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Análise das obras literárias da UFPR
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.
Autores
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica
Hexag Sistema de Ensino
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Eder Carlos Bastos de Lima
Felipe Lopes Santos
Iago Kaveckis
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Projeto gráfico e capa
Raphael Campos Silva
Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)
Impressão e acabamento
PSP Digital Gráfica e Editora LTDA
ISBN: 978-85-9542-114-1
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o 
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição 
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre 
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2019
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
Lista da UFPR surge com obras inusitadas 
Oito obras, do Nativismo épico ao contemporâneo na prova de Literatura
A prova de Literatura da Universidade Federal do Paraná definiu oito obras literárias para a sua lista de leituras 
obrigatórias. As escolhas caminham desde o Nativismo épico – final do Arcadismo –, passam pelos românticos até 
chegarem na literatura que se produz atualmente. A prova cobrará alguns aspectos pouco tradicionais nos vestibu-
lares, como é o caso do poema épico neoclássico e, até mesmo, alguns livros da contemporaneidade, que não têm 
a mesma tradição de antigos autores. Apesar de ter aspectos inusitados, a figura de Machado de Assis está nesta 
lista. Aliás, difícil é encontrar uma lista sequer de vestibulares na qual o “bruxo do Cosme Velho” não estará lá, 
resplandecendo sua genialidade.
A obra de Machado de Assis escolhida para esta lista é Várias histórias, um conjunto de contos da melhor 
qualidade, inclusive compondo as mais conhecidas e tradicionais histórias de sua literatura realista e irônica. As 
narrativas curtas colocam o “dedo na ferida“ dos costumes e das moralidades da burguesia no final do século XIX, 
que podem ser observadas até hoje.
Voltando no tempo, o candidato deverá dominar os fatores estéticos da obra O Uraguai, do poeta Basílio 
da Gama. Uma aventura nativista ambientada no Sul do Brasil, no contexto do Tratado de Madri, que opunha 
jesuítas e índios a portugueses e espanhóis. Destaque para a idealização feminina na figura da índia, presente na 
personagem Lindoia.
Na sequência, temos o representante do Romantismo, o brasileiro Gonçalves Dias, e sua obra Últimos can-
tos, com poemas de idealização da pátria, dos índios e dos amores. Destaque para “I-Juca-Pirama”, o poema épico 
que narra a saga do último índio tupi.
Clara do Anjos é a próxima obra aqui analisada, na qual Lima Barreto expõe o papel feminino e os precon-
ceitos que a mulher sofria na passagem do século XIX para o XX, como a submissão, o abandono, a violência e o 
constrangimento público.
João Cabral de Melo Neto surge na lista com uma de suas obras mais conhecidas, Morte e vida severina, 
uma poesia rígida e forte na dicção existencial do sertão, na trajetória de Severino (“Severinos”) do interior ao 
litoral.
O gênero dramático, ou seja, o texto escrito para o teatro continua na sequência, com a obra “Eles não 
usam black-tie“, de Gianfrancesco Guarnieri. Um espetáculo engajado que marcou seu tempo e faz sentido até 
hoje, retratando traços de utopia e realidade, de alienação e revolução, na relação de um pai e um filho em pleno 
movimento operário e luta por direitos de greve. Foi encenado no histórico “Teatro de Arena” e foi adaptado para 
o cinema.
A literatura contemporânea está representada na lista com a obra Relato de um certo Oriente, de Milton 
Hatoum. O autor amazonense tece uma narrativa de cunho memorialista que sobrepõe as reminiscências do lem-
brar em várias vozes apresentadas.
Encerrando o conjunto de obras, surge Nove noites, de Bernardo Carvalho, uma obra complexa que mescla 
duas instâncias narrativas em caráter de desconstrução, misturando realidade e ficção.
Seguindo as orientações e análises propostas neste volume especial do “Entre Aspas”, tenho certeza de que 
os candidatos darão conta de entender o processo constitutivo desta lista composta de grandes obras da literatura 
brasileira.
Boas leitura e análise!
Lucas Limberti
PREFÁCIO
SUMÁRIO
UFPR
ENTRE ASPAS
Obra 1: O Uraguai 5
Obra 2: Últimos cantos 19
Obra 3: Casa de pensão 31
Obra 4: Clara dos Anjos 39
Obra 5: Sagarana 49
Obra 6: Morte e vida Severina 67
Obra 7: Nove noites 81
Obra 8: Relatos de um certo Oriente 91
L
ENTRE ASPAS
C
O Uraguai
Obras
L C
Basílio da Gama
7
BASÍLIO DA GAMA
Basílio da Gama (1741-1795) nasceu na atual cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. Estudou em colégio jesuíta, 
no Rio de Janeiro, pois tinha a intenção de ingressar na carreira eclesiástica. Completou seus estudos em Portugal e 
na Itália, no período em que os jesuítas foram expulsos dos domínios portugueses. Na Itália, Basílio construiu uma 
carreira literária, tendo conseguido uma façanha única entre os brasileiros da época: ingressar na Arcádia Romana, 
na qual assumiu o pseudônimo de Termindo Sipílio.
Em 1767, voltou ao Rio de Janeiro, onde foi preso no ano seguinte acusado de ter ligação com os jesuítas. 
De acordo com um decreto então em vigor, qualquer pessoa que mantivesse comunicação com os jesuítas, oral ou 
escrita, deveria ficar exilada por oito anos em Angola.
Publicou, em 1769, o poema épico “O Uraguai”, uma obra-prima na qual se encontram alguns dos mais 
apreciáveis versos da língua portuguesa. Tem como tema a luta de portugueses e espanhóis contra os índios de 
Sete Povos das Missões do Uruguai, instalados nas missões jesuítas no atual Rio Grande do Sul, que não queriam 
aceitar as decisões de delimitação das fronteiras do sul do Brasil impostas pelo Tratado de Madri.
Basílio da Gama soube como poucos transformar política em poesia. Em 1776, publicou “Os Campos 
Elíseos”, um poema em que se exaltam supostas virtudes cívicas de membros da família de Sebastião José. Com 
a morte do rei em 1777, Pombal não se manteve no cargo, foi duramente atacado e vários de seus atos foram 
anulados. Basílio permaneceu-lhe fiel e chegou a escrever em sua defesa. Em 1788, lastimou a morte de Dom José, 
em “Lenitivo da saudade”.
Preso, Basílio foi levado a Lisboa. Lá, livrou-se da prisão por fazer um poema em homenagem à filha do 
conde de Oeiras, futuro marquês de Pombal. Essa amizade lhe possibilitou ter novos contatos com os árcades 
portugueses.
Basílio da Gama foi admitido na Academia das Ciências de Lisboa, e sua última publicação foi “Quitúbia” 
(1791), um poema épico celebrando um chefe africano que auxiliou a colônia na guerra contra os holandeses. O 
autor faleceu em Portugal, no ano de 1795.
Contexto: Minas Gerais e o ciclo do ouro
O Arcadismo brasileiro originou-se e teve expressão principalmente em Vila Rica (atual Ouro Preto), Minas Gerais, 
e seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado no século XVIII nas cidades 
mineiras, cuja vida econômica girava em torno da extração de ouro.O crescimento dessas cidades favorecia tanto a divulgação de ideias políticas quanto o florescimento da 
literatura. Os jovens brasileiros das camadas privilegiadas da sociedade costumavam ser mandados a Coimbra 
8
para estudar, uma vez que, na colônia, não havia cur-
sos superiores. Ao retornarem de Portugal, traziam 
consigo as ideias que faziam fermentar a vida cultural 
portuguesa à época das inovações políticas e culturais 
do ministro marquês de Pombal, adepto de algumas 
ideias do iluminismo.
Em Vila Rica, essas ideias levaram vários inte-
lectuais e escritores a sonhar com a independência 
do Brasil, principalmente após a repercussão do mo-
vimento de independência dos Estados Unidos da 
América (1776). Tais sonhos culminaram na frustrada 
Inconfidência Mineira (1789).
Arcadismo na colônia: 
entre o local e o universal
Os escritores brasileiros do século XVIII comportavam-
-se em relação ao Arcadismo importado de Portugal 
de modo peculiar. Por um lado, procuravam obedecer 
aos princípios estabelecidos pelas academias literárias 
portuguesas ou se inspiravam em certos escritores 
clássicos consagrados, como Camões, Petrarca e Ho-
rácio, ao mesmo tempo que, visando elevar a literatura 
da colônia ao nível das literaturas europeias e conferir 
a ela maior universidade, tentavam eliminar vestígios 
pessoais ou locais.
Por outro lado, acabaram por apresentar em 
suas obras aspectos diferentes dos prescritos pelo mo-
delo importado. A natureza, por exemplo, aparece na 
poesia de Cláudio Manuel da Costa como mais bru-
ta e selvagem do que na poesia europeia; o mito do 
“homem natural” culminou, entre nós, na figura do 
índio, presente nas obras de Basílio da Gama e Santa 
Rita Durão; a expressão dos sentimentos, em Tomás 
Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga, é mais espontânea 
e menos convencional. Esses aspectos característicos 
da poesia árcade nacional foram mais tarde recupe-
rados e aprofundados pelo Romantismo, movimento 
que buscou definir uma identidade nacional em nossa 
literatura.
Além dessa espécie de adaptação do modelo 
europeu a peculiaridades locais, não se pode esque-
cer a forte influência barroca exercida no Brasil, ainda 
durante o século XVIII. Muitas das igrejas de Ouro Pre-
to, por exemplo, só tiveram sua construção concluída 
quando o Arcadismo já vigorava na literatura.
