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Tradução: Cintia Revisão Inicial: Geovana Revisão Final: Luma Leitura Final: Liss Conferencia: Emma, Suli & Ariella Formatação: Ariella A tradução foi efetuada pelo grupo Doll Books Traduções (DB), de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando- os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto. Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo DB poderá, sem aviso prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o grupo DB de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998. “Mova-se como o vento, proteja seu rosto, mantenha seus olhos no alvo e não morra.” Eu sou filha de um rei, mas não sou princesa. Sou odiada por muitos, mas temida por mais. Para um, eu não era nada, para outro sou tudo. Eu sou um peão no jogo deles, uma lutadora em seu ringue. Meu nome é Nada, e esta é a vida no submundo. No submundo, uma prisão enterrada nas profundezas do solo, vive uma cidade de assassinos, ladrões e estupradores. Nessas profundezas, o pior dos piores prosperou, enquanto os puros e mal julgados lutavam para sobreviver. Nada é a filha do rei, nascida nesta prisão, indesejada e não amada. Esse tipo de negligência pode fazer ou destruir uma pessoa, e Nada estava longe de ser destruída. Uma beleza selvagem, Nada tem a intenção de corrigir os erros de seu mundo e derrubar seu pai, mesmo que seja a última coisa que ela faça. Shadow foi jogado na luta do submundo, e ele não parou em todos os anos de sua sentença infinita. De um ninguém sem nada, ele lutou para subir na cadeia e agora é o segundo no comando de Kingsley Duke, o homem mais perigoso do mundo. Ele não entende a filha do rei, sua teimosia o frustra e sua arrogância o irrita. Ao mesmo tempo, porém, sua vontade de lutar o impressiona. Diz-se que amor e ódio são emoções inconstantes, acionadas pela mesma paixão. Os sentimentos tempestuosos que Nada e Shadows tem um pelo outro, ardem muito para serem ignorados. Com os segredos de Nada e a lealdade de Shadow para com seu pai, eles podem sobreviver ao submundo? O fato de não ter nada significava que eu não tinha nada a perder, e foi isso que me tornou invencível. Meu nome é Nada1, que em espanhol significa nada, mas houve poucos que se deram ao trabalho de me chamar por esse título. A maioria me chamava de ‘garota’, o resto só me ignorava completamente. Minha história não é bonita. Não há gentileza, e o amor que encontro é como uma serra irregular e pedra crua, tão polida quanto as paredes de pedra em que vivo. Meu mundo está cheio de ódio, ganância, luxúria e violência, e eu nasci aqui, em uma prisão de escuridão, onde a carícia quente do sol nunca chega. O mundo é um lugar diferente do que era antes, pelo que me disseram, porque só conheci essa merda. Ouvi histórias sobre o mundo acima, onde o santo e o divino vivem, onde a liberdade é seu direito e a luz dos olés sua bênção. No mundo deles, quando uma pessoa comete um crime, não há julgamento por júri e não há segundas chances. Quando um dos abençoados comete um crime, eles são entregues diretamente ao fundo e empurrados para o limiar do submundo. Enquanto nossa prisão tem uma escola improvisada para as poucas crianças que moram aqui, fui ensinada a ler e escrever pelo único homem em quem já confiei nesta instalação: Dejohn, meu mentor, meu treinador. Ele também tentou me ensinar sobre a história do mundo abaixo da terra e acima. Suas lições eram incrivelmente entediantes e os livros que ele encontrava frequentemente tinham páginas ausentes, arrancadas de suas encadernações, deixando para trás um mistério de bordas irregulares. Tais livros, dependendo de quem os escreveu, influenciaram fortemente a favor ou contra esse novo 1Aqui a autora sente a necessidade de explicar o nome já que o livro foi originalmente escrito em inglês. Em inglês “nada” é “Nothing”, mas como em espanhol e em português é a mesma palavra, para a gente a explicação fica sem sentido. mundo em que vivíamos. Era difícil afastar as mentiras e o ódio para encontrar a verdade, e na maioria das vezes eles eram repetitivos e sem graça. As histórias contadas pelos inúmeros presos, no entanto, foram uma lição de história muito mais fascinante. Quando menina, eu me sentava nas sombras e ouvia suas histórias de mundo que minha mente jovem não conseguia entender. Que um homem importante, um líder do mundo livre, por assim dizer, foi assassinado por aqueles que desejavam subjugar e dominar com seus ideais fanáticos e a partir daí a América começou a desmoronar. Eles chamaram isso de guerra pela liberdade. Não foi um declínio lento; foi instantâneo e poderoso. Washington, Nova York, LA e Houston foram os primeiros lugares a serem atacados. Os atos de violência levaram edifícios ao chão e homens poderosos de joelhos. Enquanto os Estados Unidos queimavam, as esperanças e sonhos de milhões de pessoas se transformaram em cinzas. O desespero fez pessoas boas fazerem coisas ruins. Viver às vezes significava matar, e a histeria em massa possuiu a mentalidade de cada homem. Os suprimentos de comida ficaram baixos, e os que antes eram ricos agora ficaram pobres, e os pobres foram em grande parte dizimados. Durante algum tempo, os Estados Unidos estavam na escuridão, a eletricidade desapareceu, a tecnologia foi reduzida à de uma era mais primitiva. Um dos países mais poderosos do mundo havia sido quebrado, tão frágil quanto um bebê recém- nascido. Outros países deram seu apoio, mas a destruição foi em uma escala muito grande para alívio imediato de uma nação devastada. Os anos se passaram, mais de cem para ser exata, e pouco a pouco, o controle foi conquistado, o mal foi trazido à tona e uma tolerância zero ao crime foi votada. Os soldados lutaram contra os terroristas fora das fronteiras e lentamente recuperaram o controle. Sobre o caos criado pelos cidadãos dentro das fronteiras, as cidades foram limpas como zonas livres de terrorismo e depois divididas por fronteiras fortemente protegidas, na tentativa de impedir a entrada de terroristas. Enquanto o mundo tentava bravamente reconstruir a infra estrutura quebrada e demolir os estados, o Submundo nasceu. Metrôs, cavernas, minas e bunkers foram transformados em prisões formidáveis, enterradas sob cimento e rocha, trancadas com força, sem luz, paz e liberdade. Cada prisão subterrânea abrigava de cem presos a mais de mil nos estados maiores. No mundo acima, um novo homem foi levado ao poder como líder da nação e uma forte presença militar permaneceu na terra para fazer cumprir a lei. Os comandantes militares assumiram posições de liderança emcada estado, comandando com mão de ferro. Nesta América recém-formada, se você cometeu um crime, independentemente de ter sido com intenção maliciosa ou não, você é condenado à vida no submundo. A lei era dura e implacável, mas funcionava e as pessoas rapidamente se alinharam. Eu sou uma dos infelizes que está enjaulada no que antes era o sistema de metrô de Nova York, simplesmente por causa da luxúria negligente e descuidada dos meus pais. O nascimento de filhos não era contra a lei aqui embaixo, mas era definitivamente desaprovado em um esforço para evitar nascimentos acidentais infelizes como o meu. Nossa prisão é diferente das prisões da antiguidade. Depois de ser lançada no submundo, não há grades para se esconder atrás, não há guardas para impedir a ilegalidade, existe simplesmente o nosso mundo, por mais corrupto e feio que seja. Dinheiro não tem valor aqui embaixo; no entanto, as pessoas da terra da liberdade lutaram pelos direitos de seus entes queridos que foram expulsos para a prisão do submundo. Só por esse motivo, recebemos comida, necessidades básicas devidas, ferramentas usadas, roupas de segunda mão, geradores de eletricidade, água... tudo o que precisamos para tornar-se uma existência quase funcional. Esses itens se tornaram valiosos, algo tão simples quanto uma escova de dentes poderia ser uma mercadoria muito procurada pelas quais as pessoas estavam dispostas a fazer trocas. Por isso, nosso próspero sistema comercial. E nenhum item era tão útil quanto as drogas e álcool. As drogas sintéticas e o álcool, fabricados em laboratórios sem janelas, muitas vezes causando condições médicas mortais aos fabricantes, ajudaram a suprir a necessidade interminável de uma fuga. Este submundo tinha seu próprio líder, e sua palavra é lei neste poço cavernoso. Ele se refere a si mesmo como nosso ‘rei’. A lei dele não é complexa ou difícil; é simples: faça como o rei diz. Seus soldados o protegem e mantêm um pouco de paz aqui embaixo, ao mesmo tempo em que criam seu próprio caos. Assassinos e estupradores, os piores dos piores, foram colocados em posições poderosas para as quais nunca seriam designados em nenhum outro mundo além do nosso. O rei não nasceu aqui, ele foi enviado depois do assassinato brutal de um homem para quem trabalhava e, desde sua chegada, havia batido seu caminho até o topo. Nasci para o rei do submundo, mas não sou princesa. Não sou nada e, para alguns, sou tudo. Em um esforço para me subjugar, eles me usam como lutadora em seu ringue. Mal sabem eles que, ao fazer isso, criaram um monstro. Meu nome é Nada, e esta é a vida no submundo. NADA Minhas pálpebras se abriram com o primeiro baque pesado na minha porta. Eu não tinha a intenção de cochilar e, pela sensação aquecida do meu corpo, levaram apenas alguns minutos. Eu tinha sono leve, você tinha que ter para sobreviver ao submundo; caso contrário, você nunca acordaria. Eu morava no meu quarto pequeno, trancado por uma pesada porta de aço. No entanto, não podia ser trancado por dentro, para que qualquer pessoa pudesse entrar a seu critério. Poucos ousariam, mas os poucos eram os que raramente o faziam duas vezes. — É a hora, — a voz rouca de Pablo murmurou do lado oposto da pesada porta de aço antes que seu passo em retirada ecoasse pelo túnel do lado de fora do meu quarto. Era sempre o mesmo antes de cada luta; Pablo me avisaria alguns minutos antes dos soldados de Kingsley virem atrás de mim. Eu podia sair pela minha porta por vontade própria e fazer o meu caminho para a arena por conta própria, mas Kingsley gostava de fazer um show, e escoltar era, aparentemente, tudo parte de sua exibição insana. Lentamente, sentei-me, deixando minhas pernas balançarem ao lado da cama. Minhas botas atingiram o cimento com um baque enquanto eu apoiava minha cabeça nas mãos e apenas respirava. Outro dia respirando era um bom dia… certo? Estendendo a mão, apertei as fivelas que amarravam as botas até as panturrilhas e reposicionei a faca que escondi em uma dessas fivelas antes de pegar meu bebê. Acariciei a lâmina preta de aço carbono de nove polegadas antes de prender meu coldre na coxa e deslizá-lo em sua bainha. Eu sempre dormi completamente vestida, pronta para tudo e qualquer coisa. Minhas calças estavam apertadas o suficiente para que ninguém pudesse agarrar um punhado do tecido. Meu top preto de mangas compridas era tão apertado e fechado no meio, onde mais fivelas puxavam um pedaço de couro apertado nos meus seios. Era grosso o suficiente para impedir uma faca no coração, mas ainda flexível o suficiente para não restringir meu movimento. Uma colega de prisão, Regan, o projetara especialmente para mim. Eu encontrei o couro, o tecido e as agulhas em um lixão-quando o mundo acima mandou suas coisas para o mundo abaixo. Regan tinha gostado de criar o conjunto que eu agora usava. Aparentemente, segundo ela, era, durão. No que me dizia respeito, não me importava com a aparência, desde que fosse prático. De pé, estiquei-me e olhei para o meu reflexo em um espelho sujo encostado na parede fria de pedra. O estilo de cabelo curto e irregular, que muitas vezes balançava de qualquer maneira de uma forma completamente desordenada, de algum jeito conseguiu se reunir em um moicano áspero durante o meu sono. Inclinei minha cabeça para um lado e considerei o quão ameaçadora eu parecia. Meus olhos escuros estavam rodeados de carvão; um olhar que eu adotara depois da minha primeira luta na gaiola aos treze anos de idade. Regan achava que isso me fazia parecer ameaçadora, mas eu apenas manchava sobre os olhos em um esforço para esconder hematomas. Era importante nunca deixar seu oponente conhecer suas fraquezas. Os hematomas eram uma fraqueza que poderia ser capitalizada no ringue. Olhando para a minha roupa toda preta, ajustei uma das fivelas e certifiquei-me de que meu movimento fosse livre e fácil. Teoricamente, eu deveria usar branco; Nasci no submundo, o que me tornava branca2... inocente. Mas eu estava longe de ser inocente. No dia em que fiz minha primeira morte, comecei a usar roupas pretas com pulseiras vermelhas, que representavam o sangue que derramei. Eu me vestia assim todos os dias desde então, um lembrete de que eu era tão culpada quanto os assassinos condenados de cima. 2A cor branca aqui é referente ao padrão de cores/divisão social do Submundo. Olhando para o meu travesseiro, notei as manchas pretas que deixei no tecido cinza sujo. O que era um pouco mais de terra em cima de muita terra? Dando de ombros, peguei uma jaqueta preta pesada, meus olhos permanecendo na pedra solta na parede, que continha todos os meus segredos, no canto mais distante do meu quarto. A melhor maneira de manter um segredo era fingir que não havia. Eu havia ignorado a pedra solta inócua há meses, mas meus dedos se contraíram com a necessidade de desenterrá-la de seu lugar e desenterrar o pedaço de papel atrás dela. Eu estava segurando aquele papel dobrado há tantos anos; mal estava intacto, enrugado, as imagens e as palavras desapareceram para uma imagem opaca e translúcida. Aquele pedaço de papel frágil, com sua efígie desaparecendo, continha a única coisa que na minha vida estava ausente até agora...esperança. Passos pesados me impulsionaram a entrar em ação, e eu abri a porta grossa de aço no momento em que aqueles passos pararam do outro lado. — Pronta? Eu não respondi; ele sabia que eu estava pronta. Eu simplesmente saí na frente dele e caminhei pelo corredor escuro e estreito, o inimigo atrás de mim. Era uma regra cardinal quebrada. Eu aprendi da maneira mais difícil de nunca deixar um inimigo sair da minha linha de visão, mas o humor em que eu estava desafiava o filho da puta a tentar algo. Um ponto entre minhasomoplatas coçava de desconforto, a necessidade de trocar de posição como força motriz. Houve um tempo em que eu nunca teria permitido tal vulnerabilidade, mas essa era uma época diferente, e eu era uma garota diferente, uma garota que deveria ter conhecido melhor, uma garota que confiava em um mundo onde a confiança não devia existir. Eu me permiti ficar vulnerável, e os resultados ainda atormentavam meus sonhos com detalhes horríveis. Eu ainda podia sentir as mãos intrusas na minha pele e a invasão indesejada em uma parte do meu corpo que sempre considerei sagrada, mas nada era sagrado no submundo. Afastei o sentimento enjoado que esses pensamentos sempre me deixavam e concentrei-me na respiração, mantendo o controle dos passos pesados atrás de mim. Eu ensinei a ele uma lição para manter as mãos para si há quase dois anos atrás. Eu arranquei uma orelha dele e agora ele estava nervoso ao meu redor. Ele fingiu bem a indiferença, mas eu pude ver o tique nervoso em sua mandíbula e a maneira como seu corpo estava rígido de ansiedade. Solo era um dos soldados do meu pai. Ele era construído como um tanque, com uma cabeça careca, olhos castanhos lamacentos estreitados em fendas, uma boca de buldogue e ombros largos que quase roçavam os dois lados do túnel em que estávamos. Suas pernas eram como tocos de árvores, suas mãos grandes e carnudas, e apesar de todos os seus músculos e arrogância, eu o derrotei. Ele se atreveu a me tocar sem minha permissão, e eu peguei seu ouvido, porque ele obviamente não ousou. Havia apenas uma regra que os homens tinham que seguir no que me dizia respeito: não toque na mercadoria. A regra chegou um pouco tarde para mim, mas me salvou da degradação que me fora imposta aos dezesseis anos de idade e jurei que nunca mais ficaria tão fraca; ninguém nunca me tocaria assim novamente sem perder uma parte do corpo. Eu era a possessão de Kingsley, sua lutadora número um da gaiola, e como Kingsley descobriu após esse terrível evento, me machucar, era atrapalhar os negócios, então ele havia implementado a única regra pela qual eu sempre agradeceria: não toque na filha do rei. Se eu não fosse valiosa para o homem como lutadora, ele teria me deixado de lado anos atrás. Eu nunca consegui entender o ódio de King por mim, nunca fiz nada para justificar tal ódio, mas com o tempo cheguei a aceitá-lo. Era simplesmente do jeito que as coisas eram e, na verdade, isso me ajudou a ser a mulher forte e resistente que eu sou hoje. Passamos pelos quartos de outros reclusos, alguns com portas de aço impedindo a entrada, outros com nada além de um fino véu de tecido para dar privacidade, outros sem portas. Apenas alguns de nós tinham cadeados para proteger nossos pertences quando saíamos de nossos aposentos, e a masmorra, nas profundezas do submundo, era um lugar guardado para molestadores de crianças e aqueles que se opunham a Kingsley. Na maioria das vezes, éramos livres para vagar pelo mundo, mas essa liberdade tinha um preço. O submundo era um lugar perigoso, e as pessoas frequentemente morriam aqui embaixo nas mãos de outros. O trovão de vozes e música me alcançou quando entrei na escada, descendo os degraus dois de cada vez. Eu mantive meus olhos na frente e no centro, ignorando os poucos homens que permaneciam nas sombras. Alguém abriu uma porta e eu entrei, o barulho crescendo cada vez mais enquanto eu me aproximava do meu destino. As paredes tremiam com o tumulto que abafava o silêncio habitual dessa área. Eu segui outra passagem longa e escura, Solo ainda nas minhas costas, antes de tomar outra escada curta que se abria para um corredor amplo e bem iluminado. Meu olhar contemplou os homens que esperavam do outro lado, parados como sentinelas silenciosas em frente a uma porta que levava a sangue e caos. Meus olhos me traíram encontrando-o primeiro, meu pai, embora chamá-lo assim seria uma mentira. O homem não fez nada além de injetar esperma suficiente no ventre de minha mãe viciada para produzir filhos, uma criança que nenhum deles merecia nem queria. Para mim, ele era um filho da puta do mal; para todo mundo, ele era o rei. O rei desta prisão do submundo, que tinha mais poder do que qualquer homem sozinho, deveria poder acumular. Kingsley Duke, também conhecido como o Rei. Eu acho que, considerando o rosto, ele era um homem bonito. Eu não tinha ideia de quantos anos ele tinha, mas eu o coloquei por volta dos cinquenta. Seu cabelo estava levemente grisalho nas pontas das orelhas, o nariz era reto e os lábios eram cheios. Ele sempre se vestia bem, de terno, apesar de mal ajustado, e ainda assim apto para um rei. De onde ele os tirou, eu não fazia ideia; era difícil encontrar tal elegância no submundo. Mas, apesar de toda a sua beleza estética, o homem era puro mal com uma alma tão sombria quanto às profundezas do submundo. Ele era brutal e sem piedade, governando seu domínio com um punho de ferro que lhe rendeu mais seguidores temerosos do que respeito. Quando seus olhos frios e perigosos se fixaram nos meus, meu olhar subiu, apenas para me trair novamente, estabelecendo-se em outro homem que eu amava odiar. Shadow, o assassino favorito de king. Ele era mais alto que meu pai, se isso fosse possível, pois Kingsley sempre parecia se elevar sobre todos. Ele tinha um corpo feito para matar, alto, construído com músculos que pareciam esculpidos em pedra. Rápido e mortal, ele foi o assassino do submundo e o soldado mais confiável de meu pai. Ele também chamou minha atenção, me fazendo sentir coisas que eu não entendia direito. Meu estômago palpitou ao vê-lo, meu batimento cardíaco aumentou, meus olhos atraídos por uma vontade própria para seus lindos olhos e corpo forte. Eu tinha lido sobre o amor e, embora meus sintomas fossem remanescentes, eu sabia que não o amava, eu o odiava, mas me disseram que amor e ódio compartilhavam uma linha precária que poderia ser ultrapassada a qualquer momento. Eu não conhecia o amor, não fazia ideia de como era a emoção, mas sabia sobre o ódio. As linhas ficaram um pouco borradas quando Shadow abriu a porta da sala de armazenamento e descobriu meu ataque brutal. Aquele momento foi como uma memória que nunca envelhece, ainda aguda e brutalmente precisa. Eu me lembrei do momento em que minha cabeça rolou para o lado e eu o vi parado ali, seu rosto cheio de raiva que me assustaria até a morte se meu corpo não estivesse virado para dentro e entorpecido no momento em que os homens haviam me subjugado. Shadow havia matado aqueles homens; ele derrotou aquele que estava comigo na época em uma polpa não identificável. Então, com um toque gentil que nunca havia sentido antes, ele me levou até a porta de Dejohn. Nem uma única palavra foi dita durante todo o calvário, nem desde então. Meus sentimentos por Shadow estavam cheios de conflito. Uma parte de mim estava agradecida pelo que ele havia feito por mim, enquanto a outra o via como pouco mais que o cachorro de meu pai, obedecendo a todos os comandos sem questionar. O homem era um mistério de contradições. Seu sotaque único tinha um tom preguiçoso que sugeria uma fachada descontraída, e Shadow era tudo menos descontraído. Seu olhar penetrante prometia dor e morte, mas às vezes, quando eu o pegava me encarando sem vergonha, aqueles olhos escuros se tornaram quase refletivos e algo substituía a raiva, embora eu nunca pudesse dizer o que era aquilo. Esta noite ele olhou, como sempre, seus olhos escuros nunca deixando os meus, quase um desafio, mas um desafio para quê? Ocasionalmente, eu pensei ter visto necessidade em seus olhos, um desejo por algo que um homem poderia encontrar em uma mulher. Eu não era ingênua a esses desejos. Eu já havia experimentado luxúria descontrolada antes e testemunhava isso diariamente. O sulco nos cantos escuros e, às vezes, em espaços comunsabertos, geralmente guardados para comerciantes e fornecedores de comida, era uma visão comum. Segundo Regan, eu era atraente, mas não via. Meu nariz tinha uma crista permanente de ser quebrado muitas vezes. Eu tinha cicatrizes, meus lábios eram muito grandes e meus olhos? Eles estavam mortos... frio, duro e morto. Não, eu não era bonita. Eu era uma assassina, meu coração estava gelado e meu cérebro nada mais era do que um catálogo que via todas as partes feias deste mundo e a lembrava com detalhes precisos. Enquanto olhava nos olhos desafiadores de Shadow, não via luxúria. Eu vi outra coisa. Ódio? Definitivamente, mas havia algo mais lá, e eu não entendi, nem queria. O jeito que ele olhava para mim sempre era o mesmo: frio, calculista e intenso. Minha atenção foi atraída para uma figura que se adiantou, ficando parada diante de mim, parando minha marcha rumo à glória. — Rumores como ela são como um tornozelo ruim, — ele murmurou quando eu peguei minhas mãos e comecei a envolvê-las metodicamente. Seu profundo sotaque jamaicano havia se tornado um bálsamo calmante para o caos no meu mundo. Dejohn nunca me ofereceu falsidades, e ele não era um homem que compartilhava abraços afetuosos ou palavras doces. Não importa o quão distante eu tentei ser, eu sabia que ele se importava comigo. Ele era honesto, às vezes brutalmente, e me mostrou como me proteger, se certificou de que eu tivesse pelo menos duas refeições sólidas por dia, tratasse minhas feridas e tentava o melhor que podia para ser o amortecedor entre Kingsley e eu. Ele não era meu pai de sangue, mas se eu pudesse escolher meu pai, eu o escolheria. — Ela também tomou suco na noite passada, então você pode encontrá-la um pouco mais devagar, como sempre, — acrescentei com um sorriso. Quase convenceu meus próprios lábios a se levantarem e encontrarem seu bom humor... quase. Sorrisos pareciam estranhos para mim, mas se havia alguém que podia persuadir um, era Dejohn. Ele já fora soldado da elite de meu pai, delegado a ajudante quando chegou a uma idade considerada imprópria para cuidar das costas do rei. Eu não tinha ideia da idade de Dejohn, mas sua pele de ébano era um forte contraste com seus chocantes cabelos brancos. Seu rosto estava fortemente enrugado, e ele parecia andar cada vez mais devagar a cada dia, com os ombros curvados, como se o peso do mundo finalmente tivesse cobrado seu preço. Ele encontrou meu olhar, seus olhos cheios de preocupação. — Mova-se como o vento, proteja seu rosto, mantenha seus olhos no alvo...e não morra. Suas palavras eram o mantra constante que vinha recitando desde que dei meu primeiro soco aos cinco anos de idade. Elas me ajudaram a me concentrar e a encontrar as profundidades calmas e constantes que eu precisava alcançar, em um esforço para bloquear tudo, exceto meu oponente. Dejohn assentiu, satisfeito com o que encontrou nos meus olhos castanhos escuros, e se afastou. Então as portas foram abertas, e o forte cheiro de álcool, fumaça, sangue e sexo me atingiu logo antes que o barulho estrondoso enchesse meus ouvidos. Eu deixei tudo cair até que era apenas eu, até que minha cabeça estava clara e meus olhos não viram nada além da arena diante de mim. Tirando minha jaqueta, entreguei a Dejohn e atravessei a porta gigante enquanto a multidão de corpos se separava para observar minha marcha em direção à gaiola. — Sem armas, — disse uma voz familiar do lado da porta da gaiola. Tirei meu bebê do coldre da coxa e a faca menor da minha bota. —Vou levá-las, Nada. — Regan deu um passo à frente e eu relutantemente entreguei a ela minhas armas. Ela era a única pessoa, além de Dejohn, em quem eu confiava, mas eu ainda odiava desistir delas. Enquanto meu foco se deslocava da gaiola para a jovem ao meu lado, observei o lábio inchado e o olho direito, que estavam quase fechados de inchaço. — Jake? — Eu perguntei, minha voz baixa e áspera por falta de uso. O alarme se espalhou pelo rosto bonito de Regan, e ela balançou a cabeça veementemente enquanto puxava minhas armas contra o peito. Ela estava vestida com uma calça jeans surrada, desgastada nos joelhos e uma camisa branca que era grande demais para seu corpo muito menor. Como inocente, ela deveria usar branco para marcar seu lugar no sistema prisional. Ela também deveria viver no setor inocente, com outras pessoas como ela. Teimosamente, ela recusou, encontrando algum tipo de sensação mórbida de liberdade em viver fora de seu setor. Enquanto eu morava no setor vermelho, ela agora morava no setor azul, a apenas alguns minutos a pé do meu quarto. — Não é o que você pensa. — Ela falou de volta. — Foi minha culpa. Eu não vacilei. Eu não amaldiçoei. Eu não fiz nada que pudesse revelar a memória que escorregou para o meu presente. — O que você disse, garota? — Sua voz ecoou, um rugido que eu certamente rivalizava com as feras ferozes e orgulhosas sobre as quais eu havia lido nos livros. Dizia-se que os Leões tinham um rugido que você podia sentir em seus ossos, mesmo que estivesse a quilômetros de distância. O rugido de meu pai era uma força assustadora da natureza. Mas eu estava orgulhosamente diante dele, minhas mãos nos quadris e meu olhar frio no dele furioso. — Ele me tocou, todos me tocam, o tempo todo. Eles agarram minha bunda e tocam meus seios como se tivessem todo o direito. Se um deles me tocar de novo, cortarei a mão deles. Meu pai se virou para encarar seus soldados, que não se deram ao trabalho de esconder seus sorrisos traiçoeiros e, por um momento, pensei que ele me salvaria do problema e removeria as cabeças dos animais pervertidos que ousavam se chamar soldados. Em vez disso, ele lentamente se virou para mim novamente, seu rosto de repente uma fachada calma que quase me fez dar um passo para trás. Antes que eu pudesse piscar, ele puxou uma arma debaixo da jaqueta e a pressionou na minha cabeça. Armas não eram um armamento de lugar comum no submundo; era difícil encontrar balas e fabricá-las à mão era uma tarefa tediosa, sem mencionar que os trabalhadores do aço lutavam para acompanhar a demanda. Eu já vi uma arma uma vez, mas nunca tão perto, e nunca senti o aço duro e frio que estava atualmente pressionado na minha testa. — Você se atreve a falar comigo? Você acha que pode fazer exigências de mim e dos meus homens? — Ele rosnou. Pude sentir a preocupação de Dejohn, que deu um pequeno passo à frente. Eu sabia que os olhos de todos os homens do meu pai estavam em nós, quando ele estava tão calmamente diante de mim, pronto para derramar meu cérebro sobre o tapete de lã caro. Quem diabos tinha tapete no submundo, afinal? Meu pai teria. Minhas mãos escorregaram dos meus quadris e fiquei um pouco mais alta. Eu sempre me perguntava quando chegaria esse momento, quando minha presença repulsiva chegaria ao seu limite e ele me derrubaria como um cachorro. Às vezes, eu desejava que esse dia chegasse, os momentos em que cada respiração que eu era forçada a respirar parecia muito difícil, e ficar em pé com meus dois pés era muito cansativo. No momento, eu me diverti com a oportunidade de deixar a dor e a miséria. — Faça, — eu sussurrei. Seu braço ficou tenso, seu dedo no gatilho apertou, e a arma fez um ruído de clique que eu mal podia ouvir sobre o rugido do meu coração. Esperei que algo acontecesse, talvez dor, escuridão, qualquer coisa que sugerisse que ele havia me libertado desta prisão. Em vez disso, ouvi a respiração de Dejohn derramar um suspiro aliviado e a indignação de meu pai quando ele puxou a arma e gritou obscenidades sobre armas inferiores. Fiquei com um profundo sentimento de decepção. E se essa tivesse sido minha única chance de escapar? Enquanto meu pai se enfurecia com a injustiça dos treze anos insuportáveis em que ele sofrera a minha existência, Dejohn deu um passo à frente. — Chefe,— sua palavra quieta e calmamente chamou a atenção imediata de meu pai, — Coloque-a no ringue. — O silêncio na sala era denso, e ainda assim meus pensamentos eram furiosos e caóticos, abafando o silêncio e enchendo minha cabeça com uma dor penetrante. — O quê? — Meu pai exigiu, embora eu soubesse que ele ouviu muito bem o que Dejohn havia dito. — Ela está pronta. Coloque-a no ringue. — Mexa-se, menina, ou você será despida e chicoteada. Você conhece o castigo por se recusar a lutar. Gadget, o porteiro no portão da gaiola de combate, olhou para mim com clara desaprovação. Seus olhos estavam arregalados e esbugalhados através dos grossos óculos de aro que ele usava constantemente, e seu cavanhaque estava amarrado com pequenas contas azuis. Seus dentes eram assustadoramente brancos e retos demais para serem reais; ouvi dizer que ele roubou o conjunto de dentes falsos de um preso antes de ele ser enviado para o incinerador. Bugigangas, ferramentas e gadgets pendiam de seu velho colete azul sujo, e foi assim que o homem ganhou seu apelido. Ele era um azul, o que significava que tinha cometido um crime mesquinho ou de pouca importância. Porto da arrogância e coragem que ele fingia possuir, ele era valorizado como nada mais que um porteiro. Eu não me incomodei em dar a Gadget minha atenção; ela foi destinada sagrada e exclusivamente para Regan. Gadget sabia que eu lutaria; eu nunca tinha me recusado a lutar e, além disso, nunca havia perdido. Eu enchi os bolsos de seus jeans surrados há anos, e ele prefere me ver cinco minutos atrasada para uma luta do que tirar a minha roupa e me chicotear. Se eu não lutasse, meu oponente receberia a vitória por unanimidade e eu sabia que Gadget tinha apostado em mim, ele sempre apostava em mim. — Mexa-se, garota durona. Como Jake disciplina sua propriedade não tem nada a ver com você. A voz profunda de Shadow bateu no meu peito, forçando emoções e sentimentos que eu não entendi para sacudir a compostura. Eu reconheci a raiva, no entanto, a raiva que fervia sobre suas palavras insensíveis, e apenas o fato de ser um comentário surpreendente me fez parar e virar para ele. Eu estava acostumada a comentários tão insensíveis sobre as mulheres do submundo. As mulheres eram poucas e distantes entre si, muitas obrigadas a trabalhar como prostitutas no WhorePit, uma sala ampla e cheia de colchões finos e sujos, separados por lençóis surrados e sujos, erguidos como uma ilusão de privacidade. As mulheres que trabalhavam lá eram vistas como pouco mais do que um recipiente para os homens colocarem seus pênis. Até as detentas que mostraram ter habilidades muito necessárias, como enfermagem e culinária, eram vistas como nada além de posses para os homens. Regan era diferente, no entanto. Ela era uma inocente, nascida neste mundo, não jogada como lixo. Os inocentes deveriam ser protegidos, mesmo que se recusassem a viver na segurança de seu próprio setor. Viver à parte dos brancos significava que ela precisava de proteção, e Jake deveria oferecer sua habitação e proteção, não ser a fonte de sua dor e medo. Ele não era um soldado, feito de assassinos vermelhos, ele era um crime azul e mesquinho, jogado no submundo por vender drogas, e aqui ele foi rapidamente recrutado para continuar sua carreira sem lei. Parecia que ele havia expandido seu registro criminal por espancar mulheres. Eu não olhei para Shadow, orgulhosa de que meu foco permanecesse apenas em Regan, mesmo que a voz de Shadow provocasse uma combinação perfeita de atração e ódio. Regan estava nervosa quando ela mudava de um pé para o outro, suas longas tranças loiras balançando em volta da cintura. Ela era uma beleza, mesmo subnutrida e magra como era. Seu bonito olhar âmbar tentou olhar para qualquer lugar, menos para mim. Quando seus olhos finalmente encontraram os meus, a resignação ficou clara de se ver. Ela sabia que Jake estava quase morto por tocá-la com uma mão dura, e eu podia ver a mistura de tristeza, alívio e pânico por trás daquela íris de ouro âmbar. Eu não tinha muitos amigos, mas Regan era definitivamente uma, a melhor. Eu resolveria o problema dela com Jake, e isso deixaria Regan sem abrigo e proteção, mas eu consertaria isso também. Eu poderia reivindicá-la sob minha própria proteção, mas os homens só veriam isso como um desafio e usariam Regan como uma ferramenta para me machucar. Ela estaria melhor sob a proteção de outro homem, alguém sem uma mão dura em cima dela. Voltando minha atenção para a gaiola, eu me afastei desse problema por enquanto e me preparei para derrubar o próximo obstáculo no meu caminho. SHADOW A porra da garota estava ficando muito arrogante. Eu avisei Kingsley e ele grunhiu um reconhecimento sem compromisso antes de enterrar as mãos nos cabelos da prostituta que estava chupando seu pau. Muito tempo e esforço foram investidos em treiná-la, e agora eles tinham uma verdadeira lutadora nas mãos. Uma garota com um cérebro que sabia como usar seu corpo e seus punhos, o que era uma combinação perigosa. Ninguém acreditou em mim quando eu disse que ela era inteligente, exceto Dejohn, é claro; ele conhecia seu potencial real, e é por isso que ele colocou um par de luvas quando ela tinha cinco anos e começou a treiná-la. A única maneira de sobreviver neste mundo era lutar, o que ela fez. Isso foi o que me atraiu para ela, aquela atitude beligerante que desafiava alguém a foder com ela. Eu a odiava por isso. Ela me fez lembrar das coisas que tinha deixado para trás no momento em que fui jogado no submundo. Algo mudou, no entanto. O olhar em seus olhos era novo; era ainda mais feroz do que antes. Ultimamente, quando ela entrava no ringue, seus olhos ficavam cheios de uma intensidade que parecia aterrorizante. A garota estava com raiva. Veja bem, ela sempre ficou brava, mas agora seu comportamento em relação a Kingsley e à organização dele era de uma fria indiferença, o que significava que ela era estúpida ou muito esperta. Eu votava no último. Mas era mais do que isso; havia um brilho atrás dos seus olhos que me lembrava algo que eu não via ou sentia em muitos anos para lembrar... Esperança. A garota tinha um segredo, e eu podia vê-lo queimando por trás daqueles olhos profundos e sem fundo. O quebra-cabeça que era sua nova intensidade me intrigou. Sua falta de medo me irritou, e sua arrogância enviou um calor ardente de fúria fluindo por minhas veias, mas havia algo sob todas essas camadas de dano, algo que você não via com muita frequência no submundo. Desafio, esperança e segredos. O desafio matava você, a esperança era uma emoção sem sentido em um mundo sem esperança, e os segredos só lhe causariam dor. A garota estava em uma via de mão única para conhecer os cães do inferno, e seria uma jornada dolorosa. Definitivamente, essa merda era seu destino, assim como todos nós. Ela massacrou e mutilou, tudo no espírito de sobrevivência. Ela não era santa, isso é certo. Mas aquele maldito desafio e aqueles segredos sombrios e perigosos me chamavam, puxando-me para escavar sob as camadas e ver o que mais havia sob seu exterior frio e duro. Pelos padrões do submundo, ela era muito bonita. O brilho saudável em suas bochechas era raro, a maioria dos presos aqui estava morrendo de fome, mas a garota estava bem alimentada em um esforço para torná-la uma lutadora melhor, e esse brilho a fez quase reluzir enquanto ela se preparava como uma guerreira pronta para a batalha. Sua pele era macia e branca, seu corpo uma perfeição de curvas tonificadas e, quando ela andava com a cabeça erguida e os ombros pressionados, os quadris balançavam de uma maneira que implorava pelas mãos de um homem. Seus olhos eram tão escuros quanto sua alma, e seus lábios eram dignos do maior pau. O homem em mim queria prendê-la na minha cama e transar com ela atéperder a razão. A amarga escuridão em minha alma queria puni-la por esse desejo. Não havia lugar para sentimentos e emoções no submundo; se você queria sobreviver, aprendia a enterrar seu coração e a abraçar a escuridão. Eu assisti enquanto ela estava como uma estátua dentro do ringue, seu olhar firme no oponente. Viper tinha uns bons vinte quilos a mais que a garota, músculos sólidos também. O que ele não tinha era experiencia, velocidade e a falta de medo da garota. Viper era uma briga de rua com um punho pesado, e ela era estúpida o suficiente para pensar que tinha uma chance na gaiola. Aposto uma caixa de água filtrada que ela será eliminada no primeiro round; isso era uma coisa certa. Nada!! Minha mente remoía esta palavra. Nada significava nada, mas por alguma razão meu coração e pau saltavam com a menção desse nome simples e insignificante. Eu tentei pensar nela como nada além de a ‘‘garota’’ portanto tempo, mas essa garota era toda mulher, e seu nome queimava nos meus lábios, querendo ser libertado. Nada, Nada, Nada, que quebra-cabeça de mulher. Ela foi treinada em boxe, kickboxing, aikido, taekwondo e judô. Ela também treinou com armas, principalmente lâminas, como facas, facões e espadas, e agora segurava uma faca com tanto conforto que deixava muitos soldados nervosos. A garota era tão boa que as lutas estavam ficando mais difíceis de encontrar, e as pessoas estavam ficando entediadas em assistir a mesma coisa e os mesmos lutadores; todo mundo desconfiava de enfrentar a notória filha do rei. Nada! Desta vez, minha mente cuspiu a palavra com irritação. Nós teríamos que pensar fora da caixa; ela teria que começar a brigar com os homens. Todo mundo sabia disso. Os homens estavam praticamente escalando um sobre o outro para uma chance na gaiola com a infame Nada. Eles não tinham permissão para tocá-la fora da gaiola, então muita agressão, raiva e luxúria seriam queimadas no ringue. Seria um maldito banho de sangue, se a garota não quebrasse antes disso, e os dois cenários me deixavam inquieto e chateado, e eu não sabia ao certo porquê. Não, isso era um monte de besteira. Eu sabia o porquê, e isso me irritou tanto quanto pensar nela danificada e sangrando. Porque uma parte de mim foi genuinamente cativada pela garota, e essa pequena parte de mim tinha poder. Aquela mínima parte esquecida de mim que morava em algum lugar no fundo do meu peito não queria vê-la quebrada. Nada estava no limite, e poderia cair na insanidade a qualquer momento, os segredos atrás de seus olhos ardiam ferozmente. Kingsley também veria isso se não fosse por seu desprezo repugnante e insensível por ela. Seu ódio prejudicava seu julgamento. Era sua maior falha como líder desta porra. Pelo menos ele estava aqui embaixo, e não mais no mundo acima. Um homem tão brutal, sedento de sangue e impiedoso estava exatamente onde deveria estar, trancado. Kingsley Duke cortou a garganta do chefe depois de uma discussão sobre seu salário, e sua penitência foi uma merecida sentença de prisão perpétua no submundo. Desde sua chegada, há pouco mais de trinta anos, ele assumiu a liderança do submundo, matando e mutilando todos em seu caminho até o topo. Ele era um homem rico no mundo de um homem pobre; portanto, possuía todo o poder aqui. Tinha tudo e todos. Acima do solo havia uma história diferente. Eles tinham seu próprio líder, que tinha seu próprio dinheiro e seu poder, enquanto a maioria dos cidadãos americanos ainda lutava para colocar comida em suas mesas. Ele também tinha liberdade. Maximus Rathmore, a salvação da América, representava tudo o que estava certo no mundo da luz. Mas seu próprio poder criou sua própria forma de ganância, e o salvador do povo estava longe de ser santo. Ele ultrapassou os limites da justiça e sua alma era tão condenada quanto o resto de nós. Ele podia ser tão cruel e sedento de sangue quanto o Kingsley Duke do submundo quando ele queria ser. Ouvi histórias sobre a ditadura impiedosa de Maximus, e depois experimentei sua ira em primeira mão, quando, aos dezenove anos, fui capturado e condenado ao submundo por meu crime. Foi um momento na minha vida em que nunca me permitia me arrepender, e não fui poupado por Maximus. Ordenou que eu fosse açoitado antes que eu caísse no que os presos carinhosamente chamavam de Zona Selvagem. Entregue direto à porta do submundo, eu levantei lutando, meus punhos batendo nos estranhos que tentaram me conter, e eu tenho lutado desde então. Olhei para a multidão enlouquecida a alturas de histeria, enchendo a arena com um barulho estridente, seus gritos voltados para as duas mulheres que estavam na gaiola. A barreira de aço tinha seis metros de altura e quase o dobro de largura. O teto estava fechado com arame farpado, no caso de alguém tentar fugir do recinto. A gaiola estava atualmente iluminada como o rotineiro sol em que eu não via os olhos há quase quinze anos, e um círculo de soldados estava ao redor da barreira que mantinha os presos frenéticos afastados. Muitos dos espectadores que saíram hoje à noite estavam decorados com tinta para o rosto, enquanto usavam cores que representavam sua estrutura no mundo subterrâneo; branco, azul, amarelo ou vermelho. Branco representava os inocentes, os infelizes bastardos nascidos neste mundo. Os brancos haviam aumentado consideravelmente em número ao longo do tempo. Por mais de cem anos, essa prisão permaneceu, e os inocentes agora eram principalmente parentes, irmãos, irmãs, primos. Eles geralmente se reproduzem entre si, então era apenas uma questão de tempo até que eles acabassem fodendo com o setor branco em um mundo puro de mutação e doença, ou envelhecessem e morressem, senão se perdessem no mundo de escuridão cheio de ódio e corrupção deste mundo primeiro. Em seguida, vinham os azuis, que significava pequenos crimes, como roubo, prostituição e vandalismo. Depois disso, era o amarelo, representando um nível mais alto de crimes, relacionados a drogas, incêndio criminoso, roubo e sequestro. Vermelho estava no topo da cadeia alimentar... assassinato e estupro. Nos primeiros dias, os vermelhos costumavam tirar proveito dos azuis, amarelos e brancos e, de certa forma, ainda o faziam. Os vermelhos foram os primeiros a serem alimentados, os primeiros a tomar banho e, portanto, consumiram toda a água quente, e receberam os quartos maiores e melhores. A maioria dos vermelhos eram soldados e, portanto, tratados com dignidade e respeito que contradiziam a gravidade de seus crimes. Mas, de alguma forma, os outros presos haviam encontrado seu lugar neste mundo. Eles trabalhavam duro, cultivando vegetais na sala de hidroponia, mantendo os geradores funcionando, limpando, cozinhando, costurando, trabalhando nas salas do NIM, produzindo moonshine 3 . Sua contribuição para o submundo tornou a vida mais fácil para todos; portanto, os vermelhos geralmente os deixam em paz. Os brancos eram vistos como inocentes e protegidos tanto quanto se poderia proteger em uma cidade sem alma e cavernosa como essa. Em noites como esta, os 3 Nome de uma bebida vermelhos, azuis, amarelos e brancos ocasionalmente se reuniam no mesmo lugar em que as cores se juntavam livremente. À noite, a arena era um lugar de brigas, bebidas e sexo. Durante o dia, era um mercado para negociação. Fora da arena havia quatro portas principais. Uma leva ao setor vermelho, outra ao azul, outra ao amarelo e a última ao branco. Cada setor tinha seus próprios guardas e, na maioria dos casos, os presos permaneciam em seus próprios setores. Os soldados, os vermelhos, podiam viajar para outros setores, se o rei o ordenasse. Kingsley controlava todas as cores, ele era o topo da cadeia alimentar. Os brancos mantinham a maior parte para si e poucos escolheram se entregar a umanoite de carnificina. Os presos que assistiram às lutas vieram com tudo o que tinham para trocar, apostando numa corrida furiosa que encheu a capacidade de Kingsley. Exceto esta noite, a arena não estava lotada e as apostas foram inferiores na melhor das hipóteses. Meus olhos se levantaram para observar as gaiolas que balançavam das vigas, algumas cheias de homens e mulheres nus, se contorcendo com o ritmo pesado da música, vários deles transando abertamente. Dos quatro cantos da arena, penduravam alto-falantes enormes que vibravam com a música estridente. Uma ampla porta dupla, um pouco menor do que as portas que levavam aos setores coloridos, saía de um lado da sala e entrava no único bar do submundo, LickHer, onde o moonshine de Kingsley era servido a qualquer hora do dia ou da noite. Vários reclusos que usavam uma única pena roxa no cabelo percorreram a multidão que se agitou com entusiasmo. A pena anunciava o NIM que eles estavam vendendo, a droga preferida do rei na rua, um coquetel de produtos químicos que levava o usuário a alucinar: é uma porra poderosa e extremamente ardente. No lado oposto da arena, havia outra entrada menor que levava ao WhorePit, onde aquela necessidade ardente de foder podia ser comprada por algumas garrafas de água fervida. Se apenas as pessoas santas do mundo acima pudessem nos ver agora, gritando como loucos e fodendo como animais selvagens. Ouvindo as palavras provocadoras de Viper, minha atenção voltou para a gaiola. Viper circulou a garota como se um animal selvagem pudesse perseguir sua presa, sua postura de confiança, suas palavras tão sujas quanto o animal que ela era. — Quando eu deixar você sangrando neste andar, você não será nada. Ele o colocará no buraco da prostituta e eles preencherão todos os buracos do seu corpo antes de cortá-la em pedaços. Nada foi recebido por Nada; em vez disso, seu corpo permaneceu firme e forte. A única parte dela a se mover eram os olhos e a cabeça, enquanto observava Viper circulá-la como um grande e volumoso gato da selva. Eu sabia que ela estava pronta para atacar; ela fora treinada pelos melhores e era hábil em enganar seu oponente em um falso senso de vitória. Todos nós já a vimos brigar antes, e se Viper tivesse um cérebro por trás daquela cabeça dura, saberia que a garota a destruiria. Aconteceu tão rápido que eu mal conseguia acompanhar os movimentos. Viper pulou para frente e Nada se moveu, caindo e permitindo um soco rápido voar sobre sua cabeça. Afastando-se do ataque, ela retomou a postura de luta, os punhos erguidos, o pé direito para a frente enquanto balançava na ponta dos pés. Dando alguns passos para trás, encontrando o espaço necessário para executar um chute perfeito no rosto de Viper. Com o