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JORNALISMO ESPECIALIZADO Marcilene Forechi Jornalismo de moda Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o jornalismo de moda no século XXI. Identificar a moda em seus aspectos de gênero e como manifestação cultural. Examinar o contexto em que se aplica o jornalismo de tendências. Introdução Jornalismo de moda é uma segmentação do jornalismo que, só a partir do século XXI, passou a ser considerada uma área de prestígio. Um dos grandes desafios do segmento foi relacionar o sistema de produção material, ou seja, a indústria de moda, com o sistema de produção e consumo simbólico. Nos últimos anos, com as mídias digitais, esse seg- mento do jornalismo ganha ainda mais destaque, passando a incluir tanto as publicações impressas mais tradicionais quanto novas produções, desenvolvidas especialmente para o ambiente digital e de forma bem mais segmentada. Neste capítulo, você vai estudar sobre os conceitos que orientam o segmento do jornalismo de moda, entendendo a moda como uma manifestação cultural que se relaciona ao gênero e, ainda, percebendo que o jornalismo de tendência se expande para diversas áreas além do vestuário. 1 Jornalismo de moda no século XXI A moda exerce uma infl uência econômica na sociedade contemporânea, sendo bem recente a sua inserção como objeto de estudos das sociedades. Em estudo no qual apresenta um histórico da moda ao longo dos séculos, Hellmann (2009) diz que se constitui um desafi o relacionar o sistema material de produção e o sistema de produção e consumo simbólico da moda. Nesse estudo, a autora considera essencial o conceito de distinção social para explicar o fenômeno da moda no século XXI. No jornalismo, a moda passa a ser considerada uma pauta de prestígio a partir do século XXI, passando a ocupar os espaços de economia e se rela- cionando à cadeia produtiva. Isso começa a ocorrer a partir do momento em que se associa o fenômeno social da moda como bem simbólico à realidade da indústria têxtil, capaz de contribuir consideravelmente com o produto interno bruto das economias mundiais. O jornalismo de moda é uma especialização recente no campo do jor- nalismo, que pode ser vista como parte de um movimento de jornalismo diversional. Ao se tomar brevemente o percurso histórico do jornalismo, é possível perceber as transformações pelas quais ele passou: de um jornalismo opinativo e publicista, passando por um jornalismo informacional e interpre- tativo, até chegar ao modelo que se vivencia agora, em que há a profusão de novas formas de comunicar aliadas à diversidade de meios e a um estado de hiperconexão da sociedade. Em sua dissertação de mestrado, o pesquisador Tarcisio D’Almeida (2008, documento on-line) diz que tanto o jornalismo quanto a moda compartilham da mesma fugacidade em relação ao tempo. Segundo ele, o jornalismo passa a ser o elemento “[...] sobre o qual se erguem todas as dinâmicas entre assistir, testemunhar um acontecimento” e publicá-lo nos meios de comunicação, sejam impressos, digitais ou audiovisuais. Na visão do autor, o que constitui a notícia jornalística de moda é o “[...] compartilhamento por ambos os campos da efemeridade e da dinâmica do tempo que rege a produção e publicação de notícias de moda” (D’ALMEIDA, 2008, documento on-line). Destaca-se, ainda, que, em relação aos gêneros jornalísticos, a moda pode ser apresentada sob a forma de reportagem, entrevista, crítica, editoriais e análises, entre outras. É muito comum associar o jornalismo de moda a um campo profissional de maior futilidade, às fofocas sobre celebridades e às tendências das estações, o que acaba por fazer com que estudiosos e profissionais do jornalismo não considerem essa especialidade com o mesmo valor que outras editorias, como economia e política, por exemplo. É importante, no entanto, fugir da tentação de considerar o jornalismo de moda como um jornalismo secundário, afinal, a moda se constitui em uma indústria produtiva e em uma prática cultural, que extrapolam o simples segmento do vestuário e das tendências. Ana