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Roteiro farmaco 1- Doenças e inflamações respiratórias: conceitos e mecanismos envolvidos. MECANISMOS DA ASMA A asma é uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias caracterizada pela ativação de mastócitos, infiltração de eosinófilos e linfócitos T auxiliares 2 (TH2) (Figura 36-1). A ativação de mastócitos por alergênios e estímulos físicos libera mediadores broncoconstritores, como a histamina, leucotrieno D4 e prostaglandina D2, que causam broncoconstricção, vazamento microvascular e exsudação plasmática. O aumento do número de mastócitos no músculo liso das vias respiratórias é uma característica da asma. Muitos dos sintomas da asma são causados pela contração do músculo liso das vias respiratórias e, portanto, os broncodilatadores são importantes como aliviadores dos sintomas. Não se sabe se o músculo liso das vias respiratórias é intrinsecamente anormal na asma, mas um aumento da contratilidade do músculo liso das vias respiratórias pode contribuir para a hiper-responsividade das vias respiratórias, a marca fisiológica da asma. O mecanismo de inflamação crônica na asma ainda não é bem compreendido. Pode ser inicialmente estimulado pela exposição a alergênios, mas parece tornar-se autônoma, de maneira que a asma é essencialmente incurável. A inflamação pode ser orquestrada pelas células dendríticas que regulam as células TH2 que provocam inflamação eosinofílica e também formação de IgE por linfócitos B. O epitélio das vias respiratórias desempenha um papel importante através da liberação de vários mediadores inflamatórios e através da liberação de fatores de crescimento, numa tentativa de reparar os danos causados pela inflamação. O processo inflamatório na asma é mediado através da liberação de mais de 100 mediadores inflamatórios. Redes complexas de citocinas, como quimiocinas e fatores de crescimento, desempenham um papel importante na orquestração do processo inflamatório. A inflamação crônica pode levar a mudanças estruturais nas vias respiratórias, como aumento do número e tamanho das células do músculo liso das vias respiratórias, vasos sanguíneos e células secretoras de muco. Uma característica histológica típica da asma é a deposição de colágeno (fibrose) abaixo da membrana basal do epitélio das vias respiratórias (Figura 36-1). Isto parece ser resultado de inflamação eosinofílica e é encontrado até mesmo no início dos sintomas de asma. A inflamação complexa da asma é suprimida por corticosteroides na maioria dos pacientes, mas mesmo se a asma for bem controlada, a inflamação e os sintomas retornam se os corticosteroides forem descontinuados. A asma geralmente começa no início da infância, pode desaparecer durante a adolescência e reaparecer na idade adulta. É caracterizada por obstrução variável do fluxo aéreo e, tipicamente, apresenta uma boa resposta terapêutica a broncodilatadores e corticosteroides. A gravidade da asma em geral não muda, de maneira que os pacientes com asma leve raramente evoluem para asma grave e pacientes com asma grave geralmente a têm desde o início, embora alguns pacientes, particularmente com asma de início tardio, apresentem uma perda progressiva da função pulmonar como pacientes com DPOC. Os pacientes com asma grave podem ter um padrão de inflamação mais semelhante à DPOC e são caracterizados por reduzida capacidade de resposta aos corticosteroides. MECANISMOS DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA A doença pulmonar obstrutiva crônica envolve a inflamação do trato respiratório com um padrão que difere da asma. Na DPOC, há uma predominância de neutrófilos, macrófagos e linfócitos T citotóxicos (células Tc1). A inflamação afeta predominantemente as pequenas vias respiratórias, resultando em estreitamento progressivo das vias respiratórias pequenas e fibrose (bronquiolite obstrutiva crônica) e destruição do parênquima pulmonar com destruição das paredes alveolares (enfisema) (Figura 36-2). Essas alterações patológicas resultam em fechamento das vias respiratórias na expiração, levando ao aprisionamento do ar e hiperinsuflação, particularmente ao esforço (hiperinsuflação dinâmica). Isso explica a falta de ar ao esforço e a limitação de exercícios que são sintomas típicos da DPOC. Os broncodilatadores reduzem o aprisionamento de ar dilatando as vias respiratórias periféricas e são a base do tratamento na DPOC. Ao contrário da asma, a obstrução do fluxo aéreo na DPOC tende a ser progressiva. A inflamação no pulmão periférico de pacientes com DPOC é mediada por vários mediadores inflamatórios e citocinas, embora o padrão de mediadores seja diferente do da asma. Em contraste acentuado com a asma, a inflamação em pacientes com DPOC é amplamente resistente a corticosteroides, e atual mente não há tratamentos anti-inflamatórios eficazes para esta doença. Além de doença pulmonar, muitos pacientes com DPOC têm manifestações sistêmicas (perda de massa músculo esquelética, perda de peso, depressão, osteoporose, anemia) e doenças comórbidas (doença cardíaca isquêmica, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes). Ainda não se sabe se estas doenças são causadas por transbordamento de mediadores inflamatórios a partir do pulmão ou devido à existência de mecanismos comuns causais (como tabagismo), mas pode ser importante tratar os componentes sistêmicos no tratamento global da DPOC. 2- Vias de administração de drogas: importância clínica. Os medicamentos podem ser distribuídos para os pulmões por via oral ou parenteral e também por inalação. A escolha depende do fármaco e da doença respiratória. Via inalatória A inalação (Figura 36-3) é o modo preferido de distribuição de muitos fármacos com um efeito direto sobre as vias respiratórias, particularmente para a asma e DPOC. É a única maneira de distribuir alguns medicamentos como cromoglicato dissódico e fármacos anticolinérgicos e é a via preferida de distribuição para β2 agonistas e corticosteroides, para reduzir os efeitos colaterais sistêmicos. Os antibióticos podem ser administrados por inalação em pacientes com sepse respiratória crônica (p. ex., na fibrose cística). A inalação também é usada para facilitar a distribuição sistêmica do fármaco em outras doenças (p. ex., para evitar injeções diárias de insulina). A grande vantagem da inalação é a distribuição do fármaco para as vias respiratórias, em doses que sejam eficazes com um risco muito menor de efeitos colaterais sistêmicos. Isto é particularmente importante com o uso de corticosteroides inalados (CSI), o que evita em grande parte os efeitos colaterais sistêmicos. Além disso, medicamentos como broncodilatadores inalatórios têm um início de ação mais rápido do que quando tomados por via oral, e portanto é possível um controle mais rápido dos sintomas. Tamanho das partículas. O tamanho das partículas para inalação é de fundamental importância na determinação do local de deposição no trato respiratório. O tamanho ideal das partículas para que elas se fixem nas vias respiratórias é de 2-5 μm de diâmetro aerodinâmico médio de massa (MMAD). As partículas maio res fixam-se fora das vias respiratórias superiores, enquanto as partículas menores permanecem suspensas e são, portanto, expiradas. Existe um interesse crescente pela distribuição dos fármacos para pequenas vias respiratórias, particular mente na DPOC e na asma grave. Isso envolve a distribuição de partículas de fármaco de aproximadamente 1 μm de MMAD, que agora é possível usando fármacos formulados em propulsor hidrofluoroalcano (HFA). Farmacocinética. Do total de fármaco distribuído, apenas 10-20% entram nas vias respiratórias inferiores com um inalador dosimetrado pressurizado convencional (pMDI). O destino do fármaco inalatório é mal compreendido. Os medicamentos são absorvidos a partir da luz da via respiratória e têm efeitos diretos sobre as células alvo das vias respiratórias.Os fármacos também podem ser absorvidos pela circulação brônquica e, em seguida, distribuídos para mais vias respiratórias periféricas. Com frequência, não se sabe se os fármacos são metabolizados nas vias respiratórias, e há pouca compreensão dos fatores que podem influenciar a absorção local e o metabolismo de fármacos inalados. Medicamentos com maior peso molecular tendem a ser retidos em maior medida nas vias respiratórias. No entanto, vários fármacos têm maior eficácia terapêutica