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UNINTA - APOLOGÉTICA

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Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
http://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo 154 
 
ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA: 
A EXISTÊNCIA DE DEUS. 
ENTENDER A NECESSIDADE DA EXISTÊNCIA 
DE DEUS PARA O SENTIDO DA VIDA E 
A RACIONALIDADE DA FÉ 
(Theological argument: the existence of God. 
Understanding the need of the existence of God for 
the meaning of life and the rationality of faith) 
 
 
 
 
Alex da Silva Mendes 
Mestrando em Teologia pela PUC/SP 
E-mail: professoralex.educacao@gmail.com 
 
 
RESUMO 
De início, é preciso que se diga que a existência de 
Deus é a grande afirmação pressuposta pela Bíblia. 
A Bíblia não tenta provar a existência de Deus, ela 
simplesmente assume essa existência como um 
fato. O excelente teólogo reformado Louis Berkhof 
afirma: “Para nós, a existência de Deus é a grande 
pressuposição da teologia”. De fato, nenhum 
teólogo poderia negar a existência de Deus, pois 
isso o faria automaticamente ficar sem profissão. 
Ao longo da história, contudo, filósofos e teólogos 
têm debatido se a mente humana pode ter certeza da 
existência divina. Será que a existência de Deus é 
um assunto que deve ser aceito somente pela fé? Ou 
será que é possível, a partir da razão e de 
argumentos racionais, provar a existência de Deus? 
Palavras-Chave: Existência de Deus; Argumentos; 
Teologia, Preambula fidei. 
 
ABSTRACT 
At first, it must be said that the existence of God is 
the great affirmation presupposed by the Bible. The 
Bible does not attempt to prove the existence of 
God, it simply takes this existence as a fact. The 
great Reformed theologian Louis Berkhof says: 
"For us the existence of God is the great 
presupposition of theology." In fact, no theologian 
could deny the existence of God, as this 
automatically would cause him to be without 
profession. But throughout history, philosophers 
and theologians have debated whether the human 
mind can be sure of God's existence. Does the 
existence of God is a matter that must be accepted 
by faith itself? Or is it possible, from reason and 
rational arguments to prove the existence of God? 
Keywords: Existence of God; Arguments; 
Theology; Preambula fidei. 
INTRODUÇÃO 
 
Desde já, é preciso que se admita que a fé seja absolutamente necessária para que se aceite a 
existência de Deus. No entanto, o ponto a ser discutido é: esta fé se baseia em quê? Além do 
mais, o que poderia ser excluído deste princípio? Quando a fé não se faz necessária? Será que 
temos provas suficientes para todas as nossas crenças, sejam religiosas, científicas ou morais? 
mailto:professoralex.educacao@gmail.com
 
Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
http://revistas.pucsp.br/index.php/reveleteo 155 
 
Até agora percebemos que os grandes argumentos contra a existência de Deus tombam diante 
de uma análise mais detalhada. Será, todavia, que somente podemos ir pelo caminho da 
defesa, ou há muita discussão entre os teólogos se é possível apresentar provas racionais a 
respeito da existência de Deus sem o uso da Escritura? O que deve ser esclarecido é que, se 
por provas racionais se entende que elas devem convencer a todos que Deus existe, ou que é o 
único instrumento do despertamento espiritual de alguém, então, não existem tais provas. 
Somente o Espírito Santo, fazendo uso da revelação, pode convencer alguém da existência de 
Deus. Historicamente, alguns argumentos têm sido formulados para defender a Sua 
existência. 
 
1. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO: A IDEIA DE UM SER 
SUPERIOR 
 
Segundo este argumento, uma das coisas que nos leva a pensar que Deus deve existir é o fato 
de que todos têm esta noção em si mesma. Em geral, a ideia que as pessoas fazem de Deus é a 
de um ser superior e infinito. A questão é como noções de um ser infinito podem surgir em 
mentes de seres finitos? O filósofo e matemático francês Descartes (1595-1650) não 
conseguia entender que o homem fosse capaz de criar essas ideias. Para ele, isso 
necessariamente precisava ter vindo de fora, ou seja, do próprio Deus. 
É fato inegável que a crença na existência de um ser superior é generalizada e, por 
mais que seja descaracterizada em muitos lugares, não anula a evidência de que 
aponta para algo além de nós mesmos. Segundo este argumento, todos imaginam 
que exista uma divindade, logo esta divindade deve mesmo existir. Para muitos 
teólogos e filósofos, o argumento é convincente, embora deva ficar claro que ele não 
prova objetivamente a existência de Deus. Mas não se pode negar que dá uma 
resposta bastante convincente a uma situação verificável: a ideia do divino que é 
comum em todas as pessoas. (Lima; Leandro Antônio. 2013).1 
 
2. O ARGUMENTO COSMOLÓGICO: TODA CAUSA TEM 
UM EFEITO 
 
Outra ideia comum e aceita entre os homens é que todo efeito precisa ter uma causa. Diz-se 
que uma obra de arte não surge do nada, ela precisa de um grande artista. Uma das leis da 
física é que não há efeito sem causas. Nesse sentido, o mundo criado é o efeito, enquanto que 
o criador, a causa. Sendo o mundo tão grandioso como é, necessariamente precisa ter uma 
causa grandiosa também. Este argumento vai além do anterior, que determina apenas a 
existência de um ser superior, demonstrando que esse ser superior é também infinito, pois só 
alguém infinito poderia ter criado um universo tão grande. Popularmente se diz que o 
universo é infinito, mas é claro que de forma absoluta isso não é possível. Somente Deus pode 
ser infinito, pois a existência de dois infinitos é uma contradição. O universo, entretanto, é 
enorme, além da compreensão do homem. A existência de um universo tão grande pressupõe 
a existência de um Deus ainda maior. A falha desse argumento tem sido apontada pelo fato de 
que, se toda causa tem um efeito, então, Deus também precisaria ter uma causa. A resposta é 
 
1 LIMA, Leandro Antônio. As grandes doutrinas da graça. São Paulo. Agathos, 2013. 
 
Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
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que Deus é a causa de si mesmo, ou seja, a causa não causada. Ele é eterno, isto é, existe 
desde toda a eternidade. O valor desse argumento está no fato de dar uma explicação para a 
origem de todas as coisas, o que nenhuma outra teoria consegue de forma mais convincente.
2
 
 
3. O ARGUMENTO TEOLÓGICO: HÁ PROPÓSITO EM 
TUDO QUE EXISTE 
 
O mundo não é caótico, ao contrário, em todos os lugares é possível ver ordem, propósito, 
organização e harmonia. O mundo revela um senso de inteligência que não pode ser ignorado. 
Há muitos exemplos disso: 
No ciclo das águas, a chuva faz a água cair sobre a terra, a água corre para o rio, o rio corre 
para o mar, o sol faz evaporar a água do mar que sobe até as nuvens, e das nuvens cai outra 
vez sobre a terra, e assim o ciclo reinicia (Eclesiastes 1.7). Essa noção de organização e 
inteligência pode ser vista até mesmo nas coisas mais insignificantes, como na vida dos 
insetos, ou nas coisas mais sofisticadas, como na constituição do corpo humano. Toda a 
simetria, toda a lógica, toda a harmonia pressupõe uma inteligência maior que tenha planejado 
tudo. 
A organização do universo pressupõe a existência de um ser inteligente e com propósitos 
definidos. Este argumento vai além dos anteriores porque determina a existência de um ser 
inteligente e sábio que planejou o universo. A ideia é que pode ser vista na natureza evidência 
de um design inteligente. Quando se analisa um floco de neve, por exemplo, percebe-seque 
ele tem um desenho, mas é um desenho que pode ser explicado através de causas naturais, 
como a intensidade do frio, a velocidade e a inclinação do vento, etc. Entretanto, quando se 
analisa uma molécula de DNA que compõe o “genoma” humano, aí estamos diante de uma 
complexidade que não pode ser explicada simplesmente a partir de elementos naturais. 
Estamos diante de um “design inteligente”, o que pressupõe um criador inteligente.
3
 
 
4. O ARGUMENTO MORAL: HÁ UMA IDEIA DE MORAL 
IMPLÍCITA EM TODOS 
 
Há em todos nós homens uma noção de certo e errado. Todos almejam por justiça e se irritam 
com a injustiça. Tal noção depende muito do aprendizado que a pessoa recebe durante a vida, 
mas não totalmente, pois há um grau em que esse senso é inato a todos os homens. Até 
mesmo os piores criminosos têm uma noção de justiça. A questão é: de onde vem tal noção? 
A explicação é que a noção é implantada pelo próprio Deus. Hodge argumenta que “como a 
imagem do sol refletida de um espelho ou da lisa superfície de um lago nos revela que o sol 
existe e o que ele é, assim a alma humana, tão clara e infalivelmente, revela que Deus existe e 
o que ele é”
4
. Somos criaturas morais. A moral não poderia se originar em nós mesmos, por 
isso, deve existir um Deus que a implantou em nós. A evolução não consegue explicar a 
existência dessa moral. Este argumento vai além dos anteriores, pois não só diz que Deus 
 
2 LIMA, Leandro Antônio. As grandes doutrinas da graça. São Paulo. Agathos, 2013. 
3 LIMA, Leandro Antônio. As grandes doutrinas da graça. São Paulo. Agathos, 2013. 
4 HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. 
 
Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
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existe, que é infinito, que é sábio, mas que é um ser moral. Até mesmo Kant, que procurou 
rejeitar os demais argumentos, aceitava esse argumento, pois entendia que o caminho próprio 
da religião era o caminho da moral. Para Kant, o homem é um ser moral e, portanto, deve 
refletir a vida de um Deus moral. 
Não achamos que esses argumentos sejam provas definitivas de que Deus exista. Como já 
dissemos, em última instância, a fé é necessária para que se creia que Deus existe. De 
qualquer forma, esses argumentos são úteis a ponto de nos ajudar a entender que não é 
irracional crer na existência de Deus. Gruden pensa que “o valor dessas provas reside 
principalmente na superação de algumas objeções intelectuais dos descrentes”.
5
 E podemos 
acrescentar que são úteis para demonstrar a racionalidade da fé. Portanto, não provam que 
Deus existe, mas provam que a fé em Deus é razoável, ou seja, que a fé é racional. 
 
5. NATURALISMO IRRACIONAL 
 
O naturalismo está na moda nesse mundo moderno. Tudo o que é da “natureza” é 
automaticamente mais aceito. As pessoas cultuam a mãe natureza, e procuram soluções 
“naturais” para seus problemas. A existência humana também tem sido explicada a partir de 
elementos naturais. Nesse sentido, evolucionismo e naturalismo são sinônimos. É a tentativa 
humana de explicar a existência do homem sem precisar apelar para o sobrenatural, para o 
divino. Contudo, que sentido teria a vida se não existisse um Deus? Se imaginarmos que tudo 
é obra do acaso, se acreditarmos nas teorias naturalistas e aceitarmos que tudo o que existe é 
produto da evolução, no fim das contas teremos que dizer que não viemos de lugar algum e 
nem vamos para lugar nenhum. Seríamos apenas um fruto de um acidente cósmico, de uma 
espécie de conspiração molecular inanimada. Um dia a matéria morta, por algum motivo 
ignorado, tornou-se animada. Após passar por um longo processo evolutivo, tornou-se o que 
somos hoje. É preciso entender, porém, que não houve propósito algum nisso tudo. Foi apenas 
obra do acaso. De um terrível e impessoal acaso que pode se inclinar para qualquer lado, de 
maneira que alguém viva até ultrapassar os 1OO anos, ou morra daqui a alguns minutos por 
uma bala perdida, sem que exista qualquer ordem ou propósito. Esse rolo compressor 
chamado “acaso” passa por cima de todos, sem levar em conta sentimentos, sonhos, planos ou 
desejos. De qualquer forma, não fará diferença viver 100 anos ou 1 minuto, pois o destino de 
todos é o mesmo: nenhum. Debaixo dessa sombra, não faz diferença o cultivo das virtudes ou 
a prática dos excessos. Ajudar ou prejudicar, matar ou dar vida, ser honesto ou desonesto, são 
apenas lados de uma mesma moeda, uma vez que, depois do túmulo para onde todos vão, não 
há recompensas ou punições, louvores ou vaias. Se não existe um Deus que tenha propósitos 
para este mundo e para a vida do homem, então não existe razão, não existe esperança, e nada 
faz sentido. A conclusão lógica e única que se pode chegar a partir de uma concepção assim é 
que não vale a pena viver, pois a vida não teria sentido. Não é de admirar o desespero de 
homens e mulheres que se negam a crer na existência de Deus. De fato, como diz Schaeffer, 
eles baixaram a linha do desespero. Lá não existe mais nada lógico, nem coerente. Tudo virou 
irracional. Eis a razão do estado caótico do mundo moderno que tem construído seu modo de 
vida sobre esse frágil alicerce chamado “acaso”. O soalho debaixo de nossos pés treme porque 
 
5 GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999. 
 
Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
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o grande princípio sustentador da sociedade foi repudiado. Deus foi destronado e o acaso 
posto em seu lugar.
6
 
 
6. IRRACIONALISMO PURO 
 
O naturalismo é uma das maiores forças que o teísmo já enfrentou. Definimos naturalismo 
como o conjunto de teorias que de uma forma ou de outra, defende o evolucionismo como 
explicação da vida. A tese principal do naturalismo é que não existe uma causa absoluta para 
a existência de todas as coisas. Uma definição clássica do naturalismo é: 
“O homem é o produto de causas que não tinham previsão de fim para o que foram feitas, sua 
origem, seu crescimento, suas esperanças e medos, seus amores e suas crenças, são 
consequências de acidentais colocações de átomos“. Desse modo, a vida surgiu 
necessariamente da própria matéria inanimada, sendo que, de alguma maneira, a matéria, nos 
primórdios da vida, foi energizada a tal ponto que, inexplicavelmente, se transformou em 
matéria animada. Através de um vagaroso processo evolutivo, sempre impulsionado pelo 
“comportamento adaptativo”, o ser humano veio a ser o que é hoje. Esse comportamento 
adaptativo é a chave para entendermos a evolução. Foi ele que selecionou naturalmente o que 
deveria mudar no homem, a fim de que sobrevivesse. Se dois braços são melhores do que um 
para a sobrevivência, então, o processo de adaptação permitiu dois braços. O próprio cérebro 
humano é fruto deste desenvolvimento. O cérebro se desenvolveu para garantir a 
sobrevivência da espécie. Nesse sentido, o homem continuará evoluindo e sempre se 
adaptando às necessidades do seu habitat natural. Se no futuro as pernas não forem 
necessárias, elas poderão deixar de existir e, no lugar delas, talvez nasçam asas. De qualquer 
forma o homem sempre se adaptará para uma melhor sobrevivência
7
. 
A questão que surge é a seguinte: será que o naturalismo é racional? Em última instância 
podemos dizer que o naturalismo também é questão de fé. Os cientistas não têm provas 
concretas do que dizem, porém creem que é verdade. Kuyper argumenta que “toda ciência, 
num certo grau, parte da fé”, pois “toda ciência pressupõe fé em si”, ou seja,para continuar 
defendendo a posição naturalista, é necessário acreditar que ela seja verdadeira, apesar da 
escassez de provas, e isto é fé. A primeira observação que pode ser feita sobre o naturalismo é 
que sua base é extremamente frágil. Ele tem uma belíssima estrutura construída, mas seus pés 
são de barro. Uma pergunta sempre ficará sem resposta no naturalismo: qual é a causa última 
de todas as coisas? Só há uma resposta: o nada. Essa não é uma resposta muito convincente, 
todavia não há outra. Ou o naturalista faz o sacrifício mental e diz que é o nada, ou cai no 
desvario de dizer que a matéria é eterna. Nesse ponto só resta para o naturalismo a 
irracionalidade. Não há saídas. A única forma que a ciência tem de se manter racional é 
admitindo que Deus existe, e que como diz Kuyper, “o cosmos não se torna vítima dos 
caprichos do acaso, mas que existe e desenvolve-se a partir de um princípio, segundo uma 
ordem estável, visando um plano fixado”? Este princípio somente pode ser Deus. O famoso 
Big-Bang não pode ser este princípio, pois é preciso que a causa última de todas as coisas seja 
uma “causa em si mesma”. Se ela não for a causa de si mesma, terá que ter outra causa e a 
 
6 LIMA, Leandro Antônio. As grandes doutrinas da graça. São Paulo. Agathos, 2013. 
7 RUSSEL, Bertrand. Why I Am Not a Christian. New York: Simon and Schuster, 1957, p. 107. 
 
Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
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outra, por sua vez, outra, e assim até o infinito. Kuyper está mais uma vez certo ao afirmar 
que: sem uma profunda convicção desta unidade, estabilidade e ordem, a ciência é incapaz de 
ir além de meras conjecturas. Somente quando há fé na conexão orgânica do Universo, haverá 
também a possibilidade para a ciência subir da investigação empírica dos fenômenos especiais 
para o geral, e do geral para a lei que governa acima dele, e desta lei para o princípio que 
domina sobre tudo
8
. Ao excluir Deus, o naturalismo se tornou irracional, pois excluiu o 
princípio. Caiu num círculo vicioso de teorias que precisam comprovar outras teorias, como 
se uma mentira pudesse fazer com que outra mentira se tornasse verdade. O naturalismo é um 
sistema contraditório, e a nossa própria estrutura intelectual é a lógica, como uma elaboração 
daquela nos ensinam a não crer em contradições: algo não pode ser e não ser ao mesmo 
tempo. Não dá para acreditar em algo que desminta a si mesmo. Alguns tipos de raciocínios 
São uma espécie de “bomba relógio”, pois destroem a si mesmos. A máxima do modernismo, 
por exemplo, era que “toda verdade precisa ser verificável”. 
Por muito tempo as pessoas acreditavam que, com esta afirmação, tinham chegado ao máximo 
do saber. Até que alguém levantou a seguinte questão: se toda verdade precisa ser verificável 
para que seja verdade, então, essa verdade (a própria declaração) também precisa ser 
verificável. 
Se não há como verificá-la, não há como comprová-la, então ela é falsa. Assim, se é verdade 
que “toda verdade precisa ser verificável”, então não é verdade que toda verdade precisa ser 
verificável. O mesmo pode ser dito do pós-modernismo que apregoa: “Não existem 
absolutos”. Se não existem absolutos, então essa própria afirmação não pode ser um absoluto. 
Estes são exemplos de argumentos autodestrutivos, aos quais Aristóteles, se os conhecesse, 
teria chamado de sofismas. O naturalismo também é autodestrutivo. Alvin Plantinga, um 
filósofo reformado norte-americano expôs o argumento da seguinte forma: 
1) Se o naturalismo é verdade, então nossa mente é um produto da evolução. 2) A evolução 
seleciona para a sobrevivência; portanto, a mente foi desenvolvida para a sobrevivência, não 
para conhecer a verdade. 3). Se o naturalismo é verdade, não temos suficientes razões para 
acreditarmos que nossa mente poderia determiná-lo como verdade, e o agnosticismo, 
portanto, faria mais sentido. Então, se o naturalismo fosse verdadeiro, nunca poderíamos 
constatar isso. Portanto, percebe-se que o naturalismo não é uma saída racional para o enigma 
da existência do mundo e da vida inteligente. “No entanto, antes de falar sobre a explicação 
teísta, é preciso rebater um argumento bastante usado nos meios acadêmicos para se negar a 
existência de Deus”. 
 
