONTESQUIEU ................................................................................................................................ 75
3.1 VIDA E CARREIRA ...................................................................................................................... 76
3.2 CARTAS PERSAS .......................................................................................................................... 77
3.3 A MATURIDADE INTELECTUAL ............................................................................................ 77
4 TOCQUEVILLE .................................................................................................................................. 83
4.1 OBRA ............................................................................................................................................ 84
4.2 A VIAGEM AOS EUA: DEMOCRACIA NA AMÉRICA ........................................................ 85
4.3 O ANTIGO REGIME E A REVOLUÇÃO .................................................................................. 89
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 92
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 95
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 96
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 97
UNIDADE 2 — O QUE É CIÊNCIA POLÍTICA: ORIGEM, OBJETO E MÉTODO ................ 99
TÓPICO 1 — ORIGEM, OBJETO E MÉTODO ............................................................................ 101
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101
2 UM ENTENDIMENTO CONCEITUAL: ORIGEM, OBJETO E MÉTODO ......................... 104
2.1 O PODER...................................................................................................................................... 107
3 AS TEORIAS ELITISTA E PLURALISTA ................................................................................... 109
3.1 A TEORIA PLURALISTA .......................................................................................................... 111
3.2 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE OS PODERES ................................................................. 115
3.3 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE OS PODERES ................................................................. 115
3.4 PODER IDEOLÓGICO ............................................................................................................... 118
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................124
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 126
TÓPICO 2 — SISTEMA POLÍTICO, RACIONALIDADE E INSTITUIÇÕES ....................... 127
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 127
2 SISTEMA POLÍTICO ...................................................................................................................... 128
2.1 OS GUARDIÕES DOS PORTÕES ........................................................................................... 132
3 INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO E TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL .......... 136
4 A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES .................................................................................. 142
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 146
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 147
TÓPICO 3 — PARTIDOS POLÍTICOS, REPRESENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ................ 149
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149
2 O QUE É POLÍTICA? ...................................................................................................................... 149
3 O QUE É PARTIDO POLÍTICO? .................................................................................................. 151
4 UM POUCO DE HISTÓRIA ......................................................................................................... 154
5 AS FUNÇÕES DOS PARTIDOS POLÍTICOS ........................................................................... 158
6 TIPOS DE PARTIDOS .................................................................................................................... 159
7 OS SISTEMAS PARTIDÁRIOS .................................................................................................... 161
8 BREVE TRAJETÓRIA DO SISTEMA PARTIDÁRIO BRASILEIRO .................................... 163
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 168
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 170
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 171
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 173
UNIDADE 3 — CONCEITOS E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEOS ................................ 175
TÓPICO 1 — IGUALDADE, LIBERDADE E JUSTIÇA .............................................................. 177
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 177
2 A INTERPRETAÇÃO ANTIGA .................................................................................................... 177
2.1 PLATÃO E A QUESTÃO DA LIBERDADE E DA IGUALDADE ....................................... 178
2.2 ARISTÓTELES E A QUESTÃO DA LIBERDADE .................................................................. 182
3 A INTERPRETAÇÃO MODERNA ............................................................................................... 184
3.1 LIBERDADE EM JOHN STUART MILL ................................................................................. 184
4 A INTERPRETAÇÃO CONTEMPORÂNEA .............................................................................. 187
4.1 JUSTIÇA EM JOHN RAWLS ..................................................................................................... 187
4.2 IGUALDADE EM RONALD DWORKIN ............................................................................... 189
4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 191
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 194
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 195
TÓPICO 2 — BUROCRACIA, CORPORATIVISMO E PATRIMONIALISMO .................... 197
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 197
2 BUROCRACIA ................................................................................................................................. 197
2.1 CARACTERÍSTICAS E PARADOXOS DA BUROCRACIA ................................................. 198
2.2 A BUROCRACIA E O ESTADO................................................................................................ 199
2.3 RESPONSABILIZAÇÃO JURISDICIONAL ........................................................................... 203
2.4 A NECESSIDADE DE COMANDO E O PARADOXO DESSA NECESSIDADE .............. 204
2.5 CONTINUIDADE ....................................................................................................................... 205
2.6 REGRAS ....................................................................................................................................... 205
2.7 PROFISSIONALIZAÇÃO .......................................................................................................... 206
2.8 SUMARIZAÇÃO ....................................................................................................................... 207
3 CORPORATIVISMO ...................................................................................................................... 208
3.1 EM NOME DO INTERESSE PÚBLICO .................................................................................. 209
4 PATRIMONIALISMO .................................................................................................................... 212
4.1 O PATRIMONIALISMO NA CONSTITUIÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA ........................ 214
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 220
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 221
TÓPICO 3 — CRISE E REFORMA DO ESTADO: REPUBLICANISMO, 
DESCENTRALIZAÇÃO E UMA PERGUNTA: QUEM FAZ AS LEIS 
E PARA QUÊ? ............................................................................................................. 223
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 223
2 REPUBLICANISMO ....................................................................................................................... 223
2.1 LIBERDADE POSITIVA E NEGATIVA ................................................................................... 226
2.2 LIBERDADE COMO NÃO DOMINAÇÃO ............................................................................ 227
2.3 QUEM FAZ AS LEIS E PARA QUEM? .................................................................................... 229
2.4 A DESCENTRALIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA REPUBLICANA DO ESTADO 
CONTEMPORÂNEO ................................................................................................................. 231
3 HOBBES: HOMEM LOBO DO HOMEM E O DIREITO À VIDA ....................................... 232
4 ROUSSEAU: O BOM SELVAGEM E A AFIRMAÇÃO DA IGUALDADE .......................... 234
5 LOCKE: O DIREITO À LIBERDADE EM COMUNIDADE ................................................... 239
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................242
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 247
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 249
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 250
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 251
1
UNIDADE 1 — 
POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS 
ELEMENTARES DA POLÍTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 entender	a	importância	da	Ciência	Política	para	a	formação	profissional;
•	 adquirir	noção	elementar	acerca	dos	principais	conceitos	da	Ciência	Política;
•	 identificar	os	objetos	de	estudo	específicos	da	Ciência	Política;
•	 conhecer	a	classificação	clássica	das	formas	de	governo;
•	 compreender	o	significado	do	adjetivo	“moderno”,	na	menção	ao	Estado;
•	 apreender	as	ideias	fundamentais	a	constituírem	o	Estado	moderno.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 três	 tópicos.	 No	 decorrer	 da	 unidade,	 você	
encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	POLITICA,	ESTADO	E	PODER
TÓPICO	2	–	FORMAS	CLÁSSICAS	DE	GOVERNO:	MONARQUIA,	
ARISTOCRACIA	E	DEMOCRACIA	
TÓPICO	3	–	FORMAS	MODERNAS	DE	GOVERNO:	DE	MACHIAVEL	A	
MONTESQUIEU	E	TOCQUEVILLE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
POLÍTICA, ESTADO E PODER
1 INTRODUÇÃO
A	 Ciência	 Política	 tem	 seus	 próprios	 objetos	 de	 investigação,	 o	 que	 é	
condição	básica	de	qualquer	ciência.	Nessa	perspectiva,	este	primeiro	tópico	da	
Unidade	1	do	Livro	Didático	Ciência	Política	traz	uma	exposição	de	fenômenos,	
conceitos	 e	 autores	 cuja	 apreensão	 introdutória	 é	 elementar	 aos	 nossos	
estudos.	 Trata-se	 de	 uma	 exposição	 introdutória,	 que	 apresenta	 os	 primeiros	
e	 fundamentais	 conceitos	 da	 Ciência	 Política.	 São,	 por	 assim	 dizer,	 as	 ideias	
fundantes,	os	principais	fenômenos	a	originarem	os	estudos	desta	ciência	social.	
Neste	tópico,	apresentamos	os	conceitos	de	Política,	de	Poder	e	de	Estado.	
Trata-se	de	fenômenos	e	conceitos	que	armazenam	uma	longa	história	de	ações	
e	ideias	e	constituem	a	base	inicial	de	reflexão,	sem	o	que	não	é	possível	falar	em	
Ciência	Política.	Para	tanto,	é	preciso	recorrer	às	origens	históricas,	considerando	
os	 primeiros	 relatos,	 as	 primeiras	 ideias	 e	 concepções	 teóricas	 acerca	 desses	
fenômenos.	É	preciso	estudar	essas	origens,	pois	é	dessa	maneira	que	passamos	
a	iniciar	uma	compreensão	sobre	o	sentido	de	nossas	próprias	ideias	e	da	ordem	
social,	política	e	econômica	em	que	vivemos.		
O	conceito	de	Política	é	apresentado	desde	a	sua	concepção	etimológica	e	
suas	experiências	na	antiga	Grécia	e	no	Império	Romano.	Vem	de	lá	as	origens	da	
nossa	forma	de	pensar	e	fazer	política.	O	conceito	de	Poder	é	apresentado	como	
a	ideia	essencial	da	política,	sintetizada	nas	disputas	humanas	e	na	necessidade	
do	convívio	regrado.	Não	há	como	evitar	nem	as	disputas,	tampouco	as	regras.	E	
o	conceito,	tanto	quanto	o	fenômeno	do	Estado,	representa	a	expressão	histórica	
dessas	disputas	e	dessa	necessidade	geral.
