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DIREITO PARTIDÁRIO Campanhas Eleitorais CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃOLATO SENSU 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 NATUREZA, OBJETO E CONCEITO DE DIREITO ELEITORAL ............... 4 3 FONTES DO DIREITO ELEITORAL ........................................................... 5 4 PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL ......................................................... 6 4.1 Partidos políticos no império ................................................................ 8 5 EVOLUÇÃO E GRAUS DA DEMOCRACIA .............................................. 20 5.1 A importância dos Parlamentos e a presença dos Partidos Políticos . 26 5.2 Democracia Brasileira ........................................................................ 30 6 DIREITO ELEITORAL APLICADO ............................................................ 34 6.1 Criação de um partido politico ............................................................ 36 6.2 A disciplina e a fidelidade partidária ................................................... 37 6.3 Liberdade da informação e direito de ser informado .......................... 40 6.4 O regime jurídico da pesquisa eleitoral .............................................. 42 6.5 A propaganda eleitoral ....................................................................... 46 6.6 A propaganda eleitoral extemporânea................................................ 47 6.7 Propaganda antecipada e mero ato de promoção pessoal ................ 52 6.8 A partir de que momento a propaganda eleitoral pode ser considerada como antecipada? ................................................................................................. 55 2 Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma per- gunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser se- guida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 1 INTRODUÇÃO Ao longo dos tempos ocorreram mudanças eleitorais que foram implementadas pelo ordenamento jurídico brasileiro com o escopo de modificar disposições referentes ao Código Eleitoral, à Lei dos Partidos Políticos e à Lei das Eleições. Regulamenta- ram, de certo modo, a dinâmica, organização e funcionamento dos partidos políticos. A recente Lei Federal nº 13.877/2019 reformulou novos mecanismos para serem ob- servados pelos partidos políticos como, fundo eleitoral, fundo partidário, prestação de contas, propaganda partidária, doações, entre outros. Certo é que, a cada nova elei- ção, referidos temas têm retornado à pauta do dia como forma de atender o desapreço popular pelo processo eleitoral e partidário vigentes, e os partidos políticos acabam assumindo o epicentro dessa discussão. Até podem, segundo o momento histórico- político vivenciado, perder o viço, mas jamais a vida eterna. Afinal, eles são os res- ponsáveis diretos pela implementação do processo de representação política, impor- tando no canal de ascensão legítima pelo poder e exercício pleno da democracia. Sustentam-na, de fato. E é pela importância que assumem no cenário eleitoral con- temporâneo, especialmente no brasileiro, que os olhos de toda nação devem se voltar para entender todo contexto dos partidos políticos que regem de forma direta a vida cotidiana. 4 2 NATUREZA, OBJETO E CONCEITO DE DIREITO ELEITORAL Fonte: oabam.org.br O Direito Eleitoral é ramo de Direito Público Interno. Possuindo autonomia no campo de suas investigações, tem regras sistemáticas que lhe são aplicadas com regularidade, conferindo-lhe, assim, uma condição de ser ramo científico do conheci- mento jurídico dedicado ao “estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo a que se estabe- leça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental”, na palavra autorizada de Flávia Ribeiro (Direito Eleitoral, p. 12, Forense). O objeto do Direito Eleitoral é o de impor normas que visam garantir as carac- terísticas mais essenciais e os aspectos fundamentais da democracia, por disciplinar o exercício do direito do voto, que é a forma mais potencializada de se expressar a soberania popular. (JEHÁ, 2009) Inspirado na importância crescente do Direito Eleitoral, disse Maurice Hauriou, em sua obra Princípios de Direito Público e Constitucional, pág. 237, ed. Madri, que “o poder eleitoral, sobretudo a partir do sufrágio universal, tem adquirido con- siderável importância, tanto que nos obrigara a incluí-lo entre os poderes do governo, ao lado do poder Executivo e do Poder Legislativo”. Enfocando de um modo sintético, o objeto do Direito Eleitoral, sob a inspiração de Flávia Ribeiro, ob. cit., p. 14 - 15, do modo seguinte: 5 a) cuidar do disciplinamento das medidas tendentes à distribuição do corpo eleitoral; b) promover a organização do sistema eleitoral; c) ditar as normas que deverão ser cumpridas quanto à forma do voto (secreto, público - cédula individual ou cédula única); d) disciplinar a mecânica da representação majoritária e proporcional: e) tratar das prescrições sobre a aquisição e perda da capacidade política ativa e passiva: f) fixar a natureza dos partidos políticos, regulando o seu funcionamento e es- tabelecendo as suas responsabilidades; g) organizar o processo eleitoral (organização e distribuição das mesas recep- toras de votos), a realização e apuração das eleições, diplomação dos eleitos: h) processar e julgar os crimes eleitorais. 3 FONTES DO DIREITO ELEITORAL Não se pode negar que o tema da interpretação do direito só tem possibilidade de ser visto de modo razoável se estiver vinculado às fontes do ramo científico jurídico que se pretende entender. Necessário, portanto, antes de ser iniciada a meditação relativa a aspectos in- terpretativos do Direito Eleitoral que sejam enumeradas as suas fontes. Temos, assim, a Constituição como a fonte suprema do Direito Eleitoral. No corpo da Carta Magna, encontram se as seguintes matérias, entre outras, que tratam de conteúdo eleitoral: — Art. 151: disciplina os casos de inelegibilidade e os prazos de sua incidência. — Art. 137, V: Apuração e processamento das eleições; competência da Jus- tiça Eleitoral. — Art. 28: Eleição de Deputado - simultaneidade em todo o País. — Art. 13, § 2°: Eleição de Governador e Vice-Governador de Estado. — Art. 151, III: Normalidade e legitimidade das eleições - preservação. — Art. 15, I, e 209, § único: Eleição de Prefeito e Vice-Prefeito – simultaneidade em todo o País. — Art. 79: eleição no caso de vacância do cargo de Presidente da República. 6 — Art. 74 e §§, e art. 75, §§ 1° e 2º - eleição do Presidente da República. — Art. 41 e § 5º: Eleição de Senador. — Art. 28: Eleição de Senador - simultaneidade em todo o País. — Art. 15 e art. 209, § único: Eleição de vereador - simultaneidade em todo o País. — Art. 77, e 19: Eleição de Vice-Presidente da República. — Art. 147, §§, 19e 29: Alistamento de eleitor. — Art. 147, § 3°: Inalistáveis. — Art. 147, § 2°: O eleitor militar. — Art. 14: Prevê a consulta plebiscitaria para criação de novos municípios. No campo da legislação ordinária, constituem fontes do Direito Eleitoral: a) A Lei Orgânica dos Partidos Políticos (Lei n° 5.682, de 21.07.71, com as modificações posteriores); b) o Código Eleitoral; c) Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral; d) legislação não codificada que cuida de matéria eleitoral. Como fontes subsidiárias, podem ser enumeradas: a) o Código Penal brasileiro: b) o Código de Processo Penal; c) o Código Civil; d) o Código de Processo Civil. 4 PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL 7 Fonte: envisione.com.br No Brasil, o termo “partido político” surgiu antes mesmo da Independência, com os precedentes grupos e associações políticas que lutavam pela predominância dos interesses sociais sobre quaisquer outros. Em verdade, tratavam-se de meras facções, grupos políticos, e não efetiva- mente de “partidos políticos”, já que, para estes era necessária a preponderância de uma Constituição própria e até mesmo de um regime representativo, com funciona- mento parlamentar, para que existissem; o que, na época, não havia. (CORNAZZANI SALES, 2016) De fato, normas de regência colonial até anunciavam a indicação pelo Príncipe Regente de políticos, deputados, para o exercício de atividades administrativas, que, em verdade, mais pareciam, nesse primeiro momento histórico, tratarem-se de funci- onários efetivos do Reino, jungidos à mesma nomenclatura de “deputados” do que deputados representantes do povo em exercício nos Parlamentos, como na atuali- dade. Havia apenas um sentimento histórico pela existência de partidos políticos. O jornal “Correio Braziliense”, em edição de janeiro de 1822, fazia referência ao Partido da Independência, consistiam, em verdade, muito mais tendências liberais ou conservadoras de cada deputado, individualmente, do que efetiva concepção de grupo. A qualidade e o atributo de representantes do povo, propriamente ditos, passa- ram a ser nitidamente identificados, apenas, nos escritos subsequentes, em especial no Ato da Proclamação, de 13 de julho de 1821, firmado pelas Cortes Gerais e Extra- ordinárias da Nação Portuguesa aos habitantes do Brasil. (CORNAZZANI SALES, 2016) Além das considerações acerca da adoção de uma Constituição Política futura e de avocação dos deputados brasileiros para completarem o quadro da representa- ção nacional, auxiliando e deliberando sobre as tarefas pertinentes à consolidação da vontade coletiva pela liberdade e independência, extrai-se, ao final, deste Ato de 1821, in verbis: Brazileíros! Nossos destinos estão ligados: vossos irmãos não se reputarão