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AULA 6: ARRANJO FÍSICO E FLUXOGRAMA Em nossa última aula abordaremos sobre dois importantes elementos no âmbito da gestão de produção, a partir do qual inúmeras decisões são tomadas: arranjo físico e fluxograma. Quando falamos em arranjo físico ou layout estamos nos referindo a localização ou distribuição física de máquinas e equipamentos em determinado espaço. Parece algo simples, porém o arranjo físico provém de decisões capazes de interferir consideravelmente na capacidade das instalações e na produtividade das operações. Assim, “a melhor utilização dele é o ponto chave para a diminuição dos custos de produção e aumento na produtividade, melhorando a eficiência” (SILVA et al., 2018, p. 35). Conquanto, antes de falarmos sobre os tipos de layouts devemos inicialmente identificar e entender os tipos de processos que se desenvolvem no ambiente produtivo da empresa, tanto de fabricação de produtos, quanto de prestação de serviços. Isso porque eles interferem diretamente no projeto do arranjo físico e na organização do espaço. Quando pensamos em processos produtivos vale destacarmos que a variável que mais interfere e diferencia os tipos de processo corresponde a diferença entre suas características de volume e variedade. Via de regra, quanto maior a variedade de processos e produtos, menor tende a ser o seu volume produzido e vice-versa (JANUZZI, 2011). Para Davis, Aquilano e Chase (2004), existem basicamente três tipos de processos, quais sejam: projetos, intermitente ou job-shop e em massa ou contínuo. A diferença entre eles corresponde ao seu volume e variedade, conforme demonstra a Figura 1. LEMBRE-SE: Na gestão de produção e operações sempre que falarmos de layout estaremos nos referindo a arranjo físico, pois ambos os termos são sinônimos. Figura 1 – Tipos de processos em um ambiente produtivo Fonte: Januzzi (2011). Conforme podemos observar, a partir das variáveis volume e variabilidade determinados processos são determinados. O processo de projetos é empregado em produtos ou serviços customizados, desenvolvidos em períodos longos de tempo e com baixo volume de produção. Este tipo de processo requer um elevado contato com o cliente, de modo que o foco está no processo propriamente dito. Como exemplo de processo de projetos temos o desenvolvimento de projetos arquitetônicos e consultorias. Por sua vez, o processo intermitente ou job-shop também pode ser chamado de processo em lotes, pois ora entrega um produto ora entrega outro. O volume também varia muito e possibilita tanto a padronização de produtos quanto de tarefas repetidas. Conquanto, difere da produção em massa porque oportuniza a produção de um lote de produtos padronizados, para, em seguida, iniciar a produção de outro lote de produtos. Como exemplo de processos intermitentes ou em lotes temos as gráficas e a construção de casas populares. Por fim, o processo de produção em massa ou contínuo caracteriza-se pelo alto volume de produção e pela baixa ou nula variabilidade. O contato com o cliente também é reduzido ou ainda inexistente. E, como exemplo de produção em massa podemos citar indústrias automobilísticas e de aparelhos eletrônicos, bem como supermercados, rodoviárias, aeroportos, etc. E, como produção contínua temos empresas processadoras de matéria prima como usinas de aço e açúcar, por exemplo (JANUZZI, 2011). Diante disso, temos que o planejamento de layout das instalações produtivas busca atender aos seguintes objetivos: fornecer suficiente capacidade de produção; minimizar custos do manuseio de material; assegurar espaço para o fluxo de máquinas e materiais; permitir elevada utilização e produtividade da mão de obra, das máquinas e do espaço; fornecer flexibilidade de volume e produto; garantir segurança e salubridade aos funcionários; oportunizar facilidade de supervisão e de manutenção; proporcionar conforto e conveniência para o cliente; permitir a exposição atraente das mercadorias, e; promover