Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 1. Definição de equilíbrio químico Toda reação química conduzida em certa condição de temperatura e pressão com o passar do tempo irá alcançar uma condição dita de equilíbrio, em que as concentrações dos reagentes e produtos não mais sofrem modificações perceptíveis às técnicas analíticas. Tal condição para uma reação genérica é representada mediante a inserção de duas setas na equação, cada uma representando o processo em um sentido, dos reagentes aos produtos ou dos produtos aos reagentes. aA + bB ⇄ cC + dD Naturalmente, ser constante não significa que as quantidades de reagentes e produtos sejam equivalentes. Em verdade, isso depende da natureza de cada reação e da termodinâmica do sistema reacional em si. Pode-se demonstrar com argumentos da termodinâmica clássica, que para reações homogêneas (reações que se desenvolvem em uma única fase), concentrações e pressões parciais (reações em fase gasosa), de reagentes e produtos são relacionadas através de equações que envolvem a constante de equilíbrio da reação (K). 𝐾 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝑜 𝑅𝑇 ) Onde ∆𝐺𝑜 representa a variação de energia de Gibbs molar padrão da reação (pressão de referência de 1 atm), sendo esta calculada, para o exemplo considerado, a partir das energias de Gibbs molares padrão de A, B, C e D na temperatura de interesse. ∆𝐺𝑜 = 𝑑𝐺𝐷 𝑜 + 𝑐𝐺𝐶 𝑜 − 𝑎𝐺𝐴 𝑜 − 𝑏𝐺𝐵 𝑜 Sendo 𝐺𝑖 𝑜 a energia de Gibbs molar padrão da espécie "i" no estado físico em que o mesmo se encontra, considerando as condições de T e P do processo. No caso de reações em fase gasosa ideal, as pressões parciais de produtos e reagentes permitem a definição do KP da reação. Já as concentrações de reagentes e produtos permitem a definição do KC da reação. Kc = [C]c x [D]d [A]a x [B]b Kp = (𝑃𝑐) c x (𝑃𝐷) d (𝑃𝐴)a x (𝑃𝐵)b Convém lembrar que a pressão parcial consiste no produto da pressão total e a fração molar de cada componente. Por exemplo, para o componente C, tem-se: 𝑃𝐶 = 𝑋𝐶𝑃 2 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Conforme falado anteriormente, os valores de 𝐾𝐶 e KP são determinados unicamente a partir da constante de equilíbrio, que, por sua vez, é determinada pela temperatura em que a reação se desenvolve. 𝐾(𝑇) = 𝐶−𝛿𝐾𝐶 = 𝐶 (𝑐+𝑑−𝑎−𝑏). 𝐾𝐶 𝐾(𝑇) = 𝐾𝑃 Onde 𝐶 representa a concentração total de espécies no meio reacional. Cabe ressaltar que para reações homogêneas em fase gasosa a definição de 𝐾𝐶 é a mesma. Neste caso, é possível relacionar 𝐾𝐶 e KP mediante a seguinte equação. 𝐾𝑃 = 𝐾𝐶 . (𝑅𝑇) 𝛿 Onde 𝛿 representa a diferença entre os somatórios dos coeficientes estequiométricos de produtos e reagentes. Para a reação-exemplo, tem-se: 𝛿 = (𝑐 + 𝑑) − (𝑎 + 𝑏) 1.1. ∆𝐺𝑜e viabilidade de processos A viabilidade de um processo está associada ao fato de na condição de equilíbrio haver o predomínio de reagentes ou produtos. Uma reação com elevada força-motriz, apresenta uma elevada tendência à conversão de reagentes em produtos e, desta forma, deve estar associada a um valor de K igualmente muito elevado. Isso apresenta um efeito natural sobre a energia de Gibbs padrão molar do processo (∆𝐺𝑜), que apresenta uma profunda relação com K. 