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Glândula Tireoide Tutoria I – módulo Funções Biológicas IV. Capitulo 42 – Fisiologia Humana, Berny e Levy Essa glândula produz o hormônio T4 (Tiroxina ou tetraiodotironina) um pró-hormônio, e a T3 (triiodotironina), que representa o hormônio ativo. Esses hormônios dependem do iodo para sua produção e parte de T3 é convertido perifericamente a partir de T4. ANATOMIA E HISTOLOGIA • lobos direito e esquerdo, anterolateralmente à traqueia, unidos pelo istmo. • Rico suprimento sanguíneo. • Drenada por três conjuntos de veias em cada lado: as veias tireóideas superior, média e inferior • inervação simpática, que é vasomotora, mas não secretomotora. UNIDADE FUNCIONAL – folículo tireoideano, esférico, cercado por camada de células epiteliais, situado sobre uma lâmina basal. A face apical do epitélio folicular está voltada para a luz do folículo. A luz do folículo em si é preenchida com coloide, que é composto por tireoglobulina. Essa grande proteína (660 kDa) é secretada na luz e iodada pelas células epiteliais da tireoide, servindo como um arcabouço para a produção dos hormônios tireoidianos. Dispersas no interior da glândula estão as células parafoliculares ou células C, que são a fonte do hormônio polipeptídico calcitonina. PRODUÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Os produtos de secreção da Tireoide são as iodotironinas (moléculas formadas pelo acoplamento entre iodo e tironina). - 90% da produção consiste em T4. - 10% consiste em T3. - 1% consiste em T3 reversa, ou inativa. Uma vez que o produto principal da glândula tireoide é T4, porém a forma ativa dos hormônios tireoidianos é T3, o eixo da tireoide depende intensamente da conversão periférica por meio da ação de desiodases específicas. - Desiodase tipo 1 (D1) -> conversão de T4 em T3 tecidos de alto fluxo sanguíneo e rápida troca com o plasma (fígado e rins). Isso supre o T3 circulante basal para serem captados por tecidos. - D1 também é expressa na tireóide, mas a afinidade para T4 é baixa. - Desiodade tipo 2 (D2) é expressa nas células da glia do SNC, e permite que o encéfalo mantenha um nível de T3 sempre constante, mesmo na queda de T4. Funciona como um sensor do eixo tireoideano, na adenohipófise, sensibilizando para a produção de TSH. - Desioidase tipo 3 (D3) é inativadora, convertendo T4 em T3 inativa. EQUILÍBRIO DO IODETO O iodeto é concentrado ativamente na glândula tireoide, glândulas salivares, glândulas gástricas, glândulas lacrimais, glândulas mamárias e plexo corióideo. Aproximadamente 70 a 80 μg de iodeto são captados diariamente pela glândula tireoide. O teor total de iodeto na glândula tireoide corresponde em média a 7.500 μg, dos quais virtualmente a totalidade está na forma de iodotironina armazenada na tireoglobulina do coloide. No estado de equilíbrio, 70 a 80 μg de iodeto, ou aproximadamente 1% do total, são liberados diariamente da glândula. Dessa quantidade, 75% são secretados como hormônio tireoidiano e o restante como iodeto livre. A grande proporção de iodeto armazenado na forma de hormônio em relação à quantidade metabolizada diariamente protege contra a deficiência de iodeto por aproximadamente dois meses. O iodeto também é conservado por uma redução acentuada da excreção renal de iodeto quando sua concentração no soro diminui. VISAÕ GERAL DA SÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREOIDEANOS A síntese desses hormônios requer dois precursores: a tireoglobulina e o iodeto. Requer um movimento de basal para apical: O iodo é transportado da face basal para a face apical (luz) e a tireoglobulina é produzida na região basal e transportada para a parte apical na luz folicular. A secreção dos hormônios envolve um movimento de apical para basal, em que as tireoglobulinas são endocitadas e transportadas por vesículas endocíticas até a parte basal. Nos lisossomos a tireoglobulina é degradada pelas enzimas lisossomais, fazendo com que os hormônios sejam liberados dela. Os hormônios se movem pelas membranas basolaterais por meio de receptores específicos, e chegam ao sangue. Membrana basolateral tem o receptor NIS, que é um cotransportador (simporter de sódio-iodeto) que coloca um iodo para dentro junto