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Evidências no tempo do fim

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introdução
7
LIÇÃO 1
Qual é o 
Sentido da 
Vida?
Estudando juntos
 
 Certa vez, um jornalista perguntou ao 
cineasta Woody Allen se ele tinha medo 
de morrer. De um jeito irônico, como lhe era de 
costume, ele respondeu curta e objetivamente: 
“Eu não tenho medo de morrer. Só não quero 
estar lá quando isso acontecer.”
 Você consegue imaginar um mundo onde 
as pessoas nunca envelhecem ou morrem? 
Um lugar em que seja possível escolher parar 
de envelhecer aos 25 anos e viver o tempo 
que desejarmos? E se isso fosse possível e 
pudéssemos atingir 100, 200 ou 10 mil anos 
de idade, com o físico e a energia dos 25? Por 
quanto tempo você escolheria viver assim? 
Existe sentido na vida? Hoje vamos refletir 
um pouco neste tema.
 
 Uma pesquisa feita nos Estados Unidos 
perguntou a 2 mil cidadãos americanos: 
“Se você tivesse opção, por quanto 
tempo gostaria de viver?” A resposta foi 
surpreendente. A maioria não gostaria de 
viver para sempre, e os que aceitariam 
ampliar sua vida em 100, 500 ou 10 mil 
anos fizeram ressalvas do tipo: “Desde que 
eu não veja o fim do mundo”, “Desde que 
não me separe das pessoas que amo” ou 
“Desde que eu não experimente viver 
num asilo”.1
 Normalmente, pessoas de sã 
consciência não querem morrer, 
mas também não querem viver apenas 
por viver. É triste, parafraseando o cantor 
Jim Morrison, saber que “o futuro é 
incerto, e o fim está sempre perto”. Como 
você responderia a essa pesquisa? Vamos 
pensar e estudar esse assunto juntos?
Em busca de propósito e 
sentido para a vida
 Precisamos ter um 
propósito, um elemento pelo 
qual valha a pena viver; 
senão, para que lutar pela vida? 
É costume contar entre os 
filósofos a seguinte parábola:
 Havia um astronauta, 
abandonado em um asteroide 
rochoso e estéril no espaço 
sideral. Ele tinha consigo duas 
ampolas, uma com veneno 
e outra com uma poção que 
o faria viver para sempre. 
Compreendendo sua situação 
terrível, com um único gole, 
bebeu o veneno. Depois, para 
seu horror, descobriu que 
tomara a ampola errada: havia 
bebido a poção da imortalidade, 
o que significava que estava 
condenado a existir para 
sempre, numa vida sem sentido 
e sem fim.
Pergunta
Como você explicaria o 
horror que se abateu sobre 
o astronauta? O que torna a 
imortalidade menos atrativa e 
até mesmo desesperadora 
nessa parábola?
Introdução
VIDEOAULA
8
O taxista e o filósofo
 Um taxista pegou certa vez o poeta 
T. S. Eliot e perguntou:
– Para onde devo levá-lo, senhor Eliot?
O famoso poeta ficou curioso para saber 
como o taxista lhe reconhecera.
– Tenho um faro para descobrir 
pessoas famosas que entram no meu taxi – 
disse o motorista. 
– Outro dia apanhei o filósofo 
Bertrand Russell.
– E como você sabia que era ele? 
– perguntou Eliot.
– Ah, foi simples. Perguntei qual era o 
sentido da vida, e ele simplesmente não 
soube responder.
 Ao retirar Deus e a fé do cenário 
filosófico, Russell foi coerente com seu 
ceticismo. Baseando-se na ideia de que 
não há Deus, ressurreição nem qualquer 
uma das promessas apresentadas na Bíblia, 
ele concluiu que o ser humano “era o 
produto de causas que não tinham previsão 
do fim que estavam alcançando; que sua 
origem, crescimento, esperança e medos, 
amores e crenças são apenas o resultado 
de colocações acidentais de átomos; que 
nenhum fogo, heroísmo, intensidade de 
pensamento e sentimento pode preservar 
uma vida individual além do túmulo.”2 
Em poucas palavras, Russell admitiu 
que, sem os “sapatos da fé”, ficamos 
existencialmente vazios de significado.
 Não são poucos os acadêmicos que 
enveredam por esse caminho, ainda 
que de modo inconsciente. Em 2012, o 
filósofo John G. Messerly publicou um livro 
sobre o sentido da vida. Nele, Messerly 
relacionou cerca de 100 pensadores que 
tinham algo a dizer sobre o significado 
da vida. Ele mesmo concluiu ao fim de 
sua compilação: “[…] apesar de nossos 
melhores esforços, não encontramos tudo 
o que procurávamos. Não podemos apagar 
todas as nossas dúvidas; não podemos 
aliviar todos os nossos medos. No fim, 
não temos garantias; e o abismo, por mais 
que desejássemos o contrário, sempre nos 
acompanha. Navegamos no limiar entre a 
luz eterna e a escuridão infinita. Estamos à 
deriva e precisamos salvar a nós mesmos.”3
 Essa é uma conclusão audaciosa e 
surpreendente, feita por um doutor em 
Filosofia. Como não há nada mais além 
disso, o jeito é, segundo essa lógica, gastar 
os dias da melhor forma que pudermos, 
com prazer e alegria, porque a qualquer 
momento deixaremos de existir.
Bertrand Russell: filósofo, matemático 
e ganhador de um prêmio Nobel. 
Tornou-se um crítico ácido da fé e da 
religiosidade com seu livro Por Que Não 
Sou Cristão. Posteriormente, esse livro se 
tornou um best-seller do 
ateísmo moderno.
Pergunta
Como você avalia as conclusões de 
Messerly? Existiria alguma forma de 
aliviar seus medos e dúvidas sobre 
a existência?
9
 O pensamento de Messerly parece 
refletir uma irônica expressão usada pelo 
apóstolo Paulo para responder aos que, 
em seu tempo, negavam a ressurreição e 
a transcendência da realidade: “Comamos 
e bebamos, que amanhã morreremos” 
(1 Coríntios 15:32). Nesse verso, o autor 
bíblico citou uma tradução grega do 
profeta Isaías quando este descreveu a 
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11
A voz dos pensadores
 O sentido da vida, conforme 
afirmaram pesquisadores do Journal 
of Humanistic Psychology, é “desfrutá-
la enquanto for possível”. Essa foi a 
conclusão a que chegaram após um 
grupo de psicólogos da Universidade 
do Arizona, Estados Unidos, analisarem 
cuidadosamente as palavras de 200 
pensadores que vão de Oscar Wilde 
a Napoleão Bonaparte, passando por 
Freud e Bob Dylan.
 Na mesma onda de aproveitar 
a vida enquanto se pode, alguns 
assumem que ela de fato não tem 
sentido algum a não ser, talvez, aquele 
que cada um queira dar. Contudo, 
esse sentido é reconhecidamente 
subjetivo e dificilmente vale para todos 
(Schopenhauer, Nietzsche, Sartre e 
Kafka). Mais recentemente, porém, 
alguns, tentando fugir da acusação de 
niilistas, preferem evitar problemas ao 
dizer que o sentido da vida é um mistério 
(Dawkins, Hawking).
 O próprio Bertrand Russell, aos 95 
anos e perto da morte, escreveu um novo 
ensaio de uma só página que, além de 
não ter título, ficou sem ser publicado 
por mais de 20 anos após sua morte, em 
1970. Nele, o autor confessou: “Chegou 
a hora de rever minha vida como um 
todo e me perguntar se ela serviu a 
algum propósito útil ou se foi totalmente 
ocupada com futilidade. Infelizmente, 
nenhuma resposta é possível para quem 
não conhece o futuro.”4
 Em outras palavras, o mesmo 
indivíduo que escreveu o livro definitivo 
sobre a história da filosofia ocidental, 
que foi retratado com o maior filósofo 
do século 20, terminou essencialmente 
dizendo que “nenhuma resposta é 
possível”. No entanto, como se tentasse 
conter todo esse negativismo, Russell 
continuou: “Há um artista preso em cada 
um de nós. Solte-o para espalhar alegria 
por toda parte.”
 O que ele queria dizer com isso? 
Que artista é esse que precisa ser solto? 
Talvez a resposta esteja numa declaração 
anterior que Russel fez em 1903: “Para 
viver uma vida com significado é preciso 
abandonar os interesses particulares e 
mesquinhos e cultivar um 
interesse no eterno.”5
Boa pergunta 
 Agora é você quem faz as perguntas! 
Pare para pensar e formule 
as próprias perguntas sobre 
essa parte do estudo.
Pergunta
Mesmo sem nenhuma intenção 
religiosa, Russell terminou 
endossando o que já estava escrito 
na Bíblia há mais de 2.900 anos: 
“Deus fez tudo formoso no seu devido 
tempo. Também pôs a eternidade no 
coração do homem” (Eclesiastes 3:11). 
Você já parou para pensar no sentido 
da vida? O que nosso instinto por 
eternidade e significadolhe diz 
sobre isso?
 
 
 Que tal atendermos ao conselho 
bíblico e de Russell e começarmos a 
cultivar um interesse pelas coisas eternas? 
Talvez, ao cultivar esse interesse, nossa 
vida comece a encontrar significado. 
Queremos ter certezas e não dúvidas. 
Embora nem sempre querer signifique 
“poder”, é lógico argumentar 
que essas inclinações psíquicas nos 
revelam algo, e não podemos fechar os 
olhos para o que elas estão nos dizendo.
 Pássaros nascem migrando para o sul, 
e tartarugas marinhas correm para o mar. 
Seria ingênuo negar a existência do oceano 
e de um lugar chamado sul apenas porque 
algumas tartarugas e aves migratórias 
ficaram circunstancialmente confinadas 
num plano em que não podiam ver nem 
experimentar o objeto de seu instinto.
 Qual é sua decisão diante de tudo 
isso? Lembre-se: quem adia decisões 
importantes arrisca que seu destino seja 
decidido por circunstâncias aleatórias.
Não se esqueça de que ser dirigido pela 
aleatoriedade é como se deixar guiar 
entre armadilhas fatais por um guia não 
confiável, completamente às cegas.
 Pense nisso!
10
Sentimento contraditório
1 “Do You Want to Live Forever?”, Lifetime Daily, disponível em <https://www.lifetimedaily.
com/want-live-forever/>, acesso em 14 de maio de 2020.
2 Bertrand Russell, “A Free Man Worship”, ensaio Publicado em 1903. Facsímile disponível 
em <http://bertrandrussellsocietylibrary.org/br-pe/br-pe-ch2.html>, acesso em 14 de maio 
de 2020.
3 John G. Messerly, The Meaning of Life: Religious, Philosophical, Transhumanist, and Scientific 
Perspectives (Washington: Durant & Russell, 2012), p. 334.
4 Bertrand Russell, citado por Messerly, p. 335.
5 Russell, citado por Messerly, p. 335, itálico acrescentado.
imprudente autoindulgência das pessoas 
que desprezavam a transcendência, 
limitando sua história à vida neste mundo: 
“Vamos apreciar as coisas boas da vida 
agora, pois logo terminará” (Isaías 22:13). 
