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Filosofia-da-Ciência

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA DA CIÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 
2 FILOSOFIA: NOCOILOSOFIA: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ................................ 5 
2.1 Relações entre a ciência e a filosofia .................................................................... 7 
3 A FILOSOFIA DA CIÊNCIA................................................................................... 10 
3.1 O que é que é filosofia da ciência? ...................................................................... 11 
3.2 Relação entre filosofia e ciência .......................................................................... 12 
3.3 Diferenças e semelhanças entre filosofia e ciência ............................................. 12 
3.4 Contribuições da filosofia para a ciência ............................................................. 13 
4 A FILOSOFIA E A CIÊNCIA NO MUNDO MODERNO ......................................... 14 
4.1 A matematização e a mecanização da Natureza nos pensadores da Ciência 
Moderna: Kepler, Galileu e Newton ........................................................................... 20 
4.2 O discurso de posse da Natureza:as filosofias de Francis Bacon e René 
Descartes...... ............................................................................................................ 24 
5 AS CORRENTES FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS ..................................... 29 
5.1 Filosofia contemporânea: apresentando seus pensadores ................................. 31 
5.2 Filosofia contemporânea: uma crítica social ........................................................ 34 
5.3 Filosofia contemporânea: as interferências sociais e políticas ............................ 36 
6 TEORIA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO ........................................................ 40 
6.1 Filosofia, a Ideologia e a Metodologia ................................................................. 41 
6.2 A Teoria do Conhecimento, a Epistemologia e a Metodologia ............................ 42 
7 PLATÃO, AS IDEIAS E O REALISMO ARISTOTÉLICO ....................................... 50 
7.1 Reflexões filosóficas associadas ao pensamento grego clássico ........................ 50 
7.2 O pensamento de Platão e Aristóteles ................................................................ 53 
7.3 Teorias do conhecimento de Platão e Aristóteles ................................................ 55 
8 A TEORIA DO CONHECIMENTO NA ESTRUTURA SISTÊMICA DA FILOSOFIA E 
ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS ........................................................................ 58 
 
3 
 
8.1 Elementos sobre a cientificidade da história no século XIX ................................. 61 
8.2 Auguste Comte e a Cientificidade da História ..................................................... 63 
9 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ..................................................................... 65 
9.1 Características do conhecimento científico ......................................................... 66 
9.2 Alguns aspectos sobre a produção do conhecimento e do saber histórico ......... 67 
9.3 Construindo o conceito de historicidade .............................................................. 71 
10 Referências ........................................................................................................... 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 FILOSOFIA: NOCOILOSOFIA: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
Embora aparentemente simples, as questões do que é e para que serve a 
filosofia estão entre as que mais dificuldades e divergências causam entre os filósofos. 
Esse mero fato, porém, já indica algo importante sobre a natureza da filosofia: o 
questionamento sistemático, incessante e profundo de tudo o que se afirma. 
É comum caracterizar-se a filosofia como aquilo que fazem os grandes 
filósofos: Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Descartes, Locke, Hume, Kant, entre 
tantos outros. Embora pareça circular, essa definição também ajuda a delinear o 
domínio dessa disciplina, desde, é claro, que se estudem as obras desses homens. 
Quando fazemos isso damo-nos conta de que existe uma ampla variação nos 
problemas, teses e métodos que se consideram pertinentes à filosofia. 
Voltando às origens da filosofia na Grécia Antiga, notamos que, pela própria 
etimologia do termo, a filosofia era entendida como o amor ao saber, ou a busca da 
verdade. Naquela época e, em certa medida, por muitos séculos da era cristã, a 
filosofia englobava todos os ramos do conhecimento puro (em contraste com as artes 
e ofícios). Só gradualmente é que alguns deles foram se tornando autônomos, como 
a matemática, a astronomia, a história, a biologia, a física. Em particular, a distinção 
entre filosofia e ciência é bem recente, esboçando-se no início do período moderno, 
no século XVI, e acentuando-se nos séculos seguintes. Baschet (2006). 
Hoje em dia costuma-se considerar pertencentes ao tronco principal da filosofia 
as disciplinas da estética, lógica, ética, epistemologia e metafísica, sendo que as duas 
primeiras mostram tendência à autonomização. De forma muitíssimo simplificada, 
pode-se dizer que a estética examina abstratamente a beleza e a feiura; a lógica 
investiga o encadeamento formal das proposições; a ética estuda questões relativas 
ao bem e ao mal, aos direitos e deveres; a epistemologia ocupa-se do conhecimento, 
suas origens, fundamentos e limites, enquanto que a metafísica procura especular 
sobre a natureza última das coisas. Fora esses ramos fundamentais, há ainda 
diversos outros que resultam de suas interconexões e especializações, como por 
exemplo a filosofia política, a filosofia da linguagem, a filosofia da ciência, a teologia. 
Uma das principais correntes filosóficas contemporâneas propõe que a filosofia 
não deve ser entendida como a formulação ou defesa de teses ou conjuntos de teses 
sobre o que quer que seja, mas simplesmente como o desenvolvimento de métodos 
 
6 
 
de análise crítica e sistemática, a serem aplicados especialmente ao chamado 
conhecimento científico. Nessa perspectiva, o filósofo seria alguém que tenta explicitar 
os conceitos, os pressupostos, a estrutura lógica e as implicações das teorias 
científicas, políticas, religiosas, etc. Semelhante atitude crítica, mas não de uma crítica 
leviana, estouvada ou interesseira seria a essência da filosofia, o elemento comum 
que permearia a grande variedade de linhas filosóficas já concebidas. Baschet (2006). 
Embora quando se olhe para as abstrações e sutilezas tipicamente discutidas 
pelos filósofos se possa concluir que a filosofia para nada serve e não poucos filósofos 
concordariamcom isso, a referida proposta talvez permita encontrar, num plano 
seguramente afastado do das necessidades materiais cotidianas, uma finalidade útil 
para a filosofia: a clarificação das bases, métodos e implicações das ciências e de 
outras disciplinas intelectuais, contribuindo-se assim para a identificação de 
fundamentos falsos ou inseguros, de falácias argumentativas, de dogmas encobertos. 
Ensinando, ou pelo menos convidando, o homem a refletir criticamente sobre 
tudo o que se afirma ou faz em todos os setores, a filosofia de alguma forma auxilia o 
aprimoramento de seu intelecto e, talvez, de seus sentimentos, que o diferenciam de 
um mero animal que come, bebe, dorme e se reproduz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.dinizbioetica.com.br 
 
7 
 
2.1 Relações entre a ciência e a filosofia 
Em 1952, o filósofo da ciência Karl Popper (1902-1994) publicou um artigo 
intitulado “A natureza dos problemas filosóficos e suas raízes na ciência”. A tese 
principal do artigo é, como indica o título, a de que os mais importantes problemas 
filosóficos, em toda a longa história da filosofia, foram motivados por preocupações 
ligadas à ciência (incluindo-se a matemática). Popper tinha um alvo claro no texto: 
uma certa vertente filosófica que prosperou principalmente no século XIX, mas que 
subsiste até hoje, especialmente fora do mundo anglo-saxão, e que se caracteriza, 
entre outros pontos, por conceber um abismo profundo entre a filosofia e a ciência, 
com total despreocupação com aquilo que fica “do outro lado”. 
Seria quase desnecessário lembrar que, desde a sua origem, o homem sempre 
cuidou de obter conhecimento sobre os objetos que o cercam, pois disso depende sua 
sobrevivência. Tal conhecimento histórica e biologicamente primitivo é, pois, antes de 
tudo um saber como, um conhecimento motivado por algo externo à atividade 
cognitiva propriamente dita: a necessidade de controle dos fenômenos naturais. 
A Grécia Antiga testemunhou, no entanto, o surgimento de uma perspectiva 
cognitiva nova: a busca do conhecimento pelo próprio conhecimento, por mera 
curiosidade intelectual. Aqueles que cultivavam essa busca do saber pelo saber foram 
chamados filósofos (traduzindo, “os que amam ou buscam a sabedoria”). Um dos mais 
importantes desses homens – talvez mesmo o mais importante deles –, Aristóteles (c. 
384-322 a.C.), abre uma de suas obras fundamentais, a Metafísica, justamente com 
a afirmação de que “por natureza, todo homem deseja conhecer” (livro I, cap. 1). Em 
seguida traça, em um texto que cativa tanto por sua eloquência como por sua precisão 
analítica, a distinção entre três tipos de saber, ou talvez de etapas na busca do saber. 
Adaptando um pouco a terminologia, temos: 
(i) Conhecimento por experiência sensorial direta. Restringe-se aos objetos e 
eventos individuais, e informa simplesmente acerca do que é. 
(ii) Conhecimento técnico. Engloba leis gerais, mas dirige-se apenas à questão 
de como é. Basta, pelo menos num primeiro momento, para dirigir nossas ações. 
(iii) Conhecimento teórico. Também de tipo geral, procura responder à questão 
de por que é. Esse é o domínio da ciência propriamente dita, no qual se investigam 
as “causas” e “princípios” dos fenômenos. 
 