2 POLÍTICA
O	 conceito	 de	 política	 se	 origina	 do	 grego	 politikós,	 que	 significa	 tudo	
que	 tem	 a	 ver	 com	 a	polis,	 que	 significa	 cidade.	Nessa	 direção,	 a	 política	 está	
essencialmente	vinculada	às	coisas	públicas,	às	coisas	relacionadas	à	comunidade	
dos	homens.	Tem	a	ver	com	cidadão,	cidadania,	com	o	que	é	civil,	social,	coletivo	
e	próprio	da	ordem	social	que	é	estabelecida	pelos	homens	e	mulheres	para	que	
vivam	em	agregação.	Isso	vai	do	município	à	nação	e	até	mesmo	para	além	desses	
limites.	E,	é	preciso	que	se	saiba	que	quanto	mais	intensa	e,	portanto,	cívica	for	a	
vida	dos	homens	e	mulheres	em	comunidade,	tanto	maiores	serão	as	chances	de	
uma	vida	marcada	por	oportunidades	de	realizações	pessoais.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
4
O	 termo	 política	 foi	 difundido	 desde	 a	 essencial	 contribuição	 do	
filósofo	 grego	 Aristóteles	 que,	 por	 meio	 de	 sua	 notável	 obra	 intitulada	
“Política”,	 o	 definiu	 pela	 primeira	 vez	 na	 história	 da	 civilização	 ocidental.	
Este	livro	foi	o	primeiro	tratado	sobre	o	assunto,	isto	é,	sobre	a	natureza	da	
atividade	política,	do	poder	e	das	 leis.	É	a	primeira	obra	a	 tratar	da	origem	
e	 necessidade	 do	 Estado,	 de	 suas	 funções,	 suas	 divisões,	 seus	 necessários	
equilíbrios	e	as	 formas	de	governo.	Nessa	perspectiva,	Aristóteles	 tratou	da	
arte	de	governar	a	polis,	a	partir	de	seus	conflitos	e	necessidades.	Muitas	vezes	
o	fez	de	maneira	descritiva,	mostrando	como	a	política	é,	outras	vezes,	o	fez	
de	modo	prescritivo,	escrevendo	como	a	política	deveria	ser.
De	uma	forma	ou	outra,	 sua	obra	se	 tornou	a	“pedra	 fundamental”	da	
teoria	política	do	Ocidente.	Durante	muito	tempo,	a	palavra	“política”	foi	usada	
para	referir-se	a	escritos,	 sim,	a	 livros	dedicados	aos	estudos	sobre	as	 relações	
entre	os	homens	e	o	exercício	do	poder	que	se	refere	aos	governantes	e	aos	quais	
se	viam	os	homens	submetidos.	Em	1603,	o	filósofo	alemão	Johannes	Althusius	
expôs	sua	definição	do	Estado,	apresentando	esta	instituição	como	um	“consociatio 
publica”,	 considerando	que	o	Estado	 reune	e	 é	 composto	por	várias	 formas	de	
“consociationes	“	menores	(BOBBIO,	2000,	p.	159).	Somente	as	elites	se	referiam	ao	
termo	política	e	o	entendiam	como	um	ramo	de	estudo	da	filosofia.
O termo consociatio publica provém do latim, que significa consórcio público 
ou associação pública. Esse era o tratamento conferido ao que entendemos hoje por 
Estado. O filósofo político alemão Johannes Althusius (1563-1638) usa o termo no original 
para se referir às coisas do Estado, em sua obra “Política”. Para saber mais informações, 
acesse o link a seguir: http://farolpolitico.blogspot.com/2007/05/althusius-1557-1638.html.
NOTA
Na	 modernidade,	 o	 termo	 “política”	 se	 aperfeiçoa,	 tanto	 quanto	 se	
populariza,	até	chegar	“à	boca	do	povo”.	Não	obstante,	quando	referido	como	
ramo	 do	 conhecimento,	 passa	 a	 ter	 denominações	 como	 doutrina	 do	 Estado,	
filosofia	 política,	 ciência	 do	 Estado	 e	 Ciência	 Política.	 Quando	 definimos	 a	
política	propriamente	dita,	como	fenômeno	e	objeto	de	estudos	da	Filosofia	ou	da	
Ciência,	ela		continua	tendo	a	mesma	definição.	Significa	o	conjunto	de	atividades	
relacionadas	à	pólis,	isto	é,	ao	convívio	entre	os	homens	na	cidade,	na	comunidade,	
local,	regional,	estadual,	nacional	ou	global.	Por	extensão,	é	indispensavel	dizê-
lo:	tem	a	ver	com	o	Estado,	isto	é,	com	o	funcionamento	interno	dos	governos,	nas	
suas	divisões	de	poder,	e	suas	relações	com	a	Sociedade.	
 
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
5
Os	 atos	 do	 Estado,	 isto	 é,	 dos	 governantes,	 tem	 a	 ver	 com	 comandar,	
autorizar,	delegar,	proibir,	representar	ou	atender	aos	indivíduos	no	coletivo	ou	
determinados	grupos	sociais.	Tem	a	ver,	como	nos	faz	lembrar	o	sociólogo	Max	
Weber,	com	o	monopólio	exclusivo	do	exercício	de	poder,	do	uso	da	violência	e	
de	domínio	sobre	um	determinado	território.	Trata-se,	por	extensão,	de	manter	
a	ordem,	de	 legislar	e	executar,	distribuir	parte	das	riquezas	segundo	critérios	
de	 justiça	social,	de	assegurar	a	liberdade,	a	propriedade	e	a	vida.	Além	disso,	
devemos	ainda	considerar	que	o	papel	do	Estado	(aqui	compreendido	como	o	
Executivo,	o	Legislativo	e	o	judiciário)	implica	conquistar,	manter	e	defender	seu	
território	e	proteger	o	seu	povo.
De	maneira	ampla,	podemos	concordar	que	muito	do	esforço	de	definição	
conceitual	sobre	política	parte	da	raiz	etimológica	(do	grego	polis),	como	vimos.	E	
isso	é	absolutamentenatural	e	necessário.	A	concepção	que	os	gregos	(atenienses,	
espartanos,	entre	outros)	tinham	sobre	a	pólis	estava	causalmente	relacionada	ao	
desenvolvimento	da	potência	humana.	Noutros	termos,	era	através	do	convívio	
e	 da	 participação	 política	 qualificada	 que	 os	 homens	 desenvolveriam	 seus	
potenciais.	Deveriam	fazê-lo	(e	o	faziam)	por	meio	do	uso	e	desenvolvimento	da	
linguagem,	da	capacidade	racional	de	entendimento	e	da	vontade	de	realização.	
Essa	concepção	da	política,	advinda	da	cultura	grega	clássica,	passa	pelo	
império	romano	e	sobrevive	até	os	dias	de	hoje	como	um	tipo	ideal.	Em	outras	
palavras,	serve	de	referência	orientativa	a	ser	perseguida,	mesmo	que	nunca	seja	
plenamente	alcançada.	Exprime	a	ideia	de	que	a	felicidade,	tal	qual	a	entendemos,	
só	é	plena	na	vida	coletiva	e	qualificada	se	a	buscarmos	pelo	diálogo.	E	essa	vida	
dialógica	 e	 conflitiva,	 por	 certo,	 deve	 ser	 permeada	pela	 razão	 e	 pela	 ética.	A	
razão,	 todos	 a	 temos.	A	 ética,	 por	 sua	vez,	 é	 o	 resultado	do	 senso	 estético	do	
“fazer	a	coisa	certa”,	o	que	todos	adquirimos	em	sociedade,	através	da	educação	
e	do	diálogo	racional	que	estabelece	os	consensos	e	as	regras	de	convivência.	
O conceito de tipo ideal é um recurso metodológico de investigação da 
realidade a partir de uma ideia, isto é, uma concepção ideal do objeto a ser estudado. 
Quem definiu isso foi o sociólogo alemão Max Weber, sugerindo ao pesquidador que pré-
estabelece um tipo puro, a partir do qual faria seus estudos sobre a realidade. Assim, ao 
estudar, por exemplo, as instituições políticas de uma dada nação, deve o pesquisador 
definir previamente o que são instituições políticas. Ao tentar compreender, por exemplo, 
descentralização do poder de um governo nacional ou estadual, deve pré-definir o que 
entende por governo descentralizado. É isso.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
6
Através	dessa	perspectiva	que	devemos	entender	o	uso	da	expressão	
“animal	político”	(zõon politikón),	quando	Aristóteles	se	referia	ao	ser	humano.	
Significa	 que	 não	 apenas	 vivemos	 coletivamente,	 pelos	 vários	 benefícios	
que	 isso	 significa	 na	 comparação	 com	 o	 isolamento.	 Na	 condição	 de	 seres	
humanos	racionais	e	vivendo	coletivamente,	temos	nessa	complexa	e	instável	
circunstância	as	possilidades	de	aperfeiçoar	essa	condição	humana,	evoluindo,	
desenvolvendo-nos.	 É	 nessa	 linha	 que	 compreendemos	 a	 recomendação	do	
sociólogo	estadunidense	Talcot	Parsons,	que	as	 sociedades	evoluem	através	
da	 linguagem	 e	 das	 leis.	 Por	 assim	dizer,	 o	 desígnio	 humano	de	 realizar	 a	
aspiração	republicana.		
Mas,	 se	 o	 conceito	 de	 política	 existe	 desde	 os	 antigos	 gregos,	 também	
sofreu	revezes,	soluções	de	continuidade	e	modificações.	Ainda	que	permaneça	
na	essência,	foi	incorporando	e,	ao	mesmo	tempo,	tomando	novos	significados.	
Nessa	 perspectiva,	 uma	 de	 suas	 características	 atuais,	 talvez	 a	 mais	 notável,	
é	 sua	 “autonomização	 gradual	 em	 relação	 a	 outros	 campos	da	 ação	humana”	
(DELLA	PORTA,	2003,	p.	16).	Em	outras	palavras,	na	pólis	grega,			o	“cidadão”	
não	se	distinguia	da	esfera	política,	ao	contrário,	fazia	parte	constituinte	e	ativa	
do	Estado.	Era	literalmente	um	“animal	político”,	participando	da	vida	pública,	
constituindo-a	 e	 por	 essa	 forma	 se	 realizando	 como	 ser	 pensante	 e	 cidadão	
ativo.	 	Atualmente,	a	política	é	uma	esfera	separada	dos	cidadãos	e	totalmente	
formalizada,	ocupando	um	lugar	específico	na	divisão	do	trabalho	social.
