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Universidade Federal da Bahia Departamento de Bioquímica e Biofísica Disciplina Biofísica III – ICS 003 Docentes: Simone Garcia Macambira, Márcia Barbosa da Silva e Clarissa Schitine Discentes: João Vitor Cavalcante Aleixo (Matrícula: 217120713; B.I. em Saúde; P01); Maria Vitória Mascarenhas Silva (Matrícula: 217117415; B.I. em Saúde; P01); Atividade Complementar: Biotermologia 01. Qual é a diferença entre termogênese e termólise? A termogênese é a produção de calor e pode ser dividida em termogênese mecânica que está baseada na produção de calor que ocorre durante o calafrio e em termogênese química, que apesar de mais lenta que a termogênese mecânica é o meio mais importante para a manutenção da temperatura corporal, isso por que o calor é produzido no corpo humano a partir das reações exotérmicas com a queima de gordura, açúcares e proteínas através do metabolismo. Já a termólise é a perda de calor (dissipação), por meio de vaporização, radiação, convecção e condução (GARCIA, 1998). 02. O que é metabolismo basal? Quando a pessoa se encontra em completo repouso, energia considerável é requerida para a realização de todas as reações químicas do corpo. Esse nível mínimo de energia necessária para a existência, é conhecido como metabolismo basal (MB), sendo responsável por cerca de 50% a 70% de todo o gasto energético diário, na maioria dos indivíduos sedentários (GUYTON, 2006). 03. Como o calafrio auxilia na termogênese mecânica dos homeotermos? O calafrio é resultante de uma atividade nervosa descontrolada e caracterizado por uma contração desordenada dos músculos esqueléticos, durante a sua ocorrência, o consumo de Vitoria Vitoria Vitoria Vitoria Vitoria Vitoria Vitoria Vitoria oxigênio pode elevar-se de 2 a 5 vezes. Trata-se uma resposta muscular apresentada por muitos animais, entre os quais o homem, quando são subitamente expostos ao frio, essa contração muscular involuntária esquenta o corpo (produz calor) de maneira mais rápida do que aumentar o metabolismo através de reações químicas (termogênese química). O calafrio pode aparecer também nos estados febris, quando a temperatura corporal aumenta rapidamente (GARCIA, 1998). 04. Como se dá a termogênese química? A termogênese química é o meio mais importante para a manutenção da temperatura corporal, o homem, quando submetido a um ambiente que se esfria vagarosamente, pode compensar a sua demanda de calor, por esse mecanismo, isso porque o calor é produzido no corpo humano a partir das reações exotérmicas (sistemas enzimáticos, reações químicas, glândulas secretoras, hormônios e mediadores químicos), que ocorrem no metabolismo das gordura, açúcares e proteínas. As gorduras são uma fonte muito importante de energia térmica, sobretudo aquelas localizadas no tecido adiposo marrom, as células desse tecido convertem com facilidade a energia dos seus estoques (GARCIA, 1998). 05. Dê exemplos de termólise biológica do corpo humano. A termólise a perda (dissipação) de calor, se dá por vaporização, convecção, condução e radiação, alguns exemplos de termólise biológica: ● Vasodilatação; ● Aumento da freqüência respiratória; ● Evaporação –Transpiração- Sudorese; ● Aumento da Irradiação; ● Micção e Defecação 06. A pele pode perder calor por irradiação? Se sim, descreva esse processo A pele emite raios infravermelhos, com comprimento de onda que vão de 5 a 20 μm (as de 9 μm são as de maior amplitude), que são capazes de aumentar a energia cinética de outros corpos (aumentar a temperatura) e ao mesmo tempo diminuir a temperatura da pele, ou seja transferir calor em forma de ondas. Assim sendo, alguns estudos mostraram que a pele humana, nao importando a sua cor, tem uma potência de irradiacao igual a 97% daquela do corpo negro, significando que ela apresenta um excelente poder emissivo (GARCIA, 2015). Assim sendo, a pele é a principal fonte de radiação calorífica do corpo humano, órgão que possui suprimento sanguíneo abundante e que está sob o controle do sistema nervoso central. Nas extremidades, em particular, existem muitas comunicações entre artérias e veias de pequeno calibre, o que cria condições para formação