Paulo imitou ironicamente a linguagem 
desses céticos a fim de reprovar sua teoria 
e prática. Em outras palavras, se as pessoas 
se convencerem de que tudo se resume a 
morrer como animais e plantas, em breve 
passarão a viver como tais.
Referências
Conclusão
 
 O falecido professor Júlio Schwantes, doutor pela Universidade 
Johns Hopkins, narrou certa vez o triste fim de uma jovem universitária 
encontrada morta no campus onde estudava. A seu lado estava uma 
garrafa vazia de veneno e o livro E o Vento Levou. Dentro do livro havia 
uma nota que dizia:
Sinto ter tido de fazê-lo, mas não posso mais enfrentar a vida. Quando 
cheguei à universidade, tinha fé em Deus e era feliz. Mas a universidade 
roubou-me a fé; não posso mais enfrentar a vida com suas perguntas não 
respondidas, perplexidades e incertezas. Quando me acharem, notifiquem 
meus pais e lhes digam que sinto muito por ter-lhes causado ainda essa 
dor. Gostaria que me enterrassem no cemitério debaixo dos pinheiros, 
cuja graça e beleza tantas vezes admirei, mas nunca pude alcançar.1
Nietzsche propunha que, 
rejeitando Deus, o ser 
humano poderia se livrar 
de valores que lhes são 
impostos por acreditar no 
Todo-Poderoso.2
 É claro que, quando escreveu as 
palavras “Deus está morto”, Nietzsche não 
queria dizer que a entidade divina tinha 
deixado de existir, mas apenas questionar se 
ainda era razoável ter fé em Deus e basear 
nosso comportamento nisso.3 O próprio 
Nietzsche descreveu em termos romanceados 
a angústia generalizada que se seguiria à 
morte de Deus. A cena é retratada por meio de 
faculdade, e esse número pode 
ser ainda maior entre alunos das 
áreas relacionadas com 
 a saúde.5
 Isso não se trata de 
demonizar a universidade ou 
tirar seu mérito na progressão 
do espírito humano. Já dizia o 
grande educador Anísio Teixeira: 
“São as universidades que 
fazem hoje, com efeito, a vida 
marchar. Nada as substitui. 
 Nada as dispensa. 
Nenhuma outra instituição 
Introdução
 Esse mesmo drama continua visivelmente 
presente na vida de muitos universitários. E 
não é somente a fé que é retirada de muitos 
jovens. Valores morais e emocionais também 
acabam indo embora no mesmo cortejo da 
morte de Deus anunciada por Nietzsche no fim 
do século 19.
Estudando juntos
um personagem louco que gritava pelas ruas 
previsões de pânico, horror e decepção. Assim, 
uma descida ao mais completo abismo foi 
encenada como possibilidade real. Nietzsche, 
porém, tentou ser otimista ao dizer, por meio 
de seu personagem, que a morte de Deus 
ofereceria a oportunidade de os seres humanos 
construírem uma nova “tabela de valores”, 
expressa numa nova paixão pela vida, na qual 
Deus não é necessário.
 Mais de 100 anos se passaram desde que 
Nietzsche escreveu essas palavras, e até hoje 
não saímos do abismo. A universidade onde 
muitos previram que haveria de começar 
o paraíso não tem tornado os jovens tão 
conectados com a realidade. Uma evidência 
disso é que o uso de substâncias psicoativas 
(SPA) lícitas (bebidas alcoólicas, tabaco, 
medicamentos com potencial de abuso) e 
ilícitas (cocaína, maconha, ecstasy, etc.) entre 
jovens universitários é o dobro da taxa da 
população em geral.4
 Segundo a Associação Nacional dos 
Dirigentes das Instituições de Ensino 
Superior (ANDIFES), aproximadamente 15% 
dos universitários passam por períodos de 
depressão em algum ponto do curso, enquanto 
a média para jovens de até 25 anos fora da 
universidade fica em torno de 4%. Ou seja, 
jovens universitários têm de 3 a 4 vezes mais 
chances de se matar do que jovens fora da 
VIDEOAULA
13
LIÇÃO 2
Razão e Fé 
Combinam?
1514
é tão assombrosamente útil”.6 Contudo, se 
a “educação é o item mais importante na 
diminuição dos índices de suicídio”, como 
afirmou Edwin Shneidman, ateu e especialista 
em suicidologia, algo está errado com a 
educação universitária.7 Por alguma razão, 
o ambiente acadêmico está potencializando 
distúrbios em vez de resolvê-los. Teria o 
ateísmo metodológico algo a ver com 
tudo isso?
 No livro O Dicionário de Suicidas Ilustres, 
preparado pelo artista plástico J. Toledo, 
encontramos uma lista de suicidas famosos que 
inclui artistas, escritores, filósofos, médicos e 
psicanalistas – pessoas céticas, agnósticas e 
críticas da fé. O próprio J. Toledo, organizador 
da obra, cometeu suicídio. Mencionar esse 
exemplo não tem como objetivo difamar o 
autor nem os descrentes, muito menos tratar o 
tema do suicídio com insensibilidade. Quem o 
pratica por problemas emocionais é uma vítima, 
não um delinquente. Entretanto, não seria esse 
livro, somado a certas posturas intelectuais, um 
retrato de nossa juventude estudantil drogada, 
prostituída e potencialmente suicida?
O valor da fé
 São muitas as pesquisas na área de saúde 
mental que demonstram empiricamente o 
valor da fé na vida do indivíduo, reduzindo 
a taxas bem baixas os índices de depressão, 
ansiedade, suicídio, automutilação e uso de 
substâncias nocivas.8 Pessoas religiosas tendem 
a ter melhor saúde mental do que as demais 
incluídas no grupo dos descrentes. Isso não 
significa que não haja neuroses entre religiosos 
ou que estes constituam um grupo moralmente 
superior aos demais. Os dados revelam 
tendências, não discriminações. Por outro lado, 
eles corrigem o senso comum de que os loucos 
estão nas igrejas; e os resolvidos, na academia. 
Desse modo, podemos dizer que não é uma 
boa ideia desacreditar a fé dos estudantes.
Pergunta 
A Bíblia relata que, após o rei Davi 
cometer adultério e assassinato, ele 
escreveu poesias de arrependimento e 
reconciliação com Deus, como o Salmo 
51. Davi conseguiu encontrar em Deus 
perdão e equilíbrio emocional. No Salmo 
32:3 chegou a declarar: “Enquanto calei 
os meus pecados, envelheceram os meus 
ossos pelos meus constantes gemidos 
todo o dia.” Você consegue compreender 
nas entrelinhas desse verso a relação 
entre fé e estabilidade emocional? 
Explique sua opinião.
Fé e ciência combinam?
Antesde prosseguir com a leitura, pense um 
pouco na pergunta a seguir.
Pergunta 
Um jovem que aspira ao mundo da 
intelectualidade teria necessariamente 
que renunciar à fé para ser coerente com 
suas pesquisas? O que 
você acha?
 O conceito moderno de universidade 
surgiu das antigas escolas religiosas da Idade 
Média. Essas instituições eram chamadas de 
universitas, termo latino que remete ao coletivo 
de seres ou a coisas que constituem um todo. 
Foi daí que se originou o significado primitivo 
da palavra “universidade” no século 13. Esse 
termo era usado para se referir ao conjunto 
de mestres e estudantes reunidos na mesma 
escola pelos mesmos interesses culturais.9
 Com o passar do tempo, entre conflitos 
locais, expansões econômicas, nascimento 
do protestantismo e a Revolução Francesa, 
a universidade foi se distanciando do poder 
eclesiástico. Era um processo natural, na 
medida em que o mundo, especialmente as 
mentes pensantes, estava cansado dos mandos 
e desmandos em nome de Deus.
 O surgimento das universidades na Europa 
possibilitou a disseminação do pensamento 
crítico que acabaria por desencadear o 
Renascimento e, posteriormente, o Iluminismo. 
Quem estava à frente disso? Os chamados 
livres-pensadores – embora esse termo, a rigor, 
pertença ao período moderno. Seu objetivo era 
propagar uma liberdade de pensamento sem 
as correntes do despotismo feudal, monárquico 
e eclesiástico.
 O resultado foi a formação de um 
movimento completamente anárquico, cético e 
antirreligioso. Como definiu Paulo Bitencourt, 
autor do livro Liberto da Religião: O Inestimável 
Prazer de Ser um Livre-Pensador:
O livre pensamento é o oposto do 
pensamento dogmático. Logo, nada 
pode ser mais incompatível com o livre 
pensamento do que crenças religiosas, 
pois em nada há mais dogmatismo que 
na religião. […] Só livres-pensadores são 
pessoas verdadeiramente racionais. Seu 
ceticismo não as deixa ser engodadas por 
nenhuma ideologia. Não acreditando em 
coisa alguma desprovida de evidências, 
livres-pensadores são imunes também 
a todo e qualquer tipo de superstição.10
 Será que o autor está certo em suas 
afirmações? Os dados oferecidos acima, sobre 
o valor da fé, não condizem com essa visão 
triunfalista. Há muitos problemas psicológicos e 
emocionais no universo da incredulidade. E se 
os números podem nos mostrar alguma coisa, 
o que dizer dos dados apresentados no livro 
de Baruch Shalev sobre os mais de 100 anos 
do prêmio Nobel, no qual menciona todos os 
1716
Conclusão
Categorias diferentes
 
 
Para conciliarmos razão e fé é necessário 
separar as categorias de investigação. Do 
mesmo modo que não se pode usar tubos de 
ensaio para investigar o que acontece dentro 
de um buraco negro, não se pode usar um 
microscópio para investigar a possibilidade 
histórica da ressurreição de Cristo. Saberes 
distintos requerem métodos distintos. Dizer 
como Yuri Gagarin: “Sou ateu porque fui ao céu 
e Não vi Deus lá em cima”, seria o mesmo que 
afirmar: “Não acredito nos átomos porque não 
os vejo com minha luneta”.
Pergunta 
A Bíblia afirma: “Ora, a fé é a certeza de 
coisas que se esperam, a convicção de 
fatos que se não veem. […] De fato, sem 
fé é impossível agradar a Deus, porquanto 
é necessário que aquele que se aproxima 
de Deus creia que Ele existe e que Se 
torna galardoador dos que O buscam” 
(Hebreus 11:1, 6). Qual seria então o papel 
da fé na discussão acima?
 É importante dizer que, biblicamente, 
a fé tem um lado racional, conforme vemos 
em Romanos 12:1, por exemplo. Apesar disso, 
ela não é “racionalista”. O racionalismo, ou 
“razão sem a fé”, é incongruente porque pensa 
abarcar como realidade mundana algo que é 
supraterrenal. E ele rejeita o que é supraterrenal 
por não poder discursar sobre isso. O mais 
sensato seria dar espaço para a percepção dos 
atos de Deus, pois, se Ele for real, poderemos 
ver Seus rastros na história humana. Logo, a fé 
não é racionalista, mas racional e razoável.
 O racionalismo é a razão doente, inchada 
e intoxicada. Portanto, tome cuidado – essa 
advertência também vale para quem tem fé. 
