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Direito Processual Penal Constitucional DOCENTE: THALITA BASSAN 2 Tivemos 3 sistemas processuais penais ao longo da história: • Inquisitório – no qual as funções de acusador, juiz e defensor estão aglutinadas nas mãos de uma mesma pessoa que tem plenos poderes de gestão e produção da prova. • Acusatório – no qual há clara distinção entre acusador, juiz e defensor, a atividade probatória é ônus das partes e o juiz deve decidir conforme seu convencimento motivado. • Misto – que possui uma fase pré-processual inquisitiva e uma fase processual acusatória. 3 INQUÉRITO POLICIAL O conceito trazido por Guilherme de Souza Nucci é bastante didático: O inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo, conduzido pela polícia judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma infração penal e sua autoria. 4 IMPORTANTE! A natureza jurídica do inquérito policial é a de procedimento administrativo. Lembrando que inquérito não é sinônimo de processo, mas sim um procedimento preparatório para o mesmo, o que explica algumas de suas características que serão estudadas a seguir. 5 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL 1.Inquisitividade A primeira característica que se destaca no inquérito policial é a inquisitividade. Isso significa que, ao contrário da ação penal, esse procedimento não se subordina aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Pelo contrário, a autoridade policial conduz as investigações de forma unilateral com base na discricionariedade, sem a definição de um rito pré-estabelecido e sem a necessidade de participação do investigado. 6 2. Sigilo A segunda característica é o sigilo, que impede o livre acesso aos autos do inquérito. Esse sigilo tem como escopo assegurar a efetividade das investigações, bem como resguardar a honra dos investigados. 3.Indisponibilidade A indisponibilidade está relacionada ao fato de que, uma vez instaurado o inquérito, a autoridade policial não poderá dele dispor, ou seja, promover o seu arquivamento. Essa característica está no art. 17 do Código de Processo Penal, que estabelece que “A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.” 74.Dispensabilidade O inquérito não poderá ser arquivado diretamente pela autoridade policial (indisponibilidade). Essa característica não se confunde com a dispensabilidade. A dispensabilidade significa que o titular da ação penal, ou seja, o Ministério Público (art. 129, I, da Constituição), pode dispensar total ou parcialmente o inquérito, desde que já possua justa causa para a instauração da ação penal. 8 5.Escrito O art. 9º do CPP determina que: “Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.” 6.Oficiosidade Essa característica está prevista no art. 5º, I, do CPP, que dispõe que o inquérito policial será instaurado de ofício nos crimes de ação penal pública incondicionada: “Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.” 9 7. Unidirecional Essa característica significa que o inquérito policial possui a única finalidade de apuração de autoria e materialidade delitiva, não sendo cabível que a autoridade policial emita juízo de valor sobre a investigação. O direcionamento do inquérito é o Ministério Público, que é o seu destinatário imediato e a quem compete valorar os fatos apurados. Formas de instauração do inquérito policial A partir da análise do art 5º do CPP (brasil, 1941), podemos concluir que o inquérito policial pode ser instaurado de 5 maneiras distintas. 10 11 Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. § 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. 12 § 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia. § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 13 A autoridade de polícia judiciária possui o poder-dever de instaurar o inquérito de ofício – ou seja, sem provocação – quando toma conhecimento da prática de crime que desafia ação penal pública incondicionada. Por requerimento do ofendido ou de seu representante legal, cabendo ao delegado de polícia exercer um juízo de tipicidade dos fatos narrados. Ressalte-se que, caso o delegado de polícia indefira a instauração do inquérito, o CPP (BRASIL, 1941), em seu art. 5º, § 2º, permite a interposição de recurso administrativo dirigido ao chefe de polícia. 