7. A EXISTÊNCIA DO MAL 
 
Sempre que um ateu tentar argumentar contra a existência de Deus, o principal argumento que 
usará é o que explora a existência do mal. O argumento consiste nas seguintes partes: 
1) Deus existe, ele é onipotente, onisciente e onipresente e, acima de tudo, é bom. 
2) Existe o mal. A questão é: como um Deus bom, todo-poderoso e todo sábio, poderia ter 
permitido que o mal existisse? Dessa forma, ou Deus não é bom por permitir tanta maldade 
 
8 KUYPER, Abraham. Calvinismo, p. 123. 
 
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p. 154-167 
 
 
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nesse mundo, ou ele não é todo-poderoso, nem sabe todas as coisas, pois, devido a um erro 
seu, por falta de previsão ou de poder, o mal entrou no mundo. A lógica parece irrefutável: 
Se existe o mal, Deus não existe ou, no mínimo, ele não é bom, nem todo-poderoso. Algumas 
soluções para esse problema não ajudam. Se dissermos que o mal é independente de 
Deus, então, Deus não é todo-poderoso. Se simplesmente dissermos que Deus é o autor do 
mal, então, ele não é bom. Muitos cristãos não têm resposta para essa argumentação. 
“Todavia, a solução existe”. Se houver uma terceira razão, que pudesse ser consistente tanto 
com a existência de Deus quanto com a existência do mal, então anularíamos esse argumento. 
Ou seja, se houver uma razão pela qual Deus, que é bom, tivesse um bom motivo para tolerar 
o mal, então a existência de Deus e a existência do mal não seriam mutuamente excludentes. 
Qual seria, porém, esta boa razão pela qual o Deus Born onisciente, onipresente e onipotente 
teria permitido o mal? Há uma razão: para sua glória. A Escritura diz que todas as coisas 
existem para a glória de Deus. Deus manifesta sua glória ao permitir que o mal exista, pois 
sabe como lidar com ele. A existência do mal permite, por exemplo, que Deus demonstre sua 
misericórdia. Se o homem não tivesse caído no pecado, jamais conheceria a misericórdia de 
Deus em sua plenitude. Deus, que “é amor” (110 4.8), demonstra a intensidade desse amor 
que o leva a entregar o próprio Filho pelos pecados dos homens (]o 3.16). Paulo diz que o fato 
de Deus entregar seu Filho para morrer pelos pecadores é a prova de seu amor (Rm 5.8). Se o 
mal não existisse, essa prova não seria dada. A encarnação do Filho está intimamente ligada à 
existência do mal. Sem o mal, o Logos não precisaria se tornar um homem, e o maior e mais 
espetacular acontecimento da história do universo não aconteceria: a encarnação (]o 1.14). 
Ainda devemos lembrar que uma criação testada e aprovada é mais valiosa do que uma 
criação que jamais foi testada
9
. “Nesta linha de argumentação, podemos dizer que o homem, 
que uma vez caiu no pecado e experimentou todas as mazelas decorrentes disso, depois de 
redimido, não terá mais a mínima vontade de pecar”. Ainda devemos observar que a 
qualidade de um objeto deve ser avaliada primariamente dentro do seu propósito. A criação de 
Deus, dentro de seu propósito, eterno e soberano, tinha como característica essencial a 
possibilidade concreta e real, até mesmo, de desobedecer a Deus. 
Concluímos, então, que a existência do mal não impossibilita a existência de um Deus bom e 
todo-poderoso. O mal, como todasas coisas, existe para a glória de Deus. Entretanto, isso não 
significa que possamos entender de forma lógica essa questão. Pela lógica humana, sempre 
haverá lacunas em qualquer explicação sobre a existência do mal e a existência de Deus. Não 
precisamos nos envergonhar de não ter essas respostas plenas, até porque, para que isso fosse 
possível, teríamos que ter uma mente igual à de Deus. Nosso desejo foi demonstrar que a 
existência do mal não inviabiliza a existência de Deus. De acordo com Schaefeer, o 
cristianismo é o único sistema de crenças que pode dar a resposta para o enigma da existência 
do mal, embora esta não seja uma resposta puramente racional, pois ela parte da fé. Somente o 
cristianismo pode dar esta resposta, porque somente ele crê na descontinuidade da atual 
condição do homem. O mal não é algo intrínseco ao homem. O homem não foi criado 
essencialmente mal, mas se tornou assim por um ato de sua vontade. Como vimos, Deus 
tolerou o mal porque tinha bons motivos para isso, porém o mal não é a condição “normal” do 
homem. Disso decorre que o mal pode ser combatido no homem, coisa que o mundo 
moderno, que vê o mal como algo natural, não pode afirmar, pois se o homem lutasse contra o 
 
9 SENNETT, James F. The Analytic Theist –An Alvin Plantinga Reader, pp. 22-49. 
 
Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 10, n. 17, jan/jun, 2016, 
p. 154-167 
 
 
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mal, estaria lutando contra si mesmo. A evolução poderia levar o homem definitivamente para 
o lado do mal, desde que isso garantisse a sobrevivência da espécie. De qualquer forma, para 
a evolução não faria qualquer diferença, pois não há mal, nem bem, tudo é fruto do acaso. No 
cristianismo, o mal é um intruso que, não obstante sirva aos propósitos de Deus, no devido 
tempo será extirpado. “É justamente o seu caráter de intruso que garante que ele pode deixar 
de existir
10
”. 
 
8. PENSAMENTOS ELEVADOS 
 
Não conseguimos entender a maneira como funciona a mente de Deus. Isso é atestado 
claramente pela Escritura. O próprio Deus disse: "Porque os meus pensamentos não são os 
vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, 
assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do 
que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos" 
(Is 55.8-9). A maneira como funciona a mente de Deus é tão diferente, que seus pensamentos 
e propósitos se tornam incompreensíveis para nós. Não é sem motivo que Paulo declara: "Ó 
profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão 
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu 
a mente do Senhor?" (Rm 11.33-34). Essa declaração de Paulo se torna ainda mais cativante 
pelo fato de ter sido proferida justamente após ter tratado do difícil assunto chamado 
"predestinação", ou seja, Paulo reconhece que a mente de Deus está muito acima da nossa e 
que, muitas coisas que Deus planeja, não temos como compreender. Entretanto, é preciso que 
fique claro que a Bíblia não quer dizer com isso que na mente de Deus a contradição seja 
aceitável. É comum, quando nos encontramos diante de uma situação aparentemente 
contraditória, dizermos: "Isso pode não fazer sentido para nós, mas funciona perfeitamente na 
mente de Deus". Essa expressão pode ser perigosa, pois, se o nosso raciocínio é contraditório, 
nem mesmo Deus poderá nos socorrer. A mente de Deus realmente é diferente da nossa, mas 
isso não quer dizer que ela admita contradição. Sua mente é elevada e trata de questões 
incompreensíveis para nós, porém tudo o que Deus pensa faz sentido e é perfeitamente 
lógico
11
. 
No livro de Jó encontramos a seguinte afirmação: "Deus é grande, e não o podemos 
compreender" (Jó 36.26). Não há medidas que possam ser usadas para se mensurar Deus. 
Todas as nossas noções de tamanho derivam da capacidade que temos de medir os objetos. A 
infinidade de Deus o torna incompreensível para nós porque ele é incomparável. Quando 
queremos entender o tamanho ou a beleza de algo, basta colocarmos outra coisa ao lado e 
teremos uma noção. O problema é que não podemos colocar nada ao lado de Deus. Ele é 
absolutamente incomparável. Isaías questiona: "Com quem comparareis a Deus? Ou que coisa 
semelhante confrontareis com ele?" (Is 40.18). Nesse texto, Isaías está profetizando para o 
povo de Judá, que seria cativo da Babilônia, que era o maior império daquela época. 
Aparentemente, o insignificante reino de Judá perante Babilônia não teria a mínima chance de 
ser libertado. Porém, o profeta afirma que Deus é maior que a Babilônia e de que qualquer 
 
10 SCHAEFFER. Francis. O Deus que se revela, p. 68-69. 
11 SPROUL,R. C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1198. 
 