livres, sem que vós o sejaes tambem: vivei certos disso; e convencei-vos de 8 que os seus Deputados, como representantes de toda a nação, estão prom- ptos a sacrificar até a. sua propria exístencía para que ella seja tão livre e tão feliz, quanto o póde e o merece ser. Ainda assim não se tratavam de partidos políticos, mas de representantes po- líticos que começavam a ganhar conotação de representantes do povo, sob a roupa- gem de defensores de interesses coletivos. A formação partidária ganha legitimidade e, portanto, status jurídico-constituci- onal a partir do período imperial. Mostrou força política desde então, quase preponde- rante em todos os momentos da história brasileira. Contribuíram, certamente, no es- tabelecimento dos regimes eleitorais, apresentando vida, organização, dimensões, fu- sões e cisões segundo o ambiente social e parlamentar vivenciados. Repetiu origens e movimentações intrapartidárias muito próximas às descortinadas pela doutrina clás- sica. (JEHÁ, 2009) Em razão disso, por todas as diversidades encontradas, nada mais justo se faz o exame particularizado deste tema – partido político – em solo brasileiro, no que se propõe a abordagem por dois subcapítulos distintos, um para o Império e outro para a República, cada qual cuidando do ambiente (sistema eleitoral vigente); do respectivo processo de institucionalização partidária (modo de organização e de solidificação do sistema partidário), notadamente, das agremiações partidárias de maior ênfase no período; e, por fim, o regime jurídico adotado. (SALES, 2016) 4.1 Partidos políticos no império No período imperial brasileiro, os grupos ou facções já existentes desde o Brasil Colônia, que se formavam em torno da Constituinte de 1823, defendiam ideais de força absolutamente opostas. Para ARINOS, três bases políticas diversas preponde- ravam. A primeira inclinava-se ao interesse de um fortalecimento do poder da Coroa, eram monarquistas providos de interesses bastante conservadores, como José Boni- fácio, que sustentava a bandeira pela ordem constitucional. Pautava-se, em sua mai- oria, por juízes de primeira instância, jurisconsultos e altos representantes da Igreja acima dos cinquenta anos de idade. 9 A segunda, proferida por deputados titulados como “exaltados” ou democratas, firmava-se a partir de um sentimento vasto por liberdade, defendendo a limitação do poder real, como era o caso da emenda proposta por Ferreira França, com sustenta- ção por um governo federalista, mesmo diante da inexistência de ambiente favorável a essa proposta. Constituía-se de uma minoria, formada pelo clero e por pequenos proprietários rurais. A terceira sustentava posição de centro, cujos seguidores acabavam sendo considerados independentes e defensores de uma doutrina moderada, voltada para uma constitucionalização de direitos sem que prejudicado fosse o poder e a governa- bilidade do Monarca. Assim, no Império é que a vida político-partidária em si começa a tomar forma, precisamente, a partir da abertura da primeira sessão preparatória da Câmara dos Deputados, em 29 de abril de 1826, e da primeira sessão legislativa da Assembleia Geral Legislativa, composta pela Câmara dos Deputados e pela Câmara dos Senado- res, em 06 de maio do mesmo ano. Antes dessas datas, havia somente deputados brasileiros eleitos para participar das Cortes Gerais Portuguesas de 1820, sem que eles tivessem influência no processo legislativo brasileiro. (SALES, 2016) Importante ponderar que se legalizaram, efetivamente, apenas no Segundo Reinado (1840-1889). De início, eram dois: o Partido Liberal e o Partido Conservador que começaram a se desenvolver, para alguns doutrinadores, em meados de 1831; para outros, ape- nas no período da reação monárquica de 1837 ou, melhor dizendo, na legislatura par- lamentar de 1838. Foi sob a égide desta lei, a Constituição outorgada de 1824, reformada em 1834, no sentido liberal, pelo chamado Ato Adicional (nome imitado ao modelo napo- leônico dos Cem Dias) e restaurada no sentido conservador pela lei de 12 de maio de 1840, que interpretou aquele Ato, que se processaram a arregimentação e a vida dos Partidos políticos no Império. Relata o autor que o Partido Liberal, antes mesmo do Partido Conservador, teria tomado corpo com os movimentos liberais de revolta ao absolutismo e de intro- dução por uma reforma constitucional de teor federativo que se instalava nas Provín- cias do Primeiro Império, especificamente logo após a Abdicação de Dom Pedro I. 10 Revelavam-se grupos políticos de ideologia liberal ou republicana que teriam se for- mado antes mesmo da Revolução de 7 de abril de 1831 e não a partir dela, como sustentado por Américo Brasiliense. (SALES, 2016) Embora o federalismo no Brasil Império não tivesse encontrado espaço sufici- ente para prosseguimento, assim como os esforços à finalização do Poder Moderador e à institucionalização de um Senado eletivo e temporário, a concentração e a orga- nização política liberal estabelecida desde a apresentação do projeto de reforma em 1831 teriam sido vitoriosas com a ediçãodo Ato Adicional, pela maioria, de 1834. Assim se verificava a conquista com a instalação do Poder Legislativo Provincial, tão reclamado, e a extinção do Conselho de Estado – embora de forma temporária, já que restabelecido teria sido referido Conselho em 1841, com a Lei nº 234 de 23 de no- vembro. (SALES, 2016) Os liberais que representavam os interesses da burguesia urbana, do capita- lismo comercial e dos progressistas intelectuais escritores, jornalistas, professores e magistrados, a merecer destaque Aureliano, Alves Branco, Limpo de Abreu, Mon- tezuma, Castro e Silva e Chichorro, acabaram predominando na Câmara e nos su- cessivos Gabinetes desde o Ministério de 10 de outubro de 1833 até o de 19 de se- tembro de 1837, consolidando a existência do Partido Liberal. (SALES, 2016) Entretanto, as interferências desagregadoras e anárquicas que passaram a so- frer, somadas à formação da legislatura de 1838-1841 na entrada do Segundo Império por conservadores ligados aos interesses agrários, em especial dos lavradores de café do sul, que teria se tornado a base econômica nacional, suplantando o açúcar do norte, motivaram a origem e a formação subsequente de outra agremiação partidária: o Partido Conservador. (SALES, 2016) Fonte:politicabrasileira.com.br 11 Era chegado o momento de liberais da direita e antigos restauradores da es- querda se unirem num pensamento comum de ordem pública e de defesa dos grandes interesses econômicos ligados à lavoura. Este é o movimento de formação do Partido Conservador, que, tendo à frente o inquieto Vasconcelos, nasceu sob o signo mais feliz para um Partido de ordem: o signo da conservação que não rejeita o progresso. Forte defensor da monarquia, o Partido Conservador logo ganhou simpatia e, em razão disso, assentos nos Gabinetes do Imperador, destacando-se com força e poder muito maiores que os do Partido Liberal. Obviamente que a discórdia surgiria, mergulhando a política brasileira no perí- odo da Conciliação. Vale dizer, num período que teve início em 1847, com a instala- ção, pelo Imperador, de um Conselho de Ministros misto, composto por políticos libe- rais e conservadores, justamente para controlar a acirrada disputa de poder que se fomentava. (JEHÁ, 2009) Entretanto, mesmo diante da tentativa do Imperador de se estabelecer um Ga- binete Liberal – o Governo de Paula Souza, como ficou conhecido à época –, para apaziguarem os ânimos dos liberais, sua preocupação com a chegada de eventuais reflexos da Revolução de 1848, na França, consistentes numa explosão republicana e, consequentemente, fim da monarquia, forçaram-lhe a substituir referido Gabinete Liberal pelo Gabinete Conservador de Olinda, abrindo margem à luta, sanguinolenta, de Praia, em Pernambuco. (JEHÁ, 2009) O auge do Ministério da Conciliação foi em 1853 e perdurou até 1858. Naquele momento histórico a situação geral do país (...) não suscitava nem alimentava teses divisionistas, não se justificando a permanência de um processo vi- olento para viabilizar os interesses da ala progressista da burguesia, que além de pertencer a uma mesma classe social não tinham problemas em choque. Valem os parênteses: mesmo com os antagonismos partidários da época, cu- rioso verificar que as alianças partidárias já eram pensadas e praticadas desde então na história brasileira. Provavelmente não da mesma forma àquelas verificadas nos dias atuais, mas, inegavelmente, existiam. A esse fato, insta destacar a doutrina de ARINOS, notadamente sobre os comentários acerca do ambiente favorável provocado na Câmara em 1850, pela chegada de “um daqueles momentos de estabilidade em que o liberal se confundia com o conservador”. Somente após dez anos é que o res- 12 tabelecimento das identidades partidárias alcançaria êxito, revertendo o quadro ante- rior: o triunvirato liberal, formado por Teófilo Ottoni, Francisco Otaviano e Saldanha Marinho, se sagrava vencedor nas eleições de 1860, equilibrando as forças com o “famoso triunvirato conservador que, dizia-se, por tantos anos governara o Império: Eusébio, Itaboraí, Uruguai”. (JEHÁ, 2009) A formação dos partidos políticos não se limitou à ideologia dessas duas frentes partidárias, liberal e conservadora, apenas. Com o pós-eleição de 1860, quatro novas agremiações partidárias se firmaram: o Partido Progressista, o Novo Partido Liberal, o Partido Liberal Radical e o Partido Republicano. O Novo Partido Liberal e o Partido Republicano, segundo ARINOS, teriam se formado a partir dos movimentos de esquerda, inclusive porque “prosseguia, dentro dos quadros parlamentares, a