Há sempre o risco de elevar uma crença à 
crendice, que é uma distorção da fé verdadeira.
 É justamente a leitura apressada de 
Hebreus 11:1 que leva muitas pessoas a pensar 
que a fé é incompatível com a dúvida, mas 
isso não é verdade. A distorção da faculdade 
de questionar é que gera incredulidade, 
desconfiança e neurose. Afinal, se perguntar 
fosse uma afronta a Deus, Jesus não teria dito 
na cruz: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me 
Boa pergunta
 
Agora é você quem faz as perguntas!
Pare para pensar e formule as próprias 
perguntas sobre essa parte do estudo.
 Aproveite sua mente inquiridora, curiosa 
e questionadora para aprender mais sobre 
Deus e, ao mesmo tempo, questionar os 
fundamentos deste mundo. Faça perguntas do 
tipo: Se não há Deus, por que existe algo em 
vez de nada? Se vida sempre provém de vida, 
como a vida poderia provir do nada? Se não 
há um Designer, como explicar tanta precisão, 
ordem e estrutura no Universo? Se não há um 
Criador inteligente, quem colocou a informação 
genética no DNA?
 Dúvidas advindas de mero capricho 
conduzem à perdição. Dúvidas sinceras podem 
levá-lo a Deus, que deseja seu progresso 
e sua salvação. E sabe como recebemos a 
salvação? Pela graça mediante a fé. A mesma 
fé que desejamos que você exerça. Se crer, 
não precisará ter medo do futuro. Afinal, você 
e Deus serão sempre a maioria em qualquer 
tempo e circunstância. Pense nisso!
1 Júlio Schwantes, O Despontar de uma Nova Era (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1984), p. 109.
2 “Nietzsche: ‘Deus está morto’”, Super Interessante, disponível em <https://super.abril.com.br/ideias/
deus-esta-morto-nietzsche/>, acesso em 10 de junho de 2020.
3 “Nietzsche: ‘Deus está morto’”, Super Interessante.
4 Renata Cruz Soares de Azevedo, “Uso de Drogas por Universitários”, Ensino Superior, nº 11 (2013), 
disponível em <https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/uso-de-drogas-por-universi-
tarios>, acesso em 15 de maio de 2020.
5 Maria Luiza Picasso, “Índice de Depressão é Maior Entre Universitários”, disponível em <http://www.
jornalismounaerp.com.br/2017/02/13/indice-de-depressao-e-maior-entre-universitarios/>, acesso em 
15 de maio de 2020. Ver “Ideação Suicida e Depressão em Universitários”, disponível em <http://www.
anacosta.com.br/artigos/ideacao-suicida-e-depressao-em-universitarios/>, acesso em 28 de agosto 
de 2017.
6 Anísio Teixeira, Educação e Universidade (Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1988).
7 Edwin Shneidman, citado por Paula Fontenelle, Suicídio: O Futuro Interrompido (São Paulo: Geração 
Editorial, 2008).
8 Alexander Moreira-Almeida, Harold G. Koenig e Giancarlo Lucchetti, “Clinical Implications of 
Spirituality to Mental Health: Review of Evidence and Practical Guidelines”, Revista Brasileira de 
Psiquiatria 36, nº 2 (2014), p. 176-182; Harold G. Koenig, “Research on Religion, Spirituality, and Mental 
Health: A Review”, The Canadian Journal of Psychiatry 54 (2009), p. 283-291; Crystal L. Park e Jeanne 
M. Slattery, “Religion, Spirituality, and Mental Health”, em Handbook of the Psychology of Religion 
and Spirituality, ed. Raymond F. Paloutzian e Crystal L. Park (Nova York: The Guilford Press, 2013), p. 
540-559.
9 Joaquim de Carvalho, As Universidades. Significado e Modalidade das Origens, disponível em 
<http://www.joaquimdecarvalho.org/artigos/artigo/190-I.-As-Universidades.-Significado-e-modali-
dade-das-origens>, acesso em 10 de junho de 2020.
10 Paulo Bitencourt, Liberto da Religião: O Inestimável Prazer de Ser um Livre-Pensador (Portuguese 
Edition), Ebook.
11 Baruch Aba Shalev, 100+ Years of Nobel Prizes & More (Los Angeles, CA: Americas Group, 2010).
Referências
ganhadores desde 1901 até 2007? Nessa obra, 
Shalev revela que 89,5% dos laureados eram 
fiéis a uma religião, ao passo que somente 
10,5% eram ateusou livres-pensadores.11 
Portanto, diferente do que diz o senso comum, 
a fé não é o oposto da razão. Se fosse, que 
faríamos com gênios como Newton, Copérnico, 
Pascal, Pasteur, Descartes, Dostoievski, C. S. 
Lewis e Chesterton? Eles eram intelectuais de 
primeira linha e crentes absolutos no Deus da 
Bíblia Sagrada.
Universidade de Bolonha, Itália. Fundada em 
1088, é considerada a mais antiga da Europa
desamparaste?” (Mateus 27:46).
 Não há contradição em Hebreus 11:1. A 
palavra grega traduzida por “convicção” 
é hypostasis, que pode ter uma série de 
significados; entre eles, a escritura que 
alguém recebia ao se tornar dono de 
uma propriedade, mesmo que ainda não 
estivesse morando lá. E por que alguém 
se considera dono mesmo sem tomar 
posse? Porque a assinatura e o timbre no 
documento garantem seu senhorio. Hebreus 
11 fala de homens e mulheres que morreram 
sem ver o cumprimento das promessas 
divinas, mas que ainda assim creram nelas, 
pois conheciam a autoria Daquele que as 
fez. Por isso a morte deles não foi em vão. 
Sua redenção os aguarda!
19
VIDEOAULA
Gottfried Wilhelm Leibniz: Obteve seu doutorado 
na Universidade de Altdorf com apenas 21 anos 
(1667). É provável que Leibniz tenha sido o filósofo 
mais genial de seu tempo. Autodidata, aos oito 
anos aprendeu sozinho a falar latim e grego, aos 15 
já possuía vasto conhecimento de filosofia, moral e 
teologia escolástica. Estudou matemática em Paris e 
enunciou o cálculo diferencial a partir de seu invento: 
“a máquina de fazer operações” 
(ancestral da calculadora).
Estudando juntos
LIÇÃO 3
Afinal, Deus 
Existe?
 Cedo ou tarde, todo ser humano será 
confrontado pela pergunta: Deus existe? A 
existência de um Deus não é algo que interessa 
somente às pessoas que creem. A ideia de um 
Criador supremo, amoroso, que cuida de cada 
um de nós e nos dará a vida eterna tem um 
apelo psicológico muito forte. Uma boa parte 
dos descrentes não rejeita a ideia de Deus 
porque ela pareça ruim, mas justamente por 
parecer boa demais para ser verdade.
 Imagine por um instante que não haja 
Deus, Céu, vida eterna nem qualquer uma das 
promessas bíblicas. Nesse contexto, a história 
humana não tem propósito definido. Tudo é 
ilusório, passageiro e circunstancial. Tudo o que 
existe, incluindo você e as pessoas que mais 
Introdução
 A falta de piedade dominava na 
Idade Moderna, e tolas justificativas eram 
apresentadas para o sofrimento humano. 
Assim, muitos começaram a questionar a 
justiça de Deus ou negar a existência Dele. Foi 
então que Leibniz propôs uma sistematização 
de ideias racionais que argumentavam a favor 
da justiça de Deus e de Seu governo. Nesse 
contexto, o filósofo criou a palavra “teodiceia”, 
que acabou sendo absorvida pela filosofia. Esse 
termo tem origem nas palavras gregas Theos, 
que significa “Deus”, e diceia (ou dike), que 
significa “justiça”. Logo, o termo “teodiceia” se 
refere a uma forma racional de argumentar a 
favor da existência de Deus e de Sua justiça.
 Outros pensadores também procuraram 
apresentar uma argumentação racional para 
a existência de Deus. Tomás de Aquino, 
Descartes, Pascal e Newton foram alguns deles. 
No entanto, é importante destacar que essa 
argumentação racional não tinha a ver com 
“provas” laboratoriais. Na verdade, é impossível 
provar que Deus existe. O Todo-Poderoso não 
é objeto de investigação humana para que 
possa ser “analisado”, “testado” e “provado” em 
laboratório. Deus não é um elemento químico.
Pergunta 
A Bíblia diz: “É necessário que aquele que 
se aproxima de Deus creia que Ele existe 
e que recompensa os que O buscam” 
(Hebreus 11:6, NAA). Por outro lado, 
também incentiva a adorarmos a Deus 
de maneira lógica e “racional” (Romanos 
12:1). Com base nesses versos, você 
acha que a fé na existência de Deus é 
incongruente com a razão 
humana? Explique.
 O Novo Testamento apresenta uma série de 
textos nos aconselhando a testar ou examinar 
criticamente todas as coisas antes de crer 
apressadamente nelas (2 Coríntios 13:5; Efésios 
4:14; 1 Tessalonicenses 5:21; 1 João 4:1). Se 
compreendemos bem a advertência bíblica, 
devemos permanecer alertas e não concordar 
com algo apenas porque faz parte da tradição 
dos mais antigos (Mateus 5:21, 22; Colossenses 
2:8) ou porque um líder influente falou sobre 
isso. O apóstolo Pedro nos adverte quanto a 
não acreditar em falsos líderes que exploram 
as pessoas com historietas emotivas que eles 
mesmos inventaram (2 Pedro 2:1, 3; ver 
Mateus 7:15).
Exercício mental
 Reflita sobre as três perguntas a seguir 
como se fossem um exercício mental de 
percepção da realidade e da existência 
de Deus.
1. Por que existe algo em vez de nada?
 Desde os antigos sumérios até Einstein, 
pensadores que não haviam sido influenciados 
pelas Escrituras judaico-cristãs acreditavam 
que o Universo, ou pelo menos as forças 
siderais que o compunham, existia por toda a 
eternidade. Assim, viam-se desobrigados do 
fardo de lidar com o tema da origem de tudo.
 Hoje, o consenso mudou. Evidências 
esmagadoras forçaram mais de 95% dos 
cosmólogos a postular uma origem para o 
Universo que muitos descrevem como a teoria 
ama, não passam de coincidências e acidentes 
atômicos reunidos por um acaso inexplicável. 
Se assim for, a vida é apenas uma luta 
desenfreada pela sobrevivência, sabendo que, 
mais cedo ou mais tarde, seremos vencidos. A 
morte será a única certeza, e não seremos nada 
mais que “cadáveres adiados que procriam”, 
como disse Fernando Pessoa.
 Essa é a conclusão a que chegaram 
grandes nomes da filosofia moderna, boa parte 
deles descrentes em Deus (Schopenhauer, 
Nietzsche, Wagner, Tolstói, Zola, Kafka e 
Anatole France). De fato, o ceticismo nos 
empurra para um reducionismo existencial, no 
qual a vida é apenas um hiato entre duas datas: 
nascimento e morte. Será que existe saída?
