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D PENAL aula-04

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Aula 04
Noções de Direito Penal p/ PC-MS
(Agente de Polícia Científica) - 2021 -
Pré-Edital
Autores:
Renan Araujo, Time Renan Araujo
Aula 04
1 de Março de 2021
05387839156 - Julio Cesar seccatto
 
1 
Sumário 
CONCURSO DE PESSOAS ............................................................................................................................. 3 
1 Conceito, natureza e características .................................................................................................... 3 
2 Requisitos ............................................................................................................................................ 4 
2.1 Pluralidade de agentes ............................................................................................................... 4 
2.2 Relevância causal da colaboração ............................................................................................... 7 
2.3 Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) ............................................................................................ 8 
2.4 Identidade de infração penal ...................................................................................................... 8 
2.5 Existência de fato punível ............................................................................................................ 8 
3 Modalidades ...................................................................................................................................... 9 
3.1 Coautoria .................................................................................................................................... 9 
3.2 Participação .............................................................................................................................. 12 
4 Comunicabilidade das circunstâncias ................................................................................................. 15 
4.1 Espécies de elementares e de circunstâncias ............................................................................... 15 
5 Cooperação dolosamente distinta ..................................................................................................... 16 
6 Multidão delinquente ........................................................................................................................ 17 
CONCURSO DE CRIMES .............................................................................................................................. 18 
1 Conceito e natureza .......................................................................................................................... 18 
2 Espécies ............................................................................................................................................ 18 
2.1 Concurso material (ou real) de crimes ......................................................................................... 18 
2.2 Concurso formal de crimes ......................................................................................................... 19 
2.3 Aplicação da pena no concurso formal....................................................................................... 20 
2.4 Crime continuado ....................................................................................................................... 21 
2.5 Requisitos para a configuração do crime continuado .................................................................. 22 
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2 
2.6 Aplicação da pena no crime continuado ..................................................................................... 24 
2.7 Crime continuado e conflito de leis penais no tempo ................................................................... 24 
2.8 Crime continuado e prescrição ................................................................................................... 25 
2.9 Aplicação da pena de multa no concurso de crimes .................................................................... 25 
DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ......................................................................................................... 26 
SÚMULAS PERTINENTES ............................................................................................................................... 28 
1 - Súmulas do STF .................................................................................................................................. 28 
2 - Súmulas do STJ ................................................................................................................................... 28 
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA ..................................................................................................................... 29 
EXERCÍCIOS COMENTADOS ........................................................................................................................ 31 
EXERCÍCIOS PARA PRATICAR ....................................................................................................................... 74 
GABARITO .................................................................................................................................................. 92 
 
 
Olá, meus amigos! 
 
Na aula de hoje vamos estudar dois temas muito importantes. O primeiro deles está relacionado à própria 
figura delituosa e sua caracterização, que é o concurso de agentes. 
O segundo está relacionado aos efeitos da prática criminosa, mais especificamente, à aplicação da pena, que 
é o concurso de crimes. 
 
Bons estudos! 
Prof. Renan Araujo 
Renan Araujo, Time Renan Araujo
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 CONCURSO DE PESSOAS 
1 Conceito, natureza e características 
O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboração de dois ou mais agentes para a 
prática de um delito ou contravenção penal. 
O concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto 
a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada 
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o 
resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Circunstâncias incomunicáveis 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Casos de impunibilidade 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em 
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Mas como compreender a natureza jurídico-penal de uma conduta criminosa praticada por diversas 
pessoas? Três teorias surgiram: 
• Pluralista (ou pluralística) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime próprio, 
existindo tantos crimes quantos forem os participantes da conduta delituosa, já que a cada 
um corresponde uma conduta própria, um elemento psicológico próprio e um resultado 
igualmente particular1. 
• Dualista (ou dualística) – Segundo esta teoria, há um crime para os autores, que realizam a 
conduta típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que 
desenvolvem uma atividade secundária. 
 
1 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Ed. Saraiva, São Paulo, 2015, p. 548 
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• Monista (ou monística ou unitária) – A codelinquência (concurso de agentes) deve ser 
entendida, para esta teoria, como CRIME ÚNICO, devendo todos responderem pelo mesmo 
crime. É a adotada pelo CP. Isso não significa que todos que respondem pelo delito terão a 
mesma pena. A pena de cada um irá corresponder à valoração de cada uma das condutas 
(cada um responde “na medida de sua culpabilidade). Em razão desta diferenciação na pena 
de cada um dos infratores, diz-se que o CP adotou uma espécie de teoria monista temperada 
(ou mitigada). 
O concurso de pessoas pode ser, basicamente, de duas espécies: 
• EVENTUAL – Neste caso, o tipo penal não exige que o fato seja praticado por mais de uma 
pessoa. Isso não impede, contudo, que eventual ele venha a ser praticado por mais de uma 
pessoa (Ex.: Furto, roubo, homicídio). 
• NECESSÁRIO – Nesta hipótese o tipo penal exige que a conduta seja praticada por mais de 
uma pessoa. Divide-se em: a) condutas paralelas (crimes de conduta unilateral): Aqui os 
agentes praticam condutas dirigidas à obtenção da mesma finalidade criminosa (associação 
criminosa, art. 288 do CPP); b) condutas convergentes (crimes de conduta bilateral ou de 
encontro): Nesta modalidade os agentes praticam condutas que se encontram e produzem, 
juntas, o resultado pretendido (ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso os agentes 
praticam condutas uns contra os outros (ex. Crime de rixa) 
2 Requisitos 
Mas quais são os requisitos para que se possa falar em concurso de pessoas? Cinco são os requisitos 
para que seja caracterizado o concurso de pessoas. Vejamos: 
2.1 Pluralidade de agentes 
Para que possamos falar em concurso de pessoas, é necessário que tenhamos mais de uma pessoa a 
colaborar para o ato criminoso. É necessário que sejam agentes culpáveis? A doutrina se divide, mas 
prevalece o entendimento de que todos os comparsas devem ter discernimento, de maneira que a ausência 
de culpabilidade por doença mental, por exemplo, afastaria o concurso de agentes, devendo ser reconhecida 
a autoria mediata. 
Assim, se uma pessoa, perfeitamente mental e maior de 18 anos (penalmente imputável) determina a 
um doente mental (sem qualquer discernimento) que realize um homicídio, não há concurso de pessoas, 
mas autoria mediata, pois o autor do crime foi o mandante, que se valeu de uma pessoa sem vontade 
como mero instrumento2 para praticar o crime. Não há concurso, pois um dos agentes não era culpável. 
Todavia, é bom ressaltar que, nos crimes plurissubjetivos3, se um dos colaboradores não é culpável 
por qualquer razão, mesmo assim permanece o crime. Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (crime 
 
2 WELZEL, Hans. Derecho Penal, parte general. Ed. Roque Depalma. Buenos Aires, 1956, p. 106 
3 Aqueles em que necessariamente deve haver mais de um agente, como no crime de associação criminosa, por exemplo – 
art. 288 do CP 
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de furto, por exemplo, que eventualmente pode ser um crime qualificado pelo concurso de pessoas, embora 
seja, em regra, unissubjetivo) também não é necessário que todos os agentes sejam culpáveis, bastando 
que apenas um o seja para que reste configurado o delito em sua forma qualificada. 
EXEMPLO: José, maior e capaz, perfeitamente imputável, combina de realizar um roubo 
juntamente com Paulo, adolescente de 17 anos de idade e, portanto, inimputável. O roubo 
se realiza. Neste caso, não podemos falar em autoria mediata entre José e Paulo, eis que 
Paulo não foi mero instrumento nas mãos de José. Paulo quis participar da empreitada 
criminosa, e responderá por isso, de acordo com as regras próprias do ECA4. Neste caso, 
como não houve autoria mediata, José deverá responder pelo crime roubo com a 
majorante de ter sido o crime praticado em concurso de pessoas5, ainda que Paulo 
responda de acordo com o ECA, e não de acordo com a Lei Penal. 
Nessas duas últimas hipóteses, no entanto, não há propriamente concurso de pessoas, mas o que a 
Doutrina chama de concurso impróprio, ou concurso aparente de pessoas. Contudo, essa ressalva só se 
aplica ao caso de concurso entre culpável e “não culpável que possui discernimento”. Assim, se o agente 
culpável se vale de alguém sem culpabilidade como mero instrumento, sem que ele possua qualquer 
discernimento, teremos sempre autoria mediata. 
2.1.1 Autoria mediata 
A autoria mediata ocorre quando o agente (autor mediato) se vale de uma pessoa como instrumento 
(autor imediato) para a prática do delito. 
EXEMPLO: José, maior e capaz, entrega uma arma de fogo a uma criança de 05 anos, 
dizendo que ela deve colocar a arma na cabeça de Maria e fazer uma brincadeira, pois ao 
apertar o gatilho, sairá água da arma. A criança aperta o gatilho e Maria morre. Neste caso, 
temos autoria mediata, pois José (autor mediato) se valeu da criança (executor) como mero 
instrumento para a prática do delito. 
 
