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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Malária Introdução - A malária é uma doença infecciosa febril aguda. Quatro espécies parasitam exclusivamente o homem: - Plasmodium vivax; - P. falciparum; - P. malariae; - P. ovale; - No Brasil, somente os três primeiros estão presentes, sendo o P. vivax e o P. falciparum as espécies predominantes. O P. ovale ocorre apenas em regiões restritas do continente africano; → Classificação - Filo: Apicomplexa – possui o complexo apical na sua extremidade anterior, o que facilita a aderência do parasito a célula; - Classe: Sporozoea; - Família: Plasmodiidae; - Gênero: Plasmodium; → Transmissão - A malária é transmitida ao homem por meio da picada das fêmeas de mosquitos anofelinos – gênero Anopheles, sendo a espécie Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi mais prevalente no Brasil – infectadas com o Plasmodium – parasitadas com esporozoítos em suas glândulas salivares, elas inoculam essas formas infectantes durante o repasto sanguíneo; - As fontes de infecção humana para os mosquitos são pessoas doentes ou mesmo indivíduos assintomáticos, que albergam formas sexuadas do parasito – gametóforo; OBS.: Primatas não humanos podem funcionar como reservatórios de P. malariae. - Apesar de infrequente, a infecção malárica pode ser transmitida acidentalmente por transfusão sanguínea e inoculação por seringa; - A infecção congênita – rara – pode ocorrer com consequências graves para o feto ou recém- nascido. Morfologia - Os plasmódios variam individualmente em tamanho, forma e aparência, de acordo com seu estágio de desenvolvimento e com suas características específicas; - As formas evolutivas extracelulares, capazes de invadir as células hospedeiras – esporozoítos, merozoítos, oocineto – possuem um complexo apical formado por organelas conhecidas como roptrias e micronemas, diretamente envolvidas no processo de interiorização celular. Estas formas do parasito apresentam uma membrana externa simples e uma membrana interna dupla, que é fenestrada e incompleta, principalmente na extremidade anterior, onde está localizado o complexo apical. Este está ausente nas formas intracelulares – trofozoítos, esquizontes e gametócitos; → Esporozoíto - É alongado, apresenta núcleo central único. Sua estrutura interna é semelhante nas diferentes espécies de plasmódio. Sua membrana é formada por duas camadas sendo a mais externa formada principalmente pela proteína CS, a qual participa de diversas interações celulares durante o ciclo vital do parasito; - Forma Exoeritrócitica: Após a penetração do esporozoíto no hepatócito, ocorre a perda das organelas do complexo apical e o parasito se toma arredondado. Esta forma e chamada trofozoíto e após sucessivas divisões celulares dará origem ao esquizonte tissular – ou criptozoíto – composto por uma massa citoplasmática e milhares de núcleos filhos – dará origem aos merozoítos. O seu tamanho varia de 30 a 70 µm de diâmetro e isto provoca aumento do tamanho do hepatócito infectado; → Merozoíto - Independente da sua origem, se pré-eritrocítica ou sanguínea, os merozoítos são células similares e capazes de invadir somente hemácias. Estruturalmente, assemelham-se aos esporozoítos, sendo, porém menores e arredondados, e tendo uma membrana externa composta por três camadas; - Forma Eritrocítica: Compreendem os estágios de trofozoítos jovem, trofozoíto maduro, esquizonte e gametócitos; → Microgameta - Célula flagelada originaria do processo de exflagelação. Apresenta de 20 a 25 µm de comprimento, sendo constituída de uma membrana que envolve o núcleo e o único flagelo; → Macrogameta - Célula que apresenta uma estrutura proeminente na superfície, por onde se dá a penetração do microgameta – fecundação; → Oocineto - Forma alongada de aspecto vermiforme, móvel, com comprimento entre 10 e 20 µm, contendo núcleo volumoso e excêntrico; → Oocisto - Estrutura esférica de 40 a 80 µm. Apresenta grânulos pigmentados em seu interior, os quais tem características de cor e distribuição que variam entre as espécies. Está envolto por uma cápsula com espessura em torno de 0,1 µm e apresenta tamanho único em infecções de baixa densidade e dimensões múltiplas nas infecções intensas. Em infecções antigas a parede