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Daniela Junqueira Gomes Teixeira UNIME 2020.2 Fadiga, Perda de Peso e Anemia Daniela Junqueira Gomes Teixeira Objetivos Problema 1 - Intermediária 1. Explanar mecanismo da hematopoese 2. Elucidar os principais diagnósticos sindrômicos e diferenciais da anemia na infância bem como os métodos diagnósticos pra anemia 3. Aclarar a conduta de atendimento que deve ser feita para o caso Problema 1 – Fechamento 1. Elucidar a etiologia, fisiopatologia e diagnóstico da anemia hemolítica hereditária (Anemia Falciforme e talassemia) 2. Discorrer a etiologia, fatores determinantes, fisiopatologia e diagnóstico das anemias carenciais (Anemia Megaloblástica, anemia Ferropriva) 3. Explanar a interpretação do hemograma associando com o caso bem como os exames de Eletroforese de hemoglobina e Cromatografia Líquida de Alta Performance 4. Elucidar a conduta integral para o caso Problema 2 – Intermediária 1. Explanar a morfofisiologia do sistema linfático e hematológica 2. Elucidar a conduta de investigação das linfonodomegalias bem como das hepatoesplenomegalias febris e pancitopenias Problema 2 – Fechamento 1. Explanar epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico e laboratorial da Mononucleose e da Leucemia Linfoide Aguda; 2. Elucidar o estadiamento da Leucemia Linfoide Aguda e dos linfomas, bem como o tratamento da leucemia e os princípios da quimioterapia; 3. Discorrer acerca da síndrome da lise tumoral e os sinais de necessidade suporte intensivo; 4. Explicar como comunicar más notícias e as fases de aceitação da morte. Problema 3 – intermediária 1. Explanar sobre definição, epidemiologia, fisiopatologia e diagnóstico da Síndrome Consumptiva 2. Discorrer sobre os possíveis diagnósticos sindrômicos e diferenciais de síndrome consumptiva no idoso, bem como seu fluxograma de investigação 3. Elucidar as principais etiologias de dor lombar em idosos. Problema 3 – fechamento 1. Aclarar a morfofisiologia óssea. 2. Explanar epidemiologia, patologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento do Mieloma Múltiplo bem como seu estadiamento e prognóstico 3. Elucidar a fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento do Carcinoma de próstata. 4. Discorrer acerca da fisiopatologia e terapêutica da Metastização Óssea 5. Esclarecer a abordagem psicossocial para pacientes como do caso. Problema 4 – intermediária 1. Explanar a fisiopatologia e a conduta investigativa das síndromes edematosas bem como seus diagnósticos sindromicos e diferenciais 2. Elucidar a cerca da síndrome urêmica e os sinais e sintomas da insuficiência cardíaca crônica (ICC) e da insuficiência renal aguda (IRA) 3. Descrever os principais exames complementares para o diagnóstico e abordagem do paciente do caso. Problema 4 – Fechamento 1. Explicar os exames do caso correlacionando com as principais etiologias e epidemiologia da DRC 2. Explanar acerca da fisiopatologia, achados clínicos, estadiamento e tratamento da DRC 3. Discorrer a fisiopatologia de anemia na DRC 4. Aclarar acerca do tratamento integral do paciente bem como sobre as terapias renais substitutivas e os critérios para transfusão do paciente renal crônico e suas complicações Problema 5 – Fechamento 1. Definir hipometabolismo e hipermetabolismo descrevendo as ordens endócrinas e não endócrinas que cursam com isso 2. Descrever doenças endócrino-metabólicas que podem cursar com alteração de peso, fadiga e anemia 3. Explanar a etiologia, fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e diagnósticos diferenciais do hipotireoidismo e hipertireoidismo 4. Explicar os exames para a investigação diagnóstica 5. Descrever a fisiopatologia da anemia nas doenças endócrinas crônicas 6. Explicar alterações no metabolismo nas disfunções tireoidianas e relacionar o papel da amiodarona na etiopatogenia do caso Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária Hematopoese e eritropoese HEMATOPOESE LOCAIS DE HEMATOPOESE × Primeiras semanas da gestação: o saco vitelino é um local transitório de hematopoese. A hematopoese definitiva, entretanto, deriva de uma população de células-tronco observada, inicialmente, na região AGM (aorta-gônadas- mesonefros). Acredita-se que esses precursores comuns às células endoteliais e hematopoéticas (hemangioblastos) se agrupem no fígado, no baço e na medula óssea; × 6 semanas até 6 a 7 meses de vida fetal: o fígado e o baço são os principais órgãos hematopoéticos e continuam a produzir células sanguíneas até cerca de 2 semanas após o nascimento. A medula óssea é o sítio hematopoético mais importante a partir de 6 a 7 meses de vida fetal e, durante a infância e a vida adulta, é a única fonte de novas células sanguíneas. As células em desenvolvimento situam-se fora dos seios da medula óssea; as maduras são liberadas nos espaços sinusais, na microcirculação medular e, a partir daí, na circulação geral. × Dois primeiros anos: toda a medula óssea é hematopoética, porém, durante o resto da infância, há substituição progressiva da medula dos ossos longos por gordura, de modo que a medula hematopoética no adulto é confinada ao esqueleto central e às extremidades proximais do fêmur e do úmero. Mesmo nessas regiões hematopoéticas, cerca de 50% da medula é composta de gordura. A medula óssea gordurosa remanescente é capaz de reverter para hematopoética e, em muitas doenças, também pode haver expansão da hematopoese aos ossos longos. Além disso, o fígado e o baço podem retomar seu papel hematopoético fetal ("hematopoese extramedular"). CÉLULAS-TRONCO E CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOÉTICAS A hematopoese inicia-se com uma célula-tronco pluripotente, que, por divisão assimétrica, tanto pode autorrenovar-se como também dar origem às distintas linhagens celulares. Essas células são capazes de repovoar uma medula cujas células- tronco tenham sido eliminadas por irradiação ou quimioterapia letais. As células-tronco hematopoéticas são escassas, talvez uma em 20 milhões de células nucleadas da medula óssea. Muitas delas são dormentes. A diferenciação celular a partir da célula-tronco passa por uma etapa de progenitores hematopoéticos comprometidos, isto é, com potencial de desenvolvimento restrito. A medula óssea também é o local primário de origem de linfócitos que se diferenciam de um precursor linfocítico comum. O baço, os linfonodos e o timo são sítios secundários de produção de linfócitos. A célula-tronco tem capacidade de autorrenovaçáo, de modo que a celularidade geral da medula, em condições estáveis de saúde, permanece constante. Há considerável ampliação da proliferação no sistema: uma célula-tronco, depois de 20 divisões celulares, é capaz de produzir cerca de 106 células sanguineas maduras. Em seres humanos, as células-tronco são capazes de aproximadamente 50 divisões, com o encurtamento do telômero limitando a viabilidade. Em condições normais, estão em dormência. Com o envelhecimento, elas diminuem de número, e a proporção relativa que dá origem a linfócitos, em vez de células mieloides, também decresce. As células-tronco, com o envelhecimento, também acumulam mutações genéticas, em média dos 8 aos 60 anos, e essas mutações, driver ou passenger, podem estar presentes também em tumores que se originem dessas células- tronco. ESTROMA DA MEDULA ÓSSEA A medula óssea constitui-se em ambiente adequado para sobrevida, autorrenovação e formação de células progenitoras diferenciadas. Esse meio é composto por células do estroma e por urna rede microvascular. × Células do estroma: incluem células-tronco mesenquimais, adipócitos, fibroblastos, osteoblastos, células endoteliais e macrófagos, e secretam moléculas extracelulares, como colágeno, glicoproteínas (fibronectina e trombospondina) e glicosaminoglicanos (ácido hialurônico e derivados condroitínicos) para formar urna matriz extracelular, além de secretarem vários fatores de crescimento necessários à sobrevivênciada célula-tronco. Células-tronco mesenquimais são críticas na formação do estroma. Juntamente com os osteoblastos, elas formam nichos e fornecem os fatores de crescimento, moléculas de adesão e citoquinas que dão suporte às células-tronco, como, por exemplo, Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária a proteína indentada, que permeia as células estromais, liga-se a um receptor NOTCHl nas células-tronco e, então, torna-se um fator de transcrição envolvido no ciclo celular. As células-tronco são capazes de circular no organismo e são encontradas em pequeno número no sangue periférico. Para deixar a medula óssea, elas devem atravessar o endotélio vascular, e esse processo de mobilização é aumentado pela administração de fatores de crescimento, como o fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF). O processo reverso, de "volta ao lar" (homing), parece depender de um gradiente quimiocinético, no qual o fator derivado do estroma (SDF-1) que se liga a seu receptor CXCR4 em células-tronco hematopoéticas tem papel crítico. Várias interações críticas suportam a viabilidade das células-tronco e a produção no estroma, incluindo o fator de células-tronco (SCF) e proteínas permeantes estromais e seus respectivos receptores KIT e NOTCH, expressos em células-tronco. REGULAÇÃO DA HEMATOPOESE A hematopoese começa com a divisão da célula-tronco em duas, das quais uma a substitui (autorrenovação), e a outra compromete-se em diferenciação. Essas células progenitoras precocemente comprometidas expressam baixos níveis de fatores de transcrição, que podem as comprometer com linhagens específicas. A seleção da linhagem de diferenciação pode variar tanto por alocação aleatória como por sinais externos recebidos pelas células progenitoras. Vários fatores de transcrição regulam a sobrevivência das células-tronco (p. ex., SCL, GATA-2, NOTCH-1), ao passo que outros estão envolvidos na