Todavia, não basta que o executor seja um inimputável, ele deve ser um verdadeiro INSTRUMENTO do 
mandante, ou seja, ele não deve ter qualquer discernimento no caso concreto. 
Ex.: José e Pedro (este menor de idade, com 17 anos) combinam de matar Maria. José arma 
o plano e entrega a arma a Pedro, que a executa. Neste caso, Pedro é inimputável por ser 
 
4 Estatuto da Criança e do Adolescente. 
5 Art. 157, §2º, II do CP. 
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menor de 18 anos, mas possui discernimento, não se pode dizer que foi um mero 
“instrumento” de José. Assim, aqui não teremos autoria mediata, mas concurso aparente 
de pessoas. 
Ex.2: José, maior e capaz, entrega a Mauro (um doente mental sem nenhum discernimento) 
uma arma e diz para ele atirar em Maria, que vem a óbito. Neste caso há autoria mediata, 
pois Mauro (o inimputável) foi mero instrumento nas mãos de José. 
 Mas esta é a única hipótese de autoria mediata? A resposta é negativa. A melhor Doutrina divide a 
autoria mediata em três hipóteses, basicamente6: 
1 – Autoria mediata por erro do executor – Neste caso, aquele que pratica a conduta foi induzido a erro 
pelo mandante (erro de tipo ou erro de proibição). Ex.: Médico que entrega à enfermeira uma injeção 
contendo determinada substância tóxica, e determina que esta aplique no paciente, alegando que se trata 
de morfina, para aliviar a dor7. A enfermeira, aqui, não atua dolosamente (do ponto de vista “finalístico”), 
pois apesar de dar causa à morte do paciente (causalidade física, pois foi ela quem injetou a substância), não 
dirigiu sua conduta a este resultado. O domínio do fato pertencia ao médico, o real infrator. 
2 – Autoria mediata por coação do executor – Aqui o infrator coage uma terceira pessoa a praticar um delito. 
Em se tratando de coação MORAL irresistível, teremos um agente não culpável (a coação moral irresistível 
afasta a culpabilidade). Desta forma, aquele que executa o faz em situação de não culpabilidade. A 
culpabilidade recai apenas sobre o coator, não sobre o coagido. Ex.: Médico que determina à enfermeira que 
aplique sobre o paciente uma dose cavalar de veneno. O médico, porém, não esconde da enfermeira que se 
trata de veneno, ao contrário deixa isso bem claro. Porém, diz à enfermeira que se ela não fizer o que foi 
determinado, irá matar sua filha. Vejam que, neste caso, a enfermeira sabe que está injetando o veneno, de 
forma que age dolosamente, mas ainda assim sem culpabilidade, por inexigibilidadede conduta diversa. 
3 – Autoria mediata por inimputabilidade do agente – Nesta hipótese o infrator se vale de uma pessoa 
inimputável para a prática do delito. A inimputabilidade, aqui, pressupõe que o executor (inimputável) não 
tenha discernimento necessário8. Caso o executor, mesmo inimputável, possua discernimento, não haverá 
autoria mediata. Ex.: José, 20 anos, organiza um plano para furtar uma loja de eletrônicos, e combina com 
Marcelo, de 17, a execução do plano. Neste caso, não há autoria mediata, pois Marcelo, a despeito de sua 
inimputabilidade legal, tem discernimento para não ser considerado como “objeto”. Por outro lado, no 
mesmo exemplo, imaginemos que Marcelo tenha 30 anos, mas seja absolutamente incapaz de entender o 
que se passa (doente mental completo). Neste caso, a inimputabilidade de Marcelo afasta o reconhecimento 
do concurso de pessoas com José, que responderá como autor mediato do crime. 
É cabível autoria mediata nos crimes próprios e de mão própria? Em relação aos crimes próprios se 
admite a autoria mediata, desde que o autor MEDIATO reúna as condições especiais exigidas pelo tipo 
penal. 
 
6 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 560 
7 O exemplo é de Hans Welzel. (cf. WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 106) 
8 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 107-108 
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EXEMPLO: Paulo, servidor público, coage moralmente Maria (coação irresistível), 
obrigando-a a subtrair 10 notebooks da repartição em que ele, Paulo, exerce suas funções. 
Paulo, para a execução do delito, se valeu de sua função para facilitar a subtração. Neste 
caso, Paulo poderá responder por peculato-furto na qualidade de autor mediato. 
Mas, e se Maria é quem fosse a servidora e Paulo fosse um particular? Poderia haver autoria 
mediata? Não, neste caso não poderíamos falar em autoria mediata. 
Contudo, se não há autoria mediata e não há concurso de pessoas (pois não há concurso de pessoas 
entre coator e coagido), Paulo ficará impune? Não, a Doutrina desenvolveu, para tais casos, a figura da 
AUTORIA POR DETERMINAÇÃO. Consiste, basicamente, em punir aquele que, embora não sendo autor nem 
partícipe, exerce sobre a conduta domínio EQUIPARADO à figura da autoria.9 
Não se pode considerar o agente como autor por não reunir os elementos necessários para tanto. 
Também não se pode considerá-lo como partícipe, eis que a participação pressupõe o crime praticado por 
outro autor (e não há). Ele será punido, portanto, por ser o autor da determinação para a conduta (ter sido 
o responsável por sua ocorrência). 
Em relação aos crimes de mão própria, contudo, não se admite a figura da autoria mediata, eis que o 
crime não pode ser realizado por interposta pessoa (Ex.: A testemunha, no crime de falso testemunho, não 
pode coagir alguém a depor em seu lugar, prestando testemunho falso). 
Neste caso, porém, exemplificativamente, se a testemunha for coagida por terceira pessoa, esta 
terceira pessoa poderá ser considerada AUTOR por determinação, conforme explicado anteriormente. 
2.2 Relevância causal da colaboração 
A participação do agente deve ser relevante para a produção do resultado, de forma que a colaboração 
que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal. 
Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à execução, ou seja, anterior à 
consumação do delito. Se a colaboração for posterior à consumação do delito, como o fato já ocorreu, não 
há concurso de pessoas, podendo haver, no entanto, outro crime (favorecimento real, receptação, etc.). 
Porém, se a colaboração for posterior à consumação, mas combinada previamente, há concurso de 
pessoas. Ex: Imagine que Poliana decide matar seus pais, e combina com seu namorado para que ele esteja 
às 20h em ponto na porta de sua casa para lhe ajudar na fuga. Assim, a conduta do namorado (auxiliar na 
fuga) é posterior à consumação, mas fora combinada anteriormente, havendo, portanto, concurso de 
pessoas. Diversa seria a hipótese, no entanto, se o namorado tivesse ido à casa da namorada sem saber que 
deveria lhe ajudar na fuga. Lá chegando, a namorada conta o ocorrido e ele, a partir daí, concorda em auxiliá-
la na fuga. Nessa hipótese, o namorado comete o crime de favorecimento pessoal (nos termos do art. 348 
do CP). Cuidado com isso! 
 