quando administrados por via inalatória. O corticosteroide inalado ciclesonida é um pró-fármaco ativado por esterases no trato respiratório no princípio ativo desciclesonida. Uma distribuição pulmonar mais extensa de um fármaco com um MMAD menor aumenta a deposição alveolar e, portanto, é provável que aumente a absorção dos pulmões para a circulação geral resultando em mais efeitos colaterais sistêmicos. Assim, embora os pMDI HFA distribuam mais corticosteroide inalado para as vias respiratórias menores, há também aumento da absorção sistêmica, de modo que a relação terapêutica não pode ser mudada. Dispositivos de liberação Várias maneiras de liberação dos fármacos inalatórios são possíveis. Inaladores dosimetrados pressurizados. Os fármacos são retirados do recipiente com a ajuda de um propulsor, anteriormente com um clorofluorcarbono (Freon), mas agora substituído por um hidrofluoroalcano (HFA), que é “amigo da camada de ozônio”. Esses dispositivos são convenientes, portáteis e normalmente liberam 100 a 400 doses de fármaco. É necessário coordenar a inalação com a ativação do dispositivo, por isso é importante que se ensine os pacientes a utilizar estes dispositivos corretamente; muitos pacientes acham difícil, apesar das instruções. Câmaras espaçadoras. Dispositivos expansores de grande volume entre o pMDI e o paciente reduzem a velocidade das partículas que entram nas vias respiratórias superiores e o tamanho das partículas, possibilitando a evaporação do líquido propulsor. Isto reduz a quantidade de fármaco que atinge a orofaringe e aumenta a proporção de fármaco inalado para as vias respiratórias inferiores. A necessidade de coordenação cuidadosa entre a ativação e a inalação também é reduzida porque o pMDI pode ser ativado dentro da câmara e posteriormente o aerossol inalado a partir de uma valva unidirecional. Talvez a aplicação mais útil das câmaras expansoras esteja na redução da deposição orofaríngea dos corticosteroides inalatórios e a consequente redução dos efeitos colaterais locais desses fármacos. Expansores de grande volume também reduzem os efeitos colaterais sistêmicos de fármacos porque são menos depositados na orofaringe e, por este motivo, deglutidos. É a fração deglutida do fármaco absorvido do trato GI que faz a maior contribuição para a fração sistêmica. Isto é de particular importância no uso de determinados esteroides inalados, como dipropionato de beclometasona, que pode ser absorvido do trato gastrintestinal. Dispositivos expansores também são úteis no fornecimento de medicamentos por via inalatória para as crianças pequenas que não são capazes de usar um pMDI. Crianças de apenas três anos de idade são capazes de usar um expansor equipado com uma máscara facial. Inaladores de pó seco. Os fármacos também podem ser liberados na forma de pó seco usando dispositivos que espalham um pó fino disperso por turbulência do ar na inalação. Estes dispositivos podem ser preferidos por alguns pacientes porque uma coordenação cuidadosa não é tão necessária quanto com o pMDI, mas alguns pacientes acham que o pó seco é irritante. Crianças com menos de 7 anos de idade têm dificuldade em usar um inalador de pó seco (IPS), porque eles podem não ser capazes de gerar fluxo inspiratório suficiente. Os IPS foram desenvolvidos para distribuir peptídeos e proteínas, como a insulina, sistemicamente. Nebulizadores. Dois tipos de nebulizadores estão disponíveis. Nebulizadores de jato são movidos por um fluxo de gás (ar ou oxigênio), enquanto os nebulizadores ultrassônicos usam um cristal piezoelétrico de vibração rápida e, portanto, não requerem uma fonte de gás comprimido. O fármaco nebulizado pode ser inspirado durante a respiração cíclica, e é possível liberar doses muito mais elevadas de fármaco em comparação com o pMDI. Os nebulizadores são, portanto, úteis no tratamento de exacerbações agudas de asma e DPOC, para a liberação dos fármacos quando a obstrução das vias respiratórias é extrema (p. ex., na DPOC grave), para a liberação de fármacos por via inalatória para bebês e crianças em terna idade que não podem usar os outros dispositivos de inalação e para administrar medicamentos, como antibióticos, quando doses relativamente altas devem ser administradas. Nebulizadores portáteis pequenos (inaladores de névoa suave) atual mente também estão disponíveis. Via oral Os fármacos para o tratamento de doenças pulmonares também podem ser administrados por via oral. A dose oral é muito maior do que a dose inalada necessária para se obter o mesmo efeito (geralmente em uma proporção de aproximadamente 20:1), de maneira que efeitos colaterais sistêmicos são mais comuns. Quando há uma escolha da via inalatória ou oral de um fármaco (p. ex., β2 agonista ou corticosteroide), a via inalatória é sempre preferível e a via oral deve ser reservada para os poucos pacientes incapazes de usar inaladores (p. ex., crianças em terna idade, pacientes com problemas físicos, tais como artrite grave das mãos). A teofilina é ineficaz por via inalatória e, portanto, deve ser administrada de maneira sistêmica. Os corticosteroides podem ser administrados por via oral para doenças do parênquima pulmonar (p. ex., nas doenças pulmonares intersticiais), embora possa ser possível no futuro administrar esses fármacos para os alvéolos utilizando dispositivos de inalação especialmente projetados com um tamanho de partícula pequeno. Via parenteral A via intravenosa deve ser reservada para distribuição do fármaco no paciente gravemente doente que é incapaz de absorver fármacos pelo trato gastrintestinal. Os efeitos colaterais geralmente são frequentes devido às altas concentrações plasmáticas. 3.1-BRONCODILATADORES: tipos. Os fármacos broncodilatadores relaxam o músculo liso das vias respiratórias contraído in vitro e causam reversão imediata da obstrução das vias respiratórias na asma in vivo. Eles também previnem a broncoconstrição (e assim fornecem broncoproteção). Três classes principais de broncodilatadores estão em uso clínico atualmente: • Agonistas β2-adrenérgicos (simpaticomiméticos). • Teofilina (uma metilxantina). • Agentes anticolinérgicos (antagonistas dos receptores muscarínicos). Fármacos como o cromoglicato dissódico, que impedem a broncoconstrição, não têm ação broncodilatadora direta e são ineficazes após ocorrer broncoconstrição. Antileucotrienos (antagonistas dos receptores do leucotrienos e inibidores de 5-lipo- oxigenase) têm um efeito broncodilatador pequeno em alguns pacientes asmáticos e parecem evitar broncoconstrição. Os corticosteroides, embora melhorem gradualmente a obstrução das vias respiratórias, não têm nenhum efeito direto sobre a contração do músculo liso das vias respiratórias e portanto não são considerados broncodilatadores. Broncodilatadores, como o salbutamol inalado, são rapidamente efetivos e seguros, além de apresentarem baixo custo. Os pacientes com sintomas ocasionais de asma requerem apenas broncodilatadores inalados de acordo com a necessidade. Se os sintomas exigirem o tratamento de “resgate” mais de duas vezes por semana, se houver sintomas noturnos mais de duas vezes por mês ou se o VEF1 for inferior a 80% do valor previsto, há indicação de tratamento adicional. O primeiro tratamento recomendado é um CSI em dose baixa, embora possam ser usados antagonistas do receptor de leucotrienos oucromoglicato dissódico. Atualmente, a teofilina é reservada para pacientes cujos sintomas se mantenham mal controlados apesar da associação do tratamento regular com um agente anti-inflamatório inalatório e do uso de β2-agonistas inalados de acordo com a necessidade. Se o acréscimo de teofilina não for bem-sucedido na melhora dos sintomas, ou se surgirem efeitos colaterais problemáticos, é importante dosar seu nível plasmático para verificar se está dentro da faixa terapêutica (10 a 20 mg/L). Uma questão importante a ser considerada nos pacientes com asma leve é que, embora seja menor do que naqueles com asma grave, o risco de crise grave potencialmente letal existe. Todos os pacientes com diagnóstico de asma devem ser instruídos sobre o seguinte plano de ação em caso de crise grave e assustadora: realizar até quatro aplicações de salbutamol a cada 20 minutos ao longo de uma hora. Se não houver melhora evidente após as primeiras quatro aplicações, o paciente deve continuar o tratamento enquanto se dirige a um serviço de emergência ou outro lugar que ofereça tratamento especializado. 