𝐾 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝑜 𝑅𝑇 ) → 𝐾 ≫ 1 → ∆𝐺𝑜 ≪ 0 Logo, se o equilíbrio estiver deslocado para o lado dos produtos, K será maior que a unidade, o que implica em um valor positivo para o termo dentro da exponencial. Neste caso, portanto, a energia de Gibbs padrão do processo será negativa. Quanto mais negativo o valor de ∆𝐺𝑜, mais deslocado estará o equilíbrio no sentido de formação dos produtos, contribuindo para a força motriz do processo. A apreciação da viabilidade de um processo qualquer é melhor desenvolvida a partir do cálculo da variação de energia de Gibbs molar total (∆G), que envolve a energia de Gibbs padrão (∆Go) e um termo associado às atividades químicas de produtos e reagentes. Considerando uma reação conduzida no estado gasoso, ∆G pode ser calculado a partir do valor de ∆Go, sendo Q o quociente reacional calculado de forma idêntica ao KP, porém contemplando as pressões parciais de reagentes e produtos em um momento anterior ao equilíbrio. ∆𝐺 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇. 𝑙𝑛𝑄 3 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Para a reação-modelo considerada aqui, tem-se: 𝑄 = 𝑃𝐷 𝑑 . 𝑃𝐶 𝑐 𝑃𝐴 𝑎𝑃𝐵 𝑏 No equilíbrio Q e KP apresentam valores idênticos e são iguais à constante de equilíbrio do processo (K). Convém resumir esses resultados em uma tabela, que correlaciona possíveis valores de ∆G e o comportamento do sistema reacional. Este parâmetro, fundamental para a avaliação da viabilidade de processos químicos de uma forma geral, pode ser entendido como uma medida da força-motriz do processo. ∆𝑮 Comportamento esperado >0 Reação é espontânea no sentido inverso (produtos para reagentes). <0 Reação é espontânea no sentido direto (reagentes para produtos). =0 Reação no equilíbrio. Se nas condições do processo ∆G for negativo, a reação é considerada espontânea no sentido direto, ou seja, levando à formação dos produtos de interesse. Caso seja positivo, a reação deve seguir o caminho inverso, que leva a regeneração dos reagentes. Pode-se generalizar esses argumentos para reações envolvendo fases condensadas e reações heterogêneas, no entanto, para tal seria necessário introduzir conceitos de termodinâmica que se encontram fora do escopo da presente obra. 1.1.1. Combinação de reações Muitas vezes a energia de Gibbs molar padrão (∆Go) de certa reação de interesse (reação global) não se encontra disponível, o que gera a necessidade de se predizer o mesmo com base na combinação linear de reações parciais. Consequentemente, a constante de equilíbrio da reação final também resultará da combinação dos valores de K para as reações parciais, no entanto, sendo o produto dos mesmos. Para ilustrar este ponto convém considerar como exemplo a famosa reação de Bourdouix, cujo valor de K será referenciado como Kf. C(s)+CO2(g) = 2CO(g) (Kf) Esta reação pode ser obtida a partir da combinação linear das reações de formação do CO(g) e CO2(g). C(s)+1/2O2(g) = CO(g) (K1) C(s)+O2(g) = CO2(g) (K2) 4 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Para que tal combinação seja realizada, devemos inverter a reação "2" e somar com a reação "1" multiplicada por dois. Consequentemente, K e ∆Go da reação final serão calculados através das seguintes equações. CO2(g)=C(s)+O2(g) + 2C(s)+O2(g)=2CO(g) ________________ C(s)+CO2(g) = 2CO(g) ∆𝐺𝑓 𝑜 = −∆𝐺2 𝑜 + 2. ∆𝐺1 𝑜 𝐾𝑓 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝑓 𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (−∆𝐺2 𝑜 + 2. ∆𝐺1 𝑜) 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (−∆𝐺2 𝑜) 𝑅𝑇 ) . 