com 2 Na+, e a força determinante para este transportador ativo secundário é fornecida pela Na+, K+-ATPase na membrana plasmática. NIS é altamente expresso na glândula tireoide, mas também é expresso em níveis mais baixos na placenta, glândulas salivares e mamas em lactação ativa A expressão de NIS é diminuída pelo iodeto e aumentada pelo TSH. Uma redução da ingestão dietética de iodeto causa depleção do pool circulante de iodeto e aumenta muito a atividade do transportador de iodeto. Quando a ingestão dietética de iodeto é baixa, a porcentagem de captação de iodeto na tireoide pode chegar a 80% a 90% O iodeto quando entra na célula vai para a membrana apical e é transportado para a luz do folículo por um transportador de iodo/cloreto independente de sódio, chamado de pendrina. O iodeto sofre oxidação pela Tireoperoxidase (TPO), para que possa ser incorporado em resíduos de tirosina, no interior da TG. Nesse momento temos a formação do MIT (monoidodotirosina) se for feita apenas uma oxidação, ou DIT (diiodotirosina), caso sejam feitas duas oxidações. Duas molúculas de DIT são acopladas para formar a T4 e uma MIT+DIT juntas formam a T3. Esse acoplamento ocorre entre tirosinas isolads que form a TG. As reações seguintes são catalisadas pela tireoide peroxidase (TPO), um complexo enzimático que se espalha na membrana apical. E o aceptor de o peróxido de hidrogênio, que é formado pelas enzimas oxidases duais (DUOX1 e DUOX2). Na ausência de Iodo ou no aumento de TSH, há o favorecimento da formação de T3. SECREÇÃO DE HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Quando a tireoglobulina é iodada, ela é armazenada na luz do folículo como coloide. A liberação de T4 e T3 na corrente sanguínea é iniciada por endocitose da forma coloide a partir da luz folicular pelos processos de macro e micropinocitose. Esse complexo se liga a um receptor Megalina para ser endocitado. As vesículas endocitóticas fundem-se então com lisossomos e a tireoglobulina é degradada. O MIT e o DIT que também são liberados pela proteólise da TG, sobre desiodação pela enzima iodotirosina desiodase. Essa enzima é específica para MIT e DIT e não atua com T3 e T4 como substrato. O iodeto é então reciclado na síntese de T4 e T3. Os aminoácidos derivados da clivagem da tireoglobulina entram novamente no pool de aminoácidos intratireoidianos e podem ser reutilizados para síntese proteica. Apenas quantidades mínimas de tireoglobulina intacta deixam a célula folicular em circunstâncias normais. T4 e T3 liberadas enzimaticamente são transportadas pelo lado basal da célula e entram no sangue. TRANSPORTE E METABOLISMO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS T3 e T4 circulam na corrente sanguínea, ligados a proteínas. Apenas 0,03% de T4 e 0,3% de T3 circulam na forma livre. (T3 livre é biologicamente ativa e medeia os efeitos do hormônio tireoidiano sobre tecidos periféricos, além de exercer uma retroalimentação negativa sobre a hipófise e o hipotálamo). A principal proteína de transporte é a TGB – globulina de ligação a tiroxina, que se liga tanto a T3 quanto a T4 em 70% das vezes. 10 a 15% são ligados a TTR – transtirretina. 15-20% são ligados na albumina 3% ligados a lipoproteínas. Funções da TGB: 1. manter uma reserva de T4 circulante para tamponar qualquer alteração aguda da tireoide. 2. Previne a perda de T3 e T4 pela urina (aumento de meia vida do hormônio) e ajuda a conservar o iodeto. TTR – transporta T4 no líquido cefalorraquidiano e fornece hormônios tireoideanos ao SNC. RETROALIMENTAÇÃO DA LIBERAÇÃO DE TSH . Os hormônios tireoidianos circulantes retroalimentam a hipófise para diminuir asecreção de TSH, principalmente pela repressão da expressão gênica da subunidade TSH-β. ➔ O hormônio tireoestimulante (TSH) é produzido pela hipófise e tem como finalidade estimular a tireoide a produzir os hormônios T3 e T4. Quando os valores de TSH se encontra aumentado no sangue, significa que a concentração de T3 e T4 no sangue está baixa A hipófise expressa D2 de alta afinidade, que converte T4 que entra nestas células em T3. Portanto, a retroalimentação nos tireotrofos, mediada por T3 intracelular, representa uma medida integrada de T4 e T3 livres circulantes. Uma vez que a variação