9 PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. São Paulo, 2008, p. 
580/581 
Renan Araujo, Time Renan Araujo
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2.3 Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) 
Também é conhecido como concurso de vontades. Assim, para que haja concurso de pessoas, é 
necessário que a colaboração dos agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo menos tenha havido 
adesão de um à conduta do outro. 
Deste modo, a colaboração meramente causal, sem que tenha havido combinação entre os agentes, 
não caracteriza o concurso de pessoas. Trata-se do princípio da convergência. Caso haja colaboração dos 
agentes para a conduta criminosa, mas sem vínculo subjetivo entre eles, estaremos diante da autoria 
colateral, e não da coautoria. 
2.4 Identidade de infração penal 
Também conhecido como unidade de infração penal para todos os agentes, está fundamentado 
no art. 29 do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984). 
Daí podemos perceber que, se 20 pessoas colaboram para a prática de um delito (homicídio, por 
exemplo), todas elas respondem pelo homicídio, independentemente da conduta que tenham praticado (um 
apenas conseguiu a arma, o outro dirigiu o veículo da fuga, outro atraiu a vítima, etc.). As condutas dos 
agentes, portanto, devem constituir algo juridicamente unitário10. 
2.5 Existência de fato punível 
Trata-se do princípio da exterioridade. Assim, é necessário que o fato praticado pelos agentes seja 
punível, o que de um modo geral exige pelo menos que este fato represente uma tentativa de crime, ou 
crime tentado. 
Para a caracterização do crime tentado, é necessário que seja dado início à execução do crime. Se o 
fato ficar meramente no plano abstrato, no plano da cogitação, não há fato punível, nos termos do art. 14, 
II do CP. 
 O art. 31 do CP determina, ainda, de modo específico para a hipótese de concurso de pessoas, que a 
colaboração só é punível se o crime for, ao menos, tentado: 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em 
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). 
 Importante ressaltar que, em alguns casos, os atos preparatórios já configuram fato punível, seja 
porque a lei assim expressamente determina, seja porque eles constituem tipo penal autônomo. 
 
10 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 553 
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==7e5f7==
 
9 
3 Modalidades 
3.1 Coautoria 
Para entendermos o fenômeno da coautoria, devemos, primeiramente, estudar o que seria a autoria 
do delito. 
Várias teorias, ao longo do tempo, procuraram definir o conceito de AUTOR. 
O conceito extensivo de autor não diferencia autor e partícipe, considerando que todos aqueles que 
concorrem para o crime são autores do delito. Esse conceito é baseado numa premissa “causal-naturalista” 
de que todo aquele que dá causa ao delito (por qualquer forma), deve ser considerado autor do crime. 
Contudo, como pelo conceito extensivo de autor não erapossível definir quem era autor e quem era 
partícipe, surgiu a teoria subjetiva da participação, que considerava como autor aquele que pratica o fato 
como próprio, que quer o crime “como próprio”, como seu, e partícipe aquele que quer o fato como alheio, 
pratica uma conduta acessória ao “crime de outra pessoa”.11 Isso era fundamental para a fixação da pena de 
cada um, já que aos autores deveriam ser aplicadas penas, em tese, mais severas. 
Como o conceito extensivo apresentou mais problemas que soluções, surgiu o conceito restritivo de 
autor12. Para esta teoria restritiva13, autor e partícipe não se confundem. Autor será aquele que praticar a 
conduta descrita no núcleo do tipo penal (subtrair, matar, roubar, etc.). Todos os demais, que de alguma 
forma prestarem colaboração (material ou moral), serão considerados partícipes. Esta foi a teoria adotada 
pelo CP. 
Agora que já sabemos que o CP diferencia autor e partícipe, precisamos saber qual é o critério para 
se diferenciar um do outro. Três teorias surgiram. 
A primeira teoria, a teoria objetivo-formal, estabelece que autor é quem realiza a conduta prevista 
no núcleo do tipo, sendo partícipes todos os outros que colaboraram para isso, mas não realizaram a conduta 
descrita no núcleo do tipo. Para esta teoria, por exemplo, no crime de homicídio, somente seria autor aquele 
que efetivamente praticasse a conduta de “matar” alguém. Todos os outros colaboradores seriam partícipes. 
O grande problema desta teoria é considerar o autor intelectual (mandante) como partícipe, e não como 
autor. Mais que isso: Essa teoria não explica o fenômeno da autoria mediata (quando alguém se vale de um 
inimputável para cometer um crime). 
A segunda teoria, a teoria objetivo-material, entende que autor é quem colabora com participação 
de maior importância para o crime, e partícipe é quem colabora com participação reduzida, 
independentemente de quem pratica o núcleo do tipo (verbo que descreve a conduta criminosa – matar, 
subtrair, etc.). 
 
11 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 555 
12 PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. São Paulo, 2008, p. 572. 
13 Também chamada por alguns de teoria dualista ou objetiva. 
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A terceira e última teoria, a teoria do domínio do fato, criada pelo pai do finalismo, Hans Welzel14, e 
posteriormente desenvolvida por Claus Roxin, defende que autor é todo aquele que possui o domínio da 
conduta criminosa, seja ele o executor (quem pratica a conduta prevista no núcleo do tipo) ou não15. Para 
esta teoria, o autor seria aquele que decide o trâmite do crime, sua prática ou não, etc. Essa teoria explica, 
satisfatoriamente, o caso do mandante, por exemplo, que mesmo sem praticar o núcleo do tipo (“matar 
alguém”), possui o domínio do fato, pois tem o poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa. 
Para esta teoria, o partícipe existe, e é aquele que contribui para a prática do delito16, embora não 
tenha poder de direção sobre a conduta delituosa. O partícipe só controla a própria vontade, mas a não a 
conduta criminosa em si, pois esta não lhe pertence. 
 
A teoria do domínio do fato tem por finalidade estabelecer uma diferenciação entre autor e partícipe a partir 
da noção de “controle da situação”. Aquele que, mesmo não executando a conduta descrita no núcleo do 
tipo, possui todo o controle da situação, inclusive com a possibilidade de intervir a qualquer momento para 
fazer cessar a conduta, deve ser considerado autor, e não partícipe. 
O controle (ou domínio) da situação pode se dar mediante17: 
1 - Domínio da ação - O agente realiza diretamente a conduta prevista no tipo penal 
2 - Domínio da vontade - O agente não realiza a conduta diretamente, mas é o "senhor do crime", 
controlando a vontade do executor, que é um mero instrumento do delito (hipótese de autoria mediata). 
3 - Domínio funcional do fato - O agente desempenha uma função essencial e indispensável ao 
sucesso da empreitada criminosa, que é dividida entre os comparsas, cabendo a cada um uma parcela 
significativa, essencial e imprescindível. 
Em todos estes casos, o agente será considerado autor do delito. 
A teoria do domínio do fato, porém, não se aplica aos crimes culposos, pois neste não há domínio 
final do fato, pois o fato final (resultado) não é buscado pelos agentes, que pretendiam outro resultado18. 
 
14 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 105 
15 MUÑOZ CONDE, Francisco. Teoría general del delito. Ed. Temis Editorial. Bogotá, 1999, p. 155-156 
16 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p.117-119 
17 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 557-558 
18 Idem, p. 558 
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A teoria adotada pelo CP é a teoria objetivo-formal, considerando autor aquele que realiza a conduta 
descrita no núcleo do tipo, já que denota sua “vontade de autor” (animus auctoris), em contraposição à 
“vontade de colaboração” do partícipe (animus socii). Entretanto, considera-se adotada a teoria do domínio 
do fato para os crimes em que há autoria mediata, autoria intelectual, etc., de forma a complementar a 
teoria adotada. 
Esta é, portanto, a posição doutrinária a respeito da posição do CP sobre a diferença entre autor e 
partícipe. 
Desta maneira, após entendermos quem seria considerado autor do delito para o CP, podemos definir 
a coautoria como a espécie de concurso de pessoas na qual duas ou mais pessoas praticam a conduta descrita 
no núcleo do tipo penal. Assim, no crime de roubo, se duas ou mais pessoas entram num banco, portando 
armas, e anunciam um assalto, todas elas praticaram a conduta descrita no núcleo do tipo do art. 157, § 2°, 
I e II do CP (subtrair para si ou para outrem, mediante violência ou grave ameaça...). Logo, todas são 
coautoras do delito. No mesmo exemplo, porém, o dono do carro, que emprestou o veículo para a fuga, é 
mero partícipe. 
 