evolução para a esquerda que levou da Conciliação ao Progressista, deste ao liberalismo radical de 1868, até que a ala esquerda deste último se tornou solidamente republicana”. Enfim, o Partido Progressista era formado por integrantes das alas liberais e de dissidentes conservadores, considerados moderados. Antes mesmo de se formar par- tido era conhecido como a “Liga”, a “Liga Progressista”, fruto da liquidação da Conci- liação. Nasceu exatamente durante a legislatura de 1861. Sustentava, como objetivo de organização estatal e sistema político propriamente dito, a oposição pela reforma da Constituição, pela eleição direta, pela descentralização política e pelo exclusivismo nos cargos públicos. Defendia, de outro lado, a regeneração do sistema representativo e parlamentar a partir da implantação em definitivo da divisão de poderes políticos, a responsabilização dos ministros de Estado pelos atos do Poder Moderador, a defesa dos direitos e interesses locais da província e do município, a reforma e correta exe- cução da lei eleitoral com garantia de qualificações verdadeiras, a eleição com garan- tia à real expressão da vontade nacional e representação das minorias, dentre outros. O Partido Liberal-Radical e o Novo Partido Liberal, embora este em menor di- mensão, “se assemelhavam muito mais a facções mais progressistas do Partido Libe- ral então existente do que a qualquer outra coisa. ” O Novo Partido Liberal teve sua formação em 1869, a partir da união de liberais históricos e progressistas insatisfeitos com a dissolução, pelo Imperador, em 1868, do Ministério Progressista criado em 1866. Eram considerados centro-liberais e, assim 13 como os progressistas, também defendiam a responsabilização dos ministros pelos atos do Poder Moderador. Constituíam projetos seus a descentralização política nos moldes das condições sustentadas pelo Ato Adicional de 1834; a supressão da vitali- ciedade dos senadores e sua incompatibilidade, juntamente com os deputados, de exercerem diversos cargos públicos; a reforma eleitoral por eleições diretas na Corte, nas capitais das províncias e nas cidades integradas por mais de 10 mil almas; e a independência do Poder Judiciário, dentre outras prerrogativas. Seus integrantes fo- ram os fundadores do Clube da Reforma e do Jornal Reforma, ambos na Capital do Império, jungidos ao poder de difusão de seus ideais. O Partido Liberal Radical, por sua vez, foi constituído em 1868, no ano anterior ao Novo Partido Liberal. Sustentavam ideias ainda mais ousadas, como a extinção, de vez, do Poder Moderador, e não simplesmente a imposição de responsabilidades aos Ministros pelos atos do Imperador. Proclamavam, também, a eletividade dos se- nadores e a implementação de mandatos por tempo determinado, assim como dos Presidentes das Províncias. Reclamavam, tal qual o Novo Partido Liberal, a instituição do sufrágio direto e generalizado, dentre outros. Em 1870, final do Império, nasceu o Partido Republicano, especificamente em 3 de dezembro, com o famoso texto “Manifesto Republicano”, apresentado na primeira edição do jornal “A República” por um grupo de políticos paulistas liderados pelos fundadores do Clube Republicano, Quintino Bocaiúva e Saldanha Marinho. Foi o pri- meiro e principal organismo partidárioformado com o intuito de se combater a monar- quia, num período em que o governo imperial sofria sucessivas crises e a política cafeeira da região sul brasileira o inverso: forte ascensão e destaque. Os liberais des- contentes com a queda do Gabinete Liberal de 1868 defendiam ideais positivistas, republicanos e federalistas, justamente porque acreditavam serem esses os caminhos à verdadeira representação política e não a monarquia. Raízes dessa base partidária logo se fincaram no Partido Republicano Paulista – PRP, fundado em 03 de julho de 1873, na Convenção de Itu, em São Paulo e no Partido Republicano Mineiro – PRM, instituído em 1888. Importante destacar que embora existentes, a doutrina apontava os partidos políticos como instituições minoritárias, sem vínculo popular. Isso porque a represen- tação política se ligava, como já ressaltado, à vontade do Imperador, especificamente 14 nas nomeações por ele promovidas a partir dos candidatos sugeridos pelos chefes dos partidos políticos ou, ainda, por seus candidatos próprios. No que toca aos partidos políticos, sabe-se que, no decorrer da Conciliação, eles haviam, de certa forma, se desvinculado de seus pressupostos socioeconômicos, visto que, de resto, tais pressupostos estavam coincididos e harmonizados. Por isso, tem razão Faoro quando diz que os partidos, naquele período de Conciliação, consti- tuída instituições minoritárias, sem vínculo popular, cuja autoridade se formava pela ligação com o imperador. Para compreender respectiva fragilidade partidária, conveniente se faz, ainda que em breves linhas, traçar as características do sistema eleitoral da época. Nada se mostrava favorável à constituição de um sistema de partidos com seriedade. As eleições se processavam de modo indireto ou de duplo grau, porque a massa dos cidadãos ativos ou qualificados, reunida em assembleias paroquiais, es- colhia os eleitores de Província e, estes, por sua vez, escolhiam os representantes da nação e da Província. E, além disso, o sistema eleitoral, durante praticamente todo o Império, obede- cia ao modo distrital, de divisão das Províncias em círculos eleitorais para cada tipo de eleição (deputado geral ou deputado provincial), segundo os critérios da lei. Ado- tava-se o modo distrital puro, majoritário de eleição. Quando não processado pelo voto distrital, o sistema eleitoral se consolidava nos termos dos mandos e dos desmandos desejados pelo Imperador. O Poder Moderador, previsto na Constituição Federal de 1824 e a ele atribuído, conferia poderes suficientes para emitir decisão final sobre qualquer matéria, inclusive sobre ponderações contrárias do Legislativo, proferidas no regime de governo parlamentarista vigente à época. Assim, no período do Primeiro Império, as eleições se fundamentavam em lis- tas fechadas, apresentadas por cada partido, com possibilidade de interpretação dos votos considerados duvidosos e de conteúdo incerto. As alterações que se reputavam conveniente para a sustentação do Governo eram realizadas a qualquer tempo. Essa fase, conhecida como “eleições por chusmas”, favorecia a fraude, principalmente por- que “as eleições eram feitas por agentes administrativos nomeados pelo Governo, pelo Gabinete que estava no poder” que, de outro lado, aplicavam a força para coagir o eleitorado, “fazendo com que, durante o Império, as eleições ganhassem, desde o pleito de 13 de outubro de 1840, a alcunha de ‘eleições do cacete’, que produziam 15 câmaras unânimes em perfeita harmonia com o Gabinete”. Pelo Governo, eram no- meados os presidentes das províncias, também com poderes para chefiar os Coman- dantes Militares da região, assim como os magistrados e o clero. E as eleições eram manipuladas pelo Ministério da Justiça. No Segundo Império é que o sistema distrital se consagrava, em especial, no período da Conciliação. Foi introduzido em 1853, por sugestão do Marquês de Paraná, Presidente do Ministério Paraná (ou Gabinete Paraná, como também era conhecido) que sustentava a eleição em distritos, ou círculos, de um deputado na Câmara dos Deputados, sa- grando-se vencedor os beneficiários da maioria de votos. Embora os conservadores se mostrassem irresignados com essa proposta, porque acreditavam que assim o Par- lamento podia perder sua natureza de órgão de notáveis com a eleição de opositores, funcionários subalternos que viessem a se favorecer por influências locais, por 54 vo- tos contra 36, o Decreto Lei nº 842, de 19 de setembro de 1855, conhecido como a “Lei dos Círculos”, foi sancionado. De qualquer modo, esse novo modo de eleições não interrompia o controle do “rei”. Apenas as pessoas qualificadas pela lei, conside- radas não impedidas ou sob margem de incompatibilidade ao exercício da atividade legislativa, podiam receber votos. Os proprietários rurais que integravam os gabinetes liberais ou os ministérios conservadores, ou disputavam eles próprios as eleições ou patrocinavam a candida- tura de políticos que com eles mantinham uma relação clientelística ou de troca de favores entre o coronel e o político. Na situação geral que se criou àquela época, o senhor rural vencia a eleição na medida em que os gabinetes, nomeados pelo poder moderador num sistema aproximado de rodízio, fossem ou não de sua afiliação e, pela força que assumiam, inevitavelmente conduziam o “bom” direcionamento das disputas eleitorais locais, segundo sempre a vontade do Imperador. O que não se imaginava era que a prática de uma liberdade eleitoral, consen- tida pelo próprio Imperador, contra ele se rebelaria. Diagnosticava-se, na primeira eleição sob a regência do sistema distrital (de 1856), o inesperado: a derrota do Governo em vários círculos pelos reformadores (os liberais), permitindo a formação de minorias partidárias na Câmara. Um ponto positivo. 