melhor comunicação e acesso entre os departamentos (JANUZZI, 2011). A partir desses objetivos do planejamento de layout, temos também que sua reformulação ocorre com base nos seguintes motivos: ineficiência das operações (custo elevado, gargalos de produção, etc.); acidentes ou riscos à integridade física e à segurança; mudança no projeto de produtos ou serviços; introdução de novos produtos ou serviços; modificações no volume de produção ou no mix de produtos; mudança nos métodos ou no equipamento; modificações em requisitos ambientais ou em outros aspectos de cunho legal, e; problemas concernentes à moral do pessoal (como por exemplo, falta de contato face a face) (MUNIZ JUNIOR et al., 2012). Diante disso, temos quatro tipos básicos de arranjos físicos, quais sejam: layout fixo ou posicional, layout por processo ou funcional, layout celular e layout em linha ou por produto. O layout fixo ou posicional caracteriza-se pelo fato de que os recursos a serem transformados são mantidos na mesma posição durante a produção. Logo, nesse tipo de layout quem se movimenta são os recursos transformadores, como pessoas, ferramentas, máquinas e instrumentos. Como principais motivos para os recursos a serem transformados não se moverem, temos os seguintes: (i) volume grande e/ou peso do produto: a construção de navios ou de plataformas de petróleo, por exemplo, é realizada em um mesmo local, obrigando os recursos transformadores a se movimentarem ao seu redor; (ii) características implícitas do produto: é o caso das obras de construção civil, como casas, prédios e pontes, por exemplo, e; (iii) conveniência ou delicadeza do serviço a ser desenvolvido: no caso de restaurantes do tipo a la carte ou de cirurgias médicas, onde os recursos a serem transformados (clientes ou pacientes) permanecem o tempo todo no mesmo lugar e os recursos transformadores (médicos, garços, aparelhos, instrumentos, etc.) é que se movimentam ao seu redor (JANUZZI, 2011). Já o layout por processo ou funcional é empregado tendo por base a posição dos recursos transformadores (máquinas, equipamentos e instalações). Logo, busca-se a otimização da movimentação de materiais e a utilização de maquinários por meio do compartilhamento do seu uso. Como exemplo disso, temos que em uma recapadora de pneus, os processos de raspa, limpeza e conserto de pneus geralmente são colocados próximos a fim de compartilhar as instalações de aspirador e do silo de armazenagem do resíduo. Do mesmo modo, em supermercados, as instalações da padaria, confeitaria e fiambreria são colocadas próximas umas das outras para compartilharem fornos, freezers e demais recursos de transformação (JANUZZI, 2011). Conquanto, o arranjo físico por processo ou funcional tende a ser projetado a partir do bom senso, intuição e um processo contínuo de tentativa e erro, pois existem múltiplas combinações e possibilidades de organizá-lo. Assim, para definir a melhor forma de organizar o layout por processo é importante que a função produção identifique quais objetivos busca atingir (se é reduzir custos por meio do compartilhamento de equipamentos, minimizar tempo aproximando processos, reduzir a distância percorrida pelos funcionários, etc.). Por sua vez, o layout celular baseia-se na lógica de que os insumos que entram no processo de produção são direcionados à uma determinada parte da operação para serem transformados e depois seguem para outro estágio ou célula de transformação. Ou seja, o layout celular situa-se no meio do caminho entre o layout por processo ou funcional e o layout em linha ou por produto. Assim, em uma linha de montagem tradicional a organização por células pode ser útil quando existe a necessidade de famílias de peças para mais de um tipo de produto, que utilizam maquinários semelhantes em diferentes etapas de sua montagem.Logo, o layout é organizado com base nos recursos transformadores (JANUZZI, 2011). Por fim, o layout por produto ou linha envolve a localização dos recursos transformadores