 
É	essencial	que	saibamos	tratar-se	de	uma	elite	de	habitantes	das	antigas	
cidades	gregas,	constituída	de	homens	 livres	e	de	posses.	Esses	“cidadãos”	de	
direitos	tinham	escravos	a	executarem	os	trabalhos	necessários	às	suas	rendas	e	
à	sustentação	de	seus	ócios.	O	tempo	livre	era,	portanto,	fundamental	para	que	
se	 interessassem,	 pensassem	 a	 vida	 política	 e	 nela	 interferissem.	 Constituiam	
pequena	parcela	da	população,	em	geral	não	superior	a	um	décimo	dos	habitantes.	
Os	 outros	 noventa	 porcento	 eram	 as	 mulheres,	 as	 crianças,	 os	 escravos	 e	 os	
estrangeiros.	Nesse	sentido,	não	é	incomum	que	jovens	estudantes	acreditem	na	
utopia	da	participação	direta	e	constante	dos	individuos	na	sociedade	de	massa,	
como	a	grande	solução	republicana.	
Nada,	 nenhuma	 ideia	 política	 ou	 qualquer	 proposição	 idealista	 deve	
ser	descartada	aqui,	por	mais	utópica	que	pareça.	A	Ciência	Política,	enquanto	
ciência,	nada	deve	omitir,	 tampouco	dissuadir,	para	não	cairmos	em	restrições	
interpretativas	 e	 desencantamentos	 prematuros	 em	 relação	 à	 realidade.	Ainda	
assim,	precisamos	estar	atentos	às	ilusões	sobre	as	possibilidades	da	democracia	
direta.	Afinal,	o	homem	e	a	mulher	comuns	têm	suas	vidas	privadas	preenchidas	
por	 inúmeras	 tarefas	e	necessidades	diárias,	 tornando	difícil	 e	nada	atraente	a	
atividade	política	constante.	Em	geral,	a	maioria	dos	indivíduos,	na	sociedade	em	
massa,	prefere	delegar	essas	funções	a	representantes	por	eles	escolhidos.
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
7
	É	essa	a	característica	da	democracia	indireta,	leia-se,	representativa,	de	
participação	indireta	dos	indivíduos	na	vida	pública.	Ou	seja,	mesmo	na	Grécia	
antiga,	de	onde	vem	nosso	ideal	democrático,	a	proporção	de	pessoas	envolvidas	
diretamente	 com	as	 coisas	da	política,	 era	uma	minoria.	 Isso	 tem	a	ver	 com	a	
própria	divisão	do	trabalho	social	em	cada	sociedade.	Embora	o	tipo	ideal	grego	
de	democracia	nos	inspire	à	ideia	da	participação	direta	dos	cidadãos,	lá	mesmo,	
no	 “berço”	 da	 democracia	 da	 civilização	 ocidental,	 essa	 tarefa	 coube	 a	 uma	
minoria.	Em	outras	palavras,	na	divisão	do	trabalho	social,	coube	a	uma	elite,	por	
direitos	discriminatórios,	cuidar	das	coisas	da	pólis.
Obviamente,	 a	 democracia	 indireta,	 caracterizada	 pela	 representação,	
demonstra	seus	limites.	Um	sistema	de	representação	ao	extremo	do	formalismo	
e	da	 autonomização,	 como	dissemos	 antes,	 cria	um	descolamento	 indesejável,	
do	ponto	de	vista	democrático,	entre	representante	e	representado.	Isso	acontece	
nos	regimes	semidemocráticos,	onde	o	limite	da	participação	dos	representados	
está	 no	 ato	 de	 eleições	 aos	 Executivo	 e	 Legislativo.	A	 partir	 dessa	 delegação,	
regimes	restritivos	abrem	poucos	espaços	participação.	Essa	situação	difere	em	
regimes	democráticos	abertos	e	menos	centralizados,	em	que	a	mediação	entre	
representado	 e	 representante	 tem	 instâncias	 intermediárias	 de	 participação	 e	
pressão.	Mas	a	autonomização	da	política	é	inevitável.
Tal	divisão	entre	as	coisas	da	política	e	outras	coisas,	estabeleceu-se	de	
modo	mais	 categórico	entre	os	 romanos.	Se,	 ainda	na	filosofia	grega,	Platão	 já	
prenunciasse	essa	divisão	com	a	ideia	do	bom	governo,	é	na	civitas romana que tal 
distinção	fica	mais	explicitada.	É	em	Roma	que,	na	prática,	se	institucionaliza	essa	
divisão	através	da	criação	de	um	“ordenamento	 jurídico”.	É	esse	fato	histórico	
que	demarcará,	no	curso	da	civilização	ocidental,	a	primeira	separação	nítida	e	
prescritiva	entre	a	Sociedade	e	o	Estado.	A	partir	daí,	 tem-se	a	primeira	forma	
institucional	dessa	separação,	através	da	qual	a	civitas	romana	é	 juridicamente	
organizada	e	a	vida	em	Sociedade	passa	a	ser	fundamentada	“no	consenso	da	lei”	
(SARTORI,	1990	apud	DELLA	PORTA,	2003,	p.	16).
A ideia do bom governo ou governo ideal, para Platão, era o governo 
aristocrático, mas que assim o fosse pelo mérito e não pela hereditariedade, como nas 
monarquias. Tal governo aristocrático seria composto pelos melhores e mais sábios e é 
dessa formulação que surge a ideia do “rei filósofo”, ou seja, a defesa de que governos 
deveriam ser sempre compostos por homens de saber notoriamente reconhecido. Se esse 
fosse o critério, os governantes poderiam ser inclusive escolhidos pelo povo.
NOTA
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
8
Passado	o	longo	“período	das	trevas”,	como	muitas	vezes	se	codinominou	
a	Idade	Média,vemos	ressurgir	os	pressupostos	dessa	separação	em	fins	do	século	
XV,	pelas	reflexões	do	“pai”	da	Ciência	Política,	o	renascentista	italiano	Nicolau	
Machiavel.	Esse	pensador	profundo	da	política	de	seu	tempo	descreveu	as	coisas	
do	Estado	como	necessariamente	distintas	da	sociedade.	O	autor	de	“O	príncipe”	
delimitou	as	coisas	da	política	de	modo	a	separá-la,	nitidamente,	da	moral.	Nessa	
perspectiva,	o	governante	precisaria	estar	disposto	a	subverter	qualquer	preceito	
religioso	e	moral	em	nome	da	conquista	e	da	manutenção	do	poder.	
Com	 Machiavel,	 a	 política	 torna-se	 autônoma,	 orientada	 por	 leis	
próprias.	Já	não	vale	mais	a	ideia	do	rei	bom,	benevolente	e	caridoso,	submetido	
aos	ditames	da	 Igreja.	O	que	 interessa	 é	 que	 o	 rei	 seja	 eficiente,	 justo	 quando	
necessário,	mas,	sobretudo	capaz	de	manter	a	ordem,	guardar	com	força	o	seu	
território	e	garantir	a	proteção	e	a	obediência	dos	súditos.	É	nessa	perspectiva	
que	deve	ser	compreendida	a	máxima	de	que	“os	fins	justiticam	os	meios”.	Nao	
se	 trata	dos	fins	privados.	Trata-se	dos	fins	últimos	da	política,	quais	 sejam,	a	
manutenção	do	poder	do	governante,	do	Estado,	 acima	de	 tudo,	 em	nome	da	
nação	e	seus	interesses	estratégicos.	E	quaisquer	que	sejam	os	meios	utilizados,	
se	justificam,	desde	que	tais	fins	sejam	garantidos.	Com	todas	as	variáveis	que	a	
história	produziu,	continua	sendo	assim	até	hoje,	expresso	nos	comportamentos	
dos	agentes	políticos	e	nas	leis.
Portanto,	 quando	 falamos	 em	 democracia	 direta,	 concebemos	 a	
hipótese	 de	 que	 muitos	 indivíduos,	 na	 maioria	 das	 cidades,	 participe	
ativamente	da	vida	política.	É	verdade,	e	sempre	será,	que	o	grau	de	interesse	
de	 maior	 ou	 menor	 número	 de	 cidadãos,	 em	 geral,	 defina	 a	 qualidade	
das	 instituições	 políticas.	 Se	 a	 vida	 política	 é	 mais	 ou	 menos	 estável	 em	
um	 país	 ou	 cidade,	 isso	 tem	 relação	 com	 o	maior	 ou	menor	 interesse	 de	
seus	cidadãos	com	as	coisas	da	política.	A	 isso,	denominamos	de	civismo.	
A	 rigor,	 somente	 uma	maioria	 de	 cidadãos	 que	 seja	 consciente	 e	 exigente	
elegerá	 bons	 representantes.	Nesse	 sentido,	 não	 somente	 boas	 instituições	
(leis	 e	 regras)	 criam	bons	cidadãos,	mas,	 também,	cidadãos	 interessados	e	
instruídos	forçam	a	criação	de	boas	instituiçoes	e	bons	comportamentos.	
É	preciso	considerar	que	o	interesse	e	o	grau	de	“conscientização	política”	
se	 obtêm	 não	 somente	 através	 da	 participação	 direta.	 Há	 várias	 maneiras	 de	
participação	indireta	que	elevam	o	nível	da	cultura	política	de	uma	sociedade.	