8 
 
Vale a pena ver este comentário do próprio Aristóteles: “Aquele que é mais 
exato e mais capaz de ensinar as causas é mais sábio, em todas as áreas do 
conhecimento. E quanto às ciências, igualmente, aquilo que é desejável por si mesmo 
e com vistas apenas ao conhecimento é mais próprio da sabedoria do que aquilo que 
é desejável com vistas aos seus resultados ...” (Metafísica, livro 1, cap. 2, 982a.10). 
Esse cultivo do saber pelo saber talvez seja a principal herança que recebemos dos 
gregos, e um dos traços mais importantes da cultura ocidental. Chegou até nós não 
apenas pela filosofia – hoje um tanto esquecida –, mas principalmente por ter sido 
incorporado ao que hoje chamamos ciência. 
A utilização do termo ‘ciência’ no sentido contemporâneo é bastante recente, 
consolidando-se somente no século XX. Porém, a ciência – neste sentido do termo – 
é mais antiga, remontando mais ou menos ao século XVII. No meio tempo, era 
usualmente denominada filosofia natural. Tal denominação reflete, é claro, a origem 
da ciência naquela busca do saber pelo saber destacada pelos Antigos. Eles não 
distinguiam ciência de filosofia; tudo era filosofia. 
A palavra ‘ciência’, que já existia (em latim scientia; em grego episteme), era 
usada para diferençar o tipo especial de conhecimento a que Aristóteles cantou 
louvores: o conhecimento universal e certo acerca dos fenômenos naturais, dos 
números, das figuras geométricas, etc., buscado sem preocupações práticas. Esse 
ideal de universalidade e certeza foi incorporado às ciências, no sentido 
contemporâneo da palavra, quando começaram a surgir no século XVII. O 
impressionante sucesso explicativo e preditivo das nascentes disciplinas foi atribuído 
a um novo método de investigação, que supostamente aliava a observação cuidadosa 
e, quando possível, controlada dos fenômenos, ao crivo da razão. Baschet (2006). 
No caso mais significativo, a física, a matematização foi também um ingrediente 
importante nesse método. A compreensão precisa do chamado “método científico”, 
das características que distinguiriam as disciplinas científicas das não-científicas, ou 
pseudocientíficas, constituiu, desde então, um dos temas mais polêmicos da filosofia 
da ciência, a área da filosofia que se ocupa da análise do conhecimento científico. 
Há um ponto, porém, que gostaria de ressaltar. É que embora ainda hoje o leigo 
e muitos cientistas continuem a associar a noção de ciência à de certeza e 
infalibilidade, as análises epistemológicas levaram, há muito, os filósofos da ciência a 
reverem essa associação. No âmbito do chamado “empirismo”, o questionamento 
 
9 
 
desse ponto remonta pelo menos a John Locke, no século XVII; no século seguinte, 
foi aprofundado por David Hume, numa famosa crítica cética. 
 Curiosamente, foi apenas no século XX que houve um reconhecimento mais 
geral de que a obtenção de conhecimento universal e certo acerca dos processos 
naturais é um ideal que, depois de dois milênios e meio, deve ser abandonado, por 
inatingível. Perdido esse traço quase que definitório da ciência, ficou ainda mais difícil 
encontrar critérios de demarcação entre ciência e não ciência que sejam de aplicação 
geral. Há hoje diversas propostas em análise, nenhuma isenta de objeções mais ou 
menos graves. Muitos terão, por exemplo, ouvido referências à concepção de ciência 
do já mencionado Karl Popper. Mais, talvez, do que qualquer outro filósofo da ciência 
contemporâneo ele enfatizou o caráter irredutivelmente conjetural de todo o nosso 
conhecimento da matéria. Numa expressão famosa, Popper sugeriu que 
entendêssemos o conhecimento científico não como episteme (que requer certeza), 
mas como doxa (opinião). 
Segundo Popper, as leis e teorias científicas, mesmo as mais bem 
estabelecidas, são sempre hipóteses, inventadas livremente para predizer e explicar 
os fenômenos. O que as tornaria científicas é sua falseabilidade, ou seja, o poderem, 
em princípio, ser refutadas pela experiência. É claro que as teorias de fato aceitas 
num dado momento não podem já ter sido refutadas. Mas é importante que sejam 
refutáveis, pois caso contrário não teriam potenciais pontos de contato com a 
realidade. Silva e Silva (2013). 
O progresso da ciência seria, assim, o resultado de um processo constante de 
conjeturas e refutações, de substituição de hipóteses falseadas por hipóteses 
melhores e não falseadas, porém sempre falseáveis. Embora essa visão da ciência 
aparentemente rompa de forma radical com a noção original, há um elemento 
importante no ideal clássico que Popper procurou preservar e defender, mediante uma 
argumentação cerrada: o realismo. Essa posição filosófica é, emtermos simples, a de 
que, embora falíveis, as teorias científicas devem ser entendidas como tentativas 
sérias, e cada vez melhores, de descrever uma realidade objetiva, ainda quando 
transcenda o nível dos fenômenos, ou seja, aquilo que é diretamente perceptível aos 
sentidos. O empreendimento científico continua, nessa perspectiva realista, dando 
vazão da melhor forma possível ao nosso arraigado desejo de compreender o mundo 
real, de descobrir como e por que funciona. Silva e Silva (2013). 
 
10 
 
A tese popperiana de que a ciência constitui fonte fundamental de problemas 
filosóficos tem uma de suas mais importantes exemplificações justamente na 
discussão acerca do realismo. Essa discussão ou, mais especificamente, a discussão 
do chamado realismo científico – a existência de recursos cognitivos para legitimar as 
teorias científicas quando transcendem o nível da percepção imediata –, ganhou novo 
ímpeto no século XX. Um dos fatores importantes no reavivamento do debate acerca 
dessa forma de realismo foi justamente o surgimento da mecânica quântica. 
 Como muitos sabem, não obstante o impressionante sucesso prático e a 
abrangência dessa teoria, ela apresentou desde o início uma série de características 
teóricas e conceituais que desafiam a intuição física ordinária. Isso levou a sérias 
controvérsias entre os pais da teoria. A maioria deles, sob a liderança de Niels Bohr, 
acabou, de forma sem precedentes na história da ciência, defendendo posições anti-
realistas científicas, como o instrumentalismo, segundo o qual as teorias são meros 
instrumentos de predição dos fenômenos, sem a pretensão de que também 
descrevam a realidade inobservável subjacente aos fenômenos (como os elétrons, os 
vírus, etc.). Erwin Schrödinger e, principalmente, Einstein, opuseram-se a essa 
tendência antirrealistas, oferecendo argumentos importantes para mostrar que as 
referidas características estranhas da mecânica quântica radicam em sua 
incompletude: a teoria não descreveria completamente certas propriedades dos 
objetos físicos. 
3 A FILOSOFIA DA CIÊNCIA 
A filosofia da ciência é o campo de estudos filosóficos focado na compreensão, 
no questionamento e no aprimoramento dos processos e métodos científicos, 
buscando sempre garantir os fundamentos para que o trabalho científico ocorra da 
melhor forma, proporcionando um conhecimento que seja indubitavelmente confiável. 
A filosofia da ciência pode discutir a importância de um método científico 
rigoroso, bem como elaborar conceitos que norteiem a criação desse método. Além 
disso, a filosofia da ciência lida com conceitos importantes para a ciência, como 
verdade, validade argumentativa, paradigma e com a importância da problematização, 
ou seja, do questionamento e da dúvida. 
 
 
11 
 
3.1 O que é que é filosofia da ciência? 
 
O filósofo, lógico e matemático inglês contemporâneo Bertrand Russell afirmou 
que a filosofia é a ciência dos resíduos. Essa afirmação ancora-se no fato de que a 
filosofia, apesar de participar de todo o conhecimento racional no início do 
pensamento ocidental, teve que se contentar (após a revolução científica moderna) 
com proporcionar as bases metodológicas e lógicas para qualquer saber que 
se pretenda racional. Silva e Silva (2013). 
Assim, o conhecimento filosófico tornou-se o conforto racional que cientistas 
buscam para estabelecer suas teorias, sem se esbarrarem em preceitos que poderiam 
deixar seu trabalho sem uma correta fundamentação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A filosofia da ciência busca fundamentar os processos científicos por meio dos conceitos. 
 
Na esteira do que foi dito, a filosofia da ciência (mesmo a filosofia sendo uma 
espécie de “mãe” das ciências) busca a compreensão e o aprimoramento dos métodos 
e dos processos de validação científica. Enquanto a ciência ocupa-se com seu objeto 
específico de estudo, a filosofia ocupa-se com tentar entender se esse objeto é 
corretamente estudado, além de tentar aprimorar os modos do fazer científico, a fim 
de proporcionar à ciência a maior validade racional possível. 
Um dos ramos que ajuda a ciência por meio da filosofia é a epistemologia, que 
busca compreender como o ser humano consegue chegar ao conhecimento. 
https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/conhecimento.htm
 
12 
 
3.2 Relação entre filosofia e ciência 
 
A pergunta “o que é” é antiga e importante para a composição do conhecimento 
filosófico, pois ela busca pela essência de algo, possibilitando assim a enunciação do 
conceito que delimita o que é perguntado. 
Não podemos dizer, a rigor, que a filosofia é uma ciência por diferenças 
existentes entre o método e os objetos de estudo de uma e outra. Enquanto a ciência, 
entendendo-a a partir da concepção moderna, busca conhecer objetos bem 
delimitados (cada ciência responsabiliza-se por conhecer um objeto diferente, por 
exemplo a biologia, que estuda a vida, e a sociologia, que estuda as formações 
sociais), a filosofia é ampla em relação à possibilidade de estudos. Silva e 
Silva (2013). 
A filosofia pode dedicar-se a tentar conhecer absolutamente tudo o que é de 
formação humana ou racional, desde a moral, a ética e a política, até a lógica, os 
fundamentos das ciências, os fundamentos da matemática, as técnicas, as artes etc. 
A filosofia surgiu muito antes das ciências. Enquanto as ciências, como as 
conhecemos hoje, datam do período da Modernidade, mais ou menos no século XVI, 
a filosofia teria surgido no século VI a.C. O que há em comum entre essas duas 
áreas é a busca por um conhecimento que seja válido, racional, que fuja 
do senso comum e que seja passível de validação, seja pela razão (no caso da 
filosofia), seja pelas demonstrações e pesquisas empíricas (no caso da ciência). 
Nessa relação entre as duas áreas do conhecimento, é importante ressaltar 
que a filosofia é uma espécie de “mãe” das ciências, por ser a primeira a questionar o 
conhecimento tradicional e de senso comum em busca de respostas mais racionais. 
 