 
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nação que exista ou possa existir. Não há a menor comparação e por isso ele diz: "Eis que as 
nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó 
na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta" (Is 40.15). E depois arremata: "Todas as 
nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como 
um vácuo" (Is 40.57). 
A estrutura do texto é fascinante. Primeiro o profeta diz que as nações, se comparadas a Deus, 
são como "um pingo que cai de um balde". Em seguida ele reduz o tamanho, "como um grão 
de pó na balança". Não contente com essa definição, reduz mais uma vez: "como pó fino que 
se levanta". Em seguida volta a reduzir: "como coisa que não é nada". Quando parecia que 
havia chegado ao mínimo possível, reduz outra vez: "ele as considera menos do que nada, 
como um vácuo". A definição de vácuo pode ser: "Algo vazio, com ausência até de ar". 
É dessa forma que Deus considera as superpotências do mundo. Nações como os antigos 
Impérios da Babilônia, Grécia e Roma e poderíamos acrescentar os modernos Alemanha, 
Rússia e Estados Unidos são diante de Deus, menos do que nada. Ele é de fato incomparável. 
Como compreendê-lo? 
A grandeza de Deus é algo fora de qualquer comparação. O profeta pergunta retoricamente: 
"Quem na concha de sua mão mediu as águas, e tomou a medida dos céus a palmos? Quem 
recolheu na terça parte de um efa o pó da terra, e pesou os montes em romana e os outeiros 
em balança de precisão?" (Is 40.12). Sabemos que os céus são tão vastos que o homem não 
consegue medir, mas retoricamente, Isaías diz que Deus mede a palmos. A quantidade de 
água dos mares e dos rios é incalculável, mas o profeta diz que todas as águas cabem na 
concha da mão de Deus. Além disso, ele pesa os montes em "romana", a balança que serve 
para quantificar mínimas gramas de ouro. A grandiosidade da Criação nos fala de um criador 
ainda mais grandioso. Se o universo que Deus criou não pode ser medido, quanto mais o 
próprio Deus que realizou essas obras tão grandiosas. A imensidão de sua obra, de seu agir, 
nos mostram o quanto ele é grande e incompreensível ao nosso entendimento. 
O modo como Deus dirige a História do mundo também é incompreensível para nós. Alguém 
consegue entender todos os propósitos dele, bem como o porquê de certas coisas acontecerem 
e outras não? De alguma forma, entretanto, sabemos pela Escritura que tudo o que acontece 
está sob o domínio de Deus. Deus é aquele que providencia comida para os corvos (Jó 38.41), 
que cuida dos lírios dos campos (Mt 6.30), que não permite que um pardalcaia sem sua 
aprovação e que sabe, até mesmo, o número de cabelos que temos na cabeça (Mt 10.29-30). 
Por que Deus se preocuparia até com os corvos? Os corvos se alimentam de restos de animais 
mortos e nisso vemos que até a morte cumpre algum papel. Porém, uma coisa é saber que ele 
controla tudo, outra é entender seus propósitos. É difícil entender que as guerras, as 
catástrofes e, até mesmo, as tragédias, apesar de serem originadas pelos homens, de alguma 
maneira, fazem parte do seu plano. É difícil entender que mesmo esse mundo de injustiças, 
opressões e violência, não segue um curso independente do plano de Deus. Sabemos que 
todas essas coisas acontecem por causa do pecado que entrou no mundo, mas também 
sabemos que Deus não assiste a tudo isso impotente ou impassvelmente. Se ele permite que 
 
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tudo seja dessa forma é porque, de alguma maneira incompreensível para nós, faz parte de 
seus propósitos
12
. 
O plano de Deus para o mundo e para cada pessoa pode parecer incompreensível e até mesmo 
contraditório em certas situações, pois pode se assemelhar a uma grande construção 
inacabada. Quando passamos diante de um prédio e vemos uma placa demonstrando o que o 
prédio será, podemos ter dificuldades em imaginar que toda aquela confusão de materiais e 
instrumentos, no final, se transformará em um prédio perfeito. No entanto, por trás de um 
prédio bem construído, há em geral um excelente projeto. Na construção de Deus, há muitas 
coisas que parecem estar fora do lugar, porém, no final veremos que tudo se encaixa 
perfeitamente e que seguiu um projeto perfeito. Mas agora não conseguimos ver isso e, assim, 
temos dificuldades em entender os caminhos de Deus. 
 
9. AMOR INCOMPREENSÍVEL 
 
Não conseguimos entender, sequer, a maneira como Deus se relaciona com o homem, naquilo 
que chamamos de Evangelho. Como Deus pode amar uma criatura decaída como o ser 
humano? Como entender o amor que o leva a entregar seu próprio Filho como sacrifício pelos 
pecados de homens corruptos? De fato: "Não podemos compreender como Deus ama, pois o 
modo de ele amar é muito diferente do nosso”. A base do seu amor está nele próprio e nunca 
nas razões que o objeto amado oferece. Conosco é exatamente o inverso e, por isso, o que ele 
faz por nós se torna incompreensível. Podemos dizer que o versículo mais conhecido e 
proclamado da Bíblia é talvez o mais incompreensível para nós: "Deus amou o mundo de tal 
maneira, que deu o seu Filho unigênito, para todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a 
vida eterna" (Jo 3.16). Como explicar esse amor? Como entender a medida dele, ou sua 
intensidade?
13
 
 
10. CONHECIMENTO REVOLUCIONÁRIO 
 
O conhecimento que podemos ter de Deus é algo que emana do próprio Deus com o propósito 
de transformar as pessoas. É um conhecimento que integra todas as partes de nosso ser e 
produz transformações profundas em nosso caráter, vontade, sentimentos, pensamentos e 
ações. Num resumo, é algo que redireciona a vida de alguém. Jeremias diz: "Assim diz o 
Senhor: não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas 
riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e 
faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor" (Jr 
9.23-24). Note a completa inversão de valores que o conhecimento de Deus produz na vida 
das pessoas. Coisas como "sabedoria", "força" e "riqueza" são as grandes fontes propulsoras 
desse mundo, pois tudo é construído sobre esses alicerces e todos os homens buscam essas 
coisas, de uma forma ou de outra. Conhecer a Deus, entretanto, faz com que esses valores 
sejam invertidos. Conhecer a Deus é o verdadeiro motivo de orgulho e não o simples fato de 
se possuir sabedoria, força ou riqueza. Conhecer a Deus e experimentar sua misericórdia, 
juízo e justiça é o grande motivo de nossa existência e faz com que nossa vida tenha real 
 
12
 SPROUL,R. C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1198. 
13 SPROUL,R. C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1198. 
 
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significado e não seja mera vaidade e correr atrás do vento (Ec 2.11). Conhecer a Deus muda 
a noção da existência
14
. 
Se conhecemos a Deus, sabemos que a vida tem sentido e que nada acontece por acaso nesse 
mundo. Nessa perspectiva, nossos maiores temores podem se dissipar, e nada há que 
consideremos como impossível ou inalcançável. Conhecer a Deus modifica a maneira como 
encaramos as dificuldades e os prazeres da vida. As dificuldades não serão mais simples 
"cruzes" carregadas sofridamente ao longo da vida. Quem conhece a Deus procura achar a 
razão ou o objetivo em estar passando por tudo aquilo. Alguém que sofre sem ser culpado 
deve pensar que Deus tem um propósito para sua vida com aquele sofrimento. Sabe que não 
precisa se revoltar contra o mundo, contra as pessoas e nem contra Deus por não ter feito 
aquilo que desejava. Também a concepção dos prazeres mudará. Em primeiro lugar, a busca 
pelos prazeres jamais será o principal objetivo nesse mundo. O principal objetivo de quem 
conhece a Deus é conhecê-lo ainda mais. Isso não quer dizer que será preciso se privar de 
todos os prazeres que existem. É certo que dos ilícitos sim e, quais sejam esses, a Bíblia tem a 
palavra final, no entanto, com relação aos prazeres permitidos, eles devem ser considerados 
uma dádiva de Deus, e desfrutados nele (Ec 2.24-26). A vida vivida em sua plenitude física e 
espiritual, em conformidade com a Escritura, é cheia de deleites, encontra alegria na tristeza e 
sempre se aproxima mais de Deus e, a cada passo, pode conhecê-lo melhor. 
 
11. ANTES EU TE CONHECIA SÓ DE OUVIR... 
 
É preciso sempre lembrar que há níveis de conhecimento a respeito de Deus. Jó era um servo 
extremamente fiel a Deus, mas se viu envolvido numa acirrada disputa. Sabemos de tudo o 
que Satanás, sob a permissão divina, infligiu a Jó. Sabemos também que Jó não pecou e o 
vemos em seu livro agonizando, muito mais por não conseguir entender o motivo de tudo 
aquilo, do que pela dor das chagas. Numa certa altura ele desabafou: "Ah! Se eu soubesse 
onde o poderia achar! Então, me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, 
encheria a minha boca de argumentos" (Jó 23.3-4). Deus finalmente concedeu uma audiência 
a Jó. Deus veio até ele e lhe falou do meio de um redemoinho (Jó 38.1). Entre outras coisas, 
Deus demonstrou que Jó não entendia nada dos planos eternos de Deus. Mostrou que Jó não 
entendia a maneira como Deus havia criado o mundo, e nem mesmo como o preservava, 
cuidando dos animais pequenos ou grandes, das estações do ano, da influência dos astros 
sobre a terra (Jó 38-41). Deus quis demonstrar a Jó que ele não tinha razões para questionar 
seus propósitos. Depois de tudo isso, Jó fez o seguinte reconhecimento: "Eu te conhecia só de 
ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (Jó 42.5). Uma frase como essas na boca de uma 
pessoa que se demonstra hesitante em servir ao Senhor é compreensível, mas de alguém como 
Jó, sobre quem o próprio Deus deu testemunho de que era íntegro, temente a Deus e que se 
desviava do mal (Jó 1.8); isso é algo no mínimo intrigante. Ao final de sua experiência 
trágica, ele reconheceu que seu conhecimento de Deus havia tomado proporções não 
imaginadas. O fato é que ele precisou perder as três coisas que aspessoas mais valorizam no 
mundo (bens, família e saúde), para entender que não conhecia realmente a Deus. Mas foi 
 