O Arcadismo brasileiro 
e suas peculiaridades
 Apego aos valores da terra
Um dos elementos que tornam peculiar o mo-
vimento árcade brasileiro é o apego aos valores da 
terra oferecido pela localização geográfica do “grupo 
mineiro”, fazendo brotar um nativismo que incorporou 
o ideário da estética bucólica, em voga no Arcadismo. 
Emerge na natureza brasileira como pano de fundo 
para a poesia dos “pastores”. 
 Incorporação do indígena
 
Outro aspecto diferenciador do Arcadismo bra-
sileiro é a incorporação do indígena, em dois poemas 
épicos: ”O Uraguai”, em que Basílio da Gama narra 
a luta contra indígenas e jesuítas, protagonizada por 
portugueses e espanhóis. Basílio da Gama foi lei-
tor assíduo de Voltaire, de quem traduziu a tragédia 
”Mahomet”.
Publicado em 1769, ”O Uraguai” é considerado 
a melhor realização no gênero épico no Arcadismo bra-
sileiro. Seu tema é a luta de portugueses e espanhóis 
contra índios e jesuítas que, instalados nas missões je-
suíticas do atual Rio Grande do Sul, não queriam acei-
tar as decisões do Tratado de Madri.
9
A questão com Pombal
O poema, além de contar a expedição do governador 
do Rio de Janeiro às missões jesuíticas do sul da Amé-
rica latina (os Sete Povos do Uruguai), é também um 
canto de louvor à política de perseguição do marquês 
de Pombal aos missionários. Tem dedicatória ao minis-
tro da Marinha, Mendonça Furtado, irmão de Pombal, 
que trabalhou na demarcação dos limites setentrionais 
entre o Brasil e a América espanhola, cumprindo o Tra-
tado de Madri (1750), que corrigia a demarcação entre 
as Américas espanhola e portuguesa, firmada pelo Tra-
tado de Tordesilhas. 
São exatamente esses litígios de fronteiras, so-
mados ao heroísmo dos índios, e a crítica à Companhia 
de Jesus que dão o tom de ”O Uraguai”. Basílio não 
mediu esforços para demonstrar sua gratidão ao mar-
quês de Pombal.
O URAGUAI
“Serás lido, Uraguai. Cubra os meus olhos
Embora um dia a escura noite eterna.
Tu vive, e goza a luz serena e pura.”
Personagens
 General Gomes Freire de Andrade: chefe 
das tropas portuguesas
 Catâneo: chefe das tropas espanholas
 Cacambo: chefe indígena
 Cepé: guerreiro índio
 Padre Balda: jesuíta administrador de Sete Po-
vos das Missões
 Baldeta: filho do padre Balda
 Caitutu: guerreiro indígena, irmão de Lindoia
 Lindoia: esposa de Cacambo
 Tanajura: indígena feiticeira
A quebra do modelo clássico
A luta travada por portugueses e espanhóis contra ín-
dios e jesuítas é narrada por Basílio da Gama desde os 
preparativos até sua conclusão. Os cantos apresentam 
a seguinte sequência de fatos:
 Canto I: as tropas aliadas se reúnem para com-
bater os índios e os jesuítas.
Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilheria.
MUSA, honremos o Herói que o povo rude
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
Dos decretos reais lavou a afronta.
Ai tanto custas, ambição de império!
E Vós, por quem o Maranhão pendura
 Canto II: o exército avança e há uma tentativa 
de negociação com os chefes indígenas Cepé 
e Cacambo. Sem acordo, trava-se a luta, que 
termina com a derrota e a retirada dos índios.
Rios de areias de ouro. Essa riqueza
Que cobre os templos dos benditos padres,
Fruto da sua indústria e do comércio
Da folha e peles, é riqueza sua.
Com o arbítrio dos corpos e das almas
O céu lha deu em sorte. A nós somente
Nos toca arar e cultivar a terra,
Sem outra paga mais que o repartido
Por mãos escassas mísero sustento.
Podres choupanas, e algodões tecidos,
E o arco, e as setas, e as vistosas penas
São as nossas fantásticas riquezas.
Muito suor, e pouco ou nenhum fasto.
Volta, senhor, não passes adiante.
Que mais queres de nós? Não nos obrigues
A resistir-te em campo aberto. Pode
Custar-te muito sangue o dar um passo.
Não queiras ver se cortam nossas frechas.
Vê que o nome dos reis não nos assusta.
O teu está muito longe; e nós os índios
Não temos outro rei mais do que os padres.
Acabou de falar; e assim responde
O ilustre General: Ó alma grande,
Digna de combater por melhor causa,
Vê que te enganam: risca da memória
Vãs, funestas imagens, que alimentam
Envelhecidos mal fundados ódios.
10
 Canto III: Cacambo ateia fogo à vegetação 
em volta do acampamento aliado e foge para 
sua aldeia. O padre Balde, vilão da história, faz 
prender e matar Cacambo para que seu filho 
sacrílego Baldeta possa casar-se com Lindoia, 
esposa de Cacambo, e tomar a posição do che-
fe indígena morto. Lindoia, em uma visão, prevê 
o terremoto de Lisboa e a expulsão dos jesuítas 
por Pombal.
Não de outra sorte o cauteloso Ulisses,
Vaidoso da ruína, que causara,
Viu abrasar de Troia os altos muros,
E a perjura cidade envolta em fumo
Encostar-se no chão e pouco a pouco
Desmaiar sobre as cinzas. Cresce entanto
O incêndio furioso, e o irado vento
Arrebata às mãos cheias vivas chamas,
Que aqui e ali pela campina espalha.
Comunica-se a um tempo ao largo campo
A chama abrasadora e em breve espaço
Cerca as barracas da confusa gente.
Armado o General, como se achava,
Saiu do pavilhão e pronto atalha,
Que não prossiga o voador incêndio.
Poucas tendas entrega ao fogo e manda,
Sem mais demora, abrir largo caminho
Que os separe das chamas. Uns já cortam
As combustíveis palhas, outros trazem
Nos prontos vasos as vizinhas ondas.
Mas não espera o bárbaro atrevido.
A todos se adianta; e desejoso
De levar a notícia ao grande Balda
Naquela mesma noite o passo estende.
Tanto se apressa que na quarta aurora
Por veredas ocultas viu de longe
A doce pátria, e os conhecidos montes,
Eo templo, que tocava o céu co’as grimpas.
Mas não sabia que a fortuna entanto
Lhe preparava a última ruína.
Quanto seria mais ditoso! Quanto
Melhor lhe fora o acabar a vida
Na frente do inimigo, em campo aberto,
Ou sobre os restos de abrasadas tendas,
Obra do seu valor! Tinha Cacambo
Real esposa, a senhoril Lindoia,
De costumes suavíssimos e honestos,
Em verdes anos: com ditosos laços
Amor os tinha unido; mas apenas
Os tinha unido, quando ao som primeiro
Das trombetas lho arrebatou dos braços
A glória enganadora. Ou foi que Balda,
Engenhoso e sutil, quis desfazer-se
Da presença importuna e perigosa
Do índio generoso; e desde aquela
Saudosa manhã, que a despedida
Presenciou dos dous amantes, nunca
Consentiu que outra vez tornasse aos braços
Da formosa Lindoia e descobria
Sempre novos pretextos da demora.
Tornar não esperado e vitorioso
Foi todo o seu delito. Não consente
O cauteloso Balda que Lindoia
Chegue a falar ao seu esposo; e manda
Que uma escura prisão o esconda e aparte
Da luz do sol. Nem os reais parentes,
Nem dos amigos a piedade, e o pranto
Da enternecida esposa abranda o peito
Do obstinado juiz: até que à força
De desgostos, de mágoa e de saudade,
Por meio de um licor desconhecido,
Que lhe deu compassivo o santo padre,
Jaz o ilustre Cacambo – entre os gentios
Único que na paz e em dura guerra
De virtude e valor deu claro exemplo.
Chorado ocultamente e sem as honras
De régio funeral, desconhecida
Pouca terra os honrados ossos cobre.
Se é que os seus ossos cobre alguma terra.
Cruéis ministros, encobri ao menos
A funesta notícia. Ai que já sabe
A assustada amantíssima Lindoia
O sucesso infeliz. Quem a socorre!
Que aborrecida de viver procura
Todos os meios de encontrar a morte.
Nem quer que o esposo longamente a espere
No reino escuro, aonde se não ama.
Mas a enrugada Tanajura, que era
Prudente e exprimentada (e que a seus peitos
Tinha criado em mais ditosa idade
A mãe da mãe da mísera Lindoia),
E lia pela história do futuro,
11
Visionária, supersticiosa,
Que de abertos sepulcros recolhia
Nuas caveiras e esburgados ossos,
A uma medonha gruta, onde ardem sempre
Verdes candeias, conduziu chorando
Lindoia, a quem amava como filha;
E em ferrugento vaso licor puro
De viva fonte recolheu. Três vezes
Girou em roda, e murmurou três vezes
Co’a carcomida boca ímpias palavras,
E as águas assoprou: depois com o dedo
Lhe impõe silêncio e faz que as águas note.
Como no mar azul, quando recolhe
A lisonjeira viração as asas,
Adormecem as ondas e retratam
Ao natural as debruçadas penhas,
O copado arvoredo e as nuvens altas:
Não de outra sorte à tímida Lindoia
Aquelas águas fielmente pintam
O rio, a praia o vale e os montes onde
Tinha sido Lisboa; e viu Lisboa
Entre despedaçados edifícios,
Com o solto cabelo descomposto,
Tropeçando em ruínas encostar-se.