16 O ponto negativo é que, nem com isso, vale dizer, com “a falta de adaptação do esquema de fraude ante a nova realidade” o controle deixou de se concentrar nas mãos do Imperador. Bastou uma eleição para que as forças regionais que regiam os pleitos apren- dessem como agir sob o regime que se instaurara, fazendo com que a lei de 19 de setembro de 1855, apesar de cumprida fielmente, não atingisse os seus objetivos. Destarte, passaram os reformadores liberais a imaginar um novo vestido, esse mais elaborado e de difícil aceitação tanto por parte dos conservadores quanto do Impera- dor: a eleição direta. Em razão disso, em 1860, a “Lei dos Círculos” foi remodelada. Sendo chamada por alguns como a segunda “Lei dos Círculos”, o Decreto Lei nº 1.082, em 18 de agosto, ampliou os círculos/distritos eleitorais, garantindo a repre- sentatividade por até três deputados. Entretanto, por preponderar um espírito reformador ainda mais forte, procla- mando por eleições diretas com a eliminação dos dois graus de votação e dos colégios eleitorais, na tentativa de serem solucionadas as fraudes eleitorais, com, inclusive, adesão dos conservadores a esses novos ideais, nem a nova lei foi suficiente para manter o sistema de controle imperial. Nesse contexto, não havia outra saída, senão abolir o sistema distrital. Isso ocorreu com a edição da “Lei do Terço”, Decreto Lei nº 2.675, de 20 de outubro de 1875. A eleição em círculos de três deputados se manteve, porém sob o viés de um sistema de voto incompleto, onde apenas um terço era conferido à representação das minorias. A magistratura passou a intervir no alistamento eleitoral e no julgamento de questões eleitorais, com novas definições em relação às incompatibilidades eleitorais e parlamentares. Por pressões externas de diversas ordens e sem condições políticas de manter o sistema eleitoral no patamar em que se encontrava, o Conselheiro José Antônio Saraiva foi convidado a compor o Ministério com a missão exclusiva de reformar o sistema eleitoral vigente, implantando o processo deeleições diretas. Sugeriu o retorno do voto distrital, no final do período imperial e, portanto, do regime monárquico parlamentarista vigente. O Decreto Lei nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881, que levou o seu nome – “Lei Saraiva”, também conhecida como “Lei do 17 Censo”, foi redigida pelo Deputado Rui Barbosa. Restabeleceu a eleição por círcu- los/distritos de um deputado, regulamentou as incompatibilidades, introduziu penali- dades rígidas às eventuais fraudes, alargou o voto ao naturalizado, acatólicos e liber- tos, introduziu os títulos eleitorais e implementou a Justiça Eleitoral. Numa comparação ou verificação de compatibilidades entre o sistema eleitoral e o sistema partidário, Francisco Belisário Soares de Sousa, sustentou que a aplica- ção do voto distrital a partir da “Lei dos Círculos”, em verdade, caracterizava a deteri- oração do partido político por quatro razões elementares. A primeira, porque evidenciava clara quebra à disciplina partidária. A candida- tura desamparada pelos chefes de partido não tinha probabilidade de vingar, em qual- quer das eleições que fosse, na de centro ou nas provinciais, já que o regime era absolutamente tirano, sem qualquer mobilidade à escolha do candidato que não fosse aquele indicado na lista (chapa) organizada pelos diretores de partido. (CORNAZZANI SALES, 2016) A segunda, porque era possível identificar um nítido enfraquecimento dos par- tidos, diante da dificuldade plena de se mostrarem unidos e compactos, com ideias próprias e tendências conhecidas e dirigidas por pessoas de destaque na política, a exemplo da postura partidária existente em qualquer sistema parlamentar. Os partidos apresentavam-se divididos em grupos, “em conventículos de meia dúzia de indiví- duos, sem nexo, sem ligação, sem interesses comuns e traços de união”; pior, com membros do mesmo partido se dilacerando por intrigas e egoísmos individuais que, inevitavelmente, atingiam a sua estrutura como um todo. A terceira, porque induzia o surgimento de siglas partidárias por elites não res- socializadas na subcultura da alta elite política, que tinham o único objetivo de alcan- çar o poder de representação popular para atendimento dos interesses dos chefes do partido e não da sociedade. E a quarta, e última, razão elementar à deterioração do partido político no sis- tema eleitoral do período imperial se justificava por haver motivação muito maior em se substituir os partidos nacionais pelas facções parlamentares pluripartidárias dos Gabinetes, que aqui se criavam sob a forma de partidos políticos, sem qualquer co- nhecimento da sociedade, inclusive, apenas para permanecer na regência desse ga- binete. 18 Enfim, a institucionalização de partidos políticos no Império seguia sem qual- quer proposta ideológica formada a partir dos anseios da própria sociedade, mas na forma imposta pelo ambiente eleitoral-parlamentar de se alcançar o prestígio do po- der. (CORNAZZANI SALES, 2016) A par de existirem correntes favoráveis ao estabelecimento do voto distrital, que acreditavam referenciar esse modelo à aproximação do eleitor ao seu candidato e futuro representante político, contribuindo com a existência de uma campanha menos penosa ao candidato já que não precisaria correr todo o Estado em busca de votos, mas apenas o território do seu distrito, o sistema distrital, puro ou misto, apresenta efeitos negativos muito maiores, inclusive, na esfera dos partidos políticos. Ex: a)subtrai representação às minorias; b) leva com o tempo à extinção dos partidos me- nores e à construção, de fato, de um sistema bi ou oligopartidário; c) favorece o partido da situação e prejudica a oposição; d) fortalece o caciquismo político; e) regionaliza as eleições, afastando do debate os grandes temas políticos e nacionais; f) expõe o sistema, como um todo, a maior grau de corrupção. (CORNAZZANI SALES, 2016) Em sentido contrário, destacando as considerações de Pimenta Bueno, o Mar- quês de São Vicente, exaradas em 1857, assinalou o principal benefício do sistema distrital no Império: a representação da oposição. Havia a formação de maiorias dis- tritais a partir de todos os interesses e opiniões da sociedade, sem que aniquiladas fossem as maiorias provinciais. Enfim, independentemente da classificação que se queira adotar ao sistema eleitoral implantado no período imperial, se três, ou cinco, conforme didaticamente exposto por JEHÁ, fato é que significativa influência tiveram as agremiações partidá- rias na composição do arranjo político-governamental do Império, essencialmente, os dois maiores partidos políticos: o conservador e o liberal. Afinal, juntamente com o Imperador Regente, se mantinham no poder em alternância quase que modo equili- brado. Acompanhando o quadro ilustrativo apresentado por JEHÁ em face do proposto por Vamireh Chacon, a situação encontrada nos Gabinetes indicados pelo Imperador, era, in verbis: 06/09/1853 a 04/05/1857 – Conciliação; 04/05/1857 a 24/05/1862 – Conservadores; 24 a 30/05/1862 – Liberais; 19 30/05/1862 a 15/08/1864 – Conservadores; 15/08/1864 a 12/05/1865 – Liberais; 12/05/1865 a 03/12/1866 – Conservadores; 03/12/1866 a 16/07/1868 – Liberais; 16/07/1868 a 05/01/1878 – Conservadores; 05/01/1878 a 20/08/1885 – Liberais; 20/08/1885 a 07/06/1889 – Conservadores; 07/06/1889 a 15/11/1889 – Liberais. De modo que, embora para alguns juristas os partidos políticos pudessem ser considerados como correntes minoritárias sem qualquer expressão política e popular, sua evolução histórica demonstrou que, mesmo de forma primitiva, se colocavam como instrumentos fundamentais ao descortínio de uma nova proposta de governo, uma nova forma de Estado. (CORNAZZANI SALES, 2016) Além da contemplação do direito de expressão da minoria num regime político de base parlamentarista e, eminentemente, monárquico, foram capazes de promover a reforma da monarquia. Conforme assinalado por JEHÁ, foi exatamente a partir dos ideais dos Partidos Republicanos e do Partido Liberal-Radical que, juntamente com os setores importan- tes do Exército, o fim do Império foi selado, alcançando-se a proclamação da Repú- blica e a instituição do federalismo. Os partidos políticos estiveram presentes e assim permaneceram ainda que para dar sustentação às oligarquias locais na formação do poder central. Aliás, num sistema de ‘voto de cabresto’, que nada mais era do que um anúncio do Coronelismo típico da República que se aproximava. Concluindo e, em síntese, a base partidária embrionada no período colonial, foi consolidada como “partido político” no Primeiro Reinado, ganhando legalização ape- nas no Segundo Reinado. Num Estado de natureza parlamentar e monárquica, as duas principais agremiações, de base elitista, Partido Liberal e Partido Conservador, que competiam por espaços nos Ministérios, dividiram o ambiente parlamentar com, pelo menos, outras quatro agremiações partidárias de menor influência (Partido Pro- gressista, Novo Partido Liberal, Partido Liberal Radical e Partido Republicano), todas de natureza regionalizada e não nacionalizada, instaladas num sistema eleitoral dis- trital à base de sufrágio restrito. Em relação ao sistema distrital, mesmo com a identificação de pontos negativos à aplicação das duas edições da “Lei dos Círculos” e, posteriormente à “Lei Saraiva”, 20 referido sistema eleitoral também permaneceu vigente no Brasil durante toda a Repú- blica Velha. (CORNAZZANI SALES, 2016) 5 EVOLUÇÃO E GRAUS DA DEMOCRACIA Fonte: compromissoeatitude.org.br Viver a sociedade e em sociedade, participando direta e indiretamente, opi- nando e decidindo sobre seu destino, com direitos e liberdades plenamente asse- gurados e em igualdade de condições é a fórmula que o ambiente democrático efetivamente instituiu para a regência do poder soberano no Estado de Direito. Decisão ampla, de natureza coletiva,vinculada a todo o corpo social, profe- rida por uma maioria representada a partir de eleições amplas, igualitárias e cons- tantes consolida, por fim, os elementos essenciais à sua caracterização. Para Norberto Bobbio, a democracia exige um elemento que vai além des- sas regras (apud BOBBIO, pág. 19/20): É preciso que aqueles que são chamados a decidir ou a eleger os que deve- rão decidir sejam colocados diante de alternativas reais e postos em condição de poder escolher entre uma e outra”. Somente assim, com garantia dos di- reitos de livre manifestação de opinião, de reunião e de associação é que os mecanismos caracterizadores do regime democrático estariam plenamente consolidados. 