Se	há	sempre	uma	classe	política	que	age	diretamente,	todos	os	cidadãos	podem	
participar	 de	 alguma	 forma.	 O	 lócus	 principal	 é	 o	 Estado,	 por	 meio	 de	 suas	
divisões	(executivo,	legislativo	e	judiciário),	subdivisões	(ministérios,	secretarias,	
órgãos,	agências	etc.)	e	níveis	(federal,	estadual,	municipal,	regional	ou	local).	Não	
obstante,	política	se	faz	desde	o	ambiente	familiar,	passando	pelas	associações,	
agremiações	e	ambientes	de	todo	tipo.	Nisso	considerem-se	sindicatos,	conselhos,	
escolas,	universidades,	clubes	e	as	várias	circunstâncias	de	diálogo	e	decisão,	até	
a	 imprensa,	as	 redes	 sociais,	 além	das	 formas	de	descentralização	política	que	
permitem	a	sinergia	entre	Estado	e	Sociedade.	
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
9
2.1 SISTEMA POLÍTICO
Os	 estudos	 da	 Ciência	 Política,	 em	 geral,	 partem	 de	 dois	 conceitos	
elementares,	a	partir	dos	quais	as	análises	são	formuladas,	o	conhecimento	e	a	
noção	de	política	se	estabelece,	tornando	o	conceito	universalmente	aceito.	Esses	
conceitos	são	Estado	e	Poder.	A	abordagem	mais	tradicional	na	Ciência	Política,	
como	na	Filosofia	Política,	se	conforma	a	partir	de	uma	perspectiva	vertical	da	
política,	do	Estado	para	a	Sociedade.	A	nítida	separação	entre	essas	duas	esferas	é	
o	produto	histórico	e	evolutivo	da	racionalização	da	vida	em	comum.	A	forma	de	
racionalização	da	vida	em	Sociedade	denominanos	de	superdivisão	do	trabalho	
social,	dando	origem	ao	conceito	de	“sistema político”.
Entendemos	 por	 sistema	 político	 o	 complexo	 ordenamento	 jurídico	 e	
estrutural,	composto	pelas	leis,	normas	e	órgãos	que	compõem	o	Estado,	isto	é,	
um	governo.	Por	extensão,	sua	definição	abrange	as	formas	de	comportamento	
políticas	reais	e	prescritas,	a	organização	formal-legal	e	o	funcionamento	real	
dos	 governos,	 nas	 suas	 divisões	 e	 níveis.	Ainda	mais	 amplamente	 definido,	
o	 sistema	político	 é	 visto	 como	um	 conjunto	de	 “processos	de	 interação”	 ou	
como	um	 subsistema	do	 sistema	 social	 que	 interage	 com	outros	 subsistemas	
não	 políticos,	 como	 o	 sistema	 econômico,	 por	 exemplo.	 Isso	 aponta	 para	 a	
importância	também	dos	processos	sociopolíticos	informais	e	enfatiza	o	estudo	
do	desenvolvimento	político.
A	análise	legal	ou	constitucional	tradicional,	usando	a	primeira	definição,	
produziu	 um	 enorme	 corpo	 de	 literatura	 sobre	 estruturas	 governamentais,	
muitos	 dos	 termos	 especializados	 que	 fazem	parte	 do	 vocabulário	 tradicional	
da	 Ciência	 Política	 e	 vários	 esquemas	 instrutivos	 de	 classificação.	 Do	mesmo	
modo,	 a	 análise	 empírica	 dos	 processos	 políticos	 e	 o	 esforço	 para	 identificar	
as	 realidades	 subjacentes	 às	 formas	governamentais	produziram	um	 imenso	 e	
valioso	armazenamento	de	informações.	Esse	estoque	informacional	e	cognitivo	
compõe	 o	 complexo	 teórico	 da	 Ciência	 Política,	 inspirando	 e	 abastecendo	
inúmeros	 trabalhos	 acadêmicos,	 empregando	 dados	 e	 mais	 dados	 e	 gerando	
novos	conceitos.	
Tudo	isso	torna	a	Ciência	Política	um	campo	do	conhecimento	bastante	
dinâmico	 e	 atual,	 permitindo	 o	 aperfeiçoamento	 das	 instituições	 e	 a	 evolução	
da	 ordem	 republicana.	 Nesse	 processo	 científico	 e	 informacional,	 o	 próprio	
conceito	de	sistema	político	torna-se	mais	e	mais	abrangente.	E	a	grande	utilidade	
dessa	dinâmica	cognitiva	está	em	“abrir	a	caixa	preta”	do	sistema.	Nos	estudos	
recentes,	as	pesquisas	e	consequentes	análises	sistêmicas	flutuam	entre	a eficácia 
das instituições,	os comportamentos individuais e as sinergias entre Estado 
e Sociedade.	Essas	três	vertentes	analíticas	constituem		a	maior	parte	do	corpo	
teórico	da	politologia	ocidental	e	alargam,	sem	lastro,	a	compreensão	dos	dois	
conceitos	fundamentais	de	todo	o	pensamento	político:	Estado	e	Poder.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
10
Referente ao tema, acesse no link a seguir, sobre a matéria realizada pelo 
Jornal Estadão – Grupos de renovação política ganham força e incomodam partidos. 
Link: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,grupos-de-renovacao-politica-ganham-
forca-e-incomodam-partidos,70003056410.
INTERESSA
NTE
3 ESTADO
Por	muito	 tempo,	 a	Ciência	política	 foi	 identificada	 como	a	Ciência	do	
Estado,	 termo	 que	 vem	 do	 alemão	 Staatwissenschaft.	 O	 ponto	 de	 partida	 para	
uma	compreensão	científica	do	Estado	tem	sido	a	divisão	dos	três	poderes,	tão	
magistralmente	proposta	pelo	eminente	filósofo	francês,	o	Barão	de	Montesquieu	
(1689-1755).	Nesse	aspecto,	é	preciso	lembrar	que	a	Ciência	Política	é	essencialmente	
uma	ciência	contemporânea,	assim	como	a	divisão	dos	três	poderes.	Estuda-se	o	
Estado	moderno	desde	a	sua	conformação	inicial,	mais	ou	menos	no	século	XIV.	
Não	obstante,	o	que	se	produz	de	análise	pretensamente	científica	sobre	o	Estado,	
parte	essencialmente	dessa	conformação	contemporânea.	
Lembremo-nos de que, do ponto de vista historiográfico, considera-se 
contemporâneo o que é pertinente ao curso da história ocidental desde a Revolução 
Francesa, em 1789.
NOTA
De	modo	geral,	o	que	entendemos	por	Estado	tem	a	ver	com	o	ordenamento	
político	e	jurídico	que	surge	lentamente,	aqui	e	ali,	no	contexto	da	Europa	do	século	
XIV.	As	primeiras	conformações	aparecem	em	Portugal,	Espanha,	França	e	Inglaterra.	
Emergem	das	fissuras	do	sistema	 feudal	e	pela	 força	das	circunstâncias	 impostas	
pelo	 capitalismo	 mercantil.	 Nessa	 perspectiva,	 o	 elementomolecular	 do	 Estado	
é	 a	 progressiva	 concentração	 de	 poder,	 justamente	 em	 função	 das	 necessidades	
circunstanciais.	Essa	centralização	do	poder	sob	o	controle	do	governante	é	a	base	
do	 principio	 da	 1)	 territorialidade	 e	 da	 2)	 obrigação	 para	 com	 o	 contrato	 social	
(contratualismo	político).		
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
11
[...] Os autores contratualistas: John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques 
Rousseau usavam a existência dos contratos sociais como uma forma de entender de que 
maneira e diante de quais circunstâncias, o Estado Civil passou a regulamentar a vida em 
sociedade. O contrato social pode ser implícito ou explícito e marca a passagem do estado 
natural para o estado em que acontece a vida social e política.
 Embora os três autores contratualistas mais importantes tenham chegado a 
conclusões distintas, eles concordavam com a ideia de que a sociedade e o Estado se 
originaram a partir de relações contratualistas. Nessa perspectiva, a partir dos pactos 
contratuais é que foram estabelecidas as regras sociais, de convívio, as leis e a origem das 
instituições políticas e de poder.
John Locke
 [...] Locke acreditava que o homem seria uma criatura naturalmente racional e 
social (com) inclinação para o bem, empatia e senso de amor. Os homens seriam, também, 
naturalmente livres, iguais e racionais, regidos sempre pela razão.
 No entanto, o homem natural, embora fosse racional, não era constantemente 
bom, tendo também sentimentos de raiva, vingança, ímpeto de destruição e egoísmo. Por 
conta dessas características humanas, os atritos entre os indivíduos surgiriam a partir dos 
conflitos de interesses.
 
 Assim, seria um direito natural de todo ser humano punir outros de seu convívio 
que desobedecessem às leis naturais. Para que os seres humanos pudessem viver livres, de 
forma organizada e com punições pré-estabelecidas, deveriam abrir mão de alguns direitos, 
como os de fazer julgamentos e de praticar punições, transferindo-os para o Estado.
 Essa transferência determina o contrato social, um acordo no qual todos 
reconhecem a autoridade governamental, a autonomia no uso da violência e a existência 
de homens atuando como juízes para o estabelecimento e garantia do bem comum.
Thomas Hobbes
 Hobbes, por sua vez, acreditava que o homem era naturalmente mau, cruel e 
egoísta. Para Hobbes, "o homem é o lobo do homem", ou seja, estava sempre disposto a 
ser cruel e sacrificar o outro em benefício próprio. Os problemas do homem, em seu estado 
natural, aconteceriam, pois, a maldade do ser humano faria com que os homens vivessem 
em um estado constante de guerras, ameaças e destruição.
 [...] a única forma de garantir a convivência pacífica, organizada e harmônica seria 
a cessão de alguns direitos ao Estado, que seria o responsável pela organização social do 
poder, do uso da violência e da força, de forma legítima. Somente através de um contrato 
social é que o homem poderia viver e desenvolver sua sociedade.