Não confundam coautoria com autoria colateral. Na coautoria, deve haver vínculo subjetivo ligando as 
condutas de ambos os autores. Na autoria colateral, ambos praticam o núcleo do tipo, mas um não age em 
acordo de vontades com o outro. Imaginem que A e B, desafetos de C, sem que um saiba da existência do 
outro, escondem-se atrás de árvores esperando a passagem de C, a fim de matá-lo. Quando C passa, ambos 
atiram, e C vem a óbito. Nesse caso, não houve coautoria, mas autoria colateral. Entretanto, aí vai mais uma 
informação: Imaginem que o laudo identifique que apenas uma bala atingiu C, direto na cabeça, levando-o 
a óbito. Nesse caso, o laudo não conseguiu apontar de qual arma saiu a bala que matou C. Nesse caso, como 
não se pode definir quem efetuou o disparo fatal, ambos respondem pelo crime de homicídio TENTADO, 
pois não se pode atribuir a nenhum deles o homicídio consumado, já que o laudo é inconclusivo quanto a 
isto. Este é o fenômeno da autoria incerta. No entanto, se ambos estivessem agindo em conluio, com vínculo 
subjetivo, ou seja, se houvesse concurso de pessoas, ambos responderiam por crime de homicídio 
CONSUMADO, pois nesse caso seria irrelevante saber de qual arma partiu a bala que levou C a óbito. 
A coautoria pode ser funcional (ou parcial), que é aquela na qual a conduta dos agentes são diversas 
e se somam, de forma a produzir o resultado. Assim, se Ricardo segura a vítima para que Poliana a espanque, 
ambos são coautores do crime de lesão corporal, mediante coautoria funcional. 
Porém, a coautoria pode ser, ainda, material (direta), que é a hipótese em que ambos os coautores 
realizam a mesma conduta. Assim, no exemplo acima, se Ricardo e Poliana espancassem a vítima, ambos 
seriam coautores mediantecoautoria material. 
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Abaixo vou mostrar para vocês algumas hipóteses polêmicas de aplicação do instituto da coautoria: 
➢ Admite-se a coautoria nos crimes próprios, desde que ambos os agentes possuam a qualidade 
exigida pela lei, ou que, aqueles que não a possuem, ao menos tenham ciência de que o outro agente 
age nessa qualidade. 
➢ Não se admite a coautoria nos crimes de mão-própria, pois são considerados de conduta infungível, 
só podendo ser praticados pelo sujeito especificamente descrito pela lei. 
➢ A Doutrina se divide quanto à possibilidade de coautoria em crimes omissivos, da seguinte forma: 
1 – Parte entende que NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE COAUTORIA OU PARTICIPAÇÃO (Concurso 
de agentes), pois TODAS AS PESSOAS PRATICAM O NÚCLEO DO TIPO, DE MANEIRA 
AUTÔNOMA; 
2 – Outra parte da Doutrina entende poderia haver concurso de pessoas, na modalidade de 
coautoria, mas é minoritário; 
3 – A Doutrina ligeiramente majoritária entende que é possível PARTICIPAÇÃO, mas NÃO 
COAUTORIA. 
➢ Na autoria mediata não há concurso de pessoas entre autor mediato autor imediato, respondendo 
apenas o autor mediato, que se valeu de alguém sem culpabilidade para a execução do delito. 
➢ Entretanto, é possível coautoria e também participação na autoria mediata, desde que haja 
colaboração entre os agentes mediatos. NUNCA HAVERÁ CONCURSO DE PESSOAS ENTRE AUTOR 
MEDIATO E AUTOR IMEDIATO. 
➢ CUIDADO! Na coação física irresistível, não há autoria mediata, mas autoria direta, pois o agente 
que realiza a ação não possui conduta, já que não há vontade. Nesse caso, aquele que pratica a 
coação física irresistível é autor direto, não mediato; 
➢ Admite-se a autoria mediata nos crimes próprios, mas não nos crimes de mão própria (há alguns 
doutrinadores que entendem ser possível). 
3.2 Participação 
Conforme estudamos, no Brasil adotou-se o conceito restritivo de autor, distinguindo-se autor e 
partícipe. Adotou-se, ainda, a teoria objetivo-formal, de forma que podemos definir a participação como a 
modalidade de concurso de pessoas na qual o agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a 
conduta descrita no núcleo do tipo penal. 
A participação pode ser: 
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 Moral – É aquela na qual o agente não ajuda materialmente na prática do crime, mas instiga ou induz 
alguém a praticar o crime. A instigação ocorre quando o partícipe age no psicológico do autor do 
crime, reforçando a ideia criminosa, que já existe na mente deste. O induzimento, por sua vez, ocorre 
quando o partícipe faz surgir a vontade criminosa na mente do autor, que não tinha pensado no 
delito; 
 Material – A participação material é aquela na qual o partícipe presta auxílio ao autor, seja 
fornecendo objeto para a prática do crime, seja fornecendo auxílio para a fuga, etc. É também 
chamada de cumplicidade. Este auxílio não pode ser prestado após a consumação, salvo se o auxílio 
foi previamente ajustado. 
 Já que o partícipe não pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal, como puni-lo? 
A punibilidade do partícipe não pode ser realizada diretamente pela descrição do fato típico. De fato, 
aquele que empresta uma arma para que alguém mate outra pessoa, não poderia responder por homicídio, 
pois o art. 121 do CP diz: “matar alguém”. Aquele que empresta a arma não está “matando”, por isso se diz 
que não há, aqui, adequação típica imediata. 
Contudo, a punibilidade do partícipe é possível porque há normas de extensão da adequação típica 
(no caso, o art. 29 do CP), que permitem a extensão do raio de aplicação do tipo penal para aqueles que, de 
alguma forma, tenham contribuído para o delito. Trata-se da chamada adequação típica mediata. 
Como a conduta do partícipe é considerada acessória em relação à conduta do autor (que é principal), 
o partícipe é punido em razão da teoria da acessoriedade19. Porém, existem quatro teorias da acessoriedade: 
• Teoria da acessoriedade mínima – Entende que a conduta principal deva ser um fato típico, 
não importando se é ou não um fato ilícito. EXEMPLO: Imagine que Marcio e João combinam 
de matar Paulo. Na data combinada para a execução, Marcio guia o carro até o local e fica 
esperando do lado de fora. João se dirige até Paulo e, após uma discussão, Paulo começa a 
agredir João, que na verdade mata Paulo em legítima defesa. João matou Paulo em legítima 
defesa e não em razão do ajuste com Marcio (não tendo praticado fato ilícito, mas apenas 
típico), mas por esta teoria, mesmo assim Marcio responderia como partícipe do crime. Veja 
que João, de fato, matou Paulo. Contudo, o fato não é ilícito, pois João agiu em legítima 
defesa. Porém, para esta teoria, ainda que a conduta de João seja considerada apenas típica, 
mas não ilícita, Marcio deveria ser punido. O pior de tudo é que, neste caso, Márcio, que não 
praticou a conduta seria punido, mas João seria absolvido pela legítima defesa. 
• Teoria da acessoriedade limitada – Exige que o fato praticado (conduta principal) seja pelo 
menos uma conduta típica e ilícita. Assim, no exemplo dado acima, a conduta do partícipe 
Marcio não é punível, pois a conduta principal, apesar de típica, não é ilícita. Veja que, para 
esta corrente Doutrinária, se o fato praticado pelo autor NÃO FOR ILÍCITO (Ainda que seja 
um fato típico), em razão de legítima defesa, etc., o partícipe não deve ser punido. 
 