14 GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999. 
 
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naquele momento de dor que Jó pôde reconhecer que, embora não o compreendesse, agora o 
conhecia
15
. 
Um conhecimento pessoal, a partir da experiência de vida com Deus. Não mais um 
conhecimento de ouvir, mas um conhecimento de ver. Evidentemente que Jó não está falando 
em termos literais, pois ninguém jamais viu a Deus nesse sentido. O que Jó está dizendo é que 
seu conhecimento de Deus, naquele momento, já não era de impressões externas, ou a partir 
do que os outros falavam. Ele conhecia Deus a partir de sua própria experiência. Deus se 
revelou a ele, e embora não tenha revelado seus propósitos (Deus não explicou o porquê do 
sofrimento de Jó), demonstrou que era um Deus confiável. Jó percebeu que Deus o amava 
ainda que as bênçãos tinham desaparecido. Jó percebeu que Deus era suficientemente sábio e 
poderoso para guiar o destino do mundo sem que seus planos fossem frustrados (Jó 42.2). Ele 
entendeu que conhecer a Deus era sinônimo de crer e descansar nele. Isso convenceu sua 
mente e encheu seu coração de paz. Agora o conhecia de verdade. Na experiência de Jó, ele 
pôde chegar à conclusão de que não conhecia somente algo sobre Deus, mas que conhecia o 
próprio Deus. Embora esse conhecimento tivesse vindo pela experiência. 
 
12. CONHECE-TE A TI MESMO 
 
Conhecer a Deus implica conhecer a si mesmo, pois Deus é a origem do homem. Não 
conhecer a Deus implica não saber de onde se veio, onde se está e muito menos para onde se 
vai. Não conhecer a Deus é nada entender sobre o mundo, sobre a vida, ou sobre qualquer 
outra coisa. Nas palavras de Packer, para aqueles que não conhecem a Deus "o mundo se 
torna um lugar estranho, louco, penoso, e viver nele, algo de decepcionante e desagradável. 
Só resta o desespero para quem não conhece a Deus, pois não conhecer a Deus significa não 
conhecer coisa alguma, significa viver uma vida de fracassos, decepções, tropeços e 
desilusões. Não conhecer a Deus é viver uma vida inferior à dos animais, pois a Bíblia diz que 
"o boi conhece o seu possuidor, e o jumento o dono da sua manjedoura", mas, com relação a 
Israel Deus diz tristemente "Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende" (Is 5.3). 
A filosofia tem demonstrado isso vividamente ao longo dos séculos. Desde os filósofos 
estoicos e epicureus que Paulo enfrentou no Areópago e que desejavam alcançar a paz da 
alma através do afastamento dos prazeres, até os modernos filósofos nihilistas, todos têm 
rejeitado o conhecimento de Deus e, desse modo, rejeitaram o conhecimento do homem
16
. 
Finalmente, devemos entender que conhecer a Deus é o alvo do homem. Conhecer a Deus, 
contudo, não é, necessariamente, sinônimo de buscar as bênçãos dele. Percebemos que esse 
foco está distorcido na vida de muitos crentes, que estão mais interessados nas bênçãos do que 
no próprio Deus. Vivemos um tempo em que a oferta de "soluções para todos os problemas" 
tem sido a grande proclamação das igrejas. Há um grande erro por trás disso, pois Deus é o 
maior bem que o homem pode ter. Deus em si mesmo, seu ser mais do que seus benefícios, o 
doador mais do que a dádiva, a fonte mais do que o córrego. Devemos parar de buscá-lo 
apenas com segundas intenções. Não podemos adorá-lo enquanto levantamos nossos olhos 
interesseiros em sua direção. Deus, em si mesmo, é o Bem Supremo e todos os nossos 
 
15 PACKER, J. I. O conhecimento de Deus. 5º Edição. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1997. 
16 PACKER, J. I. O conhecimento de Deus. 5º Edição. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1997. 
 
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esforços devem se concentrar em conhecê-lo. O exemplo do Apóstolo Paulo deve ser nosso 
lema: "Mas, o que para mim, era lucro, isto considerei perda. Sim, deveras considero tudo 
como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor" (Fp 
3.8-9). Por isso ele declara: "Uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e 
avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo" (Fp 3.13-14). O que ele 
deixaria para trás era sua vida de regozijos terrenos, seu status de nascimento. Esse é um 
exemplo formidável, e é terrível perceber que não é o alvo da maioria dos crentes que trocam 
Deus por suas bênçãos, ou pelas satisfações do mundo. Assim, por mais que aparentam 
conhecê-lo, continuam tateando.
17
 
 
CONCLUSÃO 
 
Os teólogos medievais tinham uma frase interessante para falar sobre a possibilidade de o 
homem conhecer e compreender a Deus: “O finito não pode conter o infinito”. Sobre essa 
frase, o teólogo R. C. Sproul afirma: “Nada é mais óbvio do que um objeto infinito não podee 
ser comprimido dentro de um espaço finito”
18
. Se Deus é infinito e o homem finito, então é 
impossível que o homem tenha todo o conhecimento de Deus. Mas será que isso significa que 
o homem nada pode compreender a respeito de Deus? Será que o fato de Deus ser infinito e o 
homem finito faz com que nunca possam se encontrar? Filósofos como Kant (1724-1804) 
diziam que, se Deus existe, nada se pode saber sobre ele, pelo fato de que ele faz parte de uma 
dimensão que não é a dos homens. Muitos argumentam que, como Deus não pode ser 
compreendido, consequentemente também não pode ser conhecido. A partir da Bíblia, 
podemos chegar à conclusão de que Deus é incompreensível por causa de duas razões: 
primeiro porque ele não revelou tudo de si; a segunda razão é porque somos limitados de 
entendimento, somos incapazes de entender a complexidade do ser de Deus. 
Embora Deus seja infinito e incompreensível para nós, ainda assim podemos conhecê-lo. 
Quando afirmamos que o finito não pode conter o infinito, não estamos querendo dizer que 
nada pode ser compreendido a respeito de Deus, queremos afirmar apenas que Deus não pode 
ser compreendido de forma exaustiva, ou seja, em sua totalidade. Ele pode ser conhecido de 
forma verdadeira e isso porque ele mesmo se dá a conhecer e nos capacita a fazê-lo. Esse é 
um bom momento para lembrar as sábias palavras de Clark: “Podemos saber que Deus existe, 
sem sabermos tudo o que ele é”
19
. 
Francis Schaeffer
20
 chegou a uma conclusão admirável sobre a necessidade da existência de 
Deus: “Não há outra resposta possível. Podemos ter a certeza de que nossa fé bíblica é 
absolutamente racional”. A vida tem sentido porque Deus existe. Por essa razão, “Deus, e 
somente Deus é o maior bem do homem”
21
. A existência dele é a garantia da racionalidade de 
nossa própria existência. É a certeza de que a vida tem sentido. O Deus da Bíblia existe, e por 
isso faz diferença ser justo ou injusto. Há um Deus justo e poderoso o suficiente para julgar 
retamente, recompensar o que deve ser recompensado e punir o que deve ser punido. Há um 
 
17 PACKER, J. I. O conhecimento de Deus. 5º Edição. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1997. 
18 SPROUL,R. C. Verdades essenciais da fé cristã, p. 43. 
19 CLARK, David S. Compêndio de Teologia Sistemática, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, [s.d.]. 
20 SCHAEFFER, Francis. O Deus que se revela, pág. 52. 
21
 BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Socep, 2001. 
 
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Deus bom e sábio o suficiente para planejar todo esse universo e estabelecer todas as leis que 
governam a criação. Nós existimos porque Deus existe. Não é irracional crer na existência 
dele. Não é irracional crer nas Escrituras
22
. É maravilhoso contemplar as obras da mão dele e 
saber, lá no fundo do nosso ser, que ele é o grande autor de tudo. Como ao final de uma 
apresentação podemos nos levantar de pé, ante o imenso palco da natureza e aplaudir o 
criador pela maravilhosa obra de arte que ele realizou. E, acima de tudo, podemos nos sentir 
como parte dessa ordem e propósito. Não somos fruto do acaso. Somos obra das mãos do Ser 
Infinito e Inteligente que nos criou e nos incluiu em seu plano eterno e perfeito. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1992. 
SCHAEFFER, Francis. O Deus que se Revela. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002. 
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. 
GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999. 
BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Socep, 2001. 
LIMA, Leandro Antônio de. As grandes doutrinas da graça. São Paulo: Agathos,2013. 
SCHAEFFER. Francis. O Deus que se revela, p. 68-69. 
SENNETT, James F. The Analytic Theist –An Alvin Plantinga Reader, pp. 22-49. 
KUYPER, Abraham. Calvinismo, p. 123. 
RUSSEL, Bertrand. Why I Am Not a Christian. New York: Simon and Schuster, 1957, p. 
107. 
SPROUL,R. C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1198. 
CLARK, David S. Compêndio de Teologia Sistemática, São Paulo: Casa Editora 
Presbiteriana, [s.d.]. 
PACKER, J. I. O conhecimento de Deus. 5º Edição. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1997. 
 