3.3 Diferenças e semelhanças entre filosofia e ciência 
Por serem áreas distintas do conhecimento, filosofia e ciência possuem suas 
diferenças, porém, não podemos considerá-las como áreas completamente 
antagônicas. Como foi dito, por meio da filosofia, as ciências encontraram caminho 
para formarem-se como uma busca de conhecimento racional, amparando-se na 
necessidade de estabelecer-se algum tipo de validação do que é conhecido. 
A filosofia ampara-se na racionalidade para pautar e validar o produto de seu 
conhecimento, assim como a ciência. No entanto, em relação ao rigor metodológico, 
https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/o-que-filosofia.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/senso-comum.htm
 
13 
 
a ciência vai além. O método científico procura não somente pautar-se na 
racionalidade, como também provar empiricamente, por meio de testes rigorosamente 
controlados, que as suas suspeitas são verdadeiras. Silva e Silva (2013). 
Nesse sentido, enquanto a filosofia lida apenas com conceitos e com 
argumentos, a ciência lida com a prática. Além disso, a filosofia é uma área ampla do 
saber que pode questionar e investigar os mais diversos ramos de nossa sabedoria, 
além de fornecer fundamentos para várias ciências. 
 
3.4 Contribuições da filosofia para a ciência 
 
A filosofia é uma espécie de conhecimento geral e fundamental sobre a 
racionalidade. Ela tenta entender, questionar e fundamentar as mais diversas áreas 
do saber, tanto de maneira ampla e geral quanto de maneira mais específica, 
debruçando-se, às vezes, ao fornecer fundamentos para uma determinada 
ciência. 
As regras, os fundamentos e os conceitos racionalmente organizados de uma 
determinada ciência encontram-se no âmbito da “filosofia” daquela ciência. Por isso 
temos a filosofia da matemática, do direito, da educação, da história, da ciência, entre 
tantas outras “filosofias”. 
Apesar de parecer quea filosofia entra apenas como uma palavra comum 
deslocada de seu sentido original para designar os fundamentos encontrados por 
aquela ciência, há o trabalho de filósofos (não necessariamente com graduação em 
filosofia) que se dedicam a buscar as mais profundas raízes teóricas que amparam a 
constituição dessas ciências. 
Além do que foi apresentado, a filosofia busca compreender processos 
gerais do conhecimento e do raciocínio, formulando uma espécie de teoria do 
conhecimento (também conhecida como epistemologia). A epistemologia busca 
compreender os traços que demonstram os modos como o conhecimento ocorre na 
formação da mente humana. Silva e Silva (2013). 
De Platão aos filósofos contemporâneos, várias teorias epistemológicas foram 
formuladas. Podemos destacar as teorias modernas, que se centraram em tentar 
entender se o conhecimento ocorre na mente de maneira empírica (por meio da 
experiência prática) ou de maneira completamente cognitiva e racional. O primeiro 
https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/platao.htm
 
14 
 
grupo ficou conhecido como empirista, enquanto o segundo foi chamado 
de racionalista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.mundoeducacao.uol.com.br 
4 A FILOSOFIA E A CIÊNCIA NO MUNDO MODERNO 
A denominada Revolução Científica do século XVII constitui-se em um marco 
histórico caracterizado pela mudança, ocorrida na Europa Ocidental, na maneira de 
se pensar, analisar e representar o mundo natural. Essa Revolução foi descrita e 
explicada de muitas formas, visto que há inúmeras discussões historiográficas que 
alimentam controvérsias no que se refere ao período, às origens, às causas e aos 
resultados por ela alcançados. 
 Partindo desse pressuposto, Koyré (2001) argumenta que, para alguns 
historiadores, a substituição do mundo geocêntrico (ou mesmo antropocêntrico) 
medieval pelo universo heliocêntrico desempenhou um papel fundamental para o 
surgimento da Ciência Moderna; outrossim, outros historiadores acreditam que a 
suposta conversão do espírito humano da teoria para a práxis transformou o homem 
de espectador em proprietário e senhor da Natureza; alguns, por sua vez, levam em 
consideração a substituição do modelo teleológico e organicista do pensamento e da 
explicação pelo modelo mecânico e causal, que culminou na “mecanização da 
https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/racionalismo.htm
 
15 
 
concepção do mundo”; outro grupo de historiadores descreve simplesmente o 
desespero e a confusão trazidos pela “nova filosofia” a um mundo do qual havia 
desaparecido toda coerência; isso porque Deus já não podia ser a explicação para a 
realidade. 
Daí, pois, a validade de tratarmos aqui da historiografia, pois a mesma nos 
permite, por meio daqueles que a escreveram, entender os elementos que constituem 
esse período. Segundo Silva e Silva (2013), a historiografia é uma forma de perceber 
que todo historiador sofre pressões ideológicas, políticas e institucionais; comete erros 
e tem preconceitos. Ou seja, toda palavra utilizada para caracterizar um dado período 
é carregada de significado, já que representa o momento em que foi escrita. 
 A palavra Revolução, por exemplo, pode ser considerada um tanto quanto 
exagerada para alguns “medievalistas”, que não concordam com a conceituação da 
Idade Média como sendo um período de estagnação científica. Esse “milênio 
obscurantista”, atribuído à Idade Média, configura-se em uma ideologia, que Rossi 
(2001) chama de mito, construído pela cultura dos humanistas e pelos pais fundadores 
da Modernidade. Baschet (2006), também afirma que foram os humanistas italianos, 
da segunda metade do século XV, que começaram, como forma de glorificar o seu 
próprio tempo, associar a Idade Média às ideias de barbárie, de obscurantismo, de 
intolerância, de regressão econômica e de desorganização política. E é, assim, que 
se forma a visão de “Idade das Trevas”, que perdura até os nossos dias. Nossa 
intenção não é defender a Idade Média como uma época “luminosa”, de grandes 
progressos. 
 A questão aqui não é a sua reabilitação; o que queremos mostrar é que a 
Revolução Científica merece esse título não pela má reputação da época anterior, 
mas pelos grandes feitos que se realizaram a partir de então. Para Henry (1998), a 
ciência formulada a partir do século XVII foi revolucionária porque, ao contrário da 
estabelecida durante a Idade Média, assemelhou-se à nossa. A Idade Média é, para 
nós, segundo Baschet (2006), um antimundo, anterior à Modernidade; um mundo rural 
anterior à industrialização; um mundo da todo-poderosa Igreja, anterior, pois, à 
laicização; um mundo anterior ao reinado do mercado; em resumo, um mundo 
totalmente oposto ao nosso. 
Sendo assim, por mais que a palavra Revolução possa desmerecer o período 
anterior, ela é cabível quando levamos em consideração a construção de uma nova 
 
16 
 
concepção de mundo e de homem, mais parecida com a que vemos hoje e, por isto, 
mais valorizada. Henry (1998) chama isso de whiggismo: julgar o passado em função 
do presente. Esse tipo de whiggismo ainda prospera na história da ciência, que tem 
como intuito compreender por que e como a ciência veio a se tornar uma presença 
tão dominante em nossa cultura. 
Sabemos que a ciência busca entender o mundo. No entanto, esse anseio de 
encontrar respostas para os mistérios do universo não se iniciou com a Revolução 
Científica. Isso existiu desde os primórdios da humanidade. Então, por que levamos 
em consideração apenas a ciência (ideia de ciência) formulada a partir da Revolução 
Científica? Crosby (1999) explica que, durante o fim da Idade Média e o 
Renascimento, despontou na Europa um novo modelo de explicação da realidade: o 
modelo quantitativo começou a substituir o antigo modelo qualitativo. 
 O autor busca compreender, ao longo de sua trajetória, como os europeus 
(descritos, por um geógrafo mulçumano no século X d.C. como “estúpidos, rudes e 
embrutecidos”) conseguiram, mais tarde, conquistar boa parte do mundo. Não se trata 
de sorte, mas, sim, do que os historiadores franceses chamaram de mentalité. Para 
Crosby (1999), esse novo padrão de pensamento, voltado para o conhecimento 
quantitativo, permitiu aos europeus, avançar com rapidez na ciência e na tecnologia, 
dando-lhes habilidades administrativas, comerciais, navais, industriais e militares de 
importância decisiva para o futuro do continente. Essa nova forma de se refletir sobre 
a realidade em termos quantitativos foi, sem dúvida, a grande força motriz para iniciar 
as mudanças revolucionárias. No entanto, essa mudança de mentalité não aconteceu 
“do dia para a noite”, ou nas palavras de Koyré (2001), como uma “mutação súbita”; 
foi algo que se vinha fermentando já havia séculos; por isso, temos certa dificuldade 
em estabelecer um século exato para o início da Revolução Científica. 
Para Henry (1998), o foco principal foi o século XVII, com períodos variados de 
montagem do cenário no século XVI e de consolidação no século XVIII. Embora, 
muitos historiadores afirmem que seu início tenha ocorrido no século XV. É necessário 
reconhecer que, apesar de descrita e explicada de muitas formas, a chamada 
Revolução Científica teve, sim, um caráter “revolucionário”. De acordo com Japiassu 
(1985), a utilização desse termo indica que as antigas verdades científicas foram 
substituídas por verdades novas. Nas suas palavras, “[...] a lógica formal da não-
contradição cede lugar a uma lógica do sentido fundada nos paradoxos e no erro como 
 
17 
 
caminhos para se chegar à verdade” (1985, p. 43). Para ele, esse acontecimento foi 
plural, pois: 
Trata-se de uma revolução que substituiu a física qualitativa por uma física 
quantitativa, que substituiu uma Natureza por outra, uma ciência por outra, o 
método de autoridade pelo recurso à razão e à experiência. Trata-se de uma 
revoluçãoque, além de derrubar a ditadura de Aristóteles, arruína 
completamente, através da luneta astronômica, o dogma da incorruptibilidade 
dos corpos celeste. Fica ainda absolutamente rejeitado o axioma 
identificando o real objetivo à percepção sensível: as qualidades são relativas 
aos nossos sentidos e a matéria é quantitativa (JAPIASSU, 1985, p. 44). 
 