diurna da secreção de TSH é pequena, a secreção do hormônio tireoidiano e suas concentrações plasmáticas são relativamente constantes. Ocorrem apenas pequenos aumentos noturnos na secreção de TSH e liberação de T4. Os hormônios da tireoide também retroalimentam os neurônios hipotalâmicos que secretam o hormônio liberador de tireotrofina (TRH). Nesses neurônios, T3 inibe a expressão do gene de pré-pró-TRH. A autorregulação da função da glândula tireoide é promovida pelo próprio iodeto, que tem uma ação bifásica. Em níveis relativamente baixos de ingestão de iodeto, a taxa de síntese de hormônio tireoidiano está diretamente relacionada à de iodeto. Contudo, se a ingestão de iodeto ultrapassar 2 mg/dia, a concentração intraglandular de iodeto atinge um nível que, paradoxalmente, suprime a atividade de TPO, bloqueando a biossíntese hormonal. Esse fenômeno é conhecido como efeito de Wolff-Chaikoff. A adaptação a uma alta ingestão de iodeto normalmente ocorre pela redução da expressão de NIS, o que faz que os níveis intratireoidianos de iodeto diminuam. A atividade de TPO volta então ao normal e a síntese de hormônio da tireoide é reiniciada dentro de dias a semanas. Em circunstâncias incomuns, a falha da infrarregulação por NIS provoca uma inibição prolongada da síntese hormonal por iodeto e hipotireoidismo resultante. A redução temporária na síntese hormonal pelo excesso de iodeto também é usada terapeuticamente no hipertireoidismo. Controle • Feedback negativo – T3 e T4 após agirem na célula alvo, sensibilizam a hipófise, inibindo a produção de TSH e no hipotálamo, inibindo a produção de TRH. • Efeito Wolff-Chaikolf – aumento exagerado na ingestão de iodo -> redução de produção de hormônio, pois o corpo entende que será prejudicial se todo esse iodo for usado para a síntese de hormônio. Logo há a redução de NIS. Se houver redução da ingestão de iodo-> há o estímulo da produção de hormônios, na tentativa de prevenir uma futura falta (estocagem). REGULAÇÃO DA FUNÇÃO DA TIREOIDE O regulador mais importante da função e do crescimento da glândula tireoide é o eixo do hormônio liberador da tireoide-hormônio estimulante da tireoide O Hipotálamo libera o TRH que age na hipófise, estimulando na produzir TSH, que atuará na glândula, estimulando a produção de T3 e T4. TSH estimula todos os aspectos da função tireoidiana. TSH tem ações imediatas, intermediárias e de longo prazo sobre o epitélio da tireoide. Os efeitos rápidos incluem: 1. Pinocitose de gotículas de coloide no citoplasma, que representam tireoglobulina no interior de vesículas endocitóticas. 2. Proteólise de tireoglobulina e a liberação de T4 e T3 da glândula. 3. Captação de iodeto e a atividade de TPO aumentam 4. Entrada de glicose na via de shunt da hexose monofosfato, que gera dinucleotídeo de nicotinamida adenina fosfato reduzido (NADPH) necessário para a reação de peroxidase. Os efeitos intermediários: 1. Ocorrem após horas a dias e envolvem a síntese e a expressão de proteínas de numerosos genes, incluindo aqueles que codificam NIS, tireoglobulina e TPO. (dependem de transcrição gênica) Ao efeitos a longo prazo: 1. Hipertrofia e hiperplasia das células foliculares. 2. Os capilares proliferam e o fluxo sanguíneo na tireoide aumenta. • O bócio endêmico é decorrente da ausência do iodo inadequado na dieta, provocando baixos níveis de hormônios tireoidianos e elevação de TSH. METABOLISMO DOS HORMÔNIOS TIREOIDEANOS . Ocorre por via hepática, transformados em sulfato e glicuronídeos, e serão depurados na bile. Passam ao sistema intestinal e são liberados nas fezes. EFEITOS FIS IOLÓGICOS DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Os hormônios tireoidianos atuam essencialmente em todas as células e tecidos, e desequilíbrios da função da tireoide constituem algumas das doenças endócrinas mais comuns. O hormônio da tireoide tem muitas ações diretas, mas também age de formas mais sutis para otimizar as ações de vários outros hormônios e neurotransmissores. Os hormônios são transportados pela corrente sanguínea até a célula alvo, entram na célula por transportadores monocarboxilato MCT8 e MCT10, que são capazes de transportar tanto T4 quanto T3 pela membrana plasmática, sendo que os receptores