22 LIMA, Leandro Antônio de. As grandes doutrinas da graça. São Paulo: Agathos,2013. 
Navegando por A paisagem moral, de Sam Harris 
Lane William Craig 
 
SUMMARY 
Qual é o melhor fundamento para a existência de valores e deveres morais objetivos? O que lhes serve 
de base? O que torna certas ações boas ou más, certas ou erradas? Se Deus não existe, que fundamento 
ainda existe para valores e deveres morais objetivos? A ciência pode responder a questões de 
moralidade? O neoateu Sam Harris pensa que sim. 
Originalmente publicado na edição de outono de 2012 de Enrichment. 
Um grande mérito do livro recente de Sam Harris, A paisagem moral, é a sua afirmação ousada da 
objetividade dos valores e deveres morais. Dizer que valores e deveres morais são objetivos quer 
dizer que eles são válidos e obrigatórios independentemente da opinião humana. Por exemplo, dizer 
que o Holocausto foi objetivamente mau é dizer que foi mau, mesmo que os nazistas que o 
executaram tenham pensado que foi bom. E ainda teria sido mau mesmo que os nazistas tivessem 
vencido a Segunda Guerra Mundial e conseguido fazer lavagem cerebral ou exterminar todos 
aqueles que deles discordavam, para que todos os que sobrassem pensassem que o Holocausto foi 
bom. 
Harris insurge-se contra o que ele chama de "o niilista moral ateu superinstruído" e contra 
relativistas que se recusam a condenar as atrocidades terríveis como objetivamente erradas — por 
exemplo, a mutilação genital de meninas. [1] Citando Donald Symons, ele declara corretamente: "Se 
apenas uma pessoa no mundo prendesse uma pequena menina aterrorizada com berros de desespero, 
cortasse seus genitais com uma lâmina e a costurasse de volta, ... a única pergunta seria quão 
severamente essa pessoa deveria ser punida”. [2] O que não está em questão é se essa pessoa fez 
algo terrível e objetivamente errado. 
Valores e deveres morais objetivos 
A pergunta então é a seguinte: qual é o melhor fundamento para a existência de valores e deveres 
morais objetivos? O que lhes serve de base? O que torna certas ações boas ou más, certas ou 
erradas? Tradicionalmente, Deus é o maior Bem supremo (summum bonum) e os Seus mandamentos 
constituem nossos deveres morais. Porém, se Deus não existe, que fundamento continua a existir 
para valores e deveres morais objetivos? 
Consideremos primeiramente a questão dos valores morais objetivos. No ateísmo, que base há para 
afirmar valores morais objetivos? Em particular, por que pensar que seres humanos têm valor moral 
objetivo? Na visão ateísta, os seres humanos são apenas subprodutos acidentais da natureza que 
evoluíram recentemente, em um ponto de poeira infinitesimal chamado planeta terra — perdidos em 
algum lugar em um universo hostil e irracional — e estão condenados a morrer individual e 
coletivamente em um período relativamente curto. Segundo o ateísmo, é difícil enxergar qualquer 
motivo para pensar que o bem-estar humano seja objetivamente bom, mais ainda do que o bem-estar 
http://enrichmentjournal.ag.org/201204/index.cfm
do inseto ou o bem-estar do rato ou o bem-estar da hiena. Isto é o que Harris chama de "O problema 
do valor”. [3] 
O objetivo de A paisagem moral de Harris é resolver o "problema do valor", é explicar a base, 
segundo o ateísmo, para a existência de valores morais objetivos. [4] Ele rejeita explicitamente a 
visão de que valores morais sejam objetos platônicos, existindo independentemente do 
mundo. [5] Assim, seu único recurso é tentar fundamentar os valores morais no mundo natural. Mas 
será que ele pode fazer isso, já que a natureza em si é moralmente neutra? 
Visão naturalista 
Segundo a visão naturalista, valores morais são apenas os subprodutos comportamentais da evolução 
biológica e do condicionamento social. Como um bando de babuínos apresenta um comportamento 
cooperativo e até mesmo autossacrificial porque a seleção natural determinou que isto é vantajoso na 
luta pela sobrevivência, assim também o homo sapiens — seus primos primatas — apresentam 
comportamento semelhante pela mesma razão. Em decorrência de pressões sociobiológicas, uma 
espécie de "moralidade herdada" que funciona bem na perpetuação de nossa espécie evoluiu 
no homo sapiens. Porém, pela visão ateísta, não parece haver nada que faça com que essa 
moralidade seja objetivamente verdadeira. 
O filósofo da ciência Michael Ruse relata: "A posição do evolucionista moderno ... é que os seres 
humanos têm uma consciência de moralidade ... porque tal consciência é de valor biológico. 
Moralidade é adaptação biológica, não menos do que o são as mãos, os pés e os dentes. ... 
Considerada como conjunto racionalmente justificável de afirmações sobre algo objetivo, a ética é 
ilusória. Reconheço que, quando alguém diz: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo', pensa que 
está se referindo acima e além de si mesmo. ... No entanto, ... tal referência é verdadeiramente sem 
fundamento. A moralidade é apenas um auxílio à sobrevivência e reprodução, ... e qualquer 
significado mais profundo é ilusório”. [6] 
Se tivéssemos de rebobinar o filme da evolução humana para o início e começar tudo de novo, 
pessoas com um conjunto bem diferente de valores morais poderiam muito bem ter evoluído. Como 
o próprio Darwin escreveu em A origem do homem, "se ... os homens fossem criados justamente sob 
as mesmas condições que abelhas operárias, dificilmente se duvidaria que nossas mulheres solteiras, 
tais quais as abelhas operárias, achariam que é dever sagrado matar seus irmãos, mães se esforçariam 
para matar suas filhas férteis, e ninguém pensaria em interferir”. [7] 
Pensarmos que os seres humanos são especiais e nossa moralidade, objetivamente verdadeira, é 
sucumbir à tentação do especismo — uma viés injustificado a favor da própria espécie. 
Se não há Deus, qualquer base para pensar que a moralidade herdada evoluída do homo sapiens é 
objetivamente verdadeira, parece ter sido removida. Tire Deus da história etudo que lhe resta é uma 
criatura simiesca em uma partícula de poeira cheia de delírios de grandeza moral. 
A avaliação de Richard Dawkins do valor humano pode ser deprimente, mas por que, no ateísmo, ele 
estaria enganado quando diz: "No fundo, não há nenhum projeto, nenhum propósito, nenhum mal, 
nenhum bem, nada além de indiferença sem sentido. ... Nós somos máquinas para a propagação de 
DNA. ... É a única razão de ser de cada objeto vivo”? [8] 
Então, como é que Sam Harris propõe resolver o "problema do valor"? O truque que ele propõe é 
simplesmente redefinir o que ele entende por "bem" e "mal" em termos não-morais. [9] Ele diz que 
devemos "definir 'bom' como aquilo que apoia [o] bem-estar" de criaturas conscientes. [10] Ele 
afirma: "O bem e o mal só precisam consistir no seguinte: miséria contra o bem-estar" [11] Ou 
ainda: "Ao falar de 'verdade moral', estou dizendo que deve haver fatos a respeito do bem-estar 
humano e animal”. [12] 
Assim, ele diz, "Questões sobre valores ... são na verdade perguntas sobre o bem-estar de criaturas 
conscientes”. [13] Portanto, ele conclui: "Não faz sentido ... perguntar se a maximização do bem-
estar é 'bom'“. [14] Por que não? Porque ele redefiniu a palavra "bom" para significar o bem-estar de 
criaturas conscientes. Então, perguntar: "Por que maximizar o bem-estar de criaturas é bom?" é, em 
sua definição, o mesmo que perguntar: "Por que maximizar o bem-estar de criaturas é maximizar o 
bem-estar de criaturas?". É simplesmente uma tautologia — falar em círculo. Assim, Harris 
"resolveu" o problema dele simplesmente redefinindo seus termos. É um mero jogo de palavras. 
No final do dia, Harris não está realmente falando de valores morais. Ele está apenas do que é 
propício ao florescimento da vida senciente neste planeta. Vista por este prisma, sua afirmação de 
que a ciência pode nos dizer muito a respeito do que contribui para o florescimento humano 
dificilmente é controversa. Claro que pode — assim como pode nos dizer o que é propício ao 
florescimento do milho ou mosquitos ou bactérias. Sua chamada "paisagem moral", retratando os 
altos e baixos do desenvolvimento humano, na verdade não é em nada uma paisagem moral. 
Na penúltima página de seu livro, Harris mais ou menos admite isso. Ele faz a admissão reveladora 
de que, se pessoas como estupradores, mentirosos e ladrões pudessem ser tão felizes quanto as 
pessoas boas, sua paisagem moral não seria mais uma paisagem moral; antes, seria apenas uma série 
contínua de bem-estar, cujos picos são ocupados tanto por pessoas boas quanto por pessoas 
más. [15] O que é interessante nisso tudo é que, no início do livro, Harris observou que cerca de 3 
milhões de americanos são psicopatas, ou seja, eles não se preocupam com os estados mentais dos 
outros. Pelo contrário, eles gostam de infligir dor em outras pessoas. [16] 
Isto implica que podemos conceber um mundo possível em que a série contínua de bem-estar 
humano não é uma paisagem moral. Os picos de bem-estar poderiam ser ocupados por pessoas más. 
Porém, isto implica que, no mundo real, a série contínua de bem-estar e da paisagem moral também 
não é idêntica. Pois identidade é uma relação necessária. Não há um mundo possível em que alguma 
entidade A não seja idêntica a A. Portanto, se houver qualquer mundo possível em que A não seja 
igual a B, segue que A não é, de fato, idêntico a B. Uma vez que é possível que o bem-estar humano 
e a bondade moral não sejam idênticos, segue necessariamente que o bem-estar humano e a bondade 
moral não são a mesma coisa, como Harris afirmou. Ao conceder que é possível que a série contínua 
de bem-estar não é idêntica à paisagem moral, Harris tornou sua visão logicamente incoerente. 
Assim, Harris não conseguiu resolver o "problema do valor”. Ele não propôs nenhuma justificação 
ou explicação de por que, segundo o ateísmo, valores morais objetivos existiriam. Sua suposta 
solução é apenas um truque semântico de propor uma redefinição arbitrária e idiossincrática das 
palavras "bom" e "mau" em termos não-morais. 
Isso nos leva à segunda pergunta: será que o ateísmo proporciona uma base sólida para deveres 