𝑒𝑥𝑝 (− 2∆𝐺1 𝑜 𝑅𝑇 ) 𝐾𝑓 = (𝐾1) 2 𝐾2 1.2. Efeitos da temperatura e pressão sobre o equilíbrio Para uma reação qualquer a temperatura será sempre um fator que irá influenciar o equilíbrio, uma vez que a constante de equilíbrio (K) é obrigatoriamente função da temperatura. A sensibilidade de K em relação à temperatura é determinada fortemente pela variação de energia de Gibbs padrão molar do processo (∆𝐺𝑜). Esta, por sua vez, pode ser calculada a partir das variações de entropia (∆𝑆𝑜) e entalpia padrão (∆𝐻𝑜). molares. ∆𝐺𝑜 = ∆𝐻𝑜 − 𝑇∆𝑆𝑜 Cabe ressaltar que tanto a entropia padrão da reação quanto a entalpia padrão são calculadas de forma similar à energia de Gibbs. ∆𝑆𝑜 = 𝑑. 𝑆𝐷 𝑜 + 𝑐. 𝑆𝐶 𝑜 − 𝑎. 𝑆𝐴 𝑜 − 𝑏. 𝑆𝐵 𝑜 ∆𝐻𝑜 = 𝑑. 𝐻𝐷 𝑜 + 𝑐. 𝐻𝐶 𝑜 − 𝑎. 𝐻𝐴 𝑜 − 𝑏. 𝐻𝐵 𝑜 Outra forma de levar em consideração o efeito da temperatura sobre a constante de equilíbrio consiste na aplicação da equação de Van’t Hoff, também oriunda da termodinâmica clássica. d lnKdT = ∆𝐻𝑜 𝑅𝑇² Desta forma, pode-se observar que processos endotérmicos (>0), quando desenvolvidos em temperaturas maiores, apresentarão um maior valor de K, ou seja, o equilíbrio fica deslocado em direção aos produtos. 5 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO No caso de um processo exotérmico (<0), o efeito oposto é esperado, ou seja, o equilíbrio favorece os produtos em temperaturas menores. A equação acima é útil no sentido de se calcular valores de constante de equilíbrio a partir de um valor conhecido em uma temperatura inicial (T1). Se a nova temperatura (T2) for próxima à T1, e neste intervalo for possível desprezar a variação da entalpia molar padrão da reação, tem-se: ln ( 𝐾𝑝2 𝐾𝑝1 ) = ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 } → 𝐾𝑝2 = 𝐾𝑝1 . 𝑒𝑥𝑝 ( ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 }) Convém comentar que neste cálculo assume-se que a entalpia molar padrão é constante. Tal fato consiste em uma aproximação, que se torna mais representativa da realidade à medida que T2 se aproxima de T1. O efeito da pressão é especialmente observado para reações químicas que envolvem espécies gasosas. Considerando a reação-exemplo, tem-se: aA(g) + bB(g) ⇄ cC(g) + dD(g) Kp = (𝑃𝑐) c . (𝑃𝐷) d (𝑃𝐴)a . (𝑃𝐵)b = 𝑃𝛿 . [ (𝑋𝑐) c . (𝑋𝐷) d (𝑋𝐴)a . (𝑋𝐵)b ] 𝛿 = (𝑐 + 𝑑) − (𝑎 + 𝑏) No equilíbrio, K e KP devem ser obrigatoriamente iguais, logo: 𝑃𝛿 . [ (𝑋𝑐) c . (𝑋𝐷) d (𝑋𝐴)a . (𝑋𝐵)b ] = K → [ (𝑋𝑐) c . (𝑋𝐷) d (𝑋𝐴)a . (𝑋𝐵)b ] = 𝑃−𝛿𝐾(𝑇) Percebe-se então que o deslocamento do equilíbrio será governado pelo valor de 𝛿. Se durante o processo o número de mols total de espécies aumentar (𝛿 > 0), a elevação de P resultará em um menor valor para a razão entre as frações molares de produtos e reagentes, ou seja, o equilíbrio será deslocado no sentido de se aumentar a referida razão, ou seja, no sentido direto. Caso 𝛿 seja negativo, o oposto ocorre. O aumento de pressão favorece neste caso à reação inversa, ou seja, convertendo-se produtos em reagentes. Reações com 𝛿 nulo serão insensíveis a variações de pressão. 