tireoideanos são Receptores intracelulares nucleares genômicos O T3 entra diretamente pela membrana e atua no receptor, e o T4 ao entrar na célula sofre a ação de uma desiodase para transformar em T3. Os hormônios estimulam diretamente a transcrição gênica. EFEITOS CARDIOVASCULARES - T3 aumenta o débito cardíaco, favorecendo o fornecimento de O2 para os tecidos. - Aumenta a frequência cardíaca e o volume sistólico em repouso. - Encurta o tempo de relaxamento diastólico. - Aumento da pressão sistólica e o aumento da força de contração e redução da pressão diastólica. - Aumenta a produção de calor e CO2 nos tecidos, promove a vasodilatação da pele, músculos e coração. - Pressão de pulso ampliada (aumento do volume sistólico + redução da resistência vascular). - volume sanguíneo total aumenta pela ativação do eixo renina-angiotensina-aldosterona. - Os efeitos indiretos são devido a sensibilidade a catecolaminas. EFEITOS SOBRE A TAXA METABÓLICA BASAL E TERMOGÊNESE - T3 aumenta o metabolismo de carboidratos, a absorção de glicose no TGI e aumenta o metabolismo de glicose (captação, oxidação e síntese). - Estimula o metabolismo de lipídeos. Induz enzimas para a síntese de ácido graxo, no tecido adiposo, e aumenta a lipólise. Isso resulta em redução do colesterol plasmático e aumento do receptor de LDL no fígado. - Induz o aumento do metabolismo de proteínas (liberação de aminoácidos musculares, a degradação de proteínas e, em menor grau, a síntese proteica e a formação de ureia). Em geral estimula o anabolismo. Quando há excesso de hormôos tireoidianos (hipertireoidismo) há aumento do catabolismo. - Aumento do consumo basal de O2 e aumenta o substrato ara a formação de O2 (glicose) . - aumenta a produção de calor. - Vasodilatação periférica reflexo para tentar manter o equilíbrio. EFEITOS NO S ISTEMA RESPIRATÓRIO - aumento da frequencia respiratória - aumento da ventilação por minuto. - aumento da eritropoietina renal – estimula a produção de hemácias e facilita o transporte de oxigênio. Efeitos sobre o sistema muscular esquelético - aumento do tônus muscular, aumento do desempenho. - Aumento sustentado dos hormônios há uma ação reversa de catabolismo muscular, fraqueza. - desenvolvimento e maturação dos ossos do feto, estimula o crescimento endocondral, a maturação dos centros epifisário. - estimula a remodelação óssea, T3 estimula tanto osteoblasto, quanto osteoclasto. - o aumento exagerado dos hormônios, gera estimulo maiso de degradação óssea. EFEITOS SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO. - sinergismo com catecolaminas (não aumenta a produção, apenas que o organismo se torma mais sensível a elas) - tremores nas extremidades. - SNC – depende do tempo de vida do individuo • Auxiliam no desenvolvimento do SN fetal, estimula o brotamento e estimulação das estruturas, proliferação dos axônios, formação das sinapses e migração celular. • No adulto aumenta as funçõesde estado de alerta, memorização, vivacidade, fome e audição. Em aso de aumento exagerado, há hiperexcitação (como insônia, por exemplo) EFEITOS SOBRE O SISTEMA GASTROINTESTINAL - Aumento do apetite. - Aumento da secreção de sucos digestivos. - aumento da motilidade - aumento do plexo mioentérico EFEITOS SOBRE O SISTEMA REPRODUTOR E GLÂNDULAS ENDÓCRINAS. - Auxilia no desenvlvimento da maturação dos folículos ovarianos e espermatogênese. - Mantém a gravidez saudável (estimula produção de proteínas transportadores de esteroides que mantém a gravidez saudável). - Estimula o Gh e o cortisol - Diminui o paratormônio (compensar a degradação óssea) e a prolactina. Hipotireoidismo O hipotireoidismo refere-se à produção insuficiente de hormônios da tireoide e pode ocorrer como doença endócrina primária, secundária ou terciária. Na doença primária, T3 e T4 estão reduzidos, enquanto TSH está alta, já na secundária e terciária, os três hormônios estão baixos. Quando acomete o feto gera o hipotireoidismo congênito - incapacidade intelectual grave, baixa estatura com desenvolvimento esquelético incompleto, alterações faciais grosseiras e protrusão da língua. A causa mais comum do hipotireoidismo em crianças no mundo todo é a deficiência de iodo. O hipotireoidismo endêmico pode ser prevenido por programas