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jusbrasil.com.br 9 de Julho de 2021 [Pensar Criminalista]: Pessoa analfabeta pode servir de jurado no Tribunal do Júri? Olá criminalistas, tudo bem? Como sabemos, o Tribunal do Júri é um rito especializado cuja competência é constitucionalmente delimitada para o processo e julgamento de crimes dolosos contra a vida e outros que a eles forem conexos (art. 5º, XXXVIII, d, da CF). Neste rito os juízes da causa são os jurados, pessoas leigas escolhidas para julgar seus pares. Ao juiz togado compete a presidência da sessão de julgamento e a confecção da sentença, conforme decisão tomada pelos jurados, verdadeiros juízes da causa. Nosso Código de Processo Penal traz em seu art. 436, caput, os requisitos mínimos para a escolha dos jurados. São eles: a maioridade (maior de 18 anos), e a notória idoneidade. Lembrando que os maiores de 70 anos não estão obrigados a servir no Júri (art. 437, IX, do CPP). E, em atenção ao princípio da isonomia (art. 5º, caput, da CF), a lei processual penal determina que “nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução” (art. 436, §1º, do CPP). Mas, e quando a pessoa é analfabeta? Sua participação no Tribunal do Júri como jurado será possível? Para responder essa questão, precisamos compreender que aqui haverá um confronto entre: Portanto, devemos nos lembrar que, como regra, os princípios e direitos constitucionais não são absolutos. E, em caso de conflito deve ser utilizada a ponderação de valores. E, no caso do Tribunal do Júri, deve ser priorizada a justiça do caso concreto. Dessa forma, ser alfabetizado passa a ser um critério para que o cidadão possa compor o Júri e desenvolver com plenitude sua função. Vejamos: Apesar de ser regido também pela oralidade, o procedimento do Tribunal do Júri demanda atos escritos e, por vezes complexos, a exemplo da votação em células (art. 486, CPP); da possibilidade de o jurado ter acesso aos autos (art. 472, parágrafo único, e art. 479, §3º, ambos do CPP); e do sigilo do voto (art. 5º, XXXVIII, b, da CF), que proíbe intervenções (art. 485, §2º, do CPP) e exige o recolhimento separado de cédulas de votação (art. 487, do CPP). Tudo isso acaba por exigir dos jurados a condição mínima de ser alfabetizado. Para Nucci, “a alfabetização é elemento indispensável, para que o jurado possa ler os autos, sem quebrar a incomunicabilidade durante o julgamento” (NUCCI, 2020). André Estefam frisa que a impossibilidade de o analfabeto servir como jurado não se trata de excluí-lo por conta de seu grau de instrução, mas por não ostentar aptidão mínima para atuar no julgamento. O Juiz leigo deve dominar a língua falada e escrita, caso contrário, jamais terá condições de verificar os autos do processo para ter o contato direto com a prova produzida. (ESTEFAM, 2008) A falta de aptidão mínima para a compreensão e a leitura dos autos do processo ou das cédulas de votação podem levar o jurado a um veredicto equivocado, seja pela absolvição ou pela condenação. No primeiro caso, resta prejudicada toda a sociedade, pois deixaria impune um agente que, em outras circunstâncias seria condenado e preso. No segundo, o prejuízo seria imposto ao acusado, pois se condenado, seria injustamente tolhido de seu direito à liberdade. Desejo a vocês um excelente final de semana de muita saúde e tranquilidade! E, até a próxima reflexão! ____________________ Referências: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > ________. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm > NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. ESTEFAM, André. Temas polêmicos sobre a Nova Lei do Júri (Lei n. 11.689/2008). Publicado em Setembro de 2008. Disponível em < http://www.criminal.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php ?conteudo=620 > ____________________ Quem sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?aplicacao=informativo.ea http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm http://www.criminal.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=620 https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?aplicacao=informativo.ea Também estou no LinkedIn. Você pode me encontrar por lá: https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcantegfigueiredo Disponível em: https://annapaulacavalcante.jusbrasil.com.br/artigos/1244200974/pensar-criminalista- pessoa-analfabeta-pode-servir-de-jurado-no-tribunal-do-juri https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcantegfigueiredo
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