do oocisto se mantém aderida ao intestino médio, tomando-se quitinosa. Estima-se que um único oocisto possa produzir, em média, 1.000 esporozoítos. Ciclo Biológico - Ciclo heteroxênico, possui dois hospedeiros, um hospedeiro vertebrado – humano, não ocorrerá a fase sexuada – e um hospedeiro invertebrado – inseto, onde ocorrerá a fase sexuada; → Hospedeiro Vertebrado – Humanos - O inseto vetor inocula o esporozoíto no seu hospedeiro vertebrado, no momento do repasto sanguíneo – poucos esporozoítos são inoculados na derme do hospedeiro e cerca de 1h após a infecção, aproximadamente 70% deles atingem os vasos sanguíneos e 30% alcançam os vasos linfáticos, a maioria destes vai para os linfonodos proximais, onde são destruídos ou se desenvolvem parcialmente em formas exoeritrocíticas; - Os esporozoítos não apresentam cílios ou flagelos, mas graças as proteínas de superfície do parasito – proteínas circum-esporozoíto (CS) e proteína adesiva relacionada com a trombospondina (TRAP) – eles conseguem se movimentar e invadir as células hospedeiras; - Os esporozoítos de Plasmodium irão infectar os hepatócitos – eles possuem especificidade por esse tipo celular, onde ocorrerá a formação de um vacúolo parasitóforo – porém, antes de infectar essas células eles podem atravessar células hospedeiras sem se desenvolver nelas. Essa especificidade da célula-alvo sugere a participação de moléculas do parasito e de receptores específicos na superfície da célula- alvo, o hepatócito; - Após invadir o hepatócito, os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos pré-eritrocíticos. Estes se multiplicam por reprodução assexuada, dando origem aos esquizontes teciduais e posteriormente a milhares de merozoítos que invadirão os eritrócitos; - Os merozoítos formados durante a fase exoeritrocítica são liberados do fígado para a circulação sanguínea por meio dos merossomos – estruturas vesiculares que se deslocam para os sinusóides hepáticos, garantindo a liberação de merozoítos vivos diretamente na circulação sanguínea; - Através do consumo de cálcio intracelular, os merozoítos conseguem inibir a exposição de fosfatidilserina na superfície dos hepatócitos, evitando a destruição destas células pelas células de Kupffer e outras células fagocíticas presentes nos capilares sinusóides; - Finalizada a fase exoeritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular, é iniciada a fase eritrocítica. Esta fase inicia-se quando os merozoítos tissulares invadem os eritrócitos. A interação dos merozoítos com o eritrócito envolve o reconhecimento de receptores específicos, que varia entre as espécies de Plasmodium. Além disso, as diferentes espécies possuem preferências por hemácias em diferentes fases de maturação – reticulócitos (hemácias imaturas), hemácias de diferentes graus de maturação, hemácias maduras. Essas características têm implicações diretas sobre o número de parasitas presentes na corrente sanguínea verificados nas infecções causadas pelas diferentes espécies; - Os merozoítos intracelulares se diferenciarão em trofozoítos imaturos, que posteriormente se se diferenciarão em trofozoítos maduros, estes se reproduzirão por esquizogonia – reprodução assexuada onde o primeiro núcleo sofre várias divisões mitóticas para depois ocorrer a divisão citoplasmática em quantidades iguais – com consequente formação de merozoítos que invadirão novos eritrócitos; - Depois de algumas gerações de merozoítos sanguíneos, ocorre a diferenciação dos trofozoítos imaturos em estágios sexuados, os gametócitos, que não mais se dividem e que seguirão o seu desenvolvimento no mosquito vetor,dando origem aos esporozoítos; OBS.: A fonte de nutrição de trofozoítos e esquizontes sanguíneos é a hemoglobina. A ingestão desta faz-se por uma organela especializada, o citóstoma. A digestão ocorre dentro de um vacúolo digestivo, com a formação do pigmento malárico, ou hemozoína. Após o termino da esquizogonia e o rompimento das hemácias parasitadas, o pigmento malárico acumulado no citoplasma do eritrócito é liberado no plasma e posteriormente fagocitado pelas células de Kupffer no fígado ou pelos macrófagos do baco e de outros órgãos. → Hospedeiro Invertebrado – Inseto - Durante o repasto sanguíneo a fêmea do anofelino ingere as formas sanguíneas do parasito, mas