de saúde pública que adicionem iodo ao sal de mesa ou forneçam injeções anuais de uma preparação de iodeto absorvida lentamente. Outras causas seriam: alguma alteração congênita da tireoide, como a disgenesia da glândula tireoide, mutações em genes de produção de proteínas hormonais, anticorpos bloqueadores de TSH. A gravidade dos defeitos neurológicos e esqueléticos está intimamente ligada ao momento do diagnóstico e da reposição do hormônio tireoidiano (T4), com o tratamento precoce produzindo capacidade cognitiva normal e déficits neurológicos sutis. Por outro lado, se o hipotireoidismo ao nascimento permanecer sem tratamento por apenas duas a quatro semanas, o SNC não amadurecerá normalmente no primeiro ano de vida. Bebês com hipotireoidismo geralmente parecem normais ao nascimento devido à proteção dos hormônios tireoidianos maternos. Portanto, a triagem neonatal (níveis de T4 e TSH) tem um papel crítico no diagnóstico e na prevenção do hipotireoidismo congênito. O hipotireoidismo em adultos que não tenham deficiência de iodeto na maioria das vezes é o resultado de outro distúrbio autoimune conhecido como doença de Hashimoto (anteriormente chamada de tireoidite linfocítica). Os anticorpos produzidos nessa doença causam apoptose das células da tireoide e destruição dos folículos da tireoide. Esses anticorpos fixam o complemento e promovem a lise de células da tireoide, causando liberação de tireoglobulina na circulação. A glândula tireoide torna-se infiltrada por linfócitos B e T, o que pode causar um aumento da glândula. Outras causas de hipotireoidismo incluem causas iatrogênicas (por ex., lesão radioquímica ou remoção cirúrgica para tratamento de hipertireoidismo), bócios nodulares e doença hipofisária ou hipotalâmica. O tratamento de pacientes com o medicamento antiarrítmico amiodarona, que contém uma grande quantidade de iodo, pode causar hipo ou hipertireoidismo O quadro clínico do hipotireoidismo em adultos em muitos aspectos é o exato oposto ao observado no hipertireoidismo. A taxa metabólica menor que a normal provoca ganho de peso sem um aumento apreciável na ingestão calórica. A diminuição da termogênese reduz a temperatura corporal e causa intolerância ao frio, diminuição da sudorese e pele seca. A atividade adrenérgica diminui e, portanto, pode ocorrer bradicardia. O movimento, a fala e os pensamentos são lentificados e ocorre letargia, sonolência e um rebaixamento das pálpebras superiores (ptose). Um acúmulo de mucopolissacarídeos de carga negativa nos tecidos conjuntivos atrai sódio e líquido. O mixedema não depressivo resultante produz aspecto túrgido, aumento da língua, rouquidão, rigidez articular, derrames nos espaços pleurais, pericárdicos e peritoneais e pressão sobre os nervos periféricos e cranianos aprisionados por um excesso de substância sedimentada. Constipação, perda de cabelo, disfunção menstrual e anemia são outros sinais. Em adultos que não contam com o hormônio tireoidiano, a tomografia por emissão de pósitrons demonstra uma redução generalizada do fluxo sanguíneo cerebral e metabolismo da glicose. Essa anormalidade pode explicar o comprometimento psicomotor e o afeto deprimido dos indivíduos com hipotireoidismo. A terapia de reposição com uma dose diária de T4 que normalize os níveis de TSH geralmente é curativa em adultos. Na maioria dos pacientes, T3 não é necessária porque é gerada quando necessário por D1 e D2 periféricas. Além disso, a administração de T3 é complicada por sua alta potência e meia-vida curta, exigindo administração frequente e causando dificuldade para manter níveis fisiológicos constantes de T3. Sinais clínicos por sisntma Sistema cardiovascular A redução do débito cardíaco durante o repouso, a periferia gelada devido à redução do fluxo sanguíneo cutâneo, a dilatação cardíaca observada ao raio-X de tórax em associação a efusão pericardial, que ocasionalmente leva à disfunção do miocárdio, são observadas durante o hipotireoidismo. Dor isquêmica no peito é incomum, ocorrendo em pacientes que apresentam hipotireoidismo e doença isquêmica do coração no momento em que recebem a primeira reposição com hormônios tireoidianos. As alterações cardíacas são revertidas com a correta terapia de reposição