diferenciação ao longo das principais linhagens celulares. Esses fatores de transcrição interagem de modo que o reforço de um programa de transcrição possa suprimir o de outra linhagem. Os fatores de transcrição induzem a síntese de proteínas específicas para cada linhagem celular. FATORES DE CRESCIMENTO HEMATOPOÉTICOS Os fatores de crescimento hematopoéticos são hormônios glicoproteicos que regulam a proliferação e a diferenciação das células progenitoras hematopoéticas e a função das células sanguíneas maduras. Eles podem agir no local em que são produzidos, por contato célula a célula, ou podem circular no plasma. Eles também podem ligar-se à matriz extracelular, formando nichos aos quais células-tronco e células progenitoras se aderem. Os fatores de crescimento podem causar não só proliferação celular, mas também estimular diferenciação, maturação, prevenir apoptose e afetar as funções de células maduras. Células do estroma são as principais fontes de fatores de crescimento, com exceção da eritropoetina, 90% da qual é sintetizada no rim, e da trombopoetina, sintetizada principalmente no fígado. Um aspecto importante da ação dos fatores de crescimento é que eles podem agir sinergicamente no estímulo à proliferação ou à diferenciação de uma célula em particular. Além disso, a ação de um fator de crescimento em uma célula pode estimular a produção de outro fator de crescimento ou de um receptor de fator. SCF e FLT-L (ligante de FLT) agem localmente nas células-tronco pluripotentes e nos progenitores primitivos mieloides e linfoides. Esses fatores mantêm um pool de células-tronco e células progenitoras hematopoéticas sobre o qual agem os fatores de ação tardia, eritropoetina, G-CSF, M-CSF (fator estimulador de colônias de macrófagos), IL-5 e trombopoetina, para aumentar a produção de uma ou outra linhagem em resposta às necessidades do organismo. A formação de granulócitos e monócitos, por exemplo, pode ser estimulada por infecção ou inflamação por meio da liberação de IL-1 e fator de necrose tumoral (TNF), os quais, por sua vez, estimulam as células do estroma a produzirem fatores de crescimento em uma rede interativa. RECEPTORES DE FATORES DE CRESCIMENTO E TRANSDUÇÃO DE SINAIS Os efeitos biológicos dos fatores de crescimento são mediados por receptores específicos nas células-alvo. Muitos receptores (p. ex., receptor de eritropoetina [EPO-R], GMCSF- R) pertencem à superfamília dos receptores hematopoéticos, que dimerizam após conexão com os seus respectivos ligantes. A dimerização do receptor leva à ativação de uma complexa série de vias de transdução de sinais intracelulares, das quais as três principais são a via JAK/STAT, a via proteinoquinase ativada por mitogênio (MAP) e a via fosfatidil-inosiTol 3 (PI3) quinase. Uma molécula de fator de crescimento liga-se simultaneamente ao domínio extracelular de duas ou três moléculas receptoras, causando sua agregação. A agregação dos receptores induz à ativação dos JAKs, que, então, fosforilam membros do transdutor de sinal e do ativador de transcrição (STAT) da família dos fatores de transcrição. A consequência é a dimerização e a Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária translocação desses, do citoplasma para o núcleo, através da membrana nuclear. Dentro do núcleo, dímeros STAT ativam a transcrição de genes específicos. JAK também pode ativar a via MAPK, que é regulada por RAS e controla a proliferação. Quinases PI3 fosforilam lipídios do inositol, os quais têm um amplo espectro de efeitos em sequência, incluindo ativação de AKT, que causa bloqueio de apoptose e outras ações. Domínios diferentes da proteína receptora intracelular podem sinalizar para diferentes processos (p. ex.; proliferação ou supressão de apoptose) mediados por fatores de crescimento. Um segundo grupo, menor, de fatores de crescimento, incluindo SCF, FLT-3L e M-CSF, liga- se a receptores que têm um domínio extracelular semelhante ao das imunoglobulinas, ligado por uma ponte transmembrana a um domínio tirosinoquinase citoplásmico. A ligação de fatores de crescimento resulta na dimerização desses receptores e na consequente ativação do domínio de tirosinoquinase. A fosforilação de resíduos de tirosina no próprio receptor gera sítios de ligação para proteínas sinalizadoras que iniciam complexas cascatas de eventos bioquímicos, resultando em alterações na expressão gênica, na proliferação celular e na prevenção de apoptose. MOLÉCULAS DE ADESÃO Uma grande família de moléculas de glicoproteínas, chamadas de moléculas de adesão, medeia a ligação de células precursoras da medula, leucócitos e plaquetas a vários componentes da matriz extracelular, ao endotélio, a outras superfícies e umas às outras. As moléculas de adesão na superfície de leucócitos são denominadas receptores e interagem com moléculas (chamadas de ligantes) na superfície de células-alvo potenciais, como, por exemplo, o endotélio. As moléculas de adesão são importantes no desenvolvimento e na manutenção das respostas inflamatória e imunológica, e nas interações de plaquetas e leucócitos com a parede dos vasos. O padrão de expressão das moléculas de adesão em células tumorais pode determinar seu modo de disseminação e sua localização tecidual (p. ex., o padrão de metástases de células carcinomatosas e o padrão folicular ou difuso de células de linfomas). As moléculas de adesão também podem determinar que as células circulem na corrente sanguínea ou permaneçam fixas no tecido. Há, também, a possibilidade de determinarem parcialmente a suscetibilidade de células tumorais às defesas imunológicas do organismo. ERITROPOESE CÉLULAS SANGUÍNEAS Todas as células circulantes derivam de células-tronco pluripotentes na medula óssea. Elas se dividem em três tipos principais. As mais numerosas são os eritrócitos (glóbulos vermelhos), que são especializados no transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos e do dióxido de carbono no sentido inverso.Os eritrócitos têm uma sobrevida periférica de 4 meses, ao passo que as menores células do sangue, as plaquetas, envolvidas na hemostasia, circulam por apenas 10 dias. Os leucócitos (glóbulos brancos) são compostos por 4 tipos de fagócitos (neutrófilos, eosinófllos, basófllos e monócitos), que protegem contra infecções bacterianas e fúngicas, e por linfócitos, que incluem as células B, envolvidas na produção de anticorpos, e células T (CD4 auxiliares e CDS supressoras), relacionadas à resposta imune e à proteção contra vírus e células estranhos. Os leucócitos têm uma sobrevida amplamente variada. A cada dia, são produzidos em torno de 1012 novos eritrócitos por meio de um processo complexo e finamente regulado, a eritropoese. A partir da célula-tronco, a eritropoese passa pelas células progenitoras, unidade formadora de colônias granulocíticas, eritroides, monocíticas e megacariocíticas (CFUGEMM), unidade de formação explosiva eritroide (BFUE e CFU eritroide (CFU\E), até o primeiro precursor eritroide com estrutura identificável na medula óssea, o proeritroblasto. Esse processo ocorre em um nicho eritroide, no qual cerca de 30 células eritroides em vários estágios de desenvolvimento cercam um macrófago central. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária O proeritroblasto é uma célula grande, com citoplasma azul-escuro, núcleo central com nucléolo e cromatina um pouco conglomerada. O proeritroblasto, por meio de várias divisões celulares, origina uma série de eritroblastos (ou normoblastos*) progressivamente menores, mas com conteúdo hemoglobínico gradualmente maior no citoplasma (que se cora em cor-de-rosa); o citoplasma vai perdendo sua tonalidade azul-clara à medida que perde seu RNA e o aparelhamento de síntese proteica, ao passo que a cromatina nuclear se torna mais condensada. Por fim, o núcleo é expelido do eritroblasto maduro na medula óssea, dando origem ao reticulócito, que ainda contém algum RNA ribossômico e é capaz de sintetizar hemoglobina. Essa célula é um pouco maior que o eritrócito maduro e circula no sangue periférico durante 1 a 2 dias antes de amadurecer, quando o RNA é totalmente catabolizado. Surge, então, o eritrócito maduro, um disco bicôncavo sem núcleo, de coloração rósea. Em geral, de um único proeritroblasto origínam-se 16 eritrócitos maduros. ERITROPOETINA A eritropoese é regulada pelo hormônio eritropoetina. Eritropoetina é um polipeptídio pesadamente glicosilado. Normalmente, 90% do hormônio é produzido nas células intersticiais peritubulares renais, e 10%, no fígado e em outros locais. Não há reservas pré-formadas, e o estímulo para produção de eritropoetina é a tensão de oxigênio (O2) nos tecidos do rim. A hipoxia induz fatores (HIF-2α e β) que estimulam a produção de eritropoetina, neoformação vascular e síntese de receptores de transferrina, e também reduz a síntese hepática de hepcidina, aumentando a absorção de ferro. A proteína de von Hippel- Lindau (VHL) cataboliza HIFs, e a PHD2 (prolil-hidroxilase) hidroxila HIF-lα, permitindo a ligação de VHL. A produção de eritropoetina, portanto, aumenta na anemia e também quando a hemoglobina é incapaz de liberar O2 normalmente por motivo metabólico ou estrutural, quando o O2 atmosférico está baixo ou quando há disfunção cardíaca, pulmonar ou lesão na circulação renal que afete a entrega de O2 ao rim. A eritropoetina estimula a eritropoese pelo aumento do número de células progenitoras comprometidas com a eritropoese. O fator de transcrição GATA-2 está envolvido no estímulo inicial à diferenciação eritroide a partir das células pluripotentes. Subsequentemente, os fatores de transcrição GATA-1 e FOG-1 são ativados pelo estímulo ao receptor de eritropoetina e são importantes por intensificarem a expressão de genes eritroides específicos (p. ex., da biossíntese de heme, globina e proteínas da membrana) e também por intensificarem a expressão de genes