De acordo com Koyré (2001), não se tratava de combater teorias errôneas e 
insuficientes, mas, sim, de se transformar o modo de conceber o mundo e o homem. 
Isso é revolucionário; e proporcionou um novo modo de se entender o homem e o seu 
lugar na Natureza. Segundo Koyré (2001, p. 13), “[...] enquanto o homem medieval e 
o antigo visavam à pura contemplação da Natureza e do ser, o moderno deseja a 
dominação e a subjugação”. Isso não significa que Deus tenha sido esquecido com o 
início da Ciência Moderna, Ele foi substituído, segundo Gleiser (2006), pelo Deus 
“relojoeiro”, o qual, após criar o Universo, deixa-o evoluir tal como um relógio sob a 
ação de seus próprios mecanismos: as leis da física. Leis que também foram criadas 
por Deus; sendo função da ciência, entendê-las. Para tal anseio, os cientistas 
realizaram o estudo científico da Natureza. 
Esse estudo era desenvolvido a partir do modelo quantitativo: a matemática 
tornou-se a linguagem da ciência. De acordo com Crosby (1999), os europeus 
medievais também utilizavam a matemática, mas para fins mais práticos (como, por 
exemplo, para a feira semanal ou para a coleta local de impostos) e não para coisas 
mais grandiosas. O mesmo autor explica que o contato da civilização ocidental com a 
quantificação é algo antigo, que, provavelmente, tenha se estabelecido no período 
neolítico. No entanto, é preciso distinguir a noção de quantidade da concepção de 
realidade como quantificável. 
A concepção de realidade como quantificável descartou a antiga visão de 
realidade, proporcionando, nas palavras de Crosby (1999, p. 34), “[...] o meio para que 
dezenas de gerações entendessem o que as circundava, desde as coisas que 
estavam ao alcance da mão até as estrelas fixas”. A visão de mundo que se tinha foi 
modificada. Nossa visão de mundo sofreu profundas transformações no decorrer da 
 
18 
 
história do conhecimento e do impacto que as mesmas tiveram no desenvolvimento 
da sociedade. É oportuno voltar no tempo e recontar um pouco dessa história. 
Iniciamos com as palavras do físico Gleiser: 
A sabedoria do passado foi esquecida, condenada pela Igreja como 
paganismo, a raiz de todo o mal. O esplendor das civilizações grega e romana 
era uma memória distante. Forjada por santo Agostinho durante o século V 
d.C., a tênue conexão com o passado se dava através de um platonismo 
transvertido, que desprezava qualquer interesse nos fenômenos naturais, ao 
mesmo tempo encorajando o debate de questões teológicas. As respostas a 
todas as perguntas sobre a astronomia ou cosmologia eram encontradas na 
Bíblia. [...] De fato a Igreja transformou-se em um símbolo de civilização e 
ordem social, oferecendo a devoção à religião como antídoto contra “os rituais 
pagãos dos bárbaros”, [...] a Igreja condenou a busca do conhecimento 
“pagão”, ou seja, conhecimento sobre assuntos fora da esfera da religião. As 
tentações carnais, dependentes que são dos cinco sentidos, sem dúvida 
levavam à danação eterna. Como o estudo da Natureza necessariamente 
dependia do uso dos sentidos, ele também foi considerado conhecimento 
pagão (2006, p.88-90). 
 
Durante a Idade Média, a Igreja exercia uma forte influência na maneira como 
as pessoas compreendiam o mundo; ou melhor, a Igreja limitava as pessoas de 
compreender o mundo. Paradoxalmente a esse contexto, no século VIII, segundo 
Gleiser (2006), o Império Muçulmano floresceu. Os árabes levaram aos seus domínios 
um interesse pelo conhecer que já estava esquecido na Europa; esta última, nesse 
período, se encontrava perdida em completa desordem política. O entusiasmo pelo 
legado cultural, aos poucos, se difundiu, criando o clima intelectual que mais tarde 
culminou na Renascença. O interesse pelo estudo da Natureza estava, aos poucos, 
sendo despertado na Europa. 
Os teólogos medievais adaptaram as ideias aristotélicas à teologia imposta pela 
Igreja: a Terra ocupava o centro do Universo; nos céus, os corpos celestes eram 
imutáveis e perfeitos. A cosmologia aristotélica se encaixara como uma “luva” na 
teologia cristã. No século XVI, as coisas começaram a mudar. Nicolau Copérnico deu 
início à grande revolução que virou os “céus do avesso”. Metaforicamente, ele foi 
quem colocou o “Sol de volta no centro do Cosmo”, ou seja, quem desmistificou a ideia 
de que a Terra ocupava o centro do Cosmo. 
Um ato de enorme coragem intelectual, já que essa noção se contrapunha à 
interpretação teológica da época. Mas, a questão é: o que levou Copérnico a 
abandonar, radicalmente, a sabedoria tradicional de sua época? Gleiser (2006), 
argumenta que o feedback para a sua pesquisa começou a partir de sua insatisfação 
 
19 
 
com a falha no modelo de Ptolomeu, que “[...] violava a regra platônica de velocidade 
circular uniforme para todos os corpos celestes” (p. 98). Gleiser (2006) continua 
afirmando que, ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse às ideias platônicas, 
Copérnico retornou aos pitagóricos e, assim, mais uma vez, as antigas ideias foram 
retomadas e readaptadas. 
 Nas palavras de Gleiser (2006, p. 98), Copérnico “[...] estava olhando para trás 
e não para frente”; e ele continua: “Copérnico ressuscitou o sonho pitagórico de dois 
mil anos antes. O Sol e os planetas eram parceiros em sua dança através do Universo” 
(p. 100). A obra de Copérnico, mesmo que lida por algumas das mentes mais 
influentes do século XVI, só foi surtir efeito 70 anos mais tarde, nas mãos de Galileu 
e Kepler. São eles os verdadeiros “heróis” da chamada “revolução copernicana”, pois, 
de fato, foram eles que iniciaram a profunda transformação do nosso conhecimento. 
Mesmo que a “revolução copernicana” tenha aberto o caminho para o universo infinito 
e cheio de estrelas, foi a partir das observações telescópicas de Galileu e das 
descobertas de Johannes Kepler, que as ideias de Copérnico se desenvolveram 
(GLEISER, 2006). Não é por acaso, que Galileu Galilei é considerado o “pai da ciência 
moderna”. O que ele fez de tão excepcional para se tornar merecedor desse título? 
Podemos dizer que ele inventou a ciência. Talvez, essa frase não seja de todo justa, 
já que muitos, antes dele, haviam plantado as sementes do que viria a se tornar a 
Ciência Moderna. Para Gleiser (2006), o que Galileu fez de revolucionário foi 
desenvolver o método que torna a ciência possível, chamado de “validação empírica”: 
que é a confirmação de hipóteses por meio de experimentos e medidas. 
E, assim, um novo método para o estudo da Natureza estava por nascer; a 
concepção de realidade como quantificável transformou a visão de mundo que se 
tinha até então. Essa nova visão alterou a concepção de Natureza; o modo de explorá-
la, de valorizá-la e até de retratá-la. A Natureza sensível foi substituída por uma 
Natureza idealizada segundo as leis da matemática, conforme veremos a seguir. A 
Revolução Científica, portanto, introduziu uma mudança radical no conteúdo 
intelectual do conceito de “Natureza”. 
 
 
20 
 
4.1 A matematização e a mecanização da Natureza nos pensadores da Ciência 
Moderna: Kepler, Galileu e Newton 
A ideia moderna de Natureza mudou não apenas a concepção do que é o 
Universo, mas também as noções de espaço, tempo e matéria. O enfoque racional, 
utilizado pelos “filósofos naturais” (lembrando que a palavra “cientista” ainda não 
existia no século XVII) para confrontar os mistérios da Natureza, criou uma nova visão 
de mundo. No entanto, a aceitação da concepção de ciência elaborada pelos 
pensadores considerados modernos não foi algo simples e repentina. A nova visão de 
mundo, que estava se estabelecendo,decorre de uma duradoura batalha entre o novo 
e o velho. Segundo Koyré (2001, p. 8), “O caminho que levou do mundo fechado dos 
antigos para o aberto dos modernos não foi na verdade muito longo”; o difícil foi trilhar 
esse caminho cheio de obstáculos. O maior deles foi a Igreja Católica, que, embora 
enfraquecida devido à Reforma Protestante, continuava intolerante a pensamentos 
contrários à sua interpretação teológica. Para impor-se, a Ciência Moderna teve que 
superar inúmeros obstáculos epistemológicos e vencer múltiplas resistências. É 
cabível tentarmos imaginar como foi esse período de transição, em que o homem teve 
que transformar e substituir não somente os seus conceitos, mas também o seu 
pensamento a respeito do mundo que ele acreditava conhecer. 
As modificações econômicas, sociais e religiosas, interligadas com a mudança 
de mentalité, que ressaltamos anteriormente, estavam, aos poucos, construindo uma 
nova cultura: “[...] em economia, capitalista; na arte e na literatura, clássica; na atitude 
perante a Natureza, científica” (JAPIASSU, 1985, p. 51). A grande tarefa do 
Renascimento foi a redescoberta e domínio da arte e da Natureza. Nesse período, a 
Europa estava passando por uma espécie de revivificação; trata-se, pois, da fase 
inicial da Revolução Científica. Segundo Crosby (1999, p. 64) “[...] o Ocidente vinha-
se debatendo num profundo desânimo cultural [...] seus modos tradicionais de 
perceber e explicar vinham sendo deficientes [...]”. Hoje, sabemos que a ciência 
avança justamente quando teorias são expostas ao seu limite de validade. Foi partindo 
desse princípio, que os ocidentais, aos poucos, estabeleceram uma nova versão de 
realidade; o mundo que se conhecia até então estava sendo colocado em prova. 
 A partir do século XVII, o homem foi “retirado do campo da verdade”. A noção 
que se tinha de realidade não era mais sinônimo de verdade absoluta. A realidade 
passou a ser aquilo que foi definido teoricamente num sistema de vias de 
 