de grande fluxo sanguíneo, pois, não tendo o sangue que percorre os capilares, a resistência ao fluxo é baixa. Por esta razão, nas extremidades ocorre uma grande troca de calor com o ambiente (GARCIA, 1998). Em suma, as mudanças na temperatura do ambiente alteram a circulação do sangue na superfície do corpo e isso se deve a liberação de mediadores químicos, tal como a acetilcolina. Entretanto, a temperatura da pele também pode ser alterada por reflexos nervosos, onde as informações captadas pelos receptores de frio e de calor situados na pele, chegam ao cérebro através dos nervos sensitivos (GARCIA, 1998). Desse modo, os sinais são então processados e retornam aos vasos que estão na região do estímulo, fazendo com que os nervos simpáticos e parassimpáticos conduzam esses estímulos e, assim, controlem a circulação sanguínea da região. 07. Explique a troca de calor por convecção. Convecção é transferência de energia térmica (calor) de um sistema para outro às custas de movimentação de massas de fluidos (gás ou líquido) causado pela diferença de densidade entre dois meios de temperaturas diferentes. Quando o ar é aquecido, ele se expande, aumentando o seu volume e reduzindo sua densidade. Isso faz com que a força de empuxo do meio se torne maior do que o peso da massa de ar expandido e, por conseguinte, a camada de ar é empurrada para cima. O inverso acontece quando o ar é resfriado. Assim, quando as moléculas de ar entram em contato com a pele e são aquecidas por condução, elas se expandem rarefazendo o meio e criando os gradientes de pressão necessários à formação das correntes de convecção. Por este mecanismo, o ar aquecido sobe e é substituído por uma massa de ar mais fria. O efeito refrigerador, que a convecção do ar exerce sobre a pele, é chamado de clima privado (GARCIA, 1998). 08. Qual a importância do hipotálamo no controle da temperatura corporal? O hipotálamo contém o centro coordenador para a regulação da temperatura. Esse grupo de neurônios especializados no assoalho do encéfalo atua como um “termostato” – em geral estabelecido e regulado cuidadosamente em cerca de 37°C 6 1°C (98,6°F ± 1,8°F) – que faz continuamente os ajustes termorreguladores para os desvios em relação a um padrão térmico. Diferentemente do termostato automático caseiro, o hipotálamo não pode “desligar” o calor; pode apenas iniciar as respostas destinadas a proteger o corpo do acúmulo ou da perda de calor. Dois processos ativam os mecanismos corporais que regulam o calor: 1. Os receptores térmicos na pele proporcionam influxo para a área de controle central. 2. As modificações na temperatura do sangue que perfundem o hipotálamo estimulam diretamente essa área. O centro regulador hipotalâmico superior é crucial na manutenção do equilíbrio térmico. As células na porção anterior do hipotálamo identificam leves mudanças na temperatura do sangue, além de receberem o influxo periférico. A atividade exacerbada dessas células estimula o hipotálamo posterior a desencadear respostas coordenadas para a conservação do calor ou o hipotálamo anterior a facilitar a perda de calor. Ao contrário da importância dos receptores periféricos na identificação do frio, a temperatura do sangue que perfunde o hipotálamo proporciona o sistema primário de monitoramento destinado a avaliar o calor corporal, ao contrário dos receptores periféricos que detectam o frio (MCARDLE, 2016). O centro regulador da temperatura está localizado no hipotálamo anterior. Esse centro recebe informações sobre a temperatura do ambiente dos termorreceptores na pele e temperatura central dostermorreceptores no próprio hipotálamo anterior. O hipotálamo anterior, então, organiza as respostas adequadas, que podem envolver mecanismos de geração ou dissipação de calor (CONSTANZO, 2014). 