sangue saindo do nariz e derramando no chão manchado, Viper cambaleou por um momento antes de recuperar a compostura. Tentou seu próprio chute, que só arrancou a garota quando ela pulou fora do caminho, girou em círculos e deu um forte golpe no lado da mandíbula de Viper. Ela continuou a bater na mulher, liberando a fúria que eu conhecia queimando sob sua pele, lutando com uma raiva maníaca crua que era ao mesmo tempo bela e perturbadora. Finalmente, Viper caiu de joelhos, seu corpo balançando enquanto lutava por consciência. A luta foi tão boa quanto acabou. Um nocaute na primeira rodada, exatamente como eu previ. Nada levantou a cabeça e olhou para a multidão, procurando algo... ou alguém, talvez? Quando seu olhar vazio finalmente se fixou em mim, vi algo novo naquelas belas e escuras profundezas. Embora seus lábios não se mexessem, vi diversão queimando por trás daqueles olhos, antes que ela se virasse para encarar seu oponente e desse um chute perfeito na cabeça. Sangue e saliva borrifaram no chão, não mais brancos, mas uma sombra grotesca de tanoeiro queimado de todo o sangue derramado dentro das paredes rústicas da gaiola. Viper caiu no chão, como uma marionete que de repente se libertou de seu manipulador. Foi uma vitória fácil, demais. Isso tornaria impossível encontrar outra luta para ela. Gadget entrou na arena e desajeitadamente sentiu um pulso no pescoço de Viper. Acenando na minha direção, ele confirmou que ela ainda estava viva, mas ela foi gravemente ferida. Quando meu olhar se voltou para a garota, eu a encontrei me encarando, um sorriso doentio e doce tocando nos cantos dos lábios. Não fiquei surpreso com o final cruel da luta; a garota era famosa por mostrar pouca piedade na gaiola. O que me surpreendeu foi o olhar que ela me poupou, aquele olhar astuto e sexy, que dizia eu sei algo que você não sabe. A necessidade de conhecer esses malditos segredos me arranhava. Eu assisti Nada se virar e sair da gaiola, pegando suas facas de Regan. Sua expressão estava em branco, e apenas um leve brilho na testa provou que ela havia feito algum esforço. Dejohn a levou da arena que entrou em erupção em um campo minado de celebração e caos. A festa continuaria durante a noite. As bebidas fluiriam, o NIM estaria disponível gratuitamente e, pela aparência das mulheres que olhavam para mim, o alívio sexual seria facilmente obtido na multidão de excitação inebriante. A garota me deixou com uma sensação de coceira embaixo da minha pele, uma necessidade que exigia saciar. Talvez eu levasse uma das mulheres contra a barreira da gaiola que Nada acabara de lutar, suas mãos segurando o fio de aço enquanto eu a fodia profundamente. Meu pau começou a endurecer com o pensamento. Um olhar para as vigas acima da arena interrompeu minha noite planejada de carne e devassidão antes mesmo que pudesse começar. Kingsley e seu pequeno grupo assistiram de sua caixa de cima, e o olhar furioso do rei encontrou o meu. Balançando a cabeça na direção das enormes portas de aço que levavam ao setor vermelho, eu assenti, entendendo que a festa havia terminado e ele queria conversar. Quando me virei para sair, vi Nada recuar enquanto ela desaparecia por uma pequena porta que levava a uma academia enterrada mais fundo no submundo cavernoso. Eu me perguntei o que ela faria após sua vitória, como ela desceria do alto de uma luta e vitória. Ela simplesmente relaxaria na academia? Ela beberia até ficar entorpecida? Ela estaria inclinada a jogar a adrenalina para fora de seu sistema? O último dos meus pensamentos também mexeu com meu pau; o pensamento de suas coxas bem tonificadas enroladas em volta da minha cintura enquanto eu batia em sua carne era uma imagem que me irritava em um nível que fazia minhas mãos tremerem. Eu a queria, e isso me deixou doente. Eu não a queria. Afastei o pensamento enquanto abria caminho entre a multidão e fui para a reunião com Kingsley. NADA Sentei-me na academia tranquila, enquanto Dejohn se desculpava para ir se encontrar com Kingsley. O triunfo que senti sobre como Kingsley ficaria irritado com minha vitória sem esforço quase atraiu um sorriso para o meu rosto de pedra... quase!!! Regan havia desaparecido na caminhada pelas profundezas sujas do submundo; ela odiava ser enterrada tão profundamente na terra, e este lugar estava tão abaixo do solo quanto você podia conseguir. Era uma emoção curiosa, considerando que ela nasceu aqui e não conhecia outro modo de vida. Havia três instalações de academia no submundo. De todos elas, está era a menor, com o equipamento mais antigo e o fedor mais sujo. Por esse motivo, muitas vezes era encontrada vazia. E esse vazio era exatamente o que eu precisava descomprimir depois de uma luta. Eu tinha descoberto que uma boa foda rápida e difícil ajudaria, mas nem sempre havia alguém disponível para atender a essa necessidade. Eu não transava com ninguém e os poucos frequentadores de confiança que eu podia chamar estavam festejando em LickHer, que eu não estava interessada em visitar, ou recentemente descobriram amor e monogamianas entranhas dessa porra. Eu não conseguia entender como alguém poderia encontrar algo remotamente bonito neste mundo. Enquanto alguns encontravam a beleza na escuridão, eu não conseguia vê-la durante a guerra que constantemente lutava. Se eu não estava lutando no ringue, estava lutando para manter minha sanidade em um lugar que tirava todo o senso comum e lógica. Apoiei-me na parede de pedra dura e fria e fechei os olhos. Minhas pernas ricochetearam uma cadência que eventualmente me ajudou a relaxar, e eu abri meus punhos, que estavam enrolados com força desde o momento em que entrei na gaiola. Eu mentiria se dissesse que não entrei lá preparada para matar, minha vida inteira foi uma dança com a morte, mas quando se tratava disso, eu não era capaz de fazê-la. Eu tinha deixado seu coração batendo, mas pelo estalo que ouvi ao dar um chute na cabeça dela, ela poderia não se afastar dessa luta. Um pescoço quebrado era tão bom quanto a morte neste mundo. Tínhamos algumas enfermeiras e dois médicos aqui embaixo, mas não tínhamos o equipamento ou remédio para cuidar de um pescoço quebrado. Senti uma pontada de arrependimento, um momento de dor pela vida que levara. Então me lembrei de que havia essencialmente libertado Viper deste buraco do inferno, e qualquer tristeza desapareceu rapidamente. Ser capaz de descartar sua morte com tanta facilidade significava que não tinha um coração, ou o que tinha era tão frio quanto os cristais de gelo que ocasionalmente se formavam nas paredes e no teto. Minha alma já estava destinada a escuridão, então não havia chance de que pudesse ser danificada ainda mais. A fúria no rosto de meu pai no momento em que Viper caiu no chão valeu a pena. Eu deveria fazer minhas lutas durarem, fazer a multidão acreditar que havia uma luta a ser realizada. Eu não podia mais me incomodar com o teatro. Kingsley ficaria chateado por eu ter desobedecido a ele; sua ira havia sido agitada, seu temperamento estava esfolado e, com a perda de sua estrita compostura, ele perderia o foco. Se o Rei perdesse o foco, isso o tornaria fraco, mais suscetível à infiltração e menos propenso a perceber a rebelião rastejando bem embaixo do seu nariz. Abri os olhos e deixei minha cabeça rolar para um lado. Um corte na parede de pedra foi colocado em foco e uma das minhas mãos ainda pesadamente embrulhadas se estendeu, meu dedo traçando o sulco áspero. Uma faca deixou sua marca aqui, uma faca cujo alvo tinha sido o meu coração. Ele tinha perdido partes de minha carne por meras polegadas e marcado a parede de pedra inócua. Eu tinha apenas dezoito anos quando a primeira tentativa real contra minha vida foi feita. Um homem três vezes maior que minha idade ficou descontente por uma menininha de pouca importância ter rejeitado seus avanços. Meu pai já havia implementado a regra de não tocar, e o animal tolo tentou me irritar, como uma criança mimada que perdeu seu brinquedo favorito. Marco Moretti, com uma mancha careca e fina em cima de sua cabeça, olhos castanhos indescritíveis, lábio superior ligeiramente mais cheio que o de baixo e um rosto cheio de lutas juvenis de acne, tinha chegado até mim com um canivete sujo. Eu peguei meu bebê sempre fiel e estripei-o com a lâmina de aço carbono. A faca cavara um caminho em seu intestino, encontrando pouca resistência como tecido adiposo. Eu me afastei e me sentei neste mesmo local com mais interesse cativado do que horror chocado enquanto eu observava suas tripas derramarem no chão e a vida desaparecer de seu corpo como uma vela lenta e moribunda. Poucos tentaram me tocar desde então, e aqueles que fizeram uma tentativa acabaram cumprimentando os mesmos portões da morte para os quais eu enviei aquele homem flácido e obtuso. Lentamente, desembrulhei minhas mãos e me levantei para sacudir meus membros. Com uma girada final do meu pescoço, joguei os panos ensanguentados em uma lixeira e deixei o espaço pequeno e silencioso. Eu precisava checar Regan, e eu tinha um rato que gostava de bater nas mulheres para cuidar. * —Nada, você precisa de algo? Você quer que eu faça um jantar para você? Regan estava inquieta na grande sala que ela compartilhava com Jake, a cobra. Jake nada mais era do que um traficante de drogas de segunda classe, que ganhava uma miserável pechincha de Kingsley por seu esforço. Pela aparência do luxo de seu quarto, ele estava negociando NIM por baixo dos panos, o que significava que ele era um homem morto andando. O fogão era novo, o que significava que ele tinha apenas um pouco de ferrugem, e em cima dele havia uma enorme panela de aço inoxidável, borbulhando com algo que cheirava suspeitamente a carne de verdade. A roupa de cama estava limpa e um aparelho de som pequeno estava no topo de uma prateleira alta. Se ele estava trapaceando, era apenas uma questão de tempo até Kingsley descobrir, e a vida de Jake terminaria com muita dor e muito sangue derramado. Eu estaria fazendo um favor para ele primeiro. Isso deixaria Regan desprotegida, e a grande sala que ela dividia com Jake seria ocupada por alguém maior e mais cruel. Regan não tinha um osso firme no corpo; ela nunca seria capaz de proteger um lugar como este. Mas agora ela estava em perigo de qualquer maneira, e eu tinha certeza de que poderia encontrar um homem para compartilhar seus aposentos, um homem que não a usaria e abusaria. O velho George andava reclamando de morar com sua filha adulta, que continuava levando homens para casa em seu quarto compartilhado. Ele era homem o suficiente para manter as patas longe de Regan, e ainda apto o suficiente para manter o abrigo e protegê-la. Eu falaria com ele amanhã. — Nada? — Meus olhos terminaram a leitura da sala e se fixaram no olhar conhecedor de Regan. — Por favor, não, — ela sussurrou. — Ele está na LickHer? Ela hesitou um momento antes de balançar a cabeça. Era mentira, mas eu não a acusaria disso. Eu me virei para sair. — Nada, ouvi dizer que Viper não consegue sentir as pernas dela. Dizem que ela pode nunca mais voltar a andar. Olhei por cima do ombro. — Esse é um risco que você corre ao entrar na gaiola. Cheira bem aqui. Não queime. Enquanto eu marchava pelos corredores sem fim, meus dedos acariciaram o punho da minha faca que estava no coldre da minha coxa. A medida de conforto que senti ao tê-la por perto era profunda. Meu olhar demorou-se brevemente nas pessoas quando passei por elas. As multidões nos longos e sinuosos corredores estavam diminuindo à medida que a noite chegava à hora mais profunda. A maioria das pessoas por quem passei me ignorou, tentando valentemente olhar para qualquer lugar, menos para mim. Uns poucos corajosos tentaram chamar minha atenção, participar de conversas que eu não estava interessada em ter. Eu com certeza não era uma faladora e, agora, meu humor estava sombrio e silencioso. LickHer era uma sala cavernosa, desprovida de móveis, com exceção de um bar comprido e movimentado que vendia aguardente e NIM. Era iluminado por luzes coloridas que pulsavam no ritmo da música. Abri caminho através dos corpos suados; alguns eram tão loucos por NIM que seus olhares maravilhosos sugeriam que estavam em outro lugar. Eu me perguntei o que eles viam. Era apenas escuridão? Ou talvez um lugar cheio de luz e sol? A maneira como alguns deles estavam tão perdidos pelas luzes acima me deixou curiosa. Eu nunca havia inalado o NIM e não estava disposta a fazê-lo. Dejohn pregou com veemência que eu nunca encontraria um número tão alto quanto o que experimentei no ringue. O poder de uma vitória era uma droga em si. Quando meu olhar entrou na sala em busca de Jake, eles caíram em um rosto familiar aninhado nas sombras tão confortavelmente quanto seu apelido. Seu cabelo era cortado curto nas costas e nas laterais, mas pendia mais na frente, terminando logo acima dosolhos enquanto ele me observava com uma intensidade que me incomodava. Quando meu olhar baixou, notei a cabeça da mulher trabalhando furiosamente em sua virilha. Eu quase não contive o desprezo que ameaçava quebrar minha compostura gelada. A visão de uma mulher trabalhando em seu pênis fez meu estômago revirar. Por que eu me importaria que uma prostituta estivesse se ajoelhando por ele? Quando meu olhar se levantou, um sorriso arrogante apareceu em seu rosto e, naquele momento, eu não queria nada além de limpá-lo com um soco rápido e mortal. Eu não lhe dei a satisfação de uma reação; em vez disso, me afastei em busca da alma infeliz que estaria no fim da minha frustração. Eu encontrei o bastardo viscoso encostado na parede, enjaulando uma ruiva pequena que ria como uma idiota enquanto sussurrava em seu ouvido. Meu humor não permitia brincadeiras. Eu simplesmente agarrei Jake pelas costas de sua jaqueta e puxei com força o suficiente para derrubá-lo em sua bunda. Ele ficou de pé em uma confusão de membros desajeitados, os punhos levantados até que ele percebeu quem estava prestes a enfrentar. Os olhos de Jake se arregalaram de choque e seu corpo se curvou em uma postura submissa. — Ei, garota, boa luta hoje à noite. Ele se mexeu nervosamente quando fiquei quieta diante dele. Ele estava pateticamente fraco naquele momento, os ombros caídos para a frente, os olhos abatidos, nada mais que um traficante simplório. Gostaria de saber se o NIM finalmente fritou seu cérebro por pensar que poderia bater em Regan e escapar sem consequências. A sala parecia encolher em uma névoa vazia de nada, a música um som abafado. A boba ruiva aproximou-se e acariciou o braço de Jake, como se estivesse afirmando sua reivindicação. Como se eu fosse me abaixar a alguém tão fraco e desesperado. Meu olhar se concentrou na mão possessiva da garota. — Onde está Regan? — Eu murmurei. — Em casa. Somos casuais...ela está bem com isso. Eu sabia que Regan não era o tipo de compartilhar; ela odiava a atitude que muitos homens e mulheres adotavam no submundo. Eu dei à ruiva um olhar bom, longo e duro, e de algum lugar nas profundezas de sua mente viciada em drogas, ela encontrou algum bom senso e se afastou. — É sobre o machucado, certo? Droga, eu disse a Regan que você iria surtar. Ela caiu. Eu juro. Você sabe como ela é desajeitada. Eu ainda não falava, apenas ficava olhando e pensando como Regan não tinha um osso desajeitado em seu corpo. Ela era graciosa e se movia com a postura de uma bailarina, uma bailarina minúscula, ágil e doce que não tinha lugar no submundo. — Então, você quer cheirar? — Jake puxou um dos pequenos inaladores descartáveis de plástico, totalmente carregado com o pó de prata, de sua jaqueta. Eu não estava olhando para as drogas; eu estava observando sua mão direita livre, que havia ficado tremida quando ele estava de frente para mim. Pela protuberância não natural em seu bolso, estava imaginando que ele tinha uma arma nele. Interessante, as poucas armas que circulavam no submundo eram reservadas para soldados; era ilegal para alguém possuir uma. Eu sabia que ele iria se mover antes dele. Seus olhos o denunciaram. Eles voaram para a peça escondida logo antes que ele a pegasse. Eu me movi, agarrando a mão que segurava a arma com uma completa falta de confiança e bati no apêndice com um estalo satisfatório. O lamento de Jake teria ressuscitado os mortos, e ansiosa para interromper o barulho, eu golpeei sua garganta e o som borbulhante que aleijava sua caixa de voz era como música para meus ouvidos. Segurando o pulso quebrado e ofegando por ar, Jake caiu de joelhos. Abaixando-me, inclinei-me mais perto e sussurrei em seu ouvido: —Tocá-la foi seu primeiro erro. Agarrei a parte de trás de seu cabelo e puxei com força, forçando seu olhar a encontrar o meu. Saliva caiu de seus lábios suplicantes que imploravam piedade. Tsk, tsk, tsk, ele já deveria saber; eu não tinha. — Seu segundo erro foi tentar puxar um pedaço de mim. Peguei a arma caída no chão e a enfiei na alça do coldre da minha coxa. —Se eu não estivesse tão cheia de raiva agora, deixaria você com o rei. Enganá-lo é punível com a morte. No entanto, ele torturaria você primeiro, de uma maneira que sua mente pequena e simples não poderia sequer começar a compreender. Então, acho que é seu dia de sorte. De joelhos, meus olhos nivelados com os dele, eu via desesperança seguida de perto pela aceitação, quando peguei sua cabeça entre as mãos e torci com força suficiente para quebrar seu pescoço. Eu não desperdiçaria mais tempo com Jake e me levantei e distraidamente entrei na multidão que se formou ao nosso redor. — Bom trabalho, localizando a peça, — Shadow sussurrou atrás de mim. Tirei a arma e a coloquei na mão dele antes de dar a volta e avançar em direção à porta. — Seu pai vai ficar feliz, — ele persistiu, me seguindo na arena aberta. Andei rapidamente em direção às portas de aço que levavam ao setor vermelho, mantendo-me nas sombras. — Mas você não estava exigindo punição para o rei agora, estava? Tentei ignorá-lo, mas aquela voz rouca e profunda pareceu afundar na minha carne e me ordenar que respondesse. Eu pressionei meus lábios juntos, com força. — Uma princesinha tão difícil. Essas últimas e sussurradas palavras finais obtiveram uma resposta rápida e cheia de fúria. Eu me virei e tentei varrê-lo de seus pés obstinadamente resistentes. Shadow saltou para fora do caminho, e quando ele tentou entrar por trás e me conter, torci, puxando meu bebê do coldre da coxa. O assobio que caiu de seus lábios quando eu cortei as costas de sua mão esquerda realmente fez meus lábios se contorcerem, logo antes de ele se abaixar e agarrar meus dois pulsos, empurrando minhas costas contra a parede de pedra com um baque estremecedor. Meus pulsos estavam apertados com força quando Shadow pressionou todo o seu comprimento contra o meu corpo, não me permitindo nenhum espaço para me mover. Minha faca ainda estava em minhas mãos, mas completamente inútil. Por um momento, o pânico ameaçou me consumir. Ser contida assim, mantida contra minha vontade, era um sentimento familiar de uma noite atrás, que eu tentei esquecer. Com uma memória distinta como a minha, isso era impossível, no entanto. Respirando fundo e profundamente, lutei pela compostura. Shadow estava segurando meus pulsos com força, mas ele moveu seu corpo para trás para criar um espaço entre nós. Ele estava perto o suficiente para impedir um golpe na perna, mas longe o suficiente para me dar o espaço que eu precisava para me manter firme. Lutar com ele agora seria inútil e desperdiçaria energia. Eu fiquei parada, não exatamente relaxada, mas não pressionando contra o seu aperto. — Você teve sucesso duas vezes hoje à noite, princesa. Eu apertei minha mandíbula com força e olhei para o bastardo. — Eu não matei a Viper e não sou uma princesa. — Viper será derrubada; não há espaço para um aleijado neste mundo. E você é a filha do rei — ele murmurou após uma longa e pensativa pausa. — Ele fodeu minha mãe, nada mais. Não me incomodei em reconhecer as informações que ele divulgou sobre a Viper. Eu sabia o que aconteceria. Shadow sorriu. — Isso é tudo o que é preciso, garota durona. Talvez você precise de alguém para lhe explicar? Ele pressionou sua virilha contra o meu estômago, e eu não perdi o comprimento duro e quente de seu pau. Meu coração batia dolorosamente quando o pânico ameaçou me arrastar para baixo, e minha respiração ficou ofegante, como se eu estivesse me afogando. — Claro, — eu ofeguei. — Mas eu prefiro alguém com um pau grande que saiba como usá-lo. Seus dedos apertaram meus pulsos, e eu me perguntava se eles iriam quebrar. Kingsley ficaria chateado se eu fosse incapaz de dar um soco na próxima luta;mais uma vez, acrescentaria um toque extra de drama à ocasião. — Qual é o problema, Shadow? Consegui cuspir, minha voz tremendo um pouco. — Aquele pequeno show com Jake interrompeu alguma coisa? Sua prostituta deixou você insatisfeito? — Você é uma puta arrogante, — ele zombou. — E eu estava na garganta da cadela até que ela engasgou, então não, eu definitivamente não estou insatisfeito, mas é preciso mais do que um boquete insignificante para me deixar satisfeito durante a noite. Shadow se inclinou e enterrou o nariz no meu cabelo. Um sussurro de pânico escapou dos meus lábios. Um toque fantasmagórico correu pela minha mandíbula, um roçado tão suave que desmentia as imagens de brutalidade sexual que minha mente estava conjurando. O ar não passava mais pelos meus pulmões, e logo havia pontos pretos dançando diante dos meus olhos. Respire, apenas respire, e viva, o resto eu poderia lidar mais tarde. Eu assumi que seria quando Shadow tentasse me penetrar4, e ele tentaria, porque assim que seu aperto se afrouxasse, 4 Nota para o revisor: Aqui poderia entrar algo como deflorar, contaminar, corromper, mas como ela não é mais virgem, eu optei por penetrar. eu iria cortar o filho da puta. Em vez disso, porém, ele se afastou e seus olhos curiosos olharam profundamente nos meus. — Eles realmente te foderam, não foi? Mas você ainda gosta de foder, então eles não quebraram você; eles apenas torceram você um pouco. — Não há nada que você possa fazer comigo que ainda não tenha sido feito. Eu sou inquebrável Caralho — eu disse entredentes. O sorriso genuíno de Shadow me chocou com o silêncio atordoado. Eu nunca tinha visto nada assim; um sorriso como esse, algo leve e estranho, não pertencia aqui. —Inquebrável, de fato. A cabeça dele inclinou-se, pensativa. — Diga-me, garota durona, o que você está escondendo? Se o sorriso dele já não tivesse me desequilibrado completamente, a pergunta teria. Escondendo? Eu estava me escondendo tanto que era uma maravilha meus segredos não vazarem dos meus poros. O truque para manter um segredo era fingir que você não tinha um. — Não mais do que ninguém neste buraco esquecido por Deus. — Hummmm. Shadow apertou um joelho entre as minhas coxas e meu coração, que foi lentamente atraído para uma batida suave, cambaleou em um ritmo forte novamente. — Você precisa de ajuda para sair dessa luta? — Isso dificilmente foi uma luta, e eu prefiro ser um participante da minha merda. Ser pressionado não é tão divertido. — Oh, querida, você estaria presente, ativa e participando se eu estivesse fodendo você. Ele pressionou contra o meu corpo, me prendendo completamente, e eu fui incapaz de fazer qualquer coisa, exceto ver quando ele se inclinou para frente e roçou seus lábios nos meus. Eu poderia ter mordido ele, mas meu corpo congelou em choque, meus ouvidos incrédulos se perguntando se eles o ouviram corretamente. Querida. Ninguém jamais desperdiçou tanto carinho em mim. A inflexão no tom de Shadow sugeria que a palavra estava mais ligada ao sarcasmo do que à bajulação, mas ainda era uma palavra que eu nunca pensei ouvir dirigida a mim. Essa palavra jogada descuidadamente cavou minha pele e se enterrou profundamente. — Eu acho que o que você realmente precisa é de um homem que saiba como te foder direito. Alguém que pode arrancar esses segredos dos seus lábios. — Ele se afastou e o calor persistente de sua boca desapareceu. Por que ele tinha sido tão gentil? Além disso, por que eu senti tanta emoção por seu toque suave? — Eu quero te segurar, cortar esse desafio do seu corpo e vê-lo sangrar das suas veias. Eu olhei nos seus olhos, tentando descobrir o jogo que ele estava jogando, tentando entender o que ele estava procurando no meu olhar. O que ele queria de mim? Eu estava tão doente e cansada de pessoas me usando e abusando. Ele poderia tentar me cortar, poderia me fazer sangrar até secar, mas isso não me tornaria complacente e eu não daria as respostas que ele procurava. — Você não pode, — respondi simplesmente. — Por que não, caralho? — Porque é mais profundo que o sangue, é como fogo e enche cada centímetro de mim, e exige que eu me levante e lute. — Shadow! Ele não se mexeu contra a parede, nem olhou na direção da voz que o chamava; em vez disso, seus olhos se estreitaram enquanto ele procurava algo em mim. Eu sabia que ele não encontraria o que estava procurando. Meus segredos estavam trancados; ele não via nada, exceto a corrente de pânico de ser contida e o ódio que queimava como um fogo arranhando os céus. — O que? — Ele rosnou. — Coloque seu pau de lado. rei quer que você... — Shadow finalmente se moveu, e quando o soldado me viu, sua voz sumiu em um sussurro. — Encontre a garota e traga sua bunda inútil para sua suíte. Ele então sorriu. — Você fodeu a garota. Puta merda! —Ainda não... e, garota, você nunca mais se afaste de mim. Shadow sussurrou ameaçadoramente enquanto se afastava. Não tentei corrigir as suposições do soldado, nem discutir com Shadow. Não havia como ele me ter. Seu corpo parecia estranho pressionado contra o meu, uma presença pesada e muscular que de alguma forma parecia errada e certa ao mesmo tempo. Ele poderia ter me machucado, ele poderia ter tentado tirar mais de mim do que já havia sido arrancado do meu corpo, mas ele não o fez. Era a única chance que ele teria, porque da próxima vez eu cortaria a mão que me tocasse. Eu podia sentir Shadow me seguindo até os quartos de Kingsley. Seus olhos nas minhas costas arrepiaram minha pele e me fizeram querer tenciona meus ombros. Em vez disso, caminhei casualmente, meu corpo recuperando a confiança agora que minha faca estava de volta no coldre, minhas pontas dos dedos acariciando carinhosamente o punho. Eu tive que me lembrar de ignorar sua presença de aço e manter meu foco. Shadow me chacoalhou, mas não demorou nada além de algumas respirações profundas para minha frequência cardíaca diminuir. Minhas mãos permaneceram firmes, minhas costas estavam retas. Eu estava pronta para ver meu pai. SHADOW Não conseguia chamar o quarto de Kingsley de suíte; isso com certeza não era o Hilton. Morávamos em quartos que eram pouco mais que grandes armários de armazenamento, embora alguns maiores que outros. O rei, é claro, era muito mais extravagante do que outros. O quarto dele era facilmente do tamanho do pequeno apartamento em que eu morava quando estava acima do solo, com seu próprio escritório e banheiro adjacentes. Havia vários blocos de banheiro designados para os diferentes setores de cores no submundo. Eles não eram específicos de gênero, para o desfrute dos homens. Kingsley tinha seu próprio banheiro, com seu próprio suprimento interminável de água quente corrente. Só por isso, ele precisava de uma equipe de soldados vigiando suas costas; muitos homens e mulheres aqui embaixo estavam ansiosos por algo mais do que os restos que Kingsley e os bons cidadãos de cima estavam dispostos a lhes dar. Muitos presos sonhavam em mergulhar uma faca nas costas de Kingsley, motivo pelo qual ele sempre tinha pelo menos dois soldados com ele o tempo todo. Eu assisti enquanto Nada parou diante dos dois homens que guardavam o quarto de Kingsley. Eles olharam abertamente para ela, e isso me irritou. Eu coloquei meus lábios naquela doce bola de fúria apenas alguns minutos atrás e outro homem já estava olhando para ela. Eu tive que me lembrar que ela não era minha, e eu com certeza não a queria. Mas por um momento, quando meu corpo estava pressionado contra o tremor dela, eu a quis. Também não foi a parede de rocha fria que sacudiu seu corpo com tremores; foi medo puro e inalterado. Eu sabia que ela tinha sido estuprada; tive a sorte de entrar no assalto. Uma bobinadesagradável de nojo estava no meu estômago por tê-la visto tão quebrada. A imagem ainda transformava minhas mãos em punhos cerrados. O submundo não era um lugar bonito, e mesmo sabendo que os homens geralmente se aproveitavam das mulheres, ver a ferocidade brutal do ataque da garota me encheu de raiva assustadora. Kingsley não deu a mínima para que a garota tivesse sido ferida, já que ela brigou na noite seguinte e ficou fora por várias semanas por causa do ataque. O ataque brutal não apenas danificou a garota, mas interrompeu as lucrativas lutas de jaulas de Kingsley, e isso foi suficiente para uma sentença de morte. Naquela noite, a cena feia diante de mim se perdeu em uma névoa de fúria vermelha e crua. O soldado que esteve dentro dela foi o primeiro a morrer e, infelizmente, foi uma morte rápida. Os outros dois foram guardados para mais tarde e levados por ordem de Kingsley. Eu tomei meu tempo com eles. Cortando-os e sangrando-os. Naquele dia, meus punhos tinham afrouxado os dentes e quebrado os ossos, e minha faca os esfolava como se um açougueiro pudesse esculpir um animal. Os dois gritaram e eu me diverti com a dor deles. Só esse pensamento me permitiu sacudir a fúria por sentir a garota tremer sob o meu toque. Ela estava assustada, mas quando eu pressionei nossos lábios, ela parou e a curiosidade acalmou seu corpo frenético. Sim, minha cabeça não queria a porra da garota, mas meu corpo sim. E Nada podia não querer minha atenção, mas ela estava curiosa o suficiente para permitir. Eu fui gentil com ela, pressionei meus lábios nos seus como se ela fosse uma criatura requintada que pudesse quebrar. Eu não era gentil. Foder, para mim, era apenas isso, um duro e brutal alívio, mas por ela de alguma forma eu me contive. Invocando a fachada calma que me permitia suportar os horrores do submundo, eu me impedi de rasgar a espinha de um soldado que continuava observando a bunda em retirada da garota e a segui pela pesada porta de aço que barricava Kingsley do resto da população. A primeira sala era o escritório. Uma enorme mesa de madeira estava na parede oposta e uma cadeira grande estava vazia atrás dela. Tapetes luxuosos cobriam um tapete grosso de lã. Imagens do mundo acima enfeitavam as paredes e a ridiculamente enorme pintura do sol, pendurada na parede atrás de sua mesa, era uma indicação óbvia de que Kingsley sentia falta da luz tanto quanto eu. Seis sentinelas estavam em atenção, três contra uma parede, três contra a outra. Kingsley sempre os mantinha presentes quando a garota estava aqui. Ele disse que a queria intimidada pela companhia deles, mas eu sabia a verdade. Como o mais próximo do homem, sempre observando suas costas, via como seu corpo ficava tenso quando Nada estava perto. Ele estava com medo dela, e isso só se tornou mais aparente quando ela ganhou força. O Rei pode ter sido cego ao desafio crescente e aos segredos ocultos que ela carregava, mas sabia que a mesma tinha a habilidade certa para matá-lo. Em uma tentativa de quebrar seu espírito, ele lhe deu um quarto minúsculo um pouco maior que um armário. Os ganhos de suas lutas dificilmente valiam o tempo que o soldado levou para entregá-la à sua porta. A vida de Nada não era dela. Kingsley a possuía e ele a ditava a cada movimento. Ela treinava todos os dias por horas a fio e, quando ela não estava treinando, fazia com que fizesse o pior dos piores trabalhos, como lavar a roupa no Whore Pitou, cavar a merda dos baldes na Zona Selvagem. Os novatos às vezes esperavam várias horas entre as saídas antes que alguém os acompanhasse ao submundo e, aparentemente, a combinação de nervos e medo fazia você cagar muito. Tiramos todos os restos de vilões de Nova York, todos, exceto molestadores de crianças. Eles terminavam em um mundo de dor, geralmente com punhos e facas, e depois eram jogados em uma fornalha e entregues através de uma nuvem de cinzas de volta às pessoas santas. Quando Nada ficou em uma posição à vontade, o rei empurrou a porta do quarto e entrou no escritório. Ele estava vestido com uma túnica vermelha, e a dureza na virilha e a tensão ao redor dos olhos indicavam que havíamos interrompido alguma coisa. Eu não dava a mínima se ele tivesse que deixar sua última prostituta pendurada; eu só queria acabar com essa merda, cair na cama por algumas horas e dormir um pouco. Estive de plantão nas últimas duas noites seguidas e a exaustão estava cobrando seu preço. Há mais de um ano, encontramos evidências de que o Submundo pode ter sido infiltrado por espiões do mundo acima. Desde então, trabalhamos o tempo todo para sangrá-los a céu aberto. Vários homens e duas mulheres morreram durante nossas tentativas de encontrar o rato5, mas nenhum deles nos deu nada remotamente concreto para continuar. Ciente da minha capacidade de percorrer as trevas do submundo com furtividade silenciosa, Kingsley começou a me forçar a encontrar o intruso. — Rebeldes, — eles se autodenominavam homens e mulheres do mundo superior que estavam em uma missão para dar liberdade aos inocentes. Sussurros também sugeriram que queriam derrubar o Rei. Eu não me importava em perder os inocentes, eles não deveriam estar aqui de qualquer maneira, mas como o soldado mais confiável dele, era meu trabalho protegê-lo. Eu ainda não havia falhado em uma missão e não estava prestes a fazê-lo. Tínhamos uma vaga ideia de seus planos, mas não tínhamos ideia de como eles iriam implementá-los, e até termos respostas, eu continuaria pesquisando. Aprendi a dormir pouco, mas hoje à noite estava tão cansado que meus olhos pareciam uma lixa. Torcendo meu pescoço, assumi a posição um pouco atrás de Nada, minhas mãos agarradas nas minhas costas. A sala permaneceu em silêncio quando Kingsley recostou-se na cadeira e observou-a com olhos frios e calculistas. Ele sabia que seu silêncio e olhar não a intimidavam, mas ele precisava que seus homens vissem que a indiferença dela também não o afetava. Era uma jogada pelo poder e, no final, era a garota que venceu neste jogo. — Você estragou esta noite, — ele finalmente murmurou. — Eu ganhei hoje à noite. 5 Traidor — Eu não tenho ninguém alinhado para a sua próxima luta. Ninguém quer aceitar você. Porra, as fêmeas preferem cortar seus próprios pulsos malditos que lutar com você. Você também podia ter matado Viper no ringue. Não há outra mulher em toda essa instalação estúpida o suficiente para encará-la na gaiola. A garota ainda não se mexeu quando o temperamento de Kingsley começou a ferver. Com uma respiração profunda, ele se virou, entrelaçou os dedos na sua frente. — Felizmente, eu tenho uma solução. Eu conhecia a solução em primeira mão, já que fui eu quem a sugeriu. — Você tem uma briga em uma semana. Kingsley fez uma pausa como se tivesse efeito. — Você estará lutando com Zeb. Se ele esperava uma reação, ele não conseguiu; a menina permaneceu imóvel, com o olhar fixo na pintura atrás da cabeça do pai. Se eu pudesse dizer desse ângulo que ela estava evitando o olhar dele, tenho certeza de que o Rei sabia do seu assento na primeira fila, e isso o deixaria irritado. Zeb era um bastardo frio e cruel que lutava na gaiola regularmente. Ele era duro como unhas, grande e rápido. Ele não era o maior ou o mais rápido, mas foi uma escolha brutal para a primeira luta dela. Isso traria bastante comércio e, finalmente, poderia derrubar a garota da nuvem arrogante em que estava flutuando. A culpa não era uma emoção à qual eu estava propenso, mas o sentimento desconfortável dentro de mim agora me fez querer mudar de ideia. Eu coloquei a garota nesse caminho, mas as consequências de não brigar era a morte... ou pior, ela acabaria no Whore Pit trabalhando de costas, abrindo as coxas para quem quisesse usá-la e abusá-la.Nenhuma dessas opções era permitida para mim. Enquanto eu lutava contra o meu desejo por ela, a vulnerabilidade de Nada despertava aquele lugar dentro de mim que eu pensava ter deixado para trás. Eu não tinha dúvida de que havia poucos que podiam ver a mulher flexível sob as camadas de sujeira e a cadela durona que ela usava como um casaco protetor. Alguns supuseram que poderiam derrotá-la, até manejá-la e forçá-la a ficar de joelhos, mas não era assim que você tratava uma leoa enjaulada. Você precisava acalmá- la, ganhar sua confiança, talvez até lhe mostrar uma mão gentil antes de curvá-la e forçá-la a se submeter. Pude ver o ligeiro tique-taque na mandíbula de Kingsley e sabia que o silêncio da garota o estava irritando. — Seus ganhos da luta de hoje à noite estão perdidos. Ele ficou de pé, bloqueando o local na parede que Nada achou tão intrigante. — Você também limpará as gaiolas na Zona Selvagem; elas não são atendidos há semanas. Ele contornou a mesa para ficar diante dela. — Você pode pensar que seus ganhos garantem sua vida continuamente. A mão dele se levantou e então colocou um punho carnudo em volta do pescoço dela. Nada ficou tensa um pouco quando ele apertou sua garganta delicada. — Sua vida não vale nada, você é insignificante aqui e, se ninguém quiser lutar com você, não tenho motivos para mantê-la. Eu mesmo rasgarei esse coração teimoso do seu peito. — Se eu fosse tão insignificante em seu mundo, você já teria me matado há muito tempo, — ela forçou ar pelas vias aéreas estreitas. Kingsley a soltou e sorriu, logo antes de bater com o punho em seu estômago. A respiração de Nada deixou seu corpo em um gemido audível quando ela se inclinou e agarrou sua cintura. Meus punhos cerraram, e levou tudo o que eu tinha dentro de mim para manter meus pés firmemente enraizados no lugar. Parando em sua frente, sorriu com pura malícia. Eventualmente, a garota se levantou e deixou as mãos caírem de lado, os olhos mais uma vez na pintura do sol. O sorriso de Kingsley vacilou por apenas um momento antes que ele puxasse um lenço do bolso e limpasse a mão como se o toque dela tivesse manchado sua pele com algo desagradável. — Você não é insubstituível; existem outros no setor que podem facilmente substituir o seu lugar. Ontem eu assisti Brin. Ela é uma coisinha bonita e ousada. Eu poderia pegá-la e criar outra como você. Brin era uma menina de oito anos nascida entre os inocentes. Sua cabeça com cachos espiralados e grandes olhos azuis podiam derreter os corações mais frios, mas não o de Kingsley. Ele a pegaria e começaria a treiná-la, como ele disse. Ele teria sorte se alguém como Brin tivesse a habilidade natural e a atitude destemida de Nada; a garota era do tipo do caralho… ele sabia, eu sabia, os outros soldados na sala sabiam, e, a propósito, os olhos de Nada brilhavam com diversão, ela também sabia. O Rei estava simplesmente tentando apertar os botões, ameaçando os inocentes. Ela não era tão indiferente às pessoas do submundo como gostaria que você acreditasse. Ainda assim, ela não caiu na isca e permaneceu frustrantemente calma, sua fachada tranquila começando a me irritar. — Eu preciso te ensinar uma lição, Kingsley murmurou, recuperando um revólver à moda antiga que eu lembrava de ter visto quando criança em um filme antigo de cowboy. Ele colocou uma única bala na câmara e entregou a ela. Ela sabia o que fazer; todos nós sabíamos disso. Ela jogou esse jogo pelo menos cem vezes antes. Meus dedos tremeram com a necessidade de pegar a arma, minhas mãos estavam úmidas e meu coração batia tão forte e rápido que eu pensei que iria sair direto no meu peito. Essa tortura psicológica sempre me levou ao limite, e hoje à noite, mais do que o habitual. — Você pode agradecer à sua mãe por isso — Kingsley sussurrou enquanto se inclinava contra a mesa para observá-la. As duas sentinelas carregando suas próprias armas as haviam puxado e agora estavam apontadas na direção de Nada, quase desafiando-a a tentar matar o chefe deles. — Se a boceta dela não fosse tão doce, você não estaria aqui hoje. É por causa dela que você está aqui, e por causa da fraqueza dela que agora possuo você. Eu decido se você vive ou morre. A mão de Nada lentamente levantou a arma até que o cano pressionou contra sua têmpora. — A roleta russa é um jogo de azar, Kingsley, — disse ela calmamente. — É o destino que possui minha vida neste momento. Sem hesitar, ela apertou o gatilho e o clique metálico de uma câmara vazia encheu a sala. Minhas pernas tremiam com a necessidade de me sentar por um momento. Nada, por outro lado, parecia completamente inalterada. Puxando a arma de sua mão bateu em seu rosto com o revólver. Nada tropeçou, e eu realmente dei um pequeno passo em direção a ela, o que rapidamente chamou a atenção do Rei. Eu me acalmei, e ele logo voltou para a garota. — Saia da minha frente. Sua presença me ofende. Ela não teve tempo para outro golpe verbal; ela sabia que não precisava. Suas poucas palavras e compostura gelada haviam sacudido a gaiola de Kingsley, exatamente como ela pretendia. Ela pode te saído sangrando, mas definitivamente venceu essa rodada. Assim que ela saiu da sala, o olhar de Kingsley voltou para mim. Ele não disse nada, apenas olhou, procurando nos meus olhos por algo profundo e significativo. Ele não encontrou nada. Como Nada, eu me tornei um especialista em me fechar para o mundo. — Observe-a. Ela está tramando algo. — Você acha que ela sabe quem é o rato? Eu me perguntei em voz alta. Nunca me passou pela cabeça que Nada pudesse saber quem era o espião rebelde. Ela era uma inocente, nascida aqui sem interação externa, mas não seria impossível para os rebeldes alcançá-la, se quisessem. — Provavelmente. Ela é muito arrogante, muito confiante. Ela tem que saber alguma coisa. Virando as costas, Kingsley atravessou a porta do quarto e a bateu. A ideia de observar Nada, desenterrar seus segredos e descascar aquelas camadas, acendeu a parte curiosa de mim que queria explorar o enigma que ela se tornara. Kingsley me colocou em uma missão que pela primeira vez não esfriou meu sangue. Com um aceno satisfeito para ninguém em particular, saí do escritório. Seguir Nada pelos corredores escuros e retorcidos foi fácil. Ela não tentou se esconder, nem tentou escapar da sensação de formigamento que sentiria na nuca agora. Observando-a de perto, eu não pude deixar de notar o pequeno tremor em suas mãos e a maneira como ela cerrava os punhos para escondê-lo. Seu corpo estava tenso, muito tenso. A reunião com Kingsley a abalou e me irritou ao saber disso. Eu preferia pensar nela como a cadela fria, e não afetada, que todos supunham que ela era. Eu a segui pela área comum aberta que estava praticamente vazia a essa hora da manhã. Em algum lugar acima do concreto, aço e terra que nos mantinham enterrados abaixo do solo, a lua já teria atingido seu ponto mais alto e estava começando a perseguir o horizonte em direção ao amanhecer. Deslizando de uma sombra para a outra, eu a segui à distância, e Nada manteve uma marcha casual, seus quadris balançando em um ritmo sedutor sob o couro apertado que ela usava. Eu estava quase com ciúmes da maneira como o couro envolvia seu corpo e apertava suas curvas. Seria uma droga remover se eu quisesse transar com ela com força e rapidez, mas o pensamento de minhas mãos em seu corpo me fez ficar duro enquanto a observava finalmente chegar ao seu quarto. Nesse ponto, ela parou e se virou, olhando diretamente para mim quando eu voltei para um canto escuro. Eu não tinha certeza se ela poderia me ver, mas por algum motivo, eu queria que ela visse. O homem que existia em mim queria saber se ela me temia; o homem que eu me tornei saborearia esse medo. Entrando na penumbra, ela não parecia assustada, e eusorri com a presença cintilante de ódio em seu olhar estreitado. Virando as costas para mim, ela destrancou o cadeado fraco que protegia seus pertences e entrou pela porta, batendo a pesada porta de aço atrás dela. Seguindo em frente, não parei até estar em frente ao quarto dela, minha mão acariciando o metal frio de sua porta. Não poderia estar trancado por dentro, eu poderia entrar se quisesse. Essa garota e meus sentimentos por ela eram um enigma. Fazia tanto tempo que as emoções de possessividade enchiam meu coração, e eu quase não as reconhecia. Eu queria tocá-la, mas ao fazê-lo, eu a estragaria. Meu toque esmagaria o desafio dela, e esse desafio foi o que me atraiu a ela em primeiro lugar. A corrente de necessidade e o quase esquecido desejo de proteger algo criaram um sentimento de raiva e inquietação dentro de mim, algo semelhante a uma coceira que não podia ser arranhada. Minha existência teria sido muito mais fácil sem esse quebra-cabeça desconcertante. Desde que desci ao submundo, a garota estava aqui, mas a cada ano que passa, mês, dia e agora hora, minha necessidade por ela crescia. Minha indiferença uma vez fria em relação a ela era muito mais fácil do que essa necessidade de queima lenta que eu agora estava consumido. Afastando-me da porta, balancei a cabeça e, como Kingsley, limpei os dedos que acariciaram sua porta na parte de trás do meu jeans esfarrapado. Virando-me, afastei-me do quarto dela e, quanto mais longe eu ficava, mais fácil era ignorar o meu desejo por ela, mais equilibrado me sentia. Pena que eu seria sua sombra rotineira por um tempo. NADA O banho frio e congelante chocou meu corpo para a vida melhor do que qualquer Taser6 jamais poderia. Tendo sido alvo de um choque eletrizante, posso atestar isso. Meu corpo ainda estava duro e dolorido com a luta de ontem, para não mencionar o toque de amor de Kingsley após ela. Um lado do meu rosto havia se transformado em uma tela de um roxo profundo complementado por uma dolorosa contusão vermelha e azul suave. O fato é que todo mundo pensaria que veio da luta, mesmo que Viper não tivesse dado nada além de um tapa fraco. Ninguém além dos homens que estavam no quarto de Kingsley saberia que foi ele que me deu. Alguns dos detentos do submundo conseguiram; eles ouviriam os rumores e sentiriam pena do ódio que meu pai me transmitia diariamente. Eles poderiam engolir sua pena, no entanto. Eu não precisava disso. Aqueles que não acreditavam nos boatos me odiavam, me denominando como a princesa mimada de um conto de fadas, com seu próprio quarto quente e uma colher de prata, alimentando-a diretamente da sempre generosa mão de seu pai. No fundo, esse ódio e ciúme me irritavam, mas eu detestava completamente a pena. Sentada no banco de madeira do banheiro comum, terminei de amarrar os cadarços desgastados nos sapatos e passei os dedos pelos cabelos curtos. Eu nunca fui uma garota preocupada com a minha aparência, mas o moicano que eu inadvertidamente havia conquistado para a luta da noite passada chamou minha atenção no que parecia ser uma preocupação puramente feminina. Usei minhas mãos para escovar 6 Arma de choque o cabelo bagunçado para cima, mas ela caiu com protesto mole de volta ao meu couro cabeludo. — Aqui, — murmurou a voz familiar de Regan atrás de mim. Eu a vi entrar no chuveiro apenas alguns minutos antes de mim. Ela vinha para o setor vermelho e tomava banho ao mesmo tempo que eu, na cabine ao lado da minha. Era mais seguro para ela assim. O olhar de derrota que ela usava atualmente em seu rosto criou uma pontada estranha de emoção em algum lugar profundo dentro de mim. Na palma da mão, ela segurava um pequeno recipiente cheio de líquido espesso e claro. — O que é isso? — É gel; você usa no seu cabelo. Ela empurrou para mim novamente. — Pegue. Eu tenho mais. Com uma mão hesitante, peguei a substância pegajosa dela e cheirei. Regan tentou reprimir um sorriso. Ela estava constantemente me surpreendendo com instrumentos e produtos do mundo acima. Eu não tinha ideia de onde ela os conseguia, ou como ela sabia sobre eles. Ela sabia de coisas que eu nem imaginava. Veículos que corriam com líquido chamado gás, estradas que se estendiam até onde os olhos podiam ver, prédios que chegavam ao céu, estrelas que brilhavam à noite como diamantes pendurados em um pano de fundo preto e, aparentemente, esse gel. Passei meus dedos pelo líquido frio e grosso. Parecia