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
12
Jean Jacques Rousseau
 [...] Para Rousseau, o homem nasce bom, mas é corrompido pela sociedade. O 
homem também nasce livre, no entanto, mantém-se sempre preso, por conta da vaidade, 
busca por status, posição social, orgulho e vaidade.
 
 Para que fosse possível a preservação da liberdade natural do homem e, ao mesmo 
tempo, a segurança e o bem-estar social, propõe um contrato social no qual é garantido a 
prevalência da soberania social e a soberania política determinada pelas vontades coletivas.
 O contrato social rousseauniano deve definir a questão da igualdade entre 
todos, garantir a vontade individual e determinar a vontade coletiva com foco no bem 
comum. Rousseau propõe o uso da justiça para submeter igualmente fracos e poderosos 
(e) explica o surgimento da desigualdade social, originada pela posse de propriedades 
privadas. A desigualdade na forma como as propriedades estão distribuídas, na visão de 
Rousseau, originou uma sociedade de caos, crimes, destruição e manutenção de uma 
sociedade de guerra. O contrato social surge, também, como uma forma de organização 
dessa sociedade caótica na qual os indivíduos pensam apenas no próprio bem.
FONTE: <https://querobolsa.com.br/enem/sociologia/contratualismo>. Acesso em: 16 dez. 2019.
Por	guerra	ou	ameaça,	compreendamos	que	o	Estado	moderno	é	resultado	
histórico	da	conquista	do	mais	forte	senhor	feudal	sobre	os	outros.	Disso	resulta	
o	 acordo	 que	 legitima	 a	 liderança	 do	 monarca,	 dono	 do	 mais	 forte	 exército,	
que	 submete	os	outros	à	 sua	vontade.	Estabelece	os	 limites	do	seu	 território	e	
a	identificação	de	seu	povo.	Suas	duas	maiores	tarefas	implicam	a	defesa	desse	
território	 e	 na	 segurança	 de	 seu	 povo,	 base	 do	 contrato	 social.	 E	 o	 toque	 de	
acabamento	dessa	conformação	política	e	jurídica	está	assentado	justamente	no	
estabelecimento	da	lei.	E	a	característica	fundante	desse	estabelecimento	vai	se	
conformar	historicamente	na	impessoalidade	do	exercício	de	quem	comanda.	
Na	perspectiva	sociológica,	o	Estado	é	uma	forma	de	associação	humana	
diferenciada	de	outros	grupos	sociais	por	conta	de	seus	objetivos	específicos,	quais	
sejam,	o	estabelecimento	da	ordem	e	da	segurança.	Da	mesma	forma,	o	Estado	
se	distingue	por	seus	métodos:	o	estabelecimento	de	leis	e	seu	cumprimento.	Por	
extensão,	diferencia-se	pela	demarcação	de	um	território,	pela	área	de	jurisdição	
ou	pelas	as	fronteiras	geográficas.	E,	finalmente,	distingue-se	pelo	aspecto	da	sua	
soberania,	isto	é,	pelo	fato	de	não	haver	poder	acima	dele.	O	estado	consiste,	de	
maneira	mais	 ampla,	 no	 acordo	dos	 indivíduos	 sobre	os	meios	pelos	quais	 as	
disputas	são	resolvidas	na	forma	de	leis.	Assim,	a	principal	distinção	do	Estado	
moderno,	enquanto	tal,	é	o	governo	pelo	imperio	da	lei	e	nao	da	vontade	pessoal	
do	governante.
Por	 extensão	 disso,	 vale	 apresentar	 uma	 classificação	 de	 tipo	 ideal,	 a	
partir	da	qual	possamos	saber	do	que	estamos	falando,	quando	usamos	a	palavra	
Estado.	 As	 definiçoes	 	 conceituais	 são,	 na	 verdade,	 imprescindíveis	 à	 nossa	
comunicação,	sem	o	que,	a	construção	coletiva	fica	comprometida.	Parece	haver	
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
13
consenso	entre	os	teóricos	da	política	quanto	a	algumas	características	essenciais	
na	composição	desse	ordenamento	jurídico.	Assim,	para	caracterizarmos	o	Estado	
moderno	enquanto	tal	adjetivo	lhe	sirva,	é	necessário	que	contenha,	ao	menos,	
seis	características	essenciais:
1-	a	impessoalidade	do	mando	(o	império	da	lei);
2-	a	defesa	do	território;
3-	a	defesa	do	povo,	através	da	garantia	dos	direitos	básicos;
4-	o	monopólio	exclusivo	do	uso	da	violência;
5-	o	estabelecimento	de	uma	burocracia	pública	racional-legal;
6-	a	autonomia	em	relação	à	religião	(distinção	não	antagônica	entre	Estado	e	Igreja).
O contrato social significa simbolicamente o acordo entre o governante e 
os governados. Embora o nome seja uma metáfora criada por filósofos políticos entre os 
séculos XVII e XVIII, representa a síntese explicativa do surgimento do Estado Moderno. É 
baseado na ideia de que os homens, em coletividade, admitem outorgar a um ente distinto 
o poder de governá-los em troca da garantia aos direitos naturais básicos dos serem 
humanos. Os três principais filósofos contratualistas foram John Locke, Thomas Hobbes e 
Jean Jacques Rousseau.
NOTA
3.1 PRECEDENTES GREGOS E ROMANOS
A	 história	 do	 estado	 ocidental	 começa	 na	 Grécia	 antiga.	 Platão	 e	
Aristóteles	escreveram	sobre	a	polis,	ou	cidade-estado,	como	uma	forma	ideal	de	
associação,	na	qual	as	necessidades	religiosas,	culturais,	políticas	e	econômicas	
de	toda	a	comunidade	poderiam	ser	satisfeitas.	Essa	cidade-estado,	caracterizada	
principalmente	por	sua	autossuficiência,	era	vista	por	Aristóteles	como	o	meio	de	
desenvolver	a	moralidade	no	caráter	humano.
	A	 ideia	grega	corresponde	com	mais	precisão	ao	conceito	moderno	de	
nação,	ou	seja,	uma	população	de	umaárea	fixa	que	compartilha	uma	 língua,	
cultura	e	história	em	comum	–	enq	uanto	a	res publica	romana,	ou	comunidade,	é	
mais	semelhante	ao	conceito	moderno	de	o	Estado.	A	res publica era	um	sistema	
legal	cuja	jurisdição	se	estendia	a	todos	os	cidadãos	romanos,	assegurando	seus	
direitos	e	determinando	suas	responsabilidades.	Com	a	fragmentação	do	sistema	
romano,	a	questão	da	autoridade	e	a	necessidade	de	ordem	e	segurança	levaram	
a	um	longo	período	de	luta	entre	os	senhores	feudais	da	Europa	em	guerra.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
14
3.2 MACHIAVEL E BODIN
Foi	a	partir	do	século	XVI	que	o	conceito	de	Estado	passou	a	ser	utilizado.	
O	encontramos	nos	escritos	do	filósofo	italiano	Nicolau	Machiavel	(1469-1527)	e	do	
teórico	político	francês	Jean	Bodin	(1530-1596).	Os	dois	pensadores	apresentaram	
o	conceito	de	Estado	como	a	força	centralizadora	por	meio	da	qual	a	ordem	social	
se	mantém.	Partiam	do	mesmo	pressuposto	de	que	o	poder	não	é	uma	dádiva	e	
sim	 uma	 conquista.	 Apenas	 divergiram	 parcialmente	 na	 interpretação	 quanto	
à	 legitimidade	 do	 poder	 e	 tal	 divergência	 permitiu	 um	 ótimo	 debate	 na	 teoria	
política.	Em	sua	magistral	obra	“O	príncipe”,		Machiavel	priorizou	a	estabilidade	
dos	governos,	procurando	entender	como	podia	ser	obtida.	Para	isso,	afirmou	que	
o	êxito	disso	dependia,	primeiramente,	do	afastamento	de	quaisquer	restrições	de	
ordem	moral,	leia-se,	religiosa.	
A	 partir	 desse	 ponto	 de	 ruptura,	Machiavel	 passou	 a	 concentrar-se	 na	
força	 do	 governante,	 como	 o	 elemento	mais	 importante	 para	 o	 bom	 governo.	
Vitalidade,	coragem,	astúcia	e	autonomia	deveriam	ser	as	qualidades	do	príncipe.	
Não	poderia	haver	obstáculos	morais	que	pusessem	em	risco	os	fins	últimos	do	
governante.	Os	meios,	isto	é,	o	modo	de	garantir	as	finalidades	de	cada	governo,	
não	precisavam	estar	revestidos	de	preceitos	religiosos.	Os	meios	teriam	de	ser	
suficientemente	eficientes	para	que	os	fins	da	pollítica	fossem	assegurados.	E	a	
manutenção	do	poder,	a	garantia	da	ordem,	a	defesa	do	território	e	a	proteção	ao	
povo	são	esses	fins,	princípio	de	toda	carta	magna.
Na	ótica	de	Jean	Bodin,	o	poder	não	seria	suficiente	por	si	só	para	criar	
um	 soberano.	 Este	 teria	 de	 fazer	 por	 merecê-lo,	 obedecendo	 à	 moralidade	
para	 ser	durável	 e	 	 ter	 continuidade.	A	principal	preocupação	 era	garantir	 a	
estabilidade	nas	sucessões	dos	reis,	sem	quebrar	a	linhagem	sanguínea.	A	teoria	
de	Bodin	foi	a	precursora	da	doutrina	do	"direito	divino	dos	reis",	segundo	o	
qual	a	monarquia	era	a	própria	expressão	da	vontade	divina	na	terra	e	os	reis	
seriam	descendentes	 diretos	 do	Deus.	Nesse	 aspecto,	 em	 particular,	 é	 que	 a	
teoria	do	filósofo	político	francês	é	diferente	da	de	Machiavel	que,	por	sua	vez,	
não	dava	ênfase	ao	direito	divino.