Desamparada dos habitadores
A Rainha do Tejo, e solitária,
No meio de sepulcros procurava
Com seus olhos socorro; e com seus olhos
Só descobria de um e de outro lado
Pendentes muros e inclinadas torres.
Vê mais o Luso Atlante, que forceja
Por sustentar o peso desmedido
Nos roxos ombros. Mas do céu sereno
Em branca nuvem Próvida Donzela
Rapidamente desce e lhe apresenta,
De sua mão, Espírito Constante,
Gênio de Alcides, que de negros monstros
Despeja o mundo e enxuga o pranto à pátria.
Tem por despojos cabeludas peles
De ensanguentados e famintos lobos
E fingidas raposas. Manda, e logo
O incêndio lhe obedece; e de repente
Por onde quer que ele encaminha os passos
Dão lugar as ruínas. Viu Lindoia
Do meio delas, só a um seu aceno,
Sair da terra feitos e acabados
 Canto IV: o mais bonito dos cinco cantos, nele 
são retratados os preparativos do casamento 
de Baldeta com Lindoia. Esta, chorando a morte 
do marido e não desejando casar-se, entre num 
bosque e deixa-se picar por uma cobra veneno-
sa. Chegam os brancos, que cercam a aldeia. 
Todos fogem; antes, porém, os padres mandam 
queimar as casas e a igreja.
A Morte de Lindoya
Não faltava,
Para se dar princípio à estranha festa,
Mais que Lindoia. Há muito lhe preparam
Todas de brancas penas revestidas
Festões de flores as gentis donzelas.
Cansados de esperar, ao seu retiro
Vão muitos impacientes a buscá-la.
Estes de crespa Tanajura aprendem
Que entrara no jardim triste, e chorosa,
Sem consentir que alguém a acompanhasse.
Um frio susto corre pelas veias
De Caitutú, que deixa os seus no campo;
E a irmã por entre as sombras do arvoredo
Busca co'a vista, e teme de encontrá-la.
Entram enfim na mais remota, e interna
Parte de antigo bosque, escuro, e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins, e rosas.
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutú, que treme
12
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira, e o temor. Enfim sacode
O arco, e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindoia, e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindoia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, aos ecos tantas vezes
Cotou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutú não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
 Canto V: o líder português Gomes Freire de An-
drada prende os inimigos na aldeia próxima, e 
há referências ao domínio universal da Compa-
nhia de Jesus e a seus crimes.
Sossegado o tumulto e conhecidas
As vis astúcias de Tedeu e Balda,
Cai a infame República por terra.
Aos pés do General as toscas armas
Já tem deposto o rude Americano,
Que reconhece as ordens e se humilha,
E a imagem do seu rei prostrado adora.
Serás lido, Uraguai. Cubra os meus olhos
Embora um dia a escura noite eterna.
Tu vive e goza a luz serena e pura.
Vai aos bosques de Arcádia: e não receies
Chegar desconhecido àquela areia.
Ali de fresco entre as sombrias murtas
Urna triste a Mireo não todo encerra.
Leva de estranho céu, sobre ela espalha
Co’a peregrina mão bárbaras flores.
E busca o sucessor, que te encaminhe
Ao teu lugar, que há muito que te espera.
Estrutura
Escrito em apenas cinco cantos, com a utilização de 
versos brancos (sem rima) e sem estrofação, ”O Ura-
guai” não segue a estrutura camoniana de Os lusíadas. 
Além disso, embora apresente as cinco partes tradicio-
nais das epopeias – proposição, invocação, dedicató-
ria, narração e epílogo –, o poema já se inicia com a 
ação em pleno desenvolvimento:
Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos.
Pasto de corvos. Dura inda nos vales 
O rouco som da irada artilheria.
O fato de o autor tratar de um episódio histó-
rico recente (na época, ocorrido havia pouco mais de 
dez anos) é outro aspecto que diferencia ”O Uraguai 
dos” dos poemas épicos tradicionais.
Quem éo verdadeiro 
herói da história?
Pelo fato de ”O Uraguai” ser uma obra de intenções 
épicas, seria de esperar que em nada tivessem desta-
que os movimentos de guerra e os atos de heroísmo. 
Contudo, não é o que se verifica. Ao contrário, a própria 
guerra chega a ser questionada como meio de atuação 
política, o que revela uma postura tipicamente ilumi-
nista da parte do autor, cujas ideias coincidem com as 
de seu amigo marquês de Pombal. Observe:
13
Vinha logo de guardas rodeado,
Fonte de crimes, militar tesouro,
Por quem deixa no rego o curto arado
O lavrador, que não conhece a glória:
E vencendo a vil preço o sangue e a vida
Move, e nem sabe por que move a guerra.
O herói português Gomes Freire de Andrade, o 
líder das tropas luso-espanholas, também não mostra 
o entusiasmo dos heróis épicos tradicionais:
... Descontente e triste
Marchava o General: não sofre o peito
Compadecido e generosa a vista
Daqueles frios e sangrados corpos,
Vitimas da ambição de injusto império
Análise
O genocídio de Sete Povos das Missões
O Tratado de Madri (1750) determinava uma troca de 
territórios: os portugueses que se encontravam na co-
lônia de Sacramento (hoje parte do Uruguai) deveriam 
desocupar a região e instalar-se nos sete povoados, 
chamados “Sete Povos”, pertencentes a Portugal e 
ocupados por índios. Em troca, a Espanha teria sobera-
nia sobre as Tordesilhas. Ocorre que os indígenas que 
ocupam esses povoados, provavelmente influenciados 
pelos jesuítas, não queriam passar ao domínio portu-
guês. Diante do impasse, os governos português e es-
panhol uniram-se para intervir militarmente na região. 
Foram necessárias duas investidas para que conseguis-
sem seu objetivo – a segunda das quais narrada em 
”O Uraguai”. Essas lutas ocasionaram a morte de al-
guns milhares de índios e constituem um dos principais 
genocídios verificados no país.
Apesar da postura de crítica à guerra manifesta 
pelo autor, o fato histórico narrado não é alterado, e 
espanhóis e portugueses saem vencedores da batalha.
Do lado inimigo, apenas os jesuítas são verda-
deiros tratados no poema como vilões – outro traço da 
obra que satisfaz os interesses do marquês de Pombal.
Os índios derrotados são vistos com simpatia. 
Talvez até se possa dizer que o autor enfoca os índios 
como vítimas da ação jesuítica na região e dos confli-
tos que dela resultaram.
Destacadas a força e a coragem do indígena, 
fica claro que a derrota se dá apenas em virtude da 
desigualdade de armas. O índio seria uma espécie de 
herói moral da luta, dadas suas qualidades de caráter, 
conforme mostram os versos a seguir.
Fez proezas Sepé naquele dia.
Conhecido de todos, no perigo
Mostrava descoberto o rosto e o peito
Forçando os seus co exemplos e coas palavras.
 
Lindoia (1882), por José Maria de Medeiros
Observe o trecho do poema em que Lindoia 
morre:
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
14
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco, e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindoia, e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindoia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
O poema não enfatiza a guerra em si, nem as 
ações dos vencedores, nem os vilões jesuítas – trata-
dos caricaturalmente. Ganham destaque, de fato, a 
descrição física e moral do índio, o choque de culturas 
e a paisagem nacional. Além disso, o autor cria passa-
gens de forte lirismo, como a do episódio da morte de 
Lindoia. Observe a valorização da paisagem brasileira 
nestes versos:
Que alegre cena para os olhos! Podem
Daquela altura, por espaço imenso,
Ver as longas campinas retalhadas
De trêmulos ribeiros, claras fontes, 
E lagos cristalinos, onde molha
As leves asas o lascivo vento.
Engraçados outeiros, fundos vales,
Verde teatro, onde se admira quanto
Produziu a supérflua Natureza.
Ruínas da igreja de São Miguel das Missões, RS, 
palco das lutas narradas em O Uraguai
A valorização do índio e da natureza selvagem 
do Brasil corresponde ao ideal de vida primitiva e natu-
ral cultivado pelos iluministas e pelos árcades. Por ou-
tro lado, porém, esses aspectos, que podemos chamar 
de nativistas, prenunciam as tendências da literatura 
do século XIX: o Romantismo.
15
APROFUNDE SEUS CONHECIMENTOS
 2. (UEG) Observe a pintura e leia o fragmento 
a seguir para responder à questão.
Vinha logo de guardas rodeado 
Fonte de crimes, militar tesouro, 
Por quem deixa no rego o curto arado 
O lavrador, que não conhece a glória; 
E vendendo a vil preço o sangue e a vida 
Move, e nem sabe por que move a guerra. 
(GAMA, Basílio da. O Uraguai. In: BOSI, Alfredo. 
História concisa da literatura brasileira. 
43. ed. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 67.) 
Embora “O Uraguai“ seja considerado a me-
lhor realização épica do Arcadismo brasilei-
ro, nota-se, na obra, uma quebra do modelo 
da epopeia clássica. Em termos de conteúdo, 
tanto no trecho quanto na pintura apresen-
tados, essa quebra se evidencia: 
a) pela representação de situações tragicômicas.
b) pelo retrato de episódios de bravura e hero-
ísmo.
c) pela alusão a heróis mitológicos da Grécia 
antiga.
d) pelo questionamento da guerra como algo 
positivo.