2120
do Big Bang. Para as pessoas que querem 
refletir um pouco sobre tudo isso, o que os 
cientistas estão concluindo é que houve um 
instante zero, antes do qual não havia nada. 
Tempo, espaço, gravidade, ondas, som, matéria, 
tudo era inexistente e, após uma explosão 
inexplicável, tudo veio a existir em sua 
beleza e complexidade.
 Suposições sobre o que havia antes do 
Universo têm sido sugeridas. A teoria das 
cordas, das supercordas, dos multiversos e dos 
universos paralelos são algumas das propostas. 
Nenhuma delas tem comprovação nem são 
axiomáticas. Estão mais para especulação 
filosófica do que para elaboração científica. 
Ironizando algumas dessas propostas, o 
astrofísico Paul Davies escreveu: “Talvez os 
teóricos das cordas tenham tropeçado no santo 
graal da ciência. Mas talvez estejam todos 
perdidos para sempre na Terra do Nunca.” 
 O ponto em comum entre os diferentes 
especialistas é que o Universo teve um começo 
e, portanto, deveria ter uma causa (isto é, 
algo que ocasionou a origem do cosmos). 
Para efeito de lógica, essa causa não poderia 
ser o próprio Universo, mas algo além dele. 
Também precisaria ser um ente eterno, infinito 
e onipresente (pois existia antes do tempo e 
do espaço sideral), imaterial (pois precede a 
matéria), intencional (pois o Universo parece 
incrivelmente planejado) e pessoal (pois fez 
surgir sentimento e beleza).
 Ora, todas essas características são mais 
coerentes com a ideia de um ser divino, eterno 
e não causado, conforme descrito na Bíblia, 
do que com qualquer uma das propostas 
cegas feitas por cosmólogos materialistas que 
tentam encontrar uma razão não divina para 
tudo o que passou a existir. Com Newton, por 
exemplo, descobrimos que o Universo tem leis; 
com Einstein, que tem energia; e com Watson e 
Crick, que tem informação (DNA). Como tudo 
isso veio a existir se do nada, nada se produz?
 Allan Sandage, que, por meio da 
observação de estrelas distantes, calculou a 
idade do Universo e a velocidade em que ele se 
expande, disse:
Eu era quase um ateu na juventude. Foi 
a ciênciaque me levou à conclusão de 
que o mundo é muito mais complexo do 
que podemos explicar. Só posso explicar 
o mistério da existência por meio do 
sobrenatural. […] Acho que é bastante 
improvável que tal ordem tenha vindo 
do caos. Tem que haver algum princípio 
organizador. Para mim, Deus é um 
mistério, mas ainda é a melhor explicação 
que tenho para o milagre da existência: 
Por que existe algo em vez de nada?1
2. Por que há música em vez de ruído?
 O astrofísico Hubert Reeves2 se refere a 
uma condição óbvia percebida no Universo: 
as coisas existem, mas não existem a esmo. 
Há uma ordem no ar, uma organização do 
cosmos que não pode ser explicada por mera 
coincidência. E de onde viria isso? Se já era 
inconcebível imaginar que do nada pode surgir 
tudo, quanto mais acreditar que esse tudo 
surgiu organizado!
 Obviamente, os cientistas dizem que 
esse assunto está fora do domínio científico. 
No entanto, suas observações dificultaram o 
reconhecimento de um fenômeno misterioso 
chamado “ajuste fino”. Acontece que as forças 
fundamentais da natureza – a taxa de expansão 
do Universo no início, a proporção de massas 
de prótons e elétrons, etc. – têm valores que 
se enquadram em parâmetros extremamente 
precisos, necessários para a vida.
 Muitos cientistas, sem orientação religiosa, 
falam que o “princípio antrópico” é a melhor 
explicação. Ou seja, para eles os valores das 
constantes da natureza podem ser mais bem 
previstos quando são calculados com base no 
pressuposto de que esses valores coincidem 
com a projeção de nossa existência neste 
planeta. Em outras palavras, parece que 
alguém queria que estivéssemos 
por aqui e preparou o cenário para 
que viéssemos.
Pergunta 
Compare essa conclusão dos cientistas 
com o Salmo 66:5: “Vinde e vede as 
obras de Deus: tremendos feitos para 
com os filhos dos homens!” Você vê 
alguma harmonia nesses discursos?
3. De onde vem a ideia de Deus?
 Uma terceira pergunta para refletir na 
percepção da realidade e da existência de 
Deus é: De onde veio essa ideia? Em todas 
as culturas, por mais avançadas ou primitivas 
que sejam, há um conceito local a respeito de 
Deus. Quem espalhou pelos povos a noção de 
divindade? Isso nos faz concluir que a tradição 
a respeito da existência divina é, no mínimo, 
tão antiga quanto à humanidade que, desde 
seus primórdios, tem o costume de adorar 
religiosamente um ser superior.
 Ninguém nasce ateu; as pessoas se 
tornam ateias. Por isso, é sensato admitir 
que, psicologicamente falando, a crença é um 
sentimento primário e natural de todos os seres 
racionais. O ateísmo é algo que vem depois, por 
diferentes circunstâncias na vida do indivíduo.
 O próprio Freud admitiu que nascemos 
com a carência de um pai cósmico e universal, 
mas não detectou a razão dessa carência. 
Agostinho declarou: “Oh Deus, Tu nos criaste 
para Ti mesmo, e nosso coração estará inquieto 
até que encontre repouso em Ti.” Karl Rahner, 
famoso teólogo do século 20, resolveu dar 
um colorido psicológico à máxima agostiniana 
e perguntou: “Afinal, por que o coração se 
encontra inquieto?”
 Parafraseando Blaise Pascal, se “há um 
vazio com forma de Deus no coração humano”, 
por que não supor que haja o correspondente 
divino, pronto para preencher nossa carência 
existencial? Pascal escreveu: “O que seriam 
essa ganância e essa impotência que clamam 
atrás de nós, senão a certeza de que o ser 
humano alguma vez experimentou uma 
felicidade verdadeira, da qual agora somente 
traz a marca e o rastro de toda uma vida? E 
isso ele tenta em vão preencher, usando tudo 
o que o rodeia, procurando por coisas que 
estão ausentes, por uma ajuda que não obtém 
do presente, coisas que são ineficazes, porque 
esse abismo infinito só pode ser preenchido 
por um objeto infinito e imutável, isto é, o 
próprio Deus.”3Boa pergunta 
Agora é você quem faz as perguntas! 
Pare para pensar e formule as próprias 
perguntas sobre essa parte do estudo.
 Refletir sobre as três perguntas feitas acima 
nos ajuda a fortalecer a racionalidade da fé, 
mas não nos leva necessariamente à conversão. 
É necessário admitir que somos carentes de 
Deus para poder, de fato, ir ao encontro Dele. 
É a sede, e não o conhecimento bioquímico da 
água, que nos leva a ansiar por uma fonte. Por 
isso, o reconhecimento de Deus deve conduzir 
a um relacionamento com o divino. Não basta 
concluir racionalmente que Ele existe, é preciso 
aceitar Seu chamado e vencer o orgulho e as 
emoções que nos prendem, deixando que Ele 
nos abrace como aquilo que realmente somos: 
Seus filhos queridos. Pense nisso!
Conclusão
Referências
 1 Entrevista a John Noble Wilford, “Sizing up the Cosmos: An Astronomers Quest”, New York Times, 12 
de março de 1991, seção C, p. 10.
2 Hubert Reeves, Atoms of Silence: An Exploration of Cosmic Evolution (Boston, MA: Massachusetts 
Institute of Technology, 1984).
3 Blaise Pascal, Pensées, edição de Sellier, nº 181.
23
LIÇÃO 4
Qual é o
 Tamanho 
de Deus?
 Após refletir sobre as perguntas “Por que 
existe algo em vez de nada?”, “Por que há 
música em vez de ruído?” e “De onde vem a 
ideia de Deus?”, estudadas em nossa última 
lição, algumas pessoas podem ter concluído 
que Deus existe e que Ele deseja Se relacionar 
com Suas criaturas. Surge, então, outra 
pergunta: “Qual é o tamanho de Deus?” Afinal, 
Deus pode ser medido?
 Do Éden à Grécia, encontramos figuras 
como Xenófanes (560-478 a.C.), que rejeitava 
o mito e as descrições religiosas da divindade. 
Introdução
Estudando juntos
Xenófanes de Cólofon (560-478 
a.C.) foi um dos principais filósofos 
da era pré-socrática pertencentes 
à escola eleática. Xenófanes 
propôs uma cosmologia que, 
ao mesmo tempo em que se 
colocava como filosofia, criticava 
temas dogmáticos da religião 
politeísta da Grécia.
 Para Xenófanes, Deus teria de ser alguém 
além e acima da moralidade grega, que não 
tivesse forma humana, não pudesse morrer 
nem nascer (por ser eterno) e que não 
interviesse nos negócios da humanidade. O 
mesmo autor, porém, aceitava que houvesse 
um controle divino no Universo, ainda que 
fosse para sustentar sua permanência. Em 
um aspecto, pelo menos, o pensamento de 
que existe. Estima-se que a energia escura 
componha cerca de 70% do Universo, enquanto 
a matéria escura comporia 27%.
 O tamanho da Terra em relação ao 
Universo observável é o equivalente ao 
tamanho do vírus da gripe em relação ao 
Sistema Solar! Partindo dessa realidade e 
considerando a possibilidade de haver um Deus 
criador de todas as coisas, é perfeitamente 
compreensível a retórica bíblica de Romanos 
11:33 e 34: “Ó profundidade da riqueza, tanto 
da sabedoria como do conhecimento de Deus! 
Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão 
inescrutáveis, os Seus caminhos! Quem, pois, 
conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o 
Seu conselheiro?” A resposta é óbvia: ninguém!
O mistério de Deus
 Diversas partes da Bíblia descrevem Deus 
como um ser incomparavelmente misterioso 
(ver Isaías 45:15; Eclesiastes 11:5; 1 Coríntios 
2:7; Efésios 3:9; Colossenses 2:2). Muitos, em 
virtude disso, negam a proposta dizendo 
se tratar de um Deus incoerente, que numa 
passagem é imutável e em outra Se arrepende; 
que parece saber tudo, mas pergunta o tempo 
todo; que Se apresenta como único, mas 
é confessado em três pessoas (Pai, Filho e 
Espírito Santo). Pensa-se no 3 da Trindade 
como valor numérico ao qual podemos 
acrescentar o número 2, a fim de obtermos 
5 como resultado. Não se trata de um dado 
aritmético passivo de se fazer contas. É um 
numeral divino, misterioso, sem comparação 
na natureza. Por isso é preciso explicar que 
a palavra “mistério” não se refere a algo 
impossível de existir, mas a algo que nossa 
mente não consegue compreender.