morais objetivos? Dever tem a ver com obrigação e proibição morais, o que devo ou não devo fazer. 
No caso, resenhistas de A paisagem moral têm sido implacáveis em criticar a tentativa de Harris de 
propor uma abordagem naturalista da obrigação moral. Dois problemas se destacam. 
Primeiro: a ciências natural nos diz apenas o que é, e não o que deveria ser o caso. Conforme 
escreveu o filósofo Jerry Fodor, "a ciência diz respeito a fatos, e não a normas; pode nos dizer como 
somos, mas não nos dirá o que está errado com a forma como nós somos”. [17] Em particular, não 
pode nos dizer que temos a obrigação moral de tomar medidas que conduzam ao florescimento 
humano. 
Então, se não há Deus, que fundamento continua a existir para deveres morais objetivos? Na visão 
naturalista, os seres humanos são apenas animais, e animais não têm obrigações morais uns para com 
os outros. Quando um leão mata uma zebra, ele mata a zebra, mas não assassina a zebra. Quando um 
grande tubarão branco copula à força com uma fêmea, ele copula com ela à força, mas não 
a estupra — pois não há dimensão moral para tais ações. Elas não são nem proibidas nem 
obrigatórias. 
Então, se Deus não existe, por que pensar que temos alguma obrigação moral para fazer qualquer 
coisa? Quem ou o que nos impõe esses deveres morais? De onde eles vêm? É difícil enxergar por 
que eles seriam algo além de uma impressão subjetiva enraizada em nós pelo condicionamento 
social e paternal. 
Pela visão ateísta, certas ações, tais como incesto e estupro, podem não ser biológica e socialmente 
vantajosas, e assim, no curso do desenvolvimento humano, tornaram-se tabu, isto é, comportamento 
socialmente inaceitável. Isto, porém, não faz absolutamente nada para mostrar que o estupro ou 
incesto são realmente errados. Tal comportamento acontece o tempo todo no reino animal. Pela 
visão ateísta, o estuprador que desrespeita a moralidade herdada não está fazendo nada mais grave 
do que agir fora da moda, o equivalente moral de uma Lady Gaga. Se não um legislador moral não 
existe, não há nenhuma lei moral objetiva; e, se nenhuma lei moral objetiva existe, não temos 
deveres morais objetivos. 
Harris fica impaciente com essas questões: "Quanto tempo devemos gastar nos preocupando com 
uma origem transcendente de valor?", ele bufa. "Acho que o tempo que vou levar digitando esta 
frase já é demais”. [18] Ele dá um golpe tímido para mostrar que a divisão entre fatos e valores é 
ilusória de três formas: [19] 
1. Fatos sobre a maximização do bem-estar de criaturas conscientes devem traduzir-se em fatos 
sobre cérebros. Talvez; mas este ponto é irrelevante, uma vez que a pergunta permanece: por que 
pensar que, pelo ateísmo, temos a obrigação moral de maximizar o bem-estar de criaturas 
conscientes (ou que fazer isso é objetivamente bom, para começo de conversa)? 
2. Conhecimento objetivo já tem valores imbuídos em si, uma vez que devemos valorizar a coerência 
lógica, dependência de provas, etc. Aqui, novamente, vemos o uso equivocado da terminologia de 
'valor' adotada por Harris. Significa que o conhecimento objetivo requer coerência lógica, 
dependência de provas, etc., como condições necessárias de conhecimento. Não tem nada a ver com 
valor moral. 
3. Crenças sobre fatos e crenças sobre valores surgem de processos cerebrais semelhantes. E daí? 
Será que Harris acha que isto implica que elas são a mesma crença? Confunde a origem de uma 
crença com o conteúdo da crença. Só porque duas crenças diferentes surgem de processos cerebrais 
semelhantes não implica que elas tenham o mesmo significado ou conteúdo informativo. Seja qual 
for a sua origem, crenças sobre o que é o caso e crenças sobre o que deveria (ou não deveria) ser o 
caso não são a mesma crença. Uma crença poderia serverdadeira e a outra, falsa. A opinião de 
Harris carece, portanto, de qualquer origem para o dever moral objetivo. 
Segundo: "dever" implica "poder”. Uma pessoa não é moralmente responsável por uma ação que ela 
é incapaz de evitar. Por exemplo, se alguém o empurra sobre outra pessoa, você não é culpado por 
esbarrar nessa pessoa. Você não tinha escolha. Harris, contudo, acredita que todas as nossas ações 
são causalmente determinadas e que não há livre escolha. [20] Harris rejeita não apenas teorias 
libertárias de liberdade, mas também teorias compatibilistas de liberdade. Porém, se não há livre-
arbítrio, ninguém é moralmente responsável por coisa alguma. No fim, Harris o admite, embora tudo 
esteja escondido em suas notas de rodapé. Responsabilidade moral, diz ele, "é uma construção 
social", e não uma realidade objetiva: "do ponto de vista neurocientífico, nenhuma pessoa é mais ou 
menos responsável do que qualquer outra" pelas ações que realiza. [21] Seu profundo determinismo 
significa o fim de qualquer esperança ou possibilidade de deveres morais objetivos segundo a sua 
visão de mundo, porque nós não temos controle sobre o que fazemos. 
Harris reconhece que "determinismo de fato ameaça o livre-arbítrio e a responsabilidade como nós 
intuitivamente os compreendemos”. [22] Mas não se preocupe! "A ilusão do livre-arbítrio é em si 
uma ilusão”. [23] Até onde entendi, a ideia é que nós não temos realmente a ilusão do livre-arbítrio. 
Não somente tal alegação é patentemente falsa do ponto de vista fenomenológico, como qualquer 
um de nós pode atestar, além de ser irrelevante. O fato é que, se nós experimentamos ou não a ilusão 
do livre-arbítrio, pela visão de Harris somos absolutamente determinados em tudo o que pensamos e 
fazemos, não podendo, portanto, ter responsabilidades morais. 
Conclusão 
Na visão de Harris, não há nem origem de deveres morais objetivos nem possibilidade de dever 
moral objetivo. Portanto, em sua opinião, apesar de seus protestos em contrário, não há certo ou 
errado objetivos. 
Assim, a visão naturalista de Sam Harris não proporciona uma base sólida para valores e obrigações 
morais objetivos. Se Deus não existe, estamos presos em um mundo moralmente sem valor, onde 
nada é proibido. O ateísmo de Harris se dá muito mal com seu objetivismo ético. 
O que o teísta oferece a Sam Harris não é um novo conjunto de valores morais — de modo geral, 
partilhamos uma vasta gama de posições de ética aplicada —, mas o que podemos oferecer é um 
fundamento sólida para os valores e deveres morais que nós tanto prezamos. 
[1] 
Sam Harris, The Moral Landscape: How Science Can Determine Human Values (Nova Iorque: Free Press, 2010), 
198 [publicado em português com o título A paisagem moral: Como a ciência pode determinar os valores humanos. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2013]. Ele acrescenta: "Eu sinceramente espero que pessoas como Rick Warren 
não estejam prestando atenção”. 
[2] 
Ibid., 46. 
[3] 
Sam Harris, "A Response to Critics”, Huffington Post (29 de janeiro de 2011); http://www.huffingtonpost.com/sam-
harris/a-response-to-critics_b_815742.html. Acessado em 11 de janeiro 2012. 
[4] 
Harris, Moral Landscape, 102. 
[5] 
Ibid., 30. 
[6] 
Michael Ruse, "Evolutionary Theory and Christian Ethics”, em The Darwinian Paradigm (Londres: Routledge, 
1989), 262,268,289. 
[7] 
Charles Darwin, The Descent of Man and Selection in Relation to Sex, 2. ed. (Nova Iorque: D. Appleton & Company, 
1909), 100. 
[8] 
Richard Dawkins, Unweaving the Rainbow (Londres: Allen Lane, 1998), citado em Lewis Wolpert, Six Impossible 
Things Before Breakfast (Londres: Faber and Faber, 2006), 215. Infelizmente, a referência de Wolpert está errada. A 
citação parece ter sido um pastiche de Richard Dawkins, River out of Eden: a Darwinian View of Life (Nova Iorque: 
Basic Books, 1996), 133, e Richard Dawkins, "The Ultraviolet Garden”, Palestra 4 de 7, Palestras de Natal do 
Instituto Real (1992), http://physicshead.blogspot.com/2007/01/richard-dawkins-lecture-4-ultraviolet.html. Acessado 
em 11 de janeiro 2012. Agradeço a meu assistente Joe Gorra por rastrear esta referência. 
[9] 
Harris repetidamente confunde os sentidos morais e não-morais de "bom" e "mau" em todo o seu livro. Por exemplo, 
ele diz que existem jogadas objetivamente boas e más no xadrez (Moral Landscape, 8). Claramente uma má jogada 
http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes1
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http://www.huffingtonpost.com/sam-harris/a-response-to-critics_b_815742.html
http://www.huffingtonpost.com/sam-harris/a-response-to-critics_b_815742.html
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http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes8
http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes9
no xadrez não é uma jogada moralmente má, nem uma boa jogada é boa no sentido de valor moral. Harris ignora que 
no vernáculo "bom" e "mau" são usados em uma ampla gama de sentidos não-morais, como quando dizemos: 
"Esse é um bom jeito de se matar”. 
"Isso é um bom plano de jogo”. 
"Isso é uma má ideia”. 
"A luz do sol é boa”. 
"Esta é uma boa rota para a praia”. 
"Ela está com boa saúde”. 
Da mesma forma, o contraste de Harris entre "a vida boa" e "a vida má" não é um contraste ético entre uma vida 
moralmente boa e uma vida moralmente má, mas entre uma vida agradável e uma vida miserável. Ele não dá 
nenhuma razão para identificar prazer/miséria com bem/mal ou certo/errado do ponto de vista moral. 
[10] 
Harris, Moral Landscape, 12. 
[11] 
Ibid., 198. 
[12] 
Ibid., 31. 
[13] 
Ibid., 1. 
[14] 
Ibid., 12. 
[15] 
Ibid., 190. 
[16] 
Ibid., 97–99. 
[17] 
Citado em ibid., 11. 
[18] 
Harris, Moral Landscape, 32. 
[19] 
http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes10
http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes11
http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes12
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http://pt.reasonablefaith.org/artigos/artigos-de-divulgacao/navegando-por-a-empaisagem-moral-em-de-sam-harris#notes19
Ibid., 11. 
[20] 
Ibid., 104. 
[21] 
Ibid., 217. 
[22] 
Ibid., 218, citando Greene e Cohen. 
[23] 
Ibid., 112. 
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O problema dos milagres: uma perspectiva 
histórica e filosófica 
Lane William Craig 
 