 3. (UCS) Sabendo que o gênero lírico se caracte-
riza pela expressão subjetiva, representando 
a interioridade do sujeito poético, enquanto 
o gênero épico é objetivo, expressando predo-
minantemente, sob forma narrativa, um epi-
sódio heroico, pode-se dizer que são épicas as 
seguintes obras do Arcadismo no Brasil: 
a) Vila Rica, de Claudio Manuel da Costa; Cartas 
chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga; e Glau-
ra, de Silva Alvarenga.
b) Marília de Dirceu e Cartas chilenas, de Tomás 
Antônio Gonzaga; e Caramuru, de Santa Rita 
Durão.
c) O Uraguai, de Basílio da Gama; Prosopopeia, 
de Bento Teixeira; e Caramuru, de Santa Rita 
Durão.
d) Obras poéticas e Vila Rica, de Cláudio Manuel 
da Costa; e Cartas chilenas, de Tomás Antô-
nio Gonzaga.
e) O Uraguai, de Basílio da Gama; Caramuru, 
de Santa Rita Durão; e Vila Rica, de Cláudio 
Manuel da Costa.
 1. (UFSM) O momento da refeição sempre foi 
uma ocasião para conversar. Em “O Ura-
guai“, de Basílio da Gama, o narrador apro-
veita o banquete dos oficiais, que se segue ao 
desfile das tropas portuguesas, no Canto I, 
para apresentar as causas da guerra, confor-
me mostra o excerto a seguir.
[...]
Convida o General depois da mostra,
Pago da militar guerreira imagem,
Os seus e os espanhóis; e já recebe
No pavilhão purpúreo,em largo giro,
Os capitães a alegre e rica mesa.
Desterram-se os cuidados, derramando
Os vinhos europeus nas taças de ouro.
Ao som da 1ebúrnea cítara sonora
Arrebatado de furor divino
Do seu herói, Matúsio celebrava
Altas empresas dignas de memória.
[…]
Levantadas as mesas, entretinham
O congresso de heróis discursos vários.
Ali Catâneo ao General pedia
Que do principio lhe dissesse as causas
Da nova guerra e do fatal tumulto.
(GAMA, Basílio da. O Uraguai. 8. ed. 
Rio de Janeiro: Record, 2008.)
1ebúrnea: relativa ao marfim
A partir da leitura do fragmento, bem como 
da obra a que pertence, assinale verdadeira 
(V) ou falsa (F) em cada afirmativa a seguir.
( ) Ao introduzir, no Canto I, as causas da 
guerra, percebe-se a preocupação do nar-
rador em contar a história respeitando a 
ordem cronológica dos eventos, o que se 
dá desde o início do poema.
( ) A guerra, cujas causas são inquiridas por 
Catâneo, ocupara grande parte do relato, 
o que confere a obra seu tom épico, ain-
da que certas passagens de “O Uraguai“ 
também apresentem traços de puro liris-
mo.
( ) O poema e todo composto em versos de-
cassílabos brancos, predominantemente 
de ritmo heroico, como se pode ver clara-
mente no excerto.
( ) A glorificação do general Gomes Freire de 
Andrade no excerto evidencia que ele e 
o herói do poema, símbolo da civilização 
europeia que chega aos Sete Povos e que 
se contrapõe aos indígenas, apresentados 
no poema como selvagens, sem quaisquer 
qualidades heroicas.
A sequência correta é: 
a) F V V F
b) V V F F
c) V F F V
d) F F V F
e) V F V V
16
 4. (UFSM) Em “O Uraguai“, Basílio da Gama si-
tua a ação em um cenário até então pouco 
retratado na literatura brasileira: o sul do 
Brasil. Ali, portugueses, espanhóis e gua-
ranis serão personagens de uma batalha de 
final trágico para os últimos. Assim, sobre as 
personagens de “O Uraguai“, é correto afir-
mar que:
a) o padre Balda é retratado como um vilão, 
como se pode perceber na sua maquinação 
para a morte de Sepé, cujo objetivo era alçar 
Baldetta ao posto de líder indígena. 
b) o irmão Patusca é representado satiricamen-
te na obra como guloso e covarde, o que apa-
rece claramente ao final da história, quando 
é surpreendido pelos soldados enquanto fu-
gia da aldeia destruída. 
c) Tanajura é uma velha feiticeira que revela o 
futuro para Lindoia, momento em que a jovem 
indígena descobre que morreria em breve. 
d) o general Gomes Freire de Andrade é o herói 
do poema, impondo a vontade do rei de Por-
tugal a todo custo, sem procurar uma saída 
que evitasse a chacina dos indígenas. 
e) Cacambo tem um sonho em que o espírito de 
Sepé ordena-lhe que incendeie a aldeia para 
que se afaste o inimigo, dando tempo para a 
fuga dos indígenas. 
 5. (UFSM) A luta é um dos assuntos preferidos 
da literatura épica. Leia o seguinte trecho 
do poema épico “O Uraguai“, de Basílio da 
Gama, que trata desse assunto:
Tatu-Guaçu mais forte na desgraça
Já banhado em seu sangue pretendia
Por seu braço ele só pôr termo à guerra.
Caitutu de outra parte altivo e forte
Opunha o peito à fúria do inimigo,
E servia de muro à sua gente.
Fez proezas Sepé naquele dia.
Conhecido de todos, no perigo
Mostrava descoberto o rosto e o peito
Forçando os seus co'exemplo e co'as palavras.
Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada 
uma das afirmações relacionadas com “O 
Uraguai“.
( ) O assunto de “O Uraguai“ é a expedição 
mista de portugueses e espanhóis contra 
as missões jesuíticas do Rio Grande do 
Sul, para executar as cláusulas do tratado 
de Madrid, em 1756.
( ) Mesmo se posicionando favoravelmente 
aos vencedores europeus, o narrador de 
“O Uraguai“ deixa perceber, em passa-
gens como a citada, sua simpatia e admi-
ração pelo povo indígena.
( ) No fragmento referido, Tatu-Guaçu, Sepé 
e Caitutu têm exaltadas suas forças físi-
cas e morais, lembrando os heróis épicos 
da antiguidade.
( ) A análise formal dos versos confirma que 
Basílio da Gama imita fielmente a epo-
peia clássica, representada pelo modelo 
vernáculo da época: Os lusíadas, de Ca-
mões.
( ) A valorização do índio e da natureza bra-
sileira corresponde aos ideais iluministas 
e árcades da vida primitiva e natural e 
prenuncia uma tendência da literatura 
romântica: o nativismo.
A sequência correta é: 
a) F V F V V
b) F F V V V
c) V V V F V
d) V F V F F
e) V F F F V
 6. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações 
sobre “O Uraguai“, de Basílio da Gama.
I. Sepé, de modo desafiador, Cacambo, mais 
diplomático, encontram-se, antes da bata-
lha, com o general Andrade que os acon-
selha a respeitar a autoridade da Coroa. 
II. Eufórico, o general Andrade, líder das 
tropas luso-espanholas, extravasa sua 
emoção celebrando, depois da batalha, a 
morte de Sepé. 
III. Cacambo, tendo tido uma visão na qual 
Sepé aparecia transtornado ao lado de 
Lindoia desfalecida, incendeia o acam-
pamento das tropas inimigas durante a 
batalha.
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. 
b) Apenas II. 
c) Apenas III. 
d) Apenas II e III. 
e) I, II e III. 
 7. (Ufrgs) Assinale a afirmativa incorreta em 
relação à obra “O Uraguai“, de Basílio da 
Gama. 
a) O poema narra a expedição de Gomes Freire 
de Andrada, governador do Rio de Janeiro, 
às missões jesuíticas espanholas da banda 
oriental do rio Uruguai. 
b) “O Uraguai“ segue os padrões estéticos dos 
poemas épicos da tradição ocidental, como a 
“Odisseia“, a “Eneida“ e “Os lusíadas“. 
c) Basílio da Gama expressa uma visão euro-
peia em relação aos indígenas, acentuando 
seu caráter bárbaro, incapaz de sentimentos 
nobres e humanitários. 
d) Nas figuras de Cacambo e Sepé Tiaraju está 
representando o povo autóctone que defen-
de o solo natal. 
e) Lindoia, única figura feminina do poema, 
morre de amor após o desaparecimento de 
seu amado Cacambo.
17
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
CANTO II
(...)
Prosseguia talvez; mas o interrompe
Sepé, que entra no meio, e diz: — “Cacambo
Fez mais do que devia; e todos sabem
Que estas terras, que pisas, o céu livres
Deu aos nossos avós; nós também livres
As recebemos dos antepassados.
Livres as hão de herdar os nossos filhos.
Desconhecemos, detestamos jugo
Que não seja o do céu, por mão dos padres.
As frechas partirão nossas contendas
Dentro de pouco tempo; e o vosso Mundo,
Se nele um resto houver de humanidade,
Julgará entre nós: se defendemos
– Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria. –
Enfim quereis a guerra, e tereis guerra.“
Lhe torna o General. – “Podeis partir-vos,
Que tendes livre o passo.“ (...)
(O Uraguai, Basílio da Gama)
 8. (Ufrgs adaptada) Segundo Sepé, em “O Ura-
guai“: 
a) os índios receberam a liberdade do céu e de 
seus antepassados para que se associassem 
ao empreendimento colonial de Portugal e 
Espanha. 
b) os índios recusam-se a lutar pelos padres 
cujo domínio causou as hostilidades com as 
coroas portuguesa e espanhola. 
c) os índios pretendem legar aos filhos as ter-
ras livres que receberam de seus avós, os 
quais as receberam do céu. 
d) os índios protestam contra o jugo do céu 
cujos representantes na terra são os padres 
responsáveis pela conversão e catequese. 
e) pretendem lutar aguerridamente contra a 
injustiça representada pelo Deus e pela pá-
tria dos adversários. 