Marta Flores (2016) sugere pensar o jornalismo de moda para além de sua simples materialização por meio de revistas, blogs, cadernos, sites ou aplicativos. Ela destaca que moda e jornalismo são análogos quanto à forma e ao movimento e é por meio da imprensa que a moda se propaga, sendo a mídia Jornalismo de moda2 um “primeiro poder”, devido a sua capacidade de determinar as tendências dos grandes meios de comunicação. “O que a literatura sugere é que a própria for- mação da moda está relacionada ao papel do jornalismo” (FLORES, 2016, p. 2). Tanto o jornalismo quanto a moda surgem em períodos bem próximos, sendo que a Idade Moderna, marcada por intensas transformações, contribuiu para mudar as concepções até então existentes sobre política, cultura, comunicação e economia. Flores (2016) destaca, citando o pesquisador alemão Otto Groth, os quatro pilares do jornalismo contemporâneo: periodicidade, universalidade, atualidade, difusão ou publicidade. Para essa pesquisadora, as características da moda e do jornalismo poderiam ser espelhadas a partir desses pilares. Periodicidade: esse pilar do jornalismo encontra seu correspondente na moda com a temporalidade cíclica, com as tendências marcadas para cada estação e pelas novas coleções lançadas anualmente. Universalidade: esse pilar se relaciona, no mundo da moda, à pluralidade e ao desenvolvimento de produtos em larga escala, assim como ocorre no jornalismo. Atualidade: a relação se encontra no princípio do novo, vital para o mundo da moda e para o jornalismo, na produção de seu principal produto, a notícia. Difusão: tanto para o jornalismo quanto para a moda é preciso que haja publicidade. Segundo uma definição de Ruth Joffily (1999 apud FLORES, 2016, p. 7), o jornalismo de moda pode ser dividido em tendências, comportamento e serviço, sendo que Flores acrescenta uma quarta dimensão, que seria o jornalismo da moda e do estilo das celebridades. O jornalismo de moda teria como produto final uma “[...] conversão da criatividade das marcas e estilistas concretizada na moda em novos termos nos produtos jornalísticos” (FLORES, 2016, p. 7). A autora aponta, ainda, que o jornalismo de moda possui quatro principais características que se sobressaem, seja qual for a plataforma ou o meio (FLORES, 2016): a imagem é prioridade no conteúdo de moda; o texto é carregado de referências, com destaque para o humor e jogo de palavras; o emprego de línguas estrangeiras é habitual, assim como a criação de neologismos; o juízo, a interpretação e a opinião são claramente expostos, com o uso do modo verbal imperativo. 3Jornalismo de moda O jornalismo de moda se constitui em uma área de atuação especializada e que não se limita à produção de textos jornalísticos e às coberturas de eventos de moda, como desfiles e lançamentos de produtos, por exemplo. Há possibilidades de atuação dentro de revistas especializadas e, também, em cadernos nos jornais impressos, assim como em sites, blogs e programas de televisão, além de editoriais de moda, seja como editor, redator ou fotógrafo especializado em moda. Atualmente, outro tipo de profissional tem se destacado no jornalismo de moda: as blogueiras e influencers dedicadas a tratar de comportamentos e tendências, tanto no vestuário quanto em outros segmentos, como maquiagem e bem-estar. As influencers e blogueiras de moda trabalham, especialmente, com opiniões e não possuem necessariamente formação na área de moda ou do próprio jornalismo. Em relação aos veículos tradicionais, como revistas e jornais, os blogs têm características que os tornam atrativos para o público: a facilidade de atualização, a personalização e a independência editorial. Essas características, no entanto, não podem ser confundidas com amadorismo ou falta de compromisso com a qualidade de textos eopiniões. Em um artigo no qual discute o papel dos blogs no cenário do jornalismo de moda no Brasil, a pesquisadora Daniela Hinerasky (2010) destaca que as mudanças nos fluxos de informações em diferentes suportes midiáticos dão mais poderes a pessoas comuns para produzirem e publicarem informações. No caso do jornalismo de moda, esse cenário redefine “[...] processos e fluxos tanto em âmbito econômico, quanto nos sistemas de comunicação” (HINERASKY, 2010, documento on-line). Segundo Hinerasky (2010, documento on-line), foi “[...] a chegada da internet comercial que levou ao boom da divulgação dos eventos, desfiles de moda e coleções via web e possibilitou a verdadeira democratização do setor”. Ela afirma que os sites, blogs e as redes sociais temáticas se revelam eficientes para noticiar a moda com instantaneidade, capacidade de conteúdo e interatividade com o público leitor. 