Num texto citado por Clemente de Alexandria, 
Xenófanes teria dito: “Se os bois, os cavalos e 
os leões tivessem mãos ou pudessem desenhar 
com elas e criar coisas como o ser humano as 
cria, os cavalose os bois descreveriam a feição 
de seus deuses e desenhariam os corpos deles 
como as próprias formas, isto é, como bois e 
cavalos. […] Os etíopes dizem que seus deuses 
são de nariz achatado e negros, enquanto os 
trácios dizem que são pálidos e de 
cabelo ruivo.”1
 Quando questionamos o tamanho de 
Deus, logo buscamos uma comparação: 
“Maior do que o quê?” Essa pergunta nos leva 
a reflexões mais profundas, especialmente 
quando estudamos teologia e metafísica. Deus 
não é coisa nem teorema, muito menos objeto. 
Portanto, descrições espaciais e temporais são 
difíceis de ser aplicadas a Ele. Não existe um 
espaço que comporte a Deus (2 Crônicas 2:6; 
6:18). É aqui que começa o dilema humano para 
falar sobre a Divindade.
Deus pode ser medido?
 Nós pensamos em termos dimensionais. 
Logo, a pergunta a respeito do tamanho de 
Deus esbarra em nossa percepção dimensional 
e exige conceitos que não se aplicam a 
essência da Divindade, tais como tamanho, 
cor, peso e limites. É fato que nos últimos 
100 anos o conceito de dimensões ficou mais 
sofisticado, de modo que os físicos falam de 
11 ou mais dimensões, e os matemáticos de 
infinitas possibilidades e até mesmo de objetos 
com número fracionário de dimensões. No 
dia a dia, porém, nossos sentidos continuam 
baseados nos princípios da geometria de 
Euclides, o mais famoso matemático dos 
tempos greco-romanos (século 3 a.C.). Assim 
como os antigos, ainda vivemos num mundo 
tridimensional, repleto de objetos compridos, 
largos e profundos. É natural, portanto, que 
transfiramos essa percepção para imaginar 
tudo o que existe no Universo e até mesmo o 
ser de Deus.
 Sinônimos de dimensão seriam área, 
volume, espaço, extensão e superfície. Agora 
imagine que o Universo observável tem um 
diâmetro superior a 93 bilhões de anos-luz. 
Em outras palavras, mesmo que você atingisse 
a incrível velocidade da luz (300 mil km/s) 
precisaria de 93 bilhões de anos para cruzar 
essa superfície sideral de uma ponta a outra. 
Tudo isso, porém, representa apenas 3% do 
Pergunta 
Veja a retórica divina no livro do 
profeta Isaías: “Com quem vocês vão 
Me comparar? Quem se assemelha 
a Mim?, pergunta o Santo. Ergam os 
olhos e olhem para as alturas. Quem 
criou tudo isso? Aquele que põe em 
marcha cada estrela do Seu exército 
celestial, e a todas chama pelo nome. 
Tão grande é o Seu poder e tão 
imensa a Sua força, que nenhuma 
delas deixa de comparecer!” (Isaías 
40:25, 26, NVI). Como você analisa 
essas perguntas feitas pelo próprio 
Deus? Justifique sua resposta.
Um quebra-cabeça mental
 Quando dizemos que “Deus existe”, 
estamos usando uma linguagem aproximada, 
pois existir significa etimologicamente “algo 
extraído de algo”. Como Deus não teve causa 
nem começo no tempo, o mais correto seria 
afirmar que Ele simplesmente é por toda 
a eternidade. Nem mesmo o exercício do 
raciocínio pode ser aplicado a Ele, uma vez que, 
conhecendo o fim desde o princípio, Deus não 
chega à conclusão de nada; Ele simplesmente 
sabe. Nunca houve um momento em que Deus 
tivesse apenas a ciência do problema, mas 
não da solução. Isso negaria Sua 
onisciência absoluta.
Xenófanes coincide com o conceito judaico-
cristão de um Deus inimitável, incomparável e 
singular. Ou seja, não há nada na natureza que 
possa ser usado como paralelo exato do ser 
de Deus.
VIDEOAULA
2524
Conclusão
1 Clemente de Alexandria, Miscelâneas, v. 110 e VII, 22. Quanto às duas últimas frases, ver Diels-Kranz, 
Die Fragmente der Vorsokratiker, Xenophanes, fragmentos 15 e 16.
2 “Heschel Quotes – God, Man, Prayer, Life and Death – and Video”, disponível em <https://sunwalked.
wordpress.com/2007/07/21/heschel-quotes-god-man-prayer-life-and-death-and-video/>, acesso em 
18 de maio de 2020.
3 Philip Yancey, O Jesus que Eu Nunca Conheci (São Paulo: Vida, 2001).
Referências
 Os gregos, especialmente Heráclito, já 
apontavam para um logos mediador entre 
o Universo e seu princípio gerador (que 
Aristóteles chamaria de Causa primeira). O 
apóstolo João, chegando à cidade de Éfeso, 
onde séculos antes viveu Heráclito, lançou mão 
do mesmo elemento, o “logos”, e explicitou o 
que já havia sido dito, acrescentando o que não 
fora contado: “O mundo foi feito por intermédio 
Dele, mas o mundo não O conheceu” (João 1:10). 
Então o mesmo princípio divino que criou a 
matéria se tornou humano, o oleiro se tornou 
um vaso da própria coleção. Assim, Deus 
possibilitou a criação de uma autobiografia 
divina, utilizando personagens reais, numa 
história real. “E o Verbo Se fez carne e habitou 
entre nós” (João 1:14). Pense nisso!
Boa pergunta
 
Agora é você quem faz as perguntas!
Pare para pensar e formule as próprias 
perguntas sobre essa parte do estudo.
 Isso é impossível para o autor, mas não 
para alguém dotado de onipotência. Segundo a 
interpretação cristã, a Divindade – que embora 
seja uma em essência é plural em pessoas – 
possibilitou que a segunda pessoa assumisse 
a forma humana para revelar Deus às Suas 
criaturas. De acordo com as Escrituras, Deus, 
Descobri que gerenciar um aquário de 
água salgada não é uma tarefa fácil. Eu 
precisava operar um laboratório químico 
portátil para monitorar os níveis de 
nitrato e o teor de amônia. Bombeava 
vitaminas, antibióticos, medicamentos à 
base de sulfa e enzimas, além de filtrar 
água através de fibras de vidro e carvão.
É de se pensar que meus peixes ficariam 
gratos. Nem tanto. Quando minha sombra 
se aproximava do aquário para alimentá-
los, eles mergulhavam para esconder-se 
na concha mais próxima. Eu era grande 
demais para eles, e minhas ações 
incompreensíveis. Eles não sabiam que 
minhas atitudes eram misericordiosas. 
Mudar essa percepção exigiria uma 
forma de encarnação. Eu teria que me 
tornar um peixe e “falar” com eles em 
uma linguagem que compreendessem; 
o que era impossível para mim.3
O piloto e o aquário
 O ato de Deus abrir mão de Seus atributos 
seria como um piloto, dono de uma aeronave, 
que, tendo um amigo com fobia de voos, deixa 
seu monomotor no hangar e caminha em solo 
firme com o colega. Note, ele não perdeu seu 
avião, muito menos sua habilidade de voo. 
Afinal, se é mesmo o dono do aparelho, tem 
autoridade para usá-lo ou não quando bem 
entender. Assim, sua caminhada com o amigo 
na terra não é fingida, embora ele tivesse 
condições de fazer o trajeto voando sobre 
as nuvens.
 Philip Yancey usa sua experiência com um 
aquário para expressar esse princípio revelador 
de Deus. Veja como ele descreve:
saberemos o que Ele é em essência.
 A Bíblia também promove a 
democratização do mistério de Deus. A ideia 
de Sua grandeza, eternidade e infinitude já 
estava prevista na mais antiga tradição judaico-
cristã (Gênesis 21:33; 1 Reis 8:27; Salmo 90:2; 
Atos 17:24-28). Não existe uma elite humana 
que tenha acesso ao todo do Ser divino ou que 
abarque o conhecimento pleno de Sua pessoa. 
Nem mesmo os doutores, mestres e bacharéis 
em Teologia podem se dizer especialistas 
em Deus!
 Logo, quando se pergunta: Podemos 
conhecer o ser de Deus? A resposta é um 
sonoro “não”! Mas isso não deve desanimar 
os que estão em busca do conhecimento 
divino. Como disse o rabino Abraham Heschel: 
“Estamos mais perto de Deus quando fazemos 
perguntas do que quando pensamos que temos 
as respostas.”2
O Deus que Se revela com máscaras
 Como resolver o dilema de um Deus 
incognoscível? Simples: Deus Se revela. É o 
velamento de Sua glória ofuscante que permite 
uma contemplação parcial, porém suficiente, 
de Seu ser. “Ninguém jamais viu a Deus, o 
Deus unigênito, que está no seio do Pai, é 
quem O revelou”, afirma João 1:18. Segundo o 
entendimento bíblico, para haver uma relação 
real das criaturas com esse Deus criador, Ele 
precisou – de alguma forma – ficar pequeno o 
bastante para que pudesse ser compreendido 
pela mente e emoção humanas.
 Martinho Lutero fazia uma distinção entre 
o Deus revelatus e o Deus absconditus. O 
primeiro seria a manifestaçãodo segundo num 
modo diminuto que suas criaturas pudessem 
reconhecê-Lo e contemplá-Lo. Ou seja, Deus 
é essencialmente tão grandioso que, sem 
uma adequação de Sua grandiosidade à 
pequenez da criatura, jamais poderíamos nos 
relacionar com Ele. As pessoas geralmente 
usam máscaras para esconder o rosto. Deus, no 
entanto, usa uma máscara para Se revelar, pois, 
devido à Sua grandeza, a forma mais natural de 
fazer isso é Se escondendo.
 Essa “máscara” é uma metáfora teológica 
para falar da revelação de Deus aos seres 
humanos. Um fenômeno que se traduz no fato 
de o ser divino agir algumas vezes como se 
não tivesse todo o poder e esplendor que de 
fato tem. Portanto, ainda que saiba de tudo, Ele 
abre mão de Sua onisciência – note que não 
a perde – e honestamente faz perguntas aos 
seres humanos; ainda que Ele esteja em toda 
parte, vem e vai com Seus filhos; e, ainda que 
tenha tudo, pede e faz súplicas. Somente assim 
poderia fazer contato conosco
Pergunta 
Caso haja mesmo um Deus Criador 
do Universo e tudo o que ele contém 
(tempo, energia, matéria e espaço), Sua 
essência tem de ser muito maior do que 
tudo que a mente humana sequer seja 
capaz de imaginar. Essa essência tem de 
ser infinita e eterna. Uma vez que Deus é
 infinito, existiria um espaço que O 
comportasse? Será que Ele teria 
dimensões corpóreas que envolvam uma 
delimitação de contornos indicando 
começo e fim? Ou seria mais adequado 
dizer que Deus é um ser cujo centro está 
em toda parte e a periferia não está em 
parte alguma? Faça uma análise dessas 
questões. Como o discurso de Salomão, 
registrado em 1 Reis 8:27, pode lhe ajudar 
nessa análise? Reflita por 
um instante.
o Criador do Universo, fez algo que parecia 
impossível. Ele veio à Terra em forma humana 
na pessoa de Jesus Cristo (Gálatas 4:4).
