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Natureza da Ciência Social (Gil2019)

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Prévia do material em texto

Antonio
Carlos
MÉTODO
E TÉCNICAS
DE PESQUISA
SOCIAL
P Edição
NATUREZA DA
CIÊNCIA SOCIAL
O ser humano, valendo-se de suas capacidades, procura conhecer o mundo que o
rodeia. Assim, ao longo dos séculos, vem desenvolvendo sistemas mais ou menos
elaborados que lhe permitem conhecer a natureza das coisas e o comportamento das
pessoas. Um desses sistemas é o que se denomina ciência, que constitui um dos mais
importantes componentes intelectuais do mundo contemporâneo. A rigor, não existe
uma única ciência, mas uma multiplicidade de ciências. Dentre elas, estão as ciências
sociais, que tratam dos aspectos relacionados com o comportamento humano ao longo
do tempo e como esses comportamentos podem influenciar a estrutura da sociedade.
Após estudar cuidadosamente este capítulo, você será capaz de:
Reconhecer as principais formas de conhecimento da realidade.
Identificar as características do conhecimento científico.
Classificar as ciências.
Reconhecer as especificidades das ciências sociais.
Caracterizar os principais paradigmas que fundamentam a investigação social.
1.1 0 conhecimento do mundo
Pela observação, o ser humano adquire grande quantidade de conhecimentos.
Valendo-se dos sentidos, recebe e interpreta as informações do mundo exterior. Por
exemplo, quando olha para o céu e vê formarem-se nuvens cinzentas, percebe que
vai chover e procura abrigo. A observação constitui, sem dúvida, importante fonte
de conhecimento.
Ao nascer, o ser humano depara-se também com um conjunto de crenças que lhe
falam acerca de Deus, de uma vida além da morte e também de seus deveres para
Natureza da ciência 
social
com Deus e o próximo. Assim, para muitas pessoas as crenças religiosas constituem
fontes privilegiadas de conhecimento que se sobrepõem a qualquer outra.
Romances como os de Dostoiévski e poemas como os de Fernando Pessoa també
podem proporcionar importantes informações sobre os sentimentos e as motivações
das pessoas. Embora sabendo-se que essas obras sejam de 
ficção, não há como deixar
de atribuir-lhes importância enquanto capazes de proporcionar informações acerca
do mundo.
Outra forma de conhecimento é derivada da autoridade. Pais e professores
descrevem o mundo para as crianças. Governantes, líderes partidários, jornalistas
e escritores definem normas e procedimentos que para eles são os mais adequados
E à medida que segmentos da população lhes dão crédito, esses conhecimentos
tidos como verdadeiros.
Também os filósofos proporcionam importantes elementos para a compreensão
do mundo. Em virtude de se fundamentarem em procedimentos racional-especulatis
vos, os ensinamentos dos filósofos têm sido considerados 
como dos mais válidos para
proporcionar o adequado conhecimento do mundo.
Entretanto, essas formas de conhecimento não se mostram plenamente satisfatórias.
A observação casual dos fatos conduz a graves equívocos, 
visto que, de modo geral,
é feita de forma pouco rigorosa. As religiões, por serem as mais variadas, fornecem
informações contraditórias. A poesia é subjetiva, assim como o romance. Pais, pro-
fessores e políticos também não podem ser tidos como guias de toda confiança, posto
que o argumento da autoridade na maioria das vezes acaba por deixar transparecer
sua fragilidade. O conhecimento filosófico, a despeito de seus inegáveis méritos, não
raro avança para o terreno das explicações metafisicas e absolutistas, que não possi-
bilitam sua adequada verificação.
Foi, pois, a partir da necessidade de obtenção de conhecimentos mais seguros que
os fornecidos por outros meios é que se desenvolveu a ciência, que constitui um dos
mais importantes componentes intelectuais do mundo contemporâneo.
1.2 Natureza da ciência
Etimologicamente, ciência significa conhecimento. Trata-se, portanto, de definição
inadequada para os tempos atuais, visto ser possível tratar de conhecimentos que
não são considerados científicos, como o conhecimento vulgar, o religioso e, em 
certa
acepção, o filosófico.
