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FARMACOLOGIA RESPIRATÓRIA NA ASMA – MEDICINA UFCSPA •Asma: é uma síndrome de etiologia desconhecida, mas que é caracterizada por 3 componentes essenciais: 1) obstrução das vias aéreas por broncoconstrição (episódios recorrentes com resolução espontânea/tratamento); 2) hiper responsividade exagerada a estímulo comum; e 3) Inflamação das vias aéreas. Com a continuidade do processo, ocorre um remodelamento brônquico, que é irreversível. Podemos dizer que esses “estímulos comuns” são irritantes químicos, alérgenos, ou até mesmo estresse emocional, exposição a frio ou prática de exercícios. Seja qual for o fator, ele desencadeia resposta de ativação de mastócitos, infiltração de eosinófilos e linfócitos T helper. Dessa forma, mediadores broncoconstritores são gerados (histamina, leucotrienos e PGD2), levando a broncoespasmo, exsudação capilar e aumento de permeabilidade. Na imagem abaixo, podemos perceber a diferença entre a resposta aguda e a resposta crônica da doença. O aumento do tônus do músculo liso se dá por acetilcolina e o receptor muscarínico M3. O diagnóstico da doença leva em consideração um algoritmo simples, cujo principal marcador é a espirometria, mas os níveis de metacolina também são importantes para guiar o diagnóstico preciso. Abaixo há uma tabela que exemplifica a estratificação classificatória da doença. VEF1 é o volume expiratório forçado no segundo 1 (espirometria). -Vias de administração das drogas: a forma inalatória é preferível para B2 e GCI, sendo a única opção para os anticolinérgicos. As partículas precisam ser de tamanho entre 2 e 5 μm, pois menor que isso são exaladas de volta, e maior acabam ficando retidas nas vias aéreas. Já a via oral exige dose 20x maior para o mesmo medicamento, e tem efeitos adversos maiores. A teofilina, entretanto, deve ser administrada via oral, pois não é efetiva por inalação. Quanto à forma parenteral, deve ser usada somente em pacientes graves (intravenosa), em função dos frequentes efeitos adversos. As formas de inalação incluem: 1) Inalador pressurizado: muita usada e conhecida como “bombinha”. É um propelente não CFC; 2) Inalador + espaçador: utilizada em crianças, chega na via aérea inferior, causando menos problemas adversos na orofaringe; 3) Inalador de pó: a turbulência dispersa o pó. A dose, nesse método, é pouco consistente; 4) Nebulizador: mecanismo consiste na vibração de um cristal piezoelétrico. As drogas são diluídas em solução fisiológica (aerossol). -Droga antiasmáticas: podem ser dividas em 3 grupos: 1) broncodilatadores, 2) corticoides e 3) antagonistas de leucotrienos. O detalhamento do mecanismo de cada um deles será feito abaixo. 1) Broncodilatadores: esse grupo também pode ser separado em 3 classes de medicamentos. São eles: agonistas de B2, xantinas e anticolinérgicos. Abaixo teremos os fundamentos do mecanismo, mas na imagem ao lado podemos ver a simplificação desses processos. Agonistas de B2: enquanto agonistas não seletivos, temos a epinefrina e o isoprotenerol, mas estes já caíram em desuso no tratamento da asma. O tratamento farmacológico atual envolve, assim, agonistas seletivos. O mecanismo desses fármacos é a ativação do receptor ß2 e a ativação de AMP cíclico, que, através da PKA, irá levar o músculo liso a relaxar, como está ilustrado na imagem ao lado. Além disso, auxilia em outros eventos que causam a oclusão das vias (diminui histamina, evita permeabilidade e diminui edema nos brônquios). Para ação aguda (SABA – short acting beta agonist), usa-se terbutalina, salbutamol (albuterol) e fenoterol. Eles têm latência de 5 min, pico de 30-60 min e duração de 3-4 horas. Se forem usados, mais que 3x na semana (crises), é sinal que o paciente precisa de corticoides. O uso principal é inalatório, e alivia os sintomas de qualquer estágio da asma. Em casos de asma leve, é a única terapêutica recomendada. Para terapia crônica, como tratamento de manutenção, são usados salmeterol e formoterol (LABA – long acting beta agonist). A latência é de 1-2 horas, e os medicamentos têm duração acima de 12 horas. Dos dois medicamentos citados, o formoterol tem início mais rápido. O controle da asma é muito melhor, se comparado a 3-4 doses ao dia de SABA. Entretanto, nunca se deve usar LABA isoladamente, pois não trata a inflamação crônica e ainda aumenta o risco de crises severas. O uso se dá, se forma sinérgica, com GC inalatório, que é basicamente o tratamento de escolha para asma persistente. Os efeitos adversos dependem da dose, e são mais comuns na via oral da