14 A instauração é também permitida por notícia-crime de terceiro, conforme art. 5º, § 3º do CPP (BRASIL, 1941). Assim, qualquer do povo pode comunicar à autoridade policial a ocorrência de crime de que teve notícia, cabendo ao delegado providenciar investigações preliminares para atestar a plausibilidade das informações, quando estas são dadas anonimamente. 15 Aury Lopes Jr. (2019) dispõe que o art. 5º, I, ao tratar da instauração do inquérito de ofício, está se referindo à autoridade policial da jurisdição territorial onde ocorreu o delito, a qual tem o dever de agir de ofício, instaurando o inquérito. Tal ato é denominando de inquisiti ex officio. 16 Quanto ao inciso II do art. 5º, temos que o MP, titular da ação penal, ao tomar conhecimento de fato possivelmente revestido de materialidade criminosa, poderá requisitar da autoridade policial a instauração de inquérito. Renato Brasileiro de Lima (2020) afirma que por se tratar de uma requisição, a autoridade policial está obrigada a instaurar o inquérito policial. 17 Ainda no inciso II do art. 5º, temos uma divergência na doutrina especializada do direito processual penal, qual seja, a legitimidade da requisição de instauração de inquérito por parte da autoridade judiciária. A enorme discussão que se trava sobre esse aspecto se dá pelo fato de termos adotado o sistema processual penal acusatório, claramente reafirmada com a entrada em vigor da Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime). 18 Sobre tal situação, dispõe Aury Lopes Jr. (2019, p. 151): Em que pese o disposto no art. 5º, II, do CPP, entendemos que não cabe ao juiz requisitar abertura de inquérito policial, não só porque a ação penal de iniciativa pública é de titularidade exclusiva do MP, mas também porque é um imperativo do sistema acusatório. Inclusive, quando a representação é feita ao juiz – art. 39, § 4º –, entendemos que ele não deverá remeter à autoridade policial, mas sim ao MP. Não só porque é o titular da ação penal, mas porque o próprio § 5º do art. 39 permite que o MP dispense o IP quando a representação vier suficientemente instruída e quem deve decidir sobre isso é o promotor, e não o juiz. 19 Em definitivo, não cabe ao juiz requisitar a instauração do IP, em nenhum caso. Mesmo quando o delito for, aparentemente, de ação penal privada ou condicionada, deverá o juizremeter ao MP, para que este solicite o arquivamento ou providencie a representação necessária para o exercício da ação penal. 20 Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. § 1o A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida. § 2o A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria. § 3o Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. § 4o A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito. § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. 21 Como bem discorre Aury Lopes Jr., em homenagem ao sistema processual penal acusatório, é vedada a requisição de instauração de inquérito por parte da autoridade judiciária: se lhe é vedada a mera requisição, é inconcebível a instauração de ofício, seja qual for o contexto, sob pena de resgatarmos o sistema processual penal inquisitório, típico de regimes ditatoriais. 22 Embora tal situação seja bem clara, há, no Regimento Interno do STF, dispositivo não recepcionado pela Constituição por flagrante inconstitucionalidade, uma vez que prestigia expressamente o sistema inquisitório, violando o art. 129, I da Constituição Federal, vejamos: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro” (BRASIL, 2020). 23 Sobre o tema, dispõe brilhantemente Renato Brasileiro de Lima (2020 [...] é fato que o dispositivo em questão não foi recepcionado pela Constituição Federal. Com efeito, essa concentração de poderes nas mãos de uma única pessoa, in casu, no Ministro inquisidor, além de violar a imparcialidade e o devido processo legal, revela-se absolutamente incompatível com o próprio Estado Democrático de Direito, assemelhando-se à reunião dos poderes de administrar, legislar e julgar em uma única pessoa, o ditador, nos regimes absolutistas, p. 201). 24 Não se sustenta, em um regime democrático, que o juiz possa exercer funções de acusador, instaurando inquérito e produzindo provas de ofício, já que o órgão acusador por garantia constitucional é o Ministério Público, que é destinatário final do inquérito policial, a quem compete decidir sobre o oferecimento ou não da denúncia, uma vez que figura como o detentor exclusivo da ação penal. 