21 
 
axiomatização, cuja aceitação como verdadeira se impõe na formação de uma perfeita 
sequência lógica. Japiassu (1985, p. 63) explica: “[...] a axiomática [...] consiste em 
reduzir o real ao geométrico. Ela substitui as propriedades do espaço real pelas 
propriedades do espaço geométrico”. A nova concepção de mundo, oriunda da 
Revolução Científica, começou a desenvolver-se graças ao surgimento de um novo 
método estabelecido por Galileu Galilei (1564-1642), ou seja, de um plano de 
pesquisa definido a partir da lei geral para a aplicação mecânica. Esse método 
científico foi o fator determinante para a evolução da ciência. De acordo com Japiassu 
(1985), 
[...] a experimentação torna-se o elemento essencial de todo o estudo da 
física. O chamado ‘método especulativo’ aristotélico, utilizado pelos 
escolásticos, é substituído por um novo método na pesquisa das leis naturais 
(p. 47). 
Entretanto, o que vem a ser experimentação? Japiassu (1985), explica que esse 
conceito não trata de uma observação dos fenômenos naturais, mas, sim, de uma 
interrogação formulada numa linguagem geométrica para com a Natureza. 
Galileu é herdeiro do platonismo; isso significa que o mesmo acreditava que, 
através da matemática, seria possível se decifrar a estrutura da Natureza. 
A ciência [...] baseia-se nas matemáticas enquanto são portadoras de uma 
espécie de valor supremo, ocupando uma posição-chave no estudo das 
realidades naturais. Neste sentido, a ciência e a filosofia de Galileu 
recuperam certa forma de platonismo. Porque o cientista é alguém ativo que 
toma posse do espaço. É alguém que redescobre a linguagem falada pela 
Natureza (JAPIASSU, 1985, p. 67). 
A matemática passou a ser a linguagem para desvendar os segredos da 
Natureza. O gosto pelo racionalismo quantificado contribuiu de modo decisivo para o 
surgimento de uma nova concepção de Natureza. Para Galileu, “[...] somente por meio 
de uma análise exclusivamente quantitativa a Ciência poderia obter conhecimento 
seguro do mundo” (apud TARNAS, 2011, p. 286). Essa questão também aparece no 
pensamento de Koyré. Para ele: 
As leis da natureza são leis matemáticas. O real encarna a matemática. Por 
isso não há, em Galileu, distância entre a experiência e a teoria; a teoria (a 
fórmula) não se aplica aos fenômenos “do fora”, ela exprime sua essência. A 
natureza só responde às questões colocadas em linguagem matemática, 
porque a natureza é o reino da medida e da ordem. E se a experiência guia 
‘como que pela mão’ o raciocínio, é porque, na experiência bem conduzida 
vale dizer, numa questão bem colocada, a natureza revela sua essência 
 
22 
 
profunda que somente o intelecto é capaz de aprender (KOYRÉ apud 
JAPIASSU, 1985, p. 78). 
Nesse ínterim, a Natureza só poderia ser compreendida em termos 
matemáticos. A matemática trabalha com verdades absolutas, ou seja: 2+2 = 4; não 
existe discussão, o resultado independe da perspectiva humana, isto é, por mais que 
os símbolos sejam modificados, o resultado é universal. Contudo, esse resultado é 
questionável quando nos interrogamos a respeito de outros elementos que constituem 
o objeto representado pelo número: a matéria. Sendo assim, para entender a 
complexidade da Natureza, torna-se necessário estudá-la levando em consideração 
as leis matemáticas e mecânicas. 
O mundo, para Galileu, apresentava-se como uma espécie de sistema 
mecânico. Segundo Japiassu (1985, p. 76), “[...] o mecanicismo consiste na filosofia 
que se explicitou no início do século XVII, segundo a qual todos os fenômenos naturais 
devem ser explicados por referências à matéria em movimento. ” Assim, a Natureza 
consistia em uma máquina e, para compreendê-la, seria necessário entender seu 
funcionamento, por meio da interação entre energia e matéria. “O mecanicismo 
passou a constituir o programa geral da ciência moderna. ” (JAPIASSU, 1985, p. 76). 
Contemporâneo de Galileu, Johannes Kepler (1571-1630), outro apaixonado 
por números e formas geométricas, demonstrou que o Universo estava disposto 
segundo “elegantes harmonias matemáticas” (TARNAS, 2011). A formulação das três 
leis do movimento planetário imortalizou seu nome; e lhe concedeu o mérito de ser 
considerado o maior astrônomo de sua época. Se, para Galileu, a matemática era a 
linguagem em que o “livro da Natureza” estava escrito, a ênfase dada à matemática 
por Kepler vai além. Para ele, a matemática não era apenas um instrumento para 
compreender a Natureza; mas, a própria Natureza era formada conforme as leis 
matemáticas. Para Kepler, existia uma ligação entre os astros e os acontecimentos 
terrestres: “[...] nada existe ou acontece no céu que não seja percebido de algum modo 
secreto pelas faculdades da Terra e da Natureza” (KEPLER apud GLEISER, 2006, p. 
107). Na busca por respostas, ele introduziu a Física no estudo do Cosmo, 
inaugurando uma nova era em Astronomia. 
 A visão geométrica de Cosmo dominou o pensamento de Kepler. Sua busca 
pela explicação da harmonia celeste era quantitativa/metafísica, alimentada por 
observações. Para ele, as descrições dos fenômenos naturais deveriam ser físicas; 
 
23 
 
em outras palavras, deveriam revelar as causas por trás do comportamento 
observado. 
Enquanto alguns usavam a matemática mística como um modo de atirar 
lama, o jovem copernicano neoplatônico Johannes Kepler deixou-se levar por 
uma espécie de mania a respeito dos cinco sólidos platônicos, que são o 
tetraedro, o cubo, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro. Eles são 
“perfeitos”, porque as faces de cada um são idênticas (ou seja, as seis faces 
do cubo são iguais, assim como os vinte triângulos equiláteros do icosaedro 
são idênticos) [...]. Em 1595, Kepler decidiu que eles explicavam o universo. 
Esses cinco, ele tinha certeza, podiam ser encaixados nas órbitas (esferas) 
dos seis planetas conhecidos, com os vértices mantendo as esferas externas 
do lado de fora e as faces contendo as esferas internasdo lado de dentro – 
um exemplo divino da predileção de Deus pela ordem platônica. “Vi, escreveu 
Kepler”, um após outro sólido simétrico encaixar-se com tamanha precisão 
entre as órbitas apropriadas [...] (CROSBY, 1999, p. 124-125). 
 
Cabe ressaltar, que Kepler acreditava que o “universo harmonioso” teria sido 
criado por Deus. Para ele, sua missão era desvendar o grande mistério por de trás 
desta construção. E a “chave” para resolver esse mistério seria a geometria. Assim, 
“[...] mais uma vez, a tradição pitagórica desvendou os segredos da mente do 
Arquiteto Cósmico” (GLEISER, 2006, p. 110). 
 Isaac Newton (1642-1727) também acreditava em um Deus supremo, que 
havia planejado o Universo. Pensar que o homem que estabeleceu os fundamentos 
da mecânica clássica pudesse estar tão conectado às profecias bíblicas pode causar 
espanto; isso porque, hoje, ciência e religião habitam “mundos opostos”. No entanto, 
no século XVII, matemática, teologia, astronomia, astrologia, alquimia e química se 
confundiam. Newton sempre deixou claro sua veneração pela beleza da Natureza, 
esta última que ele apresentava como evidência da existência de um Criador Divino; 
tanto que ele afirmou que a “[...] diversidade das coisas naturais que encontramos 
adaptadas há tempos e lugares diferentes não se poderia originar de nada a não ser 
das ideias e vontade de um Ser necessariamente existente” (NEWTON apud 
GLEISER, 1997, p. 190). 
Tendo em vista a presença de um Deus onisciente e onipresente (que age 
continuamente no Universo), para se explicar os fenômenos naturais era preciso, 
segundo o pensamento de Newton, estabelecer uma conexão entre o pensamento 
humano e o divino. As explicações sobre a verdadeira Natureza, tal como foi criada 
por Deus, eram de que o seu funcionamento ocorria segundo princípios estritamente 
mecânicos. Com o advento da filosofia mecanicista, os fenômenos da Natureza foram 
 