1.1.1. Princípio de Le Chatelier O mencionado efeito da temperatura sobre a constante de equilíbrio e sobre o deslocamento do equilíbrio se encontra descrito de forma mais ampla no princípio de Le Chatelier. Quando um sistema em equilíbrio é submetido a uma ação, o equilíbrio vai se deslocar na direção que permita anular ou contrabalançar essa ação”. Em uma reação endotérmica, o aumento de temperatura favorece o equilíbrio para o lado dos produtos, sendo este deslocado no sentido das maiores entalpias, absorvendo- se a energia térmica ofertada ao sistema. No caso de uma reação exotérmica, o oposto se processa. 6 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Uma elevação da temperatura desloca o equilíbrio no sentido dos reagentes, ou seja, no sentido daqueles componentes com maior entalpia, novamente em concordância com o princípio de Le Chatelier. No que tange o efeito da pressão, típico de reações envolvendo espécies gasosas, o equilíbrio será deslocado no sentido que promover a redução do número de mols de espécies. Fixando-se o volume e a temperatura, a pressão será tão menor quanto menor for o número de mols de espécies gasosas, compensando o aumento de pressão que caracteriza a perturbação do equilíbrio. Questão 01 Determine a pressão total do sistema decorrente da decomposição do pentacloreto (PCl5) a 225°C, sabendo que a conversão em PCl3(g) e Cl2(g) é igual a 40%, e KP igual a 1,90. PCl5(g) PCl3(g) + Cl2(g) Resolução Considerando-se n mols de PCl5 presentes inicialmente, e representando a conversão do processo por α, o seguinte balanço molar pode ser construído. PCl5(g) PCl3(g) Cl2(g) Início n 0 0 Reage nα nα nα Equilíbrio n - nα nα nα O número de mols total associada à mistura de gases pode ser facilmente calculado: nT = nPCl5 + nPCl3 + nCl2 nT = n – nα + nα + nα nT = n + nα O KP envolve a razão entre pressões parciais de produtos e reagentes, as quais podem ser expressas como função da conversão. 𝑃𝑃𝐶𝑙5 = 𝑋𝑃𝐶𝑙5 . 𝑃 = (𝑛 − 𝑛𝛼) (𝑛 + 𝑛𝛼) . 𝑃 = 𝑛. (1 − 𝛼) 𝑛. (1 + 𝛼) . 𝑃 = (1 − 𝛼) (1 + 𝛼) . 𝑃 𝑃𝑃𝐶𝑙3 = 𝑃𝐶𝑙2 = (𝑛𝛼) (𝑛 + 𝑛𝛼) . 𝑃 = 𝑛. 𝛼 𝑛. (1 + 𝛼) . 𝑃 = 𝛼 (1 + 𝛼) . 𝑃 Inserindo-se essas equações na relação matemática que define KP, tem-se: 𝐾𝑝 = 𝑃𝑃𝐶𝑙3 . 𝑃𝐶𝑙2 𝑃𝑃𝐶𝑙5 == 𝛼 (1 + 𝛼) . 𝑃 . 𝛼 (1 + 𝛼) . 𝑃 (1 − 𝛼) (1 + 𝛼) . 𝑃 = [ 𝛼 (1 + 𝛼) . 𝑃] ² (1 − 𝛼) (1 + 𝛼) . 𝑃 7 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 𝐾𝑝 = [ 𝛼² (1 + 𝛼)² . 𝑃2] [ (1 − 𝛼) (1 + 𝛼) . 𝑃] = 𝛼² (1 + 𝛼). (1 − 𝛼) . 𝑃 Substituindo os valores na equação acima, temos: 1,90 = (0,40)2 (1 + 0,40). (1 − 0,40) . 𝑃 = (0,40)2 (1,40). (0,60) . 𝑃 𝑃 = 1,596 0,16 = 9,97 atm Questão 02 Considere a seguinte reação de produção de metanol apresentada a seguir: CO(g) + 2 H2(g) ⇄ CH4O(g) Para este sistema, as constantes de equilíbrio são iguais 1,50 x 10-3 (K1) e 3,2 x 10-4 (K2) a 230°C e 330°C, respectivamente. A partir desta informação, defina se a síntese de produção de metanol é endotérmica ou exotérmica. Resolução A constante de equilíbrio pode ser relacionada com a temperatura através da equação de Van't Hoff. ln ( 𝐾1 𝐾2 ) = ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇2 − 1 𝑇1 } Considerando R igual a 