Os	 dois	 autores	 eram	 modernos,	 portanto,	 humanistas	 no	 sentido	 de	
atribuir	 a	 responsabilidade	 e	 a	 legitimidade	 do	mando	 à	 capacidade	 humana	
do	governante.	Mas,	enquanto	Bodin	ainda	carrega	tintas	na	força	simbólica	da	
religião,	o	pensador	italiano	vai	direto	ao	ponto:	a	política	é	coisa	eminentemente	
humana.	 E	 essa	 tensão	 propiciou	 um	 criativo	 debate	 de	 ideias	 reformistas	 na	
Europa,	 a	 partir	 do	 século	 XVII.	 Dessa	 fundamental	 discussão	 aos	 rumos	 da	
política	ocidental,	foram	precursores	os	filósofos	John	Locke	e	Thomas	Hobbes	na	
Inglaterra,	além	de	Jean-Jacques	Rousseau,	na	França	e	mais	tarde	Georg	Hegel	
na	Alemanha,	entre	muitos	outros.	Esses	pensadores	começaram	a	reexaminar	
as	origens	e	os	propósitos	do	Estado,	ajudando	a	fundamentar	o	ordenamento	
jurídico	do	que	é	o	Estado	atualmente.
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
15
Um exemplo de atitude amoral encontramos na descrição que o dramaturgo 
inglês William Shakespeare fez da breve vida do Rei Ricardo II, da Inglaterra do século XIV. 
Em um dos episódios dramáticos, o Rei teria mandado matar o próprio filho por lesar o 
erário público. Do ponto de vista da moral religiosa, sua atidute é condenável, porém, do 
ponto de vista da ética política, o rei deu um exemplo radical e eficiente do que poderia 
acontecer a qualquer um que desrespeitasse a lei.
NOTA
O	 rei	 Ricardo	 II	 (1377-99),	 retratado	 em	 peça	 homônima	 de	 William	
Shakespeare
FIGURA 1 - REI RICARDO II
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/dd/Richard_II_of_England.
jpg/245px-Richard_II_of_England.jpg>. Acesso em: 18 set. 2020.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
16
3.3 HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU
Nas	 perspectivas	 dos	 contratualistas	 Thomas	 Hobbes,	 John	 Locke	 e	
Jean	Jacques	Rousseau,	o	Estado	seria	o	próprio	reflexo	da	natureza	humana	na	
manifestação	de	suas	mais	fundamentais	necessidades.	Se	durante	toda	a	Idade	
Média	o	mundo	era	justificado	a	partir	de	uma	concepção	religiosa	sem	influência	
humana,	na	Idade	Moderna,	sobretudo	o	poder	passa	a	ser	explicado	a	partir	da	
dimensão	humana.	A	política	já	não	era	mais	vista	como	uma	esfera	refletida	da	
vontade	de	Deus.	O	poder	é	analisado	como	o	resultado	de	um	jogo	de	interesses,	
regras	e	finalidades	que	eram	humanas.	Assim,	a	política	não	é	mais	vista	como	
uma	fatalidade,	mas	como	resultado	da	capacidade	humana.
O	 Estado,	 por	 sua	 vez,	 é	 o	 resultado	 histórico,	 na	 esfera	 mundana,	
daquilo	que	os	homens	coletivamente	conseguiram	compor.	De	maneira	geral,	
reflete	as	necessidades	e	desejos	humanos,	sendo	resultado	das	lutas	pelo	poder	
e	 dos	 consensos	 mínimos	 em	 relação	 à	 ordem	 necessária	 em	 sociedade.	 Os	
seres	 humanos	 vivem	 coletivamente	 por	 decisão	 humana,	 cientes	 de	 que	 essa	
condição	é	melhor	do	que	viver	 isoladamente.	Não	obstante,	para	viverem	em	
sociedade,	 precisam	 estabelecer	 regras,	 sendo	 esta	 a	 origem	mais	 reomota	 do	
Estado.	Na	medida	em	que	os	agrupamentos	humanos	crescem	e	as	economias	
se	 desenvolvem,	 os	 conjuntos	 de	 regras	 ficam	 mais	 complexos,	 resultando	
historicamente	no	que	entendemos	como	o	Estado.		
A	"condição	natural"	do	homem,	disse	Hobbes,	é	egoísta	e	competitiva.	Por	
essa	razão,	os	homens	se	submetem	ao	domínio	do	Estado	como	o	único	meio	de	
autopreservação	pelo	qual	ele	poderia	escapar	do	brutal	ciclo	de	destruição	mútua.	
Hobbes	é	o	autor	da	parábola	do	“homem,	 lobo	do	homem”,	 segundo	a	qual,	
deixados	à	solta	e	livres,	os	homens	se	matariam	uns	aos	outros,	inviabilizando	
a	 vida	 coletiva	 e	 a	 própria	 sobrevivêncioa	 da	 espécie.	 Por	 reconhecerem	 essa	
condição	natural,	os	homens	acordam	entre	si	pela	criação	de	um	ente	superior,	
capaz	de	protegê-los	de	si	próprios.	
Para	 Locke,	 a	 condição	 humana	 não	 é	 assim	 tão	 malévola	 e	 egoísta.	
Todavia,	 também	 para	 ele	 o	 Estado	 é	 o	 resultado	 da	 percepção	 sobre	 as	
vantagens	de	viver	coletivamente	e	de	modo	minimamente	organizado.	Trata-
se,	 por	 extensão,	 da	 constituição	 política	 de	 uma	 imperiosa	 necessidade	 de	
proteção	 dos	 direitos	 naturais	 dos	 homens.	 Estes	 seriam	direitos	 inerentes	 à	
condição	 humana.	 Inspirador	 do	 liberalismo	 clássico,	 Locke	 afirmou	 que	 o	
Estado	seria	a	materialização	mais	acabada	do	contrato	social.	Através	deste,	
os	indivíduos	concordam	em	não	infringir	os	"direitos	naturais"	uns	dos	outros	
à	vida,	 liberdade	e	propriedade,	em	troca	do	qual	cada	homem	assegura	sua	
própria	"esfera	de	liberdade".
Já	na	concepção	de	Rousseau	sobre	o	contrato	social,	aparece	uma	ideia	
mais	otimista	em	relação	à	natureza	humana,	se	comparada	a	Hobbes	ou	Locke.	
Em	vez	do	direito	de	um	monarca	governar,	Rousseau	entende	que	o	contrato	
social	 é	 oriundo	 de	 uma	 vontade	 geral	 dos	 governados.	 Para	 ele,	 a	 própria	
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
17
nação	é	soberana,	e	a	lei	não	deve	ser	outra	senão	a	vontade	dos	indivíduos	em	
coletividade.	 Influenciado	 por	 Platão,	 Rousseau	 reconheceu	 o	 Estado	 como	 o	
ambiente	para	o	desenvolvimento	moral	da	humanidade.	Seu	pressuposto	geral	
é	o	de	que	o	homem	é	bompor	natureza,	mas	a	Sociedade	corrompe	essa	natureza	
boa.	Para	restabelecê-la,	é	preciso	que	o	Estado	garanta	as	condições	para	tanto,	
estimulando	 os	 homens	 a	 buscarem	 o	 bem-estar	 social.	 Como	 o	 resultado	 da	
busca	 individual	gera	conflitos,	um	estado	saudável	e	sem	corrupção)	só	pode	
existir	quando	o	bem	comum	é	reconhecido	como	a	meta	oficial	a	ser	alcançada	
e	garantida.
3.4 HEGEL
Para	o	filósofo	alemão	George	W.	F.	Hegel,	somente	o	Estado,	como	um	
ente	soberano	e	reflexo	dos	interesses	mais	gerais	e	prioritários,	seria	capaz	de	
garantir	 a	 liberdade,	 princípio	 fundamental	 da	 vida	 humana.	 Evidentemente	
associada	 à	 segurança,	 a	 liberdade	 seria	 fundamental	 porque	 é	 a	 condição	
essencial	 para	 viver	 e	 desenvolver-se.	 Só	 poderia	 ela	 ser	 garantida	 através	 de	
leis	que	garantissem	a	soberania	dos	indivíduos,	entendida	não	somente	na	sua	
perspectiva	individual,	mas	coletiva,	como	um	direito,	expressão	maior	da	razão	
humana.	Nesse	sentido,	o	Estado,	com	todo	o	ordenamento	jurídico,	burocrático	
e	policial,	seria	(deveria	ser)	a	expressão	máxima	da	evolução	da	humanidade.	
FIGURA 2 – GEORGE W. F. HEGEL
FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ge/or/george-wilhelm-friedrich-hegel-og.jpg>. 
Acesso em: 21 jul. 2020.