2 Moda, seus aspectos de gênero e manifestação cultural Em uma perspectiva sociológica, a moda pode ser considerada um fenômeno social do século XXI, diante de sua institucionalização e do consumo, não se relacionando a um aspecto da sociedade e, sim, a diversos fenômenos. A moda se constitui em um dispositivo social defi nido, segundo Lipovetsky (2009), pela temporalidade breve e pelas mudanças constantes. Assim, a moda se encontra Jornalismo de moda4 presente em todos os aspectos da vida contemporânea, mas é no vestuário que ela se manifesta de forma mais visível e atinge um público mais ampliado. Lipovetsky (2009, p. 24) afirma que isso ocorre porque o vestuário se relaciona à esfera do “parecer”, aspecto em que a moda se exerce com mais “rumor e radicalidade”, sendo a “[...] manifestação mais pura da organiza- ção do efêmero”. É importante destacar que a moda não pode ser analisada restritamente em sua relação com o vestuário ou com trajes, ainda que essa seja uma percepção bastante comum. De modo geral, moda é um fenômeno relacionado à produção e ao consumo de significados simbólicos, enquanto o vestuário é um sistema de consumo físico de produtos. Daniela Calanca (2008) destaca que a moda não se limita ao hábito de se vestir, mas carrega informações relacionadas aos costumes e comporta- mentos, que variam com o tempo. Esses costumes se relacionam, também, a manifestações artísticas e culturais, como música, artes visuais, teatro, etc. As roupas, na visão dessa autora, são um meio de comunicação e podem ser interpretadas de acordo com a evolução da moda. Por isso, no dia a dia, costuma-se definir uma pessoa como moderna ou antiquada, a partir das roupas que usa. No filme Um senhor estagiário (2015), Roberto De Niro interpreta um aposentado que já passou dos 70 anos e se candidata a uma vaga de estagiário sênior em uma empresa de moda, na qual todos os funcionários e a dona da empresa são pessoas jovens, com menos de 30 anos. Apesar do ambiente descontraído da empresa, o personagem vai todos os dias ao trabalho de terno e gravata, como sempre fez nos 40 anos em que trabalhou na empresa na qual se aposentou. Quando sua chefe diz a ele que não precisa trabalhar de terno, ele responde simplesmente: “Me sinto bem assim”. Esse exemplo é capaz de ilustrar como a moda é ressignificada de forma diferente pelas pessoas, mas pode ser usada como elemento de análise da personalidade, da geração e da classe social. Calanca (2008) diz que a palavra moda é usada com diferentes significados e pode percorrer múltiplos caminhos visuais e semânticos. Pode-se destacar o uso da palavra moda em diferentes segmentos e apontar para alguns de seus significados. Um dos aspectos relevantes na indústria da moda em sua relação com o jornalismo é seu caráter de distinção de gênero, uma vez que, apesar de mudanças significativas nos últimos anos, o público feminino continua a ser considerado o público preferencial desse segmento. Isso pode ser observado fortemente no jornalismo, com a publicação de revistas especializadas em moda e que têm como pautas prioritárias as que se relacionam ao comportamento e autoconhecimento e às questões estéticas e de estilo. 