24 
 
explicados por interações mecânicas entre seus componentes materiais. O 
aprimoramento de muitas teorias descritas por seus antecessores permitiu-lhe alterar 
mais uma vez a noção que se tinha de Cosmo. A integração da filosofia mecanicista 
com a tradição pitagórica estava moldando uma nova visão de mundo. 
A cosmologia newtoniana-cartesiana estava agora estabelecida como 
fundamento de uma inovadora visão de mundo. Pelo início do século XVIII, 
qualquer pessoa instruída no Ocidente sabia que Deus havia criado o mundo 
como um complexo sistema mecânico, composto de partículas materiais que 
se movimentaram num infinito espaço neutro segundo alguns princípios 
básicos, como a inércia e a gravidade, que poderiam ser matematicamente 
analisadas (TARNAS, 2011, p. 293). 
Newton sintetizou as leis do movimento terrestre de Galileu e as leis dos 
movimentos planetários de Kepler em uma teoria mais abrangente, conhecida hoje 
como as três leis de Newton (da inércia, da força e da reação). Essas leis regeriam os 
reinos celeste e terrestre. Em outras palavras, todos os fenômenos conhecidos das 
mecânicas celeste e terrestre estavam unificados em um conjunto de leis físicas, e 
eram descritos da seguinte forma: “[...] cada partícula de matéria no universo atraía 
outra partícula com uma força proporcional ao produto de suas massas e 
inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas” (TARNAS, 2011, p. 
292). A Natureza era concebida como um sistema-maquinário perfeitamente ordenado 
e regido por leis matemáticas. Essa Natureza teria sido criada por Deus em perfeita 
ordem e mantida por essas leis. O papel do homem, nesse complexo sistema, seria 
utilizar sua inteligência a fim de entender e, então, dominar a Natureza. 
4.2 O discurso de posse da Natureza: as filosofias de Francis Bacon e René 
Descartes 
Num período em que descobertas inesperadas destruíam e construíam uma 
nova visão de mundo, nada era critério absoluto de verdade. As incertezas 
epistemológicas estabeleciam uma “crise de ceticismo”, assim chamada por Tarnas 
(2011). Crise está caracterizada pelas contradições entre as diferentes perspectivas 
filosóficas e pela redução da importância da revelação religiosa para a compreensão 
do mundo empírico. Nesse ensejo, o trabalho de René Descartes (1596-1650) foi 
desenvolver um método para o “conhecimento seguro”, assim denominado por ele. 
Isso significava emancipar o mundo material da crença religiosa. O primeiro preceito 
 
25 
 
de Descartes “[...] era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que [...] não 
conhecesse claramente como tal” (DESCARTES, 1999, p. 49). Começar duvidando 
de tudo foi o primeiro passo; seu objetivo era eliminar todos os pressupostos do 
passado que confundiam o conhecimento humano. Dessa forma: 
 
Com a aplicação de um raciocínio preciso e minucioso a todas as questões 
da Filosofia e aceitando-se como verdade apenas as ideias que se 
apresentassem claras a esse raciocínio, distintas e sem contradições 
internas. A racionalidade crítica disciplinada superaria a informação nada 
confiável sobre o mundo, proporcionada pelos sentidos ou a imaginação. 
Usando esse método, Descartes seria o novo Aristóteles, descobrindo uma 
nova Ciência que introduziria o Homem numa nova era de conhecimento 
pragmático, sabedoria e bem-estar (TARNAS, 2011, p. 299). 
 
Foi, assim, que Descartes estabeleceu sua maneira de chegar à certeza 
absoluta. Essa “sua maneira” foi duvidar de tudo, inclusive da aparente realidade do 
mundo físico; e até mesmo do seu próprio corpo. A única coisa de que ele não 
duvidava era da sua dúvida. “Pelo menos o ‘eu’ que tem consciência de duvidar, o 
sujeito pensante, existe. Pelo menos até aqui está certo e é seguro: cogito, ergo sum” 
(TARNAS, 2011, p. 299). O pensar ou cogito, por sua vez, serviu de base para as 
outras intuições racionais evidentes. 
 Tendo em vista que o homem é um ser pensante (que tem dúvida), então o 
mesmo é imperfeito, pois não tem conhecimento de todas as coisas. Descartes, assim, 
deduziu a necessidade da existência de um Ser superior perfeito: Deus. Tarnas (2011, 
p. 300), descreve esse pensamento: “[...] nada pode originar-se do Nada, nem um 
efeito possui uma realidade que não tenha derivado de sua causa”. Dessa maneira, 
para Descartes, o homem racional deveria conhecer a sua própria consciência, para, 
então, poder estabelecer a separação entre a res cogitans - “[...] a substância 
pensante, experiência subjetiva, espírito, consciência, aquilo que o Homem percebe 
interiormente” (TARNAS, 2011, p. 300) e a res extensa – “[...] substância externa, o 
mundo objetivo, matéria, corpo físico, as plantas, os animais, as pedras e as estrelas, 
todo o Universo Físico” (TARNAS, 2011, p. 301). 
Descartes dividiu o Universo em uma parte física e outra moral. A parte física, 
para ele, era desprovida de qualidades humanas, podendo ser vista e entendida como 
uma máquina. Aquele Universo teleológico, visto como um organismo vivo por 
Aristóteles, não fazia parte de seu pensamento. Para Descartes, “Deus criou o 
 
26 
 
Universo e definiu suas leis mecânicas, mas depois disso o sistema passou a 
movimentar-se por si, a máquina suprema construída pela suprema inteligência” 
(TARNAS, 2011, p. 301). Descartes buscou uma reconstrução completa e racional do 
mundo físico; ele escreveu: “[...] na minha física não há nada que não se encontre 
também na minha geometria” (DESCARTES apud ROSSI, 2001, p. 209). Rossi 
(2001), explica que a compreensão da física como geometria e do mundo como 
“geometria realizada” encaminhou Descartes para uma física “imaginária”, com 
caráter de “romance filosófico”. Rossi (2001, p. 209), ainda afirma que “[...] as leis 
cartesianas da natureza são leis para a natureza às quais ela não pode deixar de se 
adequar porque são elas que a constituem”. 
Com o termo natureza não viso de modo algum a qualquer divindade ou a 
qualquer tipo de poder imaginário, mas me sirvo desta palavra para indicar a 
própria matéria, enquantodotada de todas as qualidades que lhe atribui, 
tomadas todas em seu conjunto, e sob condição de que Deus continue a 
conservá-la do mesmo modo em que a criou (DESCARTES apud ROSSI, 
2001, p. 203). 
Partindo do pressuposto de que Deus continua “conservando” ou “preservando” 
a Natureza, as diversas mudanças que nela acontecem não partem da ação de Deus, 
mas da própria Natureza (das leis da Natureza). “As regras segundo as quais tais 
mudanças acontecem quero chamá-las de leis da natureza” (apud ROSSI, 2001, p. 
203). Para Descartes, as leis da Mecânica eram idênticas às leis da Natureza. Para 
entender essa questão, seria necessário levar em consideração apenas os termos 
quantitativos – o universo físico deveria ser compreendido através da mecânica. 
Segundo Descartes: 
A mecânica era uma espécie de “matemática universal” que permitiria 
analisar e manipular plena e eficazmente o universo físico para servir à saúde 
e ao conforto da Humanidade. A mecânica quantitativa regeria o mundo, o 
que justificava a fé absoluta na Razão humana (TARNAS, 2011, p. 302). 
Esse contexto é o retrato da intitulada “filosofia prática”; com ela, o homem 
buscaria não apenas a compreensão da Natureza, mas poderia utilizá-la para os seus 
próprios fins. Não se tratava de uma mera “filosofia especulativa” com a finalidade de 
se obter conhecimento, mas, sim, de obter conhecimentos úteis à vida. Assim, o 
homem se tornaria não apenas admirador, mas “senhor e possuidor da Natureza” 
(JAPIASSU, 1985). Outro expoente, na defesa de uma interpretação voltada à 
dominação da Natureza por parte do homem, é Francis Bacon (1561-1626). Para ele, 
 
27 
 
através das descobertas da ciência, o homem conseguiria retomar seu lugar de direito 
na Natureza, resgatando seu lugar de destaque dentro da criação divina. Assim como 
Descartes, Bacon acreditava que, para se obter êxito na ciência, era necessário a 
construção de um novo método. 
Seria, este, um método basicamente empírico: através da cuidadosa 
observação da Natureza e da hábil criação de muitos experimentos variados, 
praticados no contexto da pesquisa cooperativa organizada, a mente humana, aos 
poucos, obteria leis e generalizações que proporcionariam ao Homem a compreensão 
da Natureza, condição necessária para controlá-la (TARNAS, 2011). Nesse contexto, 
a compreensão da Natureza traria benefícios ao Homem, pois o mesmo, segundo 
Tarnas (2011, p. 296), “[...] restabeleceria seu domínio sobre a Natureza”. O uso da 
palavra “restabeleceria” designa, nesse ensejo, os dois momentos da relação do 
homem com a Natureza segundo a Bíblia. O primeiro momento é o da criação: 
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa 
semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves do céu, e 
sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a 
terra (Gênesis cap. 1: v. 24 – grifo nosso). 
Segundo o pensamento cristão, Deus havia criado a Natureza para o homem 
dominar; no entanto, com a Queda6 de Adão, passa-se ao segundo momento, onde 
o homem é destituído de seu lugar de “honra”. Assim, a única maneira de se 
restabelecer esse domínio seria através da compreensão da Natureza. Para Bacon, o 
único caminho viável para restabelecer a posse da Natureza seria mediante uma 
combinação entre raciocínio dedutivo e experimentação. Para ele, o homem “[...] 
deveria começar com a análise desapaixonada dos dados concretos e apenas então 
argumentar indutiva e cautelosamente para obter conclusões gerais com o apoio 
empírico. ” (TARNAS, 2011, p. 296). Bacon, acreditava que o verdadeiro filósofo 
deveria não apenas catalogar os fatos de uma realidade supostamente fixa, mas 
descobrir o método que permitisse o progresso do conhecimento, ou seja, estudar o 
mundo real diretamente. 
Vale ressaltar, que Bacon é um dos precursores do novo horizonte da ciência 
experimental. Smith (1988, p. 32) explica que Bacon acreditava na versão bíblica da 
criação e, que “[...] a ciência era uma busca divina, na medida em que, através da 
ciência e do domínio da natureza, os seres humanos poderiam restaurar a harmonia 
da natureza, realizando assim o desejo de Deus”. O método da ciência/filosofia 
 