 Deu um nó em sua cabeça? É para 
dar mesmo! Um ser divino, absoluto, com 
as caraterísticas necessárias para ser o 
Criador de tudo o que existe, não pode 
demandar melhorias, aprendizado, pontos 
vulneráveis, aperfeiçoamento. No entanto, 
se Nele não há mudanças, como então Se 
movimenta? Ou estaríamos falando de um ser 
permanentemente imóvel como propuseram os 
filósofos da escola eleática há 2.500 anos?
 Todo esse quebra-cabeça mental serve 
para mostrar que muitas negações populares 
acerca de Deus estão muito aquém do 
que a Bíblia anuncia de Seu ser. Deus é 
essencialmente insondável! Como diria Karl 
Barth, “somente Deus pode falar de Deus”. Por 
isso, teólogos escolásticos chegaram a propor, 
inspirados em Aristóteles, que houvesse uma 
abordagem “negativa” de Deus, pois a religião 
e a teologia só podem falar daquilo que Ele 
não é – levando em consideração que nunca 
27
LIÇÃO 5
Por Que 
Jesus e Não 
Pitágoras?
Tempos atrás, um belo texto sobre Jesus Cristo, 
atribuído a James A. Francis, ficou famoso sob 
o título “Uma Vida Solitária”. Veja o que esse 
texto diz:
 Eis um homem que nasceu num 
vilarejo quase desconhecido, filho de 
uma mulher humilde. Cresceu numa 
outra vila. Trabalhou numa carpintaria 
até completar 30 anos e, então, durante 
três anos, foi um pregador itinerante. 
Nunca teve um lar. Nunca escreveu 
um livro. Nunca ocupou uma posição 
de destaque. Nunca teve uma família. 
Nunca foi à faculdade. Nunca pisou 
numa cidade grande. Nunca esteve a 
mais de 300 quilômetros do lugar onde 
nasceu […]. Nada tinha para apresentar 
como credenciais além de Si mesmo […].
 Ainda jovem, a maré da opinião 
pública se voltou contra Ele. […] Seus 
executores sortearam entre si a única 
coisa que Ele possuía na Terra: uma 
capa. Quando morreu, foi tirado da 
cruz e sepultado no túmulo que um 
amigo, movido por piedade, lhe cedeu
Dezenove longos séculos se 
passaram, e hoje Ele é a figura central 
da humanidade o líder da marcha do 
progresso. […] Todos os exércitos que já se 
puseram em marcha, todas as esquadras 
que já foram construídas, todos os 
parlamentos que já existiram e todos os 
reis que já reinaram, tudo isso junto não 
tem afetado a vida do homem sobre a 
Terra de um modo tão poderoso como 
o tem feito aquela única vida solitária.1
 O texto é maravilhoso, mas nem todos 
pensam assim. Há mais de 100 anos, Bertrand 
Russell escreveu em seu livro, Por Que Não 
Sou Cristão, que “historicamente a existência 
de Cristo é duvidosa. E, se realmente existiu, 
não sabemos nada sobre Ele. Portanto, não me 
preocupo com o aspecto histórico.”2
 Contrariando a desconfiança de Russell, a 
maioria dos historiadores modernos – inclusive 
agnósticos, ateus e não cristãos – admite sem 
reservas que Jesus existiu. A historicidade Dele 
também é confirmada por autores clássicos da 
antiguidade, tais como Suetônio, Tácito, Flávio 
Josefo e Plínio.
 Um livro que balançou o mundo da crítica 
nos últimos anos foi a obra de Bart Ehrman 
sobre a existência de Jesus. Nela, o autor – que 
além de historiador e especialista em crítica 
textual é definitivamente cético em relação a 
milagres, à divindade de Cristo e a coisas do 
gênero – surpreendeu o público ao fazer uma 
defesa vigorosa da realidade histórica de Jesus. 
Reunindo evidências de dentro e fora da Bíblia, 
Ehrman abordou os principais problemas que 
envolvem a historicidade de Jesus e confrontou 
com veemência o que chamou de argumentos 
míticos sobre o assunto.
Pitágoras de Samos (570-
490 a.C.) foi um dos grandes 
matemáticos e filósofos pré-
socráticos da Grécia antiga. 
A ele foi atribuída a criação 
e uso dos termos “filósofo” e 
“matemática”. Fundou a Escola 
Pitagórica, a qual tinha um 
caráter místico-filosófico, e criou 
o “Teorema de Pitágoras”, ao 
observar as pirâmides do Egito.
 Voltando a falar de Bertrand Russell, é
curioso que o aclamado filósofo do ceticismo 
não apenas duvidou que Jesus houvesse 
existido, mas também sugeriu alguém mais 
apropriado para ocupar o lugar Dele na história: 
Pitágoras. Nas palavras de Russell: “Pitágoras 
foi, intelectualmente falando, um dos homens 
mais importantes e influentes da história.”3
 O entusiasmo de Russell chega a tal ponto 
que ele diz que, tanto em sua sabedoria quanto 
em sua tolice, Pitágoras [e não Jesus Cristo] 
mereceria a atenção do homem moderno.4 E 
Russell não estava sozinho, muitos eruditos 
de seu tempo acreditavam que Pitágoras foi 
Pitágoras existiu?
 Diferente do que as investigações 
históricas revelaram sobre Jesus, uma 
considerável parte dos acadêmicos nutre 
sérias dúvidas quanto à existência histórica 
de Pitágoras. A ideia dominante, mesmo entre 
aqueles que o apontam como um personagem 
que realmente existiu no passado, é a de que 
esse filósofo fora apenas o criador de uma seita 
no sul da Itália que especulava sobre a mística 
dos números, mas que nunca apresentou uma 
descrição científica da realidade.
 É hora de honestamente se perguntar 
que critérios Russell usava para negar a 
historicidade e genialidade de Jesus Cristo ao 
mesmo tempo que enaltecia a figura lendária 
do pensador grego. Seria um arrazoado lógico 
ou puro preconceito?
 Amenizando a questão, o físico Marcelo 
Gleiser, que também é ateu, escreveu um 
comentário citando parte de seu livro A Dança 
do Universo, no qual afirma que a lenda [sic] 
e o suposto legado de Pitágoras podem ser 
resolvidos da seguinte maneira: “O poder 
de um mito não está em ele ser falso ou 
verdadeiro, mas em ser efetivo. Não é tão 
importante se foi ou não Pitágoras o criador 
dessa relação entre os números e a natureza. 
O mito inspirou grandes pensadores, de 
Copérnico e Kepler a Einstein. E influencia, até 
hoje, na busca por uma descrição unificada da 
realidade física baseada na geometria.”5
Teorema x evangelho
 Existe uma grande diferença racional entre 
a proposta cristã e algumas proposições do 
ceticismo. Segundo o arrazoado de Gleiser, 
não há problemas em basear a geometria e 
a ciência moderna num mito ou numa figura 
lendária, mas isso não vale para a racionalidade 
do cristianismo. Se Jesus não existiu ou se Ele 
Estudandojuntos
Introdução
o primeiro a desenvolver a noção de que os 
números são a essência da realidade. Assim, 
se quisermos compreender a estrutura da 
natureza e o funcionamento das coisas, basta 
explorarmos as relações entre os números. Ou 
seja, a Pitágoras é atribuído o título de “pai 
da ciência”. O único problema é que quase 
certamente nada disso é verdade.
VIDEOAULA
2928
 1 James Allan Francis, The Real Jesus and Other Sermons (Filadélfia, PA: Judson Press, 1926), p. 123, 
124.
2 Bertrand Russell, Why I Am Not a Christian (Londres: Routledge, 1957), p. 16.
3 Bertrand Russell, A History of Western Philosophy (Nova York: Simon & Schuster, 2007), p. 29.
4 Russell, A History of Western Philosophy, p. 29.
5 Marcelo Gleiser, O Mito Pitagórico, disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/
fe2707200804.htm>, acesso em 21 de maio de 2020.
6 John Stuart Mill, Essays on Nature: The Utility of Religion and Theism (Londres: Longmans, 1874), p. 114
7 C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, 3ª ed. (São Paulo: Martins Fontes, 2009), p. 69, 70.
Referências
Não adianta dizer que Cristo, conforme 
retratado nos evangelhos, não foi 
um personagem histórico e que não 
sabemos o quanto do que é admirável 
a respeito Dele foi sobreposto pela 
tradição de Seus seguidores. […] 
Afinal, quem dentre Seus discípulos, 
ou dentre Seus prosélitos, seria capaz 
de inventar os ditos atribuídos a Jesus 
ou de imaginar a vida e o caráter 
revelados nos evangelhos? Certamente 
não foram os pescadores da Galileia; 
certamente não foi o apóstolo Paulo, 
cujo caráter e idiossincrasias eram de 
um tipo totalmente diferente; menos 
ainda os primeiros escritores cristãos, 
nos quais nada é mais evidente do que 
o bem que havia neles. Tudo derivou, 
como eles sempre professaram que foi 
derivado, a partir de uma fonte superior.6
 Vale a pena completar essa ideia com o 
pensamento de C. S. Lewis, um ex-ateu que 
expressou esse conceito de maneira mais 
poética: “Seria preciso alguém maior do que 
Jesus para inventar Jesus. A causa sempre será 
maior do que o efeito.” Em outras palavras, se 
Cristo não existiu, devemos descobrir qual foi 
Estou tentando impedir que alguém 
repita a rematada tolice dita por muitos 
a Seu respeito: “Estou disposto a aceitar 
Jesus como um grande mestre da moral, 
mas não aceito a Sua afirmação de ser 
Deus.” Essa é a única coisa que não 
devemos dizer. Um homem que fosse 
somente um homem e dissesse as coisas 
que Jesus disse não seria um grande 
mestre da moral. Seria um lunático – no 
mesmo grau de alguém que pretendesse 
ser um ovo cozido – ou então o diabo 
em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse 
homem era, e é, o Filho de Deus, ou não 
passa de um louco ou coisa pior. Você 
pode querer calá-Lo por ser um louco, 
pode cuspir Nele e matá-Lo como a 
um demônio; ou pode prosternar-se a 
Seus pés e chamá-Lo de Senhor e Deus. 
Mas que ninguém venha, com paternal 
 Neste ponto, é importante dizer que há 
uma considerável lista de autores não cristãos 
que jamais esconderam sua admiração por 
Jesus Cristo. São nomes de peso como Ernest 
Renan, Lord Byron, Rousseau, Spinoza e Geza 
Vermes. Mesmo sem acreditar que Jesus seja 
Deus ou o Messias, ainda assim demonstram-se 
fascinados pela vida e pelos ensinos Dele.
Evidências do Jesus histórico
 Alguns poderiam supor que o Jesus dos 
evangelhos nunca existiu, mas que foi fabricado 
pela Teologia. Isso, contudo, não faz o menor 
sentido por várias razões:
• O estilo literário escolhido para escrever a 
trajetória de Jesus não é o de uma lenda ou 
biografia de propaganda. Não é à toa que 
os autores bíblicos usam o termo técnico 
“evangelho”, ou euangelion em grego, que quer 
dizer “boa-nova” oficial, histórica real, como 
aquela que marcou o nascimento de Augusto 
César, conforme foi destacado no calendário de 
Priene.