 9. (Ufrgs adaptada) Sobre o discurso de Sepé, é 
correto afirmar que nele se percebe: 
a) o espírito conciliatório de quem busca esta-
belecer a paz. 
b) a hostilidade de quem considera inevitável a 
guerra. 
c) a arrogância de quem afirma estar mais bem 
armado do que o inimigo. 
d) a indulgência com que serão tratados os pri-
sioneiros de guerra. 
e) a simpatia votada à causa do inimigo que 
defende Deus e pátria. 
 10. (Unesp)
O URAGUAI (fragmento do Canto IV)
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, linha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebrecipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
(BASÍLIO DA GAMA, José. O Uraguai. Rio de Janeiro: 
Public. da Academia Brasileira, 1941, p. 78-79.)
CARAMURU (Canto VI, Estrofe XLII)
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo,
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo:
“Ah Diogo cruel!“ disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n'água.
(SANTA RITA DURÃO, Fr. José de. Caramuru. 
São Paulo: Edições Cultura, 1945, p. 149.) 
Os textos apresentados correspondem, res-
pectivamente, a fragmentos marcantes dos 
poemas épicos “O Uraguai“ (1769), de Basí-
lio da Gama, e “Caramuru“ (1781), de Santa 
Rita Durão, poetas neoclássicos brasileiros. 
No primeiro, a índia Lindoia, infeliz com a 
morte do marido Cacambo, deixa-se picar 
por uma serpente, e falece. No segundo, en-
foca-se a índia Moema que, ao ver partir seu 
amado Diogo Álvares, segue a embarcação a 
nado e se deixa morrer afogada. Releia os 
textos e, a seguir:
a) aponte o componente nacionalista de ambos 
os poemas que prenuncia uma das linhas te-
máticas mais características do Romantismo 
brasileiro; e
b) cite dois escritores românticos brasileiros 
que se utilizaram dessa linha temática. 
GABARITO
1. A 2. D 3. E 4. B 5. C
6. A 7. C 8. C 9. B
 10. 
a) A figura do índio.
b) José de Alencar e Gonçalves Dias.
L
ENTRE ASPAS
C
Últimos cantos
Obras
L C
Gonçalves Dias
21
GONÇALVES DIAS
Gonçalves Dias (1823-1864) foi poeta e teatrólogo brasileiro. É lembrado como o grande poeta indianista da ge-
ração romântica. Deu romantismo ao tema do índio e uma feição nacional à sua literatura. É lembrado como um 
dos melhores poetas líricos da literatura brasileira. É patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras.
Nasceu nos arredores de Caxias, no Maranhão. Filho de um comerciante português e de uma mestiça, 
iniciou seus estudos no Maranhão e, ainda jovem, viajou para Portugal. Em 1838, ingressou no Colégio das Artes, 
em Coimbra, onde concluiu o curso secundário. Em 1840, ingressou na Universidade de Direito de Coimbra, onde 
teve contato com escritores do Romantismo português, entre eles, Almeida Garret, Alexandre Herculano e Felicia-
no de Castilho. Ainda em Coimbra, em 1843, escreve seu famoso poema “Canção do exílio“, no qual expressa o 
sentimento da solidão e do exílio.
Voltou ao Maranhão em 1845, depois de formado em Direito. Ocupou vários cargos no governo imperial e 
realizou diversas viagens à Europa. Foi para o Rio de Janeiro em 1846 e, em 1847, publicou o livro Primeiros cantos, 
que recebeu elogios de Alexandre Herculano, poeta romântico português. Ao apresentar o livro, Gonçalves Dias 
confessou: “Dei o nome Primeiros cantos às poesias que agora publico, porque espero que não sejam as últimas“. 
Em 1848, publicou o livro Segundos cantos.
Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. Durante esse período, 
escreveu para várias publicações, entre elas, o Jornal do Comércio, a Gazeta Mercantil e para o Correio da Tarde. 
Fundou a Revista Literária Guanabara. Publicou, em 1851, o livro Últimos cantos. Regressou ao Maranhão e co-
nheceu Ana Amélia Ferreira do Vale, por quem se apaixonou. Por ser mestiço, a família de Ana Amélia proibiu o 
casamento. Mais tarde, casou-se com Olímpia da Costa.
22
Gonçalves Dias exerceu o cargo de oficial da 
Secretaria de Negócios Estrangeiros, foi várias vezes 
à Europa e, em 1854, em Portugal, encontrou-se com 
Ana Amélia, já casada. Esse encontro inspirou o poeta 
a escrever o poema “Ainda uma vez – Adeus!“.
Em 1862, viajou à Europa para tratamento de 
saúde. Sem resultados, embarcou de volta no dia 10 
de setembro de 1864. No dia 3 de novembro, o navio 
francês Ville de Boulogne, no qual estava, naufragou 
perto do farol de Itacolomi, na costa do Maranhão, 
onde o poeta faleceu.
Contexto
A história do Romantismo no Brasil se confunde com 
a própria história política brasileira da primeira metade 
do século XIX. Com a invasão de Portugal por Napo-
leão, a coroa portuguesa se mudou para o Brasil, em 
1808, e elevou a colônia à categoria de Reino Unido, 
ao lado de Portugal e Algarves. Como decorrência des-
se fato, a colônia passou por uma série de mudanças, 
entre as quais a criação de escolas de nível superior, 
a fundação de museus e bibliotecas públicas, a insta-
lação de tipografias e o surgimento de uma imprensa 
regular.
A dinamização da vida cultural da colônia e 
a formação de um público leitor (mesmo que inicial-
mente só de jornais) criaram algumas das condições 
necessárias para o surgimento de uma produção literá-
ria mais consistente do que as manifestações literárias 
dos séculos XVII e XVIII.
Com a independência política, ocorrida em 
1822, os intelectuais e artistas da época passaram a 
dedicar-se ao projeto de criar uma cultura brasileira 
identificada com as raízes históricas, linguísticas e cul-
turais do país.
O Romantismo, além de seu significado primei-
ro – o de ser uma reação à tradição clássica – assumiu 
em nossa literatura a conotação de movimento antico-
lonialista e antilusitano, ou seja, de rejeição à literatura 
produzida na época colonial, em virtude do apego des-
sa produção aos modelos culturais portugueses.
Portanto, um dos traços essenciais de nosso 
Romantismo é o nacionalismo, que, orientando o mo-
vimento, abriu-lhe um rico leque de possibilidades a 
serem exploradas, entre as quais o indianismo, o re-
gionalismo, a pesquisa histórica, folclórica e linguística, 
além da crítica aos problemas nacionais – todas pos-
turas comprometidas com o projeto de construção de 
uma identidade nacional.
A publicação da obra Suspiros poéticos e sau-
dades (1836), de Gonçalves de Magalhães, tem sido 
considerada o marco inicial do Romantismo no Brasil. 
A importância dessa obra, porém, reside muito mais 
nas novidades teóricas de seu prólogo, em que Maga-
lhães anuncia a revolução literária romântica, do que 
propriamente na execução dessas teorias.
Indianismo: primeira 
geração poética
Compreendida entre os anos de 1836 e 1852, na pri-
meira geração destacam-se os poetas Gonçalves de 
Magalhães e Gonçalves Dias.
O nacionalismo e o patriotismo são predomi-
nantes nessa geração, que exalta aspectos caracterís-
ticos da paisagem tropical. Há uma tendência para o 
realce das coisas típicas do exotismo e da beleza natu-
ral, exuberante, em oposição à paisagem e à natureza 
europeias.
Nas obras de Gonçalves Dias e Gonçalves de 
Magalhães, o indígena é encarado como elemento for-
mador do povo brasileiro.
A poesia dessa geração romântica é identifica-
da por uma forte religiosidade, com predominância do 
catolicismo, em oposição ao “paganismo” da poesia 
neoclássica ligada à tradição greco-latina, e também 
pelo caráter amoroso, fortemente sentimental, fruto de 
relativa influência da lírica portuguesa, a medieval, a 
camoniana e a dos românticos de Garrett, principal-
mente.
23
ÚLTIMOS CANTOS
 
Sobre este livro em especial, seu próprio nome, 
Últimos cantos, parece aludir a uma fase de transição. 
Nele, estão colocados alguns poemas indianistas já 
conhecidos do livro Poesias americanas, como “I-Juca-
-Pirama” e os poemas soltos organizados como Poe-
sias diversas. Nessas, encontramos um Gonçalves Dias 
diferente abordando temas dos mais variados, como 
poemas laudatórios. Mas há algumas constantes nes-
ses poemas, como se aludissem às temáticas comuns 
das canções trovadorescas, ora lembram as cantigas 
de amigo e de amor, ora apontam para umapercepção 
do tempo, uma angústia, uma desilusão com a vida, 
resumindo-a em “nascer, lutar, sofrer”, e no meio disso 
tudo, a ilusão amorosa.
Também já parece refletir algo parecido com 
que viria a ser a profusão do egotismo da geração se-
guinte dos poetas românticos, como Álvares de Azeve-
do, mas diferentemente desses não há o exagero, pois 
os poemas de Gonçalves Dias são leves, extremamente 
musicais, mesmo quando fala sobre a morte ou a so-
lidão, mas nem por isso deixam de serem profundos e 
filosóficos.