antiapoptóticos e do receptor da transferrina (CD71). BFUE e CFUE tardias, que já têm receptores de eritropoetina, são estimuladas a proliferar, diferenciar-se e produzir hemoglobina.A proporção de células eritroides na medula óssea aumenta e, em estados de estímulo eritropoetínico crônico, há expansão anatômica da eritropoese na medula gordurosa e, às vezes, em sítios extramedulares. Em lactentes, a cavidade da medula pode expandir-se até o osso cortical, causando deformidades com bossa frontal e protrusão dos maxilares. Em contrapartida, o aumento de fornecimento de O2 aos tecidos (por aumento de massa eritroide ou porque a hemoglobina é capaz de liberar O2 mais prontamente que o normal) diminui o estímulo para a produção de eritropoetina. O nível plasmático de eritropoetina pode ter utilidade diagnóstica e está aumentado na anemia, a menos que esta se deva à insuficiência renal e se houver um tumor secretor de eritropoetina, e baixa em nefropatia grave e na policitemia vera. INDICAÇÕES PARA TRATAMENTO COM ERITROPOETINA A eritropoetina recombinante é necessária para o tratamento de anemia causada por nefropatia e por várias outras causas. É administrada por via subcutânea 3 ve:z.es por semana, ou 1 vez a cada 1 ou 2 semanas, ou a cada 4 semanas, dependendo da indicação e da preparação utilizada: eritropoetina alfa ou beta, darbepoetina alfa (uma forma muito glicosilada, de ação mais longa), ou Micera (a preparação de ação mais longa de todas). A principal indicação é a nefropatia em estágio final (com ou sem diálise). Os pacientes geralmente necessitam de uso simultâneo de ferro oral ou intravenoso. O tratamento pode aumentar a hemoglobina e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Uma dosagem baixa de eritropoetina sérica antes do tratamento tem relevância na previsão de eficácia da resposta. Efeitos colaterais incluem aumento da tensão arterial, trombose e reação local nos sítios de injeção. O uso de eritropoetina tem sido associado à progressão de certos tumores que expressam receptores de eritropoetina. A medula óssea necessita de muitos outros precursores para uma eritropoese eficaz, incluindo metais, como ferro e cobalto, vitaminas (principalmente B12, folato, C, E, B6, tiamina e riboflavina) e hormônios, como androgênios e tiroxina. A deficiência de qualquer um desses pode estar associada à anemia. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária HEMOGLOBINA Síntese A principal função dos eritrócitos é o transporte de O2 aos tecidos e o retorno de dióxido de carbono (CO2) dos tecidos aos pulmões. Para executar essa troca gasosa, os eritrócitos contêm uma proteína especializada, a hemoglobina. Cada molécula de hemoglobina A (Hb A) normal do adulto, dominante no sangue depois dos 3 a 6 meses de idade, consiste em quatro cadeias polipeptídicas α2β2, cada uma com seu próprio grupo heme. O sangue normal do adulto também contém pequenas quantidades de duas outras hemoglobinas - Hb F e Hb A2 -, as quais contêm cadeias α, mas com cadeias γ e δ, respectivamente, em vez de β. A síntese de heme ocorre principalmente nas mitocôndrias por uma série de reações bioquímicas que começam na condensação de glicina e de succinil-coenzima A, por ação do ácido δ- aminolevulínico-sintase (ALA), enzima-chave cuja falta limita o ritmo. Piridoxal-fosfato (vitamina B6) é uma coenzima dessa reação. Ao final, a protoporfirina combina-se com ferro no estado ferroso (Fe2•) para formar heme. Forma-se um tetrâmero de cadeias de globina, cada cadeia com seu próprio núcleo heme agrupado em um "bolso", montando uma molécula de hemoglobina. Função da hemoglobina Os eritrócitos no sangue arterial sistêmico transportam O2 dos pulmões aos tecidos e voltam, no sangue venoso, com CO2 para os pulmões. À medida que a molécula de hemoglobina carrega e descarrega O2, as cadeias individuais de globina movimentam-se uma sobre a outra. O contato de α1β2 e α2β2 estabiliza a molécula. Quandoo O2 é descarregado, as cadeias beta são separadas, permitindo a entrada do metabólito 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG), diminuindo, assim, a afinidade da molécula por O2. Esse movimento é responsável pela forma sigmoide da curva de dissociação da hemoglobina. A P50 (pressão parcial de O2, na qual a hemoglobina está metade saturada com OJ do sangue normal é de 26,6 mmHg. Com o aumento da afinidade por O2, a curva desvia para a esquerda (i.e., a P50 cai) e, com a diminuição da afinidade por 0 2, a curva desvia para a direita (i.e., a P50 aumenta). Em geral, in vivo, a troca de O2 é feita entre saturação de 95% (sangue arterial), com tensão média de O2 arterial de 95 mmHg, e saturação de 70% (sangue venoso), com tensão média de O2 venoso de 40 mmHg. A posição normal da curva depende da concentração de 2,3-DPG, de íons H+ e CO2 nos eritrócitos e da estrutura da molécula de hemoglobina. Altas concentrações de 2,3-DPG, de H+ ou de CO2 e a presença de certas hemoglobinas, como, por exemplo, Hb S (das síndromes falcêmicas), desviam a curva para a direita (o oxigênio é liberado com mais facilidade), ao passo que a hemoglobina F (fetal) - que é incapaz de ligar 2,3-DPG - e certas hemoglobinas anormais raras associadas à poliglobulia desviam a curva para a esquerda, pois liberam O2 de forma menos imediata que o normal. Metemoglobinemia É uma situação clínica na qual a hemoglobina circulante está presente com ferro na forma oxidada (Fe3+), em vez de na forma normal Fe2+. Pode ocorrer devido à deficiência hereditária de metemoglobina-redutase, ou à herança de uma hemoglobina estruturalmente anormal (Hb M). As Hb Ms contêm uma substituição de aminoácido que afeta o "bolso" de heme da cadeia de globina. A metemoglobinemia tóxica (e/ou sulfemoglobinemia) ocorre quando uma droga, ou outra substância tóxica, oxida a hemoglobina. Em todas essas condições, o paciente costuma mostrar-se cianótico. ERITRÓCITO Para que a hemoglobina esteja em contato estreito com os tecidos e para que haja sucesso nas trocas gasosas, o eritrócito, com 7,5-8 µm de diâmetro, deve ser capaz de passar repetidamente através da microcirculação, cujo diâmetro mínimo é de 3,5 µm, manter a hemoglobina em forma reduzida (ferrosa) e manter o equilíbrio osmótico, apesar da alta concentração de proteína (hemoglobina) na célula. A célula é um disco bicôncavo flexível, com capacidade de gerar energia como trifosfato de adenosina (ATP) pela via glicolítica anaeróbia (Embden-Meyerhof) e gerar poder redutor como NADH por essa via e como nicotinamida- adenina-dinucleotídio-fosfato (NADPH) pelo desvio da hexose-monofosfato. Metabolismo do eritrócito Via de Embden-Meyerhof Nesta série de reações bioquímicas, a glicose do plasma, que entra no eritrócito por transferência facilitada, é metabolizada a lactato. Para cada molécula de glicose usada, sáo geradas duas moléculas de ATP e, portanto, duas ligações fosfato de alta energia. O ATP fornece energia para a manutençáo do volume, da forma e da flexibilidade da célula. A via de Embden-Meyerhof também gera o NADH necessário para a enzima metemoglobina-redutase reduzir a metemoglobina, que contém íon férrico e é funcionalmente morta (produzida pela oxidaçáo de cerca de 3% da hemoglobina por dia), para hemoglobina reduzida, ativa. O desvio de Luebering-Rapoport, braço lateral dessa via gera 2,3-DPG, importante na regulaçáo da afinidade da hemoglobina por oxigênio. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária Desvio da hexose-monofosfato (pentosefosfato) Cerca de 10% da glicólise ocorre por essa via oxidativa na qual a glicose-6-fosfato converte-se em 6-fosfogliconato e em ribulose-5-fosfato. É gerado NADPH, que se liga com glutationa, a qual mantém os grupos sulfldrilas (SH) intactos na célula, incluindo os da hemoglobina e os da membrana do eritrócito. O NADPH também é usado por outra metemoglobina-redutase para manter o ferro da hemoglobina no estado funcionalmente ativo, Fe2+. Em uma das anomalias hereditárias mais comuns do eritrócito, a deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD), os eritrócitos sáo extremamente suscetíveis a estresse oxidante. Membrana do eritrócito A membrana do eritrócito compreende uma bicamada lipídica, proteínas estruturais da membrana e um esqueleto da membrana. Cerca de 50% da membrana sáo compostos de proteína; 20%, de fosfolipídios; 20%, de colesterol; e até 10%, de carboidrato. Os carboidratos ocorrem somente na superfície externa, ao passo que as proteínas sáo periféricas ou estruturais, penetrando na bicamada lipídica. Várias proteínas dos eritrócitos foram numeradas de acordo com sua mobilidade na eletroforese de gel de poliacrilamida (PAGE), como a banda 3 e as proteínas 4.1, 4.2. O esqueleto da membrana é formado por proteínas estruturais que incluem espectrina α e β, anquirina, proteína 4.1 e actina. Essas proteínas formam uma rede horizontal no interior do eritrócito e são importantes na manutenção da forma bicôncava. A espectrina é a mais abundante e consiste em duas cadeias, α e β, enroladas uma à outra para formar heterodímeros que se associam "cabeça a cabeça'' para formar tetrâmeros, os quais, por sua vez, são ligados na extremidade caudal com actina e conectados à proteína banda 4.1. Na outra extremidade, as cadeias de β-espectrina ligam-se à anquirina, que se conecta na banda 3, a proteína transmembrana que age como canal iônico ("conexões verticais"). A proteína 4.2 intensifica essa interação. Defeitos das proteínas causam algumas das anomalias na forma da membrana dos eritrócitos, como, por exemplo, esferocitose e eliptocitose, ao passo que alterações na composição lipídica causadas por anomalias congênitas ou adquiridas do colesterol plasmático ou dos fosfolipídios podem se associar a outras anomalias da membrana. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária Anemia É definida como diminuição da concentração de hemoglobina do sangue abaixo dos valores de referência para a idade e o sexo. Ela ocorre quando a massa de glóbulos vermelhos é insuficiente para oxigenar adequadamente os tecidos. As medidas de hemoglobina, hematócrito podem ser usados para estabelecer a presença de anemia. Embora os valores de referência variem entre os laboratórios, valores típicos de hemoglobina para definir anemia seriam: × Abaixo de 13,5 g/dL em homens adultos e abaixo de 11,5 g/dL em mulheres adultas × Dos 2 anos de idade até a puberdade, hemoglobina abaixo de 11 g/dL indicaria anemia × Os recém-nascidos têm nível mais alto de hemoglobina; ao nascimento, 14 g/dL é considerado o limite de referência inferior Alterações no volume total do plasma e da massa total de hemoglobina circulantes é que determinam a concentração de hemoglobina. Diminuição do volume plasmático (como na desidratação) pode mascarar a anemia e até causar aparente poliglobulia (pseudopoliglobulia); reciprocamente, o aumento do volume plasmático (como na esplenomegalia e na gestação) pode provocar uma aparente anemia mesmo com massa eritroide/hemoglobínica circulante normal. Logo após uma grande perda de sangue, a anemia não é imediatamente aparente, uma vez que o volume total de sangue fica diminuído. A reposição do volume plasmático pode levar até um dia, e só então o grau de anemia torna-se aparente. A regeneração da massa hemoglobínica leva muito mais tempo. Os aspectos clínicos iniciais de grande perda de sangue são, portanto, resultantes mais da diminuição do volume sanguíneo do que da anemia. CLÍNICA Os sintomas da anemia devem-se à redução da capacidade de transportar oxigênio do sangue e à alteração do volume sanguíneo total, associadas à capacidade compensatória dos sistemas pulmonar e cardiovascular. A velocidade de desenvolvimento das alterações é crucial para a intensidade dos sintomas. Assim, nas hemorragias agudas ou nas crises hemolíticas,os pacientes apresentam sintomas mais intensos do que nos quadros de instalação lenta e de longa duração. × Dispneia, palpitações, tontura e fadiga extrema são sintomas proeminentes nos casos agudos ou de instalação rápida. × Nas anemias crônicas, sejam constitucionais ou de instalação lenta (ex: ferropênica) o paciente pode permanecer assintomático ou pouco sintomático, mesmo com níveis muito baixos de hemoglobina. Os sintomas são: dispneia moderada ou palpitações, em alguns pacientes, ICC ou angina pectoris pode ser a primeira manifestação. × A doença de base ou as doenças associadas, particularmente cardiopulmonares, também interferem na intensidade das manifestações clínicas e na adaptação do paciente à anemia. × Outros sintomas são: cefaleia, vertigem, hipotensão postural e fraqueza muscular. × Palidez é um sinal de anemia, sendo mais bem detectada nas mucosas da boca, das conjuntivas e do leito ungueal. Icterícia associada à palidez sugere anemia hemolítica. × Glossite e alterações nas papilas linguais podem ocorrer nas anemias carenciais. × Úlceras de perna podem estar presentes nas anemias hemolíticas constitucionais, especialmente na anemia falciforme. × Sopros cardíacos são comuns, geralmente sistólicos, de intensidade moderada e mais audíveis no bordo esternal esquerdo. Algumas anemias, especialmente as hemolíticas, podem cursar com esplenomegalia. Várias alterações oftalmológicas têm sido descritas acompanhando as anemias, incluindo hemorragia em chama de vela, exsudatos e tortuosidade venosa afetando a retina. MANEJO DE ATENDIMENTO ABORDAGEM – ANAMNESE E EXAME FÍSICO São importantes: a duração dos sintomas, a idade de início, se os sintomas são insidiosos ou agudos e se existem exames anteriores normais ou anormais. A presença de história familiar, especialmente associada a icterícia, esplenomegalia e cálculos biliares, leva à pesquisa de anemias hemolíticas hereditárias. A história ocupacional, os hábitos domésticos e hobbies também são importantes porque a exposição a solventes, fármacos e outros agentes químicos pode causar anemia hemolítica ou aplasia medular, assim como os hábitos sociais para caracterizar o abuso de álcool, as viagens às áreas endêmicas de malária ou de outros agentes infecciosos e a história de consumo de drogas. A dieta também deve ser detalhadamente caracterizada tanto em crianças como cm adultos, assim como o hábito intestinal. As perdas sanguíneas pela menstruação e a história gestacional nas mulheres, e os sangramentos gastrintestinais em todos os pacientes devem ser cuidadosamente averiguados. Essas informações são importantes para orientar a investigação para as anemias carenciais. Desconforto nas mucosas, especialmente da língua, e a presença de parestesias também são relevantes, pois sugerem anemia perniciosa. A presença de febre pode significar doença infeciosa, neoplásica ou autoimune associada à anemia. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária A coloração da urina também é importante porque nas hemólises intravasculares pode haver hemoglobina na urina, conferindo uma cor característica, a qual deve ser diferenciada de colúria que acontece nas colestases e de hematúria, que, ao contrário do que ocorre nas hemoglobinúrias, são encontradas hemácias íntegras na urina.A presença de petéquias, de equimoses e de outros sangramentos sugere a associação com doenças da medula óssea, com doenças da hemostasia ou com doenças hepáticas. Os sintomas de doenças de base, como insuficiência renal crônica, doenças hepáticas, endocrinopatias ou neoplasias, devem ser pesquisados porque anemia pode ser a primeira manifestação de muitas delas. O exame físico também pode fornecer pistas para a orientação diagnóstica. A presença de icterícia sugere hemólise ou eritropoese ineficiente. Ausência ou redução de papilas linguais (língua lisa) sugere deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico. Queilite angular e alterações das unhas (coiloníquia) ocorrem na anemia ferropênica de longa duração. Úlceras de perna em jovens são características das anemias hemolíticas constitucionais. Palpação do fígado, do baço e dos linfonodos fornecem pistas para pesquisa de infecção, linfoma, leucemias ou tumores metastáticos. EXAMES COMPLEMENTARES Hemograma completo Índices Hematimétricos São “peças” fundamentais na avaliação inicial do diagnóstico etiológico das anemias e, quando associados ao quadro clínico, podem trazer forte suspeita diagnóstica, algumas vezes suficiente para o início da terapia. São eles: (1) VCM ou VGM: Volume Corpuscular (ou Globular) Médio, isto é, o volume médio das hemácias, medido em fentolitros; (2) HCM ou HGM: Hemoglobina Corpuscular (ou Globular) Média, isto é, a massa de hemoglobina média das hemácias, medida em picogramas; e (3) CHCM ou CHGM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular (ou Globular) Média, medida em g/dl. Índice de Anisoc itose (RDW) Indica a variação de tamanho entre as hemácias, sendo normal até 14%. Vários tipos de anemia podem elevar o RDW, porém uma causa comum de anemia cursa com este parâmetro caracteristicamente normal: betatalassemia minor. A anemia ferropriva possui RDW aumentado, portanto, este parâmetro pode ser útil (mas nunca definitivo) para diferenciar, diante de uma anemia microcítica, entre ferropriva e talassemia minor. Na anemia ferropriva, o RDW encontra-se em torno de 16%, enquanto na talassemia minor, está próximo a 13%. Leucócitos e Plaquetas A presença de pancitopenia (anemia + leucopenia + plaquetopenia) sugere anemia aplásica ou leucemia aguda. Uma pancitopenia leve a moderada pode ocorrer na anemia megaloblástica, mielodisplasias, neoplasias hematológicas ou não hematológicas metastáticas. A anemia autoimune pode cursar com plaquetopenia (também autoimune), levando a uma bicitopenia (síndrome de Evans). O achado de anemia microcítica hipocrômica com trombocitose (aumento da contagem plaquetária) é muito sugestivo de anemia ferropriva. Um aumento extremo dos leucócitos (> 25 mil/mm3) pode estar presente nas infecções bacterianas graves, na hepatite alcoólica, na hemorragia aguda, nas síndromes mieloproliferativas e nas leucemias. Jonathan Realce Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária A associação de anemia com leucocitose e trombocitose está presente no sangramento agudo e nas síndromes mieloproliferativas. O diferencial de leucócitos pode revelar achados importantes para o diagnóstico. O exemplo mais marcante é a presença de formas jovens da linhagem granulocítica (bastões, metamielócitos e mielócitos) associada a eritroblastos (hemácias nucleadas) na periferia, um achado denominado leucoeritroblastose, que tem como significado clínico a ocupação medular por algum processo patológico (mielofibrose idiopática, neoplasia metastática ou mesmo uma infecção disseminada). Contagem de Reticulócitos Os reticulócitos são as células imediatamente precursoras das hemácias representando normalmente 0,5-2% do total de células vermelhas circulantes. São reconhecidos pela análise do esfregaço do sangue periférico, aparecendo com um reticulado azul em seu interior, material correspondente ao RNA ribossômico. A presença de reticulocitose indica dois grandes grupos de anemias: (1) anemias hemolíticas; (2) anemia por hemorragia aguda. Essas são as duas únicas formas de anemia que se originam por “perda” periférica de hemácias, sem nenhum comprometimento da medula óssea (direto ou indireto). Como a capacidade de produção dessas células está intacta, há, na tentativa de corrigir a anemia, intensa proliferação medular da linhagem vermelha, com consequente aumento de hemácias jovens (reticulócitos) na corrente sanguínea. Ou seja, a presença de reticulocitose indica que a medula está hiperproliferativa: um mielograma mostraria intensa hiperplasia eritroide. Pela contagem reticulocitária, classificamosas anemias em HIPOPROLIFERATIVAS (carenciais, distúrbios