21 Fato é que, em suma, nenhuma outra fórmula política à regência de um go- verno, até o momento, conseguiu atingir esse ideal comum ou sequer a ele propor melhorias. Fonte: tre.gov.br A democracia tem sido o palco exclusivo das liberdades. Acredita-se, por essa razão, tenha se tornado o modelo de referência para muitos povos, para muitas outras Nações. Sua origem remonta à Grécia antiga, Atenas. Por dois séculos, desde as reformas de Clístenes, 509 a. C., à paz de 322 a. C., durante a vida e pensamento filosófico de Platão (429-347 a.C.), Sócrates (470-399 a.C.) e Aristóteles (384-322 a. C.), até a transformação das instituições políticas por Antípatro, o general da Macedônia e apoiador dos reis Filipe II e Alexandre (o Grande), a democracia foi estabelecida como o primeiro modelo de governabilidade, assim permanecendo durante todo o limiar do século XVIII. A etimologia do termo “democracia” combina os radicais gregos demo e kra- cia, significando, respectivamente, povo e governo e, portanto, a ideia de um go- verno feito por seu próprio povo. De fato, fazendo-se um comparativo entre as três atuais, e mais comuns, formas de regime de governo, verifica-se que nem o regime autoritário nem o tota- litário conseguem alcançar o ideal proposto para um regime democrático. FERREIRA FILHO, envolvendo as interfaces da força política encontrada em cada regime de governo, além de também reafirmar que no regime democrático as liberdades de expressão e de compartilhamento de informações, estabelecidas “com o objetivo de propiciar a disputa, a intervalos regulares, entre líderes e parti- dos a fim de alcançar o poder por meios não violentos” estão presentes, lembrou que no regime autoritário, embora existente um pluralismo político, a manifestação 22 é limitada a um grupo governante, consolidado “dentro de limites mal definidos, conquanto previsíveis”, desprovido de uma ideologia elaborada e de uma mobili- zação política significativa, e no regime totalitário, a ideologia oficial nenhuma liber- dade de manifestação resguarda ao cidadão, senão ao “partido político único, de massa, que controla toda a mobilização política e o poder concentrado em mãos de um pequeno grupo que não pode ser afastado do poder por meios instituciona- lizados e pacíficos”. (apud, FERREIRA FILHO, pág. 64) Em outras palavras, o espaço de governabilidade proferido por uma minoria no poder é o que caracteriza a forma aristocrática de governo, quer seja por seu regime autoritário ou totalitário de governo, denotando traços, de fato, verdadeira- mente distantes ao comportamento das liberdades pacíficas que são asseguradas em um ambiente democrático. ROUSSEAU, o pai da democracia moderna, critica apenas a forma como se quer assentir a democracia: pelo viés da representação política. Por acreditar que à soberania não se cabe qualquer forma de representação, em razão disso sus- tenta que uma verdadeira democracia, em regra, nunca existiu e nunca existirá, na medida em que, para sua compatibilidade, há a necessidade de se pressupor um Estado pequeno e pobre. Caso contrário, a degenerescência natural do governo o remete não apenas à aristocracia, mas também ao pendor natural da realeza de uma monarquia, sem a mínima possibilidade de volta. In verbis: O governo, com efeito, só muda de forma quando, perdida a elasticidade da mola, esta o deixa excessivamente enfraquecido para poder conservar aquela. Ora, se se estendendo, ela afrouxasse mais ainda, sua força se tor- naria inteiramente nula e ela não teria condições de subsistir. É necessário, pois, remontar e comprimir a mola, à medida que esta cede; de outro modo, o Estado que ela sustém desabaria em ruína. Entretanto, por mais que ROUSSEAU considerasse a verdadeira democra- cia impraticável, questionando, em especial, o seu funcionamento pelo viés da re- presentação política ou, ainda, defendesse a impossibilidade da soberania ser re- presentada, haja vista institucionalizar uma submissão completa da vontade geral dos súditos à vontade particular do soberano, tanto a ideia de democracia repre- sentativa quanto o seu exercício pleno quebraram barreiras, fazendo-se predomi- nar em praticamente todos os povos. Se bem ou mal, conforme também refletido 23 por BOBBIO, se verdadeiramente cumprido, teria sido o ideal democrático pela “democracia real”, ela existiu e sobreviveu com os seus defeitos. (SALES COR- NAZZANI,2016) Consoante ASSIS BRASIL, o ideal democrático só avançou porque conso- lidava, de fato, o regime das liberdades e dos direitos, individuais e coletivos. Nas suas observações: Seja como fôr, e apezar de quaesquer anathemas que contra a democracia se vibrem, é facto positivo que as nações livres do nosso tempo revelam to- das, por signaes evidentes, indole democratica. Por toda parte o povo é cha- mado a influir na constituição dos orgams do governo e administração; por toda parte perdem terreno os ultimos laivos de dominação pessoal, e os pró- prios individuos que se levantam para repelir a palavra democracia, não raro, são os primeiros em reclamar contra as intrusões do despotismo e em favor da liberdade. [sic] Nesse sentido, DALLARI, afirma que a única relação existente entre a de- mocracia antiga e a moderna seria “a noção de governo do povo” e não, exata- mente, “a noção do povo que deveria governar”, o Estado Democrático moderno teria nascido das irresignações contra o absolutismo, “sobretudo através da afir- mação dos direitos naturais da pessoa humana”, justamente porque tem por fun- damento a razão de resguardar “a supremacia da vontade popular”, “a preservação da liberdade” e “a igualdade de direitos”. Na visão de TILLY, o exame do vigor de uma democracia o levou, sem pou- par esforços, a registrar que sua plenitude só é alcançada se significativas mudan- ças na forma do relacionamento político entre o Estado e seus cidadãos vierem a ser promovidas. De modo que implantados, e consequentemente alicerçados, de- vem ser os instrumentos jurídicos que garantam consultas amplas, igualitárias, pro- tegidas e mutuamente vinculantes. A contrário sensu, qualquer forma de descrédito nessa relação, vale dizer, na integração harmoniosa desses vetores, o reflexo ime- diato será o da sua desdemocratização. Para o autor, o exame de uma democracia vai além. Não deve ser visto apenas a partir do atendimento de pré-requisitos estancados e englobados de uma lista estática. Tomando-se por base a doutrina da “democracia poliárquica” de Robert Alan Dahl, que preordena a necessidade de atendimento a todas as seis instituições do regime de governo para que democrático seja ele considerado, que são “oficiais 24 eleitos; eleições livres, justas e frequentes; liberdade de expressão; fontes de in- formação alternativas; autonomia associativa; e cidadania inclusiva, na visão de TILLY, o critério que deve ser adotado para se verificar o status de um regime democrático como, inclusive, proposta de melhoria a essa doutrina poliárquica é a sua definição orientada pelo processo. Vale dizer, in verbis: Se queremos ter informações sobre as causas e os efeitos da democratiza- ção ou desdemocratização, não temos outra escolhasenão reconhecê-los como processos contínuos, e não apenas como simples passos em um ca- minho que leva numa ou noutra direção. Em suma, para propósitos comparativos e explicativos, não podemos ficar apenas com uma checklist de variáveis cruciais. De modo que os juízos envolvidos no comportamento que um Estado deve ter em relação às demandas de seus cidadãos para que consolidados sejam os elementos do ideal democrático consistentes na amplitude, igualdade, proteção e caráter mutualmente vinculante das consultas, para TILLY, indispensável verificar “qual a extensão da manifestação desses conjuntos de demandas”; na sequência, “quão equitativamente diferentes grupos de cidadãos experienciam a tradução de suas demandas em ação do Estado”; assim como “em que extensão a própria ex- tensão das demandas recebe a proteção política do Estado”; e, por fim, “o quanto o processo de tradução envolve ambos os lados, os cidadãos e o Estado”. Havendo qualquer fragilidade nesse engendramento de consultas amplas, igualitárias, protegidas e mutuamente vinculantes, o regime democrático se sub- meteria, quando muito, a um processo que ele convencionou chamar de desdemo- cratização. Na hipótese desse Estado mergulhar em um período autocrático, sina- lizando o início de um viés negativo ao processo de democratização anteriormente conquistado, numa visão bastante otimista, TILLY defende a possibilidade de sua reoxigenação, com restabelecimento do status quo ante, ou, até mesmo, alcance de melhorias democráticas jamais experimentadas. Por consultas e participação política ativa dos cidadãos nos negócios do Estado, tem-se então a assertiva de que eleições amplas e igualitárias, livres, jus- tas e frequentes são elementos próprios do regime democrático, apenas dele. Do mesmo modo, se mostrou a democracia desde a sua raiz: da experiência encontrada no modelo dito direto ateniense aos modelos liberais de democracia 25 representativa dos séculos XVIII e XIX e, subsequentemente, contemporâneos, lis- tados por CASTANHO como, resumidamente, a democracia elitista de Joseph Alois Schumpeter, a democracia