8,314 J.mol-1.K-1, e inserindo-se os valores para as temperaturas e respectivas constantes de equilíbrio, tem-se: ln ( 1,50 10−3 3,20 𝑥 10−4 ) = ∆𝐻° (8,314) . { 1 (330 + 273) − 1 (230 + 273) } ln(4,69) = ∆𝐻° (8,314) . { 1 (603) − 1 (503) } 1,54 = ∆𝐻° (8,314) . { 1 (603) − 1 (503) } → ∆𝐻° = −38834,35 J. mol−1 Como variação da entalpia é negativa, o sistema reacional libera calor durante o processo, sendo este, portanto, de natureza exotérmica. Convém comentar que o resultado encontrado está de acordo com o princípio de Le Chatelier, dado que para temperaturas maiores valores de K menores são encontrados, indicando um deslocamento no sentido de formação dos reagentes (sentido endotérmico). Questão 03 Considere a reação de decomposição do pentacloreto de fósforo, representada pela equação química balanceada a seguir: PCl5(g) ⇄ PCl3(g) + Cl2(g). 8 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Para que esta reação ocorra é necessário que uma quantidade de calor de 40 kJ seja suprida ao sistema reacional para cada mol de PCl5 que se decompõe. A partir deste processo e de seus conhecimentos sobre equilíbrio químico e sobre o princípio de Le Chatelier, explique o efeito dos seguintes fatores apresentados no que tange o deslocamento do equilíbrio considerado. a) Elevação da pressão total do sistema. b) Redução da temperatura do sistema. Resolução a) O equilíbrio químico para a reação em questão pode ser representado pela equação abaixo. 𝐾𝑝 = 𝑃𝑃𝐶𝑙3 . 𝑃𝐶𝑙2 𝑃𝑃𝐶𝑙5 = 𝐾(𝑇) Logo, inserindo-se as definições de pressão parcial, tem-se: (𝑋𝑃𝐶𝑙3 . 𝑃). (𝑋𝐶𝑙2 . 𝑃) 𝑋𝑃𝐶𝑙5 . 𝑃 = 𝐾(𝑇) → 𝑃. 𝑋𝑃𝐶𝑙3𝑋𝐶𝑙2 𝑋𝑃𝐶𝑙5 = 𝐾(𝑇) → 𝑋𝑃𝐶𝑙3𝑋𝐶𝑙2 𝑋𝑃𝐶𝑙5 = 𝐾(𝑇) 𝑃 Logo, como a temperatura é fixa (K constante), um aumento de pressão resultará em um valor da razão no lado esquerdo da equação acima inferior, ou seja, as frações molares dos produtos serão inferiores à fração molar do reagente. Desta forma, um aumento de pressão não favorece o equilíbrio em questão. b) Como a reação no sentido direto é endotérmica, pelo princípio de Le Chatelier, espera-se que um aumento da temperatura promova a formação dos produtos, deslocando-se o equilíbrio no sentido de interesse. Segundo Le Chatelier, o equilíbrio é deslocado no sentido de absorver o estímulo ou perturbação. Se calor é fornecido ao sistema (T aumenta), a formação de compostos com maior entalpia permite que parte desta energia sejaabsorvida. Questão 04 A 1000 K, a constante Kp para a decomposição do carbonato de cálcio é igual a 4,0 x 10-2. CaCO3(s) CaO(s) + CO2(g). Uma certa massa de carbonato de cálcio é colocada em um recipiente de 5,0 L a 1000 K até que a reação atinja o equilíbrio. Determine a massa em gramas de óxido de cálcio produzido na condição de equilíbrio atingida. 9 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Resolução Sendo o CO2 a única espécie gasosa, e, no presente caso se tratando de um produto, a constante KP é numericamente igual à pressão parcial de CO2. 2COp PK = Sabendo que a constante de equilíbrio desta reação a 1000K é igual a 4,0 x 10-2, logo a pressão de dióxido de carbono nesta mesma temperatura será igual a 4,0 x 10-2. 2 )1000( COp PKKK == .100,4 2 2 atmxPCO −= Assumindo que o CO2 se comporta como gás ideal, o número de mols de CO2 formado pode ser calculado. ==→= − − 1000).08206,0( 0,5.10.0,4 1000).08206,0.