19 A teoria da acessoriedade deriva de uma das teorias dos FUNDAMENTOS da punibilidade do partícipe, que é a TEORIA DO 
FAVORECIMENTO (ou da CAUSAÇÃO), que diz que o partícipe deve ser punido por ter coloborado para que o delito fosse 
realizado. Em contraposição a esta, havia a teoria da participação na culpabilidade, que defendia que o partícipe deveria ser 
punido apenas por exercer “influência negativa” sobre o autor. Esta última foi abandonada pela Doutrina há algumas 
décadas. 
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• Teoria da acessoriedade máxima – Para esta teoria, o partícipe só será punido se o fato for 
típico, ilícito e praticado por agente culpável. Essa teoria faz exigência irrazoável, pois a 
culpabilidade é uma questão pessoal do agente, não guardando relação com o fato. Assim, 
imagine que Carlos, maior de idade, seja partícipe de um roubo praticado por Lucas, menor 
de idade. Para esta corrente, Carlos não poderia responder pelo roubo praticado (na 
qualidade de partícipe), pois Lucas (o autor principal) é inimputável (não tem culpabilidade), 
sendo o fato apenas típico e ilícito, sem o complemento da culpabilidade. 
• Teoria da hiperacessoriedade – Exige que, além de o fato ser típico e ilícito e o agente 
culpável, o autor tenha sido efetivamente punido para que o partícipe responda pelo crime. É 
ainda mais irrazoável que a última. Imagine que José seja partícipe de um roubo praticado por 
Marcelo. No decorrer do processo, Marcelo vem a falecer (o que gera a extinção da 
punibilidade de Marcelo, nos termos do CP). Para esta corrente, como houve extinção da 
punibilidade em relação a Marcelo (o autor do delito), o partícipe (José) não poderá mais 
ser punido. 
O Nosso CP não adotou expressamente nenhuma das quatro teorias, mas com certeza não adotou 
a teoria da acessoriedade mínima nem a teoria da hiperacessoriedade (as extremas). 
A Doutrina entende que a teoria que mais se amolda ao nosso sistema é a teoria da acessoriedade 
limitada20, exigindo que o fato seja somente típico e ilícito para que o partícipe responda pelo crime.Questões interessantes acerca da participação: 
➢ A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação é de menor importância (art. 29, § 1° 
do CP). Isto não se aplica às hipóteses de coautoria, mas apenas à participação; 
➢ A Doutrina admite a participação nos crimes comissivos por omissão, quando o partícipe devia e 
podia evitar o resultado (art. 13, § 2° do CP). 
➢ A participação inócua não se pune. Assim, se A empresta uma faca a B, de forma a auxiliá-lo a matar 
C, e B mata C usando seu revólver, a participação de A foi absolutamente inócua, pois em nada 
auxiliou no resultado. Da mesma forma, se A instiga B a matar C, e B realiza a conduta porque já 
estava determinado a isso, a instigação promovida por A não teve qualquer eficácia, pois B já mataria 
C de qualquer forma. 
➢ Participação em cadeia é possível: Assim, se A empresta uma arma a B, para que este a empreste a 
C, a fim de que este último mate D, tanto A quanto B são partícipes do crime, por prestarem auxílio 
material em cadeia. 
 
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 565 
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➢ A participação em ação alheia ocorre quando o partícipe, sem qualquer liame subjetivo com o autor, 
contribui de maneira culposa para a prática do delito. Assim, o funcionário público que não tranca a 
porta da repartição ao final do expediente, e esta vem a ser furtada por um particular na madrugada, 
responde por peculato culposo (art. 312, § 2° do CP), enquanto o particular responde por furto. Não 
há concurso de pessoas pois falta o liame subjetivo entre ambos (coerência de vontades). 
4 Comunicabilidade das circunstâncias 
O art. 30 do CP estabelece que: 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Antes de estudarmos a comunicabilidade ou não das circunstâncias, devemos diferenciar a mera 
circunstância da circunstância elementar do crime. 
A circunstância elementar é aquela que se refere a algo indispensável para a caracterização do 
crime. Assim, a circunstância “alguém” no crime de homicídio, é uma elementar, pois se o fato for praticado 
contra um animal, por exemplo, não haverá homicídio. 
Por sua vez, a mera circunstância não é indispensável à caracterização do crime, pois apenas agregam 
um fato que, se presente, aumenta ou diminui a pena. Assim, o “motivo torpe” é uma circunstância não-
elementar, ou mera circunstância, pois caso o fato seja praticado sem essa circunstância, continua a existir 
homicídio, no entanto, sem a qualificadora. 
4.1 Espécies de elementares e de circunstâncias 
Podem ser subjetivas (de caráter pessoal), quando relativas à pessoa do agente. É o caso da condição 
de funcionário público, que é pessoal, pois se refere ao agente. 
Podem ser, ainda, objetivas (ou de caráter real), quando se referem ao fato criminoso em si, seu 
modus operandi, etc. Assim, o emprego de violência, no crime de roubo (art. 157 do CP) é uma elementar 
objetiva. 
As condições pessoais não se confundem com as circunstâncias ou elementares de caráter pessoal. 
As primeiras são fatores pessoais do agente, que independem da prática da infração penal. Assim, o fato de 
o agente ser menor de 21 anos é uma condição pessoal, e não uma circunstância de caráter pessoal, 
tampouco uma elementar. 
Com base nesses três institutos (elementares, circunstâncias e condições pessoais), podemos extrair 
três regras do CP: 
✓ As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam – Se A contrata B, para 
que este mate C, em razão deste último ter estuprado sua filha, A comete o crime de homicídio 
privilegiado, em razão do relevante valor moral (art. 121, § 1° do CP). Entretanto, B não 
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comete o crime de homicídio privilegiado, pois a circunstância “relevante valor moral” é 
pessoal, não se estendendo ao coautor; 
✓ As circunstâncias de caráter real, ou objetivas, se comunicam – Porém, é necessário que a 
circunstância tenha entrado na esfera de conhecimento dos demais agentes. Imagine que A 
contrata B para matar C. B informa a A que usará de emboscada (portanto, homicídio 
qualificado, nos termos do art. 121, § 2° do CP), e A concorda com isto. Nesse caso, a 
circunstância objetiva “emboscada” (relativa ao meio utilizado), se comunica, pois embora A 
não tenha usado de emboscada, concordou com esta prática por B. Diversamente, se B 
praticasse o crime mediante emboscada sem nada comunicar ao mandante, A, esta 
circunstância não se comunicaria, por não ter entrado na esfera de conhecimento de A; 
✓ As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas ou subjetivas – No entanto, mais 
uma vez se exige que estas elementares tenham entrado no âmbito de conhecimento dos 
demais agentes. Imaginem que Júlio, servidor público, convida Marcelo a entrar na repartição 
onde trabalham, valendo-se da condição de Júlio, para subtrair alguns computadores. Caso 
Marcelo conheça a condição de funcionário público de Júlio, ambos respondem pelo crime de 
peculato-furto (art. 312, § 1° do CP). Caso Marcelo desconheça essa circunstância elementar, 
responde ele apenas pelo crime de furto, pois a ausência dessa circunstância faz desaparecer 
o crime de peculato-furto, mas a conduta ainda é punível como furto comum. 
5 Cooperação dolosamente distinta 
A cooperação dolosamente distinta, também chamada de “participação em crime menos grave” ou 
“desvio subjetivo de conduta”, ocorre quando ambos os agentes decidem praticar determinado crime, mas 
durante a execução, um deles decide praticar outro crime, mais grave. Nesse caso, aplica-se o art. 29, § 2° 
do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
(...) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á 
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido 
previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
EXEMPLO: Imaginem que Camila e Herval combinam de realizar um furto a uma casa que 
imaginam estar vazia. Camila espera no carro enquanto Herval adentra à residência. 
Entretanto, ao chegar à residência, Herval se depara com dois seguranças, e troca tiros com 
ambos, levando-os a óbito (sinistro esse cara). Após, entra na casa e subtrai diversos bens. 
Volta ao carro e ambos fogem. 
Camila não quis participar de um latrocínio (que foi o que efetivamente ocorreu), mas apenas de um 
furto. Assim, segundo a primeira parte do § 2° do art. 29 do CP, responderá somente pelo furto. 
Entretanto, se ficar comprovado que Camila podia prever que o latrocínio era provável (se soubesse, 
por exemplo, que Herval estava armado e que havia a possibilidade de ter seguranças na casa), a pena do 
crime de furto (não a do latrocínio!!) será aumentada até a metade. 
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A lei diz “até a metade”, logo, o aumento pode não chegar a esse patamar. O aumento de pena irá 
variar conforme o grau de previsibilidade do crime mais grave para o qual Camila não se predispôs, mas era 
previsível. 
 