• Os discípulos judeus jamais estariam 
predispostos a criar um ser humano divino. 
Isso iria contra sua identidade cultural. A 
encarnação do Filho de Deus chocou a tradição 
judaica e, como acentuamos antes, aqueles 
pescadores rudes da Galileia não tinham 
conhecimento formal de mitologia grega 
para criar um personagem, meio judeu meio 
helênico, que pudesse ser ao mesmo tempo 
humano e divino.
• O quadro de um Jesus que tomou crianças 
ao colo, perdoou uma mulher acusada de 
adultério, confortou outra que não tinha marido 
e ensinou a amar os inimigos pode parecer 
politicamente correto para os moldes de hoje, 
mas não eram para a sociedade daquela época.
• A agonia de Jesus no horto, admitindo que 
temia a morte, o vexame da cruz e o abandono 
diante dos inimigos não parecem em nada com 
a construção de um herói aos moldes do gosto 
Pergunta
 
Se o Jesus narrado nos evangelhos não 
existiu, então, como disse o apóstolo 
Paulo, somos os mais infelizes de toda 
a humanidade (1 Coríntios 15:19). Em 
sua opinião, por que Jesus desperta 
essa admiração? Em que ela está 
fundamentada?
não foi aquilo que os evangelhos disseram, 
então tudo que se relaciona com a fé cristã 
ficaria sem sentido. Em outras palavras, o 
teorema de Pitágoras sobrevive sem Pitágoras, 
mas o evangelho não sobrevive sem 
Jesus Cristo.
 Não basta dizer que Jesus existiu. É 
preciso considerar também se Ele realmente 
foi como a Bíblia O descreve. Quanto a isso, 
podemos citar a conclusão de outro cético 
que, aliás, foi o mentor intelectual de muitas 
ideias de Bertrand Russell. Trata-se de John 
Stuart Mill, um dos mais influentes pensadores 
e economistas britânicos do século 19. Mill teve 
uma compreensão diametralmente oposta à de 
seu pupilo. Ele afirmou que Jesus era a maior 
prova de Sua existência. Confuso? Nem tanto. O 
que Mill queria dizer é que, se Jesus Cristo não 
existisse, nem os discípulos nem nós teríamos 
condições de inventar um personagem assim.
 Em seu livro Natureza: A Utilidade da 
Religião e Teísmo encontramos a seguinte nota 
a respeito de Jesus Cristo:
popular. Ou os evangelistas eram péssimos em 
marketing, ou descreveram a história como ela 
realmente aconteceu: “Escândalo para os judeus, 
loucura para os gentios” (1 Coríntios 1:23).
a mente que O criou, pois certamente merece 
nossa devoção mais do que qualquer outro 
gênio da humanidade.
Louco, mentiroso ou divino?
 Jesus fez afirmações muito sérias 
a respeito de Si mesmo, as quais não 
podem passar despercebidas. Ele assumiu 
prerrogativas dignas apenas de um Deus: 
perdoou pecados; declarou ser o caminho, a 
verdade e a vida; o único acesso a Deus Pai. 
Ou seja, Ele foi o único homem que, em sã 
consciência, reivindicou ser Deus. Existem 
apenas três alternativas para definir um sujeito 
assim: louco, mentiroso ou divino. Nos dois 
primeiros casos, seria um dever desmenti-lo; no 
último, uma afronta não adorá-lo. C. S. Lewis, 
em sua obra Cristianismo Puro e 
Simples, escreveu:
condescendência, dizer que Ele não 
passava de um grande mestre humano. 
Ele não nos deixou essa opção, e não quis 
deixá-la. […] Agora, parece-me óbvio 
que Ele não era nem um lunático nem 
um demônio, consequentemente, por 
mais estranho, assustador e inacreditável 
que possa parecer, tenho que aceitar 
a ideia de que Ele era e é Deus.7
Boa pergunta 
Agora é você quem faz as perguntas!
Pare para pensar e formule as próprias 
perguntas sobre essa parte do estudo.
 Jesus de Nazaré teve mais impacto na 
história do mundo do que qualquer outa 
pessoa que tenha caminhado sobre a face 
da Terra. Num livro publicado em 2013 pela 
Universidade de Cambridge, Steven Skiena, 
professor de Ciência da Computação na Stony 
Brook University, e Charles B. Ward, engenheiro 
da equipe de classificação do Google, 
criaram um complexo programa de cálculos e 
algoritmos. Após avaliarem mais de 800 mil 
nomes, concluíram com ajuda de computadores 
que Jesus é, com efeito, o personagem mais 
influente da história humana.
 Ora, se intelectuais ateus aplaudem 
Pitágoras pelo efeito de suas ideias, deveriam 
fazer muito mais por Jesus, poiso efeito da 
vida Dele é maior do que qualquer teorema 
postulado por um obscuro filósofo do 
passado. Jesus é grande demais para passar 
despercebido. Pense nisso!
Conclusão
31
LIÇÃO 6
Ressurreição de 
Cristo: Mito ou 
Realidade?
Introdução
Estudando juntos
 Em 2009, um fato curioso foi notícia em 
João Pessoa, Paraíba. Uma aposentada de 66 
anos havia falecido, mas os filhos esperaram 
três dias para sepultar a mãe, porque ela 
dissera que ressuscitaria. Como a mulher era 
muito religiosa, o fato não demorou para atrair 
uma multidão de curiosos e, pasmem, crentes. 
Sim, havia algumas pessoas que pensaram 
que ela realmente pudesse ressuscitar. Até 
afirmaram que, mesmo após três dias do óbito, 
o corpo não enrijeceu nem cheirou mal.
 É óbvio que a suposta ressurreição 
não aconteceu, e a religiosa acabou sendo 
sepultada como todo mundo. Também é 
fato que, numa comunidade de cristãos com 
maior escolaridade, dificilmente haveria gente 
disposta a acreditar que aquela senhora 
realmente ressuscitaria – embora, a rigor, 
os números nos revelem que pessoas não 
religiosas tendem a ser quatro vezes mais 
 Uma pesquisa feita pelo sociólogo Jeffrey 
Haddan com 7.400 ministros protestantes 
revelou que de 13 a 51% dos entrevistados, 
dependendo da filiação religiosa, afirmavam 
não acreditar mais na ressurreição física de 
Jesus. Isso se torna curioso ao nos depararmos 
com um número considerável de pessoas não 
religiosas dispostas a acreditar naquilo que 
teólogos tentam desmentir.
 No caso do Reino Unido, por exemplo, 
enquanto 25% dos religiosos adultos diziam 
não acreditar na ressurreição de Cristo, 9% dos 
que se autodenominavam descrentes 
Pergunta
A maior parte das pessoas religiosas, 
independentemente de sua tradição, 
não acredita que suas crenças são 
invalidadas porque o fundador de 
sua religião morreu e não ressuscitou. 
Como, então, podemos entender a 
afirmação de Paulo em 1 Coríntios 
15:14? Quais são as consequências para 
o cristianismo ao se negar a 
ressurreição de Jesus?
Descrentes da ressurreição
 As objeções não vêm de hoje. Aulo 
Cornélio Celso, enciclopedista médico do 2º 
século, ridicularizou a ressurreição no livro 
A Verdadeira Doutrina. Porfírio, que viveu no 
3º século, escarnecia dos evangelhos e, em 
especial, da ressurreição. Caminhando para a 
Idade Moderna, deparamo-nos com o ceticismo 
de Baruch Spinoza, que viveu no século 17, e 
David Hume, que viveu no século 18. Ambos 
desacreditaram a possibilidade de haver 
milagres, sendo Hume o mais contundente. Em 
síntese, ele dizia que milagres não podem ser 
críveis porque, além de ferir as leis naturais, 
são acontecimentos isolados e raros. Se fossem 
verdadeiros, deveriam se repetir mais vezes ou 
até mesmo serem comuns como o raiar de 
um dia.
supersticiosas que os frequentadores 
de igrejas.
 O ponto que abre nosso diálogo é a 
legítima pergunta que se faz diante de uma 
história como essa. Por que seria ingênuo 
crer naquela senhora, sendo que nossa fé é 
baseada nas palavras de um camponês da 
Galileia que disse que ressuscitaria? E existe 
um agravante: não há ninguém vivo para 
confirmar a veracidade do relato ocorrido 
há quase 2 mil anos.
supunham que algo realmente estranho 
aconteceu naquela manhã de domingo (1% 
dos céticos chegou a dizer que achavam 
perfeitamente possível supor que Jesus 
ressuscitou literalmente dentre os mortos).
 É verdade que houve teólogos renomados 
como Friedrich Schleiermacher, Otto Pfleiderer 
e Rudolf Bultmann que empreenderam a 
construção de uma teologia cristã sem a crença 
na ressurreição corpórea de Cristo. Contudo, 
é impossível harmonizar sua proposta com a 
kerygma, isto é, o anúncio que encontramos 
no Novo Testamento. O apóstolo Paulo 
foi consistente em dizer: “E, se Cristo não 
ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como 
também é inútil a fé que vocês têm” (1 Coríntios 
15:14, NVI).
VIDEOAULA
3332
 Devemos dizer, de modo simples, que a 
conclusão de Hume sobre “ferir as leis naturais” 
resultava da ideia de um Universo mecânico 
com leis que valiam para qualquer parte do 
cosmos, o Universo de Aristóteles e Newton. 
Hoje sabemos que não é bem assim. A física 
quântica, por exemplo, revelou a existência de 
leis que colocam até o Universo de Einstein de 
cabeça para baixo. Ou seja, Deus não precisaria 
necessariamente quebrar leis para realizar um 
milagre. Bastaria usar leis desconhecidas 
por nós.
 Sabemos também que a afirmação de 
que os milagres são recusáveis por serem 
ocorrências únicas não faz sentido, pois, se 
assim fosse, nenhum físico poderia aceitar a 
teoria do Big Bang. Afinal, os que apresentam 
essa teoria como uma explicação para a origem 
do Universo dizem que tudo começou com um 
evento único e extraordinário. Do nada, tudo 
surgiu de repente. Isso teria acontecido numa 
explosão que durou apenas 1 tempo de Plank, 
o que equivale a 1 segundo dividido por 10 
elevado a 43. Quer milagre maior do que esse? 
E ele não se repete no dia a dia.
David Hume (1711-
1776) foi um filósofo, 
historiador e ensaísta 
britânico nascido 
na Escócia que se 
tornou célebre por seu 
empirismo radical e 
ceticismo filosófico.
Probabilidade da ressurreição de Jesus
 Quais seriam as evidências que apontam 
para a veracidade da ressurreição de Jesus? 
Em primeiro lugar, devemos entender que 
eventos históricos são estudados com métodos 
apropriados à investigação histórica. Eu não 
posso usar exames periciais modernos para 
estudar o assassinato de Júlio César, que 
ocorreu há mais de 2 mil anos. Então esqueça 
essa ideia de DNA, exame de balística ou CSI. 