Que	fique	claro:	para	o	filósofo	alemão,	a	liberdade	não	é	a	capacidade,	
tampouco	o	direito,	de	cada	um	fazer	o	que	bem	entender	de	sua	vida.	Muito	
mais	que	isso,	é	um		desejo	universal	pelo	bem-estar.	Quando	os	homens	agem	
como	agentes	morais,	agindo	racionalmente,	os	conflitos	cessam	e	os	objetivos	
passam	a	coincidir.	Ao	se	subordinarem,	por	livre	entendimento,	às	leis	do	Estado,	
os	 indivíduos	 passam	 a	 estar	 habilitados	 a	 realizar	 a	 síntese	 entre	 os	 valores	
familiares	 e	 as	 necessidades	 econômicas.	 Para	 Hegel,	 o	 Estado	 é	 o	 resultado	
do	armazenamento	das	ações	morais	ao	 longo	da	história,	onde	são	filtradas	e	
solidificam	o	desenvolvimento	humano.	É	no	Estado	que	a	liberdade	de	escolhas	
se	cristaliza,	permitindo	a	união	das	vontades	racionais.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
18
Nessa	 perspectiva,	 o	 filósofo	 alemão	 vê	 no	 Estado	 a	 representação	
resumida	 e	 ordenada	 do	 direito	 à	 liberdade	 humana.	 Diferentemente	 dos	
contratualistas	Rousseau	e	Locke,	Hegel	não	afirma	diretamente	que	a	liberdade	
é	um	direito	natural.	Mais	do	que	isso,	a	liberdade	é	o	resultado	da	razão	humana,	
depurada,	através	da	qual	homens	e	mulheres	tornam-se	capazes	de	entender	seu	
verdadeiro	sentido:	a	expressão	da	vontade	individual	em	concordância	com	a	
vontade	 coletiva.	O	Estado	 seria	 a	 síntese	da	ação	moral,	 onde	a	 liberdade	de	
escolha	é	orientada	para	a	universalidade,	isto	é,	à	unidade	das	vontades.	Através	
do	ordenamento	jurídico,	as	partes	da	constituintes	da	sociedade	seriam	reunidas	
e	assentadas	para	a	saúde	do	corpo	social.	
3.5 BENTHAM E MARX
Por	 sua	vez,	para	os	utilitaristas	 ingleses	do	século	XIX,	o	Estado	seria	
a	instituição	responsável	por	realizar	a	unidade	dos	interesse	individuais,	além	
de	 assegurar	 o	 equilíbrio	 social.	 Esse	 entendimento	 foi	 proposto	 pelo	 filósofo	
utilitarista	 e	 jurista	 inglês	 Jeremy	 Bentham	 (1748-1832)	 e	 compartilhado	 por	
outros	seus	contemporâneos.	Trata-se,	também,	de	um	entendimento	de	que	os	
direitos	não	 seriam	naturais,	mas	 conquistados	 e	preservados	pelos	homens	 a	
partir	e	através	do	Estado.	O	Estado,	nesse	entendimento,	seria	a	representação	
máxima	da	utilidade	que	as	leis	têm	para	aqueles	que	exercem	o	poder	sobre	os	
outros.	 Leis	 ajudam	a	 controlar	 o	 funcionamento	da	 sociedade	 e	precisam	 ser	
resguardadas	por	um	ente	com	autoridade	para	tal.
Assim,	Jeremy	Bentham	ajudou	a	demarcar	as	bases	para	os	primeiros	
pensadores	socialistas	como	Karl	Marx	(1818-1883).	Para	este	filósofo	alemão,	
o	Estado	foi	constituído	para	ser	o	"aparato	de	opressão"	da	classe	dominante	
para	 a	 garantia	 de	 seus	 interesses	 e	 privilégios	 econômicos,	 em	 detrimento	
dos	interesses	gerais	da	classe	trabalhadora.	Nessa	interpretação,	o	Estado	não	
seria	 o	 representante	 dos	 interesses	 gerais	 e	 aglutinador	 da	 razão	 universal.	
O	 Estado,	 compreendido	 em	 todo	 o	 seu	 ordenamento	 júrídico,	 burocrático	
e	 policial	 representaria,	 fundamentalmente,	 os	 interesses	 de	 uma	 minoria	
no	poder.	Portanto,	 leis	não	 seriam	sinônimo	de	 justiça,	mas	de	usurpação	e	
interesses	privados.
Marx	 e	 seu	 amigo	 Friedrich	 Engels	 (1820-1895)	 foram	 pensadores	
revolucionários.	Entre	suas	inúmeras	contribuições	está	a	advertência	de	que	não	
vejamos	as	coisas	como	parecem	ser	e	as	autoridades	dizem	que	são.	Seria	preciso	
perceber	o	que	está	por	 trás	do	Estado	e	por	baixo	das	 leis.	Elas	expressariam	
interesses	universais	mas	esconderiam	interesses	particulares.	Os	dois	pensadores	
e	ativistas	políticos	redigiram	a	famosa	obra	intitulada	“O	Manifesto	Comunista”.	
Ali,	afirmam	que	a	única	maneira	de	a	classe	trabalhadora	obter	a	liberdade	e	o	
bem-estar	que	lhe	são	de	direito,	seria	tomando	o	poder	à	força.	
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
19
A	 partir	 da	 conquista	 revolucionária	 do	 Estado,	 a	 classe	 trabalhadora	
instauraria	a	"ditadura	do	proletariado".	Seria	uma	etapa	provisória,	temporária,	
até	que	se	pudesse	prescindir	do	Estado	e	este	 seria	extinto,	por	pura	 falta	de	
utilidade.	O	raciocínio	é	simples:	O	Estado	é	o	produto	histórico	do	ordenamento	
jurídico	 e	 policial	 das	 classes	 dominantes	 ao	 longo	 do	 tempo.	 Sua	 maior	
incumbência	 seria	proteger	a	propriedade	privada	e	garantir	a	acumulação	de	
riquezas	de	quem	está	no	poder.	A	acumulação	seria	o	resultado	da	exploração	
da	classe	dominante	sobre	a	classe	trabalhadora.	Então,	o	Estado	é,	por	definição,	
contra	 os	 interesses	 dos	 trabalhadores.	 Sendo,	 na	 origem,	 uma	 instituição	 de	
opressão,	deveria	ser	extinto.	O	que	se	seguiria	depois	seria	uma	sociedade	sem	
classes,	 baseada	 não	 na	 aplicação	 das	 leis,	mas	 na	 justa	 distribuição	 dos	 bens	
produzidos	e	sem	propriedade	privada.	
3.6 VARIADAS CONCEPÇÕES
De	um	modo	geral,	a	concepção	de	Estado	apresentada	por	Marx	e	Engels	
teve	muitos	 adeptos	 e	ganhou	 força	 interpretativa	desde	o	fim	do	 século	XIX,	
passando	a	antagonizar	com	a	concepção	digamos	assim	conservadora	do	Estado,	
sintetizada	na	idealização	hegeliana.	De	um	lado,	a	ideia	do	Estado	como	produto	
da	 razão	 e,	 de	 outro,	 como	 instrumento	 de	 usurpação.	 E,	 embora	 tenhamos	
convivido	 fortemente	 com	 o	 binário	 “direita”	 (conservadora	 ou	 reacionária)	 e	
“esquerda”	 (progressista	 ou	 revolucionária)	 na	 política	mundial	 e	 no	 interior	
das	nações,	as	experiências	concretas	se	orientaram	por	essas	duas	concepções,	
hegeliana	e	marxista,	sem	exclusividade	a	um	ou	outro	lado.
Durante	o	século	XX,	as	concepções	de	Estado	tiveram	alguma	variação.	
Oscilaram	 entre	 concepções	 as	mais	 autoritárias	 e	 centralizadoras	 até	 as	mais	
libertárias	ou	mesmo	descentralizadas.	Foram	do	Estado	totalitário	ao	anarquismo,	
passando	pelo	Estado	de	bem-estar	até	o	Estado	mínimo.	Em	cada	um	dos	casos,	
sempre	 houve	 teorias	 a	 constituir	 elaboradas	 justificativas	 em	 defesa	 de	 cada	
modelo.	Com	exceção	da	utopia	anarquista,	experiências	concretas	não	faltaram,	
a	deixar	suas	marcas	na	história	e	as	possibilidades	de	que	se	tenha	aprendido	
com	elas.	Nessa	perespecrtiva,	cabe	resumida	tipificação,	como	vemos	a	seguir:
•	 O	totalitarismo	expressa	a	máxima	centralização	do	poder	e	a	minimalização	das	
liberdades.	É	o	Estado	do	medo,	retratado	e	justificado	notavelmente	na	obra	“O	
leviatã”,	de	Thomas	Hobbes	(1588-1679).
•	 O	 anarquismo,	 por	 sua	 vez,	 defende	 a	 extinsão	 do	 Estado,	 sugerindo	 que	
toda	 forma	 de	 poder	 é	 uma	 forma	 de	 usurpação,	 de	 dominação	 ilegítima	
e	deve	 ser	negada.	É	 a	negação	do	Estado,	 retratada,	por	 exemplo,	 na	obra	
“O	anarquismo	e	a	democracia	burguesa”,	que	 inclui	o	 capítulo	“O	Estado:	
alienação	e	natureza”,	do	anarquistarusso	Mikhail	Bakunin	(1814-1876),	entre	
outros	escritos	de	anarquistas	como	Malatesta,	Phroudon	e	Kropotkin.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
20
• O	 Estado	 de	 bem-estar	 social	 é,	 como	 sugere	 o	 nome,	 o	 Estado	 protetor,	
empenhado	na	distribuição	da	riqueza	social	através	de	políticas	públicas	de	
transferência	de	rendas,	incluindo	as	políticas	sociais	na	saúde	e	na	educação.	
Nessa	 perspectiva,	 governos	 são	 responsáveis	 pela	 sobrevivência	 de	 seus	
membros,	garantindo	subsistência	àqueles	que	não	a	possuem.	Uma	excelente	
análise	foi	feita	pelo	sociólogo	polonês	Adam	Przeworski	(1940	-	),	em	seu	livro	
“Capitalismo	e	social-democracia”.
•	 O	Estado	mínimo	expressa	a	 ideia	de	que	quanto	menor	 for	a	 intervenção	
do	Estado	na	vida	privada	das	pessoas	 e	na	 economia,	 tanto	melhor.	Para	
os	 liberais	 ortodoxos,	 o	 Estado	 deveria	 apenas	 cuidar	 do	 básico,	 ou	 seja,	
garantir	o	direito	à	propriedade	privada,	cuidar	da	segurança	dos	indivíduos	
e	da	educação	aos	que	mais	necessitam,	deixando	o	restante	com	a	iniciativa	
privada	e	a	sociedade	organizada.	Uma	compreensão	sobre	o	assunto	pode	
ser	 iniciada	com	a	 leitura	do	pensador	 liberal	austríaco	Ludwig	von	Mises	
(1881-1973),	em	“A	mentalidade	anticapicalista”.