pluralista de Robert Alan Dahl, as teorias demo- cráticas de Giovanni Sartori, a visão de Estado e de democracia por Norberto Bob- bio, a democracia deliberativa de Jügen Habermas, a democracia participativa de Carole Pateman, a democracia semidireta e, ainda, as democracias de natureza liberal, marxista, popular, providencialista, industrial, partidária, plebiscitária, dua- lista, de referência e eletrônica (e-democracia). (SALES CORNAZZANI,2015) LIJPHART45 vai além, demonstrando, a partir de trinta e seis modelos de- mocráticos diversos, as múltiplas maneiras de funcionamento e desempenho de uma democracia, segundo suas instituições governamentais e, notadamente, con- centração de poder. Afinal, consoante enfatizado por CASTANHO, a igualdade política assim como o privilégio dado às liberdades pela democracia do século XVIII foi assentida no século seguinte, especificamente no momento de institucionalização das demo- cracias modernas, quando países mais evoluídos já iniciavam a adoção de um sis- tema eleitoral institucionalizado por instrumentos “como o sufrágio universal, sis- tema partidário, eleições periódicas e confiáveis e respeito aos direitos individuais”. Mesmo com prós e contras, a democracia constitui um ambiente interes- sante pelas liberdades que afirma existir. (SALES CORNAZZANI,2016) 26 5.1 A importância dos Parlamentos e a presença dos Partidos Políticos Fonte: ibrade.org Procurando contextualizar historicamente os Parlamentos democráticos, sua origem, ao menos, formação embrionária, LEMBO na síntese do necessário, elucidou, in verbis: Lutero rompe com o Papado e Calvino elabora o modelo deuteronômico de governo, que se rege, consequentemente, pelo livro do Deuteronômio, inte- grante do Testamento Hebreu. Essa forma de governo – deuteronômico – se estabelece por meio de assembleias, os presbitérios. Essa figura foi a célula dos parlamentos democráticos da modernidade, ou seja, das câmaras muni- cipais, assembleias estaduais, Câmara Federal e Senado da República, na formatação federativa brasileira. Vê-se, assim, que muito antes da clássica doutrina da Tripartição de Pode- res do Estado, propagada por Montesquieu, sob a inspiração dos filósofos Aristó- teles e Locke, o Parlamento já havia ganhado forma, ainda que de modo tímido. Sua existência, por pressuposto, tinha uma razão única: a de abrigar os di- versos grupos que a sociedade começava a desenvolver para que regidos fossem os seus negócios públicos e em seu nome. Ou seja, os grupos intelectuais, socie- dades ou associações populares de diversas ordens, inclusive de natureza sindi- cal, que se reuniam para compartilhar tendências políticas similares, adstritas por vezes aos problemas das mesmas regiões ou, simplesmente, angariar fundos para 27 a realização de campanhas políticas futuras. Era como se denominavam “as fac- ções que dividiam as antigas repúblicas e os clãs que se agrupavam em torno do Condottiere na Itália renascentista”. Personificado pelo Estado de Direito no Poder Legislativo, a responsabili- dade do Parlamento consiste em editar leis, por via dos representantes nele conti- dos e segundo a confiança recebida do povo que os elegeu. Afinal, o poder legislativo é o poder supremo em toda comunidade que seja ele confiado a uma ou mais pessoas, quer seja permanente ou intermitente, por- tanto, tem a competência de legislar na medida estabelecida pelo povo. Os partidos políticos foram constituídos nesse espectro político, consoli- dando a evolução da representação política proporcionada pelos grupos seletivos e organizados que a própria sociedade criou. Ademais, o reconhecimento e a legitimidade de grupos políticos, enquanto pessoa jurídica portadora de direitos e obrigações, na qualidade de corpos inter- mediários à relação Estado “versus” cidadão, para em nome do povo e pelo povo realizar o governo para o povo, é traço característico da Democracia ocidental con- temporânea. A democracia inevitavelmente necessitava de criar a composição de um estado de partidos para o regular o seu desenvolvimento, pra que se tratasse de assunto da vontade do povo, funcionamento e estruturação do poder político, rele- vante instrumento de seleção dos representantes do povo. Pela oportunidade, não se poderia deixar de trazer à colação o pensamento de JEHÁ em face do momento de formação dos partidos políticos. A seu ver, não teriam nascido por derivação obrigatória dos Parlamentos, embora com eles guar- dassem relação preferencial, mas da reivindicação pela criação de instituições re- presentativas, no bojo das tendências de opiniões, clubes populares, associações de pensamento e grupos parlamentares. Sem embargo ao posicionamento apresentado, contudo, o sentimento que se abstrai, materializado em igualdade de condições para todos os estudiosos, é que os partidos políticos teriam se desenvolvido e evoluído no bojo da representa- ção política, conquistando espaços cada vez mais significativos no Parlamento e se tornando, dentro do cenário político estatal democrático, a principal peça do xadrez. 28 De acordo com o assinalado por FERREIRA FILHO, assumiram uma função delicada e importante como canal oficial de expressão da opinião pública, capaz de mostrar ao eleitorado quais as opções políticas possíveis e por quais pessoas seriam capazes a sua realização. Independentemente do regime de governo implantado, quiçá o democrático, a presença dos partidos políticos se impõe tal qual condição sine qua non à ani- mosidade do objetivo principal de qualquer sistema: legitimar a conquista do Poder. Afinal, não apenas os regimes democráticos contemporâneos têm como um de seus principais requisitos a liberdade de organização partidária,assim, também, os regimes autocráticos contemporâneos, mesmo de base totalitária, ganharam novos aliados: a institucionalização dos partidos únicos. De outro lado, não obstante sejam bastante criticados, porque expostos es- tariam, ou efetivamente estão, à possível formação de oligarquias internas, isto é, sob comando limitado às ordens de alguns poucos e poderosos representantes que o integram ou, então, expostos estariam aos processos de corrupção ou como instrumentos de poder econômico, na qualidade de objeto de manipulação pelo financiador que assume a propagação de sua imagem e de seus integrantes, os partidos políticos contém virtudes que não merecem ser desconsideradas. JEHÁ revigora pensamento de Hofmeister ao destacar que “em todos os lugares, os partidos políticos fazem parte do grupo de instituições decisivas dos sistemas democráticos”, do mesmo modo que o de Hans Kelsen ao enfatizar que “só a ilusão ou a hipocrisia pode acreditar que a democracia seria possível sem partidos políticos”. Independentemente das considerações contrárias que se queira firmar, face à tendência de defesa de interesses particulares e não nacionais – consideradas por BOBBIO, como falsas, senão ridículas, “cada membro do parlamento repre- senta antes de tudo o próprio Partido, assim como, num estado de camadas, o delegado representava antes de tudo os interesses da própria camada”, não havia outra alternativa factível para o canal da representação política. BOBBIO vai além. Sem desmerecer a importância do Parlamento e o prin- cípio da representação política nele assentado, diz que o Estado representativo propriamente dito é aquele no qual “as principais deliberações políticas são toma- das por representantes eleitos, importando pouco se os órgãos de decisão são o 29 parlamento, o presidente da república, o parlamento mais os conselhos regionais etc.” Nas considerações de JEHÁ: Os partidos políticos, neste diapasão, surgem como alternativa à racionaliza- ção do processo de governo e de identificação entre eleitor e eleito. Entre- tanto, para se firmar como alternativa válida, o partido deve ser capaz de se depurar de seus vícios e ostentar uma estrutura interna democrática e livre de corrupção. Deve ainda ser financiado nos termos da lei, respeitar os de- mais partidos e os direitos fundamentais do homem, além de atuar perma- nentemente em prol da formação política do povo, com fundamento de ideais democráticos e buscando o poder pelo convencimento e pelo voto e nunca pela força. Para ele, trata-se do jogo político democrático. A democracia, possuindo ca- racterísticas próprias, exige consenso na periodicidade de eleições livres por su- frágio universal, destacando-se os partidos políticos como seus atores principais e o processo eleitoral o modo principal de se fazer política. Em resumo, portanto, mesmo com todas as vicissitudes históricas enfrenta- das, tendo inclusive significado organizações hostis e de existência duramente cri- ticada até o advento do período revolucionário do século XVIII, pelo próprio dese- nho do Estado Moderno, que se seguia desprovido da figura do soberano e subs- tituído pela do povo, as agremiações partidárias foram tomando formas e funções cada vez mais importantes no processo da representação política, assumindo corpo de partidos políticos e o cerne da operacionalização do poder no cenário político. Nesse sentido, as virtudes conquistadas pelos partidos políticos foram as de verdadeiros responsáveis por assegurar uma seleção, ainda que ilusória, entre di- ferentes alternativas; oferecer certa organicidade na administração do Estado; re- alizar sondagens responsáveis do eleitorado; reduzir a complexidade da escolha entre diversas opções eleitorais e, enfim, exercer o papel de mediador na política, funcionando como sistema de frenagem das pressões eleitorais sobre o polo go- vernamental. E mais: consubstanciaram-se, efetivamente, num dos principais ele- mentos