de hormônios tireoidianos. Sistema gastrintestinal A maioria dos indivíduos mostra ganho de peso moderado apesar de redução do apetite, devido primariamente a retenção de fluidos. A absorção intestinal de nutrientes pode ser afetada tanto pela redução da absorção como pelo aumento do trânsito intestinal. Os resultados bioquímicos da função hepática são usualmente normais. Sistema nervoso periférico e central Deficiência de hormônios tireoidianos no feto ou na vida neonatal, se não prontamente tratados, resulta em prejuízo irreversível para o sistema nervoso central (SNC), com anormalidades estruturais evidentes no exame histológico. O quadro clássico de hipotireoidismo congênito é felizmente raramente visto devido à introdução de testes em neonatos e da eficiência do tratamento, se iniciada logo cedo. Em adultos, os defeitos neurológicos resultantes do hipotireoidismo são usualmente reversíveis. As características clínicas são retardo da função intelectual, com inanição, atividade mental lenta, sonolência e, ocasionalmente, um estado psicótico. A linguagem se torna mais lenta e a voz grossa o que ocorre devido ao edema das cordas vocais. Ataxia cerebelar pode ser observada em pacientes com hipotireoidismo prolongado e podem-se tornar irreversíveis se houver atraso no tratamento. Convulsões também podem ocorrer em casos severos. As manifestações do sistema nervoso periférico são comuns, com compressão do nervo mediano do pulso, sendo talvez o sinal mais conhecido (síndrome do túnel do carpo). O relaxamento dos tendões também ocorre com atraso. Sistema locomotor A rigidez muscular é uma reclamação comum no hipotireoidismo e se relaciona com a diminuição da frequência de relaxamento. Os músculos apresentam estrutura anormal ao microscópio, com perda das estrias, edema, tumefação das fibras e relativa deficiência de fibras do tipo II. A fraqueza muscular é com frequência evidente clinicamente e a atividade de enzimas musculares como a creatina quinase está aumentada. Sistema respiratório Alterações similares às descritas anteriormente também ocorrem com os músculos respiratórios, com função anormal dos músculos, levando em pacientes com doença pulmonar preexistente, à exacerbação da retenção de dióxido de carbono e apneiado sono. O raio-X do peito mostra derrame pleural. Pele e cabelo Aumento da ligação da água ocorre como resultado do depósito de mucopolissacarídeos na pele, como ocorre em outros tecidos. O edema resultante dá origem ao “mixedema”, o que é característico do paciente com hipotireoidismo. Anemia e hipercarotenemia estão associadas devido à ineficiência da conversão de β-caroteno em retinol, o que torna a pele pálida ou amarela, respectivamente. Os pelos do corpo caem, embora hoje em dia seja raro observar a perda do terço externo das sobrancelhas. O esqueleto A deficiência de hormônios tireoidianos no início da vida leva a anormalidades na epífise com redução acentuada do crescimento e diminuição da altura final. A baixa estatura pode ser uma característica isolada do hipotireoidismo na infância. Em comum com todas as doenças sistêmicas, o hipotireoidismo prolongado leva ao retardo do crescimento ósseo. A frequência de reciclagem óssea também é reduzida, causando diminuição do estoque de cálcio permutável. A concentração plasmática de cálcio e fosfato continuam normais. A atividade da fosfatase alcalina tende a ser baixa em crianças com hipotireoidismo. Os rins: balanço entre água e minerais O fluxo sanguíneo renal e a filtração glomerular estão ambos diminuídos, mas a quantidade total de água no corpo aumenta com o hipotireoidismo, levando ao prejuízo da excreção renal de água. A função osmorregulatória do hipotálamo e da glândula pituitária posterior estão anormais, contribuindo para a diminuição da excreção renal de água. Apesar das concentrações corpóreas de sódio aumentarem, o efeito de diluição leva à leve hiponatremia. Os níveis plasmáticos de creatinina e ureia se mantêm normais. Sistema reprodutor Em adultos de ambos os sexos, o hipotireoidismo leva à redução da libido e à infertilidade. A menorragia devido à falha na secreção de progesterona com ciclos anovulatórios é comum em fêmeas, bem como a oligospermia em machos. Tais modificações