09. As variações circadianas da temperatura corporal dependem da rotina das pessoas?Justifique sua resposta. Sim. A temperatura corporal de um indivíduo pode sofrer variações de acordo com a influência de aspectos diversos, tais como, alterações emocionais, mudanças na temperatura ambiente, atividade física, uso de roupas inadequadas para as necessidades, presença de processos infecciosos e/ou inflamatórios assim como, pelo próprio ritmo circadiano (circa= cerca, diabo= dia, ou seja, 24 horas). Indivíduos submetidos a esquemas temporais alterados como trabalho fixo noturno ou turnos alternantes, poderão apresentar perturbações de seus ritmos biológicos endógenos, em função do conflito temporal entre relógio biológico e esquema social, imposto externamente. Os valores da temperatura oral são índices importantes para a verificação do ritmo biológico circadiano. Eles permitem a análise das flutuações rítmicas, necessárias à identificação dos ajustamentos biológicos do indivíduo a sua atividade. Estes dados, permitem, ainda, a possibilidade de diagnóstico quanto ao estado de saúde (MARTINO; CIPPOLA NETO, 2001). A influência do ritmo circadiano sobre a temperatura foi observada em estudos sobre a temperatura oral. O resultado observado foi a variação da temperatura oral no período de vigília, demonstrando valores de temperatura maiores no final da tarde e menores no início da manhã. A exemplo, temos, a variabilidade circadiana da temperatura oral, em enfermeiras do turno noturno, demonstrou que os valores das temperaturas oscilaram ao longo das 24 horas. Os valores das temperaturas foram elevados quando comparados com os valores dos sujeitos que trabalhavam durante o dia, indicando uma possível dessincronização dos ritmos biológicos (SIMÕES; MARTINO, 2007). 10. Quais são os fatores que afetam a temperatura da pele? A pele é um órgão fundamental na manutenção da temperatura central dentro de uma faixa de normalidade 36,1-37,8 ° C, tendo em vista que esta deve ser preservada a fim de resguardar as funções vitais do organismo. A condução de calor para a pele pelo sangue é controlada pelo grau de vasoconstrição das arteríolas e das anastomoses arteriovenosas que suprem sangue para os plexos venosos da pele. Essa vasoconstrição é controlada quase completamente pelo sistema nervoso simpático, em resposta às alterações da temperatura central do corpo e às alterações da temperatura ambiente (GUYTON, 2006). Assim, a temperatura cutânea varia com a temperatura do meio ambiente, pois a pele perde calor com o meio ambiente através de convecção (correntes de ar), condução (atmosfera e objetos), vaporização (evaporação) e radiação. A temperatura da pele varia também com fatores fisiológicos tais como digestão, ciclo menstrual e gravidez (QUEK; IRAWAN; NG, 2010). Dessa forma os fatores que afetam a temperatura da pele podem ser classificados em externos e internos ao corpo. Os fatores externos são: 1. Roupa - segundo Garcia (2015), a roupa pouco altera a dissipação de calor por radiação, a menos que seja feita de algodão e que possua uma malha estreita. Entretanto, toda a sua influência está nas trocas por convecção pois, protege a pele das variações rápidas de temperatura de acordo com seu poder isolante (varia de acordo com o material). 2. Temperatura e umidade do ar - em regiões frias e úmidas, a umidade confere sensação mais intensa ao frio, pois o equilíbrio térmico só se faz com uma maior transferência de calor para o meio. Já nos climas quentes, a umidade excessiva aumenta a sensação de calor porque impede que o suor seja evaporado e, assim, que resfrie o corpo (GARCIA, 2015). 3. Movimento do ar - as correntes aéreas afetam a temperatura da pele porque aumentam a evaporação e promovem troca de camada de ar que está em situação de quase-equilíbrio térmico com ela (GARCIA, 2015). Vale lembrar que, o efeito térmico das correntes de ar dependem não só da temperatura, mas também da velocidade dos ventos (GARCIA, 2015). Já os internos são: 1. Característica física da pele - a pele branca reflete 40 a 50% da luz que incide sobre ela, enquanto que a pele negra tem um poder refletor menor (GARCIA,2015). Entretanto, do ponto de vista da emissao térmica ambas se comportam como um corpo negro quase perfeito e a quantidade de calor dissipado por unidade de area varia de acordo com a regiao do corpo (GARCIA, 2015). 