25 Sendo certo que, tomando o STF conhecimento de indícios de materialidade e autoria de determinadas condutas típicas, mesmo que nas hipóteses do art. 43 do seu Regimento Interno, se impõe a obrigatoriedade de comunicação ao órgão responsável constitucionalmente pela requisição de inquérito e oferecimento da ação penal, nos exatos termos do art. 40 do CPP, afinal, ainda que se trate da Suprema Corte do país, há que ser respeitado o sistema processual acusatório, consagrado na Constituição Federal. 26 Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia. 27 Lavratura do auto de prisão em flagrante delito marca o início do procedimento investigativo. Serão peças inaugurais dos inquéritos, o próprio auto de prisão em flagrante, as requisições e requerimentos que o provocaram. Nas demais hipóteses, o delegado de polícia deve baixar uma portaria, que nada mais é do que uma peça breve, indicando o nome e o prenome do investigado e da vítima, o dia, local e hora do fato delituoso, determinando-se, ao final, a instauração do inquérito (TAVORA; ALENCAR, 2015). 28 Por força dos parágrafos 4º e 5º do art. 5º do CPP (BRASIL, 1941), nos crimes que desafiam ação penal pública condicionada a representação, esta será necessária para a instauração do inquérito e, nos crimes cuja persecução depende de ação penal privada, o inquérito dependerá de requerimento daquele que possui legitimidade para o oferecimento da queixa. § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 29Procedimento e diligências do inquérito policial Em que pese o fato de que o inquérito policial é um procedimento discricionário, o código de processo penal (BRASIL, 1941), em seus arts. 6º e 7º indica as providências e diligências que devem ser tomadas pela autoridade policial para melhor elucidar o fato criminoso. Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; 30 II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; V - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; 31 VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 32 Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. Procedimento do qual, segundo o STF, o acusado não está obrigado a participar, em nome do princípio da inexigência de autoincriminação (nemo tenetur se detegere). Cumpre ressaltar que, quando ouvir o investigado, o delegado deve seguir o procedimento para o interrogatório judicial, previsto nos arts. 185 a 196 do CPP (BRASIL, 1941), informando-o do direito de permanecer em silêncio e permitindo a presença do advogado, se houver. 33 Prazos do inquérito policial A autoridade policial possui um prazo para finalizar as investigações, que não podem se estender indefinidamente. Conforme o art. 10 do CPP (BRASIL, 1941), o prazo será de 10 dias improrrogáveis, quando o investigado estiver preso, em flagrante ou preventivamente, contando-se este período a partir da execução da prisão. Entretanto, quando o investigado estiver solto, o prazo será de 30 dias, prorrogáveis por decisão do juiz em casos de difícil elucidação. 34Prazos Especiais previstos na legislação extravagante. Os inquéritos a cargo da polícia federal devem ser concluídos em 15 dias, prorrogáveis por igual período, uma única vez – por decisão judicial – caso o investigado esteja preso e por 30 dias, também prorrogável, caso esteja solto, conforme prevê a Lei nº 5010 (BRASIL, 1966), em seu art. 66. 35 A Lei nº 11343 (BRASIL, 2006), mais conhecida como lei antidrogas, prevê em seu art. 51 que o prazo para o fim do inquérito é de 30 dias, duplicáveis – por decisão judicial, ouvido o Ministério Público – caso o investigado esteja preso e 90 dias, igualmente duplicáveis, se estiver solto. A Lei nº1521 (BRASIL, 1951) prevê, em seu art. 10, § 1º, para os crimes contra a economia popular, o prazo único e improrrogável de 10 dias. 36 nos inquéritos militares, o prazo será de 20 dias quando o investigado estiver preso e 40 dias, prorrogáveis por mais 20 dias pela autoridade militar superior, quando estiver solto. É importante ressaltar que a contagem do prazo deve se dar na forma dos prazos processuais, prevista no art. 798, § 1º do CPP. A desobediência do prazo processual não ocasiona a invalidade da prova colhida, entretanto, prevalece que, caso o investigado esteja preso, o esgotamento do prazo sem a finalização do inquérito deve desaguar no relaxamento da prisão (OLIVEIRA, 2015). 