3.1.1-Beta dois agonistas (salbutamol, fenoterol, terbutalina, bambuterol, salmeterol, formoterol). A inalação dos β2-agonistas é o tratamento broncodilatador de escolha na asma porque eles são os broncodilatadores mais eficazes e têm efeitos colaterais mínimos quando utilizados corretamente. Os β agonistas sistêmicos, de ação curta e não seletivos, tais como isoproterenol (isoprenalina) ou metaproterenol, devem ser utilizados apenas como último recurso. Modo de ação. A ocupação de β2 receptores por agonistas resulta na ativação da via Gs-adenililciclase-AMPc-PKA, resultando em eventos fosforilativos que levam ao relaxamento da musculatura lisa brônquica. Os β agonistas produzem broncodilatação por estimular diretamente β2 receptores no músculo liso das vias respiratórias, e in vitro relaxam os brônquios humanos e fatias de pulmão (indicando um efeito sobre vias respiratórias periféricas). In vivo, há uma redução rápida da resistência das vias respiratórias. Receptores β2 foram localizados na musculatura lisa das vias respiratórias de todas as vias respiratórias por técnicas de ligação direta ao receptor e estudos de mapeamento autorradiográfico. Os mecanismos moleculares pelos quais os β agonistas induzem o relaxamento da musculatura lisa das vias respiratórias incluem: • Diminuição da concentração de [Ca2+]i por remoção ativa de Ca2+ do citosol em estoques intracelulares e fora da célula. • Inibição aguda da via PLC-IP3 e sua mobilização de Ca2+ celular (uso prolongado pode suprarregular a expressão da PLCβ1). • A inibição da ativação da miosina cinase de cadeia leve. • Ativação da miosina fosfatase de cadeia leve. • Abertura de um canal de K+ ativado por Ca2+ de grande condutância (KCa), que repolariza a célula do músculo liso e pode estimular o sequestro de Ca2+ em estoques intracelulares. Receptores β2 também podem acoplar KCa via Gs de maneira que o relaxamento da musculatura lisa das vias respiratórias pode ocorrer independentemente de um aumento no AMPc. Uso clínico Agonistas β2 de curta ação. Os β2-agonistas inalatórios de curta ação são os broncodilatadores mais amplamente utilizados e eficazes no tratamento da asma devido ao seu antagonismo funcional da broncoconstrição. Quando inalado de pMDI ou IPS, eles são convenientes, fáceis de utilizar, de início rápido e sem grandes efeitos colaterais sistêmicos. Além de seu efeito broncodilatador agudo, estes agentes são eficazes na proteção contra vários desafios, como exercício, ar frio e alergênios. Os β2-agonistas de curta ação são os broncodilatadores de escolha no tratamento da asma aguda grave. A via nebulizada de administração é mais fácil e mais segura que a administração intravenosa e com a mesma eficácia. A inalação é preferível à administração oral porque os efeitos colaterais sistêmicos são menores, e a inalação pode ser mais eficaz. Os β2-agonistas inalatórios de curta duração, como salbutamol, devem ser usados “conforme necessário” por sintomas e não em uma base regular no tratamento de asma leve; a maior utilização indica a necessidade de mais terapia anti-inflamatória. Os β2-agonistas orais são ocasionalmente indicados como broncodilatadores adicionais. Preparações de liberação lenta (p. ex., salbutamol e bambuterol de liberação lenta [um pró-fármaco que libera lentamente terbutalina, mas não está comercialmente disponível nos EUA]) podem ser indicadas na asma noturna; no entanto, esses agentes são menos úteis do que β2-agonistas inalatórios devido a um risco aumentado de efeitos colaterais. Vários β2-agonistas de curta ação estão disponíveis. Com exceção de rimiterol (que retém a estrutura do anel catecol e é, portanto, suscetível à rápida degradação enzimática), eles são resistentes à captação e degradação enzimática pela COMT e MAO. Há poucas opções entre os vários β2- agonistas de curta ação disponíveis atual mente; todos são utilizáveis por inalação e por via oral, têm uma duração de ação semelhante (aproximadamente 3-4 h, menos na asma grave) e efeitos colaterais semelhantes. Relataram-se diferenças na seletividade de β2, mas elas não são clinicamente importantes. Os fármacos em uso clínico incluem salbutamol (albuterol), levalbuterol, metaproterenol, terbutalina, bem como vários não disponíveis nos EUA, fenoterol, tulobuterol, rimiterol e pirbuterol. β2-agonistas inalatórios de longa ação. Comprovou-se que os β2-agonistas inalatórios de longa ação (LABA) salmeterol, formoterol e arformoterol são um avanço significativo no tratamento da asma e da DPOC. Estes fármacos têm uma ação broncodilatadora de mais 12 h e também protegem contra broncoconstrição por um período semelhante. Eles melhoram o controle da asma (quando administrados 2 vezes/dia) em comparação ao tratamento regular com β2-agonistas de ação curta (4- 6 vezes/dia). A tolerância ao efeito broncodilatador do formoterol e os efeitos broncoprotetores de formoterol e salmeterol foram demonstrados, mas esta é uma pequena perda de proteção que não parece ser progressiva e tem importância clínica discutível. Embora ambos os fármacos tenham uma duração de efeito semelhante em estudos clínicos, há diferenças. O formoterol tem um início de ação mais rápido e é um agonista quase completo, ao passo que o salmeterol é um agonista parcial com um início de ação mais lento. Estas diferenças podem conferir uma vantagem teórica ao formoterol na asma mais grave, embora possa tornar mais provável a indução de tolerância. Entretanto, não foi encontrada nenhuma diferença clínica significativa entre o salmeterol e o formoterol no tratamento de pacientes com asma grave. Na DPOC, LABA são broncodilatadores eficazes que podem ser usados isoladamente ou em combinação com anticolinérgicos ou CEI. Os LABA melhoram os sintomas e exercem a tolerância reduzindo tanto o aprisionamento de ar como as exacerbações. Em pacientes com asma, LABA nunca devem ser usados isoladamente, porque eles não tratam a inflamação crônica subjacente; em vez disso, os LABA devem ser sempre usados em combinação com CEI (de preferência em um inalador com combinação de dose fixa). Os LABA são uma terapia adjuvante eficaz para CEI e são mais eficazes do que aumentar a dose de CEI quando a asma não é controlada com doses baixas. Inaladores combinados. Os inaladores combinados que contêm um LABA e um corticosteroide (p. ex., fluticasona/ salmeterol, budesonida/formoterol) são hoje amplamente utilizados no tratamento da asma e DPOC. Na asma há uma forte razão científica para combinar um LABA com um corticosteroide, porque estes tratamentos têm ações sinérgicas complementares. O inalador combinado é mais conveniente para os pacientes, simplifica a terapia e melhora a adesão ao tratamento com CEI porque os pacientes percebem o benefícioclínico, mas pode haver uma vantagem adicional, pois administrar os dois fármacos no mesmo inalador garante que eles sejam distribuídos simultaneamente para as mesmas células das vias respiratórias, possibilitando que ocorram interações moleculares benéficas entre LABA e corticosteroides. É provável que esses inaladores tornem-se a terapia de escolha para todos os pacientes com asma persistente. Esses inaladores combinados são mais eficazes em pacientes com DPOC do que LABA e CEI isoladamente, mas os mecanismos responsáveis por essa interação benéfica são menos bem compreendidos do que em pacientes com asma. Recentemente, um inalador de combinação que contém formoterol e budesonida mostrou-se mais eficaz para alívio dos sintomas agudos do que a terbutalina ou o formoterol isoladamente, sugerindo que os corticosteroides inalatórios também podem estar contribuindo para o benefício. Isso pode tornar possível controlar a asma com um único inalador tanto para a manutenção como para alívio dos sintomas. β2-agonistas estereosseletivos. O salbutamol é uma mistura racêmica de isômero- R ativos e S inativos. Estudos com animais sugerem que o S-isômero pode aumentar a capacidade de resposta das vias respiratórias, fornecendo uma justificativa para o desenvolvimento de R-salbutamol (levossalbutamol). Embora o R-isômero seja mais potente que R/S-salbutamol racêmico em alguns estudos, as respostas cuidadosas da dose não apresentam nenhuma vantagem em termos de eficácia e nenhuma evidência de que o S-salbutamol seja prejudicial em pacientes asmáticos (Lotvall e cols., 2001). Pelo fato de o levossalbutamol ser mais caro que o salbutamol racêmico normalmente utilizado, esta terapia não tem vantagem clínica evidente (Barnes, 2006b). O formoterol estereosseletivo (R, R-formoterol, arformoterol) atualmente já foi desenvolvido como uma solução nebulizada, mas também parece não oferecer nenhuma vantagem clínica sobre o formoterol racêmico. Polimorfismos do receptor β2. Vários polimorfismos de nucleotídeo único e haplótipos do gene do receptor β2-adrenérgico humano (ADRβ2), que afetam a estrutura dos β2-receptores, foram descritos. As variantes comuns são Gli16Arg e Gln27Glu, que têm efeitos in vitro sobre dessensibilização do receptor, mas estudos clínicos têm demonstrado efeitos inconsistentes sobre as respostas broncodilatadoras a β2-agonsitas de curta e longa ação. Alguns estudos demonstraram que pacientes com a variante homozigota comum Arg16Arg têm efeitos adversos mais frequentes e uma resposta mais precária a β2-agonistas de ação curta do que heterozigotos ou homozigotos Gli16Gli, mas no geral essas diferenças são pequenas, e não parece haver valor clínico na medição do genótipo ADRβ2. Não foram encontradas diferenças com respostas a LABA entre estes genótipos. 