(0,5.100,4 2 2 22 COCO nnx 0,00294 mol De acordo com a estequiometria da reação, cada mol de CO2 requer que um mol de carbonato se decomponha. Portanto, sabendo que a massa molecular do CaCO3 é igual a 56 g.mol-1, a massa de carbonato que foi efetivamente decomposta pode ser finalmente determinada. 𝑚𝐶𝑎𝐶𝑂3 = 56. 𝑛𝐶𝑎𝐶𝑂3 = 0,136 g Questão 05 Considere que a pressão de dissociação do carbonato de cálcio a 500°C seja igual a 0,11 torr. Calcule a temperatura mínima na qual o sólido se dissocia completamente em uma atmosfera contendo 0,03% (bases molares) de dióxido de carbono, considerando que a pressão total seja igual a 759 torr. Sabe-se ainda que para cada mol de CaCO3 decomposto, 41,34 kcal são liberadas. Resolução Equação química balanceada: CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g) A partir dos dados contidos no enunciado é possível escrever: 12 500 11,0 KPK CO C p === Como a constante de equilíbrio da reação em dada temperatura é numericamente igual ao valor de KP quando o equilíbrio tiver sido estabelecido, pode-se dizer que K será igual a 0,11 a 500oC. Com base nas informações do enunciado, a pressão parcial de CO2 pode ser determinada: .228,0 759. 100 03,0 . 2 2 22 torrP P pXP CO CO TCOCO = = = 10 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Logo, a constante de equilíbrio à temperatura T será igual a pressão parcial de CO2 na mesma temperatura quando o equilíbrio tiver sido estabelecido, ou seja: 22 228,0 KPK CO T p === A temperatura mínima pode então ser determinada mediante aplicação da equação de Van´t Hoff: − = 122 1 11ln TTR H K K .47,794 )273500( 11 987,1 41340 228,0 11,0 ln )273500( 11 987,1 41340 228,0 11,0 ln 2 2 2 KT T T = + −= + −= Questão 06 Considere a reação endotérmica da dissociação do tetróxido de nitrogênio, representada pela equação química abaixo. N2O4(g) 2 NO2(g). a) Colocando em um reator de dez L a 227°C, N2O4 em uma concentração igual a 1,60 x 10-1 mol.L-1, observa-se que após o equilíbrio estabelecido a concentração de NO2 é igual a 1,40 x 10-1 mol.L-1. Calcule o valor da constante de equilíbrio da referida reação (K). b) Discuta possíveis efeitos de uma elevação/redução da temperatura reacional no que tange concentração de NO2 no equilíbrio. Resolução a) Considerando que o volume do reator permanece constante e igual a 10 L, no estado inicial tem-se 1,6 mol de N2O4. Quando o sistema alcançar o equilíbrio, 1,4 mol de NO2 terão se formado. Considerando X o número de mols de N2O4 consumidos do estado inicial até o equilíbrio, e sabendo, de acordo com a estequiometria do processo, que para cada mol de N2O4 que se decompõe, dois mol de NO2 se formam, torna-se possível realizar um balanço molar, descrito na tabela abaixo. N2O4(g) 2 NO2(g) Início 1,60 0 Reage X 2.X Equilíbrio 1,60 - X 1,40 11 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Como o número de mols de NO2 formado é conhecido, o valor de X pode ser determinado, e com este o número de mols de N2O4 remanescente. 