estão relacionadas à redução da secreção do hormônio luteinizante, particularmente nos casos de longa data. A concentração de gonadotrofina basal está, no entanto, dentro dos limites de normalidade, a não ser que alguma desordem da pituitária seja responsável pelo hipotireoidismo. A redução da globulina ligadora de hormônios sexuais leva ao aumento da concentração de hormônios sexuais livres, com diminuição da quantidade de estrógeno e testosterona e alterações na síntese de hormônios esteroidais. Outros sistemas A reciclagem de cortisol está frequentemente reduzida e, em alguns pacientes, a resposta do cortisol a hipoglicemia está atenuada, no entanto, a resposta ao ACTH administrado exogenamente é normal. A hiperprolactinemia é um achado normal, resultante do aumento da secreção do TRH. A hiperprolactinemia está correlacionada ao grau de elevação do TSH, apesar de galactorreia ser infrequente. A anemia normocrômica, a qual pode ser normo- ou macrocítica, é frequentemente observada e reflete a diminuição da produção de eritropoetina. A macrocitose e a deficiência de vitamina B12 ocorrem concomitantemente devido à anemia perniciosa autoimune, mas a deficiência em resposta à vitamina B12 disponível e a má absorção de folato podem contribuir. Se a menorragia for prolongada ou severa, a microcitose, mais do que a macrocitose, podem estar presentes como parte do quadro de deficiência de ferro. A concentração plasmática do fator de coagulação VIII e IX pode estar reduzida, causando sangramento leve que pode exacerbar a anemia. A absorção de glicose a partir do intestino e a captação pelos tecidos a partir do plasma são prejudicados, mas em pacientes com diabetes, a sensibilidade à insulina exógena é observada, provavelmente devido a redução da remoção da insulina. CAUSAS- A avaliação da concentração plasmática de TSH é o principal teste bioquímico para determinar o hipotireoidismo. À medida que a concentração dos hormônios tireoidianos diminui, a secreção de TSH aumenta e é usada para monitorar o estado da tireoide. A secreção de T3 é preferencialmente mantida na presença de altas concentrações de TSH que acompanham a diminuição da atividade da tireoide. A razão T3/T4, no entanto, aumenta e a concentração plasmática de T4 está melhor correlacionada com a atividade da tireoide do que os níveis de T3. A terapia de reposição do hipotireoidismo primário pode ser monitorada avaliando-se a concentração plasmática do TSH. Mixoedema primário Em uma grande proporção de pacientes com hipotireoidismo primário, o bócio ou histórico de bócio não estará presente. Estes indivíduos possuem altas concentrações plasmáticas de TSH com baixos níveis de T4 total e livre, e a maioria apresenta anticorpos antiperoxidade e/ou antitireoglobulina. Anticorpos que bloqueiam o crescimento da tireoide também foram descritos nestes pacientes. Enquanto a maioria dos pacientes poder apresentar o último estágio da tireoidite de Hashimoto com ausência de reconhecimento clínico nas fases iniciais da doença, claramente outros processos imunológicos podem ser responsáveis por alguns deles. Pós-cirurgia e pós-radioiodo Apesar de o desenvolvimento de hipotireoidismo após a cirurgia ou tratamento com 131Iodo na Doença de Graves ser usualmente permanente, ele pode ser temporário, especialmente nos primeiros 3-4 meses. Se for sintomático neste estágio inicial, os pacientes devem ser tratados com pequenas doses de tireoxina (50-75μg diariamente) e a necessidade de um tratamento contínuo avaliado em seis meses. Se as concentrações séricas de TSH permanecerem elevadas, a terapia com tireoxina será necessária pela vida toda e a dose precisa ser aumentada. Se os níveis séricos estão normais ou indetectáveis, a interrupção do tratamento com tireoxina por quatro semanas e a reavaliação da função tireoidiana são as ações apropriadas. Hipotireoidismo congênito A detecção clínica de hipotireoidismo em neonatos pode ser difícil. Em muitos países desenvolvidos, programas de avaliação dos níveis de TSH ou T4 (realizados aos 6 dias de vida quando o teste para fenilcetonúria também é realizado) ficaram em operação por alguns anos com considerável sucesso. O desenvolvimento anormal da tireoide é responsável pela