3.1.2- Metilxantinas (teofilina, aminofilina, bamifilina). As metilxantinas, como a teofilina, relacionadas à cafeína, têm sido utilizadas no tratamento da asma desde 1930, e, devido ao seu preço, a teofilina ainda é amplamente utilizada nos países em desenvolvimento. A teofilina tornou-se mais útil com a disponibilidade de ensaios plasmáticos rápidos e a introdução de preparações confiáveis de liberação lenta. No entanto, a frequên cia de efeitos colaterais e a relativa baixa eficácia da teofilina levaram a uma redução do seu uso em muitos países porque β2-agonistas inalatórios são muito mais eficazes como broncodilatadores e CEI têm um maior efeito anti-inflamatório. Entretanto, em pacientes com asma grave e DPOC ela ainda continua sendo um fármaco muito útil. Preparações e vias de administração. A aminofilina intravenosa tem sido utilizada há muitos anos no tratamento da asma aguda grave. A dose recomendada é de 6 mg/kg administradas por via intravenosa durante 20-30 min, seguida de uma dose de manutenção de 0,5 mg/kg por hora. Se o paciente já estiver tomando teofilina, ou existirem quaisquer fatores que reduzam a depuração, estas doses devem ser reduzidas à metade e o nível plasmático verificado com mais frequência. Os β2- agonistas nebulizados são agora preferidos sobre aminofilina intravenosa para exacerbações agudas de asma e DPOC. Comprimidos ou elixir de liberação imediata de teofilina, que são rapidamente absorvidos, conferem oscilações aos níveis plasmáticos, e não são recomendados. Várias preparações de liberação contínua estão agora disponíveis e são absorvidas a uma taxa constante e fornecem concentrações plasmáticas constantes durante um período de 12-24 h. Tanto a aminofilina como a teofilina de liberação lenta estão disponíveis e são igualmente eficazes (embora o componente etilenodiamina da aminofilina tenha sido implicado em reações alérgicas). Para o tratamento contínuo é necessária terapia duas vezes ao dia (aproximadamente 8 mg/kg 2 vezes/dia). Recentemente, preparações de 1 vez/dia ganharam popularidade. Para a asma noturna, uma única dose de teofilina de liberação lenta à noite muitas vezes é eficaz. Após as doses ideais serem determinadas, o monitoramento de rotina das concentrações plasmáticas geralmente não é necessário, a menos que haja suspeita de uma mudança na depuração ou surjam evidências de toxicidade. Uso clínico. Em pacientes com asma aguda, a aminofilina intravenosa é menos eficaz do que nebulização com β2-agonistas e deve, portanto, ser reservada para aqueles pacientes que não respondem ou são intolerantes a β-agonistas. A teofilina não deve ser adicionada rotineiramente para nebulização com β2-agonistas porque não aumenta a resposta ao broncodilatador e pode aumentar os seus efeitos colaterais. Na verdade, o papel da teofilina no tratamento contemporâneo da asma e DPOC tem sido questionado. No entanto, há boas evidências de que a teofilina pode proporcionar um efeito broncodilatador adicional, mesmo quando doses maximamente eficazes de β2-agonistas foram administradas. Assim, se broncodilatação adequada não for alcançada por um β-agonista isoladamente, a teofilina pode ser adicionada à terapia de manutenção com benefícios. A adição de baixas doses de teofilina a uma dose alta ou baixa de CEI em pacientes que não estão adequadamente controlados proporciona um melhor controle dos sintomas e da função pulmonar do que dobrar a dose de esteroide inalatório, embora seja menos eficaz como uma terapia adjuvante em comparação com um LABA. A teofilina pode ser útil em pacientes com asma noturna, porque preparações de liberação lenta são capazes de fornecer concentrações terapêuticas durante a noite, embora seja menos eficaz do que um LABA. Estudos também documentaram os efeitos poupadores de esteroides da teofilina. Embora a teofilina seja menos eficaz do que um β2-agonista e corticosteroides, uma minoria de pacientes asmáticos parece obter benefício inesperado; mesmo pacientes sob tratamento com esteroides orais podem apresentar uma deterioração da função pulmonar quando a teofilina é retirada. A teofilina tem sido usada como um controlador no manejo da asma persistente leve, embora se observe menor eficácia do que com doses baixas de corticosteroides inalatórios. Embora LABA sejam mais eficazes como terapia adjuvante, a teofilina um custo consideravelmente menor e pode ser o único tratamento adjuvante acessível quando os custos da medicação são limitantes. A teofilina ainda é usada como broncodilatador na DPOC, mas anticolinérgicos inalatórios e β2 agonistas são preferidos. A teofilina tende a ser adicionada a esses broncodilatadores inalatórios em pacientes mais graves e demonstrou conferir melhora clínica adicional quando adicionado a um β2-agonista de longa ação. A aminofilina intravenosa é menos eficaz no tratamento de exacerbações agudas do que os β2-agonistas nebulizados e tem uma incidência muito maior de efeitos adversos. Como em pacientes asmáticos, os pacientes com DPOC grave deterioram quando a teofilina é retiradade seu esquema de tratamento. Uma vantagem teórica da teofilina é que sua administração sistêmica pode ter efeitos nas pequenas vias respiratórias, resultando em redução da hiperinflação e, portanto, uma redução da dispneia. 3.1.3- Anticolinérgicos (ipratrópio e tiotrópio). O antagonismo químico dos efeitos da acetilcolina nos receptores muscarínicos no pulmão para alívio da asma não é uma ideia nova. Datura stramonium (estramônio) e espécies relacionadas da família solanaceae contêm uma mistura de antagonistas muscarínicos (atropina, hiosciamina, escopolamina) e eram fumados para alívio de asma há dois séculos. Posteriormente, a atropina, o alcaloide purificado da planta, foi introduzida para tratamento da asma. Devido aos efeitos colaterais significativos da atropina, particular mente secagem de secreções, compostos quaternários menos solúveis, como o metilnitrato de atropina e brometo de ipratrópio, têm sido desenvolvidos. Estes compostos são ativos topicamente e não são significativamente absorvidos do trato respiratório ou gastrintestinal. Estes agentes são os antagonistas competitivos da ligação de ACh a receptores colinérgicos muscarínicos, portanto esses fármacos bloqueiam os efeitos de ACh endógena em receptores muscarínicos, incluindo o efeito constritor direto sobre o músculo liso brônquico mediado através da via M3-Gq-PLC-IP3-Ca2+. Sua eficácia prevista decorre do papel desempenhado pelo sistema nervoso parassimpático na regulação do tônus broncomotor. Estímulos múltiplos e diversos causam aumentos reflexos na atividade parassimpática que contribuem para a broncoconstrição. Os efeitos da ACh sobre o sistema respiratório incluem não apenas broncoconstrição, mas também aumento da secreção traqueobrônquica e estimulação dos quimiorreceptores da carótida e corpos aórticos. Assim, pode-se esperar que os fármacos antimuscarínicos antagonizem estes efeitos da acetilcolina. Um fator complicador estudado em modelos animais é que uma miríade de mediadores inflamatórios envolvidos na patogenia da asma e DPOC também pode induzir os componentes da capacidade de resposta muscarínica, tais como Gαq e rho e contribuem para a