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Atividade MPB e Ensino de História - O Navio Negreiro

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7
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA E ENSINO DE HISTÓRIA[footnoteRef:1] [1: Atividade desenvolvida originalmente pelo professor Talvanes Eugenio Maceno (UFAL – Campus Arapiraca) e adaptada para uso na disciplina Saberes e Metodologias do Ensino de História II.] 
O Navio Negreiro
(Poema de Antonio de Castro Alves - excerto)
[Musicado por Caetano Veloso]
I - Audição da Música
1 ‘Stamos em pleno mar 
(... )
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
2 Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
3 E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
4 Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
5 Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
6 No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
7 Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”
8 E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
9 Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
10 Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
11 São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão ...
12 São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N’alma - lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael.
13 Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
(...)
14 Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
15 Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
16 Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
17 Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
{Que a brisa do Brasil beija e balança}
Música Incidental:
“ Que navio é esse
Que chegou agora
É o navio negreiro
Longe da Nossa Senhora”
(Canto de capoeira de domínio público)
II - Discussão e Interpretação da Música
A música que ouvimos apresenta um trecho de um poema de Castro Alves, que foi musicado por Caetano Veloso. Apesar da música ter sido gravada em 1997, o poema é da segunda metade do século XIX.
A) Trabalhando a música
1.º) Que instrumentos são tocados na música?
2.º) Em que tipo de gênero(s) ou estilo(s) musical/musicais você enquadra esta música?
B) Trabalhando o Texto:
3.º) Em sua opinião, de uma maneira geral, sobre o que trata a letra da música?
4.º) O que está sendo descrito nas oito primeiras estrofes da música?
5.º) A partir do que descrevem os 13 primeiros versos utilizados na música, relate as condições dos negros escravizados, durante a travessia do Atlântico, em direção ao Brasil.
6.º) Quais as características atribuídas aos escravos na música?
7.ª) O tipo de tratamento dispensado aos escravos e a sua condição de vida no navio, ainda pode ser encontrado em algum lugar do mundo? Ou não existe mais? Justifique.
8.º) Como o autor descreve o lugar de origem dos escravos?
9.º) Na época em que o poema foi escrito, o Brasil ainda era um país escravocrata? Justifique sua resposta.
10.º) Explique a posição do Brasil frente ao tráfico de negros, segundo a música.
11.º) Qual a posição de Castro Alves frente à escravidão?
12.º) Na sua opinião, qual é a intenção de Castro Alves com o poema?
III - Glossário:
Agar: escrava de Abrão, que tem um filho com ele, em virtude da esterilidade de sua espoca Sara. Posta para fora da casa de Abrão, Agar é obrigada a vagar no deserto com seu filho Ismael.
Algoz: carrasco
Andrada: referência a José Bonifácio de Andrada e Silva, político paulista nascido em 1763 e falecido em 1838, considerado na época como um dos “heróis” da nossa história. Foi um dos homens públicos mais importantes do Império. Em Lisboa, destacou-se como naturalista, geólogo e metalurgista. Foi defensor da independência, adversário do absolutismo e adepto da monarquia constitucional. Por influenciar bastante o príncipe regente durante o processo de independência, passa a ser conhecido como "Patriarca da Independência". No governo de dom Pedro I foi nomeado ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros. Com a abdicação do imperador, em 1831, foi nomeado tutor do príncipe herdeiro, dom Pedro II.
Atroz: cruel
Bacante: sacerdotisa
Brigue: embarcação de 2 mastros
Choça: casebre
Dantesco: horripilante, relativo a Dante Alighieri
Doudas: doidas
Espectros: almas, fantasmas
Etérea: celestial
Fitando: apontado
Fumo: fumaça
Gávea: mastro
Infâmia: desonra 
Íris: relativo ao olhar
Libérrima: da liberdade
Luzernas: clarões, luzeiros
Mosqueados: malhados
Musa: que inspira
Pavilhão: bandeira
Pélago: oceano
Pendão: bandeira
Plaga: país, nação
Ronda: inspeção
Tíbios: sem força
Tombadilho: a parte mais elevada de um navio, que vai do mastro até à popa; sobre a qual é construída a estrutura destinada ao alojamento do comandante e dos oficiais
Turba: multidão em desordem
Vaga: onda
IV – Pequena biografia de Castro Alves
Poeta baiano (14/3/1847-6/7/1871). Antônio Frederico de Castro Alves nasce em Muritiba e passa boa parte da infância no sertão baiano. Muda-se para Salvador em 1852 e, depois, para Pernambuco. Em 1864, ingressa na Faculdade de Direito do Recife, onde se destaca como orador e poeta. Dedica-se a temas sociais, em especial à abolição da escravatura. Escreve uma única peça de teatro, Gonzaga ou a Revolução de Minas, encenada em 1867 em Salvador. No mesmo ano, transfere-se para a Faculdade de Direito de São Paulo, mas não conclui o curso. Nessa época, durante uma viagem ao Rio de Janeiro, trava amizade com José de Alencar e Machado de Assis. Em 1870, fere o pé em um acidentede caça e, já doente, retorna à Bahia e publica Espumas Flutuantes, o único livro que vê editado. Morre tuberculoso no ano seguinte, em Salvador, aos 24 anos.

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