0 + 2.X = 1,40 X = 0,70 mol Portanto, as concentrações em mol.L-1 podem ser determinadas a partir dos números de mol de N2O4 e NO2 e o volume do reator, considerado fixo e igual a 10 L. ( ) ..14,0 10 40,1 ][ ..090,0 10 70,060,1 10 60,1 ][ 1 2 1 42 − − == = − = − = LmolNO Lmol X ON equilíbrio equilíbrio Finalmente, sabe-se que no equilíbrio K e KC devem estão diretamente correlacionados. 𝐾 = 𝐶−𝛿𝐾𝐶 Onde 𝛿 representa a diferença entre os coeficientes estequiométricos de produtos e reagentes. No presente caso: 𝛿 = 2 − 1 = 1 Logo: 𝐾 = 𝐶−𝛿𝐾𝐶 Onde C representa a concentração total de espécies (reagentes e produtos) no equilíbrio. No presente caso: 𝐶 = [𝑁𝑂2]equilíbrio + [𝑁2𝑂4]equilíbrio = 0,14 + 0,09 = 0,23 mol. L −1 No cálculo de KC, deve-se tomar o cuidado para que as concentrações de equilíbrio sejam empregadas para ambos as espécies participantes do processo, portanto: 218,0 )090,0( )²140,0( ][ ]²[ ][ ]²[ 42 2 42 2 == = = c c c K ON NO K ON NO K Finalmente, a partir da relação entre KC e K, pode-se determinar o valor de K. 𝐾 = 𝐶−𝛿𝐾𝐶 = 𝐾𝐶 (0,23)1 = 0,218 0,23 = 0,95 12 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO b) Elevando-se a temperatura do sistema, sendo o processo endotérmico (∆𝐻𝑜), o equilíbrio será deslocado para a direita, ou seja, no sentido da reação direta. Portanto, a concentração de NO2 deve aumentar. = KKT TR H dT Kd ln,0 ². ln 0 Reduzindo-se a temperatura, pela mesma equação se vê que K deve diminuir, ou seja, o equilíbrio é deslocado no sentido exotérmico, ou no sentido de reconstrução das moléculas de N2O4 presentes inicialmente. Portanto, a redução na temperatura levará também a redução na concentração de NO2. Questão 08 Considere a reação de decomposição plena de 1,0 mol de C2Cl4 em um recipiente fechado de volume constante e igual a 25 L, a 573 K. A reação em questão pode ser representada pela seguinte equação balanceada: C2Cl4 = 2C + 2Cl2(g) Sabe-se que o valor de KP na temperatura de interesse é igual a 1,7, e que a entalpia molar padrão do processo (∆𝐻𝑜) pode ser considerada constante e igual a 10 kJ/mol a) Calcule o valor de Go. b) Calcule o valor de KC nas condições dadas. c) Calcule a constante de equilíbrio a 600 K, e discuta o resultado encontrado à luz do princípio de Le Chatelier. Resolução a) Da termodinâmica clássica sabe-se que a energia de Gibbs padrão do processo está diretamente relacionada com a constante de equilíbrio. KTRG ln..−= No equilíbrio, K e KP devem apresentar o mesmo valor, logo: ..79,15799 )10.7,1ln().25273).(314,8( )10.7,1ln().25273).(314,8( 1 3 3 − − − += +−= +−= molJG G G b) Considerando a fase gasosa ideal, KP e KC podem ser relacionados. 𝐾𝑝 = 𝐾𝑐. (𝑅𝑇) ∆𝑛 13 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Para a reação em questão, o valor de ∆𝑛 contempla somente as espécies gasosas. 1,7 = 𝐾𝑐. [0,08206 . (573)] (2− 1) 1,7 = 𝐾𝑐. (0,08206 . 573) 𝐾𝑐 = 1,7 (0,08206 .573) = 0,0362 c) Empregando-se a constante de equilíbrio e a equação de Van't Hoff, tem-se: ln ( 𝐾2 𝐾1 ) = ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 } → 𝐾2 = 𝐾1. 𝑒𝑥𝑝 ( ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 }) 𝐾2 = 0,0362. 𝑒𝑥𝑝 ( 10. 