molhado e pegajoso quando mergulhei meus dedos na garrafa. Havia uma parte altamente tátil de mim que encontrava um fascínio incomum e compulsivo por tocar as coisas. Coisas brilhantes, lisas, ásperas, macias, meus dedos tremiam constantemente com a necessidade de estender a mão e tocar. Esfreguei o gel entre os dedos antes de voltar a juntar mais gel. — Espera! É muito. Regan limpou cuidadosamente um pouco do gel de volta no recipiente até restar apenas uma pequena quantidade em meus dedos. — Agora, esfregue as mãos e passe-o pelos cabelos da maneira que deseja estilizar. Eu bufei quando segui suas instruções e joguei meu cabelo de volta no seu moicano. — Estilo, — murmurei. — Eu sei, — disse Regan com um sorriso. — Quem teria pensado? Milagrosamente, meu cabelo ficou no lugar dessa vez, e eu assenti com satisfação, recolocando cuidadosamente a tampa do gel e jogando- a na mochila em que carregava meus itens pessoais do banheiro. Olhei mais uma vez para o meu reflexo antes de me virar. Meus olhos estavam fortemente sombreados com o carvão habitual, criando o olhar ameaçador que ajudou a manter os presos afastados. Que, juntamente com o meu moicano, imaginei que ninguém ousaria tentar falar comigo. — George vai mudar o equipamento dele para o seu quarto hoje. Ele disse que amarraria uma cortina para que você possa ter um pouco de privacidade — murmurei. — Realmente? — Regan perguntou com um tom surpreso em sua voz. — Ele também disse que se você souber onde estava o esconderijo secreto de NIM de Jake, ele garantiria que ele retornasse ao rei sem repercussão. — Regan se mexeu nervosamente ao meu lado. — O que? — Eu perguntei, vendo a hesitação em seu rosto. Ela então se inclinou para a frente e eu estremeci quando seus braços me envolveram. Foi um abraço rápido, e seus braços permaneceram perdidos e cautelosos, mas fez meu coração palpitar, no entanto. Eu não era de abraços. Eu não cresci com tanto carinho. Quando criança, recebi tapinhas desajeitados nas costas de Dejohn, que não sabia como lidar com uma garotinha cujo pai a odiava simplesmente por existir. Fiquei paralisada, aceitando de má vontade o carinho dela, mas não disposta a participar. — Obrigada, — ela murmurou enquanto se afastava e recolhia seus pertences. — Eu odeio interromper esse momento emocionante, mas, garota durona, acredito que você tem gaiolas para limpar. A voz profunda de Shadow ecoou nas paredes e uma faísca de excitação e uma pontada de raiva dispararam sob a minha pele. Coloquei meus braços na minha jaqueta, escondendo a pele pálida exposta pela blusa preta simples que eu usava. Meus couros foram cuidadosamente arrumados no meu quarto, pois remover as fezes e o vômito das gaiolas da Zona Selvagem era uma tarefa digna apenas das roupas mais antigas. Meu olhar parou nos chuveiros e eu quase zombei de mim mesma. Eu estava prestes a limpar merda, porque sentia necessidade de tomar banho antes de uma tarefa dessas que não fazia ideia. Sabendo que eu estaria de volta aqui esfregando minha pele em breve, joguei minha mochila por cima do ombro e passei por Shadow, que ainda estava encostado na porta estreita. Shadow, é claro, seguiu logo atrás. Eu não gostava de tê-lo nas minhas costas, não gostava de ter ninguém nas minhas costas, mas porque Shadownunca me machucou, porque ele uma vez me protegeu, eu fui capaz de tolerar e ignorar sua presença melhor do que qualquer outra pessoa. Parei um momento para passar pelo meu quarto e deixar meus pertences do banheiro antes de pegar alguns materiais de limpeza e me dirigir para a Zona Selvagem. O tempo todo, Shadow me seguiu como uma sombra silenciosa e firme. Ele nunca disse uma palavra, e por isso fiquei um pouco agradecida. Eu não era uma mulher de muitas palavras; as conversas sempre pareciam estranhas e atrofiadas. Eventualmente, porém, o silêncio tomou conta de mim e lancei a Shadow um olhar irritado por cima do ombro. — Acho difícil acreditar que Kingsley esteja nervoso o suficiente para ter o homem que observa sua bunda excessivamente indulgente o dia inteiro passe a seguir a minha. — É uma visão muito melhor, — ele murmurou. — Ele está preocupado que eu possa tentar fugir da Zona Selvagem com um daqueles agradáveis baldes de metal enferrujado que os novatos mijam e cagam? Shadow não respondeu quando lentamente subimos, o corredor sempre subindo levemente antes de chegar a uma escada íngreme e estreita final. Parecia que Shadow seria meu por um tempo, o que significava que Kingsley estava nervoso. Era inconveniente ter alguém me observando de perto, mas eu poderia fugir de Shadow se quisesse. Por enquanto, eu o deixei acompanhar. — Apenas pensei que você poderia gostar da companhia, — disse Shadow com um sorriso. Eu ignorei seu sorriso muito alegre e entrei na Zona Selvagem. Era uma sala ampla, com dez metros de largura, com paredes de pedra, piso e teto. As gaiolas estavam em uma fileira de cinco, posicionadas diretamente no centro da sala e estendendo-se de um lado para o outro. Elas não ofereciam privacidade e absolutamente nenhum conforto. Cada célula consistia em um piso de pedra, um balde de metal enferrujado e paredes de aço enjaulado. Eles estavam vazios no momento, mas o cheiro que emanava da gaiola mais distante quase me fez vomitar. Tirando uma badana do meu bolso detrás, enrolei-a na metade inferior do meu rosto, sorrindo atrás da barreira para a carranca horrorizada de Shadow enquanto ele tentava puxar o pescoço da camisa por cima do nariz. A Zona Selvagem era verificada todos os dias e, como a última admissão foi feita há três dias, presumi que Kingsley tinha propositadamente guardado essa para mim. A merda e o vômito estavam apodrecendo o tempo todo. Ignorando o cheiro pútrido que escorria pelo tecido e no meu nariz, eu andei em direção à gaiola. Do outro lado da fortaleza de aço em que eu estava, havia uma grande área aberta. Soldados do mundo exterior podiam levar os prisioneiros para o submundo, destrancar a gaiola do lado deles, e nós os recolheríamos do nosso lado. Eu sempre me perguntava sobre o mundo além daquela sala. Aqui em cima, eu estava tão perto dos olé da liberdade, e ainda assim tão longe. Deste lado da gaiola havia escuridão. Lançando um rápido olhar para a porta fechada do lado do soldado, eu desejava ver a luz no final dos corredores torcidos além dela. Dos poucos prisioneiros que ainda encontraram seu caminho infeliz por aqui, a maioria deles descobriu que a transição era mais do que um pouco difícil. A sensação de claustrofobia era intensa demais para alguns, e a loucura se instalava para corromper suas mentes. Se um incêndio se espalhar por aqui, ou as bombas maciças que impediam a inundação dos rios subterrâneos falhassem, estaríamos condenados. Não me preocupou nem um pouco; nasci aqui e não conhecia outra maneira de viver. Para outros, porém, era uma droga pior que a morte, e muitos escolheram a morte em seu lugar. Era fácil acabar com sua vida no submundo. Havia drogas suficientes para vê-lo alucinar o seu caminho para sair desta existência, ou havia muitos vermelhos dispostos a fazer o terrível trabalho por você. Usando uma chave pesada pendurada em um gancho na entrada, destranquei a primeira gaiola e fiz uma careta ao sentir o cheiro de fezes em fermentação. Transportando meu balde, esvaziei a substância suja e esfreguei tudo que consegui alcançar com água sanitária e uma escova de arame. O trabalho estava de volta e nojento, mas ajudou a colocar uma pausa nas minhas memórias por um momento, para apenas existir. Ter uma memória fotográfica significava que meus dias e noites eram atormentados pelo passado. Trabalhar e lutar ajudava a desativar essa tortura monótona. Foi inesperadamente pacífico trabalhar com Shadow na sala. Eu não tinha olhado, mas sabia que ele estava encostado na porta, observando cada movimento meu. Eu podia sentir seus olhos em mim, um peso pesado no meu pescoço. Mesmo que ele não estivesse aqui para minha proteção, realmente fez meus ombros se soltarem um pouco, sabendo que eu estava a salvo no momento. Mesmo que o homem fosse um completo idiota, eu sabia que, no meu coração, ele não se forçaria em mim. A lembrança da noite em que fui forçada estava cristalina em minha mente, e a indignação nos olhos de Shadow no momento em que minha cabeça pendeu para um lado e o encontrei em pé na porta tinha sido difícil de perder. A morte e o sangue que se seguiram foram um final doce para o momento mais horrível da minha vida, e tinha sido Shadow escolhido para fazer essa justiça. Eu não tinha notado muito o homem de vinte anos que estava subindo rapidamente pelas forças de Kingsley. Ele era apenas mais um soldado, outro cachorro que passava perto dos ossos que o Rei lhes dava. Naquela noite, porém, vi algo diferente, e teria sido fácil me perder na força silenciosa, resiliência e ferocidade bonita de Shadow. Sua indiferença em relação a mim após o incidente, sua arrogância sarcástica, a maneira como ele usava as mulheres e sua inabalável obediência a meu pai mataram qualquer inclinação romântica. Três horas depois, todas as cinco gaiolas estavam impecavelmente limpas, ao contrário de mim, que estava coberta de muitos líquidos questionáveise cheirava a um duto de esgoto. Outro banho frio estava no meu futuro imediato. Eu não me importava se estivesse um pouco suja, mas a merda sob minhas unhas era o mais longe que eu conseguia empurrar. De volta ao meu quarto, guardei cuidadosamente os produtos de limpeza e agarrei-me em algumas roupas limpas, ignorando a atração em direção àquela pedra solta na parede de canto do meu quarto. Shadow me seguiu até os banheiros e assumiu a posição no banco de madeira no canto, de volta à parede com uma visão perfeita de todo o quarto. Peguei a primeira cabine e puxei a porta, que pendia de uma dobradiça e oferecia pouca privacidade, e fechei. Pendurando minha bolsa em um gancho, eu rapidamente me despi e pisei sob o spray. Foi nesse momento que amaldiçoei a temperatura morna da água. A energia no submundo foi conservada e, após alguns dias de eletricidade contínua, teríamos água quente por um tempo. Isso nunca durou dois dias. Os internos absorviam cada gota da água gloriosamente quente. A água gelada geralmente não me incomodava, eu tinha muito mais banhos frios do que quentes na minha vida, mas agora eu trocaria tudo o que tinha por um pouco de calor. Esfreguei meu corpo com o sabão que estava cheio de óleo de amêndoa doce. Regan explicou que era bom para a minha pele. Eu não sabia nada sobre coisas assim, mas era muito bom para o meu nariz e cheirava muito melhor do que o lixo tóxico que eu removi daqueles baldes. Logo, eu estava em pé na frente de um espelho comprido, coberto por grandes manchas pretas de ferrugem. Usando o gel que Regan me presenteou, coloquei meu cabelo de volta em um moicano. — Isso é novo, — Shadow murmurou enquanto se movia para ficar atrás de mim. Ele estava tão perto que eu podia sentir o calor de seu corpo infiltrar-se nos couros confortáveis que eu estava mais uma vez vestindo. Enquanto meu corpo palpitava com energiaque queria alcançar e absorver seu calor, minha cabeça não o queria tão perto. Ele me deixava nervosa, e tentar ignorar o peso de um metro e oitenta e três era difícil. — Você cheira bem. — Ao contrário da merda que eu cheirava vinte minutos atrás? — Você cheira a limpeza e como uma mulher. Eu tentei não vacilar quando ele se inclinou para a frente para passar o nariz pelo meu pescoço, nada mais que um toque leve. Sua gentileza me confundiu e, para meu horror abjeto, me assustou. Esse não era o Shadow que eu conhecia e podia prever facilmente. Esse cara era uma contradição de uma superfície áspera um tanto familiar, mas uma borda lisa completamente desconhecida. Era a segunda vez em tantos dias que ele tomou liberdades comigo. Ele passou de um homem que me ignorava completamente a alguém cujas atenções eram intensas demais e gentis demais. Afirmando que sabia que eu tinha segredos. Era sua missão desenterrá-los com terna sedução? Ele não iria muito longe. Os homens não eram nada mais do que uma ferramenta para eu usar se e quando eu precisasse, e meu ódio por Shadow nunca diminuiu o tempo suficiente para deixar o homem entrar. Além disso, eu sabia que ele não podia ser gentil. Ele pode tentar e ter sucesso por um momento, mas nunca conseguirá mantê-lo. Eu usei o disfarce de jogar o gel na minha mochila para me afastar de sua proximidade intrusiva, antes de jogar a bolsa sobre meu ombro e tirá-la do banheiro. — Você é meu patinho. Você foi prometida para mim, e eu a reivindicarei. — As palavras sussurradas deslizaram sobre minha pele enquanto eu dobrava a esquina de um corredor mal iluminado. Onde o salão se dividiu e fez uma curva acentuada, notei a construção pesada de uma figura alta inclinada sobre a construção muito menor do que obviamente era uma mulher. — Você é minha, — a voz masculina desconhecida rosnou quando suas mãos começaram uma exploração febril e claramente indesejada do corpo da mulher. Ela fez uma tentativa patética de combatê-lo, e quando os gemidos baixos cheios de miséria chegaram aos meus ouvidos, a mochila no meu ombro deslizou até fazer um baque silencioso no chão aos meus pés. — Deixe-me dar uma olhada primeiro, — Shadow sussurrou em meu ouvido. Eu já estava pronta para ignorá-lo e caminhar pelo corredor curto e escuro quando uma voz pequena fez meu sangue gelar. — Por favor, não. — A voz feminina era infantil e congelou Shadow e eu no lugar por uma batida do coração, de descrença. No que dizia respeito a Kingsley, e à maioria dos homens do submundo, um pouco de coerção era aceitável entre um homem e uma mulher. As crianças eram uma questão totalmente diferente. Quando cheguei à parte de trás do animal enorme que estava mexendo com seu jeans, chutei o filho da puta entre as pernas. Fiquei imensamente satisfeita com o uivo cheio de dor que ecoava nas paredes de pedra e observei quando ele caiu de joelhos. Uma luz trouxe o espaço escuro para um foco claro, e olhei por cima do ombro para encontrar Shadow segurando uma lanterna no alto. Os geradores desligavam com frequência, de modo que as lanternas eram penduradas em intervalos regulares por toda a instalação. Um soluço chamou minha atenção para o problema diante de mim. Quando me virei e peguei o rosto sangrento e surrado da garota, minha respiração ficou presa por um momento e a raiva sangrou em uma fúria gutural profunda. Ela não podia ter mais de catorze anos pela aparência de seu corpo ainda subdesenvolvido, mas o que realmente atiçou as chamas de raiva foi o manto branco que ela usava, respingado em um vermelho profundo que caíra de seu próprio rosto puro. Ela era uma inocente, uma criança nascida nas favelas, que não era entregue pelas malditas portas da frente. Estávamos perto da arena, em uma área comum de cores, mas a garota era jovem demais para estar sozinha fora do setor inocente. — Seu filho da puta idiota — murmurou Shadow. A garota se encolheu e eu passei pelo bruto que segurava suas bolas para puxá-la para longe de seu atacante. Ela voou em meus braços e se enroscou em meu corpo, o que me chocou e cruzou a linha da minha regra preferida de não abraçar. Quando notei o alarme que encheu os olhos de Regan e alguns outros transeuntes que estavam atrás de nós, eu rapidamente apalpei a garota em seus braços estendidos, que eram muito mais hábeis em consolar. Então meu olhar voltou a algo que eu poderia lidar com precisão sem esforço. — Ele é meu, — eu rosnei para Shadow quando ele seguiu em frente, pronto para atacar o porco que estava já praticamente morto. Ele parou e sorriu, um sorriso maligno que era ao mesmo tempo bonito e assustador. — Cutter, acho que você não conheceu Nada ainda. Foi a primeira vez que ouvi meu nome sair dos lábios de Shadow, e levei uma fração de segundo para afastar o prazer ridículo que senti ao ouvi-lo. — Cutter? Eu filtrava minhas memórias como se pudesse fazer um arquivo até encontrar as informações que eu procurava. — Bry Charles Maiden, trinta e dois anos, um metro e oitenta, duzentos e vinte libras, filho único de Declan Charles Maiden e Eva Rose Maiden. Você foi diagnosticado com transtorno de personalidade dividida aos nove anos quando tentou afogar Billie, sua gata de estimação. Nesse ponto, você foi institucionalizado na esperança de poder ser reabilitado como membro da sociedade, livre de crimes, e aos 13 anos foi liberado com uma recomendação para a supervisão contínua dos pais. Eu conhecia bem o arquivo de Cutter, pois fui eu quem o inseriu no sistema. Não era meu trabalho, era de Dejohn, mas ele não era bom em computadores. Eu não era muito melhor, mas já os inseria há muitos anos, lendo todos os segredos sujos e colocando-os cuidadosamente em seu setor designado no submundo. Enquanto eu lia os registros de Cutter, suas bochechas se encheram de um tom vermelho de raiva, enquanto o rosto de Shadow traiu uma pitada de surpresa. Eu estava revelando um dos meus segredos e, se não estivesse tão perto de uma erupção vulcânica de raiva, teria sido mais cuidadosa com isso. — Você esteve no radar até seu trigésimo segundo aniversário, quando tirou a vida de sua namorada muito mais nova, Tia Louise Simons, uma enfermeira de 21 anos, loira, olhos azuis, bonita. Cutter voou para mim então, uma lâmina afiada puxada da parte de trás da calça jeans suja apontada diretamente para o meu intestino. Eu bloqueei o golpe letal e usei a palma da minha outra mão para quebrar seu nariz. Sentindo a cartilagem estalar, eu rapidamente dei um passo para trás e observei o sangue escorrer por seu rosto. — Foi então que as autoridades examinaram mais de perto o incêndio na casa que matou sua mãe, pai e prima de 12 anos, Bethany, que ficava no fim de semana, — continuei enquanto Cutter deixava o sangue escorrer pelo peito, seus olhos zangados em mim. — Eles pegaram você com ela, não pegaram? SHADOW Eu não tinha a mínima ideia de como a garota sabia tanto sobre Cutter. Mas como o trabalho de Dejohn era inserir as informações que o mundo acima nos dava aos recém-chegados, não deveria ter me surpreendido. Nada deveria ficar longe do computador; evidentemente, ela não tinha. O fato de ela se lembrar de cada pequeno detalhe fez meu cérebro revirar como uma máquina bem oleada. Eu sempre pensei que ela era mais esperta do que agia, mas a partir de sua memória cristalina, meu respeito por sua inteligência aumentou. Cutter estava curvado, com o corpo cheio de dor e fúria, enquanto o sangue escorria pelo rosto; ele parecia um touro furioso. A lâmina em sua mão direita foi segurada com uma precisão que obviamente lhe dera o apelido, a faca Bowie7 de aspecto perverso muito superior a qualquer lâmina barata. Mesmo com sua óbvia experiência, ele não segurava uma vela para Nada. Ela ficou alta, inclinando-se um pouco paraa frente na ponta dos pés, pronta para se mover. Foi nessas condições que a garota se destacou, de perto e de forma pessoal. Seus oponentes sempre a subestimavam por ser pequena e pelo fato de ser mulher. Você pensaria que depois de todos esses anos derramando sangue na gaiola ensinaria algo aos soldados arrogantes; a menina era uma força a ser considerada. Ela segurou a faca em um feroz punho de martelo que parecia muito mais casual do que realmente era. Ela sabia como segurar uma 7 Tipo de faca Designa, demodogenériconorte-americano, facasdedefesaecaça, rústicasedegrandesproporções(geralmentelâminaslongas — acimade25cm — elargas, tipoclippoint), comcabonãocilíndrico, empregadanasfronteirasdosEUAdesdemeadosdoséculoXVIII. lâmina de maneira a maximizar danos e minimizar ferimentos a si mesma. Cutter segurou a dele com um aperto reverso, a lâmina da faca inclinada para baixo e para trás em direção ao pulso. Não era nem de longe uma posição tão ágil quanto o aperto tradicional do martelo. Quando Cutter se lançou para Nada de novo, ela estava pronta, esquivando-se e tecendo para fora do caminho, a mão vazia segurando um punho protetor na frente do rosto, pronta para defender, enquanto a mão que segurava a faca cortava a frente e cortava uma fatia grossa no braço de Cutter. Furioso com a ferida, Cutter tentou alcançar o pulso de Nada, em um esforço para imobilizar a mão com a arma. Um vislumbre de diversão nos olhos da garota quase empurrou um sorriso nos meus lábios. Enquanto o foco de Cutter estava na arma dela, Nada o acertou com um soco rápido, batendo no nariz já quebrado e fazendo o homem uivar de dor. Com facadas desleixadas e movimentos desajeitados, Cutter conseguiu de alguma forma abrir o braço de Nada, mas ela não se encolheu; em vez disso, ela continuou se movendo, mantendo o oponente em uma posição defensiva enquanto o derrubava. Ele era um homem grande e fora de forma, e não demorou muito para ele ficar lento, e Nada foi rápida em tirar vantagem, mergulhando a longa lâmina de aço carbono da faca dela profundamente em seu flanco. Ela recuou quando Cutter caiu de joelhos. — Ataque renal, você sangra lentamente, dolorosamente, — ela murmurou quando Cutter agarrava a lateral do corpo. Ele parecia patético de joelhos, o sangue cobrindo seu rosto e peito, escorrendo de seu braço e agora o flanco. Com um chute rápido, ela soltou a faca do aperto fraco dele e deu um passo à frente, abaixando- se até poder olhar nos olhos dele. — Você não merece misericórdia. Você merece muita dor. Ela inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse considerando suas próximas palavras. — Não tenho tempo para vê-lo morrer e não quero que você machuque mais ninguém enquanto sangra. Erguendo a faca, ela usou a mão vazia para agarrar os cabelos de Cutter, puxando a cabeça para trás e expondo os tendões do pescoço. — Homens que tocam em crianças têm um lugar especial lá nas trevas reservado para eles. Certamente, pararei e assistirei ao programa quando finalmente chegar lá. Então ela passou a lâmina pela garganta dele, limpa e eficiente. Cutter soltou um gemido quando seu corpo caiu no chão e o silêncio encheu o corredor. — Vou organizar a limpeza e garantir que Kingsley saiba que ele estava brincando com uma criança. — Você acha que eu dou a mínima para o que ele pensa? — Ela retrucou. — Você tem tanto medo de uma bala na cabeça quanto todo mundo aqui embaixo. Ela riu, mas era um som que não tinha humor. — Eu tive uma arma pressionada no meu crânio vezes suficientes para saber que não é a morte que eu temo. — O que você teme, garota durona? Tem alguma coisa a ver com os segredos que você esconde? Seu olhar subiu para o meu, ousadia, surpresa e fúria, cada uma lutando pela supremacia em seus lindos olhos escuros. — Dejohn estará esperando por você na academia. Mova-se. Vou limpar isso e te encontrar mais tarde —- falei, efetivamente dispensando- a. — Mal posso esperar, — ela assobiou. Quando ela se virou para sair, não pude deixar de gritar: — E Nada? Ela olhou por cima do ombro, um olhar furioso que causou uma pequena linha sulcada entre as sobrancelhas. — Você me deve por isso. Ela se virou antes de ir embora. Droga sim, ela me devia. Eu estava indo limpar sua bagunça, mesmo que ela não quisesse que eu fizesse. Se não o fizesse, Kingsley a puniria por outra morte, mesmo que Cutter fosse um imbecil que merecia morrer. * — Ele estava transando com uma criança inocente. Para mim, ela me fez um favor, mas são duas em uma semana, sem contar com Viper. Ela não é minha rainha do caralho, por isso não tem o direito de condenar quem quiser. Ela precisa ser punida. — Ela luta, — apontei calmamente. — E ela vai ganhar, porra. Nós todos sabemos isso. Isso ajudará até as probabilidades. Kingsley afastou o pedaço de papel que estava lendo quando eu contei sobre Cutter. — Então, você aprendeu alguma coisa ao segui-la? Ela é a espiã? Eu bufei, uma demonstração de desrespeito, mas o Rei deixou passar. Eu me provei ao longo dos anos e tive mais liberdade com ele do que outros. — Tudo que eu aprendi é que ela cheira mal depois de cavar por aí, e ela é irritadiça de manhã, mas aposto minha bola esquerda que a garota não é a porra do rato. — Locky diz que ouviu rumores de que os rebeldes estão se preparando para agir. Eu levanto uma sobrancelha de surpresa. Eu não conseguia pensar onde Locky poderia ter ouvido um boato como esse; o homem era tão sutil quanto um tijolo voador, e as pessoas tendiam a ficar de boca fechada quando ele estava por perto. Ele está tentando ganhar um favor com Kingsley há muito tempo; não achei que ele tivesse coragem de tentar entrar no círculo interno de Kingsley com informações falsas. As conversas sobre os rebeldes se infiltraram no submundo, plantando as sementes da esperança no coração dos inocentes. A causa deles era a mudança, a libertação e a retirada do poder que havia surgido no submundo, sendo esse poder Kingsley. O submundo não podia se dar ao luxo de perder seu líder implacável; havia uma razão pela qual ele estava no poder. Era homem o suficiente para manter os animais alinhados e governar com o punho de ferro necessário para impedir uma guerra civil total. Enquanto era um homem sem piedade e motivos duvidosos, o submundo precisava desse tipo de ódio para dominá-lo. Muitos dos homens e mulheres condenados ao subterrâneo não cumpriram as ordens e precisaram de uma mão dura para mantê- los na linha. Os rebeldes eram uma dor nas minhas costas, mas se Nada fazia parte do grupo deles, eu me curvaria e beijaria minha própria bunda. — Eu só a observo há alguns dias, mas do jeito que eu vejo, você trabalha e a treina tanto que ela não tem tempo para piscar e muito menos conspirar com espiões e rebeldes. A testa de Kingsley se levantou. Evidentemente, ele notou a irritação na minha voz, mas também percebeu que eu estava certo; Nada não tinha tempo ou meios para trabalhar contra ele. Ela com certeza tinha raiva, inteligência e audácia. — Pegue-a e chicoteie: dez chicotadas e torne-a pública. Coloque-a na arena. Quero que as pessoas saibam que sou a lei por aqui e decido quem vive e quem morre. — Você quer que Moore faça isso? — Eu forcei para fora através dos dentes cerrados. Nada fora chicoteada em abundância, mas nunca fora uma exibição pública na arena. Kingsley me observa com uma expressão pensativa, antes de balançar a cabeça. Meu estômago revira, e eu sabia que suas próximas palavras me atingiriam em cheio. — Você não empunha o chicote há um tempo. Por que você não sacode as teias de aranha e aplica esse castigo? Sim, me pegou em cheio, e doeu. O pensamento de machucar Nada me fez sentir doente. A tensão no meu intestino cresceuaté sangrar no meu peito e eu discretamente tentei afastar a dor que tomou conta de lá. A raiva estava praticamente sangrando dos meus poros quando saí do quarto de Kingsley. Eu não tinha visto Nada hoje, e o pensamento de colocar meus olhos nela enviou uma onda de necessidade indesejada através do meu corpo, e apenas o pensamento de tirar as roupas de sua carne me fez endurecer. A ideia de açoitá-la acendeu um fogo no meu estômago que se espalhou pela minha pele, uma fúria aquecida que me fez querer vomitar. Eu já vi a garota chicoteada várias vezes, eu odiei e odiava ainda mais agora. Esses malditos sentimentos que ela me forçou me fizeram detestar a ideia de açoitar sua pele branca e cremosa. Kingsley apenas a punia em um esforço para fazê-la gritar; isso é tudo que ele sempre quis, a dor dela nos lábios. Ela nunca dava a ele, no entanto. Desta vez, porém, foi mais do que punição; era um show, uma mensagem, não apenas para as pessoas do submundo, mas para Nada. Que o Rei a possuía; ela não precisava fazer nada além de respirar e podia ser humilhada e punida por isso. Encontrei-a no primeiro lugar em que procurei, na academia, trabalhando com Dejohn. Ela usava perneiras longas e apertadas e uma blusa cinza suja amarrada sob os seios, expondo a laje plana de seu abdômen tonificado. O ferimento no braço não poderia ter sido tão ruim; o curativo ao redor do bíceps era quase imperceptível. Ela estava dando socos e pontapés no saco de areia pendurado no teto. A velha sacola de boxe estava presa em vários lugares, e cada vez que Nada se conectava a ela, um pouco de areia caía, espalhando-se pelo chão de pedra. — Ele é um lutador sujo, e ele é rápido, — Dejohn murmurou enquanto a observava se posicionar. — Ele tentará agarrar seus seios. Ele provavelmente tentará chutá-la na virilha. Não dói da mesma forma que um homem sendo chutado em suas bolas, mas... — Ainda dói para caralho, — Nada o interrompeu e olhou em sua direção. — Eu sei; eu já fui chutada lá antes. Está gostando do show? Dejohn virou-se para mim, a surpresa em seu rosto óbvia. — Menina bonita mostrando muita pele, o que não é para gostar? — O que ele disse? Dejohn me perguntou, sabendo que eu tinha vindo de Kingsley. Vi a contração muscular em seus olhos, um hábito que ele não podia esconder quando estava além de furioso. — Dez chicotadas. — Apenas dez? — A menina riu. — Tudo bem, vamos acabar logo com isso. Ela parou e se virou para mim. — Estou assumindo que a dor real na minha bunda quer que eu me incline sobre sua mesa para que ele e seus soldados sugadores de pau possam assistir? Uma imagem espontânea de Nada nua e esparramada sobre uma mesa me atingiu como uma parede de tijolos, e parei quando meus olhos a devoraram, desde os pés descalços ridiculamente pequenos até o moicano bonitinho que ela adotara recentemente. Por meio momento, ela pareceu nervosa, coçando o que provavelmente era uma coceira invisível em seu braço antes de puxar os ombros para trás e me encarar. — Então, quem recebe as honras? Moore ou Solo? Eu meio que espero que seja Solo. Juro que esse homem tem um pulso mole e acho que ele quer que eu me divirta. — Eu vou segurar o chicote, — rosnei. — E você estará na arena. Ela fez uma pausa e, pela primeira vez desde que eu conheci essa mulher desafiadora, um pouco de desconforto encontrou sua postura duramente conquistada. — Aposto que o velho tarado imundo quer que eu seja despida também, — ela sussurrou. Meu silêncio foi como um grito de concordância que deixou Dejohn rugindo de indignação. — Nah vai acontecer. Mi fala com ele. Yuh (sotaque em inglês) tem uma briga ... — 8 — Dejohn, isso apenas atrasará o inevitável. Eu prefiro acabar logo com isso. 8 Eu falo com ele. Ele fala com inglês pobre de novo e sotaque carregado Dejohn hesitou, sua raiva tão espessa que fez a sala parecer menor de alguma forma. — Tudo bem, — ele grunhiu através de sua mandíbula teimosamente cerrada. — Vamos lá. — Prefiro que você não venha, Dejohn. — Ele a presenteou com uma expressão chocada que teria sido risível em diferentes circunstâncias. Nada corou, e inclinei a cabeça enquanto explorava esse novo visual em seu rosto. Era uma combinação de vergonha e vulnerabilidade que afastou um pouco mais a sujeira que cobria meu coração. Ver uma guerreira endurecida como Nada dominada por uma emoção tão exposta me deixou mais irritado. Isso me lembrou o olhar que ela usava quando eu a carreguei para Dejohn depois que ela foi estuprada todos esses anos atrás. Só que desta vez, eu não estava tentando protegê-la; seria eu quem a machucaria. Eu apertei meus punhos com força, até ouvir os ossos estalarem e se mexerem, depois os sacudi, tentando cavar fundo pelo foco calmo que eu precisava para conseguir isso. — Não gosto de me expor a um homem que é praticamente um pai para mim, — confessou ela eventualmente. Dejohn caiu contra uma parede e desviou o olhar, lutando pelo autocontrole. — Mi te banhou quando bebê (Sotaque inglês de pobre novamente) — 9, ele murmurou. — Sim, bem, acho claro para todos que eu não sou mais um bebê. — Eu assisti enquanto ela andava na direção de Dejohn, com a cabeça baixa, o olhar no chão entre eles. 9 Eu te banhei quando bebê — Por favor, Dejohn, não me importo que mais alguém me veja assim, só você. Me dê isso. Chocando–me pra caralho, Dejohn se inclinou para frente e deu um beijo no topo de sua cabeça. Suas mãos não se moveram dos lados e Nada não recuou ou tentou esfaqueá-lo. Ela apenas ficou lá e pegou, com a cabeça inclinada para a frente em derrota. Foi um momento que me contou mais sobre a garota do que eu havia aprendido em todos os anos em que vivemos em seu lugar esquecido por Deus. Essa mulher, com punhos como martelos e um coração frio como gelo, era capaz de amar. Eu sabia que naquele momento ela se importava com Dejohn como se fosse um pai, um pai de verdade. Em um mundo de caos, ela encontrou a calma, encontrou a força necessária para sobreviver e uma razão para continuar, e ele era um homem negro que matou sua esposa. Provavelmente, Nada era sua última chance de redenção; ela seria a salvação dele em um mundo que geralmente não oferece segundas chances. Não havia mais palavras quando ele saiu da sala, e eu dei a Nada alguns momentos de silêncio para se recompor e construir as paredes de volta que protegiam essas emoções nuas. Por mais que eu preferisse a carne e o sangue cru e exposto que acabei de testemunhar, ela precisava daquelas paredes de merda para passar por esse castigo. E eu precisava encontrar a indiferença fria que salvaria nossos dois malditos couros. — Então, — ela finalmente disse, uma vez que seus sapatos estavam de volta no lugar, — algumas mulheres dizem que você é um homem Dom10 super humano que gosta do chicote. — Eu não respondi a ela. Eu não era Dom, não gostava de machucar mulheres, mas sabia como sentir um pouco de dor quando fodia. Algumas das mulheres 10 Dominador gostaram da vantagem, e eu sempre me assegurei de que deixassem minha cama completamente satisfeitas. — Você vai tentar me foder11? Ou será você quem vai se ferrar? — Ela cuspiu. Quando ela passou por mim, agarrei a parte de trás do seu pescoço e a trouxe bruscamente para dentro do meu corpo. Meu aperto nela era firme, mas não o suficiente para doer. Eu esperava que ela lutasse comigo, mas não. Ela olhou para mim, olhos mais uma vez cheios de ódio e fúria. Eu estava começando a detestar essa hostilidade nos olhos dela. — Quando eu te foder, garota durona, não será com um chicote e com certeza não será na arena em frente a todo o mundo do submundo.Você não é a única que está lutando pelo controle agora. — Sua testa franziu em confusão, e eu encontrei minha mão se movendo por vontade própria. Passei o meu polegar calejado pela linha de preocupação que se aninhava entre sua testa, depois esfreguei suavemente sobre a plenitude do lábio inferior. — Você não é tudo o que parece, garota durona, e talvez eu também não. Ela continuou a me olhar com confusão, a testa franzida, o olhar procurando o meu, e a raiva se agitou na boca do meu estômago. Eu não queria chicoteá-la, mas se não o fizesse, nós dois acabaríamos mortos antes que a noite acabasse. Afastei-a e ela deu um passo para trás, preparando-se para um ataque que não viria. Eu machuquei muitas pessoas na minha vida, mas nunca machuquei ela, não por vontade própria. 11 Nota para o revisor: get me off tem uma conotação sexual, tipo você me fazer gozar, masturbar, no português perde um pouco do sentido. — Não me chame de garota durona! — Sua raiva parecia se intensificar nas profundezas escuras de seus olhos. Depois da arena, ela provavelmente me olharia assim para sempre. — Garota durona? Você realmente prefere ser chamada de Nada? — Meu nome é Nada e não ligo para o que isso significa. É o meu nome, e eu o possuo. Ela me precedeu para sair da academia, e eu a observei caminhar em direção à arena, com os ombros para trás e a cabeça erguida. — Que seja, — eu sussurrei enquanto a seguia em direção ao que provavelmente seria a nossa queda. NADA Enquanto eu caminhava em direção à arena, eu mantive minha cabeça erguida e mantive meus olhos à minha frente. Meu interior era uma tempestade rodopiante de raiva, ódio e humilhação. Por fora, eu era uma visão de calma. Shadow andava bem atrás de mim, sua presença realmente tranquilizadora, mas eu não conseguia entender o porquê. Ele estava prestes a me chicotear, e eu deveria estar pronta para estripá-lo. Minha mente estava firme o suficiente para racionalizar que Shadow tinha sido ordenado a entregar meu castigo por Kingsley; ele não teve escolha, nenhum de nós teve escolha, e nisso tínhamos algo em comum. Ele me disse que eu não era a única lutando pelo controle agora e, naquele momento, eu tinha visto a verdade em seus olhos escuros, o profundo medo e culpa. Desde o meu ataque, Shadow mal me deu um olhar ocioso, seu interesse por mim era quase apático, como todo mundo, mas ultimamente, algo havia mudado. Ele agora olhava para mim com uma intensidade que fez meu estômago revirar com sentimentos que eu não conseguia me lembrar de ter. Eu queria odiá- lo, queria permanecer impassível com sua presença, mas algo maior estava exigindo reconhecimento, e não tinha certeza do que era. Os nervos abalavam minha determinação de aço sempre que ele estava por perto, em parte porque eu não tinha certeza se ele queria me machucar, ou apenas, talvez, me proteger. — Nada! Eu diminuí meu passo com a voz em pânico de Regan, observando enquanto ela corria pela curva do corredor, praticamente se jogando em meus braços. Eu fiquei rígida e desajeitada, meus braços apertados ao meu lado enquanto Regan continuava me abraçando. Tentei ignorar a sobrancelha levantada de Shadow. — Você deve vir comigo, — ela sussurrou em meu ouvido. — Como você pode ver, estou um pouco ocupada agora, — murmurei, tentando sair de seu abraço. Regan se afastou, parecendo nervosa, seu olhar nervoso tentando se concentrar em Shadow. — Eu preciso prepará-la, — disse ela com uma voz segurando mais aço do que eu já tinha ouvido falar dela. — Vou pegar as roupas dela e vestir um roupão, — explicou ela. Shadow hesitou apenas um momento antes de assentir. — Estarei esperando por você na arena. Ele sabia que eu não correria; eu nunca daria a Kingsley a satisfação de me arrastar chutando e gritando de volta ao seu jogo cruel. Regan se virou e me levou para o quarto dela, com cuidado para me dar o espaço tão necessário que eu precisava agora. Eu não estava nervosa com as chicotadas, mas estar completamente nua na gaiola me fez sentir náuseas. George havia se mudado para o quarto de Regan. Ele pendurou cuidadosamente um cobertor grande e pesado entre o lado do quarto dele e o de Regan. Tudo estava limpo e arrumado, até o lado de George da sala, o que me surpreendeu. O único quarto de homem que ousei visitar era de Dejohn, e ele estava bagunçado, com o chão enterrado sob roupas, caixas e lixo. De alguma forma, presumi que era assim que todos os homens viviam, em desordem caótica. Fui puxada sem cerimônia por trás do cobertor, que Regan puxou com força, depois vi quando ela começou a vasculhar as caixas debaixo de sua cama. — Como estão as coisas com George? Eu murmurei enquanto estava em seu pequeno espaço, observando as pequenas coisas que o tornavam de Regan. Ela costurou amostras de material para fazer um cobertor grande e colorido que foi cuidadosamente colocado em sua cama estreita. Acima da cama, uma pequena foto emoldurada de um bosque pendia de um prego enferrujado na parede e uma vela perfumada estava em uma pequena tigela em uma caixa de madeira ao lado de sua cama. Eu não tinha ideia de onde Regan encontrou todas essas pequenas coisas que lhe davam conforto. Ela era uma cozinheira maravilhosa e incrível com uma agulha e linha; presumi que ela trocasse seus serviços pelas pitorescas bugigangas. — Encontrei. — De pé, ela pegou vários jarros nas mãos. — Mais gel de cabelo? — Não. Ela abriu cuidadosamente um dos potes e eu me inclinei para ver melhor. Parecia ser tinta. — Eles querem que você seja despida, certo? Ela sussurrou, e eu assenti. — Mas eles não disseram nada sobre serem pintados. Ela me deu um olhar nervoso. — Eu vou deixar suas costas, no entanto. Não sei o que aconteceria se a tinta entrasse em uma ferida aberta. Meus dedos pairavam reverentemente sobre as garrafas que ela segurava. — Obrigada, — eu sussurrei. Regan engoliu em seco e assentiu. — Você cuida de mim. Eu cuido de você. É isso que as amigas fazem. — Amigas. A palavra parecia desconhecida na minha língua. Eu não tinha ideia de como ser uma boa amiga, mas sempre cuidara de Regan da melhor maneira possível. Ela era cinco anos mais nova que eu e, quando morava com os pais no setor inocente, eu a visitava sempre que possível. Quando sua mãe morreu de doença e seu pai se voltou para o NIM para preencher o buraco no coração, Regan mudou-se para o setor azul para estar mais perto de mim, e eu assegurei que ela estivesse sempre protegida. Até Jake. Mas eu limpei rapidamente essa bagunça e me certificaria de que nunca mais acontecesse. Ela merecia muito mais que esse horror. Regan era pura; ela era como a luz do sol com que eu sempre sonhava, e seus olhos estavam cheios de felicidade e determinação tranquila. Em troca da minha proteção, ela sempre esteve lá para mim, para aliviar meu humor quando eu precisava e me confortar com histórias de um mundo que minha mente não podia compreender completamente. Histórias que lhe foram passadas sobre um lugar em que nenhum de nós teve a sorte de se destacar. Talvez ter uma amiga não fosse tão difícil quanto eu pensava. Amigas!! Eu gostei do som disso. — Tire essas roupas. Eu cuidarei delas para você. Você pode pegar a túnica emprestada. Ela jogou os frascos em sua cama e pegou sua túnica verde desgastada. — Estou pensando em unificação, — disse ela, e não tinha certeza se ela estava falando comigo mesmo. — Hã? — Eu resmunguei enquanto me despia para a minha calcinha esfarrapada. — O rei não é reverenciado, nem um pouco. Ele é temido. Ele trouxe muita dor ao submundo, e há mais do que alguns que gostariam de vê- lo derrubado. Ela desparafusou a tampa do primeiro frasco e segurou-a para eu ver. — Branco.Então ela apontou para os outros jarros. — Amarelo azul...e vermelho. As pessoas precisam ver você representar todos eles. Meu olhar assustado voou para o dela. — Você está falando sobre rebelião; Kingsley vai me matar em um piscar de olhos. Regan balançou a cabeça. — Seu poder vem do medo, Nada. Livre-se do medo e tudo o que resta é um valentão. Ele não vai te matar. Você significa muito para o império dele; os ganhos de suas lutas o tornam um homem confortável em um mundo desconfortável. Se você mostrar às pessoas que não tem medo dele, elas as seguirão. Minha testa enrugou quando eu absorvi suas palavras. — Não tenho medo dele, mas esse tipo de conversa matará você. — Não se todos o enfrentarmos. Há segurança nos números e há pessoas prontas para apoiá-la. Se você lhes mostrar que está com eles, e não com ele, mais se juntarão à nossa causa. Eles vão te seguir. Você pode liderá-los. — Eu não quero ser uma líder. Não quero ser nada. — sussurrei. — E você não pode falar assim, Regan. É perigoso. Olhei em volta do cobertor para ter certeza de que ninguém estava ouvindo. A porta estava fechada, mas suas blasfêmias, a teriam não apenas morta, mas torturada. Eu não poderia arriscar sua segurança assim. — E isso faz de você a líder perfeita. Regan segurou minha bochecha suavemente, um leve sorriso erguendo um canto da bocap. — Você é forte, mas, mais do que tudo, é humilde. — O submundo não precisa de humildade. Há criminosos aqui embaixo, Regan. Homens e mulheres que fizeram coisas ruins. Eles precisam de uma mão pesada para controlá-los. Não concordo que Kingsley seja a pessoa certa para governar este mundo, mas sou inteligente o suficiente para saber que definitivamente também não sou a pessoa certa. — Você não pode combater a violência com violência, Nada. Ela suspirou quando fiquei em silêncio. — Vamos lá, precisamos nos apressar. Vamos dar ao rei um show que ele nunca esquecerá. — Prometa que vai deixar isso cair, Regan. Ela começou a varrer a tinta fria pela minha pele. — Prometa-me! — Eu exigi. Passando uma de suas longas tranças por cima do ombro, ela me deu um olhar irritado. — Tudo bem, — disse ela entredentes. — Obrigada, — eu sussurrei. Não gostava que ela estivesse com raiva de mim, mas preferia a raiva dela à morte. * A arena não estava lotada. Presumi que a palavra ainda não havia viajado por todo o submundo. Estava ocupada, no entanto, e meu corpo foi empurrado quando entrei pelas grandes portas de aço. Assim que a multidão empolgada percebeu que eu estava lá, um silêncio caiu sobre a sala e um caminho claro foi feito. Eu o segui no meio da arena. Shadow estava no centro da gaiola, uma expressão sombria e tempestuosa em seu rosto, um chicote longo pendurado em uma mão. Ele parecia o próprio diabo, vestido de preto, largas faixas de couro vermelho ao redor de ambos os pulsos, com olhos profundos e escuros como um poço sem fim. Com os ombros para trás, subi os degraus e entrei na gaiola bem iluminada. Ele rolou o pescoço quando me aproximei da parede da corrente que ele estava mais próximo. Não importava de que lado da gaiola ele escolhesse, a multidão teria uma visão desafogada do meu corpo e rosto enquanto o chicote açoitasse minha pele. Olhando para as vigas acima, encontrei facilmente Kingsley observando com fascinação doentia. Os soldados que estavam ao seu redor pareciam igualmente empolgados. Eu sorri, os músculos do meu rosto tremendo com o gesto desconhecido. Os rostos animados dos soldados ficaram chocados, e meu pai franziu a testa. Gadget deu um passo à frente e, através de um alto-falante, falou com a multidão. — A garota foi acusada de matar dois cidadãos do submundo sem a permissão do rei. Ela ficará nua e será chicoteada dez vezes. Que isso seja uma lição para todos: a morte é tolerável, mas somente se sancionada pelo rei. Ele é nosso líder; ele é a lei. Agradecemos ao nosso rei. Houve um baque universal, pois todas as pessoas na sala batiam com o punho no peito como um símbolo de gratidão e respeito ao rei sempre poderoso. Fiquei quieta, assistindo Kingsley, que sorria para mim como uma criança mimada que acabara de conseguir o que queria. — Tire a túnica, — Gadget, o mestre da gaiola, ordenou com muito entusiasmo em seu tom. Evitei olhar para alguém, especialmente Shadow. Eu estava nervosa, e ver a excitação lasciva nas pessoas que me observavam seria minha ruína. Deslizando o nó na minha cintura livre, deixei o roupão cair e fiquei imensamente satisfeita com o suspiro que encheu a multidão. Regan se superou. Com uma coleção de pincéis, ela pintou meu corpo inteiro, deixando minhas costas expostas, e a habitual máscara de carvão preto esfumaçada ao redor dos meus olhos estava no lugar. Da clavícula para baixo, eu estava de vermelho, com redemoinhos de azul, amarelo e branco, que representavam os diferentes setores do submundo. Eu não queria começar a rebelião; eu só queria manter minha cabeça baixa, trabalhar duro e lutar mais, aproveitando ao máximo uma vida de merda em um mundo de merda. O fato de parecer vestida, completamente nua, me deu a confiança de que eu precisava para me manter alta e orgulhosa. Eu esperava que a mensagem que a pintura de Regan estivesse tentando transmitir fosse perdida na multidão e, principalmente, em Kingsley. — Inteligente, — veio a voz baixa e grave de Shadow por cima do meu ombro. Ele estava muito perto, e isso deu arrepios na minha pele quando o calor de seu corpo soprou no meu. — Linda, — ele então sussurrou, o som nada mais do que uma lufada de ar de seus lábios. — Dez chicotadas, — ele anunciou com uma voz estrondosa, afastando-se para tomar seu lugar. Estendi a mão e passei meus dedos ao redor do fio, meu olhar focado em Kingsley. Ele me veria chicoteada, mas não ouviria a dor que desejava ouvir derramar dos meus lábios. Eu não daria essa satisfação a ele. Ouvi o movimento do chicote antes que atingisse minha pele. O primeiro chicote era sempre o mais difícil, mas Shadow de alguma forma conseguiu me avisar com o som curto e insignificante pouco antes do chicote beijar minha carne. — 1! — A multidão gritou. Eu os ignorei e me permiti afundar em um lugar onde eu era capaz de ignorar a dor também. Ainda estava lá, mas estava longe e tolerável. Cada chicotada era uma fatia quente na minha pele que me lembrava porque eu odiava o homem que estava sentado em suas alturas acima de mim. A cada batida, eu lembrava do