Estrutura
Nesta terceira coletânea de poemas, o autor repete a 
distribuição dos poemas em grupos adotada nos Pri-
meiros cantos:
 Poesias americanas
 Poesias diversas
 Hinos
Poesia indianista
 
Auguste François Biard, Dois índios numa canoa (1798-1882) 
Paris, Museu do Quai Branly
Durante o Romantismo, os indígenas foram conside-
rados, nas artes, o símbolo da jovem nação brasileira, 
passando a figurar como heróis em diversas obras.
O indianismo romântico é uma busca de raízes 
nacionais, uma procura no passado histórico brasileiro, 
do mesmo modo como os europeus foram às fontes 
medievais de sua formação histórica.
Na obra de Gonçalves Dias, o indígena aparece 
como tema renovador já nos Primeiros cantos, esten-
dendo-se aos Últimos cantos e também ao inacabado 
Os timbiras.
O poeta busca o elemento indígena nas flores-
tas longínquas, ou, ainda, em memórias de florestas 
que imagina intocadas, bem antes da aproximação 
do não indígena; é idealizado, forjado nos moldes do 
“bom selvagem”, criado por Jean-Jacques Rousseau: 
“O homem nasce bom. A sociedade o corrompe”.
24
I-Juca-Pirama
Um dos mais conhecidos poemas indianistas é “I-Juca-
-Pirama“, cujo título significa, na língua tupi, “o que é 
digno de ser morto”.
O narrador do poema é o chefe da tribo timbira, 
que conta aos jovens timbiras o drama do último des-
cendente da tribo tupi, feito prisioneiro dos timbiras.
O guerreiro tupi seria sacrificado e devorado 
numa festa canibal, mas pelo amor ao pai, já velho e 
cego, o prisioneiro implora ao chefe dos timbiras que 
o liberte para cuidar do pai. Julgando-o um covarde, o 
chefe timbira desiste do sacrifício e solta o prisioneiro.
O jovem tupi reencontra-se com o pai. Este des-
cobre, por meio dos odores da tinta específica do ritual 
canibalesco timbira, que o filho estivera preso. Indigna-
do com o filho, amaldiçoa-o violentamente.
Ferido em seu orgulho, o jovem tupi põe-se so-
zinho a lutar contra os timbiras até a morte, conven-
cendo a todos de sua coragem e bravura, preservando, 
dessa forma, a honra e a dignidade dos tupis.
Leia o Canto IV do poema “I-Juca-Pirama“, em 
que o narrador cede a voz ao índio tupi, que declama o 
seu canto de morte, pedindo aos timbiras que o liber-
tem para cuidar do pai velho e cego.
 
Meu canto de morte,
Guerreiro, ouvi;
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiro, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas 
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras 
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes – escravos!
De estranhos ignavos
Calçados aos pés.
[...]
Aos golpes do inimigo
Meu último amigo, 
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
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Então, forasteiro,
Cai prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja – dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? – Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixa-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo, 
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro
Também sei morrer.
Apesar de ter uma fama narrativa que configu-
ra o gênero épico e um conteúdo dramatizável, pre-
domina no poema o gênero lírico – um lirismo fácil e 
espontâneo, perpassado das emoções e subjetividade 
do poeta. Como é próprio do Romantismo, estilo a que 
está ligado Gonçalves Dias, é um lirismo que brota do 
coração e da “imaginação criadora” do poeta e que 
expressa bem o sentimentalismo romântico. A obra é 
indianista e vale ressaltar a musicalidade dos versos 
que é uma característica típica de Gonçalves Dias. 
O poema “I-Juca-Pirama“ nos dá uma visão 
mais próxima do índio, ligado aos seus costumes, ide-
alizado e moldado ao gosto romântico. O índio inte-
grado ao ambiente natural e, principalmente, adequa-
do a um sentimento de honra, reflete o pensamento 
ocidental de honra tão típico das novelas de cavalaria 
medievais – é o caso do texto “Rei Arthur e a távola 
redonda“. Se os europeus podiam encontrar na ida-
de média as origens da nacionalidade, o mesmo não 
aconteceu com os brasileiros. Provavelmente por essa 
razão, a volta ao passado, mesclada ao culto do bom 
selvagem, encontra na figura do indígena o símbolo 
exato e adequado para a realização da pesquisa lírica 
e heroica do passado. 
O índio é então redescoberto, embora sua re-
criação poética dê ideia da redescoberta de uma raça 
que estava adormecida pela tradição e que foi revivida 
pelo poeta. O idealismo, a etnografia fantasiada, as si-
tuações desenvolvidas como episódios da grande ges-
26
ta heroica e trágica da civilização indígena brasileira, 
a qual sofre a degradação do branco conquistador e 
colonizador, têm na sua forma e na sua composição re-
flexos da epopeia, da tragédia clássica e dos romances 
de gesta da idade média. Assim, o índio que conhece-
mos nos versos bem elaborados de Gonçalves Dias é 
uma figura poética, um símbolo. 
Gonçalves Dias centra “I-Juca-Pirama“ num 
estado de coisas que ganham uma enorme importân-
cia pela inevitável transgressão cometida pelo herói, 
transgressão de cunho romanesco (o choro diante da 
morte) que quando transposta a literatura gera uma 
incrível idealização dos estados de alma. Como exem-
plo, podemos citar as reações causadas pelo “suposto 
medo da morte“. Com isso, o autor transforma a alma 
indígena em correlativos dos seus próprios movimen-
tos, sublinhando a afetividade e o choque entre os 
afetos: há uma interpenetração de afetos (amor, ódio, 
vingança etc.) que estabelece uma harmonia românti-
ca entre o ser que está sendo julgado e a sua natureza 
– a natureza indígena, com a consequente preferência 
pelas cenas e momentos que correspondem ao teor 
das emoções. Daí as avalanches de bravura e de louvor 
à honra e ao caráter.
Poesia lírica
O lirismo amoroso aparece na obra de Gonçalves Dias 
na forma de baladas, canções, poemas longos, tudo 
numa linguagem personalizada e bastante comedida, 
distante da lamúria chorosa que haveria de caracteri-
zar outras gerações românticas.
Os temas de sua poesia lírica são abrangentes: 
desde a pátria, a natureza e a grandiosidade divina, 
até a solidão, o preconceito e o desacerto amoroso.
O poema a seguir é uma espécie de profissão 
de fé a respeito dos limites entre a paixão e o amor, 
apontando diferenças, estabelecendo parâmetros e, 
enfim, trazendo à tona a emoção com raciocínio.
SE SE MORRE DE AMOR
Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
[...]
Amor é vida; é ter constantementeAlma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos
D’altas virtudes, te capaz de crimes!
Compreender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, e ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes:
Isso é amor, e desse amor se morre!
(“Se se morre de amor”. DIAS, Gonçalves. 
Poesia e prosa completa. Op. cit.)
MARABÁ
Eu vivo sozinha, ninguém me procura! 
Acaso feitura
Não sou de Tupã!
Se algum dentre os homens de mim não se es-
conde:
— “Tu és”, me responde, “Tu és Marabá!”
— Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar!
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
“Teus olhos são garços”,
Responde anojado, “mas és Marabá:
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
“Uns olhos fulgentes,
“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”
— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
27
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
Se ainda me escuta meus agros delírios:
— “És alva de lírios”,
Sorrindo responde, “mas és Marabá:
“Quero antes um rosto de jambo corado,
“Um rosto crestado
“Do sol do deserto, não flor de cajá.”
— Meu colo de leve se encurva engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,
— Como um soluçado suspiro de amor!
“Eu amo a estatura flexível! ligera,
Qual duma palmeira”,
Então me respondem: “tu és Marabá:
“Quero antes o colo da ema orgulhosa,
Que pisa vaidosa,
“Que as flóreas campinas governa, onde está.”
— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas eles respondem: “Teus longos cabelos,
“São loiros, são belos,
“Mas são anelados, tu és Marabá:
“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
“Cabelos compridos,
“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá.”
E as doces palavras
que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d’acácia
na fronte de um homem
Jamais cingirei:
Jamais um guerreiro da minha arazoia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!
(“Marabá”. In: DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completa)
Leia outro poema da obra Últimos cantos:
LEITO DE FOLHAS VERDES 
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo 
À voz do meu amor moves teus passos? 
Da noite a viração, movendo as folhas, 
Já nos cimos do bosque rumoreja. 
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazoia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes 
À voz do meu amor, que em vão te chama! 
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil 
A brisa da manhã sacuda as folhas!
No poema, o poeta filia-se à tradição medieval 
das canções de amigo imprimindo-lhe a cor local. No 
que diz respeito à estruturação da sonoridade do poe-
ma “Leito de folhas verdes”, a sua métrica se compõe 
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em versos decassílabos com acentos tônicos regulares 
nas segunda/terceira, sextas e décimas sílabas, carac-
terizando, assim, o verso heroico.
Na primeira estrofe, o eu lírico feminino anseia 
pela volta de seu amado, Jatir, (1º e 2º versos) e ques-
tiona o porquê de sua demora. Note-se que aqui, os 
elementos da natureza corroboram a sensação de an-
gústia da mulher (3º e 4º versos).
Na segunda e terceira estrofes, temos o leito 
de amor, feito sob a copa da mangueira e feito de fo-
lhas brandas. Aqui, a natureza traduz toda a doçura do 
esperado encontro amoroso: mimoso tapiz de folhas 
brandas; o frouxo luar brinca entre flores; solta o boga-
ri mais doce aroma.