Fique tranquilo. Isso não significa que estamos 
completamente às cegas em relação ao que 
aconteceu num passado que não temos mais 
acesso. Nenhum pesquisador sério diria isso.
 Existem também alguns fatos que se 
tornaram, se não consenso, pelo menos 
a posição da maioria dos estudiosos e 
historiadores, até mesmo entre aqueles 
que não acreditam em Deus e Jesus Cristo. 
Os fatos são os seguintes: Jesus realmente 
existiu, foi condenado por Pôncio Pilatos e 
morreu crucificado, deixando Seu túmulo 
misteriosamente vazio. Isso, repito, é quase um 
consenso na academia.
 Há várias fontes não cristãs da antiguidade 
que atestam a historicidade de Jesus: Flávio 
Josefo, Tácito, Suetônio, Luciano de Samósata, 
Plínio, o Moço, e o Talmude. Além disso, a 
arqueologia confirma a existência de lugares e 
até mesmo pessoas mencionadas no processo 
dirigido contra Jesus, tais como: Pilatos, Simão 
Cireneu, Herodes Antipas e Caifás.
Pergunta 
Pense no episódio em que Pilatos 
perguntou a Jesus: “Que é a verdade? 
Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes 
disse: Eu não acho Nele crime algum” 
(João 18:38). Ou seja, Pilatos não esperou 
a resposta de Jesus. O que você acha 
que poderia ter acontecido na vida de 
Pilatos se ele tivesse parado para ouvir? 
O que teria dito Jesus? Quais são as 
implicações para os que se negam a 
compreender a verdade?
 A outra questão a ser considerada é o 
que os historiadores chamariam de “atestação 
múltipla”. O evento é testemunhado por 
fontes independentes? Esse conceito 
seria mais ou menos assim: se pessoas em 
situações diferentes confirmam o mesmo 
evento, a chance de ele ter ocorrido aumenta 
exponencialmente. Veja, não se trata de dizer 
que mula sem cabeça é real porque pessoas 
que nem se conhecem falam a respeito dela. O 
critério é mais técnico do que isso.
 Também não é o caso de se esperar 
uma enxurrada de documentos que falem 
de Jesus. A difícil circulação de livros – que 
eram artigos de luxo no 1º século – somada à 
série de incêndios que destruíram importantes 
bibliotecas (Cartago, Jerusalém, Roma e 
Alexandria) fizeram com que muitas coisas 
se perdessem, principalmente documentos 
escritos. Hoje, historiadores e arqueólogos 
trabalham, em alguns casos, com fragmentos 
de história.
 Ao aplicarmos o princípio da “atestação 
múltipla”à Bíblia Sagrada, devemos considerar 
o fato de que existem três sinóticos, o 
evangelho de João, as epístolas paulinas e as 
gerais narrando o mesmo evento a partir de 
fontes independentes. O próprio fato de haver 
pequenas incongruências nos relatos bíblicos, 
diferente do que se possa imaginar, é 
algo positivo.
 Pergunte a um bom jurista como funciona 
a psicologia do testemunho. Ele lhe explicará 
algo mais ou menos assim: é possível que duas 
testemunhas falem a verdade e ainda assim 
divirjam entre si – as culturas e conceitos 
pessoais são agregados à pessoa. Toda 
testemunha capta apenas parcialmente o 
Depoimento de Flávio Josefo
 Alguém pode dizer que isso é pouco. E 
fora do cristianismo? Alguma fonte mencionou 
a ressurreição de Jesus? Bem, do grupo de 
autores não cristãos que mencionei acima, 
quero destacar o depoimento de Flávio 
Josefo, um autor judeu que tinha cidadania 
romana. Além de confirmar a existência de 
Jesus e a veracidade da morte Dele, Josefo 
disse que, segundo relatos da época, Jesus 
havia aparecido vivo aos apóstolos, que nunca 
mudaram sua versão dos fatos.
 O depoimento de Josefo é tão forte que 
alguns julgaram ser bom demais para ser 
verdade. Disseram que se tratava de uma 
interpolação feita por algum escriba cristão. 
Contudo, o texto em questão aparece com 
pequenas variantes em todas as cópias 
manuscritas que temos de Josefo, inclusive 
numa tradução feita para o árabe. Sua 
fraseologia e escrita também estão de acordo 
com o estilo literário encontrado nos textos 
do autor.
Resultados do evento
 Outra coisa que devemos levar em conta é 
o resultado de um evento. Como um físico diz 
saber que o Big Bang aconteceu se ninguém 
estava lá para testemunhá-lo? Com base nos 
resultados que vemos no Universo observável. 
Seria como encontrar um cachorrinho com 
medo de tudo e concluir que ele certamente 
sofreu algum trauma que explicaria 
seu comportamento.
 Pequenos eventos podem ou não resultar 
em grandes consequências – como uma bituca 
de cigarro que provoca um incêndio. Grandes 
eventos, porém, inevitavelmente causarão 
grandes resultados. A explosão dos aviões 
no World Trade Center trouxe consequências 
não somente para os Estados Unidos, mas 
também para o restante do mundo. Assim, 
se a ressurreição de fato aconteceu, esse foi 
um evento extraordinário. Isso justificaria 
a mudança de pensamento num grupo de 
judeus e sua respectiva coragem de morrer 
afirmando que Jesus ressuscitou. Mais ainda, o 
surgimento do cristianismo se torna claramente 
compreensível. Esse seria um resultado 
esperável depois de uma experiência como a 
de ver Jesus ressuscitado.
fato (o cérebro seleciona as informações 
ocorridas). Não existem depoimentos 
idênticos. Testemunhos iguais revelam que as 
testemunhas foram orientadas – a prova não 
é segura para lastrear a decisão, o que não 
demonstra que seja mentirosa.
 Logo, o fato de um evangelista narrar 
que as mulheres viram dois anjos e outro 
evangelista afirmar que elas viram apenas um, 
tudo isso, matizado com elementos centrais 
para os quais não há contradição (o dia do fato, 
a hora aproximada, o local, os que estavam 
presentes), mostra que os depoimentos 
foram espontâneos e não orientados. Aliás, 
somente o fato de os evangelhos afirmarem 
unanimemente que foram mulheres as 
primeiras pessoas que viram Jesus ressuscitado 
já indica a forma despretensiosa do relato, 
pois o testemunho de mulheres não tinha valor 
social, muito menos jurídico. Eles não teriam 
outra razão para contar o episódio de Maria 
Madalena encontrando-se com Cristo se isso 
não tivesse, de fato, sido assim.
3534
1 A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testament (Oxford: Clarendon Press, 
1963), p. xiii.
Formação de mitos
 Mitos geralmente demoram para se formar 
de maneira sistemática. Alguns estudiosos, por 
exemplo, acreditam que o mito de Hércules 
surgiu da história de algum soberano em Argos 
que foi mitificada possivelmente séculos mais 
tarde. Ou seja, para que um evento histórico 
comum se transforme em mito é preciso 
passar um tempo considerável, a fim de que 
se consolidem o embelezamento do fato e a 
transmissão oral. Isso permite que as possíveis 
testemunhas não estejam mais vivas para 
desmentir os exageros.
 O historiador A. N. Sherwin-White 
argumenta – baseado nos estudos que fez 
em Homero – que por mais forte que seja 
a tendência de se produzir um mito, sua 
formação não é automática. Para o historiador, 
“a passagem de duas gerações ainda não é 
o bastante para fazer com que uma lenda se 
espalhe e passe a ser vista como 
verdade histórica”.1
 Ora, os mais antigos relatos da ressurreição 
de Cristo vêm das cartas de Paulo, que datam 
apenas 20 anos após a morte de Jesus. Esse 
é um tempo muito reduzido para se produzir 
um mito. Paulo ainda sugeriu um exercício 
de investigação a quem quisesse se certificar 
dos fatos. Bastava perguntar a mais de 500 
testemunhas que ainda estavam vivas 
(1 Coríntios 15:6). Nenhum mito é formado 
dessa forma!
Versões alternativas para o túmulo vazio
 Voltando à questão do túmulo vazio, 
um dado pacificamente aceito no mundo 
acadêmico, chama-nos a atenção o fato de 
que teólogos e historiadores europeus, não 
aceitando que Jesus realmente houvesse 
ressuscitado, sentiram-se na obrigação de 
apresentar uma versão alternativa para o que 
teria acontecido e o que justificaria o túmulo 
vazio e a reação dos discípulos.
 Hermann Samuel Reimarus disse que os 
discípulos, para manter o status que tinham 
como pregadores, roubaram o corpo e 
espalharam o boato da ressurreição. Friedrich 
Schleiermacher aprovou a teoria do desmaio, 
assumindo a visão de que Jesus nunca 
morreu na cruz. David Strauss e Ernest Renan 
disseram que as aparições de Cristo eram 
“visões subjetivas” (alucinações) da mente dos 
discípulos por causa da angústia que sentiram 
em virtude da morte do Mestre. Não eram 
charlatões, mas visionários ingênuos. Rudolf 
Bultmann disse que a ressurreição era simbólica 
e que Jesus revivera na pregação 
dos apóstolos.
 Enfim, são muitas propostas, e algumas 
até mesmo hilárias. Uma delas supunha que os 
discípulos foram ao túmulo errado; outra afirma 
que Jesus tinha um irmão gêmeo que morreu 
em Seu lugar e, quando este apareceu, julgaram 
que houvesse ressuscitado. E tudo isso foi dito 
na academia!
 O mais interessante é que essas versões 
alternativas propostas por estudiosos liberais 
provaram ser refutações umas das outras. 
Eram hipóteses competitivas. Schleiermacher 
e Heinrich Paulus atacaram várias teorias 
da visão subjetiva. Strauss refutou a teoria 
do desmaio com sua análise criteriosa. Até 
mesmo os que defendiam a tese da lenda, 
como Otto Pfleiderer, admitiram que não 
poderiam explicar completamente os dados da 
ressurreição de Jesus.
 Com base nisso, voltamos à proposta de 
Hume. Ele dizia que, quando duas ou mais 
hipóteses concorrem para a explicação de um 
evento, devemos procurar a mais lógica. E ele 
está certo, não em suas conclusões, mas no 
método proposto. Podemos ainda acrescentar 
a esse conceito uma fala do famoso detetive 
Sherlock Holmes, personagem de Arthur Conan 
Doyle: “Uma vez eliminado o impossível, o 
que restar, não importa o quão improvável 
seja, deve ser a verdade.” Em outras palavras, 
considerando que os próprios críticos se 
refutam entre si, percebemos que a versão 
bíblica da ressurreição ainda é a mais plausível 
e harmônica com todos os fatos que dispomos.
 Isso é tão verdade que o rabino Pinchas 
Lapide e o filósofo Antony Flew, dois 
respeitadíssimos intelectuais da academia, 
foram confrontados com alguns argumentos 
que você leu neste estudo e mudaram de 
opinião, passando a acreditar na historicidade 
da ressurreição de Jesus. Lapide, diga-se de 
passagem, nunca se tornou cristão; e Flew, 
apesar de renegar o ateísmo, não se filiou 
formalmente a nenhuma igreja. A conclusão de 
ambos se deu

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