28 
 
baconiana tinha o intuito de construir o caminho de volta para o “Paraíso”, um 
reencontro com Deus pela submissão total da Natureza. Bacon acreditava que a 
última e mais elementar tarefa humana consistia em dominar o mundo natural. Diante 
do exposto, chegamos ao ponto que queríamos: a Natureza, na concepção de Bacon, 
é exterior à sociedade; ela é um objeto a ser dominado e manipulado. 
A partir de Bacon, tornou-se lugar comum que a ciência trate a natureza como 
exterior no sentido de que o método e o procedimento científico ditam uma 
absoluta abstração tanto do contexto social dos eventos e objetos em exame 
quanto do contexto social da própria atividade científica. Apesar de que a 
mecânica de Newton permitiu um lugar a Deus no universo natural, a 
sociedade e o ser humano haviam sido expulsos desse mundo (SMITH, 1988, 
p. 31). 
Para Bacon, o domínio da Natureza pelo homem se realizava a partir da 
aplicação das “artes mecânicas”. Dessa forma, caberia, ao homem, aprofundar o seu 
conhecimento natural, a fim de desenvolver os meios de domínio sobre a Natureza; 
tarefa essa desempenhada através da ciência. Todavia, Smith (1988) argumenta que, 
por mais que Bacon separasse a Natureza exterior do mundo social, ele acreditava 
que os objetos “naturais” e os “artificiais” possuíam o mesmo tipo de forma e essência. 
Assim, sejam naturais ou sociais, todos os fenômenos têm uma essência 
(aquilo que vai além da aparência); nesse sentido, a Natureza é universal. Identifica-
se, assim, um dualismo conceitual entre “Natureza exterior” e “Natureza universal”, 
cujas raízes históricas remontam à filosofia de Kant. A contradição entre ambos os 
conceitos parte da premissa de que existe uma “Natureza exterior” criada por Deus, 
com suas próprias leis, e uma “Natureza humana”, cujo comportamento individual e 
social se apresenta tão natural quanto os aspectos ditos “externos” da Natureza. Isso 
posto, Smith (1988, p. 28) adverte que a “Natureza exterior e a universal não são 
inteiramente conciliáveis, pois ao mesmo tempo que a Natureza é considerada 
exterior à existência humana, ela é simultaneamente tanto exterior quanto interior”. O 
uso da racionalidade resultou na manipulação do mundo natural de forma cada vez 
mais sofisticada. A capacidade de entender a ordem da Natureza oferecia, como 
“prêmio”, o seu controle. 
 
 
 
 
 
29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.slideshare.net 
5 AS CORRENTES FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS 
A filosofia é a arte de formar, inventar e fabricar conceitos, e o filósofo é o amigo 
da filosofia, aquele que a contempla. Os gregos foram os primeiros a trazer esse 
conceito, uma vez que aqueles que tinham interesses filosóficos eram denominados 
sábios (DELEUZE; GUATTARI, 1992). Os gregos foram os pioneiros na arte da 
filosofia, tanto que essa palavra provém dessa língua: filo significa amor ou amizade, 
enquanto o sufixo sofia significa sabedoria, ou seja, a filosofia é o amor à sabedoria. 
Assim, é correto afirmar que a filosofia tem origem milenar. 
Contudo, essa ciência é muito dinâmica e se modifica substancialmente quando 
em contato com o tempo e com as metamorfoses que é capaz de operar, causando 
transformações significativas nos conceitos e pensamentos filosóficos. A partir desse 
cenário de mudanças, é importante entender que a filosofia é influenciada e 
influenciadora dos cenários políticos e econômicos. Então, para entender a sua 
evolução, é importante conhecer alguns acontecimentos determinantes para a história 
mundial. Em 1789, em Paris, na França, a população tomou a Fortaleza da Bastilha, 
um marco da Revolução Francesa que determinou uma sucessão de quedas de 
monarquias ao redor do mundo graças aos seus princípiosliberté (Liberdade), égalité 
(igualdade) e fraternité (fraternidade), que sugeriam um Estado onde todos fossem 
livres e iguais perante a lei, o que resultaria em um espírito de fraternidade entre a 
população. Esses três princípios afetaram não apenas o pensamento dos franceses, 
 
30 
 
mas influenciou todo um movimento que buscava igualar as pessoas, assegurando 
que todas tivessem os mesmos direitos e deveres sociais (BEEDEEN; KENNEDY, 
2017). 
 Outro movimento que ocorreu na Inglaterra entre 1760 e 1860 e modificou a 
forma como o homem se relacionava com o trabalho foi a Revolução Industrial, um 
processo em que surgiram máquinas que visavam aumentar a produtividade das 
fábricas, trazendo uma nova necessidade de trabalho, que não mais operava nos 
campos e lavouras, oportunizando o êxodo rural. Nesse período, os problemas 
começaram a aparecer. 
As cidades não possuíam estruturas para abrigar todos os novos moradores, 
que trabalhavam mais horas do que deveriam e comiam e dormiam bem menos do 
que o recomendado, sem ter capital suficiente, com uma constituição social diminuída, 
gerando uma subclasse social e criando um novo ser: o homem contemporâneo, que 
apresentava anseios e demandas muito diferentes dos seus sucessores, trazendo a 
necessidade de pensamentos filosóficos que o acompanhasse, ou seja, a filosofia 
contemporânea (BEEDEEN; KENNEDY, 2017) Ainda temos o advento da Segunda 
Guerra Mundial (1939–1945) que trouxe diversos tipos de avanços tecnológicos, além 
das mudanças no estilo de vida da população no período pós-Guerra e das 
modificações geográficas geradas pelos conflitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portanto, filosofia contemporânea é aquela desenvolvida a partir do século 
XVIII. Ela engloba os séculos XVIII, XIX e XX. É influenciada pelas ideias da 
Revolução Francesa e pela mudança substancial acontecida durante a Revolução 
 
31 
 
Industrial, trazendo diversos pensamentos diferentes, cada um com o seu respectivo 
criador, o filósofo. 
 
5.1 Filosofia contemporânea: apresentando seus pensadores 
Esse conceito de filosofia trouxe uma gama de teorias contrárias às verdades 
absolutas, que se auto afirmavam como detentoras de todo o conhecimento existente, 
muito comum no pensamento clássico. A filosofia contemporânea chegou para 
quebrar os paradigmas e questionar o mundo, o homem, a sociedade e, até mesmo, 
Deus, juntamente com formas novas de conflito e reivindicações concernentes à 
organização geopolítica e epistêmica do sistema-mundo contemporâneo, trazendo à 
luz os problemas contemporâneos sociais, econômicos e científicos, fazendo novas 
perguntas para obter novas respostas. Dentro desse novo formato de filosofia, muitas 
foram as teorias elaboradas, com diferentes visões e abordagens, possuindo 
diferentes filósofos, que veremos a seguir. Silva e Silva (2013). 
Friedrich Hegel (1770–1831) Filósofo Alemão, criou a Teoria Hegeliana. Sua 
teoria teve como base a dialética, o saber, a consciência, o espírito e a história, 
demonstrando uma preocupação com a modernidade, trazendo a realidade para 
dentro de um sistema denominado idealismo transcendental. Para ele, a moral é o 
resultado das relações entre o indivíduo e o meio, com a sensação de que a realidade 
está em constante evolução e transformação, onde todas as partes interagem entre 
si, caminhando para um sentido racional (BUCKINGHAM et al., 2011). Ludwig 
Feuerbach (1804–1872). Por muitos anos, esse filósofo alemão foi discípulo de Hegel, 
adotando um pensamento contrário ao de seu mestre tempos depois. Tem como 
principal característica o ateísmo, principalmente, em relação ao conceito de Deus, 
que seria uma expressão da alienação da sociedade. 
Ele também acreditava que o homem era um ser finito, ou seja, seus feitos e 
história terminariam com ele quando morresse, opondo-se ao pensamento cristão 
vigente (BUCKINGHAM et al., 2011). Seus escritos influenciaram um grande pensador 
chamado Karl Marx. Karl Marx (1818–1883) Conterrâneo de Hegel e Feuerbach, Marx 
é um dos principais filósofos contemporâneos. Seria incorreto dar créditos ao 
marxismo somente a Karl Marx, uma vez que Friedrich Engels colaborou com o 
 
32 
 
principal livro atribuído a Marx chamado de “O manifesto”, um panfleto de 40 páginas. 
Sua teoria, intitulada de marxista, possuía como enfoque principal o entendimento 
materialista no desenvolvimento da sociedade, que passou a relacionar o valor 
monetário com o valor social de uma pessoa. 
Marx tinha a pretensão de não apenas questionar o mundo, mas mudá-lo por 
meio de suas ideias, chamadas de comunismo. Esse modelo propunha que a 
sociedade havia sido separada em duas grandes classes, a burguesia – aquela que 
detém os meios de produção – e o proletariado – que é a classe trabalhadora 
(BUCKINGHAM et al., 2011). As principais características de Marx foram suas ideias 
revolucionárias, com destaque para aquelas relacionadas com a tecnologia, quando 
afirmava que, conforme a produção tecnológica aumentasse, maiores seriam as desi 
gualdades sociais geradas no processo (BUCKINGHAM et al., 2011). Marx sonhava 
com a ideia de que o proletariado assumisse o controle dos meios de produção, 
retirando o poder absoluto da burguesia, assumindo a igualdade entre todos os 
homens. Hannah Arendt (1906–1975) A história de Hannah Arendt começa no dia do 
julgamento de um dos arquitetos do holocausto, o alemão Adolph Eichmann. Durante 
o julgamento, Eichmann afirmou que ele não realizou todas as atrocidades que era 
acusado por acreditar nelas ou odiar os judeus, mas porque estava simplesmente 
cumprindo ordens. 
Depois de assistir ao julgamento, Arendt chegou à conclusão de que o mal 
não provém da malevolência ou do desejo de fazer o mal. Em vez disso, ela 
sugeriu, as razões pelas quais as pessoas agem de certa maneira é que elas 
sucumbem a falhas de pensamento e julgamento. Sistemas políticos 
opressivos são capazes de tirar vantagem da nossa tendência para tais 
falhas, possibilitando que pareçam normais certos atos que possivelmente 
consideraríamos impensáveis (BUCKINGHAM et al., 2011, p. 272). 
 