Uma definição mais contemporânea de ciência é, pois, a que a considera como 
uma
forma especial de conhecimento que tem por objetivo formular, mediante linguagem
rigorosa e apropriada — se possível, com auxílio da linguagem matemática leis 
que
regem os fenômenos. Embora sendo as mais variadas, essas leis apresentam 
vários
pontos em comum: são capazes de descrever séries de fenómenos; são comprováveb
por meio da observação e da experimentação; são capazes de prever — pelo 
menos
de forma probabilística — acontecimentos futuros.
2
Natureza da ciência social 1
pode-se definir ciência tnediante a identificação de suas características essenciais.
a ciência pode ser caracterizada como uma forma
sistemáticos O conhecimento científico é objetivo
descreve a realidade independentemente dos caprichos do pesquisador. É,
racional porque se vale sobretudo da razão, e não de sensação ou impressões, para
chegar a seus resultados. É sistemático porque se preocupa em construir sistemas de
ideias organizadas racionalmente e cm incluir os conhecimentos parciais em totalida-
des cada vez mais amplas. E geral porque seu interesse se dirige fundamentalmente à
elaboração de leis ou normas gerais, que explicam todos os fenómenos de certo tipo.
É verificável porque possibilita demonstrar a veracidade das informações. Finalmente,
é falível porque, ao contrário de outros sistemas dc conhecimento elaborados pelo
homem, reconhece sua própria capacidade de errar.
A partir dessas características torna-se possível, em boa parte dos casos, distinguir
entre o que é e o que não é ciência. Há situações, entretanto, em que não se torna
possível determinar com toda clareza se determinado conhecimento pertence à ciência
ou à filosofia. Essas situações ocorrem sobretudo no domínio das ciências humanas, o
que é compreensível, visto que há autores que incluem a filosofia no rol dessas ciências.
1.3 Classificação das ciências
Em virtude da multiplicidade de objetos que passaram a ser considerados pela
ciência, desenvolveram-se as ciências particulares. Ao longo desse desenvolvimento,
diversos autores têm procurando definir um sistema de classificação capaz de abran-
ger a multiplicidade de ciências. Embora úteis, nenhum desses sistemas se mostra
absolutamente satisfatório. Todavia, num primeiro momento, podem-se classificar
as ciências em duas grandes categorias: formais e empíricas. Ciências formais são,
pois, as que tratam de entidades ideais e de suas relações, sendo a Matemática e a
Lógica Formal as mais importantes. Considere-se, por exemplo, que a Matemática
trata do estudo das grandezas, entidades que só existem em nível conceitual. Ciências
empíricas, por sua vez, são as que tratam de fatos e de processos. Seus objetos derivam
da observação e da experiência. Incluem-se nesta categoria ciências como a Física,
a Química, a Biologia e a Psicologia.
As ciências empíricas podem ser classificadas em naturais e sociais. Entre as ciências
naturais estão: a Física, a Química, a Astronomia e a Biologia. Entre as ciências sociais
estão: a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Economia e a História. A
Psicologia, a despeito de apresentar algumas características que a aproximam das
ciências naturais, constitui também uma ciência social. Isto porque, ao tratar do
estudo do comportamento humano, trata-o sobretudo a partir da interaçào entre
Oghndivíduos.
Peculiaridades das ciências sociais
Durante muito tempo, as ciências trataram exclusivamente do estudo dos fatos e fenô-
menos da natureza, Até meados do século XIX, o estudo do homem e da sociedade
3
Natureza da ciência social
permaneceu com os teólogos e filósofos, que produziram 
trabalh0S notáveis' que até
hoje despertam admiração. Mas a partir desse período, 
profundamente marcado por
inovações tanto no campo tecnológico quanto político, 
passou-se a buscar conheci_
mentos acerca do homem e da sociedade tão confiáveis 
quanto os VOP0rcionados
pelas ciências da natureza. Desenvolveu-se, então,a concepção científica do saber
denominada Positivismo (COMTE, 1830), que 
propunha a utilização dos mesmos
métodos das ciências naturais para o estudo 
da sociedade.