2. Circulação sanguínea - controlada pelo grau de vasoconstrição das arteríolas e das anastomoses arteriovenosas que supre sangue para os plexos venosos da pele. 3. Ingestão de alimentos - alguns alimentos provocam maior resposta térmica do que outros, como por exemplo o álcool que altera substancialmente a temperatura cutânea, elevando primeiro a temperatura da face, depois a dos membros superiores e, por último, a das extremidades inferiores, sobretudo a dos dedos dos pés (GARCIA, 2015). 11. Qual é o papel das fístulas arteriovenosas das extremidades na termogênese biológica? Existe alguma influência de anestésicos, como o éter, neste processo? Normalmente, a vasomotricidade periférica tem um papel destacado na regulação térmica do corpo. No entanto, Ebbeche (1917 apud GARCIA, 1998) chamou a atenção para o fato de que, muitas vezes, a cor da pele de uma região pode conduzir a erro quando se pensa nela como elemento para avaliação da transferência de calor. Ele mostrou que uma pele pálida pode apresentar-se mais quente do que outra rosada. Essa diferença pode ser mais bem percebida na pele das mãos. Tal constatação sugere um paradoxo térmico, pois o fluxo sanguíneo na pele rosada deve ser maior do que aquele na pele pálida. A explicação para o paradoxo está no fato de que a cor da pele depende do fluxo sanguíneo capilar, mas não do fluxo que ocorre em fístulas arteriovenosas. Contudo, a transferência de calor das extremidades para o meio depende do fluxo de sangue nessas fístulas. Assim, uma pele branca e fria pode significar uma perfusão capilar reduzida, mas, se quente, demonstra a predominância de fluxo sanguíneo através das fístulas arteriovenosas (GARCIA, 1998). Muitos anestésicos gerais, como o éter, promovem vasodilatação superficial e, consequentemente, aumentam a transferência de calor do corpo para o ambiente. Esse conhecimento é particularmente importante quando se anestesia em crianças de baixo peso. Quanto menor for o peso da criança, menor será a massa que ela possui e, por isso, menor será a sua capacidade de produzir calor. As crianças de baixo peso apresentam uma grande relação superfície/volume corporal e, por isso, os processos termolíticos têm mais influência sobre a temperatura do corpo do que os termogênicos. Assim, deve ser levado em consideração que o aumento da dissipação calorífica promovido pela anestesia pode induzir crianças de baixo peso ao resfriamento corporal (GARCIA, 1998). 12. Explique o que é estresse térmico O estresse térmico é o estado onde tanto o sistema fisiológico quanto o sistema psicológico são atingidos pela temperatura do ambiente em que se localiza, quando esta temperatura encontra-se em níveis extremos e muito exigentes. O estresse térmico pode acontecer em ambientes frios ou quentes, sendo que as avaliações de estresse térmico possuem dois objetivos primários, que são determinar a natureza, e assim, as causas do estresse térmico em um dado ambiente e mensurar e avaliar a intensidade do estresse térmico, prevendo, assim, as suas consequências para a saúde (ROSA, 2018). O estresse térmico grave pode provocar, além de vários outros acometimentos, um continuum de alterações potencialmente negativas no sistema imune e naaderência dos leucócitos, assim como em seu processo de ativação (o que não está relacionado com os níveis elevados de catecolaminas). Um em três indivíduos que sobrevivem a um caso quase fatal de intermação clássica fica permanentemente incapacitado com disfunção de múltiplos sistemas orgânicos (MCARDLE, 2016). 13. Descreva três estados patológicos em decorrência do estresse térmico. O estresse térmico favorece estados patológicos como: Edema: esse estado patológico ocorre através de estresse por calor, o qual se apresenta em pessoas não-aclimatadas, resultando em edemas dos membros, principalmente acometendo mais mulheres que ficam mais em pé ou sentadas. Essa patologia é causada pela alteração vasomotora periférica, assim como pela variação da produção de aldosterona. Cãibras: esse estado patológico também ocorre através de estresse por calor, este se manifesta por espasmos dolorosos musculares devido a um desajuste hidroeletrolítico, assim, os músculos mais atingidos são os do abdômen, das pernas e das coxas. Dessa forma, o seu tratamento pode ser feito à base de reposição hídrica e salina para interromper as contraturas musculares. Lesões cutâneas: esse estado patológico ocorre através de estresse por frio, este acomete regiões do corpo quando é exposto a um objeto frio ou é resfriado pelo vento gelado, podendo resultar no congelamento da pele e formar lesões ulcerativas. Por exemplo, o pé-de-trincheira, a qual é descrita como um estado isquêmico grave, uma vez que pode gerar uma gangrena da parte afetada (MCARDLE, 2016). 