medulares) – aquelas sem reticulocitose – e HIPERPROLIFERATIVAS (hemolítica ou sangramento agudo) – aquelas com reticulocitose. Esfregaço do Sangue Periférico (Hematoscopia) Esse é um dos mais importantes exames para avaliação etiológica da anemia e deve ser feito de forma rotineira pelo hematologista. Podem-se observar: (1) o tamanho dos eritrócitos,comparando-os ao núcleo de um linfócito normal; (2) a cromia dos eritrócitos – hemácias hipocrômicas possuem apenas um pequeno halo róseo envolvendo um grande centro claro; (3) o grau de anisocitose – se houver anisocitose acentuada, são vistas hemácias pequenas, normais e grandes em vários campos da lâmina; (4) poiquilocitose ou pecilocitose: hemácias de várias formas, com formato bizarro – alguns tipos de pecilócitos são típicos de determinadas etiologias; (5) presença de inclusões hemáticas, sugestivas de algumas patologias; e (6) alterações dos leucócitos ou plaquetas típicas de certas desordens – ex.: neutrófilo hipersegmentado na anemia megaloblástica, megatrombócitos e fragmentos de megacariócitos na mielofibrose, neutrófilos hipo ou agranulares e com anomalia do tipo pseudo-Pelger-Huet na mielodisplasia. Bioquímica Sérica A dosagem das escórias nitrogenadas (ureia e creatinina) pode confirmar o diagnóstico de insuficiência renal crônica. A anemia geralmente está presente quando a creatinina está acima de 2,5 mg/dl. O hepatograma pode ajudar no diagnóstico de uma hepatopatia crônica. As anemias hemolíticas cursam com hiperbilirrubinemia indireta, aumento do LDH e redução da haptoglobina. A destruição celular na anemia megaloblástica ocorre dentro da medula óssea (eritropoiese ineficaz), levando a um quadro bioquímico semelhante ao das anemias hemolíticas. O ferro sérico está reduzido na anemia ferropriva e na anemia de doença crônica. Aspirado de Medula Óssea Este exame é restrito aos casos de anemia em que o diagnóstico não pôde ser feito pelos exames propostos acima, ou quando a suspeita principal é de uma neoplasia hematológica do tipo leucemia ou mieloma múltiplo. É realizado com uma agulha própria, na crista ilíaca, sendo feita a distensão do aspirado em várias lâminas, que são devidamente coradas por corantes específicos. O número absoluto e relativo dos precursores hematopoiéticos pode ser avaliado, bem como suas alterações qualitativas, destacando-se a megaloblastose e a diseritropoiese, esta última caracterizando as mielodisplasias. Utilizando corantes especiais para ferro (azul da Prússia), podemos detectar os sideroblastos em anel das anemias sideroblásticas e avaliar os depósitos de ferro nos eritroblastos e macrófagos medulares, confirmando alguns casos de anemia ferropriva de difícil diagnóstico. Os diagnósticos de anemia aplásica, leucemia, mielodisplasia, mieloma múltiplo e anemia sideroblástica só são possíveis com o exame da medula óssea. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária CLASSIFICAÇÃO As anemias são classificadas de acordo com a fisiopatologia, ou seja, se estão relacionadas com diminuição da produção (reticulocitopenia relativa ou absoluta) ou com aumento da perda de glóbulos vermelhos (reticulócitose), ou de acordo com o tamanho das hemácias. A reticulocitose ocorre em um de três estados fisiopatológicos: perda sanguínea aguda, reposição recente de um nutriente eritropoiético que faltava ou redução da sobrevida das hemácias (i.e., hemólise). Uma anemia com microcitose intensa (volume celular médio [VCM] < 70 fL) será devida à talassemia ou causada por deficiência de ferro, enquanto a anemia com macrocitose intensa (> 125 fL) quase sempre será de natureza megaloblástica ou causada por aglutininas frias no sangue analisado em temperatura ambiente. Do ponto de vista fisiopatológico, as anemias classificam-se em: 1. Anemias por falta de produção ou hiporregenerativas. 2. Anemias por excesso de destruição ou regenerativas. 3. Anemias por perdas sanguíneas. ANEMIAS POR FALTA DE PRODUÇÃO OU HIPORREGENERATIVAS São caracterizados por contagem absoluta de reticulócitos abaixo de 50000/mm³. São sempre decorrentes de produção deficiente de glóbulos vermelhos por acometimento primário ou secundário da medula óssea ou por falta de fator estimulante da eritropoese (eritropoietina) ou ainda pela carência de elementos essenciais à eritropoese (ferro, vitamina B12 e ácido fólico). Podem também acompanhar doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas (anemia de doenças crônicas ou anemia da inflamação). × Redução do tecido hematopoiético normal: o Aplasias ou hipoplasia medulares o Aplasia pura da série vermelha (APSV) o Síndrome mielodisplásicas o Infiltrações da medula óssea por tumores hematológicos ou metastáticos e substituições do tecido hematopoiético por fibrose. × Falta de fatores estimulantes da eritropoese (eritropoietina): ex: Insuficiência Renal × Falta de fatores essenciais à produção dos eritrócitos como ferro, vitamina B12 e ácido fólico. × Anemia de doenças crônicas ou anemia da inflamação: (mecanismos: interferência no metabolismo do ferro, interferência na produção e nos receptores de Epo e interferência no nível dos precursores eritroides, diminuindo a produção de eritrócitos). O fluxo de ferro para o plasma e para os eritroblastos da medula está parcialmente bloqueado, devido à ação das citocinas inflamatórias. Assim, o ferro se acumula no macrófago. ANEMIAS POR EXCESSO DE DESTRUIÇÃO OU REGENERATIVAS As anemias regenerativas são definidas como anemias com contagens elevadas de reticulócitos (acima de 100000/mm³). Essa condição é típica das anemias hemolíticas, mas pode ocorrer também após perdas agudas de sangue. Sob estimulação máxima, a medula óssea pode aumentar sua produção em 6 a 8 vezes. Com compensação medular ideal, a sobrevida dos glóbulos vermelhos na circulação pode encurtar para 15 a 20 dias, sem o desenvolvimento de anemia, mas com a presença de reticulocitose (estado hemolítico compensado). Quando a taxa de destruição supera a capacidade de produção da medula óssea, instala-se o quadro de anemia hemolítica. A hemólise pode ocorrer predominantemente na circulação (intravascular) ou, na maioria das vezes, no interior dos macrófagos teci duais (extravascular). Laboratorialmente, as anemias hemolíticas se caracterizam por reticulocitose, aumento da bilirrubina indireta, aumento de desidrogenase lática (DHL). redução de haptoglobina e, muitas vezes, alterações características no sangue periférico. Elas podem ser causadas por defeitos intrínsecos dos eritrócitos ou podem ser secundárias a agressões aos glóbulos vermelhos por agentes extrínsecos. A maioria dos defeitos intrínsecos é hereditária, com exceção da hemoglobin6ria paroxística noturna, que é causada por um defeito intrínseco adquirido. × Alterações intrínsecas dos eritrócitos: o Anemias hereditárias por defeito da membrana eritrocitória. o Eritroenzimopatias o Defeitos da hemoglobina Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária o Hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) × Agressão dos eritrócitos por fatores extrínsecos. o Síndromes de fragmentação eritrocitárias. o Anemias hemolíticas imunológicas. ANEMIAS POR PERDAS São decorrentes de perdas agudas de sangue. As perdas agudas (anemias pós hemorrágicas) podem representar uma situação de emergência e são compensadas pela medula óssea, desde que os estoque de sangue estejam preservados. Os sintomas dependem da intensidade da perda. As perdas crônicas causam espoliação de ferro e, consequentemente, anemia por falta de produção (anemia ferropênica). CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DAS ANEMIAS As anemias podem ser classicadas também de acordo com aspectos morfológicos. A classificação morfológica baseia-se nos índices hematimétricos, que atualmente são determinados por contadores eletrônicos decélulas. Assim, juntamente com as determinações da concentração de hemoglobina, do número de hemácias e do hematócrito, são fornecidos também o volume corpuscular médio (VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM), a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e o red cell distrib11tion widtli (RDW). O RDW é um indice que reflete o grau de anisocitose, que é a variação de tamanho dos eritrócitos. Embora não seja utilizado para a classificação das anemias, é importante ressaltar que, nas anemias adquiridas, ele se altera antes do VCM, quando começam a coexistir células de tamanho maior ou menor com as de tamanho normal e o número delas ainda não é suficiente para alterar a média e refletir-se no VCM. De acordo com o VCM (medido em fentolitros - fl), as anemias podem ser classificadas do ponto de vista morfológico, conforme segue: × Microcíticas (VCM < 80 fl). × Macrocíticas (VCM > 100 fl). × Normociticas (VCM 80 a 100 fl). DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DE ANEMIA ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE FERRO (ANEMIA FERROPRIVA, ADF) A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia em todo o mundo. Além de estar presente nas hemácias circulantes, o ferro encontra-se no compartimento de reserva sob a forma de ferritina ou como hemossiderina nos macrófagos. A DF é definida como um estado no qual não existe ferro suficiente para manter as funções fisiológicas normais, de modo que os reservatórios de ferro (ferritina sérica ou conteúdo de ferro da medula óssea) encontram-se reduzidos. A ADF como um nível de hemoglobina de mais de dois desvios-padrão abaixo do valor de referência para a faixa etária e o sexo, desenvolvida como consequência da DF. A dieta diária da população contém 10-15 mg de ferro. Cerca de 10% desse ferro é absorvido. A absorção ocorre no estômago, no duodeno e no jejuno superior sob condições de acidez. O ferro presente sob a forma de heme na dieta é absorvido de forma eficiente (10-20%), diferente do ferro não heme (1-5%), em grande