Assim, as ciências sociais, fundamentadas 
na perspectiva 
positivista, SUPÕem que
os fatos humanos são semelhantes aos 
da natureza 
devem ser observados sem ideias
reconcebidas submetidos à ex erimenta 
ao ex ressos em 
termos quantitativos e
explicados segundo leis gerais. Mas 
esse modelo proposto 
para as ciências sociais tem
sido bastante questionado, visto 
que os tradicionais 
métodos científicos nem sempre
se mostram satisfatórios para 
o estudo do homem 
e da sociedade.
Isto não significa que a 
pretensão de estudar 
cientificamente o homem e a sociedade
deva ser abandonada. 
Torna-se necessário, 
porém, reconhecer que os objetos 
das
ciências humanas e sociais 
são muito diferentes dos 
das ciências fisicas e biológicas
e ressaltar algumas das 
dificuldades dessas ciências, 
tais como:
1.4.1 0 problema da objetividade
Émile Durkheim (1894), um 
dos pioneiros da investigação 
científica nas Ciências
Sociais, estabeleceu em As 
regras do método sociológico que 
a primeira e mais fundamen-
tal regra para o sociólogo é tratar 
os fatos sociais como coisas. Isto 
significa que, de
acordo com essa concepção, o cientista 
social precisa deixar de lado seus sentimentos
e valores pessoais, pois são subjetivos. 
Trata-se, evidentemente, de tarefa dificil, pois
diferentemente do cientista fisico, que pode, por 
exemplo, estudar com muito mais
objetividade, animais e vegetais sem maior 
envolvimento pessoal, '0 cientista social„
estudar asociedade, estará estudando algo de que faz 
parte.b
Ante aos fatos sociais, o pesquisador não é capaz de ser 
absolutamente objetivo.•
Ele tem suas preferências, inclinações, interesses particulares, 
caprichos, precon-
ceitos, interessa-se por eles e os avalia com base num sistema de 
valores pessoais.
Diferentemente do pesquisador que atua no mundo das coisas fisicas — 
que não se
encontra naturalmente envolvido com o objeto de seu estudo o cientista 
social, ao
NatL
rela
rigl
quc
na}
'jus
«do
0
d'
ir
tratar de fatos como criminalidade, discriminação social ou evasão escolar, está tratando
de uma realidade que pode não lhe ser estranha. Seus valores e suas crenças pessoa
is
o informam previamente acerca do fenómeno, indicando se é bom ou mau, justo 
011
injusto. E é com base nessas preconcepções que abordará o objeto de seu
apouco provável, portanto, queae seja capaz de tratá-lo com absoluta neutralidade
;
Arigog-nasciências sociais; o pesquisador é mais do que um observador objetivo:
um•atornenvolvido€no
Essa situação não invalida a pesquisa em ciências sociais. Torna-se necessán0'
no entanto, valer-se de quadros de referência que ultrapassem a visão proposta p
elo
Positivismo, que se mostra insuficiente para o entendimento do mundo complex0 
das
4
Natureza da 
ciência social
relações humanas. É preciso admitir que o princípio da objctividadc não podc scr
n.gidamente 
aplicado às ciências sociais. Não há como conceber uma investigação
que estabeleça 
uma separação rígida entre o sujeito e o objeto. Por essa razão é que
nas ciências sociais 
a discussão acerca da relação sujeito-objeto é relevante, O quen
.ustifica trexistência.le diferentes perspectivas adotadas na análise e interpretaçãOv
dos dados 
na pesquisa socialE
Uma dessas perspectivas é a fenomenológica, desenvolvida por Edmund Husserl
(1986), que afirma não ser possível a um ser humano conhecer o outro diretamente,
de forma imediata. 
Só podemos conhecer os outros a partir de nossa consciência
intencional. Assim, segundo esse autor, o outro só existiria como experiência do
nosso ego e o mundo vivido seria sempre o mundo vivido de cada um, singularmente
considerado. Assim, pesquisadores que aderem a essa perspectiva buscam superar
o problema da objetividade pela intersubjetividade„ou seja, pelo engajamento con-
junto de pesquisador e pesquisado que dessa forma tornam-se capazes de sintonizar
expressões e estados afetivos.
1.4.2 0 problema da quantificação
É amplamente reconhecido que o grau de adiantamento de uma ciência pode ser
determinado pela precisão de seusinstrumentosde medida„ Ora,•as ciências sociais.
elidam com fenómenos que não são tão facilmentequantificáveis quanto dos das ciên-
cias naturais. Contudo, o problema da quantificação em ciências sociais, se analisado
com a merecida profundidade, mostrar-se-á bem menos crítico do que aparenta.