hiper-reatividade das vias respiratórias. Assim, a contratilidade do músculo liso brônquico e o antagonismo de responsividade muscarínica poderiam ser alvos móveis na asma e DPOC. Uso clínico. Em pacientes asmáticos, os fármacos anticolinérgicos são menos eficazes como broncodilatadores que os β2-agonistas e oferecem proteção menos eficaz contra estímulos provocatórios brônquicos. Esses fármacos podem ser mais eficazes em pacientes idosos com asma, em quem há um elemento fixo de obstrução das vias respiratórias. Os anticolinérgicos são atualmente utilizados como um broncodilatador adicional em pacientes asmáticos não controlados com um LABA. Fármacos anticolinérgicos nebulizados são eficazes na asma aguda grave, mas menos eficazes do que os β2-agonistas. No entanto, no tratamento agudo e crônico de asma, os medicamentos anticolinérgicos podem ter um efeito aditivo com os β2- agonistas e devem, portanto, ser considerados quando o controle da asma não é adequado com β2-agonistas nebulizados. Um antagonista muscarínico deve ser considerado quando há problemas com teofilina ou quando β2-agonistas inalados causam um tremor incômodo em pacientes idosos. Na DPOC, os fármacos anticolinérgicos podem ser tão eficazes quanto, ou até mesmo superiores, aos β2-agonistas. Seu efeito relativamente maior na DPOC do que na asma pode ser explicado por um efeito inibitório sobre o tônus vagal que, embora não necessariamente aumentado na DPOC, pode ser o único elemento reversível da obstrução das vias respiratórias e aquele que é exagerado por fatores geométricos nas vias respiratórias estreitadas de pacientes com DPOC. Os fármacos anticolinérgicos reduzem o aprisionamento de ar e melhoram a tolerância ao exercício em pacientes com DPOC. Escolhas terapêuticas. O brometo de ipratrópio está disponível como um pIDM e preparação nebulizada. O início da broncodilatação é relativamente lento e é geralmente máximo de 30-60 min após a inalação, mas pode persistir por 6-8 h. Geralmente é administrado por IDM 3-4 vezes/dia, de maneira regular, e não intermitentemente para alívio dos sintomas, tendo em vista seu início de ação lento. O brometo de oxitrópio (não disponível nos EUA) é um broncodilatador anticolinérgico quaternário semelhante ao brometo de ipratrópio em termos do bloqueio do receptor. Ele está disponível em doses mais elevadas por inalação e pode, portanto, ter um efeito mais prolongado. Assim, ele pode ser útil em alguns pacientes com asma noturna. Inaladores de combinação de um anticolinérgico e um β2-agonista, como ipratrópio/salbutamol são populares, especialmente entre os pacientes com DPOC. Vários estudos demonstraram efeitos aditivos destes dois fármacos, proporcionando assim uma vantagem sobre o aumento da dose de β2-agonista em pacientes que têm efeitos colaterais. O brometo de tiotrópio é um fármaco anticolinérgico de ação longa que é adequado para uma dosagem 1 vez/dia como um DPI ou através de um dispositivo mininebulizador de névoa suave (não disponível nos EUA). O tiotrópio liga-se a todos os subtipos de receptores muscarínicos, mas dissocia-se muito lentamente dos receptores M3 e M1, conferindo-lhe um grau de seletividade cinética do receptor para estes receptores em comparação aos receptores M2, a partir do qual dissocia mais rapidamente. Assim, em comparação com o ipratrópio, o tiotrópio apresenta menor probabilidade de antagonizar a inibição mediada por M2 da liberação de ACh (o aumento resultante na ACh poderia neutralizar o bloqueio da broncoconstrição mediada pelo receptor M3). É um broncodilatador eficaz em pacientes com DPOC e é mais eficaz do que o ipratrópio quatro vezes ao dia, sem qualquer perda de eficácia durante um período de tratamento de um ano. Ao longo de um período de quatro anos, o tiotrópio melhora a função pulmonar e o estado de saúde e reduz as exacerbações e a mortalidade por todas as causas, embora não haja nenhum efeito sobre a progressão da doença. Consequentemente, o tiotrópio está se tornando o broncodilatador de escolha para pacientes com DPOC. O papel dos antagonistas muscarínicos administrados por via inalatória no tratamento da asma é limitado. Os efeitos dos agentes de ação curta (p. ex., brometo de ipratrópio) sobre a resistência basal das vias respiratórias são aproximadamente iguais, mas não maiores, que os dos fármacos simpatomiméticos. Assim, são usados principalmente como tratamento alternativo para pacientes que sejam intolerantes aos agonistas de receptores β2-adrenérgicos. Os efeitos sobre as vias respiratórias dos fármacos antimuscarínicos e simpatomiméticos administrados em doses plenas mostraram-se complementares apenas em pacientes com obstrução grave das vias respiratórias que se apresentam para tratamento de emergência. O tiotrópio e o aclidínio, agentes antimuscarínicos de longa ação, não conquistaram um lugar de destaque no tratamento da asma, embora o tiotrópio tenha se mostrado tão efetivo quanto os β2-agonistas de longa ação quando utilizado em associação ao tratamento com CSI. No tratamento de pacientes com DPOC, esses agentes melhoram a capacidade funcional, presumivelmente por meio de ação broncodilatadora, e reduzem a frequência de exacerbações, por mecanismo ainda não definido. Embora fosse predito que os antagonistas muscarínicos suprimiriam as secreções das vias respiratórias e interfeririam com a depuração mucociliar, as medições diretas do volume de secreção de glândulas submucosas das vias respiratórias demonstraram que a atropina reduz levemente as taxas basais de secreção. Os fármacos, contudo, inibem o aumento da secreção de muco induzido por estimulação vagal. Não há relato de casos de inspissação de mucoapós a administração desses fármacos. 3.2- ANTI-INFLAMATÓRIOS: corticosteroides: inalatórios e sistêmicos. Os corticosteroides são utilizados no tratamento de várias doenças inflamatórias pulmonares. Corticosteroides orais foram introduzidos para o tratamento de asma logo após sua descoberta na década de 1950 e continuam sendo a terapia profilática mais eficaz disponível para a asma. No entanto, seus efeitos colaterais consideráveis têm estimulado pesquisas consideráveis para descobrir novos agentes ou correlatos que retenham a ação benéfica sobre as vias respiratórias sem os efeitos adversos. A introdução de CEI (corticosteroides inalados), inicialmente como uma forma de reduzir a necessidade de esteroides orais, revolucionou o tratamento da asma crônica. Pelo fato de a asma ser uma doença inflamatória crônica, os CEI são considerados terapia de primeira linha em todos os pacientes, exceto aqueles com doença mais branda. Em contraste marcante, os CEI são muito menos eficazes em pacientes com DPOC e devem ser utilizados apenas em pacientes com doença grave que têm exacerbações frequentes. Os corticosteroides orais continuam sendo o pilar do tratamento de várias outras doenças pulmonares, como a sarcoidose, doenças pulmonares intersticiais e síndromes pulmonares eosinofílicas. Se os sintomas de asma ocorrerem frequentemente ou se houver persistência de obstrução significativa das vias respiratórias a despeito do tratamento com broncodilatador, deve-se iniciar terapia com CSI. Para pacientes com sintomas intensos ou com parâmetros de obstrução grave (p. ex., VEF1 < 50% do valor previsto), considera-se apropriado o tratamento inicial combinando corticosteroides inalatório e oral (p. ex., 30 mg/dia de prednisona durante três semanas). Quando houver melhora clínica, em geral após 7 a 10 dias, o CSI deve ser mantido, mas a administração oral deve ser progressivamente reduzida ao mínimo necessário para controlar os sintomas. Um problema a ser enfrentado é a adesão ao tratamento com CSI. As análises das renovações de prescrição revelam que apenas a minoria dos pacientes faz uso regular de corticosteroides. Este fato talvez possa ser explicado pela generalizada “fobia de esteroides” criada pela ênfase dada na mídia sobre os perigos do tratamento em longo prazo com corticosteroides e pelo desconhecimento sobre as diferenças entre os corticosteroides e os esteroides anabolizantes utilizados por atletas, hoje mal-afamados, para aumentar sua força muscular. Este temor da toxicidade dos corticosteroides torna difícil convencer pacientes cujos sintomas tenham melhorado após a introdução do tratamento a manter o medicamento para proteção contra crises. Esta realidade explica o interesse por trabalhos