CUIDADO MASTER! Existe uma questão muito controvertida no que se refere ao concurso de pessoas. É a 
possibilidade (ou não) de concurso de pessoas em crimes CULPOSOS. 
São muitas, MUITAS ideias diferentes. Cada autor inventa alguma coisa para vender seulivro, certo? Bom, 
resumidamente, podemos definir a Doutrina majoritária da seguinte forma: 
COAUTORIA EM CRIMES CULPOSO – É possível, pois é possível que duas pessoas, de comum acordo, 
resolvam praticar uma conduta imprudente, por exemplo. Ex.: Dois rapazes resolvem atirar um móvel do 10º 
andar de um prédio, sem intenção de atingir ninguém, mas acabam lesionando uma pessoa. 
PARTICIPAÇÃO EM CRIME CULPOSO – Depende. Podemos estar falando de participação DOLOSA ou 
participação CULPOSA. 
DOLOSA – Não cabe participação dolosa em crime culposo, pois a Doutrina entende que não há “unidade 
de vontades” entre os agentes (um quer o resultado a título de dolo, e o outro, executor, é apenas um 
descuidado). Assim, não há “vínculo subjetivo” entre eles no que tange ao resultado. Logo, cada um responde 
por sua conduta. 
CULPOSA – É possível, pois é possível que alguém, por culpa, induza, instigue ou preste auxílio ao executor 
de uma conduta também culposa, e haveria “unidade de vontades”. 
CUIDADO: O STJ entende que NÃO cabe nenhum tipo de participação em crime culposo. Parte da Doutrina 
também segue este entendimento. 
6 Multidão delinquente 
Também chamada de “multidão criminosa”21, são considerados pela doutrina como aqueles atos em 
que inúmeras (incontáveis, uma multidão) pessoas praticam o mesmo delito, agindo em concurso de 
pessoas, muitas vezes sem um acordo prévio, mas cada uma aderindo tacitamente à conduta da outra. Ex.: 
Linchamentos, brigas de torcidas organizadas, saques a lojas ou a carretas tombadas, etc. 
 
21 O termo “multidão criminosa” é utilizado, dentre outros, por René Ariel Dotti (cf. DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal, 
Parte Geral. Ed. Revista dos Tribunais. 4º ed. São Paulo. 2012, p. 459) 
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A Doutrina sustenta que, mesmo nestes casos, têm-se CONCURSO DE PESSOAS, pois há vínculo 
subjetivo entre estas pessoas, ainda que tácito (não explícito). O agente que praticar o delito nestas 
condições, porém, deverá ter sua pena atenuada, nos termos do art. 65, e do CP, já que se trata de situação 
em que há maior vulnerabilidade psicológica para que uma pessoa venha a aderir a uma conduta criminosa. 
Por outro lado, os que promoverem, organizarem ou liderarem a conduta criminosa terão suas penas 
agravadas (art. 62, I do CP). 
 CONCURSO DE CRIMES 
1 Conceito e natureza 
Assim como é plenamente possível que duas ou mais pessoas se unam para praticar determinado 
delito, é plenamente possível que de uma mesma conduta (ou de uma série de condutas interligadas) surjam 
vários crimes. 
O concurso de crimes pode ser de três espécies: concurso formal, concurso material e crime 
continuado. 
A exata caracterização de cada um dos institutos é bastante importante, pois isso influenciará na 
adoção do sistema de aplicação da pena. 
Três também são os sistemas de aplicação da pena: 
• Sistema do cúmulo material – Aqui, ao agente é aplicada a pena correspondente ao 
somatório das penas relativas a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi adotado no 
que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no concurso formal impróprio ou imperfeito 
(art. 70, caput, 2° parte) e no concurso de penas de multa (art. 72 do CP); 
• Sistema da exasperação – Aplica-se ao agente somente a pena da infração penal mais grave, 
acrescida de determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao concurso formal 
próprio ou perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e ao crime continuado (art. 71 do 
CP); 
• Sistema da absorção – Aplica-se somente a pena da infração penal mais grave, dentre todas 
as praticadas, sem que haja qualquer aumento. Foi adotado (jurisprudencialmente) em 
relação aos crimes falimentares. 
2 Espécies 
2.1 Concurso material (ou real) de crimes 
Está regulado pelo art. 69 do CP: 
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais 
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em 
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que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, 
executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de 
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição 
de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá 
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Nesse fenômeno, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados. Pode ser 
homogêneo, quando todos os crimes praticados são idênticos, ou heterogêneo, quando os crimes são 
diferentes. 
Esse cúmulo de penas deve ser aplicado pelo Juiz na hora da sentença, se os processos tiverem sido 
reunidos por conexão, ou pelo Juiz da execução, caso tenham sido aplicadas as penas em processos diversos 
(nos termos do art. 66, III, a da LEP). 
Se for imposta pena de reclusão a um dos crimes e de detenção a outro, executa-se primeiramente a 
de reclusão, nos termos do art. 69, caput, segunda parte, do CP. 
Só será possível a aplicação de penas restritivas de direitos a um dos crimes se em relação aos outros 
foi aplicada pena também restritiva de direitos ou, em caso de ter sido aplicada pena privativa de liberdade, 
esta foi suspensa (é o chamado sursis), nos termos do art. 69, § 1° do CP. 
As penas restritivas de direitos podem ser cumpridas simultaneamente, desde que compatíveis. 
Assim, a pena de limitação de final de semana não pode ser cumprida simultaneamente com outra restritiva 
de direitos idêntica (limitação de final de semana), pois nesse caso o agente estaria cumprindo apenas uma 
das penas (e pagando as duas o malandro!). Entretanto, é plenamente possível o cumprimento simultâneo 
de pena restritiva de direitos consistente em prestação de serviços à comunidade e outra consistente em 
prestação pecuniária ($$), pois isso não importa em prejuízo a ninguém (nem ao Estado nem ao infrator). 
Só é possível a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) se o somatório das penas 
mínimas previstas para todos os crimes for inferior a um ano. Assim, se o acusado praticou dois crimes em 
concurso material, sendo a pena mínima de ambos estipulada em 03 meses de detenção, é possível a 
suspensão condicional do processo. 
2.2 Concurso formal de crimes 
No concurso formal, ou ideal, o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes, 
idênticos ou não. Nos termos do art. 70 do CP: 
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, 
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma 
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, 
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes 
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resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.(Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste 
Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Primeiramente, deve ser esclarecido a vocês que deve haver unidade de conduta e pluralidade de 
resultados. Noentanto, a unidade de conduta não significa unidade de atos, pois existem condutas que 
podem ser fracionadas em diversos atos, como no caso de alguém que mata outra pessoa com diversas 
pauladas na cabeça. Embora neste caso haja diversos atos, há unidade de conduta. 
O concurso formal será homogêneo se todos os crimes cometidos mediante a conduta única forem 
idênticos, e será heterogêneo se os crimes praticados forem diversos. 
O concurso formal pode ser, ainda, perfeito ou imperfeito: 
• Concurso formal perfeito (próprio) – Aqui o agente pratica uma única conduta e acaba por 
produzir dois resultados, embora não pretendesse realizar ambos, ou seja, não há desígnios 
autônomos (intenção de, com uma única conduta, praticar dolosamente mais de um crime). 
Exemplo: Imaginem que Camila, dirigindo seu Bugatti pelas ruas de São Paulo, em altíssima 
velocidade, atropela, sem querer, um pedestre, que vem a óbito, e causa lesões graves em 
outro pedestre. Nesse caso, Camila responde pelos crimes de homicídio culposo e lesão 
corporal culposa em concurso formal, aplicando-se a ela a pena do homicídio culposo (mais 
grave) acrescida de 1/6 até a metade22; 
• Concurso formal imperfeito (impróprio) – Aqui o agente se vale de uma única conduta para, 
dolosamente, produzir mais de um crime. Imaginem que, no exemplo anterior, Camila 
desejasse matar o pedestre, antigo desafeto, bem como lesionar o outro pedestre (sua ex-
sogra). Assim, com sua única conduta, Camila objetivou praticar ambos os crimes, 
respondendo por ambos em concurso formal imperfeito, e lhe será aplica a pena de ambos 
cumulativamente (sistema do cúmulo material), pois esse concurso formal é formal apenas 
no nome, já que deriva de intenções (desígnios) autônomas, nos termos do art. 70, segunda 
parte, do CP. 
2.3 Aplicação da pena no concurso formal 
Via de regra, no concurso formal o sistema utilizado é o da exasperação, utilizando-se como base a 
pena do crime mais grave, aumentada (exasperada) de 1/6 até a metade (art. 70, primeira parte, do CP). 
 