meu propósito. Ele tentou me fazer nada; em vez disso, ele me transformou em algo que ele nunca poderia imaginar. Eu estava encarnada pela ira e, um dia, em breve, entregaria seu castigo. Na chicotada número cinco, eu olhei rapidamente para a multidão e percebi que nem todos estavam contando. Alguns mantiveram os lábios pressionados, com olhares de pena e desafio em suas feições. Quando realmente olhei para os rostos diante de mim, ficou claro que havia mais silêncio do que contagem. O submundo não era imune à mão vingativa de Kingsley, e nesta sala havia dezenas de pessoas que não estavam dispostas a jogar seus jogos, como Regan havia dito. Às dez, a sala ficou em silêncio. Tentei remover minhas mãos do arame, mas elas estavam enroladas com tanta força que não consegui desenrolá-las. Kingsley não estava tão poderoso e orgulhoso agora, ele estava furioso, e quando ele se levantou e saiu correndo da arena, eu sorri novamente. A multidão diretamente na minha frente se mexeu nervosamente. — Voltem ao trabalho, todos vocês. — A voz de Shadow não era alta, mas seu comando foi ouvido até o fundo da sala, que rapidamente começou a esvaziar. Quando Gadget chegou muito perto de mim, eu assobiei, pronta para atacar e me defender, se eu pudesse afrouxar meu aperto do fio. — Vou remover todos os dedos que você colocar nela,— Shadow rosnou. Gadget recuou rapidamente, os olhos arregalados de choque e medo. Shadow nunca fez uma ameaça que ele não pudesse cumprir, e não havia nada que ele não pudesse fazer. Então Shadow estava atrás de mim, suas mãos grandes sobre as minhas, arrancando meus dedos do arame. O sangue correu rapidamente. — Isso fez com que você se agarrasse — ele explicou calmamente enquanto abaixava minhas mãos, esfregando meus dedos. Eu queria me afastar de seu toque, mas quando o sangue voltou às minhas extremidades, a dor era imensa e a massagem suave ajudou a acalmar apenas uma das minhas muitas dores. Minhas costas estavam pegando fogo, e eu temia colocar o roupão de volta, mas não havia nenhum maneira no mundo de estar andando pelo submundo assim. Shadow já o havia retirado do chão e me ajudou a deslizar meus braços nas mangas compridas. — Por quê? — Eu sussurrei, confusa pela maneira como ele parecia querer cuidar de mim. — Eu não sei, — ele confessou calmamente. Embora não fosse uma explicação, era a honestidade, o que eu cobiçava acima de tudo. Com um aceno de aceitação, saí da gaiola e me afastei. Minha cabeça ainda estava erguida, meu orgulho intacto e um pouco mais de força estava ligada à determinação que eu já carregava. Chicotes foram feitos para derrubar uma pessoa, mas no meu caso, eles só me construíram. SHADOW — Você a quer. — Não era uma pergunta. Não demorou muito tempo para que rumores de minhas inclinações possessivas em relação à garota chegassem a Kingsley. Ele estava sentado atrás da mesa, uma mão apoiada no topo arranhado e amassado, um canivete girando entre os dedos. Sua postura era de fácil indiferença, mas eu sabia que havia morte e raiva queimando sob a fachada. Encostado na parede, dei de ombros, meus braços cruzados sobre o peito. Não havia motivo para discutir, porque a simples verdade do problema era que eu a queria. Eu poderia continuar negando, mas não estava enganando ninguém, nem eu mesmo. — Sua regra de não tocar só se aplica àqueles que ela não quer que toquem nela. — Você está transando com ela? — Ele perguntou com sutileza zero. — Ainda não. — Ela não é fixa e você também não. Certifique-se de envolver seu pau antes de molhá-lo. Ele enfiou a mão embaixo da mesa e tirou uma caixa de preservativos, jogando-os pelo quarto. Eu os peguei com bastante facilidade e olhei para a caixa inócua. Os preservativos eram como ouro premiado. Uma caixa inteira me traria facilmente um comércio de armas... talvez até carne suficiente para durar o próximo mês. Eu já tinha duas caixas debaixo da minha cama; eu estava dormindo em uma mina de ouro virtual. — Tenho certeza que apenas um daria, — murmurei, imaginando se o Rei esperava que eu usasse todos eles em Nada. — Você nunca quis nada ou ninguém antes, — ele me encarou com um olhar conhecedor. — Se ela é parecida com a mãe, apenas uma não serve. E não tenho dúvida de que sua obsessão doentia precisará de mais de uma foda antes que ela saia do seu sistema. Vamos torcer para que ela goste de conversar no quarto, e possamos descobrir quem é o traidor rebelde aqui embaixo. Não fiquei surpreso com a maneira rude como o homem se referia à filha, sabia que ele a detestava com cada grama de seu ser, mas uma parte de mim queria pegar minha faca e afundá-la profundamente em seu intestino por seu desrespeito. Como um pai poderia detestar sua própria carne e sangue? — Você não acha que ela é mais a espiã rebelde? — Claro que não é ela. Ela não tem tempo, recursos ou conhecimento especializado, mas tenho certeza que ela sabe quem é. Ele esfaqueou a faca na mesa de madeira e olhou para mim. Era para me intimidar, mas não o fez. Por mais que eu respeitasse o que Kingsley havia conseguido no submundo, ele era apenas um homem que, por enquanto, possuía todas as cartas. O fato é que havia muitos outros homens que poderiam tomar o seu lugar e, eventualmente, alguém o faria. — Tenho certeza de que essa pequena exibição esta noite não foi ideia dela. Eu ouvi rumores sobre a loira que ela gosta de passar um tempo; ela é quieta, gosta de assistir. Ela é muito observadora e acho que ela está manipulando a garota. Discordei sobre o golpe na inteligência de Nada, mas concordo que Regan era uma entidade incomum, uma que nunca havia considerado como um elo com os rebeldes antes de me aproximar de Nada. Ao aceno de despedida de Kingsley, me virei e saí, a caixa de preservativos uma necessidade ardente em uma mão, enquanto a outra estava enrolada em um punho cerrado pronto para bater na primeira pessoa que quase me olhasse errado. Com o queixo erguido, desafiei todos os filhos da puta que passaram por mim a me desafiar. Apenas um deles, me olhe nos olhos e me desafie! Cheguei ao meu quarto muito cedo, e as poucas pessoas por quem eu passara nos corredores estreitos eram inteligentes o suficiente para manter seus olhos submissos. A tensão estava enrolada dentro de mim, como uma mola pronta para explodir. Destrancando os três cadeados na minha porta que me separavam deles, empurrei o aço pesado e a fechei atrás de mim. O quarto estava escuro, tão escuro que você não conseguia ver sua mão na frente do seu rosto. O tipo de escuridão que parecia sufocante e espessa, como uma entidade viva que tenta espremer a sanidade de você. Essa loucura aprisionada fazia parte do submundo; era um lugar destinado a te isolar. A escuridão foi feita para quebrar você. Muitos sucumbiram, tirando a própria vida semanas após essa nova existência. Outros viviam, apenas tolerando as toneladas de terra acima de suas cabeças. Havia também os poucos que prosperavam, as pessoas que viviam acima do solo, mas em suas sombras turvas. Essas pessoas, como eu, abraçaram a porra da escuridão como um cobertor quente. Joguei a caixa de preservativos na direção da minha cama e peguei a velha mesa surrada que estava encostada na parede oposta. Minha mão pousou em uma caixa de fósforos que estava sempre sentada em um recanto na parede de pedra ao lado da mesa. Acendendo um fósforo, trouxe a chama bruxuleante para o pavio. Esta era a minha luz, uma chama dançante solitária que fazia meu quarto parecer menos vazio. Meu olhar se fixou no saco de pancadas pendurado no teto no centro da sala. Rolando meus ombros, dei um passo à frente e dei um soco, seguido por outro, depois outro. Logo, encontrei um ritmo constante, e o som dos meus punhos batendo contra a tela abafou o silêncio. Meu quarto era de bom tamanho; ironicamente, era maior do que a sala de estar em minha desculpa de um apartamento que eu havia alugado nos meus últimos meses de vida acima do solo. Uma das vantagens de ser o braço direito do cara número um. Eu tinha um único colchão apoiado em paletes de madeira velhas; minha fiel mesa de madeira que se inclinava pesadamente para o lado por causa de uma perna quebrada; uma cadeira de metal encostada na parede ao lado da mesa; meu saco de pancadas; e uma pilha de caixas. Caixas e caixas empilhadas do chão ao teto, cheias de coisas. Coisas, objetos materiais jogados fora pelo mundo acima, ainda que apreciados como ouro no submundo. Troquei a maioria, roubei alguns e recebi outros como pagamento por trabalhos estranhos que fiz. A maioria desses trabalhos envolvia usar meus punhos e não meu cérebro. Ocasionalmente, me pediam para consertar algo; meu conhecimento com ferramentas me ajudou a ganhar a reputação de homem capaz de consertar quase tudo. Por um breve momento, em outra vida e outro mundo, eu fui mecânico, encontrando calma sob o capô de antiguidades desbotadas, como Mustangs e Camaros. Eu nunca pensei que haveria um lugar no submundo para um homem que conhecia melhor um motor do que seu próprio corpo, mas, felizmente, descobri um novo conjunto de habilidades antes de ser jogado na Zona Selvagem,habilidades que envolviam mutilar e quebrar. Para sobreviver nas ruas do mundo acima, você precisava ser forte, física e emocionalmente. Meus pais me amavam e protegiam a mim e a meu irmão o melhor que podiam, mas depois que meu irmão morreu em um acidente de caça, a dor deles tinha sido demais para suportar. Eu deixei o santuário de nossa casa ainda em pé nos arredores da cidade e fui para as ruas em ruínas da cidade de Nova York. A vida nas ruas me ensinou a lutar e me proteger. As lições que aprendi foram as razões pelas quais ainda estava vivo. O mundo acima faria você acreditar que o mundo deles era de segurança e tranquilidade, mas nos bolsos sombreados de arranha-céus de concreto parcialmente demolidos, havia um mal que rivalizava com o Submundo. Os soldados patrulhavam regularmente as ruas da cidade, o que apenas fazia com que os criminosos que ainda espreitavam ali se escondessem mais profundamente na infraestrutura quebrada. Aqueles que foram pegos, como ratos encurralados em um labirinto, foram jogados no lixo, em um lugar fora da vista e muito fora da mente. O mundo acima não estava interessado em reabilitação; eles só queriam coisas arrumadas e o lixo descartado. Nem tudo era pacífico na terra acima; o descontentamento levou a levantes e levantes levaram ao derramamento de sangue. Os rebeldes estavam se movendo como uma brisa sussurrada. Eles tinham pessoas abaixo do solo, pessoas acima do solo, e era apenas uma questão de tempo até que eles fizessem a mudança e revirassem a vida de todos nós. Isso é o que eu mais temia, mudar. Eu encontrei meu lugar neste mundo e, mesmo que tenha havido dias em que o questionava, era meu. Eu lutei por isso, matei por isso e faria qualquer coisa para mantê-lo. Eventualmente, meus socos acabaram, e respirando com dificuldade, o suor escorrendo pelo meu corpo, me afastei e peguei uma garrafa de água debaixo da minha cama. Na maioria das vezes, fervíamos nossa água aqui embaixo, mas ocasionalmente havia caixotes dela caídos na Zona Selvagem. Bebendo profundamente, devorei a coisa toda antes de jogar a garrafa vazia em uma caixa no canto. Eles serão recarregados com água fervida em breve. Levantando a vela do pequeno prato quebrado em que estava, virei o prato de cerâmica lascada e meu coração torceu de dor. Por baixo do prato, tinha colocado uma fotografia. Um pequeno lembrete de algo que deixei para trás no mundo acima, algo de bom. A delicada mulher loira era linda, seus olhos cheios de inocência, seu sorriso sedutor prometendo paixão. Ela já foi minha uma vez, mas eu a perdi, a deixei para trás na luz. Alguém tentou tocá-la, um pedaço de escória viciado em NIM, ousou tentar pegar o que era meu. Eu não demonstrei piedade; bati naquele filho da puta até que restava apenas uma pilha de carne quebrada e ensanguentada. Meus sonhos foram atormentados, não com a minha primeira morte, mas com as lágrimas no rosto de Alanis quando fui levado. Um dedo traçou reverentemente suas características perfeitas, e eu me vi pensando como ela era diferente de Nada. Você simplesmente não conseguiria mais opostas. Nada era sombria e perigosa, um corpo construído para sexo e pecado, olhos escuros que atravessavam a porra da sua pele e afundavam profundamente em sua alma, e lábios que raramente encontravam sorrisos e muito menos risadas. Alanis era pálida em feições, cabelos dourados na cintura, olhos azuis suaves, um sorriso provocante e um corpo curvilíneo que derretia contra o meu. A palavra nada significava nada. Alanis significava precioso. Elas eram duas mulheres completamente diferentes em mundos completamente diferentes. Alanis significou tudo para mim, Nada, é ainda algo primitivo e frenético torcido sob a superfície da minha pele para a garota. Uma batida suave na minha porta rompeu os pensamentos confusos, e eu recoloquei a vela em cima do prato antes de abrir apesar da barricada. A mulher que estava do outro lado da porta segurou-se com uma confiança que me irritou. Ela era a última prostituta de Kingsley e parecia se imaginar como uma rainha. Ela será substituída em breve. — O rei me enviou. Ele pensou que você pode precisar de mim. Talvez mais cedo ou mais tarde, pensei. Kingsley só compartilhava quando terminava de tocar. Olhei para Sonya, tentando encontrar algo que despertasse meu interesse. Cabelos castanhos escuros, oleosos por falta de lavagem, pendiam dos ombros. Seu corpo era magro, magro demais, ossos projetando-se em seus quadris e ombros. Ela usava uma blusa azul clara, sem sutiã, os mamilos claramente visíveis sob o tecido puído. Em volta dos quadris, ela usava uma saia justa que não cobria a bunda, as bochechas penduradas logo abaixo. Eu sabia que jogo Kingsley estava jogando; ele queria ver se meu desejo pela garota superava minha responsabilidade por ele. Sonya era mais do que um presente, ela era um teste, e de repente a fúria que eu tinha sufocado com o saco de pancadas voltou como um vulcão borbulhando de inquietação. — O que há de errado, Shadow? Minha boceta não é boa o suficiente para você? Puxei a prostituta para o meu quarto e bati a porta com força. Eu gostei da ansiedade que agora preenchia suas feições. Sonya era uma vadia esperta que achava que era algo muito mais importante do que realmente era. Estava na hora de lembrá-la de seu lugar neste mundo. Lentamente, puxei meu cinto grosso de couro, antes de deslizar o zíper para baixo na minha calça. Quando ela caiu de joelhos, a parei e, com movimentos sem pressa, enrolei o cinto em volta do pescoço magro. A ansiedade se foi, o terror agora corria por suas veias, e isso ajudou a encher o sangue no meu pau. Puxei o cinto com força, não muito forte para que ela não pudesse respirar, mas firme o suficiente para que ela soubesse quem estava no comando, então a empurrei de joelhos. — É melhor encher sua boca de puta, porque nada vale apenas sair dela. Enfiei meu pau meio duro em sua boca, e ela apertou os lábios em torno dele e começou a chupar. Ela dominou a arte de um boquete, e ainda assim, como os limites quentes e escorregadios de sua boca me levavam profundamente ao fundo de sua garganta, meu pau permaneceu apenas semi interessado. Eu sabia qual era o problema; ela não era morena o suficiente, não era forte o suficiente. Ela era apenas uma prostituta avariada, e ela não era Nada. Segurei o cinto com mais força e apreciei o medo em seus olhos, o que ajudou um pouco, e meu pau pulou, finalmente mostrando alguns sinais de vida. Com cada impulso áspero dos meus quadris, imaginava Nada de joelhos diante de mim. não ficaria assustada; seus olhos se encheriam de desafio antes que ela me temesse. Apenas o pensamento daquelas intensas orbes escuras me observando enquanto eu fodia sua boca me ajudou a aproveitar o momento. Usei minha mão livre para puxar o cabelo de Sonya, puxando sua cabeça para trás e permitindo que meu pau deslizasse mais fundo, fazendo com que a mulher vomitasse. Eu apenas me afastei um pouco antes de voltar para sua boca, que agora estava pingando saliva. Minhas bolas se apertaram quando empurrei uma última vez e esvaziei minha semente no fundo da garganta de Sonya. Assim que terminei, me retirei e a observei quase sufocando. Encontrando uma camisa velha no chão, limpei meu pau. — Nós terminamos aqui. Foda-se, e se você valoriza sua vida, não volte mais. Tirei o cinto descuidadamente e enfiei-o de volta nas calças. Limpando a baba e a minha porra do queixo, Sonya se levantou e tropeçou em direção à porta, saindo sem uma palavra ou um olhar para trás. Ela voltaria correndo para Kingsley e contaria o que aconteceu. Eu passei no teste. Eu ganhei este jogo... e, no entanto, de alguma forma, senti como se tivesse perdido. Eu me inclinei ao capricho do Rei. Ele provou que me possuía. Pela primeira vez na minhaexistência no submundo, percebi que não queria pertencer. NADA Fazia uma semana desde a luta com Zeb e eu venci simplesmente. Eu nunca lutei com um homem no ringue, e levei um tempo para encontrar meu ritmo, uma maneira de absorver os socos mais brutais e poderosos. No final, lutei sujo. Zeb ficou arrogante, encontrando prazer doentio no sangue que escorria do meu corpo. Nesse momento, ele garantiu a si mesmo que havia vencido e, por uma fração de segundo, baixou a guarda. Com um bom chute forte na virilha, ele caiu, depois um chute na cabeça o deixou frio. Zeb tinha procurado a carne macia nas minhas costas, ainda curando dos meus açoites, mas no final, minha resistência e perseverança me viram ganhar outra vitória. Agora, eu estava estendida na minha cama, meu corpo uma exibição colorida de hematomas pretos, roxos e amarelos. Meu lábio rachado estava quase cicatrizado, ajudava não sorrir muito, e pude ver pelo meu olho direito inchado novamente. Costelas que queimavam toda vez que me mudava era outra história; elas estavam definitivamente machucadas, possivelmente trincadas. A dor era intensa, mas a coisa sobre dor, me lembrou que eu estava viva. Eu gostava da dor. Eu me alimentava como um viciado doente ansiando por outro hit. Toda vez que minha mente ameaçava me arrastar para a escuridão, eu me movia, e meu corpo gritava em protesto, e eu me sentia viva pra caralho. Regan sentou no chão ao meu lado, costurando uma roupa de alguma descrição. Algo branco, tão obviamente para um dos inocentes. Ela estava falando sobre o mundo acima, uma história sobre um rio que serpenteava pelas montanhas, caindo de alturas surpreendentes em uma piscina aberta. A história que ela recitou veio de um revendedor de NIM drogado, então questionei sua autenticidade, mas no final não me importei. Eu ainda adorava sentar e ouvir, absorvendo as palavras de Regan e catalogando-as sem um lugar para mais tarde. Minha mão brincava à toa com uma das muitas tranças que caíam na cintura dela. Fiquei maravilhada com o seu longo cabelo, acariciando as fibras loiras entre os dedos, passando a fina trança entre o polegar e o indicador. Embora eu não fosse uma pessoa carinhosa ou afetuosa, tocar em certas coisas me absorveu e me ancorou. O toque era real, o som, o cheiro e o gosto podiam ser mal interpretados, mas o toque não. Seja macio ou duro, áspero ou liso, úmido ou seco, o toque nunca mentia. — Kitten descreveu como um lugar de verde, branco e azul ao mesmo tempo. O cheiro é como a terra no ponto mais profundo do submundo, mas fresco e limpo. Eu não conseguia imaginar, mas tentei, e permiti que as palavras de Regan me trouxessem a paz pela qual lutava desde que Kingsley me açoitou publicamente. Shadow foi quem segurou o chicote, mas foi Kingsley quem o comandou, então ele poderia muito bem ter segurado a merda também. Shadow não falou uma palavra comigo desde o castigo. Ele esteve por perto, mas manteve distância, observando das sombras que eram como um abraço de amante para ele. Eu não tinha mais certeza de como me sentia por ele. Seus olhos continham desejo e ódio, seu corpo parecia enrolado com a necessidade, mas eu não tinha certeza se era uma necessidade de machucar ou prazer. Ele me puniu e me envergonhou publicamente, e, embora o chicote tivesse açoitado meu corpo, eu sabia que havia uma profunda culpa e raiva sob as camadas de desapego que ele tentou esconder. Suspirando, afastei todos os pensamentos do homem confuso e foquei na voz de Regan. Como um computador vasculhando informações, meu cérebro moveu a floresta e a cachoeira para a parte do meu cérebro que lembraria para sempre a visão. Meu cérebro era um enigma para mim. Eu lembrei das coisas. Tudo. Dejohn chamou isso de memória eidética, alguém que se lembrava das coisas claramente, com apenas uma pequena quantidade de exposição. Ele me alertou para esconder a habilidade, dizendo que eu seria morta por uma mente tão fascinante. Não achei fascinante, foi exatamente do jeito que fui feita, mas poderia me colocar em um perigo ainda maior. — Toc, toc, — veio a voz suave de Dejohn na minha porta. Olhando por cima do ombro, notei seus braços completos e tentei sair cautelosamente da minha cama. — Dia de despejo, — sussurrei com reverência. Uma vez, a cada três meses, o mundo acima reunia todo o lixo indesejado e o jogava na Zona Selvagem. Alguém com uma voz lá em cima continuou desafiando os políticos pelos direitos dos inocentes presos abaixo. Em uma demonstração incomum de compaixão, mercadorias indesejadas foram sistematicamente entregues a nós, juntamente com alimentos conservados armazenados em jarros, às vezes até carne fresca. O lixo de uma pessoa era o tesouro de outra pessoa. Era um ditado que Dejohn me ensinara quando ainda era jovem demais para entender. Eu certamente entendia agora enquanto me concentrava nos objetos em seus braços com olhos gananciosos. — Eles precisam ir para a biblioteca quando você terminar, — ele murmurou. Ele não precisava me lembrar; eu sempre levava os livros para a grande sala de pedra que havia sido transformada em uma espécie de biblioteca. Eu não precisava mantê-los; eles ficaram comigo muito tempo depois que se foram, na minha mente como fotos perfeitas que nunca desapareceriam. Dejohn entregou a Regan uma sacola cheia de roupas velhas e ela gritou de alegria. — Vou mostrar ao George, — disse ela animadamente, saindo correndo do meu quarto. Ela e George encontraram uma amizade rápida e fácil nas duas semanas em que eram colegas de quarto. Não era um relacionamento sexual, mas mais um pai e filha, nascidos de respeito e confiança, os quais eram escassos no submundo. — Como estão suas costelas? — Perguntou Dejohn. Eu já estava sentada de pernas cruzadas na minha cama com o primeiro livro aberto. Tracei meus dedos sobre o título do livro, Roses Are Red12. Dentro havia fotos das flores mais bonitas que eu já tinha visto. — Rosas, — murmurei, desejando poder alcançar através das páginas e apenas tocar uma. — Costelas, — Dejohn grunhiu da porta. — Tudo bem, curando. — Yuh, uma piscina profunda de informações, Nada. Eu olhei para cima e sorri. Era uma sensação estranha no meu rosto, e resisti à tentação de levar os dedos aos lábios e tocar a sensação incomum. O sorriso de resposta no rosto de Dejohn foi impagável. Todo o seu comportamento mudou; seus olhos duros se suavizaram e seu sorriso gentil era calmo e tranquilizador. — Yuh, tem Regan ou mi teremos que enrolar as bandagens após o banho.13 A porta se fechou com um clique silencioso, e eu me perdi no livro. Rosas cor de rosa, rosas vermelhas, rosas brancas, rosas azuis, até rosas negras. Elas eram flores notáveis com pétalas que se abraçavam em um abraço amoroso. Às vezes, elas eram enroladas, quase de forma protetora, e outras vezes elas se abriam para o mundo, um exemplo corado de orgulho gentil e um foda-se com qualquer um que ousasse 12 Rosas são vermelhas 13 Novamente com o inglês quebrado. Regan ou nós teremos que re-enrolar as bandagens após o banho. insultar sua beleza. Suas hastes estavam alinhadas com espinhos cruéis, prontos para esfaquear a mão que ousaria tocá-los. Elas eram brutais, mas bonitas. Quando cheguei ao centro do livro, algo escapou das páginas e caiu no meu colo. Eu olhei para ele por um longo momento antes de pegá-lo suavemente e elevá-lo em direção à luz para observar melhor minha descoberta. Com um dedo hesitante, toquei-o. Estava seco, como uma folha de papel frágil e uma cor vermelha suja que me lembrava sangue velho. O caule era mais de um cinza empoeirado do que verde, mas continha um espinho formidável. Uma rosa, uma única rosa vermelha. Tinha sido achatada entre as páginas do livro, preservada e aindanão. Estava claramente morta e, no entanto, o vermelho nas pétalas secas desafiava o tempo e ainda mantinha seu tom. Fiquei maravilhada com o pequeno objeto, querendo desesperadamente tocá-lo, mas com tanto medo ao mesmo tempo. A coisa frágil, ainda que desafiadora, me lembrou de mim mesma, suave e brutal. Era como se eu estivesse me vendo claramente pela primeira vez, entendendo minha necessidade de paz e ternura, mas a guerreira em mim treinou e estava pronta para a batalha. A rosa simbolizava tudo o que eu nunca soube que seria. Eu procurei no meu quarto por algo em que pudesse guardar a flor para guardar em segurança, mas não consegui. Olhando para o livro, suspirei e deslizei a rosa de volta para suas páginas. Acho que esse era um livro que não chegaria à biblioteca. — O que você tem aí? Eu nem tinha ouvido a porta se abrir, e me xinguei silenciosamente por ter me perdido tanto em meus pensamentos. A voz grave de Shadow tomou conta de mim como um cobertor familiar, quente e seguro. Quando eu comecei a relacionar segurança a esse homem? Quando olhei para ele com irritação, não havia nada de quente ou seguro no olhar duro que ele me deu em troca. — Faz tempo que não o vejo, Shadow — murmurei, jogando o livro de lado com indiferença. Não gostava que as pessoas soubessem que significava algo para mim. No momento em que alguém via esse olhar, eles tentariam tirá-lo de você. — Tenho uma retirada. Pensei que você gostaria de se juntar a mim. — Está no meio do dia, — observei, a curiosidade repentinamente forçando todos os pensamentos da rosa a desaparecerem. — Sim, você vem? Seus olhos permaneceram por apenas um momento no livro ao meu lado, e antes que eu tivesse chance de responder, ele se foi. Com apenas uma leve careta, levantei-me e reposicionei o livro de rosas debaixo do colchão, deixando os outros dois livros que ainda não tinha lido sentados em cima. Então peguei minha jaqueta e tranquei minha porta antes de virar na direção em que Shadow tinha desaparecido. Surpreendentemente, ele parou para me esperar na porta que dava para a arena aberta que, a essa hora do dia, estava cheia de atividades. As pessoas estavam vendendo seus produtos e oferecendo comércio. Com o despejo de hoje, haveria novos produtos e Kingsley trocaria seus lacaios por qualquer coisa que pudesse adicionar poder ao seu reino em crescimento contínuo. Segui Shadow para longe do caos movimentado, e subimos cada vez mais para o mundo cavernoso. — Homem ou mulher? — Eu perguntei. — Nenhuma ideia. — Eles estão lá desde o amanhecer? — Não tenho ideia. — Quem o chamou? — Nenhuma ideia. — Huh, o garotinho do papai, fazendo o que ele disse. Sua velocidade não me surpreendeu, mas o veneno nos olhos, sim. De repente, eu estava presa na parede, minhas costelas uivando de dor, meu corpo abusado e curando sentindo cada centímetro da parede dura nas minhas costas e o homem ainda mais duro na minha frente. Com essa dor, eu ainda consegui deslizar meus dedos ao redor do punho da minha faca, mas algo me fez fazer uma pausa. Não a soltei da bainha, mas a mantive ao alcance. — Eu não sou a puta de ninguém, — ele rosnou. De alguma forma, consegui levantar uma sobrancelha através da névoa da dor e presenteei-o com minha melhor expressão sardônica. — Você é o braço direito de Kingsley, seu próprio assassino, não é? Shadow parecia lutar por algo a dizer, mas ele sabia que eu estava certa, por mais que ele evidentemente não quisesse acreditar. Tão rápido quanto a raiva o engolfou, parecia sangrar de seu corpo até que ele suavizou seu domínio sobre mim. Olhos escuros, muito parecidos com os meus, deslizaram ao redor do meu rosto, procurando, sondando e, eventualmente, suavizando também. Seu olhar caiu para a minha mão que repousava na minha faca, antes de voltar para o meu rosto. — Você está machucada, — ele murmurou. — Eu não estou, — argumentei. Com isso, ele pressionou seu corpo com força contra o meu, e eu assobiei quando minhas costelas traíram minha compostura. Quando ele levantou a mão para empurrar contra o meu lado, meu corpo ficou tenso, pronto para o surto de dor. — Mentirosa, — ele sussurrou no meu ouvido. A mão que estava precariamente perto das minhas costelas maltratadas era tão quente e gentil que eu não pude olhar de volta para o homem cujo inesperado toque suave estava completamente em guerra com o homem duro e perigoso que eu conhecia. — Você precisa estar melhor preparada da próxima vez. Haverá outra luta em duas semanas. Scotty e Timber estão espumando pela boca para tentar. Eu me perguntei brevemente porque ele estava me dizendo isso; Kingsley preferia esperar até o último minuto, então eu tinha menos tempo para me preparar. A indignação que ele sugeriu que eu não estivesse preparada para minha última luta durou apenas alguns segundos antes de admitir que ele estava certo. Eu fui arrogante; muitas vitórias me deixaram arrogante, e eu assumi que derrubar Zeb não seria diferente de enfrentar uma mulher grande e magrinha. Eu estava errada. — Espero que o Timber tenha a primeira chance no ringue, — eu finalmente admiti. — Por quê? — Porque ele quer brigar comigo e me foder ao mesmo tempo. Ele é o tipo de homem que cavaria uma faca entre as minhas omoplatas enquanto me foderia de joelhos. Eu estava morrendo de vontade de tirá- lo. Shadow respirou fundo; a raiva enchendo aqueles olhos escuros me cativou. — Ele tentou alguma coisa? — Ele estava lá naquela noite, — murmurei, estudando seu rosto, tentando afastar as camadas de raiva, mágoa, traição e luxúria, em um esforço para descobrir exatamente quem era esse homem. — Ele não participou, mas começou a assistir. Ele foi embora antes que você chegasse lá. Demorou um longo momento até Shadow controlar a fúria que fez seu corpo vibrar com descontentamento. O tempo todo eu o observei, tentando vê-lo, o verdadeiro ele. Minha mão deslizou para longe da minha faca e, embora ele me segurasse contra a parede, contida e vulnerável, eu não sentia nenhum medo. Olhos escuros e tempestuosos me olharam até um sorriso aparecer no canto de sua boca. — Você não pode me ver e isso te irrita, certo? Ele disse depois de um momento de silêncio. Ele parecia orgulhoso. Seu sorriso cresceu, e eu me inclinei para mais perto, olhando para o côncavo leve em cada bochecha que sugeria covinhas. Como alguém no submundo poderia ter covinhas? Porque eles vieram de uma vida anterior, uma vida em que o homem realmente sorria e ria, uma vida acima do solo. O pensamento bateu em mim e quase me deixou sem palavras. Shadow já havia sido outro homem, um homem bom, um homem que sorriu e provavelmente gargalhou. — Eu te vejo. Seu sorriso presunçoso desapareceu. — O que você vê? — Eu vejo confusão. Você não entende o que sente por mim, mas lembra-se do outro mundo. Você provavelmente sentiu por outra garota, mas eu não sou como ela, sou? Você não entende porquê sente algo diferente de ódio por mim. Ele voltou um pouco, o suficiente para olhar para baixo e realmente me ver. — Você também tem medo disso. Ter algo neste mundo significa que você tem algo a perder. Minha mão se levantou por vontade própria, meus dedos praticamente pulsando com a necessidade de tocá-lo. Muito lentamente, minha ponta do dedo se moveu para sua mandíbula, e eu segui a carícia simples e leve como uma pena em sua bochecha. A barba por baixo do meu dedo era irregular e áspera, mas quando eu movi meu dedo mais alto, logo abaixo dos olhos chocados com aquelas linhas suaves, suavizou. Fiquei maravilhada que uma única polegada desse homem pudesse ser tão suave. Passei o dedo ao redor do olho dele, desci pela mandíbula e por cima do pomo de Adão na garganta, que balançava enquanto ele engolia. Sua pele estava quente e a sensação dele sobmeus dedos quase elétrica. Shadow abruptamente se afastou e continuou se movendo até que suas costas pousaram na parede de pedra atrás dele. Meu braço abaixou para se apoiar confortavelmente no punho da minha faca. Com os braços grossos cruzados sobre o peito largo em uma postura desafiadora, ele olhou para mim. Foi a primeira vez que fiquei diante de Shadow e pude observá-lo abertamente. Seus braços estavam enfeitados com tatuagens, dos ombros às articulações. Mais se espreitava por baixo da camiseta preta, e me perguntei se elas estendiam no estômago e nas pernas. Não havia rima ou razão para exibir a arte; algumas fotos eram de caveiras, uma claramente feminina e desenhada entre as pétalas de uma rosa negra, outra de um lobo com saliva pingando de seus caninos, outra de uma árvore, com as raízes cavando profundamente no solo. Uma curiosa mistura de vida e morte pintada por todo o corpo. — Gosta do que está vendo? — Ele perguntou quando meu olhar se voltou para seus olhos. — Às vezes, — confessei, e minha honestidade claramente o surpreendeu. — Novata no buraco, e ouvi dizer que ela é uma beleza! Veio a voz alta e estridente de Scotty quando ele apareceu no final do corredor. — Eu recebo as primeiras impressões preenchendo seus buracos, — comentou Timber, brutalmente de algum lugar atrás dele. — Vocês não poderiam encher uma mão, com seus paus tão pequenos, — riu outra voz familiar mais para trás. Ginger, o soldado ruivo de olhos maníacos, havia se juntado à festa da coleta. Que maneira de ser recebido no submundo. — Eu pensei que você deveria estar aqui para esta coleta. Shadow murmurou quando ele saiu da alcova escura em que se encontrava. Fiquei sem palavras. Ele sabia. Ele sabia que o novo preso era uma mulher e sabia que a equipe da coleção era do tipo que mutilava e desmanchava antes que ela tivesse uma chance, e ele me trouxe para protegê-la. — Oh, Shadow, você me assustou, cara! — Scotty exclamou, segurando a faca que estava no coldre no quadril. — Guarde isso antes de cortar o pau minúsculo de Timber, — ele rosnou, enquanto Scotty e Ginger começaram a rir. Fiquei um pouco mais alta e escondi os sinais de dor que meu corpo ainda estava carregando. Avançando, tornei minha presença conhecida. O riso dos homens parou imediatamente. — Que porra é essa? Você está deixando seu pau molhado aqui no ar fresco? — Timber murmurou. Shadow não falou; ele reagiu. Era o que Shadow fazia de melhor. Ele agarrou Timber ao redor da garganta e apertou; o arregalar dos profundos olhos verdes de Timber provava que o aperto de Shadow era tão mortal quanto ele prometia. — Você tem um problema com isso, Timber? Ouvi dizer que você prefere assistir. Isso é por que seu pau é tão pequeno? Scotty riu nervosamente. Eu, no entanto, permaneci imóvel e vigilante, imaginando para onde ele estava indo com isso. — Vou lhe contar um pequeno segredo, Timber. O homem sob seu aperto brutal borbulhou. — Vê aquela garota por cima do meu ombro? Aquela mulher? O nome dela é Nada e ela é minha. Se você, ou qualquer outra pessoa, ao menos tocar um fio de cabelo na cabeça dela fora do ringue, você se tornará meu, e não em um bom momento, chupando meu pau de qualquer forma. Você está me ouvindo, Timber? MINHA. A palavra caiu em volta da minha cabeça e eu não tinha certeza se ela pertencia a um lugar onde eu mantinha as coisas queridas, ou em um lugar que existia apenas para vingança e morte. — Deixe-me esclarecer: você vai tocá-la fora da gaiola, e eu vou te matar. Eu tenho a porra da bênção de Kingsley, então não se preocupe em fugir para derramar as notícias e lamber o esperma no final de seu pau molhado, como a boa putinha que você é. Eu quase ri, uma necessidade maníaca de sorrir me fez abaixar a cabeça e esfregar o rosto em um esforço para afastá-lo. Eu não tinha certeza de gostar da afirmação de Shadow, ou do fato de meu pai ter dado sua bênção, mas a maneira como ele falou com Timber me encheu de alegria total. — Tudo bem, agora que acertamos as coisas, vamos pegar a novata e, Timber? Shadow soltou o braço dele e respirou fundo enquanto esfregava as marcas vermelhas raivosas que já se instalavam na pele do pescoço. — A lei diz que você mantenha as mãos afastadas da novata até que ela encontre seu lugar. Se ela escolher o WhorePit, você poderá preencher quantos buracos dela quiser, mas até lá, tire as mãos. Shadow virou-se e, com um aceno de cabeça, sinalizou para que eu fosse na frente. E eu fiz sem questionar. O que quer que estivesse acontecendo comigo e Shadow, tê-lo nas minhas costas não me incomodava como costumava, e era uma visão maldita melhor do que ter os outros soldados lá. Talvez estivesse começando a confiar nele, ou talvez estivesse perdendo minha mente sempre amorosa. SHADOW Eu reagi apenas por instinto; um impulso primitivo e sedento de sangue para proteger o que era meu. Assim que Timber apareceu na minha linha de visão, uma imagem dele assistindo Nada, então com 16 anos, sendo brutalmente agredida invadiu minha mente, e eu vi uma névoa vermelha de fúria. Seu pescoço parecia tão frágil como um galho embaixo das minhas mãos, e a necessidade de espremer a vida dele era tão intensa que eu não consegui entender como eu recuei. Por uma fração de segundo, temi que Kingsley visse meu ataque a um de seus soldados como um ataque a ele pessoalmente, especialmente se esse ato fosse sobre a garota. Mas no final, não se importaria com um pouco de marcação de território. A garota, Nada! Eu a segui enquanto ela percorria o labirinto de corredores que levavam à Zona Selvagem. Ela quase acertou na mosca quando me acusou de estar assustado, mas eu não estava assustado. Eu estava aterrorizado. Se o Rei tivesse alguma indicação do quanto eu a queria, ele a levaria embora. Eu já havia perdido muito nesta vida e tinha certeza de que mais um golpe me quebraria. Meu medo era um passageiro no banco de trás do meu desejo. Eu já estava preso e amarrado, ela tinha me apanhado e nem estava tentando. Eu não podia ignorar os sentimentos, a atração por ela era inconcebível e eu era um filho da puta egoísta. Porque eu a queria, precisava transar com ela. Olhar em seus olhos quando gozasse. Estaria enterrado tão profundamente dentro dela que seríamos inseparáveis. Poder afastar sua pele e ver se havia alguma luz sob aquela escuridão. MINHA. Ela era tão minha que minhas mãos tremiam com o medo que o acompanhava. Eu cerrei meus punhos com força e desejei estar no meu quarto com meu saco de pancadas, para que eu pudesse afastar o pânico que havia em mim. Os três homens atrás de mim estavam andando em uma linha tênue. Uma palavra errada e eu desencadearia minha fúria neles, que se danem as consequências. Nada abriu a porta da Zona Selvagem e entrou na minha frente. Tive que me esconder embaixo do batente da porta, assim como os três homens atrás de mim, quando entramos na sala cavernosa que abrigava as gaiolas para os recém-chegados. Tivemos um despejo de comida e coisas esta manhã, mas você não saberia agora. As gaiolas, há poucas horas, estavam cheias de comida, água e porcaria que as pessoas acima não queriam mais. Eu bufei. Eles nos davam o lixo em um ato que consideravam altruísta e compassivo. Eram sobras, lixo que acumulamos como roedores selvagens. Agora, porém, todas as gaiolas estavam vazias. Eu parei e vi Nada enquanto ela se concentrava na única gaiola ocupada. Os soldados atrás de nós avançaram e ficaram ao meu lado, observando, curiosos sobre o recém-chegado que era claramente feminino. Foi por isso que trouxe Nada. Os soldados teriam usado e abusado da novata antes que ela tivesse uma chance. Todo recém- chegado deveria ter uma oportunidade, uma chance de provar que era útil, seja de costas ou de joelhos no WhorePit, ou outra habilidadeque eles aprenderam no mundo acima. Não recebemos muitas desistências femininas, mas quando recebemos, a escória do submundo sairia com força total, pronta para reivindicar alguém vulnerável. Na gaiola mais distante, apoiada no canto mal iluminado, havia uma mulher. Cabelos longos e escuros caíam ao redor do rosto, os joelhos enrolados no peito e os braços estavam bem presos ao redor de si mesma. Ela estava tentando se tornar pequena e insignificante. O fato é que uma nova mulher no submundo poderia ser tão pequena quanto ela queria, mas ela com certeza não era insignificante. Nada se moveu para pegar a chave na parede, mas Timber a pegou. Sua mão se moveu automaticamente para sua faca, e Ginger avançou para proteger Timber de sua ira. Dos três soldados, Scotty era o que tinha o cérebro. Ele ficou para trás, fora da linha de fogo. — Abra o portão, Timber, mas a garota entra primeiro, — murmurei, rapidamente difundindo o impasse. Merda o idiota ia se matar, o que eu realmente não me importava. O que eu realmente me preocupava era com o chicote que Nada receberia por fazer isso. O rosto de Timber passou do triunfo à decepção em um piscar de olhos, e com uma expressão de mau humor, deu um passo à frente e destrancou a gaiola. — Ei, pequeno rato, rato, rato, — provocou Timber. Eu assisti a mão de Nada flexionar o punho da faca, mas ela não a puxou. — Você encontrou um novo lar. Assim que a porta se abriu, Nada me deu um olhar rápido. Nos olhos dela havia uma pergunta: ela poderia confiar em mim para cobri- la? Ela se tornaria vulnerável ao ignorar os soldados atrás dela, todo seu foco na novata. Eu dei-lhe um aceno sutil antes dela entrar na gaiola. Minha aliança e lealdade sempre foram para um homem, Kingsley, mas sua filha havia deslizado sob minhas defesas, e havia algo que ela definitivamente poderia contar é que eu a protegeria. Ela fez uma pausa, como se estivesse se recompondo, antes de se abaixar na frente da mulher. Eu não pedi sua careta; a dor em seu corpo curativo tinha que ser substancial para provocar uma reação dela. — Ei, — ela sussurrou. — Meu nome é Nada. Estou aqui para garantir que você faça a transição para o submundo sem problemas. Eu nunca a ouvi falar com um tom tão suave e gentil. Isso me cativou no momento em que as palavras começaram a escorregar de sua língua. A mulher, no entanto, permaneceu imóvel, a cabeça enterrada nos joelhos. — Eu sei que você está com medo, mas preciso que você confie em mim. Eu já fiz isso antes com outras mulheres, como você. Vou tirá-la daqui e você será levada para um pequeno escritório com um computador onde colocaremos seu nome no sistema. Você terá a chance de tomar um banho quente e comer algo antes de encontrarmos um lugar seguro para você ficar no setor em que você pertence. Nada avançou. — Existem homens atrás de mim, mas quero que você os ignore e se concentre em mim. Ouvi dizer que Timber tem um pau pequeno e ele não sabe como usá-lo, então você está completamente segura. Timber rosnou algumas obscenidades da porta da gaiola, e eu suprimi o desejo de sorrir. — Essas são todas as suas coisas? Havia uma pequena bolsa rosa do lado da mulher sentada no chão de concreto. Era uma coisa de aparência infantil para uma mulher carregar, mas que porra fosse essa. Já vi coisas estranhas no meu tempo. — Gosto da sua bolsa. E gostaria de ter uma assim. Eu nem tenho bolsa porque nasci aqui. Isso pareceu despertar o interesse da mulher e, uma polegada dolorosamente lenta de cada vez, sua cabeça se levantou. — Eu gosto do seu cabelo, — murmurou Nada. Os homens ao meu lado riram, mas ela os ignorou quando hesitantemente estendeu a mão e passou os dedos pelos longos cabelos escuros e lisos. Era uma coisa estranha de se fazer, e os olhos de Nada pareciam perdidos enquanto ela acariciava suavemente os cabelos da mulher. — Você é inocente? Todos na sala pararam com a voz pequena e infantil. — Quantos anos você tem? — Nada sussurrou, o choque em seu tom evidente. — Doze, — respondeu a garota. Porra, doze? Ela era uma criança, porra! — Porque você está aqui? — Nada gaguejou. — Eu quebrei a lei, — a garota respirou, quase com medo de falar em voz alta. — O que você fez? — Eu mal ouvi a pergunta de Nada. — Eu machuquei meu pai. — Por quê? Ele te machucou? —Foi um acidente. Ele não me deixou dormir na casa de Danyelle, então eu tentei pegar seu carro, e então ele parou na frente. Eu juro que foi um acidente. Eu não quis machucá-lo. — A voz da criança era baixa, nada mais que um sussurro, mas ecoava nas paredes de pedra como um trovão. Um acidente, um acidente infantil, e eles a enviaram para o submundo? E eles nos chamavam de animais filhos da puta! — Ok, eu acredito em você, — disse Nada em um tom calmo e pacífico. — Vamos te tirar daqui. E iremos pegar algo para você comer, talvez até um pouco de chocolate quente. Conheço alguém que tem um estoque secreto e sei que ela ficaria feliz em compartilhar isso com você. Lentamente, a garota desenrolou os braços e pegou sua pequena bolsa rosa, segurando-a com força enquanto se levantava, segurou a outra mão na que Nada estendia. Ela era uma coisinha; o corpo estava naquela fase em que estava preso entre a infância e a adolescência, todos os membros desgrenhados com um aumento quase irreconhecível no peito. Scotty e Ginger assistiram com rostos chocados, mas Timber, parecia um lobo salivando sobre um maldito cordeiro premiado. — Mova-se, — ordenou Nada quando ele não se afastou da porta da gaiola. — Eu vou levá-la, — murmurou Timber, seus olhos nunca deixando a jovem. Antes que eu pudesse dar um passo à frente para intervir, Nada empurrou a jovem atrás de seu corpo e deu um tapa em Timber, atingindo-o na mandíbula com um movimento que ele estava completamente despreparado. Ele tropeçou para trás e caiu de bunda. — Sua puta! A madeira rugiu quando ele se levantou e correu para ela. Nada o encontrou de frente, agachando-se sob um balanço selvagem e socando Timber no rim. O homem grunhiu antes de estender a mão para agarrar seus cabelos. Forçando meu caminho entre Scotty e Ginger, agarrei Timber e o puxei para fora de seus pés, jogando-o contra a parede atrás de nós. Com olhos ferozes, Nada foi atrás dele novamente, e eu a agarrei pela cintura, puxando-a de volta contra o meu peito. Ela lutou comigo como um animal enlouquecido, e eu resmunguei com um cotovelo conectado logo abaixo das costelas. Eu pressionei minha cabeça contra a dela e sussurrei em seu ouvido: — Espere a gaiola. Ele é seu, eu prometo. Se você o matar agora, Kingsley vai pegar aquela garotinha e tornar sua vida um inferno apenas para puni-la. Você está me ouvindo, garota durona? Com isso, ela parou, seu peito subindo e descendo com respirações pesadas. Timber se levantou, uma gota de sangue escorrendo pelo rosto de onde sua cabeça havia se conectado com a parede. — A garota passa pelo processamento, como todo mundo, e é menor de idade, então mantenha suas mãos longe, — eu rosnei. Timber fervilhava, suas narinas se dilataram com fúria mal contida, mas ele sabia que não era uma batalha que ele poderia vencer. Ele também sabia que violar uma criança era desaprovado no submundo, e ele seria tratado por seus companheiros soldados se tocasse em alguém de maneira inadequada. Podemos ser criminosos sedentos de sangue, mas protegemos nossos jovens. — Eu estava apenas indo acompanhá-la, — Timber cuspiu. — Sim, bem, acho que Nada pode fazer isso, então pode recuar. — Agora, com base no primeiro nome, não é? Soltei Nada, sentindo-a estremecer quando minha mão pressionou contra suas costelas. Quando eu teria dado um passo à frente e acabado com a pequena merda, a voz de Nada me parou. — Ele é meu, na gaiola. Ele estará chorando como uma putinha antes desair dali. Scotty riu e Ginger pareceu um pouco pálido. Imaginei pela maneira como a nova garota estremeceu que meu sorriso parecesse escuro e sedento de sangue. Timber estava caindo, e Nada não o deixaria sair da jaula até que estivesse chorando como uma garotinha. NADA O nome dela era Grace; era um nome que não pertencia ao submundo. Ela