de acordo com a conveniência do recurso que está sendo transformado. Dessa forma, as estações de trabalho da empresa que envolvem as tarefas e os equipamentos e ferramentas são dispostas conforme as etapas progressivas pelas quais o produto deve passar em seu processo de produção em uma linha contínua e sequencial. Assim, o fluxo de produção, de produtos e de informações é muito claro e previsível (JANUZZI, 2011). Sendo assim, trata-se de um arranjo físico comumente empregado em ambientes onde há elevado volume de produção e baixa variabilidade por um extenso período, o que torna esse layout vantajoso quanto a produtividade. Como exemplo de utilização desse tipo de arranjo físico, podemos citar a produção de calçados, automóveis, programas de vacinação em massa e restaurante self-service (JANUZZI, 2011). O Quadro 1 apresenta as principais diferenças entre os arranjos físicos posicional ou fixo, linha ou produto e processo ou funcional. Quadro 1 – Tipos de layout Fonte: Muniz Júnior et al. (2012). Agora que vimos os tipos de arranjos físicos, vamos verificar a associação deles com os tipos de processos que abordamos no início dessa aula. Isto porque dependendo das características do tipo de processo produtivo empregado temos layouts que são mais apropriados. A Figura 2 apresenta um espectro de adequação em relação aos tipos de processos e de layouts. Figura 2 – Espectro de adequação de tipos de processos e tipos de layouts Fonte: Januzzi (2011). Observemos que não há um único tipo de layout adequado para cada tipo de processo, de modo que questões como volume de produção e variabilidade interferem na escolha do arranjo físico mais eficiente. Além disso, alguns ambientes produtivos desenvolvem mais de um tipo de operação, havendo, portanto, a existência de múltiplos processos e layouts (JANUZZI, 2011). Ademais, no Quadro 2 podemos observar as principais vantagens e desvantagens relacionadas à cada tipo de arranjo físico. Quadro 2 – Vantagens e desvantagens de cada tipo de arranjo físico LAYOUT VANTAGENS DESVANTAGENS Por Produto ou em Linha *Possibilidade de produção em massa com grande produtividade *Carga de máquina e consumo de material constantes ao longo da linha de produção *Controle de produtividade mais fácil *Alto investimento em máquinas *Costuma gerar tédio nos operadores *Falta de flexibilidade da própria linha *Fragilidade a paralisações e subordinação aos gargalos Por Processo ou Funcional *Grande flexibilidade para atender a mudanças de mercado *Bom nível de motivação *Atende a produtos diversificados em quantidades variáveis ao mesmo tempo *Menor investimento para instalação do parque industrial *Apresenta um fluxo longo dentro da fábrica *Diluição menor de custo fixo em função de menor expectativa de produção *Dificuldade de balanceamento *Exige mão de obra qualificada *Maior necessidade de preparo e setup de máquinas Celular *Aumento da flexibilidade quanto ao tamanho de lotes por produto *Diminuição do transporte de material *Diminuição dos estoques *Maior satisfação no trabalho *Específico para uma família de produtos *Dificuldade em elaborar o arranjo Posicional ou Fixo *Não há movimentação do produto *Possibilidade de terceirização de todo o projeto ou de parte dele *Complexidade na supervisão e no controle *Necessidade de áreas externas à produção para guardar material, etc. *Produção em pequena escala e com baixo grau de padronização Fonte: elaborado a partir de Peinado e Graeml (2007). Como podemos constatar, cada tipo de layout possui vantagens e desvantagens em relação à sua implementação. Dessa forma, não podemos dizer que um é melhor ou pior do que os outros, uma vez que o que define sua adequabilidade à produção corresponde aos processos que são desenvolvidos, bem como os fluxos produtivos. Diante disso, falaremos agora sobre fluxogramas. Estes consistem em formas de representar, através de símbolos gráficos, a sequência de passos de um trabalho a fim de facilitar sua análise. No âmbito da