O comportamento social é complexo e muito mais mutável que o comportamento
de rochas metais ou gases. Assim, os fenómenos sociais não podem ser quantificados
com o mesmo nível de precisão observado nas ciências naturais. Isto não significa,
porém, que seja impossível mensurá-los. O que ocorre é que as escalas de medicw
.adotadas nas ciências sociais não se mostram tão precisas quanto as adotadas nas ciên-
«cias naturais. Com frequência essas escalas apenas permitem classificar os fenómenos
sou.mensurá-los em termos de maior-menor ou mais alto-mais baixo. Constata-se,
porém, que apesar dessas limitações, a disponibilidade de instrumentos adequados
para a mensuração de fenómenos sociais complexos, como distância social, clima
organizacional, ideologia política e preconceito racial.
1.4.3 0 problema da experimentação
É fato que o experimento em investigações sociais é bem pouco utilizado, visto que, de
modo geral, o cientista não possui o poder de introduzir modificações nos fenômenos
que pretende pesquisar. Cabe, no entanto, indagar se de fato o experimentocontroladcy
é realmente indispensável para a obtenção de resultados cientificamente aceitáveis.
Não há como deixar de admitir que a experimentação representa uma das mais
notáveis contribuições ao desenvolvimento da ciência. Isto não significa, no entanto,
que somente as pesquisas experimentais podem ser consideradas genuinamente cientí-
ficas. A guisa de exemplo, pode-se lembrar que a Astronomia e a Geologia não 
devem
5
Natureza da ciência 
social
sua respeitabilidade à utilização dc procedimentos experimentais. A
até bem pouco tetnpo, desenvolveu-se independentemente da experimentação. F,
que dizer da Física Relativista?
Cabe ainda lembrar que as possibilidades de experimentação nas ciências 
têm sido muitas vezes negligenciadas. Significativos domínios da Psicologia são
sociais
cetíveis de experimentação. Em Psicologia Social, & mesmo em Sociologia,
criadas situações de laboratório muito parecidas com as que existem nas ciências
naturais. Considere-se que um marco significativo nos estudos organizacionais foi
representado pelos estudos desenvolvidos experimentalmente por Elton Mayo (1933)
que demonstraram o efeito dos fatores humanos na produtividade industrial. E
que muitas pesquisas sociais, embora não constituindo verdadeiros experimentos
alcançam elevado controle das variáveis envolvidas a ponto dc serem considerados
quase experimentos (CAMPBELI; STINLEY, 1979).
1.4.4 0 problema da generalização
Não há como desconsiderar as limitações das ciências sociais em relação à genera_
lidade. Enquanto as pesquisas nas ciências naturais conduzem, com frequência, ao
estabelecimento de leis, sociais, de modo geral, não conduzem mais do
queàcidentificação de&ndênciãs: Mas, com vistas a superar essa lacuna é que
construídas teorias de•alcance médiov(MERTON, 1970), que, embora constituídas
por conjuntos limitados de pressupostos, vão além das simples descrições e generaliza-
ções empíricas, tornando-se suficientemente abstratas para tratar questões relativas a
comportamentos e estruturas sociais. Embora seja razoável admitir que o verdadeiro
nas•ciências sociais pode ser apenas um verdadeiro relativo e provisórió.
1.5 Paradigmas das ciências sociais
Fica evidente que muitas das concepções adotadas no âmbito das ciências sociais
não correspondem a fatos objetivos da natureza, mas a pontos de vista, que diferem
naturalmente de indivíduopara indivíduo. Assim, para melhor compreensão dos
fenômenos sociais convêm considerar a importância dos paradigmas, ou seja, das
"realizações cient(ficas universalmente reconhecidas que durante algum tempofornecem problemas e
soluções modelares para uma comunidade de Praticantes de uma ciência" (KUHN, 1975, p. 13).
Paradigmas são, pois, constituídos pelos pressupostos filosóficos ou modelos que
orientam a investigação científica. Múltiplos paradigmas podem ser identificados em
ciências sociais. É possível, no entanto, definir três paradigmas mais gerais: positivista,
interpretativista e marxista histórico e dialético.