37 Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado. § 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. 38 Encerramento do inquérito policial O código de processo penal estabelece que o inquérito será concluído com um minucioso relatório, endereçado ao juiz competente, que deve resumir as diligências feitas pela polícia judiciária. Nesta fase, também deve ocorrer o indiciamento, que nada mais é do que informar ao suposto autor do crime que os indícios de autoria convergem para ele, que passa a ser o principal foco do inquérito (TÁVORA; ALENCAR, 2015). 39 A Lei nº 12830 (BRASIL, 2013), estabelece que o indiciamento é ato privativo do delegado de polícia, embora não vincule a opinião do titular da ação penal. Após o relatório, o titular da ação penal – Ministério Público ou ofendido – pode oferecer a inicial acusatória com base no inquérito, dando início ao processo penal, ou pode requerer o retorno dos autos à autoridade policial para a realização de novas diligências, conforme art. 16 do CPP (BRASIL, 1941). 40 o Ministério Público com base nas informações presentes no inquérito, pode concluir pela ineficiência de provas capazes de indiciar o investigado, ou então, não consiga efetivamente determinar um réu para o crime. Assim, a atitude a ser tomada é o pedido de arquivamento do inquérito policial. IMPORTANTE: Anteriormente a Lei 13.964/19 (pacote anticrime), para que o inquérito policial fosse arquivado era indispensável a autorização judicial. 41 ANTES DO PACOTE ANTICRIME: o Ministério Público deveria remeter o inquérito ao Poder Judiciário para o juiz analisar os fatos e decidir se realmente caberia o arquivamento. Magistrado CONCORDAVA com a conclusão ministerial e o inquérito era arquivado. Na hipótese de DISCORDÂNCIA do juiz, esse inquérito retornava ao Ministério Público. 42 A discordância do magistrado ERA como um ''recurso’’ à Promotoria. Isso porque, a discussão SOBE DE INSTÂNCIA, a Procuradoria de Justiça é quem passaria a analisar o inquérito. O Procurador Geral de Justiça CONCORDANDO com o arquivamento dos autos vinculava o juiz a sua decisão - o magistrado era obrigado a determinar o arquivamento do inquérito. (é como se o juiz tivesse ‘’ perdido o recurso’’, e como consequência, deveria arquivar o inquérito contra a sua vontade). 43 Caso o Procurador Geral CONCORDASSE com a decisão do juiz, entendendo não caber o arquivamento, o próprio Procurador Geral poderia redigir a denúncia, ou, delegar a função à outro Promotor de Justiça. ATUALMENTE, com a alteração legislativa nº. 13.964/19, por meio do art. 28 do CP, o Ministério Público não mais necessita de autorização do Juiz de Direito para promover o arquivamento do inquérito. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637082/artigo-28-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 44 Entendendo não haver elementos suficientes, o Promotor irá dar ciência do arquivamento à vítima, ao investigado e à autoridade policial - cientificados, após o prazo de 30 (trinta) dias, irá o Promotor encaminhar os autos à sua instância superior para um reexame, como uma espécie de controle interno. Poderá a instância superior CONCORDAR com o arquivamento e encerra-lo, ou, DISCORDANDO, designar outro promotor para que dê início à fase processual através da denúncia. AGORA, SEM A INTERFERÊNCIA DIRETA DO JUIZ, o Ministério Público que é o responsável por deflagrar a Ação Penal Pública poderá decidir, por si só, acerca do oferecimento, ou não, da denúncia. 45 Em crimes que desafiam ação penal privada, não haverá arquivamento e, após o relatório, o inquérito ficará à disposição do ofendido ou seu sucessor. 46 Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 47 § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 48 Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 49 I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 50 IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 51 Questões 1. Um Delegado de Polícia, ao tomar conhecimento de um suposto crime de ação penal pública incondicionada,determina, de ofício, a instauração de inquérito policial. Após adotar diligência, verifica que, na realidade, a conduta investigada era atípica. O indiciado, então, pretende o arquivamento do inquérito e procura seu advogado para esclarecimentos, informando que deseja que o inquérito seja imediatamente arquivado. Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que a autoridade policial 52 a) deverá arquivar imediatamente o inquérito, fazendo a decisão de arquivamento por atipicidade coisa julgada material. b) b)não poderá arquivar imediatamente o inquérito, mas deverá encaminhar relatório final ao Poder Judiciário para arquivamento direto e imediato por parte do magistrado. c) deverá elaborar relatório final de inquérito e, após o arquivamento, poderá proceder a novos atos de investigação, independentemente da existência de provas novas. d) poderá elaborar relatório conclusivo, mas a promoção de arquivamento caberá ao Ministério Público que comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. 53 LETRA D Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 54 2. O inquérito policial pode ser definido como um procedimento investigatório prévio, cuja principal finalidade é a obtenção de indícios para que o titular da ação penal possa propô-la contra o suposto autor da infração penal. Sobre o tema, assinale a afirmativa correta. 55 a) A exigência de indícios de autoria e materialidade para oferecimento de denúncia torna o inquérito policial um procedimento indispensável. b) O despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito policial é irrecorrível. c) O inquérito policial é inquisitivo, logo o defensor não poderá ter acesso aos elementos informativos que nele constem, ainda que já documentados. d) A autoridade policial, ainda que convencida da inexistência do crime, não poderá mandar arquivar os autos do inquérito já instaurado. 56 LETRA D A) ERRADA. Uma das características do inquérito policial é a dispensabilidade. B) ERRADA. Pode haver recurso e esse será dirigido ao chefe de polícia( Art 5° §2° CPP) na esfera administrativa. C) ERRADA. O sigilo não alcança a figura do defensor. Súmula Vinculante 14 -> É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, JA DOCUMENTADOS em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 57 3. Acerca do inquérito policial (IP), assinale a opção correta. A) Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado — interessado primário no procedimento administrativo do IP —, é corolário e instrumento a prerrogativa do advogado de acesso aos autos respectivos, explicitamente outorgada pelo Estatuto da Advocacia, da qual, porém, excluíram-se os IPs que correm em sigilo. B) Não é direito fundamental do indiciado, no curso do IP, fazer- se assistir por advogado. C) No curso do inquérito policial, ao indiciado não é dado o direito de manter-se em silêncio. D) Todo IP é modalidade de investigação que tem seu regime jurídico traçado a partir da Constituição Federal, mecanismo que é das atividades genuinamente estatais de segurança pública. 58 LETRA D É traçado a partir da CF, art. 144, §1, IV e §4: A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio: A polícia federal destina-se a: exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União (ex: conduzir inquéritos). As polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 59 4. Com base no CPP, assinale a opção correta acerca do inquérito policial. A) O MP, caso entenda serem necessárias novas diligências, por considerá-las imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial. B) Se o órgão do MP, em vez de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial, o juiz determinará a remessa de oficio ao tribunal de justiça para que seja designado outro órgão de MP para oferecê-la. C) A autoridade policial, caso entenda não estarem presentes indícios de autoria de determinado crime, poderá mandar arquivar autos de inquérito. D) Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial não poderá proceder a novas pesquisas, ainda que tome conhecimento de outras provas. 60 LETRA A O MP, caso entenda serem necessárias novas diligências, por considerá-las imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial. (CORRETA) Artigo 16 CPP - O MP não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
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