não pertencia ao submundo. Ela não era nada além de uma criança, guiada pela inocência e impetuosidade infantil. Grace cometera um erro e agora pagaria por isso pelo resto de sua vida. Quinze tinha sido o preso mais jovem já registrado, um delinquente chamado Louis, que estava em um caminho constante de destruição, seguindo os passos de seu irmão mais velho. Louis morrera de pneumonia três meses depois de chegar ao submundo. Seu irmão, Nathaniel, morreu na gaiola quatro semanas depois. Grace não deveria estar aqui; seu crime claramente fora um acidente, mas o relato de recluso que encontramos escondido em sua bolsinha rosa dos bastardos sagrados de cima que fizeram com que a criança fosse uma menina vingativa, sem esperança de reabilitação. Seu pai morreu no acidente, um ferimento na cabeça devido à força do impacto quando sua cabeça atingiu o chão. Grace não apenas tinha esse fardo para viver, mas também precisava aprender a viver em um mundo de morte e violência. Olhei para a pequena garota, seus grandes olhos azuis fixos em Dejohn enquanto ele fazia suas perguntas em seu timbre familiar e profundo. Ele odiava usar o computador, mas Grace havia atraído uma multidão de curiosos, e não queríamos arriscar que eu fosse vista atrás do dispositivo eletrônico que eu estava proibida de usar. Na realidade, ninguém realmente se importava se eu entrasse no sistema, mas Kingsley sabia do meu fascínio pelo computador e me baniu por completo. Regan estava sentada ao lado de Grace, segurando sua mão e acariciando seus cabelos. Regan não deveria estar nesta sala. Eu tentei forçá-la a sair, mas ela gritou comigo, o que me chocou. Ela se aproveitou do meu estado congelado e se afastou de mim para tomar uma posição ao lado de Grace. No final, eu sabia que ter Regan aqui estava certo. Eu estava claramente fora da minha zona, proporcionar conforto, não era um dos meus pontos fortes. Enquanto Regan dava a Grace o que eu não podia, eu me mantive quieta e alerta, pronta para tudo e qualquer coisa. Embora não fosse raro Kingsley aparecer e receber novos presos até depois de terem entrado no sistema, eu tinha certeza de que uma jovem iria rapidamente chamar sua atenção. Estávamos na sala de chegada há mais de uma hora e ele ainda não havia aparecido. Talvez ele não quisesse. Ficou claro que a nova garota estava absolutamente aterrorizada e, se Kingsley aparecesse, ela ficaria completamente louca. Do lado de fora da sala havia uma horda de reclusos curiosos, esperando avistar Grace. Um representante dos inocentes havia chegado apenas momentos atrás. Paul, um homem alto e magro de 23 anos, já estava exigindo acesso à criança. Normalmente, tal coisa não seria permitida. Os inocentes, na maioria das vezes, eram mantidos separados dos elementos mais sombrios do Submundo, vivendo em seu próprio setor e mantendo-se ocupados de maneira silenciosa. Grace era um caso especial, no entanto; ela era um oceano grande e vasto de cinza escuro, que nem eu tinha certeza do que fazer. Esfregando minha cabeça latejante, eu mal conseguia desviar meus olhos de Grace. Eu ainda estava tendo problemas para entender o fato de que a garota tinha apenas doze anos e que ela havia sido condenada ao submundo por um acidente. Ela era vermelha. Muitos novatos choraram inocência na chegada, embora os relatórios incriminatórios que foram entregues com eles tornassem difícil de acreditar. Agora, minha mente era um emaranhado de descrença e desconfiança. Quantos outros estavam aqui por causa de acidentes? Minhas noções preconcebidas estavam cheias de dúvidas. Dejohn sempre alegou que o mundo acima introduziu novas leis muito pretas e brancas; quando, na verdade, quase todos os casos estavam cheios de diferentes tons de cinza. Senti mais do que vi Shadow se mover ao meu lado e, pelo canto do olho, vi Kingsley entrar na sala. Ele estava completamente vestido de preto, os cabelos escuros penteados para trás, criando uma aura dura e contundente. Seus olhos castanhos escuros estavam fixos em Grace quando ele entrou, Timber, Scotty e Ginger atrás dele. Seus olhos deixaram a garota por um breve momento para ver Shadow, e o avaliou com um olhar crítico. Então, com o desprezo sempre fiel que ele usava como uma túnica, olhou para mim, seus lábios praticamente curvando com aversão. —Tire a costureira — ele ordenou, sua voz profunda uma ofensiva rouca no silêncio da sala. Grace choramingou quando Regan rapidamente se levantou, me lançando um olhar desesperado, antes de se mover em direção à porta. Eu sabia o que ela havia me perguntado naquele momento silencioso e ansioso e, sem dúvida, dei um passo à frente para substituir Regan quando ela saiu da sala. Meu corpo agora estava estrategicamente colocado entre Grace e Kingsley, e embora eu não tivesse as mesmas qualidades suaves e nutritivas que Regan possuía, eu poderia manter a criança segura. — Ela tem doze anos? — Sim, — respondeu Dejohn com essa calma casual que nunca deixou de me surpreender. —Ela matou um homem? Ela é vermelha? — Parece que sim. — O pai dela? — Sim, baixo. O olhar ranzinza de Kingsley se voltou para mim. O canto da minha boca se inclinou em um sorriso satisfeito, e a picada sorriu de volta. A ironia não se perdeu em mim. Esta inocente florzinha fez o que eu não pude, e puramente por acidente. — Os inocentes, estão pedindo por ela. — Ela não é inocente, — foi a resposta concisa do Rei. — Ela não pertence a este lugar, — intercedi. — Eu peço desculpa, mas não concordo. Ela é uma assassina e encontrou um novo lar. — Ela é uma criança. Ela deveria ser protegida; ela não sobreviverá no setor vermelho, — eu rosno. Kingsley ficou quieto por um momento enquanto considerava Grace com cuidado. — Ela ficará alojada com os azuis até atingir a maioridade e terá a chance de provar exatamente onde ela pertence neste mundo. É melhor que ela aprenda uma habilidade digna entre agora e depois; caso contrário, ela estará de costas no Whore Pit. Acredito que Timber esteja esperando pelo último. Meu punho cerrou, e o mundo ao meu redor se estreitou. Já tínhamos uma garota nesta sala que matara o pai. Eu estava prestes a fazer duas. — Há espaço disponível com Rocket e Claire desde que Ivy foi morar com Jude. Seria uma boa combinação. A voz de Dejohn se infiltrou na fúria e bateu na porta do bom senso. Os olhos de Kingsley me desafiaram a fazê-lo. Com sua matilha de cães cercando-o como animais raivosos, eu não teria chance, mas tinha certeza de que poderia chegar perto o suficiente para causar um pouco de dor. Com o puxão lento de Velcros e rasgando com um barulho abrasivo, desviei meu olhar. — A criança vai para Rocket e Claire; Scotty pode acompanhá-la. — Antes que eu tivesse chance de argumentar, Kingsley continuou: — Peça para a fabricante de roupas ir com você. As crianças são protegidas, independentemente de seus antecedentes criminais, e serão tratadas como tal até atingirem a maioridade. Com isso, ele se virou para sair. Isso era bom. Grace estaria segura, por enquanto. Os azuis estavam aqui por crimes mesquinhos, principalmente ladrões, prostitutas e alguns pequenos delitos de drogas. Scotty não machucaria uma criança, e Regan daria a ela o conforto gentil que ela precisava para se instalar. Rocket e Claire eram uma boa combinação. Eles eram amantes no mundo acima antes de serem acusados de posse e distribuição de NIM, e desde que foram abandonados no submundo há quase doisanos, eles abandonaram o hábito das drogas e deram uma contribuição diligente ao submundo. Rocket era um homem grande, do tipo que parecia cheio de ar com músculos inchados. Claire era o oposto, fina e delicada, com uma disposição tímida. Eles faziam uma das melhores cervejas do submundo, e Kingsley pagou-lhes bem em suprimentos e uma grande casa de dois quartos que, até recentemente, havia sido compartilhada com Ivy, uma garota no final da adolescência que havia passado a morar com o novo namorado dela. Rocket definitivamente poderia proteger Claire e Grace, e Claire acrescentaria um toque maternal. — Ah, e, garota, — Kingsley parou na porta e me olhou de costas para trás, — você está de volta na gaiola em três noites. Aparentemente, Timber tem uma pontuação a acertar. Com isso, ele foi embora. Shadow amaldiçoou suavemente do outro lado da sala, e Dejohn conduziu Regan de volta para ajudar a coletar Grace e suas posses mundanas. Quando a porta se fechou, o silêncio desceu sobre a pequena sala enquanto Dejohn e Shadow me observavam com algo semelhante a medo em seus olhos. — Você não está curada, — Shadow rosnou. — Quão ruim ... ahyuh ... costelas? — Dejohn perguntou calmamente. — Elas estarão boas o suficiente em três dias, mas você pode colocar as mãos naquelas pílulas felizes que encontrou para mim naquela época em que Greta e as prostitutas loucas me bateram. Dessa vez, Dejohn amaldiçoou, o que foi tão divertido quanto surpreendente, e o rosto de Shadow se transformou de volta na máscara de pedra que ele usava tão bem. Era o mesmo olhar que ele tinha na noite em que me chicoteou, e eu podia vê-lo com mais clareza agora. Não havia prazer por trás daqueles olhos escuros; era puro medo e fúria forçando a adrenalina em suas veias. — Enquanto vocês duas senhoras falam sobre desolação e tristeza, vou para a academia. Eu não aguentava a preocupação nos olhos de Dejohn ou o medo nos olhos de Shadow. Eles estavam vestindo emoções que nenhum deles usava bem, e eu não conseguia lidar com isso agora. Eu precisava de aceitação e ações firmes. Não havia motivo para pensar em possibilidades. Eu brigaria e ganharia; não havia outra escolha. * Sentei-me com as mãos amarradas firmemente atrás de uma cadeira rígida de madeira, e um pedaço escuro de tecido cobriu meus olhos e amarrou na parte de trás da minha cabeça. Era uma situação vulnerável, amarrada de bom grado como o proverbial peru do Dia de Ação de Graças, que nunca tive a sorte de pôr os olhos, muito menos provar. Ironicamente, isso também foi o mais próximo da liberdade que eu já tive. Eu estava do outro lado da Zona Selvagem, no labirinto de corredores que levavam ao mundo acima. Depois de me sentar no chão no meio de uma das gaiolas, com os olhos já cobertos pelo tecido que eu havia voluntariamente enrolado em minha cabeça, fui conduzida por um homem desconhecido para o lado de confinamento do mundo acima. Direita, depois dez passos, esquerda, mais doze passos, direita, o cheiro de antisséptico forte por mais meia dúzia de passos. Logo, passamos por uma porta, e então eu estava sentada em uma cadeira, de costas para a porta. Tinha sido a mesma rotina na mesma data todos os anos, durante oito longos anos. A primeira vez que fiz essa jornada, fui tentada a uma posição tão indefesa com a promessa de salvação. Oito anos depois, ainda estávamos jogando o mesmo jogo, só que agora eu sabia que nunca haveria salvação. No entanto, se eles me usassem como peão, eu estava muito bem recebendo algo em troca disso. O barulho de passos indicava que alguém havia entrado na sala. Agora havia talvez cinco no total ao meu redor. — É bom ver você de novo, Nada, — veio a voz familiar. Era a voz de um homem, suave e articulada, indicando inteligência. Eu não me incomodei em responder; afinal, não era bom vê-lo também. — Você está pronta para começar? Ele continuou, obviamente sentindo minha relutância por gentilezas. — Eu tenho mais para adicionar à lista. O silêncio encheu a sala e, por mais que me irritasse estar sentada entre forças desconhecidas, amarrada com um pequeno laço arrumado, mantive-me firme e imóvel. — Nós concordamos que seriam apenas inocentes. — Acho que está claro para todos nesta sala que há mais inocentes naquele buraco, não apenas os infelizes nascidos lá. Acho que você está mais do que ciente de que há pessoas sendo entregues na Zona Selvagem que não deveriam estar aqui. Mais silêncio. — Não podemos ajudar a todos; não temos os recursos. — Você teve oito anos em construção. Tenho certeza que você pode gerenciar isso. — Somos apenas um punhado. Entre o perigo de enfrentar Kingsley e seus homens, tirá-los de lá e depois escondê-los de Maximus e seus soldados no mundo acima, é impossível. — Se você quiser que eu fale, você adicionará à sua lista. É simples assim. Eu não estava recuando e não tinha nada a perder. Eles poderiam me jogar de volta no submundo, e a vida continuaria. Eles poderiam colocar uma bala na minha cabeça e me libertar dessa existência patética, ou poderiam atender às minhas demandas, e eu lhes diria tudo o que eles gostariam de saber. — Quantos? — A voz concedeu relutantemente. — Pelo menos cinquenta e dois, mas precisarei revisar alguns registros. Pode haver mais. Meus números foram recebidos com um suspiro profundo e, é claro, mais silêncio. — Não podemos fazer nada além de sessenta em cima dos oitenta e cinco inocentes, e, Nada. Eu acredito que você não está liberando nenhum vermelho de volta ao nosso mundo. Estamos confiando no seu julgamento sobre isso. Eu assenti. — Você tem seu próprio pessoal lá dentro. Você vai levá-los também? Ouvi o sussurro suave da roupa se mover. O homem na minha frente havia mudado... com inquietação? — Como você sabe que temos mais alguém lá dentro? — Rumores. Kingsley fala sobre isso com frequência. Ele acredita que há uma toupeira. Eu acredito que existem vários. — Nós cuidamos dos nossos. Você não precisa se preocupar. Agora, conte-nos o que você tem. — Não vou mais me encontrar com você depois disso. — Nosso plano de extração é daqui a dois meses. Você não precisa. Vamos começar com onze meses, três semanas e seis dias atrás, no dia seguinte à nossa última reunião. Eu respirei fundo e expirei antes de começar. — Três de outubro, — sussurrei, — Kingsley mandou matar um de seus soldados, Digger. Ele levou a última prostituta de Kingsley sem permissão. Ele os pegou juntos na cama e os arrastou para a gaiola onde os dois foram mortos como uma lição para todos no submundo: você não brinca com os pertences do rei. Suas gargantas foram cortadas e estavam nus como no dia em que nasceram. E pelas próximas seis horas e meia, contei tudo a eles. Todos os detalhes sórdidos, nomes, brigas, alianças, passagens secretas, bunkers subterrâneos, armas, fraquezas... tudo velho e tudo novo. O encontro número oito seria o último em oito longos anos de memórias derramadas para estranhos enquanto estava amarrada e vendada. Eu não estava tirando minha própria liberdade disso. Os rebeldes estavam com medo de mim, como se a maneira como eles me amarraram para as reuniões deles não fosse uma doação morta. Eles não queriam lançar alguém como eu no mundo deles. Mas eu não ficaria. Minha salvação estava por trás de uma pedra em ruínas no canto do meu quarto. Este encontro era sobre a vida de inocentes, alguns nascidos nas trevas, outros como Grace, cento e quarenta e cinco almas que não deveriam estar no submundo. Os últimos oito anos da minha vida foram sobre o cultivo cuidadoso de uma aliança rebelde, em um esforço para salvar aqueles que não podiam se salvar. E em dois meses, o plano deles seria posto em prática, e eu pegaria meu pedaço de papel amassado, minha própria salvação e desapareceria. SHADOWEu observava Nada dando socos na mão enluvada de Dejohn. Ela se movia leve e rápida ao redor do velho, com as mãos erguidas, o corpo enrolado, os músculos dançando enquanto dava socos após socos. Vestida com nada mais do que meia-calça preta e um sutiã esportivo preto, ela era um espetáculo. O coldre, com a faca escondida em segurança, presa à perna, quase me fez gozar na porra da minha calça. Ela era linda, mesmo os machucados pretos e roxos que decoravam seu corpo não conseguiam tirar isso. Estávamos a 24 horas da luta, e se Nada não estivesse em seu quarto comendo e dormindo, ela estava aqui no ginásio mais sombrio do submundo, trabalhando no saco, pulando uma corda e dando socos e chutes. Um movimento combinado de um salto e um chute errou a cabeça de Dejohn em não mais de uma polegada, e isso foi o máximo que eu pude suportar. Eu me afastei da parede e entrei na luz suja que fez um esforço para iluminar a sala grande. — Timber vai dar socos de volta. Já é hora de você trabalhar com alguém que pode bater como um homem. Os dois fizeram uma pausa e Dejohn me deu uma sobrancelha levantada. — Ah, você está insultando eu? 14 — Você é muito gentil com ela, Dejohn. Ela precisa de alguém que não vai andar por aí. 14 Ele fala errado com um inglês quebrado Dejohn reprimiu um sorriso e abaixou os braços, afastando-se com um grande movimento da mão. — Seja meu convidado, Shadow. Ele falou meu nome com o respeito que justificava, mas algo me disse que estava se divertindo muito com toda a situação, e havia pouca deferência a ser encontrada em sua atitude. Nada me observou seguir adiante, um brilho de arrogância por trás daqueles olhos escuros, mas também um monte de cautela, que foi o que a manteve viva todos esses anos. — Timber parece amador, mas na verdade ele é um boxeador treinado. É rápido, apesar de alguns quilos a mais, você tem uma correspondência uniforme. Sua falha é um alto desrespeito às mulheres, especialmente você. Ele sabe que você tem habilidades, mas é arrogante demais para considerar que pode perder essa luta. Nada deu de ombros e seus olhos tentaram me seguir enquanto eu dava um lento e vagaroso passeio em torno de seu corpo magro, até sua bunda e pernas espetaculares, e depois recuou novamente. — Não parece nada que eu ainda não encontrei na gaiola. — Sim, mas ele é seu primeiro lutador treinado e você está ferida. Ela girou a cabeça, esticando os músculos do pescoço que estariam esfriando rapidamente. — Timber prefere a direita, seus pés se movem rapidamente, mas ele não pode chutar e ele sabe. Sua cabeça inclinou-se um pouco para o lado enquanto ela considerava a informação que eu estava divulgando. Eu podia ver sua confusão; se perguntando o que eu estava fazendo!! Protegendo o que é meu. — Ele pisca com força antes de dar um soco e, se continuar com a direita, mergulhará levemente para esse lado, o mesmo vale para a esquerda. Sinalizando para Dejohn com um gesto de ‘me dê’, ele me jogou as luvas que usava momentos antes. Enfiei meus punhos nos confins quentes, verifiquei que estavam seguros e os bati juntos apenas uma vez antes de levantar minhas mãos em uma posição defensiva. — Mostre-me o que você conseguiu, garota durona. Seu sorriso me pegou de surpresa, me cegou, eu acho que você poderia dizer, porque o chute que ela me deu tirou meus pés debaixo de mim e me colocou na minha bunda em menos de cinco segundos. Dando alguns passos, ela saltou na ponta dos pés, o sorriso desapareceu, a personalidade irritada de volta ao lugar. Eu sorri quando me levantei, e ela quase pareceu tão surpresa com isso quanto eu. — Bom começo. Vamos torcer para que Timber fique tão surpreso com esses sorrisos raros quanto eu. Novamente. Ela apenas hesitou um momento antes de começar a dançar ao meu redor. Eu dei alguns socos, batendo nas luvas dela, sentindo-a sair. Quando seus pés se mexeram e uma perna se levantou para chutar de novo, a bloqueei e segui o movimento com um gancho que ela bloqueou facilmente. Em vez de se afastar, como a maioria dos oponentes faria, Nada manteve os punhos levantados e continuou a entrar no meu corpo, estendendo a mão com um forte golpe direito, seguindo-o com um cotovelo. Era um ataque direto, e sempre foi sua melhor vantagem. Sempre mantendo suas combinações simples, mas era a maneira inteligente que ela as entregava e sua abordagem direta que a servia tão bem. Ela era capaz de quebrar um ataque em manobras fundamentais, levando em consideração coisas com o alcance, ritmo, profundidade e ângulo, o que basicamente lhe dava infinitas possibilidades de manter as coisas novas e inesperadas. Eu resmunguei quando seu cotovelo me pegou, e assim que ela soltou o punho, eu balancei. Sua cabeça girou para trás quando meu punho se conectou, e por um breve momento, ela pareceu chocada. Ela sacudiu, porém, e levantou as mãos novamente. O soco não tinha força total, então não passava de um toque de amor. Depois de chicotear sua carne macia, tomei uma decisão, prefiro morrer do que realmente machucá-la novamente, eu era tão bom quanto um filhotinho15. — Timber mantém uma guarda apertada. Você terá que a abrir. Eu fechei meus punhos firmemente na frente do meu rosto. — Tente. Sua primeira tentativa foi dar um tapa nas minhas luvas para criar uma abertura, mas ela não teve forças para me mover. Então ela adotou táticas sujas e foi buscar as joias da coroa, levantando a perna para me ajoelhar e proteger minhas bolas. Minhas mãos instintivamente caíram para proteger os ativos, e assim que a abertura foi criada, ela foi para o meu rosto. — Boa menina, — eu rosnei enquanto tentava me proteger de seu espancamento. Usando minha luva, encontrei uma abertura e mais ou menos a empurrei para fora do meu espaço. Saltando na ponta dos pés novamente, ela deu um passo à frente, fingindo um soco com a mão direita e entrando no meu corpo com o pé direito para a frente. Quando ela se abaixou com o gancho previsível da direita, ela veio até mim com um soco sólido da esquerda. Eu estava preparado para isso, então pude evitá-lo, mas foi uma boa tática que matou muitos de seus oponentes. Eu fui para a ofensiva e dei alguns socos pesados, avançando, e ela reagiu dando alguns passos para trás. Sorrindo, fingi um golpe certeiro e fui até suas costelas machucadas, apenas para me encontrar de costas, o mundo ao meu redor girando enquanto entrava e saia de foco. 15 Ele usa pussy-whipped que significa o cara que faz tudo o que a mulher quer. A cadela sorrateira tinha permitido minha ofensiva, me puxando para dentro até eu ter comprometido demais o meu trabalho de pés. Nada tinha usado meu impulso para avançar para me abaixar e me balançar, o que me levou pesadamente ao tatame. Quando recuperei meu foco, foi para encontrar Nada e Dejohn sorrindo em pé sobre mim. — É bom ver você não andando por aí, — comentou Dejohn. — Vá descansar e se encontrar bem aqui amanhã depois do almoço para um treino leve antes da luta, — disse ele a Nada antes de sair da academia. — Algo mais? Nada perguntou enquanto tirava as luvas. Eu balancei minha cabeça, ainda deitado de bruços no tapete. — Vou tomar banho e dormir um pouco. Você pode querer pegar um pouco de gelo para a sua mandíbula. E com isso, ela se afastou, meus olhos firmemente colados em sua bunda. A garota era espetacular pra caralho. * Eu não sei o que eu esperava quando bati na porta dela uma hora depois, mas uma Nada recém banhada em um minúsculo par de shorts e uma camisa preta fina e esticada que pendia de seu ombro fino não era. Eu gostei, mas nunca tinha visto a garota com tão poucas roupas antes, e meu pau com certeza também apreciou. Eu levanteiuma caixa de frango grelhado e um pouco de alface e tomate que havia adquirido da sala hidropônica. O Submundo percorreu um longo caminho em cem anos, criando sua própria maneira de cultivar vegetais na escuridão. Na minha outra mão havia pão quente. Nada praticamente salivou em mim quando alcançou a frente da minha camisa e me arrastou para o quarto. — Onde você conseguiu isso? — Alguém me devia. Coloquei a comida em sua pequena mesa e peguei o espaço apertado. Ela não tinha muito, para ser honesto, ela não tinha nada. Uma mesa, cadeira e cama improvisada suspensa um pouco fora do chão por um paletes de madeira. Uma pequena caixa servia como uma mesa de cabeceira com uma lanterna acesa em cima dela. Suas roupas estavam jogadas sobre uma poltrona velha e desgastada que estava espremida no canto. Não havia nada que tornasse o quarto dela, nenhum item pessoal, nada além de duas caixas meio vazias cheias de coisas para o comércio. Eu sei que tinha alguns livros escondidos aqui em algum lugar; eu a peguei lendo um outro dia. Mas obviamente tinha um lugar especial para coisas que eram valorizadas ou estimadas. Recheando o frango e a salada entre duas fatias irregulares de pão, Nada sentou na cama, as pernas cruzadas diante dela e começou a comer como se não comesse há dias. Ela comia melhor do que a maioria, mas as refeições não eram regulares e a carne fresca era muito pequena. Ela não prestou atenção quando me sentei na cadeira de madeira ao lado da mesa e fiz meu próprio jantar. — Onde você foi ontem? Nada ficou quieta com a minha pergunta, e eu poderia jurar que ela ficou em pânico por uma fração de segundo, antes de sua compostura reassentar seus ombros. — Tinha algo para fazer e queria fazê-lo sem alguém olhando por cima do meu ombro. Havia muitos lugares para se esconder no submundo, mas Nada não era do tipo que se escondia, e ela esteve desaparecida por várias horas. Várias horas que me deixaram inquieto enquanto eu procurava em todos os lugares habituais que eu poderia encontrá-la. Quando não consegui achá-la, mal pude conter meu pânico. Então Scotty mencionou que a viu perto da Zona Selvagem. Eu não tinha idéia do que ela estava fazendo lá em cima, mas senti uma emoção curiosa se instalar no meu peito só de saber onde ela estava e que ela estava segura. — O que você quer comigo, Shadow? Nada perguntou, não mudando tão sutilmente o assunto. — Você é minha, — eu respondi com um encolher de ombros enquanto mordia meu sanduíche. — Eu sou Nada. Você não pode possuir nada —– ela murmurou. — Você é meu nada, — respondi depois de um breve momento. — E daí? Papai me deu de presente assim? Eu valho muito na gaiola para ele simplesmente me descartar. — Eu nunca ouvi você chamá-lo assim antes. — Você não notou o sarcasmo? — Ela rosnou. — Problemas com o papai? — Você acha? — Ela respondeu com uma sobrancelha levantada. — De qualquer forma, Kingsley é seu dono na gaiola. Eu a possuo em qualquer outro lugar. Ela mal conteve um grunhido quando me olhou, o conflito e a raiva por trás daqueles olhos fervendo claramente evidentes. Não senti como se tivesse vencido a batalha de vontades quando ela simplesmente deu de ombros e voltou a atenção para o jantar. Eu senti como se tivesse sido demitido. Eu assisti como Nada lambeu avidamente cada um de seus dedos depois que seu sanduíche se foi, e imaginei aquela boca em uma parte da minha anatomia, definitivamente não meus dedos. Comecei a endurecer com a imagem mental. Empurrando a caixa de frango restante em sua direção, ela não hesitou em terminá-lo. Era um instinto de sobrevivência no submundo; coma enquanto pode, porque você nunca sabe quando haverá escassez. — Eu não sou um objeto, — disse ela depois de um longo tempo. Levei um momento para descobrir do que ela estava falando, meus próprios pensamentos concentrados em torno de um boquete fantástico, cortesia de uma magnífica e espirituosa l Nada. — Todo mundo, e tudo, no submundo é um objeto. — Eu não quero ser sua! — Ela argumentou. — Você nem sabe o que significa ser minha. Eu disse em voz baixa e sedutora que não deixava dúvidas sobre o que significava ser minha. Nada parecia considerar minhas palavras, permitindo que rolassem em sua mente antes que aqueles olhos escuros e sem fundo encontrassem os meus mais uma vez. — Por que agora? — Porque eu quero você agora. Foi o melhor que eu pude dar a ela, porque eu não entendia completamente. — Você vai me reivindicar? Não pude evitar minha respiração que claramente indicava choque. Uma alegação era tão boa quanto o casamento no submundo. Isso significava que os parceiros viviam juntos, trabalhavam juntos e que sua união era frágil apenas pela morte. — Bem, não vamos nos adiantar muito. Você pode achar minha disposição intratável, inaceitável. Isso rachou um sorriso, aquela porra esquiva de seus lábios que me fez sentir coisas que pensei ter deixado para trás no mundo acima. — Então, eu tenho uma opinião? — Não, — eu respondi com um sorriso. — Mas me disseram que a ilusão de que você tem é uma tática digna para manter as mulheres complacentes. — Você acha que pode me controlar? Seu sorriso se foi, aquele olhar escuro e perigoso caíra sobre suas belas feições mais uma vez. — Eu já faço. Meu olhar deslizou sobre suas curvas, toda aquela carne pálida e exposta, e eu vi como um rubor invadiu suas bochechas. Oh, sim, eu a controlava, porra. NADA Eu não conseguia parar de corar. A maneira como Shadow olhava para o meu corpo era diferente de tudo que eu já havia experimentado antes. Ele olhava para mim como se eu não fosse apenas uma foda rápida que planejava levar em momentos roubados de escuridão. Quando olhava para mim, me sentia como sua posse, algo que cobiçava acima de todos os outros. Algo que ele planejava levar o seu tempo com a luz, com seu olhar aquecido viajando sobre a minha carne nua. Enquanto o instinto me dizia que eu nunca seria dele, outra coisa me dizia que eu já era. Eu não era nada. Eu sempre significava nada para todos, a menos que eu estivesse na jaula. A gaiola era o único lugar em que eu me sentia mais do que um grão de poeira flutuando no ar. Eu pertencia à gaiola; eu significava algo quando estava na gaiola. Agora, Shadow me queria de uma maneira que eu não entendia, mas podia apreciar o fato de que, em algum nível, gostava. — Você está trabalhando com os rebeldes? A voz de Shadow me tirou dos meus pensamentos e tentei esconder minhas feições. Eu não estava trabalhando com os rebeldes, não exatamente. Eu estava simplesmente transmitindo informações e havia deixado claro para eles que não estava com eles. — Porque eu gostaria de me alinhar com um grupo que não fez nada por mim? O mundo acima não me deve nada, e eu devo a eles o mesmo. — Eu dei a ele um olhar pensativo. — Você está trabalhando com os rebeldes? Shadow bufou, e a expressão alegre que ele usava em seu rosto era um vislumbre de outro homem, um que eu nunca tinha visto no submundo antes. Naquele momento, parecia tão despreocupado, seu sorriso presunçoso estranhamente cativante. Seu rosto sorridente era familiar, mas tão completamente desconhecido. — Porque eu iria querer destruir o submundo? Eu gosto daqui. Eu sou alguém aqui. Lá em cima, não era nada. Aqui, sou alguma coisa. — Bem, — murmurei, — não quero ser algo. Eu não sou uma espiã rebelde. Não estou começando uma rebelião. E não estou derrubando o mundo acima ou abaixo. Sou apenas eu, lutando para sobreviver em um mundo onde não pertenço. — Onde você pertence? Eu pensei sobre isso por um longo tempo. Era algo que me perguntava há muitos anos, e a resposta ainda me escapava. Meus dedos preguiçosamente esfregaram o cobertor de pele macia que Regan recentemente me presenteou.Ela alegou que meu cobertor descartado era tão esfarrapado que não poderia me manter quente à noite. Conhecendo meu prazer por todas as coisas macias, ela encontrou a penugem mais notável que escorregava por meus dedos como a água. — Eu não pertenço a lugar nenhum, — eu finalmente disse. Shadow moveu-se para ficar de pé, dando alguns passos curtos entre a minha velha e confiável mesa e a minha cama bagunçada e desarrumada. As costas de seus dedos acariciaram minha bochecha, e lutei contra a necessidade de transformar isso em um gesto tão suave, de pressionar meus lábios em sua palma larga e calejada. Fiquei quieta e cautelosa, observando-o me olhar. — Você pertence a mim, — sussurrou. — E logo você verá. Saindo casualmente do meu pequeno quarto, deixou-me em uma confusão bagunçada de hormônios. Partes do meu corpo palpitavam com necessidade, partes que geralmente apenas ansiavam por algo quando estava presa na adrenalina de uma alta pós-luta. Então, meu corpo queria algo forte e rápido, drenando minha alma do excesso de energia com a qual não sabia como lidar. Agora, pela primeira vez em minha aparentemente longa existência, queria um toque mais lento. Eu queria mãos fortes em mim, me sentindo, me aquecendo. Isso me chocou com o silêncio rígido. O pensamento desse tipo de toque íntimo geralmente fazia minha pele arrepiar, mas os momentos sutis e roubados que Shadow havia me presenteado tão lentamente eram quase como o domar de um animal selvagem. Esse toque estava rapidamente se tornando algo que eu ansiava. Eu estava de forma lenta começando a reconhecer a necessidade de um conforto em que nunca havia me envolvido, um contato corporal que não era completamente sexual, mas definitivamente interessada na ideia. Shadow na minha cama, seus longos membros pesados enrolados ao redor dos meus fazendo meu estômago parecer inquieto e engraçado. Passei a mão pela minha barriga enjoada e observei a porta vazia. Uma pequena parte de mim esperava que ele voltasse, enquanto outra parte maior de mim não tinha idéia do que eu faria se ele fizesse. Uma coisa estava se tornando óbvia: eu queria Shadow, eu era dele, e tinha certeza de que ele também era meu. * — Você deve realmente desacelerar e apreciá-los, — Regan murmurou do meu lado. Sentada na mesa multicolorida do quarto dela, devorava os ovos que ela havia cozinhado para mim tão rápido que havia uma chance de engasgar com eles. Não tive tempo de desacelerar e apreciar o raro tratamento, ovos mexidos de verdade com um pouquinho de creme-que atualmente estava na minha frente. Como frango que Shadow tinha me fornecido ontem à noite e os ovos esta manhã, eu tinha proteína suficiente no meu corpo para, esperançosamente, me dar a vantagem que eu precisava para a luta hoje à noite. Eu tinha coisas para fazer hoje, e não havia muito tempo para fazê-lo. Queria ver Grace, mas Kingsley ordenou que eu desse uma olhada no Whore Pit. Ele queria ter certeza de que seu investimento em carne estava cumprindo suas regras. Ele não confiava particularmente em mim nessa tarefa, mas sabia que eu odiava o Whore Pit, e tinha um certo prazer em me enviar para lá. Sem mencionar que os dois últimos soldados que ele enviou para lá foram desviados pela tentação de carne e desvio. Eu também queria entrar em uma sessão rápida com Dejohn, e Regan queria que eu passasse pelo quarto dela antes de ir para a gaiola; aparentemente, tinha uma surpresa para mim. Eu odiava surpresas. Meu dia foi contabilizado. — Então, onde está seu Shadow16? Eu olhei para ela por cima da minha colher de ovo. — Ele não é meu Shadow! Dizendo com muito mais defesa do que eu pretendia inicialmente e, é claro, Regan atendeu. — Eu estava apenas insinuando que o homem tem sido sua sombra proverbial ultimamente. — Oh, sim, eu acho, — eu disse, meio envergonhada. — Eu não faço ideia. Provavelmente vou encontrá-lo quando visitar o Whore Pit mais tarde. Esse pensamento foi rapidamente seguido por um sentimento desconfortável que parecia semelhante à raiva que abraçava na gaiola. — Há rumores de que Shadow não toma liberdades no Whore Pit. — Realmente? — Eu perguntei, a colher de ovo parou novamente. 16 Ela faz um trocadilho Shadow = sombra Regan deu de ombros. — Ele prefere que elas visitem o quarto dele. Aparentemente, ele se considera acima do poço da prostituta, prefere que as mulheres o procurem para ... — Ela lutou para encontrar as palavras. — Foder? — Eu disse prestativamente. — Essa é a palavra, — ela murmurou. Era refrescante que alguém ainda pudesse reter sensibilidades tão delicadas em um mundo tão bruto. O pensamento de mulheres compartilhando a cama de Shadow me irritava, mas o pensamento sobre mim nela era uma mistura de ansiedade e curiosidade. Eu não podia permitir que um homem, muito menos um homem como Shadow, me reivindicasse dessa maneira. Depois que finalmente encontrei a coragem de tentar o sexo que não era forçado, rapidamente descobri que precisava estar no controle total. Eu precisava estar no topo, e o homem que eu escolhia para aliviar minha coceira não tinha permissão para me tocar. Não havia nada sensual no ato; era puramente uma necessidade de acabar o mais rápido possível. E, no entanto, o pensamento de estar à mercê completamente de Shadow, com aquelas mãos grandes e calejadas no meu corpo, me provocando. Eu estremeci. Decidindo que essa linha de pensamento não era o que eu precisava hoje, me virei para ver Regan enquanto ela andava pelo quarto. Enfiando a mão em uma caixa grande que normalmente mantinha trancada com cadeado e produziu um pequeno saco de folhas secas. — O que é isso? — Eu perguntei. Imediatamente me lembrou das folhas da rosa seca pressionada entre as páginas do livro no meu quarto. —Folhas de louro. Elas ajudam a dar sabor à carne. — De onde você tirou carne? E folhas de louro? Regan deu de ombros. — Eu fiz algumas roupas para a pessoa certa. Sua resposta foi indiferente, indiferente demais. Pela primeira vez, olhei para Regan um pouco mais de perto. Ela sempre parecia possuir os itens mais interessantes do mundo, e a panela grande sobre as chamas de seu fogo estava quase sempre cheia. Era possível que ela fosse o elo interno do rebelde? Tão rápido quanto esse pensamento entrou na minha cabeça, ele saiu. Regan era suave demais para fazer parte de qualquer causa rebelde. A doce e gentil Regan, que não passava de uma inocente presa em um mundo de trevas, não poderia ser um espião rebelde. — Qual é a minha surpresa? Eu perguntei, afastando meu prato agora vazio. Regan me deu um olhar de, “você está brincando’’, antes de voltar para mexer o ensopado que encheu meus sentidos e fez meu estômago roncar, mesmo que estivesse suficientemente cheio. — Tudo bem, estou fora. — Espere, eu tenho algo para Grace. Regan se afastou da panela para vasculhar aquele baú misterioso no chão ao lado de sua cama. Puxando um pequeno dispositivo conectado a um fio branco com dois pequenos botões esponjosos em forma oval no final. — Diga a ela que tem carga, mas para me trazer de volta quando ficar sem bateria. Conheço alguém que pode recarregar para ela. — O que é isso? Eu perguntei quando ela deslizou em uma sacola de algodão cinza suja. — É velho, mas funciona. É algo que a ajudará na transição. Talvez ela possa trocar seu tempo por isso. Tenho tantos pedidos de roupas e consertos que mal consigo acompanhar. Regan estava ensinando sutilmente a garota o caminho do nosso mundo. Negociar, ou permutar, é como sobrevivemos. Também ajudaria Grace a aprender a costurar, o que significa que ela não estaria destinada ao Whore Pit. Com um sorriso, afastei-me de Regan e a deixei cozinhar. * Mordi meu lábio inferior enquanto navegava pelasmultidões de pessoas em direção à sala de prostituição e depravação. Os olhos de Grace se iluminaram ao ver o pequeno dispositivo que a ajudaria na transição, como Regan havia dito. Ela o agarrou ao peito como um bem precioso antes de explicar que a minúscula caixa lhe permitiria ouvir música. Eu conhecia música. Tínhamos muita música no submundo, embora eu nunca a tivesse visto contida em um dispositivo tão pequeno e insignificante. Grace estava preocupada que ela não fosse capaz de pagar Regan de volta. Ela não sabia costurar, mas estava ansiosa para aprender, e eu sabia que isso seria bom o suficiente para Regan. Ao entrar no quarto de Grace na grande casa de Claire e Rocket, eu a encontrei encolhida no canto, seus olhos cheios de medo, lágrimas secas marcando sua pele sardenta. Ao me ver, ela se acalmou e subiu hesitante na cama para se sentar ao meu lado, trocando apenas algumas palavras. Claire pairava na porta, ansiosa para dar um toque de mãe, para ajudar delicadamente a criança no submundo. Fiquei quase uma hora conversando, contando a Grace coisas como a biblioteca, a sala de hidropônia onde os vegetais eram cultivados e o galinheiro que cheirava um pouco desagradável, mas nada tinha um sabor melhor do que ovos frescos. Dez galinhas e dois galos haviam chegado ao submundo em uma caçada, e alguns internos especializados em agricultura no mundo acima conseguiram criar os animais até termos um rebanho sustentável. Os setores se revezavam em comer ovos e, de vez em quando, matavam duas aves e a carne fresca era disponibilizada. Era precioso, geralmente guardado para Kingsley e seus soldados, e era provavelmente como Shadow pôde tê-las na noite anterior. Partir fora difícil. A maneira como os olhos de Grace suplicaram aos meus era de partir o coração, mas ela não se afastava dos braços de Claire quando se abraçaram. Me senti confiante de que Claire e Rocket iriam proteger a novata. Eles dariam a ela o conforto gentil que ela precisava. Pelo menos eles poderiam dar a ela mais do que eu poderia. O cheiro picante e amargo de NIM cobriu o ar enquanto me aproximava do Whore Pit. Viciados desmaiados lotavam o corredor estreito, e tive que passar por mais de alguns antes de chegar às enormes portas duplas que separavam o vale dos colchões do resto do submundo. — Negócios ou lazer? Raze riu quando me aproximei. Kingsley o fez chefe de segurança no Whore Pit, certificando-se de que aqueles que procuravam a carne por trás das portas trouxessem algo decente para o comércio, mas ele não passava de um cafetão do NIM. — Procurando minha próxima luta na gaiola, na verdade, — murmurei enquanto contornava seu odor ofensivo e empurrei a porta. Gostei de Raze se encolher com a menção da gaiola. Ele estava mais do que feliz em fazer apostas e assistir ao show, mas ele era o tipo de homem que nunca entraria no ringue. A sala além era enorme e ampla, cheia do som de carne batendo e gemidos guturais profundos. Quando entrei, pude sentir o cheiro de sementes derramadas, suor e NIM que pairavam no ar. Lençóis surrados estavam pendurados em linhas que se estendiam de um lado ao outro da sala, dando a ilusão de privacidade. Nada era privado aqui, no entanto, e muitos dos colchões estavam sem sua parede de lençóis, ou o tecido era tão fino que você podia ver através dele. Havia duzentas e cinco mulheres condenadas no submundo, e cinquenta e seis delas trabalhavam nesta sala. Elas foram bem alimentadas pelo esforço e forneciam a elas todo o NIM e álcool que poderiam desejar. Eu não as julgava; elas estavam fazendo o que tinham que fazer para sobreviver. Elas fodiam e eu matava. Não, definitivamente não houve julgamento da minha parte. — Ei, garota, o que está acontecendo? Veio a voz grave de Dotty, a senhora de sessenta e cinco anos do chamado estabelecimento. Dotty estava tão desgastada quanto elas vinham, com sulcos profundos em sua carne flácida e de couro. Seu corpo não passava de pele e ossos, e seu rosto estava pintado em tons de rosa e vermelho incompatíveis. Ela usava uma seleção incomparável de colares, tantos que eu não conseguia começar a contar a bagunça emaranhada. Anéis estavam em todos os dedos e pesadas joias vermelhas pendiam dos ouvidos. Alguém me disse uma vez que as joias da mulher comprariam uma pequena ilha no mundo acima. No submundo, elas não eram nada além de enfeites inúteis. Um cigarro enrolado à mão pendia de seus lábios finos e pintados enquanto ela se inclinava contra um balcão largo que ficava na frente de uma sala de coleta. Atrás dela era onde os itens trocados, em troca de carne, eram guardados até que os homens do rei os procurassem. — Parece cheio, — comentei enquanto andava em torno de um preso tropeçando em um NIM óbvio. — Qualquer um pensaria que a escuridão havia fechado seus portões de fogo e todos os demônios vieram para foder. Levantei uma sobrancelha para o comentário murmurado dela, e Dotty rapidamente riu com um som áspero e tossido que veio do fundo de seus pulmões de fumo. — Os negócios estão crescendo. — A vida é simplesmente uma droga. — Tudo consensual? Com isso, Dotty riu de novo, antes de seguir com outro ataque de tosse. — Garota, você acha que alguma dessas mulheres quer estar aqui fazendo isso? — Você sabe o que eu quero dizer, — respondi. Sabia perfeitamente que poucas dessas mulheres tinham escolhas. Se elas não tinham habilidades para contribuir de outras maneiras para o Submundo, era o Whore Pit ou a gaiola; havia até algumas inocentes que escolheram essa vida em um esforço para melhorar de alguma forma sua existência. Eu não as culpava por sua decisão. A gaiola era aterrorizante, mas aos meus olhos, os colchões finos e sujos que as mantinham vestidas e alimentadas eram igualmente assustadores. — Ninguém ousaria abusar ou forçar uma das minhas garotas enquanto estava no trabalho. Hawke e Billy se certificam disso. Dotty acenou com a cabeça em direção a seus filhos adotados, Hawk, um homem negro de duzentos e oitenta quilos, com dreadlocks pendurados na cintura, e Billy, o caipira de cento e vinte quilos que atualmente estava inalando um tiro de NIM. Eu duvidava que Billy tivesse sobriedade para lidar com um cliente descontrolado e, embora o tamanho de Hawk pudesse ser intimidador, ele tinha a reputação de ser uma merda preguiçosa. — Você está procurando trabalho, garota? Dotty perguntou, seus olhos ardendo de fome. — Aposto que meu ingresso de alimentação do próximo mês bateria o recorde de cinquenta e oito em um dia de Lila. Meu lábio se curvou com aversão, e os olhos brilhantes de Dotty rapidamente desviaram o olhar enquanto tentava encolher os ombros com indiferença. — Que pena. Você seria carne de primeira qualidade... — ela murmurou enquanto se afastava para o estoque atrás dela. Uma espécie de caminho rude cercava a sala, com alguns corredores improvisados saindo para dar acesso ao centro da sala. Meus dedos brincavam ao longo do punho da minha faca quando comecei uma volta na sala cavernosa. Tentando manter meu olhar diretamente na minha frente, ignorei os corpos contorcidos à minha esquerda. Nem todas as salas com paredes cobertas de lençóis estavam ocupadas, mas mais foram preenchidas, o som familiar do sexo impossível de bloquear. De vez em quando eu andava em torno de um casal que não tinha conseguido alcançar sua barraca, sua paixão sendo desencadeada contra a parede de pedra circundante e, em uma ocasião, bem no chão de pedra. Quase tudo acontecia nesta sala fria de depravação; ocasionalmente, eu até via um lobo da prisão, um homem que se envolvia em sexo com outro homem apenas para transar. Eu cresci com demonstrações abertas de gratificação sexual, então nada disso me chocou. Por um tempo, após o meu ataque, tinha sido difícil testemunhar a gratificaçãosexual aberta sem as lembranças daquela noite ameaçando me arrastar para baixo. Kingsley teve um prazer perverso em me enviar aqui para verificar seus negócios em expansão após o meu ataque. Mas a cada dia que passava, meu corpo machucado curava, meu coração endurecia e minha determinação se fortalecia. Eu ainda odiava vir para cá, mas isso não me deixou tão desconfortável quanto antes. Treinei incansavelmente, aprendi a me proteger melhor, estudei armas e ganhei músculos e uma forma ágil que me permitia me mover mais rápido. Eventualmente, aprendi a foder nos meus próprios termos, não nos de outra pessoa. Não que fosse um esporte em que participasse com frequência; quando o fiz, foi rápido e furioso, um Sprint até o fim. Os gemidos que vieram dos casais que se contorciam ao meu redor nunca saíam dos meus lábios. Eles realmente pareciam estar gostando do ato. Quando cheguei ao lado mais distante da sala, as portas agora à vista, eu praticamente soltei um suspiro de alívio. Com passos rápidos, me movi em torno de uma bunda nua que estava batendo em uma prostituta dobrada sobre os joelhos sobre o paletes, mas parei quando uma voz familiar me sacudiu da minha fuga planejada. De pé diante de mim, inclinando-se casualmente contra uma parede enquanto uma das prostitutas passava a mão sobre a virilha de seu jeans, estava Shadow. Parei e vi quando ele casualmente alcançou a mão errante e envolveu seu grande punho em torno de seu pulso, puxando-a para longe de seu corpo. Assim como ele fez, seu olhar subiu e me encontrou olhando. Continuou falando, seu foco intenso inteiramente em mim, quando a prostituta entrou em seu corpo, as mãos dela agora roçando seu peito. Meus dedos se enroscaram no cabo da minha faca, e meu coração disparou furiosamente quando a raiva encheu meu corpo. Eu não entendi minha reação; queria matar a mulher que o tocava, e logo depois estripar Shadow. — Nada. — murmurou Shadow, interrompendo qualquer bobagem que a prostituta estivesse derramando. — Eu estava procurando por você. A prostituta virou-se para espiar por cima do ombro antes de abaixar a cabeça e seguiu rapidamente em direção a um colchão onde ela separou o lençol pendurado que oferecia sua privacidade, e saiu da minha