gestão da produção, é empregado com o intuito de analisar sistemas produtivos, objetivando identificar oportunidades de melhorar a eficiência dos processos (PEINADO; GRAEML, 2007). Um fluxograma é compreendido de forma mais rápida e fácil do que uma tabela ou um texto, por exemplo, podendo ser empregado para detalhar toda e qualquer tarefa. Para compreendermos essa facilidade de análise, vamos observar a Figura 3 que contém o fluxograma que representa a visualização do processo de convidar uma amiga para ir ao cinema. Figura 3 – Exemplo de fluxograma Fonte: Peinado e Graeml (2007). Observemos que ao longo do processo, temos uma diversidade de elementos gráficos que simbolizam ações, decisões e situações. E no âmbito industrial também é assim. Conquanto, os símbolos usados para descrever processos industriais tendem a serem mais simples do que os empregados no exemplo apresentado anteriormente. Isto porque geralmente são utilizados basicamente cinco símbolos, cuja descrição e exemplificação são apresentadas na Figura 4. Figura 4 – Simbologia de fluxogramas utilizados para processos industriais Fonte: Peinado e Graeml (2007). Vale lembrarmos que não existe um único tipo de fluxograma, pois sua elaboração pode ter múltiplos arranjos e organizações. Diante disso, na Figura 5 estão apresentados alguns exemplos de fluxogramas comuns no ambiente industrial. VAMOS PRATICAR? Agora que entendemos como funcionam os fluxogramas e os principais símbolos empregados para sua elaboração, que tal você desenvolver o fluxograma de alguma tarefa que executa diariamente na empresa onde trabalha? Ou até mesmo o fluxograma de alguma atividade pessoal, como realizar as aulas EaD de nosso componente curricular? Figura 5 – Exemplos de tipos de fluxogramas no ambiente industrial Fonte: Peinado e Graeml (2007). Legenda: MP = Matéria Prima; PA = Produto Acabado Podemos observar que o tipo de fluxograma tem relação direta com o tipo de arranjo físico empregado. Isto se justifica porque ambos são planejados e implementados a partir dos processos executados para que a função produção aconteça. Perceba como tudo está interligado quando falamos em gestão de produção e operações, não é mesmo? E essa perspectiva integrativa não se limita a questões operacionais como as que estamos abordando hoje, mas estende-se também para elementos de ordem estratégica, conforme vimos no início desse nosso componente curricular. Espero que ao longo de nossas aulas tenha ficado evidente a importância da função produção para o desempenho competitivo das empresas, independentemente de seu porte e ramo de atuação. E, do mesmo modo, todos os elementos que a circunscrevem enquanto área da administração também são fundamentais. Também espero que tenhamos conseguido desenvolver competências que os qualifiquem enquanto profissionais técnicos que atuarão em um contexto dinâmico e de inovação acelerada, fazendo com que as suas expectativas em relação à esse componente curricular tenham sido atendidas. Foi um prazer acompanhá-los nessa breve jornada e até a próxima! REFERÊNCIAS DAVIS, M. M.; AQUILANO, N. J.; CHASE, R. B. Fundamentos da administração da produção. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. JANUZZI, U. Administração de produção: processos gerenciais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2001. MUNIZ JUNIOR, J.; FERREIRA, U. R.; DELAMARO, M. C.; CAMPOS, A. E. M.; MARINS, F. A. S.; SALOMON, V. A. P.; COSTA, A. F. B.; JUNIOR, E. D. B.; SILVA, M. B.; ROCHA, H. M. Administraçãode produção. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2012. PEINADO, J.; GRAEML, A. R. Administração da produção: operações industriais e de serviços. Curitiba: UnicenP, 2007. SILVA, B. P. M.; VERISSIMO, F. M.; NEVES, G. R. S.; MARTINS, N. Q.; MAZINI, S. R. FERARREZE, R. R.; LEONI, J. N. Layout e arranjo físico: uma revisão bibliográfica sistemática. Revista Engenharia em Ação UniToledo, v. 03, n. 01, p. 35-45, 2018.
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