que afirmam que instruir os pacientes com asma leve, porém persistente, a utilizar CSI apenas quando seus sintomas piorarem é uma prática tão efetiva para manter a função respiratória e prevenir crises quanto utilizar CSI duas vezes por dia. Em pacientes com asma mais grave cujos sintomas não estejam sendo adequadamente controlados com a dose padronizada de CSI, há duas opções a serem consideradas: dobrar a dose do CSI ou associá-lo a outro fármaco. A adição de teofilina ou de um antagonista do receptor de leucotrieno produz melhora discreta no controle da asma, mas os benefícios mais expressivos são obtidos quando se adiciona um β2-agonista inalatório de longa ação (LABA, p. ex., salmeterol ou formoterol). Muitos trabalhos demonstraram que essa combinação é mais efetiva do que dobrar a dose do CSI para aumentar o controle da asma. Associações de CSI e LABA em um único frasco inalador atualmente são comuns em combinações de doses medidas (p. ex., fluticasona e salmeterol; budesonida e formoterol; e mometasona e formoterol). O início rápido da ação do formoterol permite o uso da combinação de um CSI com esse β-agonista de longa ação. Diversos trabalhos confirmaram que a administração fixa duas vezes ao dia associada à inalação de acordo com a necessidade de budesonida e formoterol é tão efetiva para a prevenção de crises de asma quanto doses quatro vezes maiores de budesonida administradas duas vezes ao dia usando apenas salbutamol para alívio dos sintomas. Essa estratégia com dosagem flexível é muito comum na Europa, mas não foi aprovada para ser usada nos Estados Unidos. Contrabalanceando os benefícios evidentes estão os dados de aumento estatisticamente significativo no risco muito baixo de crises fatais ou quase fatais de asma com o uso de β-agonistas de longa ação, talvez mesmo quando utilizados associados a CSI. Esta evidência fez com que a FDA determinasse um aviso “tarja preta” sobre esse risco, especialmente em afrodescendentes, mas não retirou a aprovação para uso desses fármacos por reconhecer que são clinicamente efetivos. Para os profissionais, as principais implicações da “tarja preta” contendo a advertência são: (1) os pacientes com asma leve a moderada devem ser tratados apenas com CSI em dose baixa, e tratamentos adicionais devem ser considerados apenas quando os sintomas não forem bem controlados; e, (2) se a asma não estiver bem controlada, o possível aumento no risco de um evento raro, crise fatal de asma, deve ser discutido com o paciente ao lhe apresentar as opções terapêuticas – aumento da dose do CSI ou adição de β-agonista de longa ação. Até o momento, a advertência da FDA não produziu muitos efeitos sobre a prescrição de CSI/β-agonista de longa ação combinados, provavelmente porque essa associação em inalador único é muito vantajosa. Os inaladores combinando fármacos são convenientes por assegurarem que os β-agonistas de longa ação não serão usados como monoterapia (que sabidamente não confere proteção contra crises) e por produzirem melhora rápida e mantida na sintomatologia clínica e na função respiratória, assim como redução na frequência das crises. Aos pacientes que receberam prescrição dessa associação, é importante fornecer instruções explícitas sobre o uso de β2-agonista inalatório de ação rápida, como o salbutamol, de acordo com a necessidade para alívio de sintomas agudos. Inalatórios (dipropionato de beclometasona; budesonida; propionato de fluticasona; flunisolida). Corticosteroides inalados na asma. Os corticosteroides inalados são recomendados como terapia de primeira linha para todos os pacientes com asma persistente. Eles devem ser iniciados em qualquer paciente que precisa usar um inalatório β2 agonista para controle dos sintomas mais de duas vezes por semana. Eles são eficazes na asma leve, moderada e grave e em crianças, assim como em adultos. Embora se recomende que o CEI seja iniciado com uma dose relativamente alta para, em seguida, reduzi-la quando for atingido o controle, não há evidência de que isso seja mais eficaz do que começar com a dose de manutenção. Estudos dose- resposta para CEI são relativamente planos, sendo que a maior parte dos benefícios deriva de doses < 400 μg de dipropionato de beclometasona ou equivalente. Entretanto, alguns pacientes (com relativa resistência ao corticosteroide) podem beneficiar-se de doses mais elevadas (até 2.000 μg/dia). Para a maioria dos pacientes, o CEI deve ser usado 2 vezes/ dia, um esquema que melhora a adesão ao tratamento após o controle da asma ser atingido (o que pode requerer uma dosagem quatro vezes ao dia inicialmente ou um curso de esteroides por via oral, caso os sintomas sejam graves). Uma administração de uma vez ao dia de alguns esteroides (p. ex., budesonida, mometasona e ciclesonida) é eficaz quando doses ≤ 400 μg são necessárias. Se uma dose > 800 μg/dia via IDMp é usada, um dispositivo expansor deve ser empregado para reduzir o risco de efeitos colaterais da orofaringe. O CEI pode ser usado em crianças da mesma forma que em adultos; em doses ≤ 400 μg/dia, não há evidência de supressão de um crescimentosignificativo. A dose de CEI deve ser a dose mínima que controla a asma; após o controle ser atingido, a dose deve ser reduzida lentamente. Os corticosteroides nebulizados (p. ex., budesonida) são úteis no tratamento de crianças pequenas que não são capazes de usar outros dispositivos inalatórios. Corticosteroides inalados na doença pulmonar obstrutiva crônica. Os pacientes com DPOC ocasionalmente respondem aos esteroides, e estes pacientes são propensos a ter asma concomitante. Os corticosteroides não têm nenhum benefício objetivo a curto prazo sobre a função das vias respiratórias em pacientes com DPOC verdadeira, embora estes agentes frequentemente produzam benefício subjetivo devido ao seu efeito eufórico. Os corticosteroides não parecem ter qualquer efeito anti-inflamatório importante na DPOC; parece haver um mecanismo de resistência ativo, que pode ser explicado pela atividade deficiente do HDAC2 como resultado do estresse oxidativo. Os CEI não exercem nenhum efeito sobre a progressão da DPOC, mesmo quando administrado a pacientes com doença pré-sintomática; além disso, os CEI não têm nenhum efeito sobre a mortalidade. CEI reduzem o número de exacerbações em pacientes com DPOC grave (VEF1 < 50% do previsto) que têm exacerbações frequentes e são recomendados nesses pacientes, embora não haja debate sobre se estes efeitos são causados por análise inadequada dos dados. Os corticosteroides orais são usados para tratar exacerbações agudas da DPOC, mas o efeito é muito pequeno. Os pacientes com fi brose cística, que envolve infl amação das vias respiratórias, também são resistentes a altas doses de CEI. Sistêmicos: prednisona, deflazacort. Esteroides sistêmicos. Os esteroides intravenosos são indicados na asma aguda se a função pulmonar for prevista em < 30% e em pacientes que não apresentem melhora significativa com nebulização com β2-agonista. A hidrocortisona é o esteroide de escolha porque tem o início mais rápido (5-6 h após a administração), comparado com 8 h com prednisolona. A dose necessária é incerta; é comum administrar hidrocortisona 4 mg/kg inicialmente, seguido por uma dose de manutenção de 3 mg/kg a cada 6 h. A metilprednisolona também está disponível para uso intravenoso, mas não há evidência de que as altas doses anteriormente utilizadas (1 g) sejam mais eficazes. A terapia intravenosa é geralmente administrada até que uma resposta satisfatória seja obtida, e, em seguida, a prednisolona oral pode ser substituída. A prednisolona oral (40-60 mg) tem um efeito semelhante à hidrocortisona intravenosa e é mais fácil de administrar. A alta dose de propionato de fluticasona inalada (2.000 μg/dia) é tão eficaz quanto um curso de prednisolona oral para controlar as exacerbações agudas da asma em cenário de prática em família e em crianças em um cenário de emergência, embora esta via de distribuição tenha mais custos. A prednisolona e a prednisona são os esteroides orais mais comumente utilizados. A melhora clínica com esteroides orais pode levar vários dias; o efeito benéfico máximo geralmente é obtido com 30-40 mg de prednisona diariamente, embora alguns pacientes possam precisar de 60-80 mg/dia para conseguir o controle dos sintomas. A dose de manutenção usual é de aproximadamente 10-15 mg/dia. Cursos de curta duração