22 É possível o reconhecimento de concurso formal próprio entre crimes dolosos, desde que seja possível compreender que 
houve uma única empreitada criminosa, ou seja, os crimes faziam parte de um único intento criminoso (ex.: José entra num 
ônibus e rouba o dinheiro relativo às passagens e também rouba o celular de um passageiro). Não há, aqui, crime único, 
ante a diversidade dos patrimônios lesados, devendo, no entendimento do STJ, ser reconhecido o concurso formal de 
crimes. 
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O quantum do aumento (entre 1/6 e metade da pena usada como base) será definido mediante a 
análise da quantidade de crimes praticados. Se praticados poucos crimes, aplica-se o aumento mínimo; se 
praticados diversos crimes mediante a única conduta, aplica-se o aumento em seu montante máximo. 
Trata-se, portanto, de uma fórmula de aplicação da pena que visa a beneficiar o réu, em razão do 
menor desvalor de sua conduta. 
Entretanto, se estivermos diante de concurso formal imperfeito (impróprio), aplica-se a regra 
estabelecida pelo art. 70, segunda parte, do CP, ou seja, o sistema do cúmulo material, pois o agente se 
valeu de uma única conduta para praticar diversos crimes de maneira dolosa, agindo com intenções 
autônomas (desígnios autônomos). 
Há, ainda, a figura que se denominou de cúmulo material benéfico, que ocorre quando o sistema da 
exasperação se mostra prejudicial ao réu em relação ao sistema da cumulação. 
EXEMPLO: Imaginem que o agente tenha cometido homicídio doloso simples (pena de 06 
a 20 anos) e tenha, culposamente, mediante a mesma conduta, lesionado levemente uma 
terceira pessoa, cometendo o crime de lesões corporais culposas em concurso formal com 
o homicídio (art. 129, § 6° do CP, pena de 02 meses a um ano de detenção). 
Nesse exemplo acima, o sistema da exasperação é muito prejudicial ao réu. Imaginem que o infrator 
tenha sido condenado pelo crime de homicídio a 10 anos de reclusão (crime mais grave). Nesse caso, pelo 
sistema da exasperação, por ter havido concurso formal, essa pena deve ser aumentada de 1/6 até a metade. 
Logo, a pena dele variará de 11 anos e 08 meses a 15 anos de reclusão (pena base + 1/6 e pena base + 
metade). Pelo sistema do cúmulo material, como a pena de lesões culposas é bem pequena, a pena do 
agente variaria de 10 anos e dois meses a 11 anos de reclusão. Nesse caso, percebam, o sistema da 
exasperação é prejudicial ao réu. Assim, a lei estabelece que, nesse caso, ELE NÃO SE APLICA, aplicando-se 
o sistema do cúmulo material, pois o sistema da exasperação foi criado para beneficiar o réu e não pode ser 
aplicado quando resultar em prejuízo a ele. Nos termos do § único do art. 70 do CP: 
Art. 70 (...) Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do 
art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
2.4 Crime continuado 
Também conhecido como continuidade delitiva, é a espécie de concurso de crimes na qual o agente 
pratica diversas condutas, praticando dois ou mais crimes, que por determinadas condições são 
considerados pela Lei (por uma ficção jurídica) como crime único. Nos termos do art. 71 do CP: 
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais 
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras 
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-
se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, 
em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
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Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência 
ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, 
a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, 
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o 
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste 
Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Duas teorias buscam explicar este instituto: 
 Teoria da ficção jurídica – Para esta teoria, a continuidade delitiva é uma ficção, pois, na verdade, 
existem diversos crimes, tendo a Lei considerado os diversos atos como apenas um crime, para fins 
de aplicação da pena. Esta teoria foi desenvolvida por Francesco Carrara; 
 Teoria da realidade, ou da unidade real – Para esta teoria, o crime continuado é, por sua própria 
natureza, um único delito, não havendo que se falar em ficção jurídica. 
O nosso CP adotou a teoria da ficção jurídica, pois a consideração dos diversos delitos como um 
único crime se dá apenas para fins de aplicação da pena, tanto que, no que tange à prescrição, eles são 
considerados crimes autônomos, nos termos do art. 119 do CP: 
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena 
de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
2.5 Requisitos para a configuração do crime continuado 
A Doutrina entende serem três os requisitos do crime continuado: a) pluralidade de condutas; b) 
pluralidade de crimes da mesma espécie; e c) condições semelhantes de tempo, lugar, modo de execução 
e outras semelhanças. 
Há divergência doutrinária quanto à necessidade de haver ou não unidade de desígnio. 
A pluralidade de conduta decorre da redação do art. 71, que fala em “mediante mais de uma ação 
ou omissão”. 
A pluralidade de crimes causa polêmica. O que seriam crimes da mesmaespécie? A Doutrina e a 
Jurisprudência não são pacíficas. Parte minoritária entende que crimes da mesma espécie são aqueles que 
tutelam o mesmo bem jurídico. Assim, para essa corrente, furto, estelionato, apropriação indébita, etc., 
seriam todos crimes da mesma espécie, pois seriam todos “crimes contra o patrimônio”. 
No entanto, a corrente que prevalece, inclusive no STJ, é a de que crimes da mesma espécie são 
aqueles tipificados pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, 
consumados ou tentados. Assim, seriam crimes da mesma espécie roubo e roubo qualificado. 
Vejamos: 
(...) Não há continuidade delitiva porque os crimes de falsificação de documento público e 
falsidade ideológica não são da mesma espécie. 
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(...) (AgRg no AREsp 311.775/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 
27/05/2014, DJe 03/06/2014) 
Entretanto, essa corrente entende que, além de serem tratados no mesmo dispositivo legal, devem 
tutelar o mesmo bem jurídico. Assim, roubo simples (art. 157) e latrocínio (art. 157, § 3° do CP) não seriam 
crimes da mesma espécie, pois o latrocínio tutela, ainda, o direito à vida, e não somente o patrimônio. 
O STJ já solidificou este entendimento: 
(...) 1. Os crimes de roubo e latrocínio, apesar de serem do mesmo gênero, não são da 
mesma espécie. No crime de roubo, a conduta do agente ofende o patrimônio. No delito 
de latrocínio, ocorre lesão ao patrimônio e à vida da vítima, não havendo homogeneidade 
de execução na prática dos dois delitos, razão pela qual tem aplicabilidade a regra do 
concurso material. 
(...) (HC 186.575/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 27/08/2013, 
DJe 04/09/2013) 
Por fim, a semelhança entre os delitos deve obedecer à conexão de quatro gêneros: temporal, 
espacial, modal e ocasional. 
A conexão temporal exige que os crimes tenham sido cometidos na mesma época. Mesma época não 
implica mesmo momento. A jurisprudência tem entendido que os crimes não podem ter sido cometidos em 
um lapso temporal superior a 30 dias. No entanto, no que se refere aos crimes contra a ordem tributária, o 
STF já entendeu que pode haver continuidade delitiva desde que os delitos tenham sido cometidos em lapso 
temporal não superior a 03 anos. 
A conexão espacial indica que, para que seja considerada continuidade delitiva, os crimes devem ser 
cometidos no mesmo local. A Jurisprudência entende que a conexão espacial só estará presente se os crimes 
forem cometidos na mesma cidade, ou, no máximo, na mesma região metropolitana. 
A conexão modal se verifica quando o agente pratica o crime sempre da mesma maneira, seja pelo 
modo de execução, pela utilização de comparsas, etc. 
A conexão ocasional não possui previsão expressa na Lei, mas parte da Doutrina a entende como a 
necessidade de que os primeiros crimes tenham proporcionado uma ocasião que gerou a prática dos crimes 
subsequentes. 
 