parte em função da interferência de fosfatos, taninos e outros constituintes dos alimentos. O principal transportador de ferro da dieta através do lúmen intestinal é a ferroportina, que também facilita o transporte de ferro nos macrófagos para a apotransferrina, a fim de que seja usado pelas células eritroides preparadas para sintetizar hemoglobina. A hepcidina, produzida durante as inflamações, regula negativamente o transporte de ferro, promovendo a degradação da ferroportina. Pequenas quantidades de ferro – cerca de 1 mg/dia – normalmente se perdem em razão de esfoliação de células da pele e das mucosas. De modo geral, o metabolismo do ferro fica equilibrado com absorção e perda de 1 mg/dia. × Menstruação: perda de sangue com a menstruação tem papel importante no metabolismo do ferro. A perda de sangue mensal média com a menstruação é de aproximadamente 50 mL, mas pode chegar a cinco vezes mais em algumas mulheres. Para manter uma reserva adequada de ferro, as mulheres com perdas menstruais intensas devem absorver 3-4 mg de ferro pela dieta diariamente. Esse valor se aproxima do limite superior do que pode ser absorvido e as mulheres com esse grau de menorragia quase sempre evoluirão com deficiência de ferro caso não recebam suplementação. × Gravidez: também pode desequilibrar o ferro, uma vez que as necessidades aumentam para 2-5 mg por dia durante a gestação e a lactação. O ferro absorvido pela dieta não supre tais necessidades, sendo imprescindível a administração de suplementos de ferro durante a gravidez e o período de lactação. Gestações sucessivas (em especial quando há amamentação) podem causar deficiência de ferro caso as necessidades aumentadas não sejam atendidas pelo uso de medicamentos para suplementação. × Redução na absorção do ferro pode causar deficiência, como ocorre em indivíduos com doença celíaca e naqueles submetidos à cirurgia de ressecção gástrica ou derivação de jejuno. × Perda Crônica De Sangue: é a causa mais importante da anemia por deficiência de ferro especialmente em razão de sangramento gastrintestinal. O uso prolongado de ácido acetilsalicílico ou de outros anti-inflamatórios pode causá-la, mesmo não sendo possível comprovar a presença de lesão estrutural. A detecção de deficiência de ferro requer investigação de sangramento gastrintestinal após terem sido excluídas outras causas de perda sanguínea Há deficiência de ferro quando a ferritina sérica é < 12 ng/mL (27 pmol/L) ou < 30 ng/mL (67 pmol/L) se também houver anemia. Causada por sangramento, até que se prove o contrário. Responde ao tratamento com ferro. Jonathan Realce Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária (menorragia, outros sangramentos uterinos e doações sucessivas de sangue). o Doença celíaca (enteropatia por glúten), mesmo quando assintomática, é uma causa oculta de deficiência de ferro por meio de má absorção no trato gastrintestinal, devendo ser considerada quando não há perda evidente. × Hemoglobinúria crônica é uma ocorrência incomum que pode levar à deficiência de ferro em razão das perdas urinárias; a hemólise traumática causada por prótese valvar cardíaca e outras causas de hemólise intravascular (p. ex., hemoglobinúria paroxística noturna) também devem ser consideradas. Em até 5% dos pacientes, nenhuma causa para a deficiência de ferro é encontrada. × Os bebês normais nascem com reservas de ferro suficientes para os primeiros 4 meses de vida, enquanto os bebês prematuros apresentam reservatórios de ferro reduzidos, já que este é adquirido predominantemente no último trimestre. Portanto, bebês prematuros, assim como aqueles que apresentam baixo peso no nascimento, perda sanguínea perinatal ou hemorragia subsequente, poderão apresentar reservatórios de ferro reduzidos. O leite materno possui menos ferro em relação ao leite de vaca e às fórmulas fortificadas e, na ausência de suplementação de ferro, a DF poderá se desenvolver em crianças amamentadas exclusivamente pelo leite materno. Achados Clínicos Sinais e s intomas Os sintomas primários da anemia por deficiência de ferro são aqueles próprios da anemia (cansaço fácil, taquicardia, palpitação e taquipneia aos esforços). As deficiências graves causam alterações na pele e nas mucosas, incluindo língua lisa, unhas frágeis ou em forma de colher (coiloníquia) e queilose. Também pode haver disfagia em razão da formação de membranas esofágicas (síndrome de Plummer-Vinson) na deficiência grave. Muitos pacientes com deficiência de ferro evoluem com distúrbios alimentares (pica) e desejo por alimentos específicos (gelo, etc.) frequentemente pobres em ferro. Achados laboratoriais A deficiência de ferro ocorre em etapas. Na primeira, há depleção das reservas sem anemia, seguida por anemia com hemácias de tamanho normal (VCM normal) e, depois, anemia com hemácias de tamanho reduzido (VCM baixo). A ferritina é uma medida das reservas corporais totais de ferro. × Um valor para ferritina abaixo de 12 ng/mL (< 27 pmol/L) (na ausência de escorbuto) é um indicador muito confiável de depleção da reserva de ferro. Deve-se observar que o limite mínimo normal para a ferritina costuma ser abaixo de 12 ng/mL (< 27 pmol/L) em mulheres porque a variação normal é calculada incluindo mulheres saudáveis que menstruam com deficiência de ferro e sem anemia. Contudo, considerando que a ferritina sérica pode se elevar em resposta à inflamação e a outros estímulos, uma dosagem normal de ferritina não exclui o diagnóstico de deficiência de ferro. Um nível de ferritina < 30 ng/mL (67 pmol/L) quase sempre indica deficiência de ferro em qualquer pessoa com anemia. × À medida que a deficiência de ferro progride, os valores de ferro sérico diminuem para menores que 30 μg/dL (67 pmol/L) e os níveis de transferrina aumentam para compensar, levando a saturações de transferrina menores que 15%. Uma baixa saturação da transferrina também é vista na anemia da inflamação,devendo-se ter cautela na interpretação desse teste. × A anemia por deficiência isolada de ferro apresenta níveis baixos de hepcidina, que ainda não é um teste clinicamente disponível. À medida que o VCM diminui (i.e., microcitose), o esfregaço de sangue demonstra células microcíticas hipocrômicas. Quando há maior progressão, desenvolvem-se anisocitose (variação no tamanho das hemácias) e poiquilocitose (variação no formato das hemácias). A deficiência grave de ferro produzirá alterações bizarras no esfregaço periférico, com células gravemente hipocrômicas, células em alvo e células com formato de lápis ou cigarro. Raras vezes é realizada uma biópsia de medula óssea para avaliar as reservas de ferro. Se ela for feita, demonstrará ausência do pigmento nas células progenitoras eritroides na coloração com azul da Prússia. É comum que a contagem de plaquetas esteja aumentada, mas ela costuma ser < 800.000/μL (800 × 10 9 /L). Achados Clínicos Na Criança Sinais e s intomas Os sinais e sintomas variam com a gravidade da deficiência. A DF em geral é assintomática. A ADF poderá estar associada à palidez, fadiga e irritabilidade. É comum encontrar uma história de pica. Há controvérsias se a DF/ADF afeta o desenvolvimento neurológico e o comportamento em longo prazo. A ADF está associada à absorção aumentada de chumbo e à posterior neurotoxicidade. Achados laboratoriais O teste para anemia deverá ser realizado com aproximadamente 12 meses de idade, determinando-se a concentração de hemoglobina e avaliando-se os fatores de risco para a DF/ADF. Os riscos incluem baixa classe socioeconômica, prematuridade ou baixo peso no nascimento, exposição ao chumbo, amamentação exclusiva no peito além de 4 meses de idade sem suplementação de ferro, perda de hábito do leite integral ou de alimentos complementares que não contenham ferro, problemas de alimentação, crescimento inadequado e nutrição inadequada. Se a hemoglobina for inferior a 11 mg/dL ou estiver presente alto risco para DF, deverá ser realizada uma avaliação deste elemento. Não existe uma única medida que informe o estado do Palidez e fadiga. Dieta pobre em ferro (6-24 meses de idade). Perda sanguínea crônica (idade > 2 anos). Anemia hipocrômica microcítica. Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária ferro; os testes recomendados incluem a avaliação dos níveis de ferritina sérica e de proteína C-reativa ou concentração da hemoglobina nos reticulócitos. ANEMIA DE DOENÇA CRÔNICA Muitas doenças crônicas estão associadas a anemia leve a moderada. A anemia da doença crônica é classificada conforme a etiologia e a fisiopatologia. × Anemia da inflamação: está associada a estados inflamatórios crônicos (como doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, infecções crônicas e doença maligna), sendo mediada pela hepcidina (um regulador negativo da ferroportina), resultando em captação reduzida de ferro no intestino e redução do transporte de ferro dos macrófagos para as células progenitoras eritroides na medula óssea. Isso é chamado de eritropoiese com restrição de ferro. Também há redução da resposta à eritropoetina, elaboração de hemolisinas que diminuem a sobrevida do eritrócito e produção de citocinas inflamatórias que diminuem a produção de hemácias. O ferro sérico está baixo na anemia da inflamação. × Anemia da insuficiência de órgãos: pode ocorrer na doença renal, insuficiência hepática e falência de glândulas endócrinas; a eritropoetina está reduzida e a massa eritrocitária diminui em resposta à redução do sinal para produção de hemácias; o ferro sérico está normal. × Anemia do idoso: está presente em até 20% das pessoas com mais de 85 anos, e uma avaliação abrangente de etiologia para anemia é negativa. Esse tipo de anemia é consequência de uma resistência relativa da produção de hemácias à eritropoetina, diminuição da produção de eritropoetina relacionada à massa de néfrons em idosos e à influência negativa sobre