de esteroides por via oral (30-40 mg de prednisolona diariamente por 1-2 semanas) são indicados para as exacerbações da asma; a dose pode ser reduzida gradual mente ao longo de uma semana após a exacerbação desaparecer (a redução gradual não é estritamente necessária após um curso curto da terapia, mas os pacientes consideram-na tranquilizadora). Os esteroides orais geralmente são administrados em uma única dose pela manhã, porque esta coincide com o aumento diurno normal do cortisol no plasma e produz uma menor supressão suprarrenal do que se for administrada em doses divididas ou à noite. Alternar o dia do tratamento tem a vantagem de menor supressão suprarrenal, embora em muitos pacientes o controle da asma não é ideal com este tratamento. Escolhas terapêuticas. Inúmeros CEI estão agora disponíveis, incluindo dipropionato de beclometasona, triancinolona, flunisolida, budesonida, hemidrato de fluticasona, propionato de fluticasona, furoato de mometasona e ciclesonida. Todos são igualmente eficazes como fármacos antiasmáticos, mas existem diferenças em sua farmacocinética: budesonida, fluticasona, mometasona e ciclesonida têm uma menor biodisponibilidade oral do que o dipropionato de beclometasona porque estão sujeitos ao maior metabolismo hepático de primeira passagem; isso resulta em absorção sistêmica reduzida a partir da fração do fármaco inalado que é deglutido e, portanto, redução dos efeitos adversos. Em altas doses (> 1.000 μg), a budesonida e o propionato de fluticasona têm menos efeitos sistêmicos do que o dipropionato de beclometasona e triancinolona, e são preferidos em pacientes que necessitam de altas doses de CEI e em crianças. A ciclesonida é outra escolha; é um pró-fármaco que é convertido em metabólito ativo por esterases no pulmão, dando-lhe uma baixa biodisponibilidade oral e alto índice terapêutico. Quando as doses de esteroides inalados excedem 800 μg de dipropionato de beclometasona ou equivalente por dia, um expansor de grande volume é recomendado para reduzir a deposição orofaríngea e a absorção sistêmica no caso do dipropionato de beclometasona. Todos os CEI atual mente disponíveis são absorvidos a partir do pulmão para a circulação sistêmica, de modo que alguma absorção sistêmica é inevitável. No entanto, a quantidade de fármaco absorvido não parece ter efeitos clínicos em doses de menos de 800 μg de equivalente de dipropionato de beclometasona. Embora existam diferenças de potência entre os corticosteroides, existem relativamente poucos estudos comparativos, em parte porque a comparação de dose de corticosteroides é difícil devido a seu longo curso de ação e o relativo nivelamento de suas curvas de dose-resposta. A triancinolona e a flunisolida parecem ser os menos potentes, sendo que a beclometasona e a budesonida têm aproximadamente a mesma potência; o propionato de fluticasona é aproximadamente duas vezes mais potente que o dipropionato de beclometasona. 3.3-ESTABILIZADORES DE MASTÓCITOS (cromoglicato sódico; nedocromil sódico, cetotifeno). O cromoglicato dissódico (cromolina sódica) é um derivado do khellin, um fitoterápico egípcio e descobriu-se que protege contra o desafio do alergênio, sem qualquer efeito broncodilatador. Um fármaco estruturalmente relacionado, nedocromil sódico, que tem um perfil farmacológico semelhante ao cromoglicato, foi posteriormente desenvolvido. Embora o cromoglicato fosse popular no passado por causa de seu bom perfil de segurança, seu uso caiu acentuadamente com a utilização mais generalizada dos CEI mais eficazes, particular mente em crianças. Nem o cromoglicato, nem o nedocromil, estão disponíveis nos EUA para indicações respiratórias. O cromoglicato dissódico e o nedocromil já foram muito utilizados no tratamento da asma, em especial em crianças, mas atualmente foram superados por outros tratamentos, e o interesse por eles é em grande parte histórico. Ambos têm baixa solubilidade, são mal-absorvidos pelo trato gastrintestinal e devem ser inalados na forma de pó microfino ou suspensão microfina. Esses medicamentos não produzem qualquer efeito sobre o tônus da musculatura lisa das vias respiratórias e não são efetivos na reversão do broncospasmo asmático, mas são efetivos para inibir a asma induzida por antígeno e por exercício. Acredita-se que o cromoglicato dissódico e o nedocromil alterem a função dos canais de cloro na membrana celular, inibindo a ativação das células. Acredita-se que esta ação sobre a inervação das vias respiratórias medeie a inibição da tosse; em mastócitos e eosinófilos o medicamentoinibe as respostas imediata e tardia à provocação do antígeno. Usos clínicos. Em ensaios clínicos de curto prazo, o pré-tratamento com o cromoglicato dissódico e o nedocromil bloqueou a broncoconstrição causada por inalação de alérgeno, exercício, dióxido de enxofre e diversas causas da asma ocupacional. Esse efeito protetor agudo produzido por um único tratamento torna o cromoglicato dissódico um agente útil para administração em curto prazo antes de exercício ou de exposição inevitável a algum alérgeno. Quando tomados regularmente (2 a 4 aplicações 2 a 4 vezes/ dia), ambos os agentes reduzem de forma discreta, mas significativa, a intensidade dos sintomas e a necessidade de uso de medicamentos broncodilatadores, sobretudo em pacientes jovens com asma alérgica. Esses fármacos não são tão potentes nem tão previsivelmente efetivos quanto os m corticosteroides inalados (CSI), e a única forma de determinar se um paciente responderá bem é por meio de ensaio terapêutico com duração de 4 semanas. As soluções do cromoglicato dissódico e do nedocromil também são úteis para redução de sintomas da rinoconjuntivite alérgica. A aplicação da solução na forma de aerossol nasal ou na forma de gotas oftálmicas várias vezes ao dia é efetiva em cerca de 75% dos pacientes, mesmo durante o auge da temporada do pólen. Considerando que os fármacos são mal-absorvidos, os efeitos colaterais do cromoglicato dissódico e do nedocromil são pouco importantes e localizados nos pontos de depósito. Entre eles estão irritação na garganta, tosse e secura nos olhos e, raramente, aperto no peito e sibilos. A inalação de um agonista do receptor adrenérgico β2 antes do tratamento com cromoglicato dissódico ou nedocromil pode prevenir alguns desses sintomas. Efeitos colaterais graves são raros. Ocorrem dermatite reversível, miosite e gastrenterite em menos de 2% dos pacientes, e foram relatados casos raros de infiltração pulmonar com eosinofilia e anafilaxia. A ausência de toxicidade é o fator responsável por seu uso anteriormente disseminado em crianças, em especial naquelas na fase de crescimento rápido. Contudo, seu uso no tratamento da asma da infância tem sido reduzido em razão da eficácia significativamente maior dos corticosteroides, mesmo em dose baixa, e da disponibilidade de uma classe alternativa de medicamentos controladores não esteroides, os inibidores da via dos leucotrienos. 3.4-ANTAGONISTAS DOS LEUCOTRIENOS (montelucast e zafirlucast). Antileucotrienos. Há evidências consideráveis de que os cisteinil-leucotrienos (LT) são produzidos na asma e que eles têm efeitos potentes sobre a função das vias respiratórias, induzindo broncoconstrição, hiper-responsividade das vias respiratórias, exsudação do plasma, secreção de muco e inflamação eosinofílica. Estes dados sugeriram que o bloqueio das vias dos leucotrienos com modificadores de leucotrienos pode ser útil no tratamento de asma, levando ao desenvolvimento de inibidores da enzima 5’-lipo-oxigenase (5-LO) (dos quais a zileutona é o único medicamento comercializado) e vários antagonistas do receptor cis-LT1, incluindo o montelucaste, zafirlucaste e pranlucaste (não disponível nos EUA). Os antileucotrienos têm sido intensamente investigados em estudos clínicos. Os antagonistas de leucotrienos inibem o efeito broncoconstritor do LTD4 inalado em voluntários normais e asmáticos e eles também inibem a broncoconstrição induzida por uma variedade de estímulos provocatórios, incluindo alergênio, exercício e ar frio, em aproximadamente 50%. Com o estímulo provocatório do ácido acetilsalicílico, em pacientes asmáticos sensíveis ao ácido acetilsalicílico, há inibição quase completa da resposta. Resultados semelhantes foram obtidos com o inibidor da 5-LO zileutona. Isto sugere que pode não haver nenhuma vantagem no bloqueio de LTB4 além do cisteinil-LT, no