Com relação à unidade de desígnios, ou seja, a necessidade de que todos os crimes praticados na verdade 
tenham sido partes de um único projeto criminoso, a Doutrina é dividida, mas a maioria da Doutrina, bem 
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como a Jurisprudência, entendem ser necessária essa unidade de desígnios, de forma que a mera reunião 
dos demais requisitos não configura a continuidade delitiva se os crimes foram praticados de maneira 
isolada, sem nenhum vínculo entre eles. Isso significa que a maioria da Doutrina e a Jurisprudência adotam 
a teoria objetivo-subjetiva, desprezando a teoria objetiva pura, que não prevê a necessidade de unidade de 
desígnios. 
2.6 Aplicação da pena no crime continuado 
Existem três espécies de crime continuado: simples, qualificado e específico. Entretanto, em todos 
os casos se aplica o sistema da exasperação. 
No crime continuado simples, as penas dos delitos parcelares são as mesmas. Exemplo: 10 furtos 
simples praticados em continuidade delitiva. Nesse caso, aplica-se a pena de apenas um deles, acrescida de 
1/6 a 2/3 (varia conforme a quantidade de delitos). 
No crime continuado qualificado, as penas dos delitos praticados são diferentes, de modo que se 
aplica a pena do mais grave deles, aumentada de 1/6 a 2/3. 
Por fim, o crime continuado específico está previsto no § único do art. 71 do CP: 
Art. 71 (...) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com 
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os 
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as 
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se 
diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste 
Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Assim, nos crimes dolosos cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo as vítimas 
diferentes, poderá o Juiz aplicar a pena de um deles (ou a mais grave, se diversas), aumentada até o triplo. 
Vejam que se adotou o mesmo sistema da exasperação, entretanto, o § único previu um quantum maior a 
ser acrescido à pena-base. A lei não estabelece a quantidade mínima nesse caso, mas a Jurisprudência, 
inclusive o STF, entende que o mínimo aqui também é de 1/6. 
Aqui também se aplica a regra do “concurso material benéfico”, ou seja, se o sistema da exasperação 
se mostrar mais gravoso, deverá ser aplicado o sistema do cúmulo material. 
2.7 Crime continuado e conflito de leis penais no tempo 
Se durante a execução do crime continuado sobrevir lei nova, mais gravosa ao réu, esta última é 
aplicada, pois se considera que o crime continuado está sendo praticado enquanto não cessa a continuidade 
delitiva. Assim, sendo o tempo do crime o momento em que cessa a continuidade, a lei nova chegou a vigorar 
antes de sua consumação, aplicando-se a este, por ser a lei vigente ao tempo do crime. 
Este entendimento está, inclusive, sumulado pelo STF: 
SÚMULA Nº 711 
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A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, 
SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA. 
2.8 Crime continuado e prescrição 
Nos crimes continuados, por haver mera ficção jurídica de crime único, apenas para fins de aplicação 
da pena, a prescrição é calculada em relação a cada crime isoladamente. 
Entretanto, para o cálculo da prescrição RETROATIVA (a que leva em consideração a pena “em 
concreto”), leva-se em conta a pena mínima estabelecida para a pena-base, desprezando-se o acréscimo 
que seria aplicado em decorrência da continuidade delitiva. 
EXEMPLO: Se há dois furtos qualificados praticados em continuidade delitiva (penas 
mínimas de dois anos), tendo a sentença aplicado a pena mínima, por exemplo (02 anos), 
acrescida de determinado percentual decorrente da continuidade delitiva (1/4), a 
prescrição é calculada tendo por base a pena aplicada, mas sem computar o acréscimo 
decorrente da continuidade delitiva (apenas 02 anos, e não 02 anos + ¼, que seria 02 anos 
e 06 meses). 
Para termos uma ideia de como isso influencia a prescrição, se utilizássemos os “dois anos 
e seis meses” como base para o cálculo da prescrição retroativa, ela ocorreria em 08 anos, 
por força do art. 109, IV do CP. 
Como devemos considerar a pena aplicada, sem o acréscimo (02 anos), a prescrição 
retroativa terá o prazo de 04 anos, por força do art. 109, V do CP. 
Esta previsão constado verbete n° 497 da súmula do STF: 
SÚMULA Nº 497 
QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÇÃO REGULA-SE PELA PENA 
IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE COMPUTANDO O ACRÉSCIMO DECORRENTE DA 
CONTINUAÇÃO. 
2.9 Aplicação da pena de multa no concurso de crimes 
Assim prevê o art. 72 do CP: 
Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Assim, o art. 72 do CP prevê a aplicação do sistema do cúmulo material no que tange às penas de 
multa. Essa aplicação é inquestionável no concurso material e no concurso formal. 
No entanto, no que se refere ao crime continuado, há forte divergência. 
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A primeira corrente (amplamente majoritária na Doutrina) entende que esta regra também se aplica 
ao crime continuado, por não ter a Lei feito qualquer distinção. 
A segunda corrente (majoritária na Jurisprudência, inclusive no STJ), entende que, nesse caso, não 
se aplica a regra do art. 72, por ter a lei entendido que se trata de crime único, mediante ficção jurídica. 
 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES 
 
CÓDIGO PENAL 
 Arts. 29 a 31 do CP – Regulamentam o concurso de agentes no Código Penal: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto 
a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada 
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o 
resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Circunstâncias incomunicáveis 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Casos de impunibilidade 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em 
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 Arts. 69 a 72 do CP – Regulamentam o concurso de crimes no Código Penal: 
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Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais 
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em 
que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, 
executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de 
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição 
de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá 
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Concurso formal 
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, 
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma 
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, 
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes 
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste 
Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Crime continuado 
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais 
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e 
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, 
aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, 
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência 
ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, 
a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, 
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o 
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste 
Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Multas no concurso de crimes 
Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 Art. 119 do CP – Trata da prescrição na hipótese de concurso de crimes: 
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Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena 
de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 SÚMULAS PERTINENTES 
1 - Súmulas do STF 
 Súmula 711 do STF – Trata da solução ao conflito aparente de leis penais no tempo, no que tange aos 
crimes continuados e permanentes: 
SÚMULA Nº 711 
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, 
SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA. 
 Súmula 497 do STF – Trata do cálculo do prazo prescricional relativamente ao crime continuado, 
desprezando-se o acréscimo de pena decorrente da continuidade delitiva: 
SÚMULA Nº 497 
QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÇÃO REGULA-SE PELA PENA 
IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE COMPUTANDO O ACRÉSCIMO DECORRENTE DA 
CONTINUAÇÃO. 
 Súmula 723 do STF – Trata da forma de cálculo da pena mínima para fins de cabimento da suspensão 
condicional do processo em relação ao crime continuado. Deve ser considerada a pena da infração mais 
grave, acrescida do aumento 1/6 (aumento mínimo decorrente da continuidade delitiva): 
Súmula 723 
“Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da 
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a 
um ano.” 
2 - Súmulas do STJ 
 Súmula 243 do STJ – Seguindo a mesma linha da súmula 723 do STF, só que com uma abrangência maior, 
esta súmula trata da forma de cálculo da pena mínima para fins de cabimento da suspensão condicional do 
processo em relação ao concurso de crimes em geral (crime continuado, concurso formal e concurso 
material). Não será cabível o benefício da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) 
quando a pena mínima, já com o acréscimo decorrente da majoração (concurso formal ou crime continuado) 
ou do somatório (concurso material), ultrapassar um ano: 
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Súmula 243 do STJ 
“O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais 
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena 
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar

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