vista. Garota esperta. — Fiquei com a impressão de que você não fazia negócios aqui, que você prefere levá-los de volta para o seu quarto. Os olhos de Shadow se iluminaram com humor, seu sorriso impressionante. — Você esteve falando sobre mim, garota durona? Abri a boca para falar, mas descobri que as palavras não saíam. Shadow deu os poucos passos entre nós antes de retomar sua postura casual, seus braços fortemente tatuados cruzados sobre o peito largo vestido com uma camiseta preta. — Eu gosto disso, — ele murmurou. — O que? — Eu agarrei. — Que você não pode mentir que esteve falando sobre mim. — Regan esteve. Shadow ainda estava sorrindo; suas covinhas rasas fazendo seu rosto parecer mais jovem, mais suave. Fiquei tão incrivelmente intrigada com aquelas entorses em suas bochechas que tive que forçar meus dedos a permanecerem imóveis, em vez de estender a mão e tocá-las como desejava. — Hummm, Regan. Eu nunca a levei para ser a garota de um soldado. Ela tem certas qualidades que um homem pode admirar: grandes mamas e esse cabelo. Você pode colocar os punhos em volta de todo esse cabelo e segurá-la firme enquanto você fode a boca dela. Não procurando mais por essas covinhas intrigantes, minha mão mais uma vez envolveu minha faca e meus olhos procuraram os dele, procurando a verdade em suas palavras. Ele queria Regan? Eu não esperava isso. O pensamento deles juntos me fez sentir mal. Não havia como um homem como Shadow chegar perto de Regan. Sua natureza bela, suave e inocente estaria perdida para sempre sob a alma corrompida de um homem como Shadow. — Um homem pode encontrar essas qualidades o suficiente, — Shadow respirou, inclinando-se para a frente até que seus lábios estivessem um sussurro longe da minha bochecha. — Mas não um bruto como eu. Você está me entendendo, garota? Um homem como eu precisa de força em uma mulher, talvez até um pouco de desafio. Seu nariz mergulhou na curva do meu pescoço, exatamente onde meu ombro encontrava os tendões tensos, e ele respirou fundo, não me tocando muito, mas perto o suficiente para me fazer tremer. — Estou ansioso para ver Timber chorar como uma cadela. Você o fará sangrar pelo que ele fez com você. Me orgulhe hoje à noite, garota durona. Com isso, ele se afastou, seus olhos escuros finalmente me deixando com algo semelhante à relutância antes de desaparecer da sala. Recuperar minha compostura agitada levou-me mais alguns instantes. Shadow dissera as palavras, me orgulhe, de tal maneira que me vi querendo. Ele queria ver Timber cair tanto quanto eu e, embora Kingsley me possuísse dentro do ringue, hoje eu estaria lutando por outro homem. SHADOW A multidão na arena vibrava com uma energia que me fazia tremer. Era o tipo de intensidade que cercava o caos mal contido. Não era possível encontrar um branco, obviamente a tensão e o perigo os advertiram, mas os azuis, amarelos e vermelhos estavam em vigor. A pequena legião de amigos de Timber, e eu usei o termo livremente, estava amontoada em um canto, persuadindo o homem com tapas nas costas e conselhos de última hora. Timber parecia focado, porém, seu olhar fixo nas enormes portas de aço que logo se abriria e revelariam seu oponente, Nada. Eu sabia que ela odiava a entrada chamativa, mas fazia parte do show do Rei, outra maneira de criar drama e espetáculo. As lutas preliminares que antecederam o evento principal desta noite foram brutais, com duas mortes e uma mutilação; um soldado perdeu a orelha por meio de dentes cruéis. Todo o sentimento desta noite era de morte e caos. As apostas estavam furiosas e inclinavam-se levemente a favor de Nada. Normalmente, eu teria apostado, mas hoje à noite não queria que isso fosse sobre comércio ou esporte. Esta noite era sobre vingança em sua forma mais crua e inalterada. Era a vida no submundo, nas profundezas mais baixas, e eu queria ver Nada lutar por mim. Não se tratava de ganhar outra caixa de merda com apostas; era uma porra mais profunda do que isso. A garota era minha. Eu a queria e queria que ela me quisesse do mesmo jeito. A multidão realmente silenciou quando as portas foram lentamente abertas, e embora eu não pudesse vê-la, sabia que ela estava vindo na minha direção, a multidão se abria como o maldito Mar Vermelho enquanto ela passava. Então ela estava lá. Porra, meu coração ficou trêmulo por um segundo, e pensei que poderia parar quando a peguei. Ela estava vestindo o que parecia um traje corporal maldito, agarrando- se à pele com aquelas botas sensuais e fodidas. Do outro lado do peito da roupa preta havia tiras de couro, com cerca de cinco centímetros de espessura, cruzando seu corpo, cada uma com uma cor diferente: branca, amarela, azul e vermelha. Era definitivamente uma das peças de Regan; o conjunto de couro era semelhante às roupas que Nada usava no passado. Que porra essa garota estava fazendo? Parecia suspeito como uma rebelião e, por causa de sua desafiadora pintura corporal no dia das chicotadas em público eu sabia que era Regan que estava plantando os sinais inócuos de solidariedade na garota mais inconsequente, mas ao mesmo tempo significativa do submundo. Seu cabelo estava no novo moicano que ela gostava de usar, que parecia feroz e sexy como o caralho. Seus olhos escuros estavam cercados em seu carvão esfumado habitual, e quando esse olhar escuro finalmente se fixou em mim, vi o interesse sem vergonha por trás daquela máscara de ousadia. Mal estava escondido, e ninguém mais parecia perto o suficiente para vê-lo, mas eu fiz. Olhei profundamente em sua alma atéque ela viu desejo em mim, e eu saboreei isso. Era sujo, cru e prometia mais prazer do que eu já havia encontrado com outra mulher. Nenhuma palavra foi trocada quando ela passou por mim, nossos olhos apenas se separaram quando ela não conseguiu mais manter meu olhar, o empurrão da multidão em suas costas a levando para a gaiola. Regan e Dejohn tomaram suas posições habituais na porta de aço do anel sedento de sangue, Regan segurando as facas de Nada, Dejohn uma máscara estoica de força. Timber subiu atrás dela. Ambos os lutadores ignoraram o barulho estrondoso que ecoou pela enorme arena. Gadget, em seus familiares óculos grossos, os seguiu até a gaiola. Depois de verificar brevemente que nenhuma das partes estava armada, Gadget olhou para as traves e eu soube o momento em que Kingsley assentiu. Gadget sorriu ao redor de seus dentes muito brancos e rapidamente saiu correndo do ringue, batendo a porta atrás de si. Não houve introdução formal para os oponentes; assim que a porta foi fechada, a luta começou. Timber dançava na ponta dos pés, girando os ombros e o pescoço, observando Nada enquanto ela estava como uma estátua de pedra diante dele. Ela estava pronta, no entanto. Os pés estavam separados; seu peso estava posicionado um pouco à frente; seu corpo aparentemente relaxado, mas a maneira como seus músculos se contraiam nas coxas indicava que estava pronta para qualquer coisa. Timber ergueu as mãos e começou a dançar ao redor de Nada enquanto lentamente levantava os punhos para proteger as costelas e o rosto. Timber deu alguns socos, nada mais que uma tentativa maluca de fazê-la baixar a guarda. Nada não se preocupou em desperdiçar energia preciosa. Seus olhos continuaram a segui-lo, alertas e sempre vigilantes. Quando Timber se abaixou, Nada deu um tapa no punho e se afastou, Timber seguindo em um esforço para amontoá-la e forçá-la de volta contra a parede da gaiola. A garota varreu uma perna e tirou os pés de Timber, enviando-o ao chão. Com um assobio de raiva, ele rapidamente pulou de volta e retomou sua posição de boxeador, os punhos curvados para trás um pouco, o queixo caído, o pé direito um pouco à frente do esquerdo. Com os punhos afastados do rosto, e as pernas dobradas e ela pulava levemente, os pés equilibrados enquanto esperava o próximo ataque de Timber. Ela não precisou esperar muito; Timber enviou um soco curto seguido de um uppercut 17 de longo alcance. Nada se afastou do ataque, e Timber tentou segui-la, tentando movê-la para os limites apertados da parede da gaiola novamente. Como ela fazia quando treinava comigo, ela permitiu que ele desse um passo à frente. Usando esse impulso, foi para as pernas novamente, varrendo- o de seus pés mais uma vez. 17Uppercut é um soco utilizado em várias artes marciais como no boxe, kickboxing e muay thai. Este golpe é lançado para cima, com qualquer uma das mãos. O uppercut viaja no plano vertical, de baixo para cima, junto ao tórax do adversário e entra pela sua guarda em direcção ao seu queixo Eu quase podia sentir a humilhação de Timber quando ele se levantou; as pessoas em seu canto riram e gritaram insultos que apenas irritavam o homem desgraçado nele. Foi algo bom; um lutador furioso perdido em emoções perderia o foco. Timber fingiu outro golpe em direção a Nada ainda curando as costelas, e quando o punho dela abaixou para se proteger, ele bateu forte, o sangue jorrando do nariz dela enquanto ele socava novamente, desta vez pousando um punho forte na caixa torácica agora desprotegida. Nem uma palavra escapou de seus lábios, mas pelo enrolamento de seu corpo, eu sabia que ela estava sofrendo. Limpava o sangue com o ombro enquanto Timber sorria. Ele estava dizendo algo, e eu sabia que as palavras não seriam bonitas. Nada se manteve firme, no entanto; nenhuma emoção deslizou através de sua fachada de puro foco. Ela simplesmente encontrou sua postura mais uma vez enquanto circulava Timber provocando. Desta vez, foi a garota que entrou na ofensiva, jogando o gancho direito, seguido de um soco esquerdo antes de suas pernas se moverem, um chute apontado para as pernas de Timber. Por um momento, ele soltou as mãos para defender do chute pesado, e Nada girou um pouco, seguindo-o com outro chute alto, conectando com o rosto de Timber. Ela não hesitou em dar um soco no nariz agora sangrando, fazendo com que Timber gritasse algumas malditas obscenidades coloridas. Procurando uma visão melhor para o ataque, Nada manteve o foco enquanto Timber cuspia sangue no tapete sujo. A luta continuou. Timber conectou alguns socos que literalmente forçaram o ar dos pulmões de Nada, e logo ambos estavam uma bagunça sangrenta, os movimentos de Timber ficando desleixados quando seu corpo se cansava rapidamente. Nada não recuou; embora visivelmente esgotada, todos os movimentos executados foram feitos com perfeição. Logo, ela claramente teve a vantagem. Recostando-se, ela apontou um chute alto para o rosto de Timber novamente, e ele mal o bloqueou antes que ela levantasse do tapete, seu corpo girando enquanto ela pousava uma casa perfeita no lado oposto da cabeça de Timber. Dessa vez, ele se ajoelhou e, sabendo que ela precisava tirar proveito de sua vulnerabilidade, não importa o quanto seu corpo gritasse por descanso, Nada deu um chute nas bolas do homem que fez todo mundo com um pau gemer de simpatia, exceto eu. Sorri, enquanto vi Timber se contorcer de dor. Nada não impediu seu ataque brutal quando ela o chutou na cabeça e mais fluidos corporais espalharam-se pelo chão, afundando ainda mais no tapete manchado. Com uma mão áspera, ela agarrou um punhado dos cabelos de Timber e o arrastou para uma posição sentada desleixada. Seu rosto, atormentado pela dor, estava inclinado em minha direção. Nada sorriu através de um bocado de sangue antes de estender a mão por cima do ombro de Timber e agarrar seu pau. Ele gritou como ninguém jamais deveria gritar, a menos que fosse um pedaço de merda do submundo que foi pego olhando carne menor de idade. Lágrimas escorreram por seu rosto enquanto seu corpo se contorcia sob o aperto brutal de Nada, e ela só parou quando o filho da puta desmaiou. Eu sorri de volta para a garota quando ela empurrou Timber para o chão e se firmou nas suas pernas fortes. Eu sabia que ela estava cansada, mas ela não mostraria esse tipo de fraqueza na frente de Kingsley. A multidão enlouqueceu, empurrando-se com uma anarquia descarada quando Nada foi autorizada a sair da gaiola. Olhando por cima do ombro, vi o Rei, sua expressão de pedra em Nada enquanto Dejohn a levava embora. Seu olhar escuro encontrou o meu antes que eu fosse dispensado com um aceno sutil. Afastando-me de Timber, que estava deitado no centro da gaiola, deixei a arena para encontrar minha Nada. Não sei se usava uma placa que dizia ‘eu dou a mínima’, mas todas as pessoas que tentaram entrar no meu caminho enquanto caminhava em direção ao quarto de Nada pegaram minha ira. Rocket queria falar comigo sobre uma troca; contornei sua forma larga e o ignorei. Jones precisava de uma porra de gerador; o empurrei para fora do meu caminho. Bee e Sam queriam transar, todos nós juntos, em uma maratona de sexo. Enquanto meu pau teimoso queria fazer uma pausa em sua oferta, sabia que não era nenhum dos seus corpos que me satisfaria, então pisei entre seus peitos grandes e falsos e as pupilas dilatadas de NIM. Levei quase quarenta minutos para chegar ao quarto dela, e bati na porta com força quando a encontrei vazia. A academia era minha próxima escolha óbvia, e quando me aproximei das profundezas escuras e sujas do submundo, parei com o som de palavras sussurradas vindo de dentro. — Vem cá Baby. Apresse-se e tire essa roupa louca. Eu quero te foder tanto. A voz masculina desconhecida erabaixa e rouca com uma necessidade que eu conhecia muito bem. — Espere um minuto, Kye. Eu ainda tenho sangue em mim. — Isso nunca te impediu antes, querida. Vamos. Meu pau está tão duro depois dessa luta. Aposto que você está escorregadia e molhada para mim. Qualquer processo de pensamento lógico fugiu do meu cérebro quando chutei a porta parcialmente aberta e entrei na sala. Kye, seu nome nem mesmo vagamente familiar para mim, estava sentado no banco comprido que percorria a sala inteira, seus jeans largos caídos de joelhos, seu pau na palma da mão. Seu olhar assustado estava em mim, mas meus olhos eram todos para Nada, que estava diante dele, ainda completamente vestida, com a mão congelada no zíper. — Você toca neste zíper e ele está morto, — rosnei, o som chocando até mesmo a mim. O olhar assustado de Kye ficou entre mim e Nada. Ela suspirou, virando um pouco para me encarar. Seu rosto estava machucado e ferido, mas ela ainda estava linda para mim. Eu podia ver o fogo dançando atrás dos seus olhos. Ela poderia muito bem ter sugado meia dúzia de cartuchos de NIM, seu corpo obviamente subindo alto de sua luta. Quando ela caísse, seria difícil, mas, enquanto isso, eu estaria fodido se deixasse que ela estragasse seu excesso de energia com alguém além de mim. — É melhor você tirar esse pau fora, ou você estará trabalhando nessa sua bunda no Whore Pit por um mês. A oferta de boceta está ficando baixa de novo, e King está falando sobre colocar mais alguns jovens, burros e cheios de porra no pau lá embaixo para os caras que não são exigentes. Kye nem se incomodou em fechar as calças quando passou por mim e saiu da academia. — Eu preciso dele, — Nada fervia. — Você precisa de um pau, baby, mas eu serei amaldiçoado se deixar você ter qualquer um. Você é minha, e se precisar de alguém para ajudá-la a descer, você vai me foder. Você está entendendo, baby? Ela não discutiu. Não recuou. Meu pau endureceu com a postura desafiadora de seu corpo. Ela ficou alta e orgulhosa, mesmo sofrendo. — Vire-se, garota durona. Ela não se mexeu. Cadela ousada. Movendo-me rápido, agarrei seus ombros e a virei, empurrando-a em direção à parede. Uma lufada de ar escapou de seus lábios quando pressionei meu corpo contra o dela, minha mão trabalhando o zíper na parte de trás de seu traje apertado. Rasguei a roupa de seus braços e pelas pernas enquanto Nada lutava pelo controle. Quando estava completamente nua e exposta para mim, ela ainda parou, seu peito subindo e descendo em um ritmo forte e pesado. De algum lugar profundo dentro de mim, toquei-a com uma gentileza há muito esquecida. Meus dedos acariciaram sua carne machucada, seus braços, suas costas e ao redor da labareda de seus quadris. — O que você está fazendo? — Ela sussurrou. — Se você não sabe, aquele filho da puta com a mão no pau estava obviamente fazendo algo errado, mas eu vou consertar isso, baby. Eu vou te mostrar como é ser minha. NADA Dizem que quando a morte passa diante de seus olhos, você vê sua vida em instantes, seu cérebro disparando momentos que são arrastados por uma abóbada há muito esquecida em sua mente. Isso não acontece quando você está sendo estuprada; o único pensamento que entra em sua mente é pânico. Pânico puro e inalterado que é tão espesso que a afoga. Lembrei-me do medo no meu estupro, como aconteceu se tivesse ocorrido há apenas alguns dias, minha perfeita memória fotográfica feliz por reviver o momento horrível em que meu corpo foi usado da pior maneira possível. Mas, através do terror que estava tentando me arrastar para dentro de suas profundezas escuras, notei pequenas coisas diferentes desta vez. As mãos cruéis que uma vez arrebataram e agarraram, não puderam ser sentidas, os sons de ódio carnal e ameaças cruéis não puderam ser ouvidos, e o forte cheiro de NIM e odor corporal não pôde ser cheirado. Agarrando os fios da sanidade antes de sucumbir à loucura e ao pânico, permiti-me notar essas diferenças. As mãos de Shadow tocavam minha pele com gentileza e reverência, que eu nunca havia experimentado, enquanto brincavam sobre meu corpo, me tocando intimamente. Shadow era todo duro, masculino e quase esmagador, se não fosse por essas diferenças. Ele era quente, seu toque era suave e seu perfume era limpo e masculino. — Linda, — ele respirou no meu ouvido. Suas palavras eram tão ternas e honestas que certamente não poderiam ser significadas para mim. Ninguém nunca usou ‘linda’ para me descrever. Shadow estava me tocando, embora suas mãos nunca deslizassem para meus seios ou entre minhas coxas, ele estava me acalmando, me amaciando, permitindo que eu o sentisse pelo que ele era, não pelo que minhas memórias queriam que eu acreditasse que poderia ser. Eu podia sentir a pressão rígida de seu pênis na minha parte inferior das costas, mas não tirou suas roupas ou me forçou, e a cada movimento suave de sua mão, a tensão deixava meu corpo. — Eu vou fazer você se sentir bem, querida, assim. Por mais que eu queira abrir meu zíper e afundar em sua boceta quente e molhada, você não está pronta para mim. Implorei para discordar. O fogo que ele estava acendendo com as mãos, fazendo com que minha adrenalina aumentasse ainda mais, me guiou do pânico a carente em um piscar de olhos. — Você vai me deixar cuidar de você, Nada? Shadow nunca pedia; ele sempre pegava o que queria. Sua pergunta foi preenchida com tanto desespero que não pude ignorar. Minha cabeça caiu no seu ombro. — Cuide de mim, Shadow. Pensei que ele iria me agarrar com mãos gananciosas; um homem tão forte e poderoso, certamente o faria. Em vez disso, as pontas dos dedos deslizaram pelas minhas laterais e ao redor dos meus quadris, envolvendo suavemente os globos da minha bunda antes de voltar para os meus lados mais uma vez. Polegada por polegada, as moveu ao redor do meu corpo até que varreu suas mãos calejadas pelo meu estômago e finalmente segurou meus seios. Seus dedos rolaram suavemente e brincaram com meus mamilos como um músico poderia tocar um violão. Então apertou antes de dobrar os joelhos e esfregar seu pênis vestido contra a fenda da minha bunda. Uma mão permaneceu possessivamente em volta do meu peito, enquanto a outra caiu na junção entre as minhas coxas, onde seu dedo mergulhou entre os cachos aparados ali, traçando o vinco entre os meus lábios femininos. Empurrando para frente, meu corpo implorou por mais, e Shadow não me fez esperar. Deslizou um dedo na minha fenda, esfregando suavemente meu clitóris antes de mergulhar no meu calor úmido e arrastar a umidade de volta para o lugar que eu mais precisava dele. Minhas mãos deixaram a parede e agarraram os cabelos dos dois lados da cabeça. — É isso, querida. Deixe-me cuidar de você. Seu dedo se moveu com experiência, provocando e dando, apenas o suficiente para me empurrar lentamente em direção à beira de um penhasco sobre o qual eu raramente caía. Nem sempre tive orgasmo, e tudo bem. O ato em si drenava a energia do meu corpo, encontrando a verdadeira libertação ou não. A respiração de Shadow estava irregular enquanto continuava a esfregar seu comprimento na minha bunda enquanto sua mão me trabalhava intimamente. Minha própria respiração ficou pesada, e meus quadris empurravam contra a mão dele até que joguei minha cabeça para trás e soltei um longo e gutural grito quando caí sobre essa borda, meus membros tremendo e apenas o forte braço de Shadow me mantendo na posição vertical. Quando minha respiração irregular diminuiu, o aperto no cabelo de Shadow afrouxou e minhas mãos caíram contra a parede de pedra na minha frente. Empurrando para trás, senti o pau duro de Shadow, mas ele se afastou, deixando uma lasca de espaço entre nossos corpos trêmulos. — Foda-me, Shadow, — eu sussurrei, tentando empurrar meu corpo em direção ao delepara encontrar o calor que ele estava me negando. — Eu não vou te foder, baby. As palavras chegaram com uma precisão mais brutal do que qualquer golpe que eu tivesse sofrido na gaiola. Claro que ele não gostaria de levar as coisas adiante. Eu não era nada, e ele era o segundo do meu pai, o garoto de ouro dele. Ele poderia ter qualquer uma e levava mulheres regularmente. Eu era apenas uma brincadeira, algo que o intrigou até que ele ficasse entediado. — Você não está pronta para isso, Nada, mas estará, e quando estiver, vou te foder tanto e por tanto tempo que você nunca mais se sentirá como ninguém, você vai se sentir como minha. Fiquei em silêncio e imóvel enquanto deixava suas palavras penetrarem, e pela primeira vez em minha existência, não tinha medo de pertencer a alguém. A mão dura e calejada de Shadow envolveu meu pescoço, me segurando, me apertando. Meu coração acelerou com uma mistura de pânico e expectativa quando ele se pressionou contra minhas costas mais uma vez. — Se eu ouvir ou ver outro homem tocando em você de novo, o mato, Nada. Vou cortar sua garganta e vê-lo sangrar, depois vou prendê- la à sua cama e lembrá-la a quem você pertence. Você está me entendendo, garota durona? O comando em sua voz me irritou, mas antes que Kye conseguisse colocar um dedo em mim, eu sabia que não o queria. Eu estava parada, precisando de ajuda para descer, mas sabendo que não era de Kye que queria ajuda. Kye era conveniente, mantinha as mãos para si mesmo, não era pegajoso, me deixava controlar todos os aspectos de nosso acordo disfuncional e, até agora, ele funcionava. Vê-lo esperando por mim na academia hoje à noite enviou um estridente desapontamento através do meu corpo, porque na longa viagem da arena para as profundezas sujas da minha academia, não era Kye que eu imaginava me cumprimentando lá. Era um homem duro e moreno, com um rosto maravilhosamente perigoso e um corpo feito para a morte e o pecado que sonhava esperando por mim. Dei um aceno sutil, meu orgulho não queria se submeter a Shadow, mas meu coração e alma estavam tentando alcançá-lo, frenéticos por sua posse de mim. Quando Shadow finalmente se afastou, me abaixei para arrastar o traje de couro de gato que Regan havia feito para a minha luta de volta pelas minhas pernas, permitindo que ele alcançasse a minha cintura. Com meu peito ainda nu, virei para encarar Shadow, que agora estava na porta. Seus olhos caíram para meus seios, e ele apalpou seu pau duro que pressionava o zíper do jeans enquanto se afastava. — Você quer que eu cuide disso? — Eu sussurrei, acenando com a cabeça insistentemente. — Baby, eu não consigo pensar em nada melhor do que seus belos lábios ao redor do meu pau, mas não hoje à noite. Tenho merda para resolver. Como um rugido de trovão, a raiva chicoteava meu interior como um chicote implacável, meu olhar se estreitando em Shadow enquanto ele continuava a devorar meu estado meio vestido. — Shadow? — Eu murmurei entre dentes. Seus olhos finalmente deixaram meus seios e se estabeleceram no meu rosto. — Se eu ouvir ou ver você com outra mulher, eu a mato, e então deslizarei minha faca em seu peito e desenterro seu coração negro para que nunca mais bata novamente. Você está me entendendo? Ele sorriu. O filho da puta sorriu. — Não teria outro jeito, garota durona. Com uma piscadela que me trouxe à tona, se virou e saiu. Segurando meu traje na cintura, balancei a cabeça e olhei ao redor da academia. Lentamente, a parte cognitiva do meu cérebro começou a funcionar novamente e senti todos os meus ferimentos desabarem sobre mim, cada um com seu próprio pulso doloroso. Sentindo o inchaço no canto da boca, puxei o traje por cima dos ombros, peguei minhas facas, que Dejohn havia deixado bem arrumadas no banco e saí da academia. Eu precisava de um banho, de água, de comida e, desesperadamente daquelas pequenas pílulas felizes que Dejohn havia guardado em seu quarto, que me fariam sentir dormência. * — Regan, estou no serviço de limpeza do banheiro. Não tenho tempo para isso! Passou uma semana desde a minha luta com Timber, e meu corpo estava se recuperando lentamente. Contusões desaparecendo de um preto escuro de raiva, para um roxo pálido e, finalmente, um feio tom de amarelo. Minhas costelas ainda doíam, mas o fato de estarem se recuperando tão rápido sugeria que haviam sido apenas machucadas, em vez de quebradas ou trincadas. A semana passou devagar: um dia passado deitada na cama, meu corpo dormente pelas pílulas abençoadas que Dejohn só trazia para ocasiões especiais; outro dia de sessão de treinamento lenta e silenciosa com Dejohn enquanto meu corpo protestava veementemente; outra checagem no Whore Pit, limpando o vômito da Zona Selvagem e visitando Grace; e hoje seguindo Regan através do labirinto de corredores que levaram mais fundo ao setor de inocentes. Durante toda a semana, meu humor afundou de mal-humorada a absolutamente amarga. O motivo era óbvio, embora tentasse ignorá-lo, Shadow esteve ausente a semana inteira. De praticamente viver no bolso de trás a nada, e depois da noite na academia e sua promessa de me reivindicar por conta própria, inventei meu próprio raciocínio para sua presença inexistente, ele mudou de ideia. Também ouvi rumores de que tinha sido visto no Whore Pit, e isso enviou meu mau humor a outro nível. A primeira chance que tiver vou caçá-lo e destruí-lo. Ele criou uma necessidade dentro de mim que permiti florescer, depois a roubou. Manuseando o punho da minha faca embainhada na minha coxa, sorri enquanto pensava em todas as maneiras pelas quais podia fazer o homem gritar de dor. — Talvez seja melhor que você não sorria. Você vai assustá-los. Meu sorriso desapareceu em um piscar de olhos quando olhei para Regan, que caminhava ao meu lado com um sulco entre as sobrancelhas, o que significava sua frustração. — Quem são eles? — Eu agarrei. Regan parou, suspirou e abriu uma porta que dava para um depósito, só quando a segui, era muito menor do que lembrava, mais como um armário. Estudei o espaço pequeno e apertado, minha memória claramente confusa enquanto vasculhava minha lembrança de quartos no Submundo, apenas este que não reconhecia. Regan desajeitadamente empurrou para o lado um grande tambor vazio, depois começou a mover tijolos da parede até que ela deixou um buraco grande o suficiente para rastejar através da parede de pedra. Eu a observei rastejar, então, com um encolher de ombros, segui. A sala iluminada do outro lado me pegou de surpresa, e peguei minha faca quando notei um movimento à minha esquerda. — Está tudo bem, Nada, — murmurou Regan na minha frente. — São eles. Ela se afastou e meu olhar vagou pela sala escondida, com aproximadamente seis metros de largura pelo mesmo comprimento. No centro, havia uma comprida mesa de madeira com bancos feitos à mão. Cinco homens e uma mulher estavam sentados ao redor da mesa, e alguns outros permaneciam ao redor deles. Todos eram inocentes, exceto a mulher sentada à mesa. Tatiana, uma mulher considerada culpada de matar o marido, embora ela sempre afirmasse que foi em legítima defesa, era vermelha. — Nada, — disse Tatiana com uma voz clara e forte. — Estamos felizes por você ter conseguido. — Fazer o que? Eu perguntei, meus dedos ansiosos ainda posicionados sobre o punho da minha faca. — Este é o começo, Nada, — disse Regan em voz baixa. — É aqui que a revolução começa. Aqui, nesta sala, é onde um líder nascerá. Tenho certeza de que o olhar que dei a ela foi de pura descrença. — Já existe uma rebelião fora dessas paredes de pedra. Você está dizendo que faz parte disso? Eu brincara com a ideia de Regan como um rato e a descartara quase tão rapidamente quanto o pensamento fugaz. Eu estava errada? Regan balançou a cabeça. — Não, os rebeldesdo mundo exterior realmente não se importam conosco; eles só se importam com poder. O objetivo final é derrubar Kingsley. Precisamos lutar por nós mesmos. Precisávamos criar nossa própria rebelião. Praticamente zombei do absurdo disso. Esses treze homens e mulheres esperavam derrubar Kingsley e dominar o submundo? Eles não teriam chance no inferno. — Eu disse que ela não aceitaria. Ela é a garotinha do papai, e ela é boa demais para querer perturbar o sistema. Meus olhos se concentraram em Paul, o inocente pálido e magro que recentemente se tornara a voz de seu povo. A garota loira recuou diante do que viu na minha expressão. — Paul, você sabe que o pai de Nada não se importa com ela; ele a usa para fins lucrativos. Se alguém quiser ver o fim de sua tirania, seria ela. A voz de Regan parecia ter peso nesta sala. Balancei a cabeça de um lado para o outro enquanto os observava cada um deles. Se eles soubessem o quão perigoso esse caminho que estavam percorrendo realmente era. Em dois meses, todos estariam livres, e aqui estavam colocando em risco todo o plano, anos de informações e esquemas iriam pelo ralo se continuassem nesse caminho. Balançando a cabeça com uma expressão solene, virei para Regan. —Isso é perigoso, Regan. Kingsley tem ouvidos e olhos em todo lugar; ele descobrirá e todos serão mortos. Não importa que você seja inocente. Olhei por cima da pequena assembleia. — Ele fará você sangrar; vai fazer você implorar. Olhei duro para Melanie, a pequena loira inocente com grandes olhos azuis e pele macia. — Ele usará você, depois permitirá que seus soldados usem você; você será violada de maneiras que não pode imaginar antes que ele termine seu sofrimento. Você sentirá tanta dor que implorará pela morte antes que ele finalmente a conceda. Melanie se encolheu com minhas palavras, e com razão. Elas não eram bonitas, mas não deveriam ser; elas eram simplesmente a verdade, por mais dura e feia que a verdade pudesse ser. — Você está com medo, — Paul cuspiu. — Ter medo é uma coisa boa, mantém você vivo. Sem medo, você é arrogante e ousado e comete erros... como isso. Acenei minha mão ao redor da sala. — Sim, estou com medo, e isso se justifica. Vi coisas que você nem imagina nos seus pesadelos mais loucos, e isso... Dei um passo à frente e bati minha mão sobre a mesa de madeira, toda a minha raiva reprimida quando olhei para cada um deles. — Isso terminará mal para todos vocês. Virando-me, corri pelo buraco na parede, minha mão estendendo a maçaneta para o novo e menor armário de suprimentos antes que a mão macia de Regan agarrasse meu pulso. Quando ela falou, a silenciei com um violento balanço da cabeça. — Não, Regan, não há nada que você possa dizer para me fazer mudar de ideia. Você prometeu — a lembrei. Deixou um gosto ruim na minha boca falar com ela assim. Entendi seu desejo de mudança, ninguém queria viver neste inferno, e aqueles infelizes o suficiente para nascer nele eram apenas baixas de guerra. — Isso é loucura, e tem que terminar agora. Não sou líder e, além disso, seu timing não poderia ser mais uma merda. Tudo o que você planejou, pare agora! Não lhe dei a chance de falar; simplesmente saí da sala, meu coração batendo forte de pânico. Eles tinham que parar agora, ou estragariam tudo. Regan ficaria machucada antes que eu tivesse a chance de salvá-la. Eu odiava as palavras frias e maldosas que vomitei para Regan e as outras pessoas naquela sala, mas elas tinham que ouvir. Eles precisavam de dúvida, precisavam de medo e precisavam viver, porra. SHADOW Assisti o último preso rugir e lutar enquanto quatro soldados tentavam subjugá-lo. Ele era um grande filho da puta, cheio de cicatrizes e feio como o pecado. Como ele viveu tanto tempo no mundo acima, não fazia ideia; o homem parecia o próprio diabo e, ao ler seu dossiê, não me surpreenderia se ele fosse Satanás, em toda a sua glória maligna, reencarnado. Jerome Hinkley Junior, 29 anos, homem caucasiano, considerado culpado de vários assassinatos, incluindo a morte de sua própria mãe e irmã, a quem ele esfolou, como se fosse um esfolador, comeu fígado e coração... sim, esse filho da puta era claramente louco. Meu olhar subiu para a comoção diante de mim. Solo deu um passo à frente para ajudar, e agora cinco soldados estavam subjugando gradualmente a fera enorme e fervilhante. Ele estava completamente nu; a única parte do corpo que parecia intocada pela tinta era seu pênis, que estava duro. O filho da puta estava excitado com a violência. Levamos quase duas horas para removê-lo da gaiola e mais uma hora para levá-lo pelo corredor e entrar na sala onde estava sendo registrado. Dejohn estava sentado no computador, seu rosto sombrio enquanto observava os soldados baterem em Jerome até que ele finalmente estivesse parado. — Hummmm, — Kingsley murmurou do meu lado, — este aqui tem um pouco de fogo. Eu balancei a cabeça em concordância, me perguntando se este havia nascido no fogo. — Levem-no para a masmorra. Eu assisti enquanto Solo, Ginger e Dom pegaram o homem agora inconsciente e o arrastaram da sala branca e dura. — Vá com eles, caso o filho da puta acorde, — ordenei aos dois soldados restantes que estavam encostados na parede, segurando-o pelos membros feridos e machucados. Obedientemente, eles seguiram o recluso com concussão para fora da sala, e Dejohn recostou-se na cadeira, observando incrédulo. — Como diabos ele sobreviveu, pelo que ele fez acima? Dejohn se perguntou em voz alta. — Você quer que eu o derrube? — Eu perguntei a Kingsley. — Não quero que ninguém o derrube, — murmurou Kingsley, o que chamou a minha atenção e de Dejohn. Kingsley levantou uma sobrancelha incrédula. — Por que eu iria querer ele derrubado? Ele é magnífico. — Ele tem muito fogo; ele queimará você no momento em que puder. Ele não é mais que um animal raivoso. Minhas razões podiam continuar, mas essas três pareciam as mais dignas de nota. — Ele é como um leão enjaulado, — disse Kingsley com um sorriso. — Enjaulado, sendo a palavra principal. Meu estômago caiu e, pelo olhar de Dejohn, o dele também. — Imagine ele na gaiola com a garota. — Ele a mataria. — Talvez, mas seria um espetáculo e tanto. Poderíamos construir, trazê-lo para fora e colocá-lo na gaiola para visualização, dando bastante impulso à luta. — E ele a mataria, — rosnei novamente. Kingsley suspirou. — Ela está aumentando sua utilidade de qualquer maneira, ficando muito arrogante. Se ela morrer, é menos uma coisa para me preocupar. Me dando um tapa nas costas sorriu. — Melhor molhar seu pau nela enquanto você pode. Com isso, foi embora. — Filho da puta! — Eu cuspi. — Chupador de pau filho da puta. — Acalme-se, Shadow. Voltei minha ira incrédula para Dejohn. — Acalmar-se? Acalmar-se, porra? Você está falando sério? Aquele maldito animal vai matá-la, e não será bonito! Dejohn me lançou um olhar zangado. — Existe alguma morte bonito18? — Foda-me! Rugi quando me inclinei pesadamente contra a parede. — Ela pode pegá-lo. — O que? 18Ele fala errado. Não sei se na revisão, vocês irão optar por manter as falas erradas de Dejohn, porque os erros perdem o sentido no português. Aqui ele usa priti, para dizer pretty, não consegui pensar em algo além similar no português para substituir. Olhei para Dejohn, não tendo certeza se o tinha ouvido claramente. — Tudo vai ficar bem. Ele estava atrás do computador, seu rosto, que havia sido uma imagem de preocupação frenética momentos atrás, agora era uma fachada calma que parecia um pouco forçada demais, se você me perguntasse. — Ela pode lidar. Ele é grande e cheio de raiva, mas não treinado. Ela pode levá-lo... Dejohn parou na minha frente.—E Shadow? Se você machucar Nada, eu mato você. — Olhei em seus olhos castanhos nublados. — A menos que ela mate você primeiro. Sorrindo, ele saiu. * O pânico borbulhou dentro de mim como um gêiser pronto para entrar em erupção. Não via Nada há uma semana; Kingsley nos fez trabalhar duas vezes mais para encontrar os informantes rebeldes. Olhando para minhas mãos trêmulas, pensei no sangue que as havia revestido apenas nesta semana. Havia extraído gritos e carne de vários detentos do submundo, mas ainda tinha que extrair um único e útil grão de informação. Ou os espiões rebeldes estavam imersos tão profundamente que ninguém sabia quem eles eram, ou estavam sendo protegidos com tanta força que as pessoas estavam preparadas para morrer por eles. Não sabia o que era pior. Olhando minhas mãos, ainda podia ver o sangue, a mancha da morte e tortura que contaminaria para sempre minha alma. Não importa quantas vezes as lavava, ainda estava lá. Matar tinha sido assustadoramente fácil para mim no submundo, mas ultimamente eu estava cansado disso, desejando os dias em que essas mãos estavam cobertas por nada além de graxa e trabalho duro e honesto. Precisava ver Nada, precisava saber que estava bem, precisava reivindicar seu corpo. Talvez ela pudesse me ajudar a esquecer o sangue e os gritos que ecoavam nos meus pesadelos. * A garota estava chateada. Se o gelo, o esmalte frio de seus olhos não o revelassem, a fúria o fez quando ela atirou um pedaço de pedra em mim. Me abaixei quando o grande pedaço de pedra atingiu a parede à minha esquerda e virei meu olhar igualmente furioso para ela. Ela parecia surpresa ao abrir a porta para me encontrar lá, e quando tentou fechar a porta na minha cara, forcei meu caminho para o quarto. Agora, enquanto eu estava de costas para a porta fechada, com uma bola de fogo fervendo na minha frente, me perguntei se minha decisão de entrar no quarto dela quando era tão volátil era uma escolha suicida. Havia uma chance de cinquenta e cinquenta que ela pudesse me derrubar. Ela era fodidamente mágica quando lutava, mas eu tinha algumas habilidades próprias; a diferença entre nós era que eu não queria machucá-la. Claramente, ela queria me machucar. O jeito que ela lentamente deslizou a faca do coldre na coxa e acariciou a lâmina negra como uma amante faria com o pau de seu homem me deixou fodidamente duro e nervoso. — Que porra é essa? — Eu rosnei. — Eu lhe disse que esculpiria seu coração se você fosse para outro lugar. Minha testa franziu com suas palavras, o significado por trás delas me pegando de surpresa. — Não sabia que era do tipo ciumenta, garota durona. Com isso, ela correu para mim, a faca em um aperto experiente e raiva queimando atrás de seus olhos escuros. Dando um passo para o lado, me abaixei um pouco e tomei o peso de sua investida com meu ombro. Balançando a mão da faca em um arco, ela apontou para o comprimento macio do meu pescoço grosso. Peguei seu pulso e o dobrei para trás até que ela não teve escolha a não ser largar a arma. A faca caiu no chão de pedra com um barulho e, enquanto internamente eu estava me dando um tapinha nas costas para um desarmamento rápido, a porra da intratável enfiou a palma da mão no meu nariz; o estalo alto e o sangue fluindo livremente me garantiram que estava bem quebrado. Isso só me irritou. Rugindo, abaixei-me e joguei-a por cima do ombro, movi-me rapidamente para a frente e a joguei na cama com um baque, seguindo-a para baixo. Felizmente, meus olhos estavam rapidamente limpando as lágrimas que brotaram neles quando ela quebrou meu nariz, para que eu pudesse ver as mãos que estavam mirando meus olhos, tentando me acertar. A segurei firme o suficiente para marcar sua pele de porcelana enquanto ela resistia e se contorcia debaixo de mim. Meu pau ficou rapidamente ligado, endurecendo sob minha calça cargo 19 negra. Finalmente, a realidade afundou e Nada se acalmou lentamente, percebendo o quão inútil era lutar comigo, e pela sombra do medo em seus olhos, sentiu meu pau pressionado contra sua coxa. — Você terminou? Ela não falou, seu olhar falava por ela. Meu sangue pingou em seu peito, gotas de vermelho atingindo o tecido branco de sua blusa e criando uma obra de arte mórbida e espalhada. — Primeiro, eu não sei que merda você está ouvindo, mas meu pau não sente o calor liso de uma vagina há mais de um mês. Em segundo lugar, — inclinando-me para mais perto, ignorei o sangue que agora escorria pela pele cremosa de sua bochecha: — você luta comigo, e eu vou lutar de volta. Você está me entendendo, garota durona? 