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UNIBR – FACULDADE DE SÃO VICENTE CURSO DE LETRAS ANDRESSA TORRES DE OLIVEIRA EDI CARLOS DOS SANTOS HELY CHARLES DE OLIVEIRA SAMUEL CUSTÓDIO DE OLIVEIRA SEMÂNTICA Formas do Nu IV – João Cabral de Melo Neto SÃO VICENTE 2013 A semântica no Poema de João Cabral de Melo Neto FORMAS DO NU IV O homem é o animal mais vestido e calçado. Primeiro, a pano e feltro se isola do ar abraço. Depois, a pedra e cal, de paredes trajado, se defende do abismo horizontal do espaço. Para evitar a terra, calça nos pés sapatos, nos sapatos, tapetes, e nos tapetes, soalhos. Calça as ruas: e como não pode todo o mato, para andar nele estende passadeiras de asfalto. Campos lexicais: NATUREZA VESTUÁRIO URBANO Animal Vestido Pedra Ar Calçado Cal Terra Pano Paredes Mato Feltro Tapetes Pedra Trajado Soalhos Calça Passadeiras Sapatos Asfalto O poeta opõe o NATURAL ao URBANO utilizando-se, para isso, dos costumes de vestuário do indivíduo da cidade, desta forma, trata o vestir como uma atitude de proteção como se a cada peça de roupa ou calçado o homem criasse um escudo que o protege dos elementos naturais, ao contrário do animal. Para o escritor, o vestir estende-se a tudo o que rodeia esse ser ávido por proteção, assim sendo, ele cria paredes, passadeiras, tapetes e asfalto, além de calçados, roupas e chapéus. Ao iniciar com o verso, “O homem é o animal” o poeta já cria um contraste, sendo o homem representante da vida urbana, enquanto o animal uma clara representação da natureza, neste mesmo verso nota-se o uso de metonímia, ao referir-se à raça humana utilizando o termo homem. No segundo verso “mais vestido e calçado” verifica-se o emprego de conotação, uma vez que não há referência apenas ao vestuário humano, o escritor expressa em “vestido e calçado” todas as formas de proteção e isolamento a humanidade tem buscado ao longo do tempo, fica entendido aqui também que os outros animais não são vestidos e nem calçados. “Primeiro a pano e feltro” com brilhantismo João Cabral de Melo Neto utiliza a metonímia para descrever roupa e chapéu por meio de suas matérias primas, que serão as primeiras medidas para que se evite a natureza, “se isola do ar abraço”. “Depois a pedra e cal de paredes trajado” como no verso anterior há metonímia em pedra e cal, materiais utilizados para a construção de casas, estas por sua vez representadas pelo termo paredes, entretanto, o termo trajado assume um sentido curioso, homem algum traja, ou seja, veste as paredes da casa, mas estas o protegem do contato exterior, como as vestes, o envolve de certa forma, protegendo-o dos fenômenos naturais, chuva, relento, etc... “se defende do abismo horizontal do espaço”. Continuando o jogo de palavras e sentidos o modernista e suas metáforas afirmam que o homem segue criando camadas para se distanciar do toque direto da sua pele com o natural, “Para evitar a terra, calça nos pés sapatos, nos sapatos, tapetes, e nos tapetes, soalhos” contrastando assim com a primeira afirmação do poema, “O homem é o animal”, porém o animal não busca fugir, proteger-se da natureza, ao contrário, a natureza é seu habitat. Os conceitos VESTIDO e DESPIDO no poema Formas do Nu remetem a discussão sobre a fragilidade humana e sua necessidade de proteger-se, propõe refletir quanto é pertinente a definição científica de que o homem pertence ao reino animal, de que o homem é um animal. Finaliza com: “Calça as ruas: e como não pode todo o mato, para andar nele estende passadeiras de asfalto“. Certamente não há como calçar ruas, mais uma vez o sentido conotativo é utilizado atribuindo uma ação própria do ser humano, calçar, a algo inanimado, ruas. Estender passadeiras de asfalto para andar no mato, é a referência que o pernambucano faz a urbanização, ao desmatamento e mais uma vez a essa ânsia de distanciar-se dos elementos naturais. O poema Formas do nu pode ser observado por camadas. Numa de suas camadas está o significado literal, comparando homem e outros animais, em relação à sua necessidade de estar protegido, vestido. Em outras camadas, estão os sentidos metafóricos, que são infinitos, próprios dos poemas cerebrais do gênio pernambucano João Cabral de Melo Neto.
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