Contemporaneamente	 (século	 XXI),	 podemos	 afirmar	 que	 o	 Estado	 é	
uma	ordem	política,	 cuja	 legitimidade	é	pouco	distutível.	Podemos	manifestar	
nossas	insatisfações	com	a	ordem	política.	Podemos	contestar	os	ordenamentos	
jurídicos,	reclamar	das	políticas	econômicas,	de	governos	autoritários,	ineficientes,	
corruptos,	perdulários,	entre	outros	defeitos.	Tudo	isso	nos	permite	constatar	que	
a	ordem	política	é	produto	das	relações	de	poder	entre	seres	humanos	em	busca	
da	consecução	de	suas	ideias	e	interesses,	públicos	ou	inconfessáveis.	
Por	extensão,	podemos	concordar	ou	divergir	das	concepções	sobre	como	
o	Estado	deve	primordialmente	 ser.	Poderia	ou	deveria	 ser	mais	 centralizado,	
autoritário,	descentralizado,	democrático,	mais	ou	menos	 liberal,	na	economia,	
na	 organização	política,	 nos	 costumes	 e	 comportamentos	 individuais.	Deveria	
ser	 mais	 assistencialista,	 como	 sugerem	 os	 socialdemocratas	 ou	 menos	
intervencionista,	como	os	defensores	do	liberalismo	clássico.	Na	vida	real,	esses	
“tipos	 ideais”	 se	 confundem,	 conformando	 as	 experiências	 em	 cada	 governo,	
cada	nação	e	em	cada	tempo.	
As	experiências	políticas	ao	fim	da	 segunda	década	do	 século	XXI	não	
permitem	prognósticos	seguros.	A	democracia	é	a	 forma	de	governo	preferida	
entre	os	países	mais	desenvolvidos	do	Ocidente.	Todavia,	isso	não	nos	exime	de	
reconhecer	que	a	 relação	democracia	e	desenvolvimento	seja	uma	regra	 tácita.	
A	 China	 não	 é	 uma	 democracia	 e,	 no	 entanto,	 desponta	 para	 ser	 a	 potência	
econômica	 do	 século	 XXI.	 Seguirá	 sendo	 um	 regime	 político	 centralizado	 e	
restritivo?	 E	 quanto	 ao	 Ocidente	 democrático,	 quais	 serão	 os	 resultados	 do	
embate	entre	o	Estado	de	bem-estar	e	o	Estado	mínimo,	entre	social-democratas	
e	liberais	ortodoxos?	(considerando	que	todos	são,	a	rigor,	liberais	democratas).
Sejam	 quais	 forem	 os	 resultados,	 eles	 dependerão	 do	 interesse	 dos	
cidadãos	 de	 cada	 país,	 microrregião	 e	 cidade,	 sobre	 as	 coisas	 da	 política.	 O	
Estado,	 seja	 numa	 conformação	 ou	 noutra,	 estará	 presente	 e	 legitimado	 pelos	
indivíduos,	é	difícil	prever	algo	diferente.	Sua	legitimidade	dependerá	sempre,	
TÓPICO 1 — POLÍTICA, ESTADO E PODER
21
em	considerável	medida,	da	capacidade	de	a	ordem	política	 formal	 responder	
às	 necessidades	 econômicas	 e	 aos	 direitos	 fundamentais	 dos	 indivíduos.	 E	 a	
qualidade	dos	serviços	dependerá	de	um	duplo	esforço	da	sociedade,	qual	seja,	
o	esforço	econômico	e	a	atenção	à	política.	Podemos	admitir,	como	sugeriu	certo	
filósofo,	que	a	política	não	nos	levará	ao	céu,	mas	é	somente	através	dela	que	nos	
livraremos	do	pior	dos	infernos.
4 PODER
Definimos	 o	 conceito	 de	 poder	 como	 o	 resultado	 da	 ação	 capaz	 de	
exercer	influência	sobre	o	outro	ou	os	outros,	a	fim	de	conseguir	realizar	e	fazer	
prevalecer	o	interesse	de	quem	busca	obtê-lo.	Se	falarmos	em	termos	de	poder	
político,	podemos	defini-lo	como	o	exercício	da	influência	legítima	de	um	agente	
sobre	outro	ou	outros.	Há	inúmeras	formas	de	um	agente	exercer	poder	sobre	
outros,	fazendo-os	alterar	seus	comportamentos	em	função	do	interesse	e	mando	
de	 quem	o	 exerce.	No	 caso	da	 ordem	política,	 é	 a	 autoridade	 legítima	que	 se	
expressa,	seja	pelo	uso	da	força,	seja	pela	ameaça	de	seu	uso	em	nome	da	lei.
A	recorrência	ao	uso	da	força	na	política	é	uma	condição	necesária,	mas	
não	suficiente	para	definir	o	conceito	de	poder	(BOBBIO,	2000,	p.	164).	Em	política,	
o	uso	da	força	como	possibilidade	ou	ameaça	depende	da	legitimidade	conferida	
pelos	cidadãos.	É	o	uso	da	força	com	a	força	da	lei.	E	isso	confere	ao	Estado	o	
poder	exclusivo	de	utilizá-la,	sem	o	que	o	poder	é	ilegítimo.	Em	outras	palavras,	
somente	o	poder	político	tem	o	direito	de	exercer	o	poder	com	base	no	uso	ou	
na	ameaça	do	uso	da	violência.	Nenhum	outro	indivíduo,	grupo	ou	organização	
na	Sociedade	pode	fazê-lo,	o	que	confere	ao	Estado	o	monopólio	do	uso	da	força	
para	o	exercício	da	autoridade.
É	nessa	perspectiva	 que	devemos	 entender	 a	 explicação	 oferecida	pelo	
filósofo	inglês	Thomas	Hobbes.	No	grande	clássico	da	teoria	política,	intitulado	
“O	leviatã”,	Hobbes	explica	mais	ou	menos	assim	os	fundamentos	do	contrato	
social,	 base	 da	 teoria	 do	 Estado	 moderno:	 trata-se	 da	 passagem	 do	 estado	
de	natureza	 (estado	selvagem)	para	o	estado	civil	 (estado	político),	 em	que	os	
homens	abdicam	do	direito	de	usar	cada	qual	sua	força	para	se	protegerem	e	ou	
alcançarem	seus	interesses.	É	quando	todos	resolvem	outorgar	esse	poder	a	um	
ente	superior,	qual	seja,	o	Estado,	que	Hobbes	chama	alegoricamente	de	Leviatã,	
em	recorrência	à	figura	bíblica	(HOBBES	apud	BOBBIO,	2000,	p.	165).
Nessa	perspectiva,	os	governos	em	geral	são	o	exemplo	de	agentes	com	
autoridade	exclusiva	de	usar	a	força	física	para	obrigar	a	obediência	aos	cidadãos	
nas	circunscrições	do	território	sobre	o	seu	controle.	Um	policial,	por	exemplo,	é	
uma	extensão	humana	da		autoridade	estatal	sobre	o	cidadão.	Mas	o	monopólio	
do	uso	da	força	não	deve	ser	confundido	com	autoridade	sem	limites,	embora	
na	prática	isso	muitas	vezes	aconteça.	Por	exemplo,	se	esse	policial,	instituido	da	
autoridade	que	lhe	é	outorgada,	ameaça	um	cidadão,	o	obriga	a	uma	confissão	
ou	lhe	cobra	propina	sob	ameaça,	estará	fora	dos	limites	da	autoridade	política.	
Trata-se,	nesse	caso,	de	um	exercício	ilegítimo	do	poder.
UNIDADE 1 — POLÍTICA: TEORIA E CONCEITOS ELEMENTARES DA POLÍTICA
22
‘Naturalmente,	 estamos	 tratando	 do	 fenômeno	 do	 poder	 de	 um	ponto	
de	 vista	 contemporâneo.	O	 poder	 é	 tão	 antigo	 quanto	 a	 convivência	 humana.	
Admitido	isso,	não	podemos	afirmar	que	sempre	houve	legitimidade	no	exercício	
do	poder.	A	força	de	um	sobre	outro	é	antes	de	tudo	uma	violência.	O	que	torna	
esse	uso	minimamente	 aceitável	 é	quando	a	 força	 é	usada	 em	defesa	 contra	 a	
violência	alheia.	E	é	exatamente	essa	reação	que,	ao	longo	da	história	humana,	
vai	revestir	o	uso	da	violência	de	moralidade.	É	a	constituição	da	autoridade,	em	
nome	da	ordem,	que	legitimará	o	uso	da	força.
Todavia,	 se	 todos	 se	 atribuírem	 essa	 autoridade,	 o	 resultado	 tenderá	 a	
confirmar	 o	 temor	 hobbesiano:	 deixados	 à	 própria	 sorte,	 os	 seres	 humanos	
entrariam	em	guerra	permanente	e	se	matariam	uns	aos	outros.	É	como	que	uma	
consciência	 adquirida	 pelos	 seres	 humanos	 de	 que	 seus	 egoísmos	 ameaçam	 a	
própria	sobrevivência	da	espécie.	É	para	assegurá-la,	que	os	homens	estabelecem	
o	acordo,	isto	é,	o	tal	“contrato	social”.	Desse	modo,	outorgam	o	poder	a	um	ente	
superior,	um	líder,	chefe	ou	governante,	a	quem	incumbem	a	tarefa	de	exercer	o	
poder	em	nome	da	ordem,	da	sobrevivência.
Admitida	a	evolução	histórica,	isso	nos

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