a eritropoiese de níveis baixos de citocinas inflamatórias nesse grupo etário. O ferro sérico é normal. Achados Clínicos Sinais e s intomas As características clínicas são aquelas da doença causadora. Deve-se suspeitar do diagnóstico nos pacientes com doenças crônicas conhecidas. Nos casos com anemia significativa, deve-se suspeitar de deficiência de ferro ou de ácido fólico concomitante. Nesses pacientes enfermos, é comum haver deficiência dietética desses elementos, e muitos também apresentarão sangramento gastrintestinal ativo. Os pacientes em hemodiálise perdem ferro e ácido fólico regularmente durante o processo de diálise. Achados laboratoriais O hematócrito raramente diminui para valores menores que 60% do basal (exceto na insuficiência renal). O VCM costuma estar normal ou ligeiramente reduzido. A morfologia dos glóbulos vermelhos costuma ser normal; a contagem de reticulócitos está normal ou levemente diminuída. × Na anemia da inflamação: os valores de ferro sérico e transferrina estão baixos e a saturação da transferrina pode estar extremamente baixa, levando ao diagnóstico equivocado de deficiência de ferro. Ao contrário do que ocorre nos casos com deficiência de ferro, a ferritina sérica deve estar normal ou aumentada. Valores de ferritina inferiores a 30 ng/mL (67 pmol/L) sugerem deficiência de ferro concomitante. A anemia clássica da inflamação tem níveis elevados de hepcidina; porém, esse teste ainda não está disponível. × Na anemia da falência de órgãos e do idoso: os estudos do ferro geralmente estão normais. A anemia do idoso é um diagnóstico de exclusão em paciente com anemia e mais de 65 anos de idade. Um desafio particular é o diagnóstico de deficiência de ferro em casos de anemia da inflamação em que a ferritina pode alcançar 200 ng/mL (450 pmol/L). O padrão-ouro para o diagnóstico é uma biópsia de medula óssea com coloração para ferro. A ausência de ferro indica deficiência de ferro, e o ferro localizado nos macrófagos da medula óssea indicam anemia pura da inflamação. A biópsia de medula óssea raramente é feita com este propósito. Três outros testes podem ajudar na diferenciação: uma concentração de hemoglobina reticulocitária < 28 pg; uma razão entre receptor sérico solúvel da transferrina (unidades: ng/L) e log da ferritina > 0,8 indica deficiência de ferro na presença de inflamação; ou um nível normal de hepcidina. Um teste funcional é a resposta da hemoglobina ao ferro oral ou parenteral em casos de inflamação quando se suspeita de deficiência de ferro. Deve-se fazer um alerta: algumas circunstâncias de eritropoiese com restrição de ferro (como a doença maligna) terão resposta parcial à infusão parenteral de ferro, mesmo quando os estoques de ferro estiverem cheios, devido à distribuição imediata de ferro às células progenitoras eritropoiéticas após a infusão. TALASSEMIAS As talassemias são distúrbios hereditários caracterizados por redução na síntese das cadeias de globina (α ou β). Tal redução causa diminuição na síntese de hemoglobina, o que levará à anemia microcítica e hipocrômica, em razão da hemoglobinização deficiente das hemácias. As talassemias podem ser classificadas no grupo das anemias hemolíticas hiperproliferativas, das anemias relacionadas com anormalidades hemoglobínicas ou das anemias hipoproliferativas, uma vez que todos esses fatores são importantes na sua patogênese. A característica laboratorial Anemia normocítica ou microcítica leve ou moderada. Ferritina normal ou aumentada e transferrina normal ou reduzida. Doença crônica subjacente. Microcitose desproporcional ao grau de anemia. História familiar positiva ou antecedentes pessoais de anemia microcîtica ao longo de toda a vida. Contagem de hemácias normal ou elevada. Alterações na morfologia dos glóbulos vermelhos com micrócitos, acantócitos e células em alvo. Na talassemia β, níveis elevados das hemoglobinas A2 ou F.Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária principal é a presença de hemácias que são pequenas e pálidas (VCM e hemoglobina corpuscular média [HCM] baixos), anemia e contagem de hemácias normal ou elevada (i.e., produção de grande número de pequenas hemácias). Embora os pacientes costumem exibir uma contagem de reticulócitos elevada, geralmente o grau de produção de reticulócitos é inadequado para igualar o grau de destruição das hemácias (hemólise) e o paciente apresenta anemia. A hemoglobina normal dos adultos é a hemoglobina A, que representa cerca de 98% do total circulante. A hemoglobina A é formada por um tetrâmero – duas cadeias α e duas cadeias β – que pode ser designado α2β2 . Há duas cópias do gene da globina α localizadas no cromossomo 16, e não há substituto para a globina α na formação da hemoglobina. O gene da globina- β encontra-se no cromossomo 11, adjacente aos genes que codificam as cadeias das globinas ∆ e γ, substitutas da β (a chamada região do gene da β-globina). O tetrâmero α2∆2 forma a hemoglobina A2, que normalmente representa 1 a 3% da hemoglobina dos adultos. O tetrâmero α2 γ2 forma a hemoglobina F, que é a principal hemoglobina na vida fetal, mas que representa menos de 1% da hemoglobina nos adultos normais. As talassemias são descritas como: × Traço: quando há sinais laboratoriais sem impacto clínico significativo × Intermedia: há necessidade de transfusão sanguínea eventual ou qualquer outro impacto clínico moderado, × Major: o distúrbio representa ameaça à vida e o paciente depende de transfusões. A maioria dos pacientes com talassemia major morre como consequência da sobrecarga de ferro. α-talassemia: é causada primariamente por deleção de genes, o que determina redução na síntese da cadeia da α-globina. Cada gene da globina α produz 25% da quantidade total, havendo diminuição proporcional previsível na formação da globina α com cada gene perdido. Como toda a hemoglobina dos adultos contém a globina α, na α-talassemia não há alterações na distribuição percentual das hemoglobinas A, A2 e F na eletroforese. Nas formas graves da α-talassemia, o excesso de cadeias β pode formar um tetrâmero β4 , denominado hemoglobina H. Na presença de redução das cadeias α, o excesso de cadeias β é instável e precipita, causando dano à membrana eritrocitária. Isso causa hemólise intramedular (medula óssea) e periférica. β-talassemias: geralmente são causadas por mutações pontuais, e não por deleções. Tais mutações resultam em término prematuro da cadeia ou em problemas com a transcrição do RNA, que finalmente resultam em redução ou abolição da síntese de cadeias da globina-β. As falhas moleculares que levam às β-talassemias são numerosas e heterogêneas, mas se mantêm dentro de famílias. As falhas que resultam em ausência de expressão de cadeias desta globina são denominadas β0, enquanto aquelas que causam redução da síntese são denominadas β+. A redução da síntese de cadeias de globina β na β+-talassemia é consistente dentro de famílias, mas é muito variável entre as famílias. A redução na síntese das cadeias de globina β resulta em aumento relativo nas porcentagens das hemoglobinas A2 e F comparadas à hemoglobina A, uma vez que as globinas semelhantes à β (γ e ∆) substituem as cadeias β faltantes. Quando há redução de cadeias β, as cadeias α em excesso são instáveis e sofrem precipitação, levando a lesão da membrana celular das hemácias. Com isso, há hemólise intramedular e periférica. A medula óssea se torna hiperplásica sob o estímulo da anemia e da eritropoiese ineficaz, resultante da destruição intramedular das células eritroides em desenvolvimento. Nos casos de talassemia grave, a expansão acentuada do elemento eritroide na medula óssea pode causar deformidades ósseas graves, osteopenia e fraturas patológicas. Achados Clínicos Sinais e s intomas Síndromes α-talassêmicas São observadas principalmente em indivíduos originados no sudeste asiático e na China e, menos comumente, em negros e pessoas de origem mediterrânea. Normalmente os adultos apresentam quatro cópias da cadeia de globina α. × Três genes presentes para globina α: o paciente é considerado hematologicamente normal (portador assintomático). × Dois genes presentes para globina α: o paciente é portador de traço talassêmico, uma das formas de talassemia minor. o Traço talassêmico α tipo 1: a deleção do gene α é heterozigótica (α–/α–) e afeta principalmente as pessoas de origem asiática. o Traço talassêmico α tipo 2: a deleção do gene α é homozigótica (α α/––) e afeta principalmente negros. Tais pacientes são clinicamente normais e têm expectativa de vida e desempenho normais com anemia microcítica leve. × Apenas uma cadeia da globina-α (α–/––): o paciente é portador da doença da hemoglobina H. Trata-se de anemia hemolítica crônica de gravidade variável (talassemia minor ou intermediária). O exame físico revelará palidez e esplenomegalia. Embora os indivíduos afetados geralmente não necessitem de transfusões, é possível que isso seja necessário nos períodos de crises hemolíticas causadas por infecção, outro tipo de estresse ou, ainda, em períodos de cessação da eritropoiese (“crise aplástica”). Quando todos os quatro genes de globina α são deletados, o Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária feto é natimorto como resultado de hidropsia fetal. Nesses casos, o único tipo de hemoglobina é produzida a partir de cadeias γ, chamada de hemoglobina de Bart(γ4). β-talassemia Afeta primariamente indivíduos de origem mediterrânea (italianos, gregos) e, em menor extensão, asiáticos e negros. × Pacientes homozigotos para β-talassemia (β0/β0 ou β+/β+): apresentam a forma major (anemia de Cooley). As crianças afetadas são normais ao nascimento, mas após seis meses, quando a hemoglobina sintetizada deixa de ser F e passa a ser A, desenvolvem anemia grave com necessidade de transfusão. Surgem diversos problemas clínicos, incluindo atraso no crescimento, deformidades