19 Tipo de calça Olhos escuros passaram pelo meu rosto como se procurasse a verdade. Ela acharia isso facilmente; eu não mentiria para ela. — Você foi visto no Whore Pit, mais de uma vez. Me empurrando para fora dela, agarrei o que parecia ser um pano de chão e estava prestes a pressioná-lo no meu nariz ensanguentado quando ela me parou. — Não isso, é a minha camisa favorita! Depois de arrancar a camisa das minhas mãos, rapidamente encontrou outra no encosto de uma cadeira e a jogou no meu rosto, antes de usar outra para limpar o sangue de sua própria bochecha. — Você estava lá há dois dias atrás, — eu rosnei quando inclinei minha cabeça para trás, esperando o sangramento parar. — Kingsley me ordenou lá embaixo para ficar de olho nas coisas, — argumentou ela. Olhei por cima da camisa encharcada de sangue e levantei uma sobrancelha. — Você acha que é a única que ele manda para esse buraco de merda para ficar de olho nas coisas? — Ele mandou você ir lá embaixo? — Sua voz suavizou. — Eu nunca transei com aquelas prostitutas infectadas por DST, e com certeza não estou prestes a fazê-lo. — Eu não preciso, boceta chega à minha porta, então com certeza não preciso ir procurar por ela. Os olhos dela brilharam e o lábio se curvou com nojo. — Você é minha, Nada, e eu não quero outra boceta. Quando elas tentam são mandadas embora. Por um momento, pensei que ela poderia tentar me esfaquear novamente, mas lentamente, a luta sumiu de seu corpo. Sentei-me na cadeira coberta de roupas e observei enquanto ela estava desajeitadamente em seu próprio quarto, com os pés embaralhados, o olhar fixo no chão. — O que você está escondendo, garota durona? Ela parecia tão culpada quanto uma freira agachada em um campo de pepino, a cabeça balançando lentamente de um lado para o outro. Puxando a camisa, senti delicadamente meu nariz machucado. Satisfeito que não estava mais sangrando, deixei cair a camisa ensanguentada no meu colo. — Não estou escondendo nada. Ela parecia convincente, mas sua linguagem corporal a denunciou. — Não minta para mim. Grite comigo se precisar, diga-me para me foder e cuidar dos meus próprios assuntos, mas não minta para mim. Ela me lançou uma careta irritada. — Garota durona, sempre que entro no seu quarto, você fica no mesmo lugar como uma leoa protegendo seu filhote. Você fica olhando para a cama e, pelo pequeno espaço na beira do colchão, é óbvio que você tem algo escondido embaixo dele. Eu não vou tirar de você, o que quer que você tenha lá. Se vamos fazer isso funcionar, baby, você precisa aprender a confiar em mim, e eu preciso aprender a confiar em você. Ela ainda hesitou, seu olhar deslizando para a porra do local novamente no colchão antes de voltar nervosamente para se estabelecer em mim. — Diga-me o que você está escondendo e deixarei que você faça uma pergunta. Qualquer coisa, pergunte-me, porra, qualquer coisa, e eu lhe darei a verdade honesta por Deus. Com isso, ela assentiu. — Eu faço a pergunta primeiro. Sorri. Claro que ela faria; putinha não estava ansiosa para desistir do controle. — Tudo bem, faça sua maldita pergunta. Recostando-me nacadeira, esperei enquanto ela cuidadosamente vasculhava todas as coisas que obviamente estava morrendo de vontade de me perguntar, procurando a resposta que significaria mais. O tempo todo, seus dentes mordiam o lábio inferior como um animal raivoso. Eu queria mordê-lo, e muito mais. Finalmente, ela descansou de volta na beira da cama e me olhou diretamente nos olhos. — Quem é a mulher que você deixou para trás? NADA Uma máscara inquebrável pareceu descer sobre o rosto de Shadow, sem revelar nada. Tentar ler sua expressão insondável era tão útil quanto um filtro solar no submundo. Meus dedos tremeram com a necessidade de estender a mão e tocá-lo. Imaginei que ele seria tão duro como uma pedra, seu corpo enrolado com tensão depois de ser perguntado algo que provavelmente preferiria deixar no mundo acima, junto com a vida que teve lá. Ele ficou sentado assim por um longo tempo, olhando para mim, mas sem realmente me ver. Se ele esperava que eu ficasse entediada e o expulsasse, estava errado. Uma coisa que você tinha em abundância no submundo era tempo. Sempre havia tempo para absorver a desesperança e a miséria. Sempre havia paredes de pedras sujas para se olhar, escuridão para se sentar e histórias de outras vidas para serem ouvidas. Justo quando pensei que ele iria levantar e sair, ele falou. — Alanis. A palavra era rouca em sua língua, como se sua voz não tivesse testado o som desse nome há muito tempo. Seu rosto ainda uma máscara indistinguível, mas esse nome foi dito em uma voz cheia de dor. — Ela era sua esposa? — Eu continuei. Shadow sorriu, mas não era de humor; foi absolutamente mal. — Essas são duas perguntas. Não havia sentido em subterfúgios, eu estava abrigando mais de um segredo, mas o debaixo das minhas pernas era o mais fácil de explicar. Alcançando debaixo do colchão, puxei o livro. Mais uma vez, meus dedos traçaram o movimento elegante das pétalas de rosa que enfeitavam a capa. Tão lindo. — Você está escondendo um livro? Sobre flores? Shadow pareceu surpreso com a revelação. Ignorando-o, folheei cuidadosamente as páginas até chegar a 'essa'. Com mãos gentis, cuidadosamente coloquei o livro aberto no meu colo, então com muito cuidado, peguei a flor prensada. Não sabia que estava prendendo a respiração até meus pulmões começarem a arder e soltei um longo suspiro enquanto acariciava delicadamente a delicada rosa. A cama caiu ao meu lado e dei a Shadow um rápido olhar nervoso. Ele tiraria isso de mim? Ele o destruiria? Ele zombaria de mim por segurar algo tão insignificante tão perto do meu coração? — Mostre-me, — ele sussurrou. Levou cada grama de força de vontade que eu tinha para não apertar a rosa seca na palma da minha mão para mantê-la em segurança. Em vez disso, com uma mão trêmula, estendi para ele inspecionar. A perplexidade me encheu enquanto observava esse homem grande e duro lidar com a flor frágil com uma gentileza que eu nunca esperaria. — É uma rosa, — me vi explicando. Shadow assentiu, concentrando sua atenção apenas na flor. — Vermelha. Encontrei nas páginas deste livro. É minha. Possessividade forçou as palavras dos meus lábios em um rosnado impaciente. Um pequeno sorriso apareceu no canto da boca de Shadow. — Assim como você é minha. Meu corpo sacudiu fisicamente com suas palavras. — Eu não sou um objeto. — Não. Shadow sussurrou enquanto deslizava a rosa entre as páginas do meu livro. — Você é algo muito mais, algo que deixei para trás há muito tempo, algo que não pertence a este lugar. Você pertence ao ar fresco, com a luz do sol em seu rosto e flores até onde os olhos podem ver. Você está me entendendo, garota durona? O livro e a flor no meu colo foram abandonados quando minha atenção concentrada permaneceu no rosto áspero e barbudo de Shadow. — Há flores até onde os olhos podem ver? — Eu murmurei com reverência. Shadow assentiu, seus olhos duros suavizando um pouco. — Em alguns lugares. A guerra destruiu prédios, estradas, casas e, em seu lugar, a natureza assumiu o controle. Fora da cidade, nas colinas, durante a primavera, há campos de margaridas selvagens até onde você pode ver. — Realmente? Shadow assentiu lentamente enquanto observava minha expressão encantada. — O que mais? Ele pareceu relaxar um pouco e seus olhos assumiram um olhar distante. — Fora da cidade, na floresta, cheira fresco, limpo. O ar é tão fresco que alimenta sua alma. E árvores, algumas crescem tão alto que você pensa que pode alcançar o sol. Meus olhos lacrimejam com uma emoção tão forte que poderia me quebrar se eu deixasse. Espero que isso chegue ao meu coração e o faça disparar. — Minha família tinha uma cabana de caça nas montanhas. Nós fomos lá algumas vezes quando eu era apenas um menino. — Como foi? Ele sorriu novamente, este chegando até os olhos. — Como liberdade. Precisando tocar a beleza que era seu sorriso, acariciei com um dedo sobre seu lábio inferior, tentando absorver a felicidade diretamente em meu corpo. Em vez de ficar chocado com o meu toque, Shadow parecia se inclinar para ele. — Você gosta de tocar, garota durona? Sua voz grave ronronou. — Eu preciso saber que você é real, — eu sussurrei. Enquanto meus dedos acariciavam sua bochecha, Shadow se virou levemente e deu um beijo na minha palma. Eu parei. — Eu sou real, baby. Ele esfregou a bochecha contra a minha mão, como se eu tivesse vendo o gato de rua que Regan levou por um curto período de tempo esfregando a mão dela. — Eu sei que parece bom demais para ser verdade, mas isso é real e vou fazer você sentir isso. Empurrando minha mão suavemente para o lado, Shadow se inclinou para frente e pressionou seus lábios nos meus. O beijo não foi gentil: era áspero, exigente e real. Tão fodidamente real que doeu, mas não recuei. Eu não era covarde. Eu o beijei de volta; nossos lábios e línguas eram uma reunião frenética de duas pessoas que só precisavam sentir. O corpo duro de Shadow pressionou contra o meu e, quando comecei a voltar para a cama, meu livro de rosas escorregou do meu colo e o baque forte contra o chão me fez afastar, ofegando com força. O olhar sombrio de Shadow encontrou o meu quando ele se inclinou para pegar o livro. Ele garantiu que a rosa ainda estivesse pressionada com segurança entre as páginas antes de fechá-lo e deslizá-lo de volta para baixo do meu colchão. Seu carinho por algo que significava muito para mim fez meu coração frio esquentar um pouco. Então ele estava em mim novamente, me empurrando para baixo enquanto lambia e chupava meus lábios, me provando com uma necessidade tão selvagem que era agressiva quando seu corpo cobriu o meu. Esta era uma posição vulnerável em que eu não me colocava desde aquela noite. Apenas o pensamento fez meu corpo ficar tenso, e a presença inflexível de Shadow acima de mim me fez arrancar minha boca da dele e ofegar por ar. — Não, você não, — ele rosnou, agarrando meu rosto e me puxando para trás, então não tive escolha a não ser olhar em seu olhar desafiador. — Eu não vou deixar você voltar para lá. Sinta-me. Apertando seus quadris contra os meus, podia sentir o comprimento rígido de seu pênis pressionando seus jeans, mas ele não rasgou nossas roupas e se forçou a mim. Seus dedos se uniram aos meus, empurrando-os contra o colchão de cada lado da minha cabeça. — Veja-me. Suas bochechas estavam coradas, suas pupilas estavam dilatadas de paixão quando ele segurou meu olhar, mas não havia raiva lá, nem ódio, apenas um homem que precisava sentir algo mais que um vazio frio, mesmo que por pouco tempo. — Prove-me, — ele sussurrou antes de pressionar seus lábios nos meus novamente. Desta vez, enquanto nossos lábios dançavam juntos, era menos frenético, mais uma exploração, lenta e aquecida. Senti os dedos de Shadow sussurrandoatravés da pele do meu estômago, procurando sob o tecido da minha camisa enquanto ele a levantava lentamente até meus seios estarem em exibição. Mergulhando, ele tomou um mamilo entre os lábios e chupou, puxando o broto profundamente em sua boca, seus dentes beliscando suavemente a carne macia enquanto a outra mão apertava meu peito negligenciado. Desesperada por sentir mais dele, puxei sua camisa e ele colocou um pouco de espaço entre nós, permitindo-me arrastar o tecido sobre sua cabeça. Ondulações de músculos sólidos estavam cobertas por um labirinto de tinta preta, fluindo perfeitamente no peito e no estômago. Minhas mãos seguiram a tinta pelos braços dele, pelos ombros largos e pelas costas. Shadow era um homem impressionante, alto, largo, sólido, duro e, no entanto... enquanto explorava meu corpo, era gentil e eu percebi que não tinha medo dele. Eu não tinha medo do que estava prestes a acontecer. Ele demorou a retirar minhas botas, soltando cada fivela de prata até que as jogou com um baque pesado no chão de pedra. Com dedos ágeis, puxou o zíper da minha calça de couro e arrastou-as pelos meus quadris e pernas, sua língua e lábios seguindo o tecido, até que chegou aos meus pés e foi jogado de lado. O olhar faminto de Shadow me encorajou. Puxei minha camisa por cima da cabeça, depois me sentei e peguei o zíper de seu jeans quando se ajoelhou na minha frente. Puxando o jeans de lado, estendi a mão e envolvi meus dedos em torno de seu pênis, puxando um gemido dos lábios de Shadow. Ele era grande, possivelmente maior do que qualquer outro homem com quem eu estive, disposta ou não. Meus dedos acariciaram através da pele macia e aveludada que estava envolvida em aço quente e duro. Minha mão foi deixada de lado quando Shadow se levantou, tirando as botas e saindo do jeans. — Você pode tocar outra hora, garota durona. Eu preciso estar em você. Ele se ajoelhou no colchão e cobriu meu corpo. — Agora. Quando seus lábios tomaram os meus em mais um beijo punitivo, seus dedos deslizaram entre as minhas pernas e seguraram minha boceta. Um dedo mergulhou entre os meus lábios femininos quando me explorou antes de mergulhar dentro, entrando e saindo com longos golpes. Logo, meus quadris estavam encontrando seus dedos, e meu corpo tremia com a necessidade de liberação. — Eu preciso de você. Eu preciso estar em você. Eu preciso sentir você. Shadow olhou nos meus olhos, seu corpo parado. — Diga que precisa de mim também. Quaisquer reservas que pudesse ter foram substituídas por uma necessidade ardente. Meu corpo estava faminto por esse tipo de toque, e eu ansiava por mais. — Eu preciso sentir você, — confessei. Eu não tinha certeza se precisava dele, mas estava desesperada para sentir algo além de miséria e dor. Era tudo o que Shadow precisava ouvir quando se abaixou e agarrou seu comprimento rígido, pressionando-o no meu núcleo passando a cabeça para trás e para frente através da umidade. Então, com meu olhar capturado no dele, Shadow empurrou no meu corpo, um golpe longo e duro e enterrado profundamente. Ele não ficou parado enquanto se ajoelhou, incentivou minhas pernas a envolverem sua cintura e começou a mergulhar de um lado para o outro em meu núcleo. Seus impulsos eram duros, sacudindo meu corpo a cada golpe forte. O som da pele batendo na pele encheu meu quarto silencioso, nossas respirações ofegantes rapidamente ficando fora de controle. — Você está me sentindo, baby — Shadow gemeu quando ele bateu em mim. Suas mãos apertaram meus seios; isso parecia doloroso, mas enviou uma sacudida de luxúria para aquele lugar palpitante entre minhas coxas. — Você gosta disso, garota durona? O suor escorria por sua testa e peito enquanto continuava seu ritmo implacável. — Você gosta de um pouco de dor com o seu prazer? Inclinando-se para a frente, chupou um mamilo em sua boca, seus olhos escuros nos meus o tempo todo. Então ele me mordeu, não forte o suficiente para quebrar a pele, mas forte o suficiente para senti-lo profundamente dentro da minha alma. Ele estava me marcando, me fazendo dele. Eu não podia negar que fiquei emocionada com o pensamento de pertencer a alguém, mesmo que pouco tempo. Eu gostaria de poder pertencer a ele para sempre, mas isso não aconteceria. Nada durava para sempre no submundo, e eu estaria saindo em breve. Em vez disso, eu me perdi para o aqui e agora e me permitiria apenas sentir. Meus olhos se fecharam quando minha boceta apertou seu pênis, meu corpo se preparando para cair sobre aquele penhasco enigmático que fazia você cair e voar simultaneamente. A testa de Shadow pressionada contra a minha. — Goza no meu pau, baby. Sua mão deslizou entre nós, e seus dedos pressionaram contra o meu clitóris, esfregando com golpes de comando que me empurraram. Eu gritei, a rara sensação de um orgasmo fazendo minhas costas arquearem e meu corpo se curvar. Eu nunca gozei tão forte; senti tudo e nada ao mesmo tempo que minha boceta apertava seu pau, minhas coxas enroladas em volta de sua cintura como faixas de aço. Shadow gemeu alto quando alcançou seu próprio clímax; seus movimentos fluidos tornaram-se bruscos e descontrolados quando deu alguns golpes fortes antes de parar. Parecia que eu estava lentamente flutuando de volta para meu próprio corpo, e meus membros se transformaram em mingau quando relaxei sob Shadow. Cada respiração inspirada devolvia oxigênio aos meus pulmões, e cada longa expiração soprava os medos e reservas. Logo, Shadow era um comprimento lânguido de macho duro, e sua respiração ficou mais uma vez uniforme e controlada. Eu podia sentir os efeitos remanescentes do orgasmo onde nossos corpos ainda estavam intimamente unidos. Eu deveria ter me sentido vulnerável e presa, mas, em vez disso, me senti curiosamente em paz, aproveitando a sensação do corpo de Shadow cobrindo o meu. Eu me senti estranhamente protegida e com razão. Esse homem nunca me machucou de bom grado; ele me protegeu quando eu estava mais vulnerável. De alguma forma, nas profundezas da escuridão, encontrei um vislumbre de luz. Quando ele se afastou, até que nossos corpos não estivessem mais unidos, seu corpo deslizou para um lado e ele jogou uma perna possessiva sobre as minhas. Seus braços me envolveram um pouco apertado, mas não desconfortável. Éramos como uma bagunça retorcida de membros e carne, entrelaçados como galhos espinhosos de uma videira rosa. — Precisamos conversar, — Shadow finalmente murmurou no meu ouvido. — Mas preciso de alguns momentos para me recuperar. Durma um pouco e conversaremos quando eu acordar. Eu me irritei com seu tom autoritário, mesmo que uma soneca parecesse boa. Pela primeira vez na minha existência, fechei os olhos e adormeci... e eu não estava sozinha. SHADOW Nunca tivemos a chance de conversar. Em vez disso, acordei de um cochilo curto para um pau duro e furioso e uma mulher bonita enrolada em volta de mim. Eu estaria morto para não tirar proveito disso. Não dormia ao lado de uma mulher desde antes de ser condenado ao submundo, e nunca me senti assim. Talvez o tempo tenha silenciado os sentimentos que compartilhei com Alanis, mas não conseguia lembrar da força motriz que me fez querer viver dentro de Nada a cada segundo do dia. Hoje, deveria estar colecionando a última produção de moonshine de Claire e Rocket. Em vez disso, estava preso na cama de Nada com a mulher desossada respirando com força e rapidez no meu peito. Ela acabou de me montar como a melhor rainha do rodeio, então não havia como me desculpar por estar aqui, em vez de correr como uma cadela por Kingsley. Meus dedos seguiram uma das cicatrizes enrugadas nas costas dela, meu estômago enrolado com culpa. Essa foi de mim, uma marca na pele dela para sempre me lembrando como a machucara. — Eu sei o que está pensandoe você não pode desistir agora, — murmurou. Nada, a cabeça levantada do meu peito e aquele olhar de chocolate escuro pousando no meu. — Você pode ler mentes agora, garota durona? Eu perguntei com um arco levantado. Ela nem piscou, com os lábios carnudos franzidos. — Todos nós fizemos coisas das quais não nos orgulhamos aqui e fizemos em nome da sobrevivência. Você fez o que tinha que fazer e eu nunca vou responsabilizá-lo por essas cicatrizes, elas estão em Kingsley. Então — ela disse, apoiando o queixo em um punho. — Qual é o seu nome verdadeiro? No que diz respeito a uma mudança de assunto, foi uma boa. Ninguém nunca perguntou isso. A maioria das pessoas respeitava que, quando entraram neste mundo, deixaram o outro para trás, às vezes nomes e tudo. Não era incomum Nada ficar curiosa, mas era difícil empurrar o nome pelos meus lábios. Não havia sido falado desde o dia em que entrei no sistema. — Como é que você não sabe disso? Pensei que você soubesse tudo. — Seu arquivo diz que seu nome é Shadow. Sem sobrenome, apenas Shadow. Sorri e silenciosamente agradeci Dejohn. Ele foi o único a registrar minha bunda meditativa e quente nessa instalação e, quando me pediu meu nome, reivindiquei Shadow com ousadia. Ele tinha a coisa real escrita em um pedaço de papel ao lado, mas, aparentemente, ele tinha ficado feliz em me deixar abraçar meu novo título. Shadow parecia apropriado, parecia certo. Naquele momento, era tudo o que eu queria ser, uma Sombra20. Eu queria desaparecer em um quarto escuro e nunca encontrar minha saída. — Moses, Moisés McLeay, — murmurei, forçando as memórias daquele dia esquecido por Deus. Nada se levantou e colocou o queixo na palma da mão. — Moisés? Como da bíblia? — Sim, mas apenas no nome. Eu nunca fui religioso. Meu irmão era o bom filho; Eu era uma causa perdida, desde o dia em que dei o 20Shadow=Sombra primeiro passo e empurrei o vaso favorito da minha mãe da mesa de café e o quebrei. — Você tem um irmão? — Tive. — Mesmo que você esteja aqui e ele esteja lá fora, não significa que ele não é mais seu irmão. — Ele morreu quando éramos adolescentes. — Oh. Nada parecia perdida para o que dizer. Isso não me surpreendeu. O cordial 'desculpe' não era algo que ela teria aprendido aqui embaixo. Eu também não queria ouvir. Por que as pessoas tinham a necessidade de se desculpar quando alguém morreu estava além de mim; não foi culpa delas. — Quando? Ela pressionou, e eu tentei não sorrir. Em momentos como esse, ela ainda parecia tão inocente, sua curiosidade cruzando linhas que ela não tinha idéia de que estava pisando. Eu não podia ficar com raiva da ingenuidade dela; de fato, saboreei. Era refrescante e real. — Acidente de caça, na cabana que minha família possuía. — Oh, — foi tudo o que ela conseguiu responder. — Sim. — Como é o Natal? Sorrindo, segurei o riso pelo seu repentino redirecionamento na conversa. — Frio. Ela deu um tapa no meu peito e eu resmunguei. Ela tinha um tapa tão bom quanto um gancho de direita. — É felicidade, eu acho. Depois que meu irmão morreu, me mudei de casa e não comemorei mais os feriados. Mas antes, lembro-me de correr com meu irmão escada abaixo no dia de Natal para ver quais presentes haviam sido deixados sob a árvore. Comíamos demais, papai não trabalhava e mamãe sorria o dia inteiro e assava. Todos nós ríamos muito. Isso é felicidade. — Eu nem consigo imaginar na minha cabeça, — confessou Nada. Beijei sua testa quando ela caiu de volta no meu peito. — Nem todo mundo teve isso tão bem quanto nós. A guerra deixou muitas pessoas sem nada; as pessoas que tinham casas repentinamente viviam na miséria e as pessoas que tinham comida, subitamente imploravam por restos. Nasci depois que a guerra terminou, mas cresci vendo as cicatrizes que ela deixou para trás, não cicatrizes físicas, mas cicatrizes mais profundas, que contavam histórias de perda. — Posso imaginar isso, — ela sussurrou. — É triste entender melhor a dor e a perda do que entender a felicidade. Ela não estava chorando; sua voz era firme e suas palavras pareciam mais um comentário casual do que algo profundo e comovente. — Moisés, — ela murmurou. — Você percebe que eu não posso permitir que essa palavra saia de seus lábios novamente, — brinquei, rolando-a e prendendo as mãos acima da cabeça. Houve apenas um lampejo passageiro de apreensão por estar presa embaixo de mim, então ela relaxou, soprando o medo em um longo suspiro. — Por que não? Eu gosto disso. Combina com você. — Não quero que os outros saibam, — admiti em silêncio. Sua cabeça inclinou-se ligeiramente para o lado enquanto considerava minhas palavras. — Então não direi a uma alma. Mas posso usá-lo quando estivermos sozinhos? — Sim, garota durona, você pode usá-lo quando estivermos sozinhos. — Meu nome é Nada, não garota durona. — E você não se importa com o que isso significa, você é a dona e eu não aceitaria você de outra maneira. Eu não tinha esquecido a noite em que ela reivindicou seu nome com um desafio ousado. — Droga, — ela disse com um sorriso. Levantando minha cabeça, capturei aquele sorriso nos meus lábios, provando-o, levando-o à minha alma e coração. Isso me aqueceu, essa garota me aqueceu. Como eu poderia tê-la achado fria? Ela era como um sol escaldante neste mundo sombrio. Ela era tudo que eu precisava e tudo que eu queria. Não havia como deixá-la ir; o pai dela teria que aceitar a minha reivindicação. NADA Quanto mais me aproximava da pesada porta fechada que dava para a arena, mais alta era a música. Fui convocada para Lick Her por Kingsley, pois Deus sabe qual o propósito. Pelo som das coisas, ele estava dando uma festa e, como as portas estavam fechadas, era uma daquelas festas particulares, pelas quais era famoso. Eu consegui me afastar de tais reuniões com pouca resistência; Kingsley me queria aqui tanto quanto queria um bom caso de sífilis. Porque ele estava me chamando agora me deixou verdadeiramente perplexa. Solo sorriu quando me aproximei da porta. — Aproveite, — ele murmurou enquanto a abria para minha entrada. O cheiro de NIM, moonshine e sexo me deu um tapa na cara, e tentei respirar pela boca, em vez de pelo nariz. A sala estava iluminada por luzes berrantes que pendiam como diamantes do teto. Isso era novo. Meu olhar se voltou para as luzes incomuns, e meus dedos se esfregaram quando me perguntei como seria a superfície lisa e brilhante. — Já era hora de você nos agraciar com a sua presença, — a voz de Kingsley envolveu meu pescoço e sufocou qualquer maravilha diretamente do meu sistema. Abaixando o olhar, olhei para ele. Os móveis haviam sido arrastados para a ampla sala aberta, e ele estava reclinado em um sofá velho e sujo, suas pupilas estavam muito dilatadas e sua camisa de abotoar estava aberta, descobrindo seu peito pálido. Mulheres em vários estágios de nudez caíam sobre ele. Mais enchiam a sala, alguns fodendo abertamente seus soldados, outros felizes e obviamente apreciando o licor e o NIM. Uma nuvem branca chamou minha atenção e fiquei boquiaberta com a inocente vestida com uma túnica transparente, completamente nua por baixo. Ela estava servindo bebidas de uma bandeja; seu rosto estava impassível, mas o horror por trás dos olhos estava lá para todos verem. — O que você está fazendo? — Eu suspirei. — Ela é inocente. — E só por esse motivo, ninguém a está tocando. Estamos apenas apreciando a vista, certo, Shadow? O sorriso de Kingsley foi direcionado para a minha direita e me virei para ver a vista diante de mim. Shadow estava claramente bêbado. Seus olhos estavam vidrados. Uma mão segurava um copo de moonshine, a outra segurando a bunda de uma mulher nua que estava montada em seucolo. Meu intestino agitou-se com náusea, e eu não sabia se a adrenalina que enchia meu corpo repentinamente me faria vomitar ou matar alguém. Shadow parecia vestido sob as mãos errantes da prostituta, mas ele certamente não tentou desencorajá-la enquanto ela chupava seu pescoço. Ela estava marcando ele, e a mulher desprezada em mim queria fazê-la sangrar. Eu queria fazê-lo sangrar mais. — Ele não é seu. Ele é meu. A voz de Kingsley chamou minha atenção da cena horrível e de volta à sua presença igualmente repulsiva. — E você não é dele. Você também é minha. Eu pensei que você poderia precisar de um lembrete. — Você me trouxe aqui para ver Shadow fodendo? — Eu rosnei. — Notícias velhas, estive lá, já vi isso. O sorriso de Kingsley deixou seu rosto e ele empurrou as duas mulheres do colo enquanto cambaleava de pé. — Como você ousa falar comigo dessa maneira! — Ele rugiu. — Eu ouso, — eu cuspi. — Você pode me derrotar, pode me torturar, pode abusar dos inocentes e tentar brincar com meu coração, mas não vai funcionar, porque meu coração é tão frio quanto o seu. Não há dor. Eu não sinto nada. Olhei de volta para Shadow e a mulher se contorcendo no colo dele e bufei. — Eu teria cuidado, no entanto. Ontem, Meg foi banida da casa das prostitutas até que seu surto de verrugas desapareça. O olhar de Shadow endureceu quando me olhou, ainda imóvel sob a atenção de Meg. — Parece ciúme para mim, — Kingsley riu. — Não, só não quero pegar nada dele se eu decidir transar com ele novamente. Terminamos de jogar aqui? Kingsley estava chateado, mas em seu estado de embriaguez, mal podia se importar em se importar. Acenando com a mão, fui efetivamente dispensada e não dei a Shadown nenhum olhar. Afastando-me de Lick Her, tive uma visão de calma serenidade. Eu me escondi com indiferença e ignorei os poucos soldados que passavam do lado de fora da porta. A caminhada de volta ao meu quarto foi a caminhada mais longa da minha vida, pois enquanto parecia calma do lado de fora, do lado de dentro uma tempestade estava se formando. Minha garganta se apertou e meus olhos lacrimejaram. Quando virei a esquina que chegou ao meu quarto, uma única lágrima caiu na minha bochecha. Parei quando vi Dejohn parado na minha porta. Ele se virou para mim. — Nada? — Seu olhar preocupado me pegou. — O que está errado? Ele só me viu chorar algumas vezes, a maioria delas antes dos dez anos — O que aconteceu? Ele exigiu quando o pânico ultrapassou sua preocupação. Alguém passou por nós no corredor e eu virei minha cabeça para esconder minhas lágrimas. Dejohn imediatamente pegou minha chave e destrancou o cadeado que mantinha os presos selvagens fora do meu quarto, levando-me à privacidade. Pressionando o calcanhar das minhas mãos nos meus olhos, tentei segurar a dor que queria sair do meu corpo na forma de lágrimas. Respirei fundo e engoli, mas não adiantou. Elas caíram e, para meu horror abjeto, meu corpo começou a tremer em soluços silenciosos, enquanto Dejohn me olhava, tentando encontrar a fonte da minha dor. — Ele... ele me chamou — falei entre soluços. — Quem? — Ele perguntou, se abaixando para me olhar nos olhos. — Kingsley, — eu murmurei. — Ele está em Lick Her, dando uma festa. A confusão nublou os olhos de Dejohn por apenas um momento, depois o reconhecimento chegou em casa. — Você viu algo que te machucou? Concordei, tentando corajosamente enxugar as lágrimas teimosas que continuavam caindo. — Ah, garota, você está sendo tola. Ele está tentando machucá-la, através de Shadow. Balancei minha cabeça e fechei os olhos com força, esperando que ele não me pedisse para explicar mais. Não parecia que eu precisava, pois Dejohn me puxou para a cama e sentou-se silenciosamente ao meu lado enquanto controlava meus soluços. — Você me escute Nada, e escuta bem, Shadow não teria escolha. — Todo mundo tem uma escolha, — eu bati. — Ele escolheu ser o cão de guarda dele. — Agora use essa cabeça inteligente. Kingsley teria usado você, contra ele. — O que você quer dizer com isso? Eu murmurei, tentando apagar a imagem de Shadow com Meg da minha memória perfeita. — Ele quer dizer que o Rei ameaçou te matar se eu não obedecesse. Meus olhos saltaram para encontrar Shadow bêbado quando balançou na minha porta. — Eu não transei com ela. Joguei o jogo exatamente como Kingsley ordenou e saí logo depois de você. Meu lábio se curvou quando peguei a contusão escura em seu pescoço que Meg havia deixado. Shadow levantou a mão para cobri-la. — Vou cortar se você me pedir. Melhor ainda, vou deixar você cortar. Dejohn levantou-se para sair e eu agarrei sua mão em uma exibição incomum de necessidade. — Para com isso, Nada. Você é mais corajosa. Você é mais esperta, também. Não deixe ele vencer. Com um beijo na minha testa, saiu e Shadow entrou mais na sala, fechando a porta atrás dele. Meu raciocínio intelectual me disse que Dejohn estava certo; se a vida de Shadow tivesse sido ameaçada, provavelmente teria feito a mesma coisa. Mas meu coração não estava pronto para aceitá-lo, e quando Shadow desabou para se sentar ao meu lado, mudei-me para colocar mais espaço entre nós. — Não faça isso, — Shadow rosnou enquanto sua cabeça pendia nas mãos. — Fazer o que? — Eu resmunguei. — Não coloque espaço entre nós. Eu preciso de você agora. Preciso saber que você está segura e Kingsley não pode chegar até você. — Eu nunca precisei da sua proteção antes; estou viva por que posso me cuidar. Eu deixei a raiva voar e fiquei na frente dele, selvagem e furiosa. — O que faz você pensar que preciso de você fodendo outras mulheres para me manter segura? Você acha que eu preferiria ver isso do que apontar uma arma para minha cabeça? Tenho novidades para você, Shadow, Kingsley ameaça me matar desde o dia que nasci. Ele não fez, e ele não vai fazer, porque eu valho muito para ele viva. Apertei meu punho, querendo bater nele. — Para ser sincera com você, acho que prefiro ter uma faca nas costas do que o vê nos braços de outra mulher. Outra maldita lágrima vazou dos meus olhos, e eu os apertei para impedir que outra caísse. Chorar significava que Kingsley vencera. Ele encontrou minha fraqueza e eu odiava deixar alguém ver essa falha, até Shadow. Quando Shadow encostou a cabeça no meu estômago, resisti à vontade de me afastar. Tão brava quanto estava, era uma raiva mal direcionada; era Kingsley quem eu queria ver sangrar. A única coisa que ele nunca tirou de mim com quem me importava era Dejohn, e ele o manteve vivo porque me treinou bem. Agora ele estava tentando pegar Shadow, e a mulher desafiadora em mim agarrou seu cabelo e o abraçou. — Sinto muito, — Shadow sussurrou. Meu coração quase parou de bater ao ouvir seu pedido de desculpas. Duvidava que Shadow já tivesse se desculpado com alguém, e sabia que custaria muito orgulho para proferir essas palavras. O que aconteceu não foi culpa dele. Tudo estava em Kingsley, e Shadow estava fazendo o que ele precisava fazer para sobreviver. Eventualmente, meus dedos soltaram o cabelo que segurava em um aperto de vício, e eles correram por seus cabelos grossos, maravilhada com a forma como seus ombros perderam toda a tensão meramente com o meu toque hesitante. Depois de um breve momento, ele levantou abruptamente e passou por mim. Quando alcançou minha porta, entrei em pânico, me perguntando para onde estava indo. Ele voltaria para a festa de foda agora? Ele terminaria o que Kingsley exigia que ele começara? — Onde você vai? Shadow fez uma pausa. — Eu preciso lavar o cheiro daquela prostituta da minha pele e queimar essas roupas. Não suporto tocar em você enquanto ela está na minha pele. — Eu vou com você. — Eu soltei, e pareceu chocar os dois. — Se você vier aos chuveiros comigo, não poderei tirar minhasmãos de você. Peguei uma toalha e minha mochila e me virei para encará-lo. — Considero um aviso justo, e Shadow? Ele parou quando atravessou a porta. — Eu posso matar Meg se eu a vir novamente. — Vou garantir que ela esteja enterrada nas profundezas do Whore Pit, para que você nunca precise vê-la novamente. Eu sabia que não era culpa de Meg; ela era uma prostituta viciada em seguir as ordens de King. Eu realmente não queria matá-la, mas o ciúme aparentemente me deixou irracional. — Depois que as verrugas se forem, é claro. Não podemos ter um surto de podridão no mundo subterrâneo. A guerra civil estouraria. — Boa ideia, — murmurei enquanto o seguia para fora do meu quarto. — Apenas garanta que alguém lide com ela; o pensamento de você mesmo olhando para ela me faz querer matar alguém. Com um sorriso bêbado que era estranhamente agradável para mim, Shadow estendeu a mão e, com uma confiança que não sabia que possuía, agarrei-a. — Confie em mim, garota durona, se a situação fosse inversa, ele já estaria em uma nuvem de cinzas deste buraco do inferno. Vamos ficar escorregadios. SHADOW Apertei o punho e xinguei com a dor latejante. Eu quebrei algo com certeza. Tomar o centro da noite na arena lutando por duas semanas de agressão, mas eu ainda me sentia como um touro enjaulado. Eu estava chateado, e aparentemente nenhuma quantidade de violência tiraria isso do meu sistema. Nada, a mulher irracional e confusa, me deixou tão perturbado que meu humor variava de raiva absoluta, confusão ofuscante à fúria fervente e começava tudo de novo. Os sentimentos que tinha por ela eram demais, grandes demais. Depois que Kingsley me obrigou a me submeter à noite de sua festa, nunca pensei que Nada me permitisse tocá-la novamente. Eu não tinha fodido a prostituta, mas coloquei minhas mãos nela e permiti que a cadela tateasse meu corpo como se ela tivesse o direito. Quando ela se inclinou no meu pescoço e chupou a pele, mal me contive de jogá-la fora de mim. Ver Nada nos assistir, com aquele olhar morto que ela usava como uma máscara protetora, quebrou algo dentro de mim. Observá-la ir embora com tanta indiferença fria empurrou a última e persistente onça de restrição do meu corpo. Me levantei, a prostituta, Meg, caiu na bunda dela com um grunhido doloroso, e eu me afastei de Kingsley e de seu esconderijo de devassidão. Antes, eu gostava de me perder pelo sexo e álcool que ele fornecia nas funções privadas, mas não mais. Agora eu pertencia a outra pessoa, e ela pertencia a mim, e isso me assustou, porque isso significava que agora eu tinha algo a perder. Fazia duas semanas desde que eu tinha tocado em Nada. Na noite seguinte à festa de Kingsley, a recuperei com força e rapidez contra a parede do quarto, depois pela segunda vez em sua cama. Aquele tinha sido um passeio lento até a linha de chegada. Eu fodi a garota como se a amasse: meus olhos fixos nos dela dizendo tudo o que eu queria dizer com ações, em vez de palavras. Nós dois ficamos pingando suor e respirando com dificuldade, e pelo olhar chocado nos olhos de Nada, ela estava tão assustada quanto eu. Naquele momento, nós fomos atingidos com a percepção de que nos importávamos um com o outro mais do que deveríamos. Se Kingsley descobrisse, não hesitaria em usar essa fraqueza contra nós. Na manhã seguinte, com a cabeça clara e sóbria e uma dor de cabeça que poderia deixar o maior homem de joelhos, contei a Nada sobre a briga que Kingsley planejou para ela com o novo preso, Beast21, como ele havia sido apropriadamente chamado. Nada deu de ombros como se não se importasse com o mundo. Reagi com muito menos compostura, gritando e pisando no quarto dela como um urso com um dente dolorido. A chamei de imatura e tola, e quando a palavra 'louca' passou pelos meus lábios, ela me expulsou. Perdoar uma transgressão forçada com uma das prostitutas do submundo aparentemente fora um passeio no parque; perdoar meu temperamento impulsivo pelo uso de nomes tão descuidados era aparentemente mais difícil. Dejohn a fazia trabalhar na academia todos os momentos livres, em um esforço para prepará-la para sua luta, e como a cadela covarde que eu era, evitei toda a porra do circo. Eu não estive dentro dela por duas semanas, e meu pau era um pique de aço exigente 24 horas por dia, implorando para ter outro gosto. Eu a queria como ar fresco para respirar, mas vê-la me assustava para caralho. Beast ia matá-la, e isso também poderia me matar. Eu não sabia como lidar com o medo, então tentei espancar quem quisesse lutar comigo. Agora, estava machucado e agredido com uma mão quebrada, e ainda chateado e cheio de tanto medo que doía. Olhando para o corpo ensanguentado diante de mim, meu estômago se 21 Besta apertou com outra coisa... ódio. Era assim que eu era agora, um homem que poderia espancar outro homem até a morte só porque ele não disse as palavras certas. Este era Paul, um inocente, e eu bati nele até a morte. Não sabíamos se ele estava trabalhando com os rebeldes, mas a carta que ele foi pego passando para um amarelo na arena na noite passada foi incrivelmente incriminadora. Ele nem tentou escrever em código caso fosse pego. As palavras 'a aliança se encontra hoje às dez' em negrito e preto eram claras para todos verem. Eu estava trabalhando nele há pouco mais de duas horas agora, e não havia mais nada para ele além de sangue, mijo e vômito, e com tudo o que ele derramou, ele não sussurrou uma palavra de informação útil. — Qualquer coisa? Kingsley estava parado junto à porta, o maldito terno preto imaculado que ele usava, parecendo ridículo. O homem pertencia aqui, ele matou para chegar aqui, mas ele com certeza não se vestia como se pertencesse aqui. — Nada, — rosnei a palavra em espanhol por nada e percebi o que tinha dito no segundo em que a palavra saiu dos meus lábios. Kingsley sorriu, mas felizmente não disse nada sobre a palavra simples ou sua filha não tão simples. — Não importa. Nós temos um nome. Virei as costas para o homem morto e levantei uma sobrancelha curiosa para Kingsley, ignorando o sorriso que veio de Locky que estava atrás dele. — Regan. Meu sangue ficou frio. Ao passar um tempo com Nada, conheci Regan muito bem; ela era uma garota tímida que eu normalmente descartaria das alegações de associação rebelde em um piscar de olhos. Mas ela nem se incomodou em tentar ser discreta ao adornar Nada em cores mistas do submundo para suas aparições públicas, e eu vi o modo como Regan se misturava com prisioneiros e inocentes. Vi as reuniões sussurradas em cantos sombrios e até a segui até a zona inocente onde ela desapareceu em um depósito por quase uma hora. Quando abri a porta e espiei lá dentro, não havia nada a ser encontrado, apenas uma pequena e vazia sala. Os tons silenciosos vindos de trás de uma tentativa grosseira de cobrir um buraco na parede confirmaram que ela definitivamente estava tramando algo. As pessoas olhavam para ela com esperança, e era tão bom quanto uma sentença de morte. Suas tentativas de formar uma revolta no submundo foram desajeitadas, e eu duvidava que ganhasse impulso rapidamente. O fato de Regan significar algo para Nada me fez hesitar em abordar Kingsley com as informações. Eu tinha toda a intenção de cuidar disso sozinho. Um pequeno susto rapidamente interromperia seus planos, mas parecia que eu estava muito atrasado. — Sua fonte? — Eu perguntei entredentes. —Enquanto Timber estava na enfermaria, ouviu rumores e verificou por si mesmo. Ele está seguindo os inocentes. Ela está coordenando reuniões secretas em um estoque convertido. Eu já vi o quarto. Muito esperto, mas estúpido. Porra. — Isso não confirma o vínculo com os rebeldes, apenas que eles se encontraram em segredo. Provavelmenteé um clube de tricô feminino, conhecendo Regan. Kingsley assentiu, seu olhar perspicaz e avaliador nunca deixando o meu. Fiquei de pé e nem pestanejei quando ele tentou me encarar. Ele poderia tentar, mas ele não me intimidaria, e ele sabia disso. — Vamos descobrir, de um jeito ou de outro. Como está a garota? O humor irritado em que está ultimamente me faz pensar que está em um mal momento. Você deveria usar uma das prostitutas para se liberar. Minha mandíbula apertou, mas não desviei o olhar. — Por que tocar em uma prostituta quando posso me liberar em sua filha? Kingsley riu e os homens ao seu lado riram. Meu interior agitou-se com raiva e repulsa. Raiva por eles, raiva por mim, tanta raiva sem ter para onde ir era uma combinação volátil. — Avise-me quando terminar, Shadow. King diz que a garota é território livre agora, mas não há como eu tocá-la enquanto você mergulha seu pavio nela — disse Locky com um sorriso. Um grunhido retumbou do fundo do meu peito, e meus punhos cerraram, a dor no meu machucado nada mais era do que uma irritação distante. Kingsley levantou a regra de não tocar? — Veja o que quero dizer, — Locky riu. — Eu não sou exigente, irmão. Vou tê-la quando terminar. Segundos desleixados não me incomodam. O rosto de Kingsley voltou a uma máscara de percepção astuta enquanto me observava atentamente. — Eu vou ter certeza de que você saiba, — disse, me forçando a ficar calmo. — Avisarei quando o inocente for contido. Tenho certeza de que você gostaria de estar lá para o interrogatório. O Rei olhou para a bagunça por cima do meu ombro. — Limpe isso. Eu assenti. Era tudo o que conseguia controlar quando os homens se viraram e me deixaram sozinho naquela pequena sala de paredes de pedra e o cheiro da morte nas minhas costas. — Porra! Eu cuspi, começando a andar. Ele estava ficando desesperado para encontrar os espiões rebeldes, e homens desesperados fazem coisas desesperadas. Ferir Regan machucaria Nada, e essa era uma garota que você não queria machucar. Embora as tentativas de Regan de obter favores em um levante não passassem de uma tentativa inepta de anarquia, era Nada quem teria o poder de derrubar Kingsley e seu reino. Eliminar Regan provocaria um incêndio sob o controle fervilhante de Nada; ela mataria Kingsley ou morreria tentando. — Limpem essa bagunça, — rosnei para os dois soldados que estavam do lado de fora da porta. — E fiquem quietos, — acrescentei enquanto me movia pelo corredor escuro em busca da minha garota durona. Eu tinha que encontrá-la antes de Kingsley encontrar Regan. * Parando na entrada do ginásio do térreo, o som de punhos batendo puxou um pequeno sorriso do meu rosto de outro modo arenoso. Parecia que Nada estava batendo em Dejohn, mas eu sabia que ela estaria se segurando, não querendo machucar o velho. Eu podia imaginar o rosto irritado de Dejohn enquanto ela suavizava os chutes e continha os socos. Ele odiava que ela suavizasse seu treinamento para ele. Nada, apesar da cadela gelada que tentava fazer, tinha um coração quente e um grande ponto fraco por seu mentor. Eu senti sua falta, meu pau endureceu com o pensamento de ficar com ela, e ficou quase doloroso quando a imaginei contra a parede da academia. — King diz que é dia aberto para sua filha, sabe o que isso significa, garota? Congelei com as palavras que vieram de uma voz familiar. — Isso significa que eu vou te foder, e só porque você quebrou meu pau, não significa que não posso ficar com você. E Solo aqui, está querendo bater nessa sua bunda por um longo tempo. — Qualquer coisa que você colocar em mim, vou cortar a porra, então vou cortar suas mãos também, então tente, idiota. — Ah, eu vou fazer mais do que tentar. De repente, meus pés encontraram impulso, meu coração batendo tão alto que qualquer outra palavra foi abafada quando entrei na pequena academia. A visão diante de mim tinha bile subindo no fundo da minha garganta. Eu já estive aqui antes, e a escuridão quase me roubou o mundo enquanto observava a cena muito familiar. Solo e Timber tinham Nada contida no chão. Solo tinha os pulsos presos acima da cabeça, e Timber montou em suas coxas nuas, suas meias delycrare unidas a seus pés, sua blusa desabotoada. Todos os três olhares se viraram na minha direção, mas meus olhos estavam colados a Nada e ao sangue que cobria seu rosto. — Ei, querido, estou feliz que você possa participar da festa, — ela cuspiu. Sua voz poderia ter um tom jovial irritado, mas eu podia ouvir o medo que envolvia cada palavra. Minha cabeça virou levemente para absorver Solo. Ele, pelo menos, teve o bom senso de parecer com medo. — King disse que podíamos. A regra de não tocar Foi levantada — disse Timber em um tom chorão enquanto permanecia sobre a minha mulher. Meus olhos caíram para a mão dele e notei o bastão de aço que ele segurava com força. — É com isso que você vai transar com ela? Eu perguntei, raiva tornando difícil falar. Timber sorriu. — Sim, quer ir primeiro? Já que ela é sua prostituta, acho justo que você possa ir primeiro. Eu me mudei ainda mais para a sala com as pernas dormentes. A raiva forte tornava difícil parecer indiferente. — Claro, — murmurei, estendendo minha mão para o bastão. O sorriso de Timber se alargou quando deslizou pelas pernas de Nada que se mexiam embaixo dele. Ele me entregou o bastão sem hesitar, com o rosto cheio de fome desenfreada. — Vou mantê-la aberta para você. Isso foi o suficiente, essas seis palavras me pressionaram tanto que pensei em cair. Em vez disso, levantei o bastão e o joguei na cabeça de Timber com um som que me lembrou demais os jogos de reprise de beisebol que meu pai costumava assistir. Como uma boneca de pano, Timber caiu no chão e Nada imediatamente começou a lutar contra o aperto de Solo. Ela não precisava, no entanto; o homem recuou e ficou de pé, as mãos levantadas em súplica. — Timber me disse que o rei removeu a regra de não tocar. Eu pensei que ela estivesse disponível. — Você ouviu errado. Ela é minha. Eu levantei o bastão e apontei para a cabeça de Solo. Seu antebraço sofreu o peso do ataque, mas o estalo e seu gemido subsequente me garantiram que algo havia quebrado. Soltando o bastão, levantei meus punhos e comecei a bater nele. Meu nó quebrado palpitava até que eu não conseguia mais sentir, e o rosto de Solo virou carne ensanguentada diante dos meus olhos. Mesmo quando ele caiu no chão, não parei, meus punhos, entregando toda a raiva reprimida que vivia neste buraco do inferno me enchia. Somente quando uma mão descansou em minhas costas eu parei, voando com os punhos levantados e prontos para continuar lutando para sair dessa raiva. O olhar de busca de Nada encontrou o meu, e eu parei, a luta deixando meu corpo tão rapidamente quanto o encheu. Tropecei nas pernas estendidas e imóveis de Solo e segurei seu rosto. O sangue do nariz não passava de uma gota, um corte acima dos olhos sangrava como um porco preso, e o olhar vidrado e sem foco em seus olhos significava uma possível concussão. Mas, por outro lado, ela parecia ilesa, exceto pelo medo, que era tão espesso que praticamente podia sentir o gosto. Com medo de tocá-la ainda mais, não pude fazer nada além de ficar ali segurando seu rosto em minhas mãos, minhas juntas rachadas e sangrando misturando-se com seu sangue. Desviando o olhar, dei uma rápida olhada na sala e notei suas botas e facas sentadas ordenadamente no banco na parede de pedra. — Eu fiquei desleixada, — ela confessou em voz baixa. — Onde está Dejohn? Eu perguntei, minha voz ecoando frustração e meu próprio medo palpável. — Ele foi convocado. Ele se foi apenas um minuto enquanto eu estava esfriando. Eles me pegaram de surpresa com o maldito bastão. Isso me derrubou, uma vez que caí, eles estavam em mim. Ela estremeceu,e foi então que notei que ela conseguiu puxar as calças de volta, mas suas mãos estavam fazendo um esforço fraco para cobrir seus seios. Tirando minha camisa, puxei-a sobre sua cabeça e caiu no meio da coxa. Coberta adequadamente, abaixei-me e peguei sua blusa rasgada no meio. Filhos da puta! Olhando para os dois corpos sem vida, queria encontrar um deles respirando apenas para poder matá-los novamente. Não havia ar sendo aspirado por nenhum homem, o que me decepcionou bastante. Colocando o top desfiado no meu punho, empurrei a raiva borbulhante e a segurei contra o corte acima do olho de Nada. Ajudei-a a calçar as botas e, quando tentei carregar suas armas, ela estendeu a mão e pegou a maior das duas armas com força. Ela a segurou perto do peito, a lâmina mortal negra pressionando contra o tecido da minha camisa, presa ao peito como se alguém pudesse segurar a cabeça de um bebê no coração. Independentemente do fato de eu estar lá para protegê-la, ela precisava sentir que poderia se defender. Entendi e não discuti, deixando-a carregar a faca enquanto a levava para fora da academia. — Estou levando você para o quarto de Dejohn. — Foi lá que a levei no dia em que ela foi estuprada. Eu sabia que Dejohn nunca a machucaria, e ela sentia uma certa segurança em sua presença. Tínhamos uma enfermaria médica para a qual eu provavelmente deveria levá-la, mas Nada nunca foi lá. Dejohn me disse que ela recusou a ala médica depois de passar muito tempo lá quando criança, tendo seus membros machucados e distendidos. Se a mão insensível de seu pai não a machucou, sempre havia uma alma amarga cheia de ódio pronta para fazer o trabalho por ele. As crianças sempre foram protegidas no submundo, mas Nada era a única exceção a essa regra. Me irritou que eu não estivesse aqui para protegê-la, e ainda mais que não a protegesse desde que cheguei. — Não, Dejohn soprará uma junta se ele me vir assim. Segurando a mão dela, a puxei na direção oposta, longe da academia escura. Eu teria que arranjar alguém para cuidar dos corpos, mas, por enquanto, precisava cuidar da minha mulher. NADA Anestesiada, essa era a única maneira de descrever como me sentia. Descer da adrenalina me deixou vazia. Quando fui agredida sexual e fisicamente aos dezesseis anos, meu corpo sentiu inicialmente muita dor para sentir qualquer coisa, exceto o dano devastador. Muitas semanas depois, quando minhas feridas externas e internas cicatrizaram, a raiva preencheu o vazio. Dessa vez, a dor física era mínima; Timber e Solo não me violaram, mas tudo o que senti foi um enorme buraco no nada. Shadow se apoiou na porta do banheiro, seu olhar sempre atento em mim enquanto eu lavava o sangue seco. Alcançando o sabão, comecei a esfregar minha pele, tentando apagar a memória das mãos indesejadas em minha carne. Esfreguei até minha pele começar a arder, meu corpo se tornando tão cru quanto o vazio dentro de mim. Uma grande mão masculina na minha interrompeu minha fervorosa limpeza, e olhei por cima do ombro para ver Shadow de pé atrás de mim. Ele já limpara e enfaixara o corte acima do meu olho. Meu nariz não estava quebrado, apenas machucado. No geral, tive sorte e milagrosamente, graças a Shadow. Mas faltava uma coisa, e eu não tinha certeza de como consertar. Toda a emoção dentro de mim se foi, sem ódio, sem raiva, sem miséria, sem esperança, apenas ... nada. — Você precisa retomar o controle, — ele sussurrou enquanto colocava o sabão em um pequeno prato. Suas mãos grandes e duras então me viraram e gentilmente me empurraram até minhas costas estarem contra a parede. Meu coração disparou, mas meus braços continuaram como macarrão ao meu lado. — Lute comigo, — ele exigiu. Eu não queria; estava doente até a morte de lutar. Eu só queria dormir. Shadow se inclinou para frente, pressionando seu corpo contra o meu. O spray do chuveiro o havia ensopado completamente, e o calor do seu corpo duro sob as roupas molhadas penetrou na minha pele fria. — Porra, brigue comigo. Eu não fiz. Não pude. Sentindo minha falta de determinação, Shadow se afastou e olhou para mim. Aqueles olhos escuros estavam cheios de raiva e algo que me fez estremecer... nojo. — Você acha que terminou? Você acha que é a única mulher aqui embaixo que foi usada? Princesa, ou você é igual às mulheres que estão deitadas de costas no Whore Pit? Como uma luz sendo acesa, suas palavras me fizeram sentir algo, uma centelha de raiva, apenas um pequeno flash insignificante. — Você vai desistir agora, deixar que todos ousem, preencher seus buracos e jogá-la de lado quando terminarem? Aquela pequena faísca insignificante pulou e começou a queimar, como um fogo lento, na boca do meu estômago. — Você vai ser a prostituta que querem que você seja, princesa? O fogo explodiu em uma explosão alta e furiosa, e eu empurrei. Shadow era um tijolo de homem, e ele não se mexeria a menos que me deixasse. Eu não me importei. Eu só queria machucar alguém, e ele era o único corpo disponível por perto. Suas costas bateram contra a parede do outro lado do chuveiro, e eu trouxe meu punho de volta e o soquei. O golpe bateu em sua mandíbula, e ele grunhiu. Então comecei a bater nele, liberando um mundo de raiva em seu corpo. Shadow desviou alguns golpes, permitindo que outros fizessem contato, mas nenhuma vez me bateu de volta. Não demorou muito tempo para o fogo se apagar; eu estava cansada demais para continuar por muito tempo. Quando meus punhos se abriram e pousaram em seu peito, uma nova emoção inundou minhas veias. Eu precisava sentir algo diferente de medo e raiva. Esfregando minhas mãos em seu peito e seus ombros largos, agarrei a parte de trás de seu pescoço e trouxe seus lábios aos meus, beijando-o com a necessidade frenética de me sentir no controle mais uma vez. Minhas mãos desajeitadas pegaram sua camisa e tentaram retirá-la de seu corpo. Um pequeno gemido de frustração escapando dos meus lábios. — Shhhhh, deixe-me dar o que você precisa, garota durona. Despojando-se rapidamente do tecido molhado, ele abriu o zíper