maioria dos casos de hipotireoidismo congênito. A cintilografia pode ser usada para ajudar no diagnóstico. TRATAMENTO Terapia de reposição de hormônios tireoidianos O tratamento do hipotireoidismo primário ou secundário é por administração oral de levotireoxina. A dose de reposição usual é 1.6μg/kg por dia, o que equivale a 100-125 μg diariamente. Aos pacientes é avisado que a levotireoxina deve ser tomada de 30-60 minutos antes do café da manhã, já que tanto a comida quanto a cafeína podem interferir na absorção. A administração do fármaco ao deitar também é efetiva e pode ser utilizada em pacientes que tomam outras medicações. O tratamento pode ser iniciado por doses de reposição completas, exceto em indivíduos idosos e em pacientes com problemas cardíacos que necessitam que as doses sejam administradas com mais cautela. TSH e T4 séricos devem ser checados entre 6 e 8 semanas após o início do tratamento, momento em que qualquer ajuste de dose é necessário para restaurar os níveis de TSH. Em pacientes idosos com doença isquêmica do coração bem estabelecida, a reposição com levotireoxina deve ser iniciada com doses de 25μg diárias, aumentando 25μg a cada 4-6 semanas. Em pacientes com hipopituitarismo, com falência secundária da adrenal ou da tireoide, é importante que a terapia com levotireoxina não seja iniciada antes da reposição com hidrocortisona, já que isto pode precipitar a crise da adrenal por aumentar o metabolismo em pacientes incapazes de secretar cortisol. O objetivo do tratamento consiste em alcançar o bem-estar clínico e restaurar o eutireoidismo bioquímico, ou seja, o TSH sérico dentro dointervalo de referência de laboratório. Os pacientes que permanecem sintomáticos, apesar de doses de substituição total, poderão se beneficiar de aumentos de dose adicionais para manter a concentração de TSH na metade inferior do intervalo de referência. Abaixar o TSH para níveis inferiores ao intervalo de referência não é aconselhável, já que há evidência de que tais indivíduos com hipertireoidismo exógeno têm risco aumentado de fibrilação atrial e osteoporose. A resposta ao tratamento em pacientes com hipotireoidismo secundário deve basear-se nas avaliações de FT4 uma vez que a secreção de TSH é deficiente em doença da hipófise. O objetivo terapêutico em tais casos seria o FT4 no terço superior do intervalo de referência. Apesar de a reposição de hormônio tireoidiano com levotireoxina sintética ser eficaz na maioria dos casos, uma proporção significativa dos pacientes relata que permanecem sintomáticos. A administração destes pacientes pode ser um desafio e fatores que predispõe a substituição do hormônio tireoidiano inadequada incluem a baixa adesão do paciente, inadequada posologia e administração, uso concomitante de medicamentos que interferem com a disponibilidade da levotireoxina e a presença de comorbidades que prejudicam a absorção de levotireoxina. A combinação de T4 e TSH sérico elevado é sugestiva de baixa adesão, e o paciente é mais zeloso nos poucos dias antes do teste da função da tiroide em uma tentativa de compensar a falta de tratamento. Alguns indivíduos podem permanecer sintomáticos, mesmo após normalização da função da tireoide. Embora alguns pacientes possam se beneficiar de titulações de dose para níveis normais de TSH, é importante considerar causas alternativas dos sintomas persistentes, tais como diabetes, obesidade, doença de Addison, anemia, depressão, doença celíaca, apneia obstrutiva do sono e síndrome pós-virais. Na prática, os inquéritos são frequentement negativos e se existe a possibilidade de alguns indivíduos com sintomas persistentes se beneficiarem do tratamento combinado com T4 e T3 permanece controverso. O uso de T3 na reposição é muito mais difícil de titular e monitor, não é recomendado por profissionais e não deve ser conduzido fora de centros especializados com programas de acompanhamento a longo prazo. Delimitações recentes das variações genéticas comuns no gene da deiodinase e em genes de proteínas de transporte dos hormônios tireoidianos sugerem que tais polimorfismos podem explicar a variabilidade na resposta ao tratamento com os hormônios tireoidianos. .
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