SUMMARY 
O ceticismo moderno em relação aos milagres evangélicos se afirmou pela negação da natureza 
milagrosa dos eventos. Logo em seguida, porém, a historicidade dos próprios eventos foi negada. Por 
trás deste ceticismo estava a concepção abrangente de um mundo-máquina newtoniano, os argumentos 
de Espinoza contra a possibilidade dos milagres e os argumentos de Hume contra a identificação dos 
milagres. Contrapostas a estes ataques estavam as defesas dos milagres escritas por Le Clerc, Clarke, 
Less, Paley, dentre outros. Avaliação do debate mostra que, contrariamente à concepção newtoniana, 
milagres não deveriam ser entendidos como violações das leis da natureza, mas como eventos 
naturalmente impossíveis. Contrariamente a Espinoza, a admissão de milagres não serviria para 
subverter a lei natural e a possibilidade de que um milagre é resultado de uma lei natural desconhecida 
fica minimizada quando os milagres são numerosos, diversos, memoráveis e singulares. 
Contrariamente a Hume, é forçado ou inválido afirmar que a experiência uniforme é aversa aos 
milagres. 
"The Problem of Miracles: A Historical and Philosophical Perspective", em Gospel Perspectives VI, ed. 
David Wenham e Craig Blomberg. Sheffield: JSOT Press, 1986, pp. 9-40. 
O colapso da crença em milagres no século XIX 
São dois os passos a seguir para estabelecer que um milagre ocorreu, segundo Gottfried Less, 
professor de teologia em Gottinga, em sua obra Wahrheit der christlichen Religion (1758) [A 
verdade da religião cristã]: primeiro, é preciso determinar a historicidade do evento em si e, segundo, 
é preciso determinar o caráter milagroso do evento. [1] Durante o século seguinte, a viabilidade 
destes dois passos passou a ser encarada com ceticismo, o que levou ao colapso geral na teologia 
alemã da credibilidade das histórias de milagres dos evangelhos. 
Negação da natureza milagrosa dos milagres dos evangelhos 
O primeiro a ir embora foi o segundo passo. Os racionalistas alemães do fim do século XVII e 
começo do século XVIII estavam dispostos — sim, por vezes até ávidos — a aceitar a historicidade 
do evento em si, como pedido no passo um. Empenhavam-se, porém, em propor uma explicação 
puramente natural para o evento, solapando, portanto, o passo dois. Dado que eventos com causas 
sobrenaturais não ocorrem, deve justamente haver alguma explicação disponível do ponto de vista de 
causas meramente naturais. Assim, Karl Bahrdt, em sua obra Ausführung des Plans und Zwecks 
Jesu (1784-92) [A realização do plano e objetivo de Jesus], explica a multiplicação dos pães para os 
5000 postulando uma despensa secreta de pães que Jesus e seus discípulos distribuíram à multidão; 
sua ressurreição de mortos era na verdade a reanimação de um coma, evitando, então, o 
sepultamento prematuro. Esta última explicação forneceu a chave para explicar a ressurreição do 
próprio Jesus. Já pelo fim do século XVIII, a hipótese do roubo, tão cara ao deísmo, aparentemente 
perdera quase todo a credibilidade, sendo necessária uma nova explicação. Isto o racionalismo 
alemão encontrou na teoria da morte aparente (Scheintod). De acordo com Bahrdt, a morte e 
ressureição de Jesus foram uma farsa tramada pelo próprio Jesus para convencer as pessoas de que 
ele era o Messias. 
O decano da escola da explicação natural foi, no entanto, com toda certeza H. E. G. Paulus, 
professor de teologia em Heidelberg. Em suas obras Philologisch-kritischer und historischer 
Kommentar über das Neue Testament (1800-02) [Comentário filológico-crítico e histórico do Novo 
Testamento], Das Leben Jesu, als Grundlage einer reinen Geschichte des Urchristentums (1828) [A 
vida de Jesus como fundamento de uma simples história do cristianismo primitivo] e Exegetisches 
Handbuch über die drei ersten Evangelien (1830) [Manual exegético dos três primeiros evangelhos], 
ele aperfeiçoou a arte de explicar naturalisticamente os elementos milagrosos nos evangelhos, 
retendo ao mesmo tempo a adesão cuidadosa à letra do texto. Panteísta que aceitou o dito de 
Espinoza “Deus sive natura” [Deus ou natureza], Paulus rejeitava todos os milagres a priori. 
Embora insistisse firmemente que o ponto principal de sua Leben Jesu não era descartar os 
milagres, [2] é ainda assim verdade que ele se esforçou bastante para fazer exatamente isto, e é 
sobretudo por tal esforço que ele é lembrado. De acordo com Paulus, milagres não são o importante, 
mas, sim, o espírito de Jesus conforme visto em seu pensamento e ações. [3] É a pessoa de Jesus em 
seu caráter e coragem morais que é verdadeiramente milagrosa. “Das Wunderbare von Jesus ist er 
selbst” [O milagroso de Jesus é ele próprio]. [4] O verdadeiro sentido do cristianismo deve ser 
encontrado nos ensinamentos de Jesus, que, diz Paulus, são evidentemente verdadeiros, conforme 
demonstrado pela espiritualidade interior que contêm. De todo modo, milagres literais, mesmo que 
tivessem ocorrido, em nada contribuiriam para fundamentar a verdade cristã. “O ponto principal já é 
certo de antemão, que as mudanças mais inexplicáveis no curso da natureza não podem nem 
subverter nem provar nenhuma verdade espiritual, visto que não se pode ver a partir de nenhum 
evento da natureza por qual propósito espiritual algo, em vez de nada, deveria acontecer”. [5] Uma 
vez que a pessoa captou a verdade espiritual da pessoa e ensinamento de Jesus, os milagres se 
tornam de todo supérfluos. “A própria prova dos milagres sempre requer primeiramente, como lhe 
cabe bem, que as alegações devam ser dignas de Deus e não contrárias à razão. Se assim for o caso, 
um milagre não é mais necessário como prova delas”. [6] A rejeição a priori do milagroso por parte 
de Paulus talvez seja melhor vista em sua resposta à objeção: por que todo esse esforço para 
descartar o extraordinário como se fosse algo dentro da ordem da natureza? [7] Ele responde: para 
encontrar a explicação mais provável; e, acrescenta ele, a explicação mais provável é aquela em que 
se pode crer mais facilmente. Uma vez que, para pensadores do pós-iluminismo, os milagres 
deixaram de ser críveis, uma explicação natural seria sempre preferida. Quando Paulo diz ademais 
que a probabilidade sempre depende de um efeito poder ser derivado das causas 
disponíveis, [8] então, a natureza pressuposicional de seu antissobrenaturalismo fica clara. Agora a 
explicação mais provável é vista, por definição, como uma explicação puramente natural; daí seu 
empenho em descartar o milagroso. 
É notável que Schleiermacher, o pai da teologia moderna, seguiu a direção de Paulo neste aspecto. 
Schleiermacher permaneceu racionalista com respeito à negação dos milagres e não atribuiu 
nenhuma importância religiosa à ressurreição de Jesus. Em suas preleções de 1832, Der Christus des 
Glaubens und der Jesus der Geschichte [O Cristo da fé e o Jesus da história], ele aceitou 
passivamente a teoria de Paulo da morte meramente aparente de Jesus, afirmando que é 
desimportante se a morte e ressurreição de Jesus foram reais ou aparentes. O próprio Schleiermacher 
cria que a ressurreição de Jesus foi apenas uma ressuscitação e que ele continuou a viver fisicamente 
com os discípulos por um período após o evento. 
A negação da historicidade dos milagres dos evangelhos 
Somente três anos após

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