medicação. Alguns efeitos podem incluir tremor muscular, taquicardia, hipocalemia, inquietude, hipoxemia e efeitos metabólicos. Metilxantinas: causa broncodilatação inibindo a PDE4 e, consequentemente, a degradação de AMPc. Ainda nas vias respiratórias, diminui o Ca2+ intracelular e melhora a condutância do K+. Tem efeito imunomodulador/anti-inflamatório nos linfócitos T e em eosinófilos. Em suma, não é um eficaz broncodilatador como o beta2, nem tão eficaz anti-inflamatório como os corticoides, mas pode ser usado quando esses dois outros fármacos não estão sendo efetivos. Além disso, são usadas como terapia adicional (add on) em asma severa ou DPOC. A aminofilina IV é usada em crises de asma. A teofilina é de uso oral e tem liberação prolongada, sendo a concentração estável entre 12-24 horas. A posologia indicada refere 8mg/kg, de 12 em 12 horas. A absorção é rápida e a janela terapêutica é estreita. Esses fármacos atravessam a placenta e chegam ao leite materno. Quanto ao clearance da droga, fatores que o diminuem e que, portanto, aumentam o risco de intoxicação são: doenças hepáticas, pneumonia, infecção viral e idade avançada. Os efeitos adversos são muitos: na via IV temos arritmia como o principal AD; na VO, náuseas, vômito, cefaleia, palpitação, diurese, agitação, insônia e convulsão são comuns em casos de intoxicação. Anticolinérgicos: aqui temos um representante de SAMA (short acting muscarin antagonista) que seria o ipratrópio, e também um do LAMA (tiotrópio). Relaxam o músculo liso, causando broncodilatação, ao antagonizar competitivamente receptores M3 muscarínicos. Não possuem efeito em mastócitos ou na inflamação. O ipratrópio, deve ser usado na crise (asma ou DPOC) de forma inalatória. Tem latência de 30 min e duração de 4 horas. Possui efeito aditivo ao SABA. Já o tiotrópio tem latência de 30 min também, mas duração de 24 horas. Em geral é bem tolerado e tem poucos efeitos adversos, que podem incluir boca seca, gosto amargo, náusea, constipação, visão borrada e glaucoma. 2) Corticosteroides: eles estabilizam a membrana das células que liberam mediadores e com isso possuem efeito anti-inflamatório. Além disso aumentam a responsividade ao estímulo beta. São usados apenas na asma crônica, e o uso pode ser de forma oral ou inalatória (as últimas geram menos efeitos sistêmicos). O uso de corticoides pode levar semanas até seu pleno efeito. Ao lado há um resumo dos efeitos desses fármacos. Exemplos de corticoides inalados são beclometasona, triamcinolona e dexametasona. A Budesonida, Fluticasona e Mometasona são interessantes por terem números baixos de concentração sérica, diminuindo os efeitos adversos. Alguma parte do que é inalado passa diretamente pelo metabolismo hepático de primeira passagem. São poucos efetivos no DPOC, mas constituem uma terapia eficiente na asma persistente. O uso oral deve ser feito por 10 dias após crise aguda; já o uso IV se dá em situações de crise aguda severa. Os efeitos adversos dos corticoides podem ser visualizados no quadro ao lado. 3) Antagonistas de leucotrienos: são dividos em inibidores da 5-lipoxogenase (zileutona) e os antagonistas do receptor LTD4 (montelucaste, zafirlucaste, planlucaste). O mecanismo de ação está bem ilustradona imagem ao lado, mas o princípio é inibir a produção de LTE4, que causa inflamação e broncoconstrição. A administração é oral e a absorção é rápida. São usados no tratamento crônico da asma persistente, mas são menos efetivos que corticosteroides inalados. Alguns dos efeitos adversos incluem eosinofilia, vasculite e aumento de enzimas hepáticas (zileutona). -Terapias biológicas na asma: o anticorpo monoclonal anti-IgE atua inibindo a maturação de linfócitos B, para que estes nunca se tornem mastócitos e liberem citocinas. São injeções subcutâneas duas vezes na semana. É indicado em casos de asma moderada-severa com IgE alta. Também pode ser usado se houver exacerbações repetidas dos episódios. Seu uso é importante pois diminui a necessidade de doses constantes e altas de glicocorticoides. -Tratamento da asma: há alguns indicadores mínimos que devem ser buscados quando pensamos no tratamento da asma no dia a dia do paciente. Permitir atividades usuais e dormir sem acordar por causa da asma são alguns deles. Isso assegura uma qualidade de vida interessante ao doente asmático. Além disso, diminuir os medicamentos e também as exacerbações devem ser sempre pautados como objetivos. Por fim, uma representação de opções de terapia nos níveis da doença é representado.
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