A espera se prolonga e a angústia cresce, como 
evidencia a metáfora contida nos versos 4º e 5º da 5ª 
estrofe: Eu sou aquela flor que espero ainda/ Doce raio 
do sol que me dê vida. Ela é a flor que depende dos 
raios de sol (a presença do amado) para viver.
A 6ª estrofe evidencia a idealização do amor, 
que vence todos os obstáculos (versos 1 e 2). Da mes-
ma forma, é idealizada a figura feminina que devota 
total fidelidade ao seu homem, conforme observamos 
na 7ª estrofe.
Na última estrofe, temos a desilusão do eu líri-
co. Com a chegada da manhã, a esperança e a expec-
tativa dão lugar à decepção e à tristeza, pois Jatir não 
responde ao seu chamado. Pede então que a brisa da 
manhã leve consigo as folhas do leito inútil. 
Os versos presentes nessa estrofe representam 
uma metáfora dos sentimentos e das emoções do “eu 
poético”, tendo em vista que, ao amanhecer, as flores 
que durante a noite exalavam um forte perfume, neste 
momento, seu perfume já não tem a mesma intensi-
dade, ou seja, podemos comparar a intensidade do 
aroma noturno com os sentimentos da amada. Isto é, 
as esperanças que, durante a noite, fortaleciam seu co-
ração estão se desfazendo, contrastando com as espe-
ranças que ela nutria ainda durante a noite, momento 
em que seu coração se sentia mais esperançoso e forte, 
tal qual o perfume das flores.
Em “Leito de folhas verdes”, temos, portanto, 
uma síntese dos elementos mais caros à tradição ro-
mântica: o sentimentalismo, a idealização amorosa, a 
idealização da figura feminina, a natureza expressiva, 
o medievalismo e o nacionalismo (de matiz indianista).
29
APROFUNDE SEUS CONHECIMENTOS
 2. Sugere que a natureza se prepara para a che-
gada de Jatir o verso:
a) “Eu sob a copa da mangueira altiva”.
b) “A arazoia na cinta me apertaram”.
c) “Já solta o bogari mais doce aroma!”.
d) “Um quebranto de amor, melhor que a vida!”.
 3. O eu lírico do texto tem por interlocutor:
a) o leitor.
b) Jatir.
c) Tupã.
d) a natureza.
 4. Revela o elemento tempo no poema o verso:
a) “Onde o frouxo luar brinca entre flores”.
b) “Sejam vales ou montes, lago ou terra”.
c) “A cujo influxo mágico respira-se”.
d) “Correm perfumes no correr da brisa”.
 5. Nos versos “Eu sou aquela flor que espero 
ainda/ doce raio do sol que me dê vida”, te-
mos:
a) um eufemismo.
b) uma hipérbole.
c) uma metáfora.
d) um pleonasmo.
 6. Uma das passagens do poema na qual fica cla-
ro que o eu lírico trata-se de uma mulher é:
a) “Nosso leito gentil cobri zelosa”.
b) “À voz do meu amor moves teus passos?”.
c) “Onde quer que tu vás, ou dia ou noite”.
d) “À voz do meu amor, que em vão te chama!”.
 7. Que referências no poema nos fazem con-
cluir que o eu lírico trata-se de uma moça 
indígena?
a) viração, bosque
b) leito, tamarindo
c) quebranto, brisa
d) arazoia, Tupã
 8. No decorrer do poema, o eu lírico expressa 
um sentimento de:
a) impaciência.
b) decepção.
c) expectativa.
d) irritação.
 9. “Por que tardas, Jatir, que tanto a custo? À 
voz do meu amor moves teus passos?”, a ex-
pressão destacada da ideia de:
a) causa.
b) consequência.
c) modo.
d) tempo.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 01 A 09
LEITODE FOLHAS VERDES
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d’alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive; és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazoia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! Do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!
(Gonçalves Dias)
 1. A informação principal do texto é:
a) a certeza do eu lírico a cerca do amor de 
Jatir e da brevidade de seu retorno.
b) a confirmação de que o amor do eu lírico por 
Jatir vence distância e obstáculos.
c) o eu lírico está a espera de seu amado sem 
qualquer esperança de sua chegada.
d) o retorno do amado é aguardado não só pela 
amada como também pela natureza.
30
 10. (UFPR 2017) Sobre o livro de poesia Últimos 
cantos, de Gonçalves Dias, considere as se-
guintes afirmativas: 
I. A métrica em “I-Juca-Pirama” é variável 
e tem conexão com a progressão dos fatos 
narrados, o que permite dizer que o ritmo 
se ajusta às reviravoltas da narrativa. 
II. “Leito de folhas verdes” e “Marabá” te-
matizam a miscigenação brasileira ao 
apresentarem dois casais inter-raciais. 
III. A “Canção do tamoio” apresenta o relato 
de feitos heroicos específicos desse povo 
para exaltar a coragem humana. 
IV. O poema “Hagaar no deserto” recria um 
episódio bíblico e apresenta uma escrava 
escolhida por Deus para ser mãe de Isma-
el, o patriarca do povo árabe. 
Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e III são verdadei-
ras.
b) Somente as afirmativas II e III são verdadei-
ras.
c) Somente as afirmativas I e IV são verdadei-
ras.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são verda-
deiras.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são verda-
deiras.
 11. (Ufrrj) I-Juca-Pirama
Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
DIAS, Gonçalves. Últimos cantos. In: REBELO, 
M. (Org.). Antologia escolar brasileira. Rio de 
Janeiro: MEC/Fename, 1967, p. 276.
Nos versos do poema acima, vê-se a indigna-
ção do velho índio tupi, ao saber que o filho 
pedira aos inimigos aimorés que lhe poupas-
sem a vida.
Neles, Gonçalves Dias apresenta um dos tra-
ços mais caros ao Romantismo, que é o: 
a) culto a valores heroicos, como herança da 
era medieval.
b) subjetivismo que se revela através da poesia 
em primeira pessoa.
c) gosto pelas metáforas.
d) escapismo, que faz o romântico criar um 
mundo próprio e idealizado.
e) gosto pelo mistério, que se traduz num ma-
soquismo.
 12. (PUC-Camp)
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
(Leito de folhas verdes)
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis – e mas foram
Senhores em gentileza.
(I-Juca-Pirama)
Os excertos dos poemas anteriormente indi-
cados, dos Últimos cantos, exemplificam esta 
afirmação sobre a poesia de Gonçalves Dias: 
a) A contemplação da natureza leva à expres-
são de convicções religiosas, assim como os 
valores cristãos sobrepõem-se sutilmente à 
rudeza da vida selvagem.
b) Não se distingue a donzela branca da aman-
te indígena, tanto quanto não se opõe a 
bravura do índio à bravura de um cavaleiro 
medieval.
c) O amor da índia espelha a força da própria 
natureza, mas código de conduta dos guer-
reiros indígenas reflete os valores dos fidal-
gos medievais.
d) A sublimação do amor implica a idealização 
da morte, assim como o código de conduta 
dos guerreiros indígenas idealiza os valores 
dos fidalgos medievais.
e) O amor da índia espelha a força da própria 
Natureza, tanto quanto se apresentam com 
naturais e próprios os valores de conduta do 
guerreiro indígena.
GABARITO
1. D 2. C 3. B 4. A 5. C
6. A 7. D 8. C 9. D 10. C
11. A 12. C
L
OBRAS
C
Casa de Pensão
Obras
L C
Aluísio de Azevedo
33
ALUÍSIO DE AZEVEDO
O cortiço é sem dúvida a obra que fundamenta uma tendência literária chamada de Naturalismo no Brasil. 
Essa tendência tem início no Brasil com a publicação de O mulato, de Aluísio Azevedo, no ano de 1881, no entan-
to, é O cortiço que engloba todas as características necessárias para compor o chamado “romance de tese” e os 
pressupostos cientificistas característicos do final da segunda metade do século XIX.
Em O Cortiço, a história gira em torno de dois portugueses, Miranda e João Romão, a princípio um contra-
ponto entre a riqueza luxuosa do primeiro e a miséria e avareza do segundo. Os caminhos de João Romão para 
atingir o mesmo plano econômico serão aterradores. Além disso, ele vai buscar também uma ascensão social. 
Romão não vai medir esforços e escrúpulos para tal. Este é o viés naturalista em questão, ou seja, um mundo de 
atitudes que pensam no fim sem se preocupar com os meios em uma conduta justificável, que trata a visão realista 
das obras naturalistas. João Romão é fruto do meio em que luta severamente para sobreviver e prosperar, e atro-
pela todos que atravessassem seu caminho.
Aluísio Azevedo segue o molde de Eça de Queirós ou de Zola por trazer como técnica as minúcias da descri-
ção, a precisão analítica e a crítica social. Além disso, o autor trabalha com versatilidade no emprego dos diálogos, 
fisiologismo, traduzindo como eram os ambientes dos cortiços cariocas do final do século XIX. Espaços estes, onde 
a degradação de maneira tensa culmina em desfechos mortais, por ciúmes ou atração sexual.
A classe baixa e humilde da sociedade e a classe em ascensão são reunidas em agrupamentos humanos. O 
próprio cortiço é colocado com um personagem central. O espaço se caracteriza como algo de suma importância 
para o desenrolar da narrativa, pois vai determinar o comportamento dos personagens. O Cortiço se estrutura em 
três espaços distintos, que em consequência determinam o elenco social: o sobrado do Miranda, a venda de João 
Romão e o próprio cortiço.
34
Tendência naturalista
Naturalismo
substantivo masculino
 condição, estado do que é produzido pela na-
tureza.