14. O que é hipotermia? Define-se hipotermia como a temperatura corporal menor de 36°C, na qual o corpo é incapaz de gerar calor suficiente para a realização de suas funções (CRAVEN; HIRNLE, 2006), sendo considerada hipotermia severa uma temperatura central menor que 30ºC. nos casos em que há resfriamento abrupto das paredes arteriais e das arteríolas (como a que ocorre no caso de submersão em água gélida) pode ocorrer vasoplegia muito antes que os demais tecidos estejam resfriados, causando isquemia dos mesmos devido ao baixo fluxo (baixa oferta- demanda) (COLLEONI, 2018). A hipotermia promove a homeostasia iónica e inibe processos excitatórios deletérios que ocorrem nos neurônios lesados. A hipotermia influencia várias etapas nesta cascata, sendo a etapa central o bloqueio do influxo de cálcio para a célula. Quando o fluxo sanguíneo é interrompido, os níveis de adenosina-trifosfato (ATP) e fosfocreatina diminuem em segundos. A quebra de ATP e ativação compensatória de glicólise anaeróbia leva a níveis aumentados de fosfato inorgânico, lactato e protões, resultando em acidose intra e extracelular (ARAÚJO, 2012). Didaticamente, a hipotermia é dividida em quatro estágios: TABELA - ESTÁGIOS DA HIPOTERMIA Hipotermia leve (entre 34°C e 36°C) clinicamente caracterizada pelos tremores (tentativa de termogênese por parte do organismo). Confusão mental e desorientação são sinais da transição de hipotermia leve para moderada; Hipotermia moderada (entre 30°C e 34°C) ocorre diminuição (e até desaparecimento) dos tremores, além de marcada confusão mental progressivamente, perda de consciência; Hipotermia severa (abaixo de 30°C) caracterizada pela inconsciência, desaparecimento de todos os movimentos voluntários, perda do reflexo pupilar, desaparecimento dos reflexos profundos, parada respiratória e desaparecimento de ritmos cardíacos organizados (possibilidade e FV espontânea); Hipotermia profunda (abaixo de 20°C) algumas literaturas classificam a hipotermia profunda apenas como uma subdivisão da hipotermia severa pois há poucas diferenças clínicas e nenhuma implicação terapêutica. Neste grau de hipotermia, o eletroencefalograma é totalmente silencioso e o monitoramento cardíaco demonstra apenas assistolia. Fonte: COLLEONI, 2018. 15. Cite e explique técnicas terapêuticas que tenham como base a produção e dissipação de calor. A modificação da temperatura dos tecidos biológicos pode ser usada como um processo terapêutico. A prática de tratar pelo calor remonta ao tempo de Hipócrates, que já falava dos efeitos benéficos do calor radiante. Os médicos, desde os tempos mais remotos, aproveitam-se do calor dissipado por fontes quentes, tais como carvão e ferro em brasa, para aliviar sintomas dolorosos dos músculos e das articulações (GARCIA, 1998). A Termoterapia Algumas doenças são beneficiadas pela ação do calor ou do frio. O aquecimento do corpo, além de exercer os seus efeitos moduladores sobre a circulação sanguínea, também promove uma ação calmante sobre o sistema nervoso central. A termoterapia está indicada nas doenças inflamatórias das articulações (artrites e sinovites) e dos tendões (tendinites), nos estiramentos e nas contusões musculares, nos processos inflamatórios da pele e do tecido celular subcutâneo, entre outros pontos. Todavia, nas mulheres cheias vasculares periféricas que se caracterizam por uma diminuição do fluxo sanguíneo arterial, nas neoplasias malignas, nas moléstias hemorrágicas ou onde a tendência a hemorragia, na gravidez e também em pacientes anestesiados, o aquecimento corporal está contra-indicado. Nas obstruções arteriais periféricas a aplicação de calor está contra-indicada, porque o aumento do metabolismo aumenta o consumo de oxigênio e propicia a morte celular. O aumento da irrigação sanguínea na região onde existe um