de robustecimento das práticas democráticas, já assinaladas na doutrina de Hans Kelsen, aliás, precursora do reconhecimento à existência de um Estado de Partidos. (SALES CORNAZZANI,2016) 30 5.2 Democracia Brasileira Fonte:cliquediario.com.br O sentimento democrático em solo brasileiro ganhou espaços com as forças liberais reclamadas em face da descentralização e não sufocamento das autonomias regionais sedimentadas desde o período colonial. A forma unitária de Estado e o re- gime monárquico de Governo estavam com os dias contados. Conforme lembrado por AFONSO DA SILVA, os ideais republicanos já podiam ser vistos na Inconfidência Mineira e Revolução Pernambucana de 1817. Ganharam força com os federalistas que surgiram na Constituinte de 1823 e permaneceram du- rante todo o Império. Mesmo após a efetivação de várias rebeliões, tais quais a “Ba- laiada”, a “Cabanada” e a “Sabinada”, a monarquia federalista, também pensada em 1831, não foi conquistada, mas, sim, apenas certa descentralização do poder com o Ato Adicional de 1834, embora esvaziado com a lei de interpretação de 1840. Ganhou brilho com a “República de Piratini”, ressurgindo com maior ênfase em 1870. Assim, embora reclamada há quase sessenta anos pelos liberais, durante pra- ticamente todo o período imperial, a democracia, vista “como regime político que me- lhor assegura os direitos humanos fundamentais”, se desenvolveu na República, es- pecificamente na estruturação do Estado pelo princípio constitucional do federalismo. De outro lado, analisando-se por seu vigor, da mesma forma que os casos ana- lisados por TILLY, o Brasil, durante todo o seu processo de democratização, registrou graus de desdemocratização, dois mais significativos nos períodos de 1930 a 1945, quando da regência do governo por Getúlio Vargas que beirava grande semelhança 31 a uma forma de governo autoritário, e 1964 a 1985, durante o predomínio do regime militar. Independentemente deste fato, a liberdade de participação nas decisões políti- cas foi plenamente resgatada, segundo princípios e ideais consolidados na ordem constitucional e mantidos vivos até os dias de hoje. A representação política em solo brasileiro, do contrário, sempre existiu, acom- panhando a democracia desde os seus primórdios, embora sob várias formas de par- ticipação política. CARVALHO assinalou que a monarquia, ao seguir a direção europeia de natu- reza monárquica na época da independência e não a sugestão republicana do modelo norte-americano, subsidiou-se não apenas da tradição colonial portuguesa, assim como das pressões da Santa Aliança para se formar, mas também da influência me- diadora da Inglaterra, institucionalizando a ideia do liberalismo francês pós-revolucio- nário da monarquia constitucional que, por si só, exigia “a presença de um governo representativo baseado no voto dos cidadãos e na separação dos poderes políticos”. A representação política no Brasil remonta o período colonial, embora tratada com mais enfoque a partir do Império. A crítica feita por CARVALHO, por exemplo, é que o sistema de representação política, garantido no Império, não diferia do sistema praticado no período colonial, já que não houve qualquer alteração na condição de ser cidadão. Os cidadãos da época, em sua grande maioria, mantinham-se sem saber qual era o significado de um go- verno representativo; vale dizer, mais de 90% da população no Império vivia em áreas rurais e era influenciada pelos proprietários que, em sua grande maioria, se inseriam no patamar de 85% da população considerada analfabeta. Os votantes urbanos, em sua maioria, “eram funcionários públicos controlados pelo governo”. Todos deviam subserviência ao tratamento exigido pela Guarda Nacional, que era formada por ofici- ais indicados pelo governo central e extraídos da elite local. A consequência do processo eleitoral, na visão do autor, era inevitável: O votantenão agia como parte de uma sociedade política, de um partido po- lítico, mas como dependente de um chefe local, ao qual obedecia com maior ou menor fidelidade. O voto era um ato de obediência forçada ou, na melhor das hipóteses, um ato de lealdade e de gratidão. 32 Pertencia a representação nacional ao Imperador e à Assembleia Geral Legis- lativa tal qual condição lógica e nacional. Aquele, assumindo a representação do po- der, “a majestade da nação, no império e fóra delle” [sic] e esta, a expressão da so- berania nacional, com a incumbência de criar o direito, as obrigações e as penas, regulando os outros poderes e os cidadãos, enfim, a sociedade. De fato os direitos políticos do cidadão vieram regulados na própria Constitui- ção Federal outorgada em 25 de março de 1824. “Podiam votar todos os homens de 25 anos ou mais que tivessem renda mínima de 100 mil-réis” e fossem cidadãos ou, ainda, que provassem independência econômica aos 21 anos, cumulativamente com a condição de ser pai de família, oficial militar, bacharel, clérigo ou empregado público. Excluídos, obrigatoriamente, os escravos, que não eram considerados cidadãos, e as mulheres. Nas eleições gerais, o processo eleitoral indireto era feito em dois turnos. Pri- meiramente escolhidos eram os eleitores pelos votantes, respeitada a “proporção de um eleitor para cada 100 domicílios”. Na sequência, os eleitores com renda de 200 mil-réis elegiam os deputados para o exercício de mandato de quatro anos, e os se- nadores, que ainda passavam por uma lista tríplice selecionada pelo Imperador se- gundo a opção do candidato de sua preferência, para assumirem o exercício de um mandato vitalício. As eleições locais de vereadores e juízes de paz ocorriam em um só turno, enquanto os presidentes das províncias eram nomeados pelo governo cen- tral. Satisfatória ou não, a democracia representativa brasileira existia, sendo inau- gurada a partir de um modelo censitário e restrito de sufrágio, ao menos, e com cer- teza, no período imperial. Outra crítica chancelada pela doutrina, dentro desse período histórico, diz res- peito à incerteza de se realmente autônomos eram os poderes de regência do Estado nas funções constitucionais recebidas. É que embora existisse a clara subdivisão dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no Império Brasileiro, a regência de toda a organização política se conso- lidava no poder central do Imperador, com quase exclusividade. Muito além de escolher e nomear os dirigentes das províncias, escolher e no- mear o chefe de polícia, provendo-lhe de atribuições de polícia local e de funções judiciais até 1870, e nomear os juízes de direito e promotores públicos a partir desta 33 data, ao Imperador a ordem constitucional também conferia poderes excepcionais, nominalmente constituídos como Poder Moderador para dissolver a Câmara ou adiar ou convocar sessões, bem como escolher, em lista tríplice, os senadores, interferindo diretamente no Poder Legislativo. Pelo Poder Moderador, os magistrados podiam ser suspensos, os Ministros de Estado, então nomeados, podiam ser exonerados a qual- quer tempo e as províncias podiam ser regidas e controladas segundo seus desígnios. Apenas para registrar, a província é a forma como o Estado se subdividia no Império. Conforme bem destacado por PIMENTA BUENO, não tinha o condão de in- terferir na unidade do Estado, mas distribuir os órgãos da administração a fim de que a extensão de centros de serviços fossem mais proximamente disponibilizados aos seus habitantes. In verbis: A divisão do império em províncias, qual existia ao tempo em que foi promul- gada a nossa lei fundamental, assim como a atual, não é nem devia ser de ordem constitucional; não são Estados distintos, ou federados, sim circums- cripções territoriaes, unidades locais, ou parciais, de uma só e mesma uni- dade geral. São centros de vida, de ordem, e de ação administrativa, partes integrantes do império, como a constituição expressamente reconhece; po- dem pois ser sub- divididas segundo exigir o bem do Estado. De fato, PIMENTA BUENO lembrou que a separação do poder, notadamente do poder legislativo, se justificava por não ser adequado acumular o poder de quem cria a lei com o poder de quem executa a lei, tanto no sentido geral ou coletivo quanto no sentido do interesse individual ou civil, sob pena de se consagrar numa acumula- ção irracional. Nas suas palavras: “Dividem-se, e separam-se para evitar a confusão, o olvido dos negócios do Estado, e dos direitos nacionais, para impedir a precipitação, o erro, o ex- cesso; para que se aproveitem todas as inteligências e forças na elevação do edifício social, no desenvolvimento da prosperidade brasileira. São atividades paralelas que convergem para uma só e gloriosa missão.” E, de outro lado, sob a ótica do autor, devia se harmonizar com os demais poderes, conferindo, como o fez à Coroa, assento nas funções desempenhadas por suas duas câmaras de representação política, a de deputados e a de senadores ou senado, in verbis, “assim, e com toda a sabedoria, foi o poder legislativo brazileiro delegado á assembléa geral com a sancção do imperador”. 