 . fil doutrina que, negando a existência de es-
feras transcendentes ou metafísicas, integra as 
realidades anímicas, espirituais ou forças cria-
doras no interior da natureza, concebendo-as 
redutíveis ou explicáveis nos termos das leis e 
fenômenos do mundo.
Estilo de época e 
estilo individual 
O Naturalismo marca uma oposição ao mundo 
idealizado do Romantismo, dando prosseguimento en-
quanto tendência ao Realismo. O trabalho se incumbe 
do materialismo e do cientificismo que analisa as mi-
núcias da natureza humana e da sociedade, o determi-
nismo do meio social, da raça e do momento histórico. 
Um dos princípios norteadores do trabalho de H. Taine.
Contexto
Casa de Pensão é uma obra do ano de 1884, 
publicada em meio ao desenvolvimento das corren-
tes realistas e naturalistas, debruçando-se mais sobre 
a última. Pensar o contexto de publicação daobra é 
pensar em um Brasil ainda escravocrata, haja vista que 
a assinatura da Lei Áurea, que oficializou a abolição 
da escravidão só aconteceria quatro anos depois. Fica 
evidente, na obra, que o país iniciava os seus processos 
de modernização, os centros econômicos e políticos 
deixavam de ser os latifúndios, e passavam a ser então 
os sobrados e às áreas urbanas. Em meio ao cenário 
de expansão do Rio de Janeiro, Aloísio de Azevedo 
compõe a sua obra, tecendo crítica-analítica sobre a 
sociedade burguesa da qual faz parte.
CASA DE PENSÃO
Baseada em um famoso episódio do Rio de Ja-
neiro, ocorrido na segunda metade da década de 70, 
Casa de Pensão aponta para uma releitura da man-
chete jornalística que ficou conhecida como Questão 
Cipriano. Na história original, um estudante, em defesa 
da honra de sua irmã, assassinou um outro colegial. 
Não só na história de Cipriano, mas, também, no ro-
mance francês Le père Goriot (O pai Goriot), de Balzac, 
podemos encontrar correspondências com a história de 
Aluísio, já que, em ambas as obras, o principal espaço é 
uma pensão, ambiente determinante de seus persona-
gens. Além disso, é a figura de um estudante em busca 
de prestígio social que o foco narrativo acompanha.
 Foco
Narrado em terceira pessoa, por um narrador 
onisciente e onipresente, Casa de Pensão é um ro-
mance naturalista que trabalha entre o jornalismo e 
a ficção, entre o romance do sujeito e o romance do 
espaço. Durante os vinte e dois capítulos de Aluísio de 
Azevedo, acompanhamos a trajetória de Amâncio, es-
tudante que do interior do Maranhão chega ao Rio de 
Janeiro. 
Personagens
Os personagens, sob nomes fictícios, escondem 
pessoas reais:
Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - 
(João Capistrano da Silva)
 Estudante, acusado de seduzir Amélia. Educa-
do severamente pelo pai e pelo professor, mimado pela 
mãe, tem nos acontecimentos da infância a justificativa 
naturalista pela personalidade tímida e hipócrita.
Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira)
 A moça seduzida, pivô da tragédia. É descrita 
como uma menina esperta, pouco ingênua, na trama, 
é ela quem alega ter sido seduzida para evitar que 
Amâncio voltasse ao Maranhão.
35
Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, 
mãe da moça e do rapaz que assasina 
Amâncio)
É uma viúva, dona da casa de pensão, tem bas-
tante interesse no casamento da filha com Amâncio.
João Coqueiro - Janjão - (Antônio Ale-
xandre Pereira, irmão da moça Júlia 
Pereira e assassino de João Capistrano)
É o rapaz irmão de Amélia. De início, devido 
a um jogo de interesses, ajuda Amâncio oferecendo-
-lhe um lugar na pensão, tentando casá-lo com a irmã. 
Depois da confusão, torna-se o assassino de Amâncio. 
Alega ter cometido o crime em defesa da honra da fa-
mília e, no final, é absolvido.
Enredo
Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos é um 
rapaz de uma família rica do Maranhão que parte para 
o Rio de Janeiro em busca do título de Doutor e de 
uma liberdade maior em relação ao seio de sua famí-
lia. Amâncio chega ao Rio de Janeiro com uma série 
de cartas de recomendações, escritas pelo seu pai e 
alguns professores, em função disso, de início, acaba se 
hospedando na casa do Sr. Campos, homem que tem 
gratidão e deve favores ao pai de Amâncio.
Contudo, a vida proposta pelo tutor Campos a 
Amâncio é bastante regrada, já que esse é um homem 
sério e respeitado por todos, descrito como um sujeito 
ao mesmo tempo batalhador e sortudo. Amâncio, por 
sua vez, carrega em si o estereótipo do estudante, que 
se delicia com os prazeres da vida boêmia agora que 
vive longe dos pais e do ambiente onde desenvolveu 
os principais traços de sua personalidade: a hipocri-
sia. Essa hipocrisia, porém, é vista como um aspecto a 
exaltar as características Naturalistas do romance, uma 
vez que a personagem entende-se de tal modo devido 
às circunstâncias em que viveu. Assim, como numa in-
vestigação, parte dos primeiros capítulos é destinada à 
descrição da vida do estudante, do nascimento à mu-
dança. Muito maltratado pelo pai e pelos professores, 
aprendeu a desconfiar, nas palavras do autor de seus 
"semelhantes". Além disso, carrega o estigma da Sí-
filis, transmitida a ele pela ama de leite, uma escrava 
negra.
É nesse meandro de descrições bastante espe-
cíficas, articuladas pelo narrador que tudo vê e tudo 
sabe, que se justifica a personalidade da personagem. 
Assim, na fuga da rígida vida, aceita o convite de 
João Coqueiro e muda-se para uma pensão (a Casa 
de Pensão) – vale destacar que um certo envolvimento 
amoroso entre Amâncio e a esposa do Sr. Campos co-
meçava a se anunciar no momento dessa decisão. Na 
pensão, outra vez, o determinismo é posto em jogo, 
uma vez que a pensão é vista como um ambiente 
popular, um antro de promiscuidade, responsável por 
abrigar pessoas marginalizadas e marginalizar aqueles 
que lá vivem.
A pensão é administrada por Mme. Brizard, 
mãe de João Coqueiro e de Amélia. Esses personagens 
passam a orbitar Amâncio, pois sabem de sua origem 
rica, pretendendo, assim, o casamento entre o estu-
dante maranhense e Amélia. Em meio a esse jogo de 
interesses que revela a institucionalização do casa-
mento, bem como sua instrumentalização em relação 
à ascensão social, episódios como a expulsão de jo-
vens mulheres da pensão, já que, na visão de Brizard, 
elas poderiam se apresentar como melhores pretendes 
a Amâncio do que sua filha, desnudam a crítica à ins-
tituição burguesa e exibem o determinismo que ronda 
as personagens da pensão maltrapilha.
Nesse tempo, Amélia e Amâncio enamoram-se. 
Cabe destacar que a moça é descrita no livro de for-
ma não idealizada, isto é, sem ingenuidade. O enlace 
entre os dois vai bem, o que agrada a família de Amé-
lia, que se anima com a ideia do casamento, o qual, 
consequentemente, traria melhores condições de vida 
a todos, dada a origem nobre do estudante. Contudo, o 
casamento não está nos planos de Amâncio, que goza 
da liberdade e da vida boêmia, embora dê sinais – lem-
bremos que lhe foi determinado ser sempre aquilo que 
esperam dele – de que a moça o agrada para tal. 
O embate ocorre quando, no Maranhão, seu pai 
falece. O procedimento então é que ele retorne, para 
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ajudar a mãe e cuidar dos negócios da família. Entre-
tanto, Amélia não o pretende deixar partir, nem João 
Coqueiro, que o intima ao casamento antes da ida ao 
Maranhão. Amâncio posterga e planeja uma fuga, mas 
é descoberto. Para evitar, então, que o estudante parte, 
Amélia o acusa de sedução e, antes que pudesse partir, 
o jovem é preso.
O caso ganha comoção popular e Amâncio vai 
parar no tribunal, do qual é absolvido. O jovem se tor-
na muito popular, inclusive entre as mulheres, e passa 
a gozar ainda mais dos prazeres da vida boêmia que 
tanto almejou. Todavia, a família de Brizard não está 
feliz com a decisão, de modo que, tomado por um im-
pulso de defender a honra da família, João Coqueiro, 
munido de um revólver, assassina Amâncio. O jovem 
morto tem um enterro, então, espetacularizado e co-
berto pela mídia.
O livro termina com a também absolvição do 
assassino, que matou para defender a honra da fa-
mília. Nos últimos capítulos, o autor narra a ida da 
mãe de Amâncio ao Rio de Janeiro, em busca do filho, 
encontrando-o, porém, apenas em uma foto de jornal, 
morto e ensanguentado. 
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APROFUNDE SEUS CONHECIMENTOS
 7. (Mackenzie) É uma característica da obra de 
Camilo Castelo Branco: 
a) a influência rica em sua poesia de símbolos, 
imagens alegóricas e construções.
b) a oscilação entre o lirismo e o sarcasmo, dei-
xando páginas de autêntica dramaticidade, 
vibrando com personagens que comumente 
intervêm no enredo, tecendo comentários 
piedosos, indignados ou sarcásticos.
c) a busca de uma forma adequada para conter 
o sentimentalismo do passado e das formas 
românticas.
d) o fato de deixar ao mundo um alerta sobre o 
mal-estar trazido pela civilização

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