Buscar

REDAÇÃO CRÍTICA O OFÍCIO DO HISTORIADOR

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

REDAÇÃO CRÍTICA – O OFÍCIO DO HISTORIADOR – GABRIELA LUCIANA LIMA
INÁCIO
O termo história deriva do grego “historien”, que traduzido quer dizer “procurar saber”,
“procurar um conhecimento”. A história se relaciona diretamente com tudo aquilo que diz
respeito a um acontecimento humano, lida com o indivíduo e suas especificidades. Dessa
forma, o historiador é aquele responsável por fazer essa análise, observar e testemunhar as
ações humanas. Ele não é preocupado com o passado, mas sim, preocupado com
acontecimentos, sejam eles passados ou até mesmo presentes. No entanto, para que o ofício
do historiador seja feito com excelência, há passos, se assim podemos dizer, a serem
seguidos, como a escolha das metodologias que devem ser utilizadas em suas pesquisas, as
fontes e documentos a se basear, fazer críticas a essas fontes, não tomando-as como verídicas
sem as analisar, dentre outros. Esse profissional deve, como elemento fundamental, produzir
conhecimento que esteja ao alcance de todos. Sabendo falar de maneira que seja entendida
tanto pelos intelectuais, como pelos estudantes.
A respeito desse ofício do historiador, um pesquisador se destaca, ao realizar uma análise de
como a história deve ser estudada, ou seja, como o historiador deve exercer sua função. Esse
historiador francês, chamado Marc Bloch, escreveu a obra “Apologia da História ou Ofício
do Historiador”, que é vista como uma verdadeira bíblia do historiador atual. Esta obra
infelizmente é incompleta, uma vez que foi redigida durante sua atuação na Resistência
Francesa, durante a segunda guerra mundial, e foi interrompida devido ao fuzilamento do
autor no ano de 1944. Publicado postumamente por seu companheiro de pesquisa Lucien
Febvre, em 1949, o livro revolucionou o fazer historiográfico da época.
Segundo Bloch, um ponto importantíssimo, dentre as metodologias que para ele devem ser
seguidas no fazer historiográfico, é a observação histórica. Uma vez que o historiador é
impossibilitado de conhecer, por ele próprio, os fatos que estuda, ele precisa falar por
testemunhos de outros. Dessa forma, o estudo não é garantido de ser preciso, visto que,
aquele que testemunhou e repassou a informação, seja por documentos deixados
voluntariamente ou relatos involuntários, repassou apenas aquilo que lhe era cômodo. Por
isso, é dever do historiador não se deixar por fazer uma observação passiva das coisas, pois
isso não agrega legitimidade a sua pesquisa. Para tal, ele deve impor para si, e para o
testemunho, perguntas que possuam uma direção específica para aquilo que o mesmo quer
descobrir, além de procurar uma diversificação de documentos (escritos, iconográficos, orais)
e trabalhar uma interdisciplinaridade (utilizando de materiais dos mais diversos campos de
estudo, deve ser, portanto, polímata), para que consiga chegar ao seu objetivo com maior
segurança e exatidão de informação, extraindo pontos que não estejam tão evidentes.
Em contraposição à ideia de Marc Bloch de que há de fato uma metodologia a ser seguida,
que seja própria do historiador, é possível citar o pesquisador Antoine Prost, com sua obra
“Doze lições sobre a História”. Essa obra “toca na ferida” do historiador, uma vez que
afirma que a História não é uma ciência, ou seja, qualquer um poderia pesquisar a história,
afirmação essa que não concordo pois creio que seja sim uma ciência e necessite de uma
metodologia para ser melhor trabalhada. Para ele, a história parte de fatos e acontecimentos
significativos, e cabe ao historiador definir quais documentos são significativos para o estudo
desses acontecimentos. A história não é memória, por isso o profissional não deve relembrar,
mas sim compreender seu objeto de estudo (um erro comum é achar que é possível explicar a
história, não é possível uma vez que para explicar algo é necessário ter uma visão clara de
todos os fatos, e o conhecimento da história é parcial, já que não se tem acesso a todo o
passado), para poder tornar inteligíveis os fenômenos humanos.
Essa compreensão é feita, em muitos dos casos, de forma analógica à vida do historiador, ele
lida com seu objeto com certa afetividade. Mesmo sendo coisas a serem buscadas dia após
dia, a imparcialidade e a objetividade são muito difíceis de serem alcançadas, é quase
impossível ser totalmente isento ao trabalhar com determinados temas. Mas não por isso o
historiador deve desistir de ser o menos parcial possível.
Prost afirma, também, que para se estudar história não podemos ser anacrônicos, ou seja, não
devemos atribuir a um tempo aquilo que não lhe era pertinente, e para isso os conceitos são as
ferramentas perfeitas. Ele destina um capítulo inteiro de seu livro para tratar desse importante
instrumento. Os conceitos são, para ele, a melhor forma de dizer, evitando o anacronismo, a
instrumentalização e as ideologias. Eles sintetizam vários fenômenos históricos, por meio de
“expressões específicas concatenadas” que se referem a diversas manifestações que tangem a
vida humana. Dessa forma, é possível facilitar a compreensão, já citada como crucial
anteriormente. No entanto, é necessário ser cauteloso, dado que o passado é incerto e o
historiador corre o risco de investigar como real uma realidade que pode não ter se realizado.
O ofício do historiador depende também de um elemento que é o grande articulador da
história: o tempo. E nesse ponto ambos os autores e eu concordamos. O tempo da história não
é o mesmo tempo cronológico usado normalmente, por esse motivo não é correto organizá-lo
em linhas, uma vez que nem todos os elementos se encontram no mesmo estágio de evolução
– por exemplo, a evolução econômica pode estar “atrasada” em relação à evolução social. O
tempo histórico possui uma ordem e sentido, que foi estruturado a partir do acontecimento
fundador que unificou tudo: o nascimento de Cristo (mas antes disso já se utilizavam de uma
grande pluralidade de tempos cíclicos distintos, por isso essa necessidade de uma unificação).
Portanto, é dever do historiador “remontar” o tempo e classificar os acontecimentos em
ordem. Para esse fim, ele tem a tarefa de fazer uma periodização, identificando rupturas
significativas, trabalhando-as e datando. Porém, como tantos outros pesquisadores já
trabalharam nesse processo, não há necessidade de que o historiador da atualidade reconstrua
100% do tempo, pois ele já se apresenta como um tempo já-estruturado e já-articulado.
Em suma, é notável que, mesmo havendo divergências na forma com que o ofício do
historiador é visto e trabalhado, ele possui um papel importantíssimo na vida das sociedades
atuais. Ao mesmo tempo que as obras de Bloch e Prost se contrastam em determinados
pontos, elas se complementam e mostram que o fazer historiográfico possui especificidades
que tornam o estudo do passado muito mais completo e legítimo.

Continue navegando