34 Independentemente de uma análise mais cuidadosa em face da interferência de um poder sobre o outro, o que se quis destacar nas considerações acima é a res- sonância no polo da representação política que o Parlamento teve desde o início do processo de descolonização brasileira. Não se movimentou sozinho, mas com a integração de partidos políticos, refle- tindo a instituição política e coletiva que é e que, na visão de PIMENTA BUENO, ne- cessariamente, deve ser “composto de ramos diversos e independentes”. (SALES CORNAZZANI, 2016) 6 DIREITO ELEITORAL APLICADO Fonte: fce.edu.br Ao falar em sistema eleitoral, deve-se entender aí incluídos todos os critérios de aferição dos candidatos vitoriosos no processo eleitoral. Assim, com o objetivo de determinar quem será o legítimo eleito após as campanhas, a contagem de votos se dará por regras preestabelecidas e que não podem ser alteradas no caminhar do pro- cesso, evitando-se mudanças casuístas e (in)oportunas, que possam desequilibrar o jogo natural de forças entre candidatos. A sobredita vedação à alteração das regras do jogo político foi constitucional- mente estabelecida com a finalidade de garantir segurança jurídica e previsibilidade à disputa eleitoral. Nesse sentido é o Artigo 16 da Constituição, com redação atribuída 35 pela Emenda Constitucional que afirma: “Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”. (CORNAZZANI SALES, 2016) No Brasil, existem dois grandes sistemas eleitorais, quais sejam: (1) O sistema majoritário; (2) o sistema proporcional – os quais serão esmiuçados a seguir. Deve-se entender o sistema majoritário como aquele em que será considerado eleito o candidato que receber o maior número de votos. Entretanto, ainda se pode dividir o sistema majoritário em dois subsistemas: 1.1 - majoritário simples: neste subsistema, o vencedor será o candidato a quem se creditar a maioria dos votos, independentemente dos votos dos adversários e da quantidade de eleitores. É o tipo de subsistema usado nas eleições para senador e para prefeito nas cidades com até 200 mil eleitores – e não habitantes; 1.2 - majoritário absoluto: usado nas eleições para presidente, governador e prefeito nas cidades com mais de 200 mil eleitores. É um subsistema caracterizado pela potencialidade de um segundo turno de votação, o qual somente ocorrerá se o candidato mais votado não possuir a maioria absoluta dos votos válidos no primeiro turno, ou seja, não se levando em conta os votos nulos e em branco. Por outro lado, há ainda o sistema eleitoral proporcional, lastreado por umapercepção aritmética da distribuição dos votos, objetivando prestigiar o agrupamento político mais votado e os respectivos interesses ideológicos que tal agremiação repre- senta. Assim, pelo sistema eleitoral proporcional, tem mais valor o voto na legenda partidária do que os votos individualmente computados para cada candidato. (COR- NAZZANI SALES, 2016) Por oportuno, não se pode esquecer que o sistema eleitoral do tipo proporcional também comporta subdivisão: 1 - Sistema eleitoral proporcional de lista aberta: adotado pelo Brasil nas elei- ções de vereadores e deputados estaduais. Pelo sistema de lista aberta, faz-se pos- sível o voto dos eleitores diretamente nos candidatos. Em outras palavras, a lista é aberta porque depende da intervenção por voto dos eleitores; 2 - Sistema eleitoral proporcional de lista fechada: trata-se, aqui, de caso em que os eleitores não podem votar em pessoas de modo direto, mas somente na le- 36 genda, no partido. Desse modo, os partidos vencedores integrariam as bancadas le- gislativas com candidatos previamente escolhidos na convenção partidária – e não por votação direta dos eleitores. Embora alguns indivíduos defendam a lista fechada e o voto limitado à legenda em uma possível reforma política, aparentemente essa não parece ser a intenção ma- joritária dos manifestantes que participaram dos protestos ocorridos durante a Copa das Confederações em 2013 no Brasil. A verdade é que o povo brasileiro, descon- tente, demonstrou nas passeatas sobreditas que seu voto é atribuído às pessoas, e não às ideologias ou partidos políticos, isso porque, em diversas localidades com pro- testos, percebeu-se verdadeira ojeriza à participação político-partidária. Haveria indí- cio maior de que a boa parte do Brasil – fala-se aqui dos manifestantes politicamente ativos – quer votar em pessoas, e não em partidos? Acredita-se que não. (COR- NAZZANI SALES, 2016) 6.1 Criação de um partido politico Atualmente, no Brasil, existem 33 legendas partidárias devidamente reconhe- cidas pelo Superior Tribunal Eleitoral (STE). Entretanto, o fascínio de muitos brasilei- ros pela vida política, ou mesmo sua vontade de mudar o rumo do País, tem levado grupos à tentativa de criar novos partidos, tais como se fez com algumas legendas mais novas no cenário público brasileiro. Assim exposto, apresenta-se, em breve resumo, os passos para a criação legal de partidos políticos no Brasil. Nas eleições anteriores, o lugar onde os interessados deveriam ingressar com requerimento de registro da agremiação era no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas da capital federal, mas com a alterações ocorri- das com a reforma eleitoral, Lei nº 13.877/2019, agora o requerimento de registro de partido político seja dirigido ao Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas loca- lizado na sede da agremiação. Deferido internamente o pedido de filiação, o partido político, por seus órgãos de direção municipais, regionais ou nacional, deverá inserir os dados do filiado no sistema eletrônico da Justiça Eleitoral, que automaticamente enviará aos juízes elei- torais, para arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação dos nomes de todos os seus 37 filiados, da qual constará a data de filiação, o número dos títulos eleitorais e das se- ções em que estão inscritos. (MACHADO, 2018) § 1º Nos casos de mudança de partido de filiado eleito, a Justiça Eleitoral deverá intimar pessoalmente a agremiação partidária e dar-lhe ciência da sa- ída do seu filiado, a partir do que passarão a ser contados os prazos para ajuizamento das ações cabíveis. 6.2 A disciplina e a fidelidade partidária Fonte: mundodapolitica.com Quando da votação do texto da reforma da previdência, diante da conduta de alguns parlamentares de não respeitar a orientação do partido, muitos (alunos, jorna- listas, cidadãos curiosos sobre questões políticas) me indagam: o partido pode expul- sar aquele que não seguir suas orientações? É possível perder o mandato nesse caso? Para além dos problemas vividos durante a reforma da previdência, diante da tensão habitual entre candidatos e partidos políticos, tensão essa intensificada nos últimos meses no Brasil, a fidelidade partidária tem sido, de todo modo, tema recor- rente de notícias e conversas tanto técnicas, quanto amadoras sobre política. Os termos “fidelidade/infidelidade” considerados em seu sentido coloquial po- dem levar a uma compreensão distinta da correta quanto aos possíveis efeitos jurídi- cos das condutas de candidatos perante seus partidos e vice-versa. (CORNAZZANI SALES, 2016) 38 O entendimento pleno da infidelidade partidária no Brasil requer amplo esforço hermenêutico, passando por: a) um estudo histórico das constituições anteriores, b) um estudo do contexto político e social em que, já na vigente constituição, a jurispru- dência do TSE e do STF deu uma virada na interpretação consolidada levando ao atual disciplinamento, c) senso crítico quanto ao ativismo judicial, d) percepção do efeito backlash (ou reversivo e até vingativo) da legislação, dentre outras complexida- des. (MACHADO, 2018) Ante a dimensão de todas essas questões, o tema não será aqui tratado nesses aspectos. Consideraremos apenas a precisão técnica do uso da expressão “infideli- dade partidária”, porque tal saber permite compreender as consequências jurídicas de condutas tomadas por parlamentares brasileiros no cenário atual. Inicialmente, é importante observar que a legislação usa dois termos: disciplina e fidelidade partidárias. Disciplina diz respeito a questões interna corporis, ou seja, à relação entre can- didato e partido e tem, sobretudo, natureza de Direito Privado. Seria, por exemplo, aplicável a situação de um filiado que integra a direção do partido e manifesta-se pu- blicamente contra integrantes do próprio partido, causando danos à imagem partidá- ria. Fidelidade partidária, por sua vez, no contexto em que foi interpretada pelo TSE e pelo STF, após a resposta à Consulta nº 1398/2007, diz respeito à conduta do can- didato relacionada não apenas ao partido político, mas também ao eleitor, possuindo, portanto, natureza jurídica de Direito Público, tendo reflexos eleitorais. Exatamente por repercutir na relação com o eleitor, as condutas representativas de infidelidade partidária podem levar à perda de mandato. O mandato pertence ao partido nos casos de infidelidade partidária. Ou seja, de acordo com as normas atualmente em vigor, apenas a infidelidade partidária pode levar à perda de mandato. Tanto que a Lei nº 9.906/95 (lei dos partidos políticos), ao normatizar a infideli- dade partidária, dispõe: Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito. Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária so- mente as seguintes hipóteses: I – mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário 39 II – grave discriminação política pessoal; e III – mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que ante- cede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente. Como se vê, a lei atrela a perda de mandato por infidelidade ao ato de desfilia- ção voluntária por parte daquele que detém o cargo, nada referindo sobre as hipóteses de expulsão do candidato pelo partido político a que pertence. Além de dispor sobre a perda de mandato por infidelidade, o texto normativo enumera as hipóteses em que a desfiliação é admissível chamadas, pelo artigo 22-A da Lei nº 9.9096, de “justa causa”. Há ainda outra hipótese de justa causa para desfiliação enumerada pela Constituição Federal. Trata-se da desfiliação de um partido para migrar a outro, quanto
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