tratamento da asma. Esses fármacos são ativos por via oral, possivelmente uma vantagem importante no tratamento crônico. Em pacientes com asma branda a moderada, os antileucotrienos causam uma melhora significativa na função pulmonar e nos sintomas da asma, com uma redução no uso de β2-agonistas inalatórios de resgate. Vários estudos mostram evidências de um efeito broncodilatador, com melhora da função pulmonar de base, sugerindo que os leucotrienos estão contribuindo para a broncoconstrição de momento basal na asma, embora isso varie entre os pacientes. No entanto, os antileucotrienos são consideravelmente menos eficazes do que os corticosteroides inalados no tratamento da asma leve e não podem ser considerados tratamento de primeira escolha. Os antileucotrienos são indicados como terapia adjuvante em pacientes que não estão bem controlados sob tratamento com CEI. O benefício adicional é pequeno, o equivalente à duplicação da dose de CEI, e menos eficaz do que a adição de um LABA. Em pacientes com asma grave que não são controlados com altas doses de CEI e LABA, os antileucotrienos não parecem oferecer qualquer benefício adicional. Teoricamente, os antileucotrienos devem ter um valor particular em pacientes com asma sensível ao ácido acetilsalicílico porque eles bloqueiam a resposta das vias respiratórias para o desafio ao ácido acetilsalicílico; no entanto, seu benefício não é maior aqui do que em outros tipos de asma. Os antileucotrienos são eficazes na prevenção de asma induzida por esforço, com eficácia semelhante à dos LABA. Os antileucotrienos também têm um efeito fraco na rinite, que pode ser aditivo com os efeitos de um anti-histamínico. Os estudos têm demonstrado efeitos anti-inflamatórios fracos de antileucotrienos na redução de eosinófilos no escarro e em biopsias, mas eles são muito menos acentuados do que com CEI e não há efeito anti-inflamatório adicional quando adicionado a um CEI. Portanto, os antileucotrienos, parecem atuar principalmente como fármacos antibroncoconstritores e eles são de forma clara menos amplamente eficazes do que os β2-agonistas porque antagonizam apenas um dos vários mediadores broncoconstritores. Na DPOC, cis-LT não são elevados no ar expirado condensado e os antagonistas do receptor cis-LT1 não têm um papel no tratamento da DPOC. Em contrapartida, LTB4, um quimioatrator de neutrófilos potente, é elevado em pacientes com DPOC, o que indica que os inibidores da 5-LO que inibem a síntese de LTB4 podem ter algum benefício potencial, reduzindo a inflamação neutrofílica. No entanto, um estudo piloto não indicou qualquer benefício claro de um inibidor de 5-LO em pacientes com DPOC. O uso de antagonista do receptor de leucotrieno administrado em comprimido por via oral é uma alternativa ao tratamento com CSI em pacientes com sintomas ocorrendo mais de duas vezes por semana ou naqueles despertados à noite pela asma mais de duas vezes por mês. O cromoglicato dissódico e o nedocromil já tiveram esse papel, mas atualmente não estão disponíveis nos Estados Unidos. Embora não sejam tão efetivos quanto os CSI, evitam a “fobia de esteroides” anteriormente descrita e costumam ser utilizados no tratamento de crianças. O montelucaste, um antagonista do receptor de leucotrieno, é muito prescrito, em especial por profissionais da atenção primária. Esse fármaco, com apresentação por via oral, é fácil de ser administrado e parece ser usado de forma mais regular do que os CSI. Os antagonistas do receptor de leucotrieno raramente produzem efeitos colaterais. Em razão de preocupações acerca da possível toxicidade da absorção sistêmica dos CSI em longo prazo, essa terapia de manutenção tem sido bastante utilizada no tratamento de crianças nos EUA, particularmente naquelas com rinite alérgica sistomática concomitante, que também é efetivamente tratada com montelucaste. 4- MUCOLÍTICOS. 4.1- Bromexina, ambroxol, carbocisteína, acebrofilina, Hedera helix. Vários agentes podem reduzir a viscosidade do escarroin vitro. Um grupo é de derivados de cisteína que reduzem as pontes de dissulfeto que ligam as glicoproteínas a outras proteínas, como a albumina e IgA secretora. Esses fármacos também agem como antioxidantes e podem, portanto, reduzir a inflamação das vias respiratórias. Somente a N-acetilcisteína está disponível nos EUA; carbocisteína, metilcisteína, erdosteína e bromexina estão disponíveis em outros locais. Administrados por via oral, esses agentes são relativamente bem tolerados, mas estudos clínicos na bronquite crônica, asma e bronquiectasia têm sido decepcionantes. Uma revisão sistemática de vários pequenos estudos mostrou um pequeno benefício em termos de redução das exacerbações, com a maior parte dos benefícios da N-acetilcisteína; não se sabe se isso está relacionado com a atividade mucolítica da N-acetilcisteína ou com uma ação antioxidante. Um grande estudo controlado de N-acetilcisteína oral em pacientes com DPOC não mostrou nenhum efeito no progresso da doença ou na prevenção de exacerbações, embora houvesse algum benefício nos pacientes não tratados com corticosteroides inalados, como confirmado em um estudo subsequente de carbocisteína em pacientes com DPOC não tratados com outros medicamentos. A N-acetilcisteína atualmente não é recomendado para tratamento da DPOC. A DNAse (dornase alfa) reduz a viscosidade do muco do escarro de pacientes com fibrose cística e é indicada se houver significativa melhora sintomática e da função pulmonar após uma tentativa de tratamento. No entanto, não há evidências de que a dornase alfa seja eficaz em pacientes com DPOC ou asma. O receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) desempenha um papel crucial na secreção de muco das vias respiratórias a partir de células caliciformes e glândulas submucosas e parece mediar a resposta de secreção de muco a vários secretagogos, como estresse oxidativo, fumaça de cigarro, citocinas inflamatórias e TLR ativado. Inibidores de pequenas moléculas da cinase de EGFR, como gefitinibe e erlotinibe, têm sido desenvolvidos para uso como terapias anticâncer e estão atual mente sendo avaliadas como tratamentos para a hipersecreção de muco em Pacientes com DPOC. 5- Prescrição de: clobutinol, dropropizina, levodropropizina. Clobutinol Indicações. Tratamento sintomático da tosse irritativa não produtiva: • Em processos inflamatórios das vias respiratórias, devido a infecções ou outras causas; • Antes, durante ou após procedimentos diagnósticos ou intervenções terapêuticas no tórax, nos brônquios ou na pleura; • Depois de anestesia, especialmente após intubação. Contraindicações. Hipersensibilidade conhecida ao cloridrato de clobutinol ou a outros componentes da fórmula do produto. O uso do cloridrato de clobutinol está contraindicado durante a gravidez e o período de lactação. Este medicamento está contraindicado para pacientes com conhecida síndrome congênita do QT Longo; e em casos de condições hereditárias raras que podem ser incompatíveis com um excipiente do produto. Dropropizina Este medicamento é indicado para o tratamento dos sintomas da tosse irritante e seca (sem secreção). Este medicamento é contraindicado para uso por pacientes com alergia à dropropizina ou a qualquer componente da formulação, insuficiência respiratória grave, hipotensão (queda da pressão arterial), em pacientes asmáticos e em casos de tosse produtiva (com secreção). Levodropropizina Percof ® (levodropropizina) está indicado para o tratamento sintomático da tosse. Percof ® (levodropropizina) não deve ser utilizado durante a gravidez e lactação. Percof ® (levodropropizina) deve ser administrado entre as refeições, uma vez que sua interação com alimentos não está estabelecida. O uso deste medicamento é contraindicado em caso de hipersensibilidade conhecida a levodropropizina, aos demais componentes da formulação e aos pacientes com redução dos movimentos ciliares, hipersecreção brônquica, insuficiência hepática grave e durante a gravidez e lactação. A dose de Percof ® (levodropropizina) em pacientes idosos deve ser cuidadosamente determinada pelo médico. Percof ® (levodropropizina) não deve ser utilizado em crianças menores de 2 anos de idade. Pacientes em tratamento com Percof ® (levodropropizina) devem ter cuidado ao dirigir veículos e/ou operar máquinas, pois o medicamento pode causar diminuição da atenção.
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