5Jornalismo de moda Podemos estabelecer diferenças entre os termos vestuário, traje, indumentária e roupa. Na perspectiva de Roland Barthes (2005 apud HELLMANN, 2009, p. 11), a indumentária é uma realidade institucional social e coletiva, enquanto o traje ou a roupa constituem uma realidade individual. As duas esferas, da indumentária e da roupa, constituem um todo genérico ao qual denominamos vestuário. Pretinho básico: do luto ao luxo Até o início do século XX, o preto era uma cor usada por viúvas, por homens e por empregados. Isso foi assim até a estilista Gabrielle Bonheur Chanel (Coco Chanel) usar um vestido preto, sem adornos ou bordados, considerado um escândalo na época. A criação do vestido teve por objetivo marcar o luto pela perda de um amor. A partir daí, a cor passou a ser símbolo, na moda, de discrição, elegância e sobriedade. O uso do preto e sua apropria- ção pela moda é um bom exemplo de como a cultura está em transição e o mundo da moda, inserido em ambientes culturais, promove mudanças de comportamento. A palavra moda se origina do latim modus, que significa medida, ritmo, maneira, jeito. Na forma e no uso contemporâneos, moda vem do francês mode e, no dicionário, possui significados diferentes, assim como pode ser bem diversificado seu uso (MICHAELIS, 2020): maneira ou estilo de agir ou de se vestir; sistema de usos ou hábitos coletivos que caracterizam o vestuário, os calçados, os acessórios, etc., num determinado momento; conjunto de tendências ditadas pelos profissionais do mundo da moda; arte e técnica da indústria ou do comércio do vestuário; estilo próprio ou maneira de agir; interesse excessivo ou fixação por algo. Jornalismo de moda6 3 Jornalismo de tendência para além do vestuário A moda pode ser entendida como um fenômeno social, que se manifesta como produção e consumo de bens simbólicos e tem no vestuário o seu mais visível produto físico. Como fenômeno social, trata-se, portanto, de uma manifestação cultural, a partir do entendimento da cultura como os modos de produção e reprodução simbólica de hábitos, costumes, tradições e organização social, que moldam as sociedades. A indústria da moda, segundo Tarcisio D’Almeida (2008), exerce impac- tos na sociedade em diversos aspectos, principalmente, na consolidação de um modelo de consumo típico dos tempos atuais e, para compreender sua complexidade, hoje, é preciso refletir sobre duas questões. A primeira delas é o que significa “tendência” e o que ela produz no imaginário das pessoas, tanto do ponto de vista simbólico quanto material. Como segunda questão, o autor aponta que é preciso entender o que é mercado e qual o seu papel no mundo da moda. D’Almeida (2008) chama a atenção para o fato de que tendências são fabricadas e que a moda está “visceralmente” ligada à comunicação comporta- mental. Segundo as reflexões dele, é possível compreender que o que se chama de tendência no mundo da moda se relaciona à “similitude” apresentada por diferentes estilistas e coleções em um mesmo ano. Essa similitude reforçaria o poder da alta costura em “ditar a moda” e, como destaca o autor, servir como referência criativa para o mercado de moda. Contudo, é preciso compreender que a moda não diz respeito apenas ao vestuário, sendo possível perceber suas manifestações simbólicas e mate- riais em diversos segmentos da sociedade. Assim, pode-se falar em moda na sua relação com comportamentos, educação, trabalho, decoração, modos de viver, alimentação, maquiagem, etc. Isso demonstra como a moda, mais do que tendências ou aparatos, constitui-se em manifestação cultural, que se transforma no tempo e transforma as relações e os modos de ser das pessoas e das sociedades. Quando se fala em tendência, portanto, deve-se atentar àquilo que as pessoas estão consumindo e a quais ideias estão sendo evidenciadasno espaço público. Um bom termômetro para saber sobre tendências é buscar 7Jornalismo de moda entender o surgimento de novos segmentos ou a ressignificação de antigos. Por exemplo, as tendências no segmento da alimentação, em que ao mesmo tempo que cresce o número de adeptos a dietas vegetarianas ou veganas, cresce o número de publicações especializadas no assunto. Essas publicações nem sempre estarão ligadas a grandes grupos ou meios de comunicação, uma vez que as mídias sociais — como blogs e perfis e páginas em redes sociais — têm sido bastante utilizadas para o chamado mercado de nicho. Assim, se até bem pouco tempo atrás havia diversas publicações voltadas para alimentação, por exemplo, explorando a diversidade desse tema, hoje, é possível encontrar especializações dentro da especialização, como páginas e blogs sobre veganos, vegetarianos, comida de “verdade”, alimentação fun- cional, dietas restritivas de glúten, lactose, entre outros. É difícil definir como surge uma tendência e como ela pode ser considerada no mundo da moda, a partir do vestuário, e se estender a outros segmentos da sociedade. Porém, o que se pode dizer é que as tendências estão no centro da cadeia de produção do mundo da moda e “[...] movem a idealização, a confecção e a divulgação das novidades que influenciam o consumo” (SENAC, c2020, documento on-line). De acordo com a publicação, tendência de moda é o “[...] que se usa e se consome em determinado momento”, mas não apenas roupas, acessórios ou calçados. Desse modo, a tendência diz respeito a cores, formatos, materiais, inspira- ções e alcança o dia a dia, por meio das revistas de moda, dos desfiles e eventos, das produções de televisão, como novelas, séries e programas, da internet, em blogs, sites e redes sociais, e, principalmente, das ruas e dos comportamentos. “Tendências de moda são previsões que o consumidor deve escolher para vestir ou comprar” (SENAC, c2020, documento on-line). Assim, os produtos oferecidos ao público devem estar sintonizados com o que se espera que ele irá estar inclinado a comprar. Todavia, engana-se quem pensa que as tendências estejam relacionadas apenas ao mundo da moda, entendida como vestuário e modos de vestir. As tendências são ancoradas em grandes movimentos que influenciam as sociedades, como a cultura, a política e o consumo. A partir de estudos desses movimentos, é possível traçar macrotendências, que são definidas a partir de um panorama global, capazes de dizer para quais aspectos serão direcionados interesses diversos orientados para o consumo e os hábitos de vida. Jornalismo de moda8 O movimento “faça você mesmo”, há pouco tempo, ganhou bastante visibilidade e passou a ser encarado como uma tendência relacionada a um modo de vida mais sustentável, mas não é possível dizer que se trata de um movimento novo. As mídias sociais e o uso intensivo da internet, a partir da segunda década do século XXI, contribuem para a profusão de blogs, sites e páginas relacionadas ao mundo da moda e do “faça você mesmo”. Porém, é possível apontar iniciativas anteriores que apelavam para a ideia de ser possível fazer produções próprias. A revista Manequim é um exemplo de publicação, criada em 1959, que oferece moldes e instruções para que as leitoras produzam suas próprias peças. A ideia do “faça você mesmo” é uma tendência que surge, por volta da década de 1970, como uma resposta ao consumo de produtos industriali- zados em larga escala. Do inglês do it yourself (DIY), o movimento não se restringe ao vestuário, mas se estende para o mundo da decoração, incluindo artesanato e marcenaria, além da alimentação. Associando-se a questões como sustentabilidade, desapego e vida simples, trata-se de um retorno à simplicidade e à necessidade de individualização. Há, atualmente, um imenso mercado para quem deseja fazer aquilo que, normalmente, seria pago a um prestador de serviços, como, por exemplo, pintar a parede da sala ou renovar a mesa da cozinha com azulejos coloridos. Se o jornalismo dá visibilidade ao movimento, pode-se considerar que há uma relação circular, uma vez que, ao ser transformada em notícia ou reportagem, essa tendência passa a ser vista como a nova moda, a nova onda na qual muitas pessoas querem navegar. É comum que, nas publi- cações especializadas, famosos e celebridades mostrem suas formas de “faça você mesmo”. Uma pesquisa realizada pelo portal de pesquisas de tendências WGSN (LEE, 2012) destacou quatro fatores que contribuem para a popularidade desse movimento, que tem se transformado em modelo de negócios. Cultura da recessão: na pesquisa, a recessão é apontada como um fator que leva jovens consumidores (principalmente) a se manterem atualizados no mundo da moda sem precisar gastar muito para isso. Há diversos blogs de DIY, que publicam tutoriais de como recriar os estilos das passarelas usando materiais a preços acessíveis. Consumo consciente: o movimento “faça você mesmo” encoraja o consumo consciente, o reaproveitamento de materiais e a customização. 