Arthur Schopenhauer (1788–1860). Na teoria desse filósofo, a essência do 
mundo está apoiada na vontade individual de viver de cada pessoa, o que compõe a 
sua visão de mundo. Ela é dividida em dois aspectos, a observação e a experiência. 
A observação refere-se à maneira como eu olho o universo, com minha crença e 
cultura; a experiência refere-se às coisas que conheço, assim, somente observo o 
mundo a partir do que já vi e experienciei (BUCKINGHAM et al., 2011). 
Friedrich Nietzsche (1844–1900) Seus escritos perpassam temas religiosos, 
artes, ciências e moral, sempre criticando de forma feroz a sociedade ocidental e 
 
33 
 
cristã. Nietzsche afirma que é necessário revisar todas as questões éticas, sentidos e 
objetivos, afirmando a essência da vida. Acreditava que o homem é um ser a ser 
superado, além de acreditar na falência de Deus, afirmando que ele está morto, logo, 
representa a morte dos valores ditos elevados. 
O seu conceito mais importante foi o de vontade de potência, que seria um 
impulso que elevaria o ser humano à sua plenitude existencial (BUCKINGHAM et al., 
2011). Theodor Adorno (1903–1969) Oriundo da Escola de Frankfurt, Adorno afirmava 
que a emoção e a inteligência são necessárias para realizar os julgamentos entre o 
certo e o errado, uma vez que os julgamentos morais são uma combinação perfeita 
entre ambos. Assim como Hannah Arendt, Adorno pensava que a realização de atos 
de crueldade não estaria atrelada apenas a uma insuficiência de sentimentos, mas 
também de inteligência e entendimento. Esse filósofo condenou os meios de 
comunicação em massa, como o rádio, o jornal e a televisão, uma vez que eles têm o 
poder de distorcer as informações, diminuindo a capacidade do sujeito de fazer 
escolhas e julgamentos morais, levando a uma cultura demassa. Seria uma escolha 
moral escolher seguir uma cultura de massa em detrimento do pensamento crítico 
(BUCKINGHAM et al., 2011). Michel Foucault (1926–1984) esse filósofo francês 
analisou as instituições sociais como a cultura, a sexualidade e as relações de poder. 
Foucault afirmava que o discurso é formado por diversas regras que são 
inconscientes, fixadas nas condições históricas em que nos encontramos, também 
conhecidas como senso comum (BUCKINGHAM et al., 2011). A relação com o homem 
também foi questionada. Segundo Foucault, trata-se de uma invenção recente e finita, 
questionando o avanço da tecnologia e a exclusiva humanidade do homem. Por essas 
diferenças, é impossível utilizar conceitos antigos para o homem atual. Um conceito 
muito importante desenvolvido por Foucault é o de micropoder, que se refere às novas 
organizações sociais e disciplinares, que não se resumem apenas na relação entre o 
Estado e o cidadão, mas sim entre diversas esferas da sociedade. 
Simone de Beauvoir (1908–1986) nascida na França, essa filósofa é entendida 
como uma das principais figuras do movimento feminista. Em seus escritos, ela 
defendia que o ser humano sempre foi compreendido em uma perspectiva masculina, 
o que não dava uma conotação de humanidade às mulheres. Simone defendia a 
igualdade entre os sexos, afirmando que não existem características tipicamente 
femininas ou masculinas, mas uma construção social que delega papéis e 
 
34 
 
características às pessoas (BUCKINGHAM et al., 2011). Augusto Comte (1798–1857) 
Comte criou uma corrente filosófica conhecida como positivismo, que acreditava 
unicamente no conhecimento científico como verdade inquestionável. Esse 
movimento sugere que as ciências exatas possuem um valor e uma relevância social 
acima das ciências humanas, que apenas buscam entender a natureza humana, 
desenvolvendo o pensamento crítico (BUCKINGHAM et al., 2011). Diante dessas 
perspectivas, é possível perceber que a filosofia contemporânea vem para questionar, 
criticar e, principalmente, modificar o cenário social vigente, que passava por 
transformações advindas das tecnologias que alteravam não somente os meios de 
produção, mas também o estilo de vida, as necessidades sociais e materiais de todos 
os cidadãos. 
 
5.2 Filosofia contemporânea: uma crítica social 
Ao contrário do que possa parecer, a filosofia não é restrita aos pensadores e 
filósofos, ou ainda, às universidades; ela é o que fazemos quando não estamos 
preocupados com a vida cotidiana e podemos pensar, questionar e ressignificar a 
sociedade, a vida e o mundo. Todo o ser racional que possui a capacidade de 
raciocinar, possui a capacidade de filosofar (BUCKINGHAM et al., 2011). O caminho 
do questionamento é mais importante do que o próprio produto. Entretanto, a filosofia 
contemporânea tinha uma visão mais utilitária e prática. Para seus pensadores, era 
importante não só vislumbrar um cenário, mas pensar estratégias para modificá-lo, 
propondo melhorias para a vida cotidiana e para um grupo populacional 
(BUCKINGHAM et al., 2011). 
Para compreender como a filosofia opera, é importante entender algumas 
características dessa ciência. Em primeiro lugar, a filosofia é genuinamente negativa, 
uma vez que nega todo o senso comum e as ideias prontas que lhes são 
apresentadas. A indagação é fundamental para a atitude filosófica, pois interrogar 
sobre a natureza das coisas, das ideias, dos fatos e dos comportamentos é o que 
compõe a arte de filosofar, causando admiração e espanto. Segundo Chauí (2000, p. 
9), isso acontece quando: 
 
35 
 
[...] tomamos distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso 
pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes, como se 
não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de 
comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos 
acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos 
perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar 
também o que somos, por que somos e como somos. 
 
Esse movimento apresentou uma concepção conhecida como Teoria Crítica, 
desenvolvida pela Escola de Frankfurt, que dividia a razão em dois hemisférios 
distintos: a razão instrumental e a razão crítica (CHAUÍ, 2000). A razão instrumental é 
entendida como a razão técnico-científica, fazendo da ciência e dos meios técnicos 
uma maneira de aprisionar, intimidar e gerar medo nos seres humanos, o que 
configura o oposto da razão crítica, que analisa e interpreta os conhecimentos e a 
realidade que lhes são apresentados, a fim de gerar mudanças sociais, políticas e 
culturais para libertar todos os homens daquilo que os oprime. Assim, o conhecimento 
científico não deve, em hipótese alguma, ser usado para oprimir ou dominar qualquer 
ser humano, sociedade ou cultura (CHAUÍ, 2000). Esse pensamento exemplifica com 
maestria a proposta da filosofia contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cabe ressaltar que, nesse movimento contemporâneo, a lógica e a linguagem 
ganham uma importância sublime, já que muitas das questões filosóficas da 
antiguidade podiam ser resolvidas a partir da correta interpretação dos conceitos 
apresentados, sugerindo a importância dialética da filosofia, buscando apresentar não 
apenas conceitos inacessíveis e incompreensíveis. A filosofia contemporânea tem por 
intuito aproximar as pessoas para que, assim, elas possam ser entendidas como 
iguais. A prática filosófica do positivismo proposto por Augusto Comte criou uma 
 
36 
 
atmosfera de otimismo e cientificidade que abalou a comunidade dos pensadores 
contemporâneos, que chegaram a acreditar que justamente esse movimento filosófico 
tão radical colocaria um fim na filosofia, uma vez que, em um movimento científico 
extremo, levaria à extinção da filosofia (BUCKINGHAM et al., 2011). 
 Assim, a filosofia teve que reabrir as discussões éticas e morais, como as 
perguntas sobre a liberdade do homem em relação à sociedade, questionando se sua 
liberdade estaria ou não condicionada à sua situação histórica e social, buscando 
compreender as singularidades de cada sujeito e situação. Com essas correntes 
filosóficas, surgiu o conceito de ideologia, que é algo que orienta o indivíduo nas 
esferas sociais políticas e filosóficas. Dessa maneira, a filosofia contemporânea teve 
a intenção de ser um agente modificador da realidade social, o que aconteceu de fato, 
uma vez que inspirou políticos e figuras públicas que, por meio de diferentes 
ideologias, modificaram cenários sociais em todo o mundo, o que não foi diferente 
aqui no Brasil, que também sofreu influências de diversas correntes filosóficas. 
5.3 Filosofia contemporânea: as interferências sociais e políticas 
No período da história brasileira denominado República Velha (1890-1930), 
ocorreu a ascensão do pensamento positivista, que perpetuou por muitas décadas. 
Dentro dessa vertente, é possível perceber uma tendência em formular novos 
sistemas socioeconômicos para substituir o liberalismo imposto na época, uma vez 
que se acreditava que o poder estava atrelado ao saber, e quem detinha mais 
conhecimento deveria estar em altos cargos do governo. De acordo com Paim (2007, 
documento on-line), “deste modo, o fato mais característico da ascensão do 
positivismo reside nessa capacidade de formular uma proposta política duradoura”. 
Seria incorreto presumir que o positivismo adentrou em todas as esferas da 
sociedade, entretanto, nos locais onde se fez presente, isso aconteceu de maneira 
intensa, como nas universidades, que foram beneficiadas sobremaneira por esse 
pensamento. O positivismo exerceu tamanha influência em algumas esferas sociais 
que possuía o caráter semelhante a uma igreja. A primeira associação positivista foi 
criada em 10 de abril de 1876 e possuía membros como Oliveira Guimarães e 
Benjamin Constant. Cabe ressaltar que essa entidade visava ampliar o acesso

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