somente os gametócitos serão capazes de evoluir no inseto, dando origem ao ciclo sexuado ou esporogônico; - No intestino médio do mosquito, ocorre o processo de gametogênese – gametócitos se transformam em gametas extracelulares. O gametócito feminino transforma-se em macrogameta e o gametócito masculino, por um processo denominado exflagelação, dá origem a oito microgametas; - Um microgameta fecundará um macrogameta, formando o zigoto móvel. Este, passa a movimentar-se por contrações do corpo, sendo denominado oocineto; - O oocineto atravessa a matriz peritrófica e atinge a parede do intestino médio, onde se encista na camada epitelial do órgão, passando a ser chamado oocisto; - Inicia-se então o processo de divisão esporogônica, e, após certo período de tempo, ocorre a ruptura da parede do oocisto, sendo liberados os esporozoítos formados durante a esporogônia; - Os esporozoítos se disseminarão por todo o corpo do inseto pela hemolinfa, até atingir as células das glândulas salivares. Esses esporozoítos atingirão o canal central da glândula e ingressarão no ducto salivar para serem injetados no hospedeiro vertebrado, juntamente com a saliva, durante um novo repasto sanguíneo infectante. Patogênese - Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária. A passagem do parasito pelo fígado – clico pré-eritrocítico – não é patogênica e não determina sintomas. A destruição dos eritrócitos e a consequente liberação dos parasitos e de seus metabólitos na circulação provocam uma resposta do hospedeiro, determinando alterações morfológicas e funcionais observadas no indivíduo com malária; - Anemia Severa: Hemólise maciça, disfunção da medula óssea – baixa produção de hemácias e alta produção de monócitos, que se diferenciarão em macrófagos, que destruirão as hemácias parasitadas – sequestro dos eritrócitos infectados pelo baço – os eritrócitos infectados muitas vezes se associam a eritrócitos não infectados, que acabam sendo destruídos também – participação de autoanticorpos – destroem até as hemácias não infectadas, pois o organismo perde a capacidade de diferenciá-las das infectadas – sangramentos espontâneos – devido a problemas na cascata de coagulação; - Malária Cerebral: Infecção por P. falciparum, principalmente. Caracterizada pela aderência de hemácias parasitadas no endotélio dos capilares, devido à formação de protuberâncias ou Knobs – formadas pela exposição de proteína 1 de membrana nos eritrócitos infectados – essas protuberâncias fazem com que essas hemácias se liguem umas as outras formando uma espécie de trombo, o que interrompe o fluxo normal do sangue causando anóxia cerebral. Essa presença de hemácias infectadas gera o aumento da produção de citocinas – TNF alfa – pelas células do hospedeiro, principalmente os macrófagos, causando um edema e aumento da produção de proteínas de adesão pelas células endoteliais dos capilares – CD36, VCAM1, ELAM1 e ICAM1 – que irão se ligar as proteínas expostas na membrana do eritrócito infectado, gerando uma pressão na parede dos vasos e consequente hemorragia; OBS.: Esse mesmo fenômeno pode ocorrer outros órgãos, como os rins e pulmões, de pacientes infectados pelo P. falciparum. Tratamento - O diagnóstico é feito através de um exame de sangue – gota espessa ou camada delgada – procurando o parasita na amostra – a espécie e sua forma evolutiva; - A terapêutica só pode ser definida com o diagnóstico feito, pois para cada espécie de Plasmodium existe um tratamento ideal; → Drogas Antimaláricas - P. falciparum: - Quinina – esquizonticida hemático rápido (destrói esquizonte dentro da hemácia) – + Doxiciclina – esquizonticida tecidual lento (destrói esquizonte tecidual); - Mefloquina: Esquizonticida hemático rápido – destrói esquizonte dentro da hemácia; - Artesunato – esquizonticida hemático rápido (destrói esquizonte dentro da hemácia) – + Doxiciclina; - P. vivax: - Cloroquina: Esquizonticida hemático – destrói esquizonte dentro da hemácia – e gametocida – destrói gametócitos; - Primaquina: Esquizonticida tecidual – destrói esquizonte tecidual – e gametocida – destrói gametócitos; - P. malariae: - Cloroquina: Esquizonticida hemático – destrói esquizonte dentro da hemácia – e gametocida – destrói gametócitos.
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