9Jornalismo de moda Os adeptos do movimento acreditam no poder positivo de transforma- ção no ato de simplificar e produzir suas próprias peças (de vestuário, decoração e alimentação, entre outras) para consumo. Gratificação instantânea: a ideia é tentadora, afinal, é possível recriar uma tendência das passarelas da moda, que ainda está à venda, em poucos minutos e, muitas vezes, usando peças já existentes ou com- prando a custos mínimos. Individualidade e exclusividade: os adeptos do DIY se motivam, prin- cipalmente, pela possibilidade de ter peças exclusivas e feitas sob me- dida, que irão se diferenciar e garantir um estilo próprio, ainda que a inspiração venha de tendências do mundo da moda. A Figura 1 ilustra uma linha do tempo com as principais características do mercado da moda em cada período. Figura 1. Características do mercado de moda. Fonte: D’Almeida (2008, documento on-line). Jornalismo de moda10 CALANCA, D. História social da moda. São Paulo: Senac, 2008. D’ALMEIDA, T. Não basta desfilar, tem que vender: (des)encontros entre moda e mer- cado. Dobras, v. 2, n. 2, 2008. Disponível em: https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/ article/view/383/380. Acesso em: 24 maio 2020. FLORES, A. M. M. Jornalismo de moda: características da prática no cenário brasileiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 39., 2016, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Intercom, 2016. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/ nacional2016/resumos/R11-0679-1.pdf. Acesso em: 24 maio 2020. HELLMANN, A. G. A moda no século XXI: para além da distinção social? 2009. Dissertação (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Sociologia, UFRGS, Porto Alegre, 2009. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/21459/000736166. pdf?sequence=1. Acesso em: 24 maio 2020. HINERASKY, D. A. Jornalismo de moda no Brasil: da especialização à moda dos blogs. In: COLÓ- QUIO DE MODA, 6., 2010, São Paulo. Anais [...]. Fortaleza: UNIFOR, 2010. Disponível em: http:// www.coloquiomoda.com.br/anais/Coloquio%20de%20Moda%20-%202010/71881_Jorna- lismo_de_moda_no_Brasil_-_da_especializacao_a_mod.pdf. Acesso em: 24 maio 2020. LEE, S. WGSN: os blogs de “faça você mesmo” estão virando negócio. FFW, 23 mar. 2012. Disponível em: https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/wgsn-os-blogs-de-faca- -voce-mesmo-que-estao-virando-negocio/. Acesso em: 24 maio 2020. LIPOVETSKY, G. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. MICHAELIS: dicionário brasileiro da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2020. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues- -brasileiro/moda/. Acesso em: 24 maio 2020. SENAC. De onde vêm as tendências de moda? São Paulo, c2020. Disponível em: http://www1. sp.senac.br/hotsites/gcr/materiais/tendencias_de_moda.pdf. Acesso em: 24 maio 2020. UM SENHOR estagiário. Direção,produção e roteiro: Nancy Meyers. Intérpretes: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo e outros. New York: Waverly Films, 2015. 1 DVD (2h 01min). Leituras recomendadas BARNARD, M.; OLINTO, L. Moda e comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. BARTHES, R. Inéditos: imagem e moda. São Paulo: Martins Fontes, 2005. v. 3. FERREIRA, J. M. Jornalismo de moda na era digital: um estudo de caso da Revista Glamour. 2018. Dissertação (Mestrado Profissional) — FIAM-FAAM, Centro Universitário, São Paulo, 2018. JOFFILY, R. O jornalismo e produção de moda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. 11Jornalismo de moda Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Jornalismo de moda12
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