da calça jeans e empurrou-a para o chão molhado. Ele já estava duro; seu pênis se projetando de um monte escuro de cachos e curvou-se em direção ao estômago. Agarrando meu pulso, Shadow me arrastou para longe da queda direta da água e se abaixou para o pequeno banco de madeira, jogando minhas roupas secas de lado. Ele me puxou em sua direção e eu subi em seu colo, posicionando meus joelhos em ambos os lados de suas coxas. Então estava beijando-o mais uma vez, minhas mãos vagando, tocando cada centímetro de pele que podia alcançar. — Pegue o que você precisa de mim, — ele engasgou quando me abaixei e acariciei seu pau. Posicionando seu comprimento rígido na minha entrada, me abaixei sobre ele, levando-o profundamente e sentindo cada centímetro de seu calor glorioso. As mãos de Shadow permaneceram nos meus quadris enquanto estabelecia um ritmo rápido e furioso. Ele estava me deixando recuperar o controle que perdi quando Timber e Solo me atacaram, e fiquei grata por isso, até que não aguentava mais não ter seu toque. Eu senti a falta daquelas mãos fortes e possessivas em mim e agora precisava delas mais do que nunca. Incentivá-lo a me tocar não demorou muito. Agarrei seu pulso e arrastei a mão grande para o meu peito. Shadow apertou suavemente antes de se inclinar para a frente e levar meu mamilo entre seus lábios. Meu orgasmo bateu tão rápido e furioso que realmente tentei me afastar dele. Shadow não deixou, me segurou no lugar com um aperto brutal nos meus quadris e exigiu que sentisse tudo. E quando finalmente esvaziou dentro de mim, desabei em seu peito e fechei os olhos. Não foi uma dormida lânguida; estava apenas fora, inconsciente, meu corpo não era mais capazde combater a exaustão e o choque. * — Como assim, você não a viu? Eu fiquei boquiaberta para George quando ele deu de ombros. — Eu apenas presumi que ela encontrou alguém para passar a noite. — Quando foi a última vez que você a viu? — Eu agarrei. — Ontem. Saiu daqui antes do jantar e não voltou para casa. Não é como se ela estivesse longe há muito tempo. Eu rosnei, um estrondo baixo que começou no fundo do meu peito e derramou da minha boca, o som mais animal do que humano. Isso deu a George uma pausa para consideração. — No pouco tempo que você mora com ela, é normal ela ficar fora a noite toda? George se mexeu nervosamente e passou a mão pelo cabelo grisalho e ralo. — Bem, não. Mas ela é uma mulher adulta, e suponho que, como todos nós, tenha necessidades. Gritando, virei-me e bati um punho através da fina porta de madeira que levava da pequena área de armazenamento em que estávamos, para a arena mais adiante. Era dia de comércio e estava ocupado. As pequenas barracas cheias de pertences mundanos dos reclusos foram montadas, prontas para troca. Na minha explosão, o silêncio que se seguiu foi tangível, e eu olhei para as pessoas que ousavam olhar abertamente em minha direção. Seus olhares foram rapidamente desviados pelo que viram em meu rosto. — Se alguma coisa aconteceu com ela, mandarei esse filho da puta colocar você na gaiola, George. Vou deixar todo mundo assistir enquanto ponho algum juízo em você. As pessoas se afastaram, como se eu estivesse afligida por uma doença contagiosa. E com certeza tinha alguma coceira na minha pele: uma sensação de roer que estava faltando alguma coisa. Quanto mais pensava em Regan e o fato de não a ter visto em vinte e quatro horas, mais a sensação de coceira crescia, até que eu era uma confusão de irritação sem saída. — Nada! O grito agudo me fez alcançar a faca na minha coxa. Virando-me, vi a pequena e inocente loira Melanie, seguida de perto por Grace, abrir caminho através da multidão. O alarme e o horror no rosto de Melanie me fizeram olhar ao redor do mercado, procurando uma ameaça. Quando as meninas finalmente me alcançaram, Melanie quase caiu em meus braços, mas se manteve firme no último minuto, como se percebesse de quem estava tentando buscar conforto. Grace não tinha tais inibições e passou os braços finos em volta de mim. Desajeitadamente, tentei confortá-la com uma mão nas costas trêmulas, minha faca ainda apertada na minha mão oposta. — O que aconteceu, Grace? — Eles mataram Paul, — Melanie deixou escapar. Meu punho apertou o punho da minha faca em frustração. Eu sabia que Kingsley descobriria sobre sua revolta ridícula mais cedo ou mais tarde. — Eu te disse... — Nada, eles têm Regan, — Grace chorou. — Você tem que recuperá-la! As palavras de Grace me trouxeram à tona, e eu apenas a encarei. O horror em seus olhos cheios de medo aterrorizou-me em ação. Gentilmente, empurrei Grace de volta nos braços de Melanie. — Leve Grace de volta ao setor inocente com você e informe Claire e Rocket o que está acontecendo. Não saia do seu setor até que eu vá buscá-la. Virando, corri para fora do mercado, empurrando as pessoas, que eram lentas demais para se mover, para o lado. Corri pelas esquinas e pulei sobre viciados felizes de NIM nos corredores até chegar à entrada segura que levava à masmorra. Era uma área salva para tortura e morte, uma área onde pegamos os molestadores de crianças e terminamos sua existência patética. Um lugar onde Kingsley descartou aqueles que ousavam se opor a ele. Dois soldados estavam de guarda, mas não tiveram chance contra minha necessidade frenética de alcançar minha primeira e única amiga. Pulei e dei um soco em um soldado antes que ele tivesse a chance de pegar uma arma, seu corpo caindo no chão com um baque pesado. O segundo soldado deu um passo para longe quando viu meu bebê apertado no meu punho. Eu não tinha idéia se era a lâmina longa e escura que o assustou, ou o fato de que ele sabia o quão bem eu poderia usá-la. Ele simplesmente levantou as mãos e balançou a cabeça, tentando forçar as palavras a sair da boca aberta. Não parei para esperar e ouvir o que tinha a dizer; em vez disso, desci as escadas duas de cada vez, indo em direção às entranhas do inferno. As masmorras eram um labirinto de corredores escuros e gelados, iluminados com arandelas espaçadas uniformemente, grossas com o cheiro de sangue e morte. Naveguei pelo primeiro amplo corredor, verificando cuidadosamente cada cela fechada. Dejohn explicou que aquele lugar era muito parecido com as prisões antigas, cada célula grande o suficiente para abrigar temporariamente não mais que um preso. Dois estavam vazios, os outros dois continham homens que pelo cheiro haviam morrido muitos dias antes. Entrando em um segundo amplo corredor, parei com o som de vozes aquecidas vindas de uma cela perto do outro lado. Meus pés rapidamente entraram em ação, muito antes de minha mente pegar, eu estava correndo pelo corredor, que parecia duas vezes mais longo que o anterior. Eu praticamente joguei meu corpo pela porta, um pesado portão de aço aberto. Eu parei quando alguém alcançou minha cintura e me puxou para um peito duro. Eu não pensei, simplesmente agi, usando minha faca para cortar o braço que tentava me segurar no lugar. Quem quer que estivesse me segurando rugiu de dor e imediatamente me libertou. Enquanto me arrastava mais para dentro da sala, notei várias coisas ao mesmo tempo. Shadow sendo mantido contra uma parede no fundo da sala, um olhar fervendo de fúria em seu belo rosto quando dois soldados o subjugaram. Kingsley estava de um lado, com os braços cruzados sobre o peito, com um sorriso largo que me pegou completamente de surpresa. Locky estava à sua direita, uma arma em uma mão e um olhar arrogante de satisfação no rosto pesadamente sem caroço. Virando a cabeça para observar o outro lado da sala, ofeguei. Lá, ela pendia, como uma boneca de pano, de algemas de aço ao redor dos pulsos contra a parede de pedra. Regan não tinha mais nada a revelar que era ela quem estava ali, mas eu sabia. Suas longas tranças loiras foram cortadas e jogadas no chão. Seu corpo nu estava coberto de sangue; escorria por seus braços, tronco e pernas, caindo em uma poça vermelha grossa debaixo dela. Eu sabia que ela também havia sido violada, aparente pelo sangue pingando de dentro de suas coxas. Não havia uma polegada dela intacta. — Regan, — eu sussurrei, minha voz tremendo de medo e desgosto. Um soldado à sua direita puxou o pouco de cabelo que ela havia deixado e ergueu o rosto. Através dos olhos fortemente inchados, Regan piscou. Vi o reconhecimento em seu rosto, a tristeza, o arrependimento e o amor. Quando uma faca foi puxada pelo pescoço e arrastada pela carne exposta, eu gritei. Eu gritei até minha garganta ficar crua e meu corpo queimar de ódio. Eu gritei quando vi o sangue rolar pelo peito e a vida drenada de seu lindo rosto. Gritei quando ataquei, apenas uma coisa em minha mente: vingança. O primeiro a cair seria o homem que ainda mantinha a cabeça de Regan no lugar. Thomas, um homem de trinta e três anos considerado culpado de estupro, e do estado de seu zíper aberto, ele estava praticando seu ofício do mal hoje. Ele foi o primeiro a cair. Enquanto a sala atrás de mim parecia cair em uma distante cacofonia de caos, eu me concentrei em Thomas. Eu pulei e chutei, respirando pelos pulmões. Quando ele se inclinou para frente, puxei minha mão e enfiei minha faca neste pescoço, empurrando-a através da carne e tendões e depois torcendo-a, apenas para ter certeza de que o trabalho foi feito corretamente. Soltando um suspiro borbulhante, Thomas caiu no chão de pedra, seu corpo deslizando na poça de sangue, e o que eu suspeitava ser urina, aos pés de Regan. Mãos fortes tentaram me agarrar por trás,mas eu bati minha cabeça para trás, sentindo uma profunda satisfação com a crise e gemido quando minha cabeça se conectou com o nariz de alguém. Virando, peguei minha próxima vítima. Matias, um homem hispânico de 42 anos preso por uma acusação de assassinato e duas acusações de fabricação e distribuição de NIM. Seus punhos voaram rápido, com precisão mortal. Pena que ele não tinha minha habilidade ou necessidade de dirigir para matar. Eu abaixei e enfiei um punho em suas bolas, depois girei minha faca em um arco, saboreando a sensação de afundar em seu lado, logo abaixo das costelas. Matias grunhiu de dor e caiu de joelhos no chão de pedra, uma mão segurando o ferimento da faca. Quando levantei minha faca para derrubar o golpe final punitivo, uma mão forte agarrou meu pulso e me puxou contra um corpo largo, duro e implacável. — Calma, Nada, — Shadow sussurrou em meu ouvido. A calma não me encontraria; eu estava muito longe. Eu lutei com ele, meu corpo resistindo ao seu aperto, minha mão de faca balançando loucamente tentando o afastar. — Você tem que se acalmar, garota durona, ou você será amarrada em seguida. Eu não me importei; agora, abraçando o pensamento da morte, acariciei essa cadela como a carícia de um amante. A morte era minha, eu merecia, e levaria tantos bastardos assassinos e estupradores quanto possível comigo. Quando os olhos lívidos de meu pai encontraram os meus, finalmente parei e sorri. Eu não me sentia feliz, não sentia nada além de ódio, e sabia que ele podia ver aquele sentimento no meu sorriso sombrio. — Você sabe que vou te matar, certo? Não há um buraco profundo o suficiente para você descer que não vá te encontrar. Vou prendê-lo, assim como você fez com Regan, e depois vou enfiar minha faca em seu coração negro. Ele sorriu, e muito parecido com o meu próprio sorriso, era completamente sem humor. — Você é ambiciosa, vou lhe dar isso. Eu deveria ter enviado você para o Whore Pit e ter sua boca ocupada sendo preenchida apenas para mantê-la quieta... e eu vou. Você tem uma luta sobrando, então você implorará para eu te matar. SHADOW Eu nunca a vi tão completamente desvendada, sua sanidade destruída, sua compostura de aço e fria sumida. Pelo olhar doentio e alegre do caralho no rosto de Kingsley, ele sabia que isso iria empurrá- la para além do limite e encher sua mente de loucura, e ele se deleitava com sua angústia. Dejohn e eu estávamos procurando Regan por várias horas; nossa missão era encontrá-la antes que os homens de Kingsley a encontrassem, escondê-la, enterrá-la profundamente até que pudéssemos resolver esse problema de proporções épicas. Regan não merecia o final que recebeu. Eu queria protegê-la, não apenas por Nada, mas porque era a coisa certa a fazer, e fazia muito tempo que eu não fazia a coisa certa. Dejohn e eu sabíamos que, se Nada vislumbrasse os planos de Kingsley, isso mudaria o interruptor dela e o caos total se seguiria. Controle de danos, Dejohn havia chamado. Muito tarde. O estrago estava feito agora, eu a segurei em meus braços com um aperto tão forte que sabia que tinha deixado marcas. Ela tentaria matar todos eles, mas Kingsley já havia ordenado a Locky que levantasse a arma e apontasse diretamente para a cabeça dela. Eu não podia deixar isso acontecer, não importa o quanto ela queira morrer; eu era muito egoísta para deixá-la ir. Eu lutei para me libertar de Franco e Deuce, que me prenderam contra a parede, e agora, lutei para segurar Nada, a única coisa decente que existia neste mundo esquecido por Deus. Assim que seu olhar se fixou em Kingsley, ela parou. Ela não estava calma, seu corpo estava rígido com a tensão e sua respiração era rápida e descontrolada, mas pelo menos ela estava imóvel. — Você é ambiciosa, vou lhe dar isso. Eu deveria ter enviado você para o Whore Pit e ter sua boca ocupada sendo preenchida apenas para mantê-la quieta... e eu vou. Você tem uma luta sobrando, então você implorará para eu te matar. Os olhos negros de Kingsley, tanto quanto os de sua filha, eram quase irritantes, olharam nos meus. Nenhuma palavra foi dita, mas muita coisa foi dita naquele único olhar. Era um lembrete de que ele a possuía, que ele decidia se ela vivia ou morria, e ele me desafiou a fazer algo sobre isso. Ele a despedaçaria, começando com o coração dela, depois com o corpo e, finalmente, com a sanidade. — Mande Beast ser transferido para a gaiola. Quero ele em exibição antes da luta. Coloque a garota na prisão. Quando dois soldados se adiantaram para tentar tirá-la de mim, ela ficou tensa, todos os músculos de seu corpo prontos para lutar. — Vou levá-la para o quarto dela; ela matará qualquer outra pessoa que tentar tocá-la. Você pode trancá-la e colocar um guarda na porta dela. Kingsley assentiu. — Franco irá acompanhá-lo, apenas no caso de você ter algum problema em mantê-la contida. — Eu preciso te tirar daqui garota durona, — Eu murmurei em seu ouvido. Um movimento quase imperceptível da cabeça me disse que ela ouviu minhas palavras e as entendeu. Seu olhar nunca havia deixado seu pai, porém, e seu corpo ainda estava pronto para lutar. — Você terá sua chance, mas se você for até ele agora, você vai acabar com uma bala no crânio. Esse não é o tipo de vingança que Regan merece. Com isso, parte da tensão deixou seu corpo. Tirando a faca da mão solta, enfiei-a no coldre amarrado à sua coxa e agarrei seu braço para arrastá-la daquela sala cheia de sangue e desespero. Ela não lutou comigo, em vez disso, se moveu roboticamente pela porta, sem lançar um segundo olhar para a morte e o massacre. Uma massa gigante e iminente nos cumprimentou, olhando detrás das grades da cela diretamente à nossa frente. Era Beast o cara que Nada estava programada para lutar. Ele não falou, apenas olhou, seu grande rosto feio era uma máscara de raiva. Soltando meu aperto, Nada deu alguns passos curtos entre nós e a cela, caminhando até o enorme animal sem um pingo de medo. — Você é o próximo, — ela simplesmente sussurrou, antes de desviar o olhar e caminhar sem ajuda pelo longo e amplo corredor. Com a cabeça erguida, os ombros para trás, ela nunca vacilou enquanto se movia pelo submundo. As pessoas assistiram, algumas com rostos cheios de curiosidade, mas a maioria com medo. Quando chegamos ao quarto dela, destrancou o cadeado, jogou-o e a chave para Franco, antes de entrar. Eu segui, chutando a porta com o calcanhar da minha bota. Em um balde no canto, ela metodicamente lavou o sangue das mãos e dos braços e depois arrastou as roupas ensanguentadas do corpo. Eu assisti, meu pau endurecendo ao ver sua linda pele nua enquanto ela caminhava sem vergonha pelo quarto, iluminada por uma vela tremeluzente. Eu queria levá-la ali mesmo; eu queria lembrá-la de que ela estava viva; queria lembrá-la que ela tinha algo pelo que lutar; no entanto, eu sabia que ela não precisava disso agora. Observando-a vestir uma camisa, percebi que era uma minha, a que eu enfiei sobre sua cabeça na noite em que ela foi atacada por Solo e Timber. Um profundo sentimento de satisfação me encheu, sabendo que ela estava vestindo minhas roupas. Ela parou, de costas para mim, punhos cerrados ao seu lado. — Você sabia? Não fazia sentido fingir que não sabia do que ela estava falando; eu não jogava jogos assim, de qualquer maneira. — Ontem descobri que ela estava no radar de Kingsley. Após o incidente na academia, fiquei um pouco fora de rota; caso contrário, estaria procurando Regan na noite passada. Dejohn e eu a esconderíamos até que pudéssemos conversar sobre Kingsley. — Você honestamente acha que há alguma razão em discutir com esse homem? Eu balancei minha cabeça lentamente. — Eu sabia que não haveria como falar com Kingsley em seu caminho. Sinceramente, eu não tinha ideia do que ia fazer depois de esconderRegan. — Então por que diabos você se incomodaria em tentar? Ele é seu mestre, você é o cachorro dele, você obedece quando ele comanda. Por que você tentaria detê-lo? Eu me irritei com seu tom sarcástico. — Primeiro, eu não sou um cachorro. Eu fiz o que precisava para sobreviver neste inferno e, em segundo lugar, tenho um cérebro e sei como usá-lo. Eu sabia que Regan não era um espião rebelde. Ela pode ter tido visões de grandeza de que poderia instigar algum tipo de revolta aqui embaixo, mas ela não era um rato. Timber a viu entrando furtivamente naquela sala escondida, e ele estava no ouvido de Kingsley um segundo depois. Com isso, ela se virou lentamente para me encarar com uma careta confusa estragando seu lindo rosto. — Se você sabia o que ela estava tentando fazer, por que você não foi a Kingsley com as informações? Eu bufei. — Era inofensivo e eu estava de olho nela. Não contei a Kingsley porque sabia que ele sairia dos trilhos e, quando voa, faz merdas idiotas. Esta noite é um excelente exemplo. Sua cabeça inclinou para o lado, os olhos cheios de raiva enquanto tentavam cavar sob minha pele e me ver como eu realmente era. Boa sorte de encontrar; eu nem sabia mais quem eu era. Era uma vez, a vida tinha sido simples. Kingsley mandava; eu obedecia. Agora... agora, as coisas estavam bagunçadas. Finalmente abri os olhos e vi uma garota, e ela me chamou e me consumiu como uma droga estúpida. Ela me fez sentir coisas que pensei que tinha enterrado antes de entrar no submundo. Desde que conheci Nada, se Kingsley mandava, hesitava, o que sem dúvida me mataria. Eu era substituível, provavelmente mais do que Nada. — Eu não sei onde está sua lealdade, — ela finalmente confessou com um grunhido em seu tom. Respirando fundo, passei a mão pelos meus cabelos emaranhados, segurando meu pescoço para tentar liberar um pouco da tensão lá. — Essa não é a pergunta de um milhão de dólares, baby? Virando meu rosto, a olhei diretamente nos olhos. Ela avançou, mas eu estava pronto para ela. Seu corpo girou quando deu um chute no meu externo. Recuando, evitei o máximo possível do golpe antes que ela começasse a dar um soco em mim. Eu estava ficando muito doente e cansado dela lutando comigo; ela era a única pessoa fora da gaiola que se atreveu a dar um soco em mim. Isso me excitou e gostei do fogo na barriga dela, mas não gostava de ser atingido. Com um rugido, a virei e agarrei seus pulsos, segurando-os sobre o peito enquanto a batia com força contra a parede. Meus braços, travados na frente do corpo dela, sofreram o impacto da colisão, e enquanto ela se contorcia e resistia, a segurei firme. — Gostei daqui do jeito que era; eu não era ninguém no mundo acima. Ninguém que não conseguia nem manter uma garota segura. Aqui embaixo eu era alguém com nada a perder. Eu estava disposto a fazer o que fosse necessário para proteger minha nova vida e meu novo mundo. Então, um dia, vi o sangue em minhas mãos e percebi que não gostava mais da pessoa que eu era. Alguém me mostrou que não ser nada era muito bom e ter algo a perder me fazia sentir mais vivo do que eu merecia. Eu falhei com uma garota uma vez, mas não vou falhar novamente. Com cada palavra, Nada relaxou, até que finalmente a cabeça e os ombros caíram para frente. Quando o corpo dela começou a tremer, me preparei para a segunda rodada, até perceber que ela não estava tremendo de raiva. Um soluço assolou seu corpo, e senti suas lágrimas quentes caírem em meus braços que ainda a estavam prendendo firmemente contra meu peito. — Eu falhei com ela, — ela engasgou. Nunca fui muito bom com mulheres chorosas; suas lágrimas cortaram fundo no meu coração, e eu não tinha idéia de como corrigi- las. Girando Nada, a peguei em meus braços e me sentei na beira da cama com ela no meu colo. No começo, éramos rígidos e desajeitados, mas quando comecei a esfregar círculos suaves nas suas costas, ela se inclinou para mim e deixou suas lágrimas silenciosas penetrarem na minha camisa. Não ofereci palavras para fazê-la se sentir melhor; não gostava de baboseiras. Alguns poderiam ter dito: — Tudo ficará bem, — mas não, porque tudo não ia ficar bem. Não importava o quanto tentasse pensar em uma maneira de sair da enorme pilha de merda em que nos encontramos, eu não conseguia encontrar nenhuma maneira de consertar isso. — Eu vou morrer, — ela confessou, e suas palavras quebraram algo dentro de mim. — Não, você não vai. Eu não vou permitir. Você é minha e eu protejo o que é meu. Não vou cometer esse erro novamente. Saindo do meu colo, Nada sentou no colchão ao meu lado e enfiou a mão debaixo dela para arrastar aquele maldito livro. Ela rapidamente folheou as páginas até encontrar a rosa pressionada. Seu dedo acariciava a flor seca com tanta reverência que alguns poderiam ter achado sua obsessão como objeto instável. Eu entendi, no entanto. Eu entendi que ela precisava ter apenas uma coisinha de outro mundo, um mundo que poderia ser melhor. — Conte-me sobre ela, a garota que você falhou, — ela sussurrou com uma fungada. Uma dor bateu no meu coração e meus lábios se apertaram, como se condicionados a guardar todos os meus segredos, independentemente de meu coração e cabeça quererem divulgá-los ou não. — Um segredo por um segredo. O bastardo egoísta em mim ficou intrigado em saber mais sobre seus segredos; o homem honrado que eu poderia ter desejado apenas dar a verdade, apenas um pedacinho de outro eu de outro mundo. Quando ela assentiu, minha boca se abriu e soltou. Minha história de desgosto, a noite em que minha vida terminou e outra começou, derramou dos meus lábios. — Nós éramos namorados no ensino médio. Ela era boa demais para mim; eu era apenas um mecânico burro com tatuagens, e ela era uma dançarina bonita e pequena que tinha excelentes notas. Nós éramos os típicos os 'opostos se atraem', e eu a amava tanto que estava disposto a matar por ela. — Alguém a machucou? Nada pressionou quando fiquei em silêncio. — Sim, alguém tentou machucá-la. Minha mente voltou para a noite como se fosse ontem. Como se quinze anos de sangue, suor e caos não tivessem preenchido a enorme lacuna entre agora e então. — Tinha sido um dia quente e passamos a maior parte do tempo em volta da caixa quente de um apartamento em que morava acima da garagem em que trabalhava. Nós fodemos até a exaustão, e quando Alanis acordou, foi com um apetite voraz por sorvete. — O que minha garota queria, ela conseguia. Se ela queria ter sorvete às dez da noite, ela pegava sorvete às dez da noite. Levei-a para a cidade para o único lugar que eu poderia pensar que ainda estaria aberto. Eu fui ingênuo. Viver no mundo acima o torna complacente; leva você a esse falso senso de segurança. Eles estão ilusoriamente pensando que o seu mundinho não é cheio de sociopatas. Eles apenas sabem se esconder; eles estão lá, escondidos nas sombras. Eu não tinha dinheiro suficiente no bolso quando pedimos o sorvete, então Alanis correu para o carro para pegar um pouco mais. Ela estava demorando demais. Quando fui checá-la, encontrei um delinquente fodido por NIM tentando arrastá-la para um beco lateral. Eu acabei estourando. Vi vermelho e tive um único pensamento que estreitou minha visão para um único foco, matá-lo. Peguei um ferro de trocar pneus no banco detrás do carro e o venci até que precisassem de registros dentários para descobrir quem ele era. Mas não me arrependo; eu faria de novo para proteger Alanis. — O que aconteceu com ela? Nada perguntou com uma voz suave cheia de curiosidade genuína. — Não sei. Quando eles me arrastaram para longe da cena do crime, podia ouvi-la gritando e chorando por mim. Eu nunca mais a vi. Vinte e quatro horas depois, fui espancado e jogado na zona selvagem. — Você a estava defendendo. — Eu matei um homem.— Você a salvou; ela poderia ter sido morta ou estuprada. A última palavra cuspiu em sua língua com todo o nojo que ela possuía por direito. — Mas eu matei alguém. Não há cinza no mundo acima, apenas preto e branco. Eu matei um homem, e não importa o porquê, tudo o que importa é que fiz. Nós caímos em um silêncio fácil, Nada acariciando aquela porra de flor, eu caindo de costas e olhando para o teto de pedra. Aquele teto de pedra foi quase a minha ruína quando cheguei aqui, a sensação de claustrofobia espessa e pungente. Eventualmente, percebi que se o telhado cedesse e me esmagasse até a morte, seria realmente uma bênção. Trabalhar para Kingsley me deu a distração necessária para sobreviver, mas não me deu uma vida digna de ser vivida. Eu não queria mais que a porra da terra caísse em mim; eu tinha algo pelo que vale a pena lutar, algo pelo qual vale a pena viver. — A primeira vez que te vi foram três dias depois que cheguei. Eu estava fresco, verde... porra de medo. Você entrou no quarto de seu pai e tudo parou, meu medo se foi. Então Kingsley teve você chicoteada. Eu quase vomitei vendo ele abusar de você assim. Ele tentou justificar dizendo que você era má, que era uma desgraça e não tinha honra. Ele disse que precisava mantê-la na linha porque você era perigosa... e eu acreditei nele. Com o tempo, percebi que ele estava cheio de merda, mas não o impedi de machucá-la, e tenho que viver com esse arrependimento. Não tenho certeza do que me resta do coração, Nada, mas tudo o que me resta é seu. Você disse que não sabia onde estão minhas lealdades... elas estão com você. Você está me sentindo, garota durona? Ela ficou em silêncio por tanto tempo que me perguntei se ela tinha me ouvido. Então o movimento ao meu lado me alertou para o fato de que Nada havia se afastado da cama, e eu pensei que talvez tivesse cruzado algum tipo de linha, dando a ela a verdade assim. O som de pedra roçando pedra encheu o pequeno espaço, e então o colchão ao meu lado desabou sob seu peso. Depois de um longo tempo, ela fungou e suspirou quando algo foi pressionado contra o meu peito. — Meu segredo é a esperança. NADA Eu estava correndo um risco enorme de compartilhar meu segredo com Shadow, mas eu conhecia o homem que havia sido o segundo no comando de meu pai, o homem que estava em suas costas protegendo- o por mais da metade da minha existência. Eu sabia que sua lealdade havia mudado. Ele havia acabado de descobrir seu coração e alma; o mínimo que pude fazer era revelar o segredo que nunca havia compartilhado com ninguém. Confrontá-lo apenas alguns momentos atrás e tirar a verdade de seus lábios havia estabelecido um sentimento agitado em meu intestino e a aceitação me encontrou. Sua confissão sobre a mulher que ele amava, Alanis, machucou. Doía que ele se importasse com alguém com tanta paixão, mas doía mais que sua existência feliz tivesse sido destruída por um sistema que não aceitava nada de cinza. O respeito é conquistado, a lealdade é demonstrada, e Shadow se provou em ambos os aspectos. Ele me respeitava tanto quanto eu, ele era tão leal a mim quanto eu me tornara a ele, mas confiança... confiança tinha que ser dada. E ainda tínhamos que dar um ao outro o último pedaço de tecido que costuraria nossas vidas. Pressionar meu pedaço de esperança em seu peito duro era uma aposta que estava disposta a fazer. Shadow levou o pedaço de papel ao rosto, sentou-se lentamente e se aproximou da vela. Por um batimento cardíaco, temi que ele pudesse acender. Não que isso importasse; as informações nesse pedaço de papel estavam gravadas em minha memória para sempre. Em vez disso, Shadow se ajoelhou ao lado da vela, seus olhos se movendo ao redor da folha de papel que estava afinando a ponto de desmoronar a qualquer momento. Por oito anos, carregava essa lasca de esperança comigo. Por oito longos anos, esse segredo ficou comigo; compartilhar isso me assustou até a morte. Meus pensamentos deslizaram para o corpo sem vida de Regan pendurado na masmorra abaixo, e eu estremeci, empurrando os pensamentos para longe. Se me permitisse pensar nela, perderia novamente. Eu quebraria e não gostava da sensação de quebrar. As emoções fizeram meu coração se dividir em dois e meu estômago revirar com descontentamento. Um dia eu poderia me permitir senti-las novamente, mas não hoje. — Fique no Day Inn, em São Francisco... este é um folheto para um motel. Eu sabia exatamente o que era. O papel amarelo desbotado tinha a imagem de um tijolo, prédio de dois andares com uma fileira de escadas subindo de cada extremidade. Um veículo estava estacionado na frente e uma grande palmeira estava alta e orgulhosa ao lado. Céus amarelos se misturavam em um azul desbotado quando o sol se punha atrás do prédio. O Stayin Day Inn, um motel de luxo de três estrelas e meia, oferece ar condicionado, banheiro privativo, Wi-Fi gratuito, frigobar, microondas e máquina de café, além de um Buffet de café da manhã de cortesia e estacionamento grátis. Parecia o céu. A primeira vez que li o folheto, não fazia ideia de quais eram essas comodidades, mas li livros suficientes desde então para obter uma imagem clara. Um quarto independente com seu próprio banheiro, cama queen size, lençóis limpos, travesseiros, eletricidade ininterrupta e controle de temperatura. Eu nunca imaginaria que esse lugar existisse se não tivesse visto a brochura por mim mesma e não tivesse ouvido as histórias transmitidas por pessoas do mundo todo. — Vire isso, — eu sussurrei nervosamente. Eu o observei enquanto observava, notando como sua sobrancelha enrugada desapareceu quando subiu alto em choque. — Onde você conseguiu isso? Essa era a parte complicada. Brincando com o canto de uma página do meu livro de rosas, pensei em quanto deveria dizer a ele. Parecia uma situação de tudo ou nada, e isso colocaria minha confiança em Shadow à prova. Achei que tinha pouco a perder. As probabilidades eram de que eu não sobreviveria à minha luta com Beast, e mesmo que sobrevivesse, Kingsley estaria lá, pronto para me levar no momento em que saísse da jaula. Eu realmente não tinha nada a perder. — Encontrei debaixo da minha porta, logo após o meu primeiro encontro com os rebeldes. Eu assisti o espanto invadir as feições de Shadow, antes que rapidamente a fechasse com uma expressão indiscernível. Eu pude perceber pelo aperto duro de sua mandíbula e a tensão em seus ombros que ele não estava feliz, mas ele não se moveu quando se ajoelhou diante de mim, o folheto do motel começando a dobrar em seu punho. Preparando-me, empurrei meus ombros para trás e me sentei um pouco mais alta, minhas lágrimas secaram por muito tempo e segurei seu olhar desafiador. — Eu tinha dezesseis anos e Kingsley havia me enviado para a Zona Selvagem no meio da noite para limpeza. Ele estava passando por um problema, onde pensou que me quebraria com a privação do sono. Não funcionou porque eu já havia aprendido a funcionar com pouco ou nenhum sono. Enfim, alguém me agarrou por trás e eu lutei. Eu pensei que ia ser... Eu parei. Eu sabia que as palavras não poderiam me machucar, mas por algum motivo, estas faziam. — O que aconteceu? — Shadow perguntou. — Eu estava amarrada e amordaçada. Meus olhos estavam escondidos atrás de um pedaço de tecido, e fui arrastada por vários corredores e empurrada para dentro de uma sala. Eu pensei que era minha hora de morrer, que irritei Kingsley muitas vezes. Eu estava pronta para isso; a vida tinha sido brutal e difícil desde o momento em que nasci. Eu estava cansada e aceitando a morte. Em vez disso, encontrei outra coisa. Esperança... Lembrar como me senti quando fui empurrada para uma cadeira em uma sala desconhecida com pessoas desconhecidas foi fácil... eu não tinha medo da morte, mas tinha medo do que fariam comigoantes de me matarem. Lembrei-me do cheiro de odor corporal, o som de roupas farfalhando, a sensação da mão pesada que permanecia no meu ombro para me segurar no lugar. — Um homem começou a falar. Ele me disse que poderia chamá-lo de líder da unidade 106 e que fazia parte da causa rebelde para libertar os brancos do submundo. Eles sabiam da minha memória fotográfica e queriam uma grande quantidade de informações. Na primeira visita, fui seletiva com as informações que lhes dei. Eu não confiava neles. Eles estavam na minha frente; me disseram que eu não seria capaz de deixar o submundo. Eu já tinha feito minha primeira morte, o que me tornou vermelho, e nenhum vermelho foi autorizado a sair, apenas brancos. Quando voltei para o meu quarto nas primeiras horas da manhã, estava debaixo da minha porta. — Apontei para o mapa que Shadow cerrou em seu punho. — Todo ano, no mesmo dia, ficava sentada na cela mais à esquerda da Zona Selvagem, com as mãos atrás das costas, com os olhos vendados, e esperava por eles. Eles sempre vinham e, a cada ano, lhes contava mais. — Por que tão demorado? Por que eles ainda não vieram para os inocentes? — Shadow perguntou com uma profunda voz gutural. — Eles estavam construindo seus números; 106 alegou que precisavam de tempo para reunir e treinar recrutas. Eles também estavam trabalhando na construção de uma instalação para abrigar os inocentes quando eles saíssem. Não era como se eles pudessem colocá- los nas cidades e deixá-los encontrar seu próprio caminho. — E você ainda se encontra com eles? Eu balancei minha cabeça de um lado para o outro. — Não mais. Minha última visita foi há um mês. A cabeça de Shadow inclinou-se para um lado enquanto fazia as contas. — Oito anos? Você os encontra há oito anos? Eu balancei a cabeça, e ele se levantou abruptamente e começou a andar pelo meu quarto como um tigre enjaulado. Ele era grande e intimidador no meu pequeno espaço, mas fiquei quieta e permaneci sentada para que pudesse ver que não tinha medo dele. Não importa quanta raiva sangrava de sua pele, não tinha medo dele. — Estamos procurando a porra da toupeira há dois anos, Nada. Dois anos de derramamento de sangue, por nada! — Isso não é comigo. Isso é com Kingsley. — Isso é por minha conta, Nada! Quem diabos você acha que derramou esse sangue? Shadow cuspiu com raiva. Eu não disse nada enquanto minhas defesas lentamente se encaixavam. Senti conforto ao sentir minha faca ao meu lado, pressionada no colchão. Shadow nunca foi abertamente hostil a mim. Eu o vi com raiva, mas nunca foi dirigida a mim. Agora, não tinha tanta certeza do que esperar dele. — O que eles queriam saber? — Números de reclusos, um layout detalhado do submundo, a estrutura do exército de Kingsley. Shadow parou. — Você contou a eles sobre mim? Seus olhos cuspiram raiva e ódio, mas mantive a calma enquanto respondia. — Sim. — Para qual finalidade? O que eles querem conosco? Ele gritou. — Eles querem derrubar Kingsley e libertar os brancos. Shadow começou a andar de novo, mas ficou em silêncio. Eventualmente, a questão de montagem se soltou. — Eles honestamente pensam que levar Kingsley para baixo vai melhorar tudo? Ele é um tirano e é substituível. Assim que ele se for, alguém entrará em cena e, se essa pessoa não for tão ruim, será pior. O submundo precisa de uma mão brutal para liderá-lo. Se o próximo líder não for tão louco quanto Kingsley, os presos o destruirão e tudo o que Kingsley construiu aqui. Eu sei que ele é doido, mas você precisa ser doido para governar o inferno! Eu balancei a cabeça em concordância. — Eu disse a 106 que conhecia alguém que era forte o suficiente para liderar, e o faria com justiça. Seu ritmo terminou abruptamente na minha frente quando toda a ira de sua raiva e decepção se instalaram em minha direção. — Quem? Eu olhei de volta, sentindo mais do que uma leve pontada de tristeza por sua reação volátil. Eu odiava ver sua raiva direcionada para mim, mas não pude deixar de encontrar beleza em sua raiva. Ele era um homem tão forte, tão bonito à sua maneira grosseira. Sim, ele tinha sangue nas mãos, mas não voluntariamente colocado ali por suas próprias decisões conscientes; em vez disso, foi forçado a ele por um homem cruel que tinha sede de violência e poder. Eu sabia que, no meu coração, Shadow tinha o potencial de ser tão justo quanto um homem poderia ser em um mundo onde a justiça não tinha nada a ver. Tomei a chance de indicá-lo e, por algum motivo, os rebeldes concordaram. — Você, — eu finalmente respirei. Uma explosão de risada maníaca deixou seus lábios quando se virou e caminhou em direção à porta. Eu pensei que ele poderia sair, mas, em vez disso, se virou e encostou-se à porta, o folheto ainda cerrado no punho. — Por que você não usou isso já? Shadow balançou o pedaço de papel na minha direção. — A hora não era certa, — confessei. Eu precisava garantir que as pessoas que não deveriam estar aqui embaixo ficassem bem. Eu precisava que eles estivessem seguros antes de usar isso. — Como você pode confiar em um mapa quando nem sabe de onde ele veio? Pode ser uma armadilha! — Não tenho nada além de esperança. Se é uma armadilha, então é uma armadilha, mas não pode ser pior do que já sofri aqui embaixo. Shadow rosnou em frustração. — A esperança não é senão uma emoção tola... existem outros? Inclinei minha cabeça em confusão, então ele elaborou: — Rebeldes, espiões? Você é a única? Estava na ponta da minha língua negar que eu era um espião rebelde. Embora não tivesse me considerado parte do grupo rebelde, definitivamente era um espião para eles. — Eles não fizeram nenhuma tentativa de me informar sobre a operação deles, e eu nunca fiz perguntas, apenas as respondi. Acredito que existem outros, mas não tenho idéia de quantos ou quem são. — E eu devo confiar sua palavra nisso? Shadow cuspiu. Foi um tapa verbal que senti profundamente no meu peito. Sua raiva e suas palavras deixaram claro que suas lealdades, que supus que estavam comigo, não eram inteiramente. Estendi a mão da confiança e ele a rejeitou. — Eu nunca menti para você... nenhuma vez. Shadow rugiu de frustração e apontou para mim, o braço esticado, a ação brutalmente nítida. — Regan morreu por sua causa! — Ele gritou. Se suas palavras anteriores não tivessem sido um tapa verbal, essas foram um soco total, com os punhos cerrados e um objetivo direto. Lentamente, levantei-me da cama, minha mão puxando a faca comigo. — Você quer brincar com a porra da sua lâmina agora, baby? Dando um passo à frente, girei a faca na minha mão com uma experiência que muitas centenas de horas de prática haviam me dando. A lâmina acabou entre as pontas dos meus dedos, o punho na direção de Shadow. — Pegue, cachorro. Tenho certeza de que seu mestre me quer desarmada. Eu matei o soldado dele, mais de um, na verdade. Eu sou uma assassina, e sei que ele está com muito medo de mim, então aceite — murmurei com intenção mortal. Shadow parou apenas um momento antes de agarrar a faca e arrancá-la das minhas mãos. Ele estava respirando pesadamente pelas narinas enquanto segurava a faca. Sorri, implorando silenciosamente para tentar usá-la em mim. Quando não se mexeu, fiz o que sabia que certamente o irritaria: virei as costas para ele e sussurrei 'saia', dispensando-o. Ele ficou atrás de mim por quase um minuto antes de ouvir minha porta se abrir e bater com força, o cadeado deslizando no lugar, deixando-me saber que agora eu era prisioneira. Eu sempre fui prisioneira, porém, e perder minha liberdade de circunvagar o submundo realmente não era um castigo tão grande. De fato, desde que Kingsley havia levantado sua regra de não tocar e Shadow, em poucas palavras, havia liberado sua posse de mim, provavelmente era maisseguro para mim estar trancada aqui. Desabando no meu colchão, notei o livro de rosas ao meu lado, minha mão subindo por vontade própria para acariciar gentilmente a flor seca. Tentar me convencer de que a reação de Shadow não doeu foi inútil. Eu permiti que o homem deslizasse sob minhas defesas. Eu me permiti querer algo, e perdê-lo doeu como uma faca no meu peito. Alcançando a faca menor enfiada na minha bota, puxei-a para fora e me sentei contra a parede de pedra no final da minha cama. Shadow sabia que eu a carregava e ainda não havia me ordenado que desistisse. Agitando a pequena faca entre os dedos, observei a porta. Se alguém vier e tentar me atacar dentro dos limites do meu quarto, os derrubaria. O fardo de mais mortes pelas minhas mãos fez meus ombros ficarem tensos. Regan. Apenas o pensamento dela fazia meu coração gritar de agonia. Haviam muitas mortes estragando minha alma, mas a dela cicatrizaria o pior. Shadow estava certo. Eu falhei com Regan e ela morreu porque eles achavam que ela era a espiã rebelde. A dor dela deveria ter sido minha. A violação dela deveria ter sido minha. Ela morreu, mas deveria ter sido eu. SHADOW Eu me movi pelo submundo como um trator pronto para achatar tudo em seu caminho. Não conseguia me lembrar de uma época em que fiquei tão lívido. Nada era um maldito espião rebelde. Talvez o papel tenha sido de alguma forma forçado a ela, sedutoramente jogado em seu rosto com a promessa de esperança, não para ela, mas para os outros; no entanto, o fato de ela ter caído nessa sedução me irritou. Assim que entrei no meu quarto, joguei o pedaço de papel esfarrapado que ela chamava de 'esperança' no lixo, joguei a faca no meu paletes e me virei para encarar meu saco de pancadas, soltando minha fúria. Eu estava tão bravo que não conseguia entender exatamente porquê estava bravo. Nada e seus malditos amigos rebeldes ameaçavam o submundo e, no entanto, eles não queriam me tirar. Eles queriam remover a raiz de toda a loucura e caos aqui embaixo e tentar cultivar uma nova árvore, com um novo poder, eu. Eu não queria liderar, nem o poder que vinha com ele. Ultimamente, ficava mais do que contente por não ser ninguém. Eu queria o limite da liberdade que vinha de não ter responsabilidades e ninguém a quem responder. Liderar o submundo era cheio de responsabilidade e me enjaularia ainda mais dentro dos limites em que já vivia. Isso me faria um alvo para aqueles que quisessem meu poder e eu estaria assistindo por cima do ombro com mais frequência do que estaria ansioso. E, ainda por cima, Nada depositou todas as suas esperanças em um folheto de merda que alguém tinha escondido debaixo de sua porta há oito anos. Se fosse honesto comigo mesmo, me irritava que ela planejasse sair enquanto eu teria que ficar para trás e bancar o líder desse alegre grupo de viciados em drogas, assassinos e estupradores. Enquanto ela planejava viver na costa californiana, livre como um pássaro, eu seria ainda mais cativo do que nos últimos quinze anos. Ignorando as batidas na minha porta, continuei tentando destruir meu saco de pancadas, encontrando pouco consolo e muita dor enquanto meus dedos quebrados protestavam a cada golpe. — Shadow! Meu punho parou bem na frente da bolsa. — Mi precisa saber o que está acontecendo. A voz frenética de Dejohn pairava no ar. — Eu sei que você está aqui. Mi pode ouvi-lo batendo na merda do saco de lixo. Abrindo a porta, voltei para o saco de pancadas, meus golpes sem perder a fúria. Dejohn entrou no meu quarto, fechando a porta silenciosamente atrás dele. — Porque Nada está presa? — Pergunte a Kingsley. — Mi fez. — Eu disse que eu era velha demais para me preocupar com questões políticas, e é hora de eu me aposentar. Com isso, eu parei. — Você se aposentou? Por que diabos? Dejohn encolheu os ombros, um pequeno sorriso puxando o canto da boca. — Não faço ideia, mas eu aposto que não recebo um relógio de ouro. Seu olhar cansado se fixou em mim, e as linhas de preocupação entre seus olhos e boca eram claramente óbvias. Eu caí para o lado da minha cama e me permiti sentir o latejar na minha mão. Parecia muito melhor do que o tumultuado tornado de confusão que atualmente encheu minha cabeça. — Kingsley matou Regan. Um suspiro rápido foi o único som que Dejohn fez. — Sim, a merda foi boa e apropriada. Ele garantiu que Nada estivesse lá para assistir ao final, então me mandou trancá-la em seu quarto. Beast foi levado para a gaiola. Eles vão lutar em quarenta e oito horas. — Moda sagrada de... — Não fique religioso comigo agora, Dejohn. Você diz o nome do Senhor aqui, e alguém provavelmente irá explodir em chamas. Um silêncio caiu entre nós antes que a curiosidade me vencesse. — Você sabia sobre ela? — Quem? — Dejohn respondeu, claramente confuso. — Nada, você sabia que ela está trabalhando com os rebeldes? Surpresa encheu o rosto do velho. — Ela disse a você? — Sim, — eu bati. — Me contou toda a história feliz de como ela está trabalhando com eles para derrubar o submundo. Dejohn pareceu considerar suas próximas palavras cuidadosamente. — Derrubar o submundo, como exatamente? Eu bufei. — Derrubar Kingsley e soltar os brancos. — Isso é ruim, por quê? Quando a raiva ressurgiu brutal e rapidamente, observei os velhos olhos sábios do homem. Ele tinha que estar com setenta anos. Sua pele escura era um contraste gritante contra seus cabelos brancos, e seu rosto marcado aparecia todos os anos de seus quarenta anos em cativeiro. Ele não ficou surpreso com o pensamento de Kingsley caindo, nem ficou chocado com o envolvimento de Nada com os rebeldes. Pela primeira vez desde que Nada havia sussurrado seu segredo, pude ver pelo que era um pouco mais claro. — Kingsley é um homem brutal, responsável por muitas mortes para contar. O submundo precisa de uma mão forte, não uma que esmague. Depois de tudo o que fez com Nada, minha filha, merece morrer. Eu não poderia discutir com isso. — Os brancos não merecem estar aqui, inocentes presos no meio. Os líderes mundiais acima deveriam tê-los removido no momento em que descobriram que existiam. Em vez disso, os mantêm enterrados e, quando os boatos começaram a vazar, tentavam cobrir o problema com generosidade. Eles dão comida, água fresca e lixo! Eles fornecem remédios, mas não os protegem. Eu resmunguei um reconhecimento. — O mundo acima ignora os inocentes, esquece-os, mas Nada não os esquece, ela não para de lembrar. Diga a mi, Shadow, como o mundo acima reagiria se soubessem sobre Paul? A culpa esfaqueou profundamente. — Ou essas mulheres que acabam trabalhando em Whore Pit, ou quantos inocentes são viciados e tão perto da morte quanto eles jamais serão? Dejohn sacudiu a cabeça. — Este mundo não é justo e não é bom, e estou falando sobre o mundo acima e abaixo...o que há de errado se alguém quer fazer algo de bom? Nada sofreu muito, um inocente forçado a matar, tratada como nada mais que um objeto de luta, e ela ainda quer fazer algo de bom. Ela luta por eles quando não tem nada a perder22. A raiva se foi, relembrei os últimos meses. Nada tentou dar a aparência de que ela não se importava, mas não dava para esconder o fato de que estava sempre checando o Whore Pit. Houve muitas vezes que Kingsley não a ordenou lá embaixo, e eu sabia o quanto ela odiava aquele lugar. Mas ainda assim, ela ia conferir as garotas. Eu perdi a conta de quantas pessoas ela havia enfrentado, que tentaram intimidar alguém a se submeter. Lembrei-me da maneira como ela tratara Grace com tanta gentileza que me deixou sem palavras. Ela tentava visitar a garota todos os dias e sempre levava algum pequeno presente para ajudá-la. E depois havia Dejohn e Regan, com quem ela se importava como se pudesse parecer sangue.