ósseas (estrutura facial anormal, fraturas patológicas), hepatoesplenomegalia e icterícia causada por colelitíase ou cirrose relacionada à hepatite (ou ambas) e trombofilia. A evolução clínica é significativamente alterada pela terapia transfusional, mas a sobrecarga de ferro decorrente (hemossiderose) resulta em quadro clínico semelhante ao da hemocromatose, com insuficiência cardíaca, arritmias, cirrose, endocrinopatias e pseudoxantoma elástico (calcificação e fragmentação de fibras elásticas da pele, retina e sistema cardiovascular), em geral após terem sido transfundidas mais de 100 unidades de concentrado de hemácias. Esses problemas surgem em função da incapacidade do organismo excretar o ferro de forma ativa. Antes da utilização do transplante alogênico de células-tronco e do desenvolvimento de formas mais efetivas de quelação do ferro, os pacientes geralmente morriam por sobrecarga de ferro na faixa entre 20 e 30 anos de idade. × Pacientes homozigotos para uma forma mais branda de β-talassemia (β+/β+, mas que permite uma taxa maior de síntese de globina) apresentam a variante dita intermediária. Tais pacientes evoluem com anemia hemolítica crônica, mas não necessitam de transfusões, exceto nos períodos sob estresse ou durante crises aplásicas. Eles também podem desenvolver sobrecarga de ferro em razão de transfusões periódicas. Os pacientes chegam à vida adulta, mas com hepatosplenomegalia e deformidades ósseas. × Indivíduos heterozigotos para β-talassemia (β/β0 ou β/β+): apresentam a forma minor, com anemia microcítica clinicamente insignificante. O diagnóstico pré-natal está disponível e sua possibilidade deverá ser discutida em consulta para aconselhamento genético. Achados laboratoriais 1. Traço α-talassêmico – Os pacientes têm anemia leve e hematócrito entre 28 e 40%. O VCM é extremamente baixo (60-75 fL), apesar de a anemia sermodesta e a contagem de hemácias estar normal ou aumentada. O exame do esfregaço do sangue periférico revela micrócitos, hipocromia e, ocasionalmente, células em alvo e acantócitos (células com espículas projetadas irregularmente). A contagem de reticulócitos e os parâmetros ligados ao ferro são normais. A eletroforese da hemoglobina é normal. O traço α-talassêmico, portanto, costuma ser diagnosticado por exclusão. O exame genético para confirmar a deleção do gene da globina-α está disponível apenas em laboratórios de pesquisa. 2. Doença da hemoglobina H – Esses pacientes apresentam anemia mais acentuada e hematócrito entre 22 e 32%. O VCM é muito reduzido (60-70 fL) e o esfregaço periférico é acentuadamente anormal, com hipocromia, microcitose, células em alvo e poiquilocitose. A contagem de reticulócitos está aumentada e a contagem de eritrócitos é normal ou elevada. A eletroforese de hemoglobina revelará a presença de hemoglobina de migração rápida (hemoglobina H), que representará 10-40% da hemoglobina total. O esfregaço periférico pode ser tratado com corantes supravitais para demonstrar a presença da hemoglobina H. 3. β-talassemia minor – Esses pacientes apresentam anemia leve e hematócrito entre 28 e 40%. O VCM varia entre 55 e 75 fL e a contagem de hemácias é normal ou aumentada. A contagem de reticulócitos é normal ou discretamente elevada. O esfregaço periférico revela anormalidades leves, com hipocromia, microcitose e células em alvo. Diferentemente do que ocorre com a α-talassemia, é possível encontrar pontilhado basofílico. A eletroforese de hemoglobina pode revelar aumento da hemoglobina A2 para 4-8% e, ocasionalmente, elevação da hemoglobina F para 1-5%. 4. β-talassemia intermediária – Esses pacientes apresentam anemia modesta com hematócrito entre 17 e 33%. O VCM varia entre 55 e 75 fL e a contagem de hemácias é normal ou elevada. A contagem de reticulócitos é elevada. O esfregaço de sangue periférico é anormal com hipocromia, micrócitos, pontilhado basofílico e células em alvo. A eletroforese da hemoglobina mostra até 30% de hemoglobina A, elevação da hemoglobina A2 em até 10% com elevação da hemoglobina F de 6 a 100%. 5. β-talassemia major – Esses pacientes têm anemia grave e, sem transfusões, o hematócrito pode diminuir para menos de 10%. O esfregaço do sangue periférico é bizarro, revelando poiquilocitose intensa, hipocromia, microcitose, células em alvo, pontilhado basofílico e hemácias nucleadas. Há pouca ou nenhuma hemoglobina A. Observam-se quantidades variáveis de hemoglobina A2 , e a principal hemoglobina presente é a F. ANEMIAS MEGALOBLÁSTICAS A anemia megaloblástica é uma anemia macrocítica causada por deficiência de cobalamina (vitamina B12 ), ácido fólico ou ambos. A deficiência de cobalamina decorrente de insuficiência alimentar poderá ocorrer em bebês que são amamentados por mães estritamente vegetarianas ou que apresentem anemia perniciosa. A má absorção intestinal é geralmente a causa da deficiência de cobalamina em crianças e ocorre na doença de Crohn, pancreatite Anemia macrocítica. Esfregaço de sangue periférico megaloblástico (macro- ovalócitos e neutrófilos hipersegmentados). Níveis reduzidos de ácido fólico nas hemácias ou no soro. Níveis séricos normais de vitamina B12 . Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Fadiga, Perda de Peso e Anemia – Problema 1 – Intermediária crônica, crescimento excessivo da microbiota bacteriana do intestino delgado, infecção pela tênia do peixe (Diphyllobothrium latum) ou após a secção cirúrgica do íleo terminal. As deficiências devidas aos erros inatos do metabolismo (deficiência de transcobalamina II e acidúria metilmalônica) também têm sido descritas. A má absorção de cobalamina causada pela deficiência de fator intrínseco (anemia perniciosa) é rara em crianças. A deficiência de ácido fólico pode ser causada por ingestão alimentar inadequada, má absorção, necessidades aumentadas de folato ou por alguma combinação destes três fatores. A deficiência de folato causada apenas por restrição alimentar é rara, porém ocorre em bebês gravemente malnutridos e tem sido demonstrada em bebês alimentados com leite de cabra não suplementado com ácido fólico. O ácido fólico é absorvido no jejuno, e as deficiências são encontradas nas síndromes de má absorção, como a doença celíaca. Os medicamentos anticonvulsivantes (p. ex., fenitoína e fenobarbital) e os fármacos citotóxicos (p. ex., o metotrexato) também têm sido associados à deficiência do folato, causada pela interferência na absorção ou no metabolismo de folato. Por fim, é mais provável que a deficiência de ácido fólico se desenvolva em bebês e crianças em fases de maior carência. Isso ocorre durante a infância devido ao crescimento rápido e também em crianças com anemia hemolítica crônica. Os bebês prematuros são particularmente suscetíveis ao desenvolvimento da deficiência, devido às baixas reservas corporais de folato. Achados Clínicos Sinais e s intomas Anemia megaloblástica e alterações megaloblásticas na mucosa. Entretanto, não se observam as alterações neurológicas associadas à deficiência de vitamina B12. Achados laboratoriais Um nível de ácido fólico nas hemácias abaixo de 150 ng/mL (< 340 nmol/L) é diagnóstico. O nível de ácido fólico nas hemácias é preferido em relação ao nível sérico de ácido fólico, pois o primeiro reflete as reservas corporais em relação ao tempo de vida da hemácia, enquanto o outro reflete os níveis séricos lábeis imediatos em vez das reservas corporais. O nível sérico de vitamina B12 costuma ser normal e sempre deve ser medido na suspeita de deficiência de ácido fólico. Em alguns casos, a deficiência de ácido fólico é uma consequência de distúrbios da mucosa gastrintestinal causados pela deficiência de vitamina B12 Achados Clínicos Na Criança Sinais e s intomas Os bebês com anemia megaloblástica poderão apresentar palidez e icterícia leve como resultado da eritropoiese deficiente. Classicamente, a língua apresenta-se lisa e com coloração vermelho-viva. Os bebês com deficiência de cobalamina podem ser irritáveis e se alimentarem pouco. Crianças maiores, portadoras desta deficiência, poderão se queixar de parestesias, fraqueza ou de um caminhar instável e poderão apresentar sensação vibratória e propriocepção reduzidas no exame neurológico. Achados laboratoriais Os achados laboratoriais da anemia megaloblástica incluem VCM e hemoglobina corpuscular média (HCM) elevados. O esfregaço de sangue periférico mostra numerosos macro-ovalócitos com anisocitose e poiquilocitose. Os neutrófilos são grandes e apresentam núcleos hiper- segmentados. As contagens de leucócitos e plaquetas encontram-se normais nas deficiências leves, porém poderão estar reduzidas nos casos mais graves. O exame da medula óssea não é indicado, porém evidencia, em geral, hiperplasia eritroide com grandes precursores mieloides e eritroides. A maturação nuclear é retardada, quando comparada à maturação citoplasmática, e a eritropoiese é ineficiente. A concentração sérica de bilirrubina indireta poderá estar levemente elevada. As crianças com deficiência de cobalamina apresentam um baixo nível sérico de vitamina B12, porém esta característica também pode ser encontrada em cerca de 30% dos pacientes com deficiência de ácido fólico. Os resultados negativos não deverão impedir o tratamento na presença de sintomas clinicamente compatíveis. A dosagem de folato no eritrócito representa um melhor reflexo de suas reservas do que o nível sérico de ácido fólico. A avaliação dos níveis séricos de seus intermediários metabólicos (ácido metilmalônico e homocisteína) poderá ajudar a estabelecer o diagnóstico correto. Os níveis elevados de ácido metilmalônico são compatíveis com a deficiência de cobalamina, ao passo que os níveis elevados de homocisteína ocorrem tanto na deficiência de cobalamina quanto na de folato. ANEMIAS HEMOLÍTICAS Os distúrbios hemolíticos geralmente são
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