1.5.1 Paradigma positivista
O paradigma positivista fundamenta-se na existência de uma realidade objetiva, queindepende da percepção humana. Essa realidade é composta por estruturas concretas'tangíveis e relativamente estáveis. Assim, reconhece a possibilidade de chegarmos ao
6
da ciência 
social
Natureza
n
bccitnento 
objctivo dessa realidadc que cstá "fora dc nós". Os fatos sociais, por
tratados como 
coisas, podem mensurados c os investigadores são
a estabelecer 
dc causa c cfcito os cicmcntos 0 constituem.
As principais 
características do positivista são, pois: (l) o conhccimcnto científico,
da natutvza 
quanto da sociedade, é objetivo, não podendo scr influcnciado dc
alguma pelo 
pesquisador; (2) 0 conhecimento científico repousa na cxpcrimcn-
,io; (3) o 
conhecitnento científico é quantitativo; c (4) o conhecimento científico
taç, a existência de 
leis que determinam a ocorrência dos fatos. O método hipotético
é o que melhor se ajusta a este paradigma, já que para buscar respostas aosdedutivo
roblemas 
propostos são construídas hipóteses, que são colocadas à prova.
15.2 
Paradigma interpretativista
O paradigma 
interpretativista não se fundamenta na existência de uma realidade
totalmente objetiva, 
nem totalmente subjetiva, mas na interação entre as caracte-
óticas de determinado objeto e a compreensão que os seres humanos constroem
a seu respeito, 
por meio da intersubjetividade. Assim, pode-se dizer que, de acordo
com esse paradigma, 
o conhecimento acerca da realidade é construído por meio da
interação entre as 
pessoas e o mundo em que vivemos. Não existiria, portanto, uma
realidade objetiva a 
ser descoberta por pesquisadores — como estabelece o positi-
vismo — e nossas teorias acerca da realidade seriam sempre artificios para conferir
significado ao mundo 
vivido.
A valorização desse paradigma deve-se ao surgimento da perspectiva conhecida
por Interacionismo Simbólico (BLUMER, 1980), segundo a qual o modo como um
indivíduo interpreta os fatos e age perante outros indivíduos ou coisas depende do
significado que ele atribui a esses outros indivíduos e coisas. Por outro lado, um dos
métodos mais adequados a esse paradigma é o fenomenológico, proposto por Husserl
(1986), que propõe o conhecimento do outro por nossa consciência intencional e a
superação do problema da objetividade pelo encontro intersubjetivo entre pesqui-
sador e pesquisado.
1.5.3 Paradigma marxista
O paradigma marxista analisa o desenvolvimento da sociedade mediante uma inter-
pretação materialista de seu desenvolvimento histórico e adota uma visão dialética da
transformação social. Assim, pode-se falar em materialismo dialético e materialismo
histórico. O materialismo dialético é uma forma de abordar os fenómenos naturais sob
uma perspectiva materialista. Sob esta perspectiva, a realidade é explicada mediante
oposições. Busca-se, então, identificar os elementos conflitantes entre dois ou mais
fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito.
Por sua vez, o materialismo histórico consiste na aplicação dos princípios do mate-
rialismo dialético ao estudo da vida social. Trata-se, portanto, de uma abordagem
metodológica do que investiga as causas do desenvolvimento da sociedade, enfatizando
a contradição entre os interesses materiais da classe proletária e da burguesia. Assim,
7
Natureza da ClÔnCiâ
de 
esta concepção, as estruturas políticas, a moral, a religião atêtn origetn na pmduçào material e em suas relações materiais, que 
'Riaa tralidade e determinam as estruturas políticas, a moral, a religião e aNão sefia, portanto, a consciência que determina a vida, mas a vida que
Exercícios e trabalhos práticos
I. Dê exemplos de conhecimentos derivados da intuição, da tradição, da autorid
2. Considere como 0 tema "vida" é analisado diferentemente por filósofos,
3. Identifique algumas "verdades" amplamente reconhecidas que se justificam
4. Analise a expressão: "a ciência, ao contrário de outros sistemas elaborados 
pelo
5. Relacione certo número de ciências e, a seguir, procure definir seus objetos
6. Analise em que medida o conhecimento sociológico pode ser considerado

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