processo tumoral maligno pode favorecer à disseminação de células neoplásicas e nos processos hemorrágicos fisiológicos (menstruação) ou patológicos (diástases) não se deve aquecer a área hemorrágica para não aumentar o sangramento (GARCIA, 1998). Na gravidez deve ser evitada a aplicação de calor na região pélvica, bem como o uso dos processos que aumentam a temperatura do corpo. As células fetais por estarem um processo de mitose acelerada são mais sensíveis ao calor do que as células normais. Sobre anestesia, o aquecimento dos tecidos é perigoso pois, não havendo sensibilidade e, pode ocorrer queimaduras (GARCIA, 1998). Hipotermia Terapêutica A hipotermia terapêutica (HT) tem raízes ancestrais, tendo sido utilizada em variados contextos clínicos, nomeadamente no traumatismo crânio-encefálico. Entre 1930 e 1940, a descrição de casos de ressuscitação bem sucedida de vítimas de afogamento com hipotermia desencadeia as primeiras investigações dos seus efeitos terapêuticos em modelos animais. Em 1960 liderados por Rosomoff e Safar, foram levados a cabo os primeiros ensaios clínicos em um pequeno número de doentes, com resultados animadores. Em 1965 a hipotermia tem indicação formal em doentes com lesão cerebral severa e diminuição do estado de consciência. Contudo, e até 1980, o interesse na HT viria a declinar, dados os relatos do aumento do número de efeitos laterais (em particular infecciosas). Era implicado como factor causal a aplicação intempestiva da hipotermia (grande profundidade de arrefecimento mantido por um longo período de tempo). Porém, o interesse na HT recrudesce no início dos anos 80 com estudos animais, que demonstram benefícios com hipotermia ligeira-moderada (32-35ºC) com diminuição dos efeitos laterais. Tem-se assistido desde então ao avolumar da evidência laboratorial em modelos animais de TCE que registam consistentemente efeitos benéficos da HT. Os ensaios clínicos em seres humanos não conseguem concluir pelos efeitos benéficos da HT (ARAÚJO, 2012). A indução da hipotermia leva à ativação de mecanismos que levam à diminuição da perda de calor. Sob circunstâncias normais isto é conseguido através de um maior tônus simpático e através de vasoconstrição dos vasos da pele, ocorrendo aos 36,5ºC, com redução da perda de calor de 25%. Isto complica as tentativas de indução de hipotermia terapêutica por refrigeração superficial. Existirá também maiorprodução de calor através dos arrepios, ocorrendo aos 35,5ºC – e os tremores estão correlacionados com um maior risco de eventos mórbidos cardiovasculares e desfecho desfavorável se no pós-operatório, com aumento do metabolismo, consumo de oxigénio, aumento trabalho respiratório e aumento da frequência cardíaca. Num doente não sedado isto pode aumentar o consumo de oxigénio entre 40-100%, o que é indesejável em doença neurológica ou lesão hipóxica. A importância de uma sedação adequada e supressão da resposta de estresse induzida pela hipotermia é ilustrado por observações de estudos animais sugerindo que algum senão todo o efeito neuroprotector pode ser perdido se o arrefecimento for usado em animais não sedados (ARAÚJO, 2012). Hipertermia Terapeutica A hipertermia é o tratamento clínico para doenças malignas, no qual os tecidos tumorais são aquecidos por agentes externos a temperaturas de no mínimo 40-41°C e mantidas por um longo período de tempo. A hipertermia é normalmente administrada em conjunto com outras modalidades terapêuticas, formando uma estratégia terapêutica multimodal. A eficiência terapêutica da hipertermia depende de uma resposta diferenciada ao calor para o tecido tumoral em relação ao tecido sadio. Os diversos efeitos do aquecimento podem estar associados a impactos diretos ou indiretos no funcionamento celular, estes podem induzir condições de apoptose, ou mesmo alterar o sistema de reparação e/ou mutação. No final da década de 60 a aplicação de sangue quente por perfusão local demonstrou ser capaz de provocar aquecimento em tumores humanos, o estudo mostrou que o calor sozinho pode permitir a total regressão de melanomas e sarcomas e aumentar a sobrevivência de pacientes. Outro estudo indicou que o calor e uma droga anticâncer (Melphalan) não somente é capaz de curar o tumor principal, mas também reduzir a incidência de metástase desses tumores. Os trabalhos desses dois grupos levaram a uma nova onda de interesse na pesquisa em hipertermia ao longo dos anos (SILVA, 2016). As proteínas são os alvos predominantes na hipertermia, à desnaturação intracelular de proteínas desestabilizam membranas celulares, citoesqueletos, enzimas, tradução de sinais, sínteses macromoleculares e o núcleo celular, condições que são encontradas especificamente no tecido tumoral, devido à perfusão sanguínea insuficiente. Sob tais condições, a radioterapia é menos eficaz e os agentes citotóxicos aplicados sistemicamente atingirão essas áreas em concentrações mais baixas do que em áreas bem perfundidas. Portanto, a adição de hipertermia à radioterapia ou quimioterapia resultará em pelo menos um efeito aditivo. Além disso, os efeitos da radioterapia e de muitos medicamentos são intensificados com o aumento da temperatura. A hipertermia pode ser aplicada por vários métodos: hipertermia local por fontes de energia externas ou internas, hipertermia regional por perfusão de órgãos ou membros, ou por irrigação de cavidades corporais, e hipertermia de corpo inteiro. O uso de hipertermia sozinho resultou em taxas de resposta global completa de 13%. O valor clínico da hipertermia em adição a outras modalidades de tratamento foi demonstrado em estudos randomizados. Melhoria significativa no resultado clínico foi demonstrada para tumores de cabeça e pescoço, mama, cérebro, bexiga, colo do útero, reto, pulmão, esôfago, vulva e vagina, e também para melanoma. A hipertermia adicional resultou em notavelmente maior. Esse conjunto de mudanças pode levar à morte celular por necrose ou apoptose (SILVA, 2016). Novos métodos de produção têm sido usados, de maneira eficiente, em conjunto com a hipertermia na terapêutica direta e em associação aos tratamentos convencionais como a radioterapia e a quimioterapia. Os efeitos biológicos induzidos pelo aumento da temperatura no ambiente tumoral são decorrentes do rompimento da membrana plasmática e mitocôndrias, aglomeração da cromatina nuclear e tumefação celular. É importante salientar que estes efeitos dependem do tempo de exposição e da temperatura utilizada, sendo mais efetivo com a utilização de temperaturas acima de 40°C (SILVA, 2016). REFERÊNCIAS ARAÚJO, Rui Manuel Moreira. Hipotermia Terapêutica: evidência científica no neurotrauma. 2012. COLLEONI, Osmar. Hipotermia: o que você sabe sobre o assunto?. PEBMED: 17 Out. 2018. Disponível em: <https://pebmed.com.br/hipotermia-o-que-voce-sabe-sobre-o-assunto/>. Acesso em: 09 de abril de 2021. COSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. CRAVEN, Ruth F.; HIRNLE, Constance J. Fundamentos de enfermagem: saúde e função humanas. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. GARCIA, E. A. C. Biofísica. 1ª ed. São Paulo: Sarvier, 1998. GARCIA, Eduardo A. C. Biofísica. 2ª ed. São Paulo: Sarvier, 2015. GUYTON, Arthur Clifton. Tratado de fisiologia médica. Elsevier Brasil, 2006. MCARDLE, William D.; KATCH, Frank I.; KATCH, Victor L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 8ª ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. MARTINO, Milva Maria Figueiredo De; CIPPOLA NETO, José . Variabilidade circadiana da temperatura oral e do ciclo vigília-sono em enfermeiras de diferentes turnos de trabalho. Revista de Ciências Médicas, v. 10, n. 3, 2001. QUEK, C; IRAWAN, W; NG, E.Y.K. A novel brain inspired neural cognitive approach to SARS thermal image analysis. Expert Syst. Applic., New York, v.37, p.3040- 3054, 2010. ROSA, Victor Cupertino. Uma revisão sobre o risco ocupacional relacionado ao estresse térmico. 2018. SILVA, Sandrielle et al. Tratamento do câncer por hipertermia. Caderno de Graduação- Ciências Biológicas e da Saúde-UNIT-PERNAMBUCO, v. 2, n. 3, p. 87-98, 2016. SIMÕES, Ana Leda Bertoncini; MARTINO, Milva Maria Figueiredo De. Variabilidade circadiana da temperatura oral, timpânica e axilar em adultos hospitalizados. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 41, n. 3, p. 485-491, 2007.
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