103 8.314 . { 1 573 − 1 600 }) = 0,0398 Observa-se que a elevação de temperatura faz com que a constante de equilíbrio aumente. Tal fato pode ser explicado pelo princípio de Le Chatelier, dado que a reação em questão é endotérmica. Logo, o aumento e temperatura deslocará o equilíbrio no sentido endotérmico, ou direto, favorecendo a decomposição do C2Cl4. Questão 09 O metanol, composto orgânico classificado como umálcool é muito utilizado como combustível em carros com alta velocidade. A reação de formação do metanol pode ser representada pela seguinte equação balanceada. C(s) + ½ O2(g) + 2H2(g) CH3OH(g) (ΔGo(25oC) = -166,27 kJ.mol-1) a) Escreva a expressão da constante de equilíbrio para esta reação, em função das pressões parciais. b) Determine o valor de Kp para a reação acima a 25oC. c) Determine o valor de Kc na mesma temperatura. Resolução a) Por definição, KP é calculado a partir da razão entre os produtos das pressões parciais dos produtos gasosos, e o produto das pressões parciais dos reagentes, cada pressão elevada ao seu coeficiente estequiométrico associado. Na reação em questão, há somente três espécies gasosas, CH3OH, H2 e O2, logo: 22/1 22 3 . HO OHCH p PP P K = 14 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO b) Como a energia de Gibbs molar padrão da reação é conhecida, a constante de equilíbrio pode ser determinada. K KTRG ln).25273).(314,8(166270 ln.. +−=− −= 29)11,67( 10.40,1 11,67ln )298).(314,8( 166270 ln == = − − = eK K K No equilíbrio KP e K devem apresentar o mesmo valor, logo, KP(25oC) = 1,4.1029. c) As constantes KC e KP podem ser relacionadas através da equação abaixo: 𝐾𝑝 = 𝐾𝑐. (𝑅𝑇) ∆𝑛 Onde ∆𝑛 representa a variação no número de mols entre produtos e reagentes. Para o cálculo desta variação, somente as espécies que compõem a mesma fase são consideradas, ou seja, CH3OH, O2 e H2, logo: ∆𝑛 = 1 − 2 − 0,5 = 1 − 2,5 = −1,5 Como as pressões parciais utilizadas no cálculo de KP estão dadas em atm, o valor de R deve ser igual a 0,08206 atm.L.mol-1.K-1. A temperatura deve ser convertida para K (25oC = 298 K). 1,40 . 1029 = 𝐾𝑐. (0,08206 . 298) (−1,5) 1,40 . 1029 = 𝐾𝑐. (0,08206 . 298) (−1,5) 1,40 . 1029 = 𝐾𝑐. (8,269. 10 −3) 𝐾𝑐 = 1,40 𝑥 1029 8,269. 10−3 = 1,693. 1031 Questão 10 Considere uma mistura gasosa em equilíbrio: X(g) Y(g) + Z(g) em que as massas molares de cada gás são: MX = 100 g.mol-1, MY = 25 g.mol-1 e MZ = 75 g.mol-1. O equilíbrio foi alcançado a 27oC, quando 1 mol de X(g) se decompôs em Y(g) e Z(g). Em uma temperatura igual a 27°C e 1 atm, a densidade da mistura gasosa em equilíbrio é igual a 3,0 g.L-1. Calcule o grau de dissociação de X(g) para que se atinja o equilíbrio. 15 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Resolução Equação química: X(g) ⎯⎯→⎯⎯ Y(g) + Z(g). Base de cálculo: n (mol) inicial de X(g). Utilizando a tabela de equilíbrio químico: X(g) Y(g) + Z(g) Início 1 0 0 Equilíbrio 1 – 1.α α α O número de mols total de espécies no equilíbrio pode ser calculado, somando-se os resultados contidos na última linha da tabela acima. nT = (1 - α) + α + α =1+ α Considerando que a composição gasosa apresenta comportamento ideal, temos: 𝑃. 𝑉 = 𝑛𝑇𝑅𝑇 Substituindo-se o número de mols total pela razão entre a massa total e a massa molecular média da mistura, tem-se: 𝑃. 𝑉 = 𝑚 < 𝑀𝑀 > . 𝑅. 𝑇 A massa molecular média pode ser calculada através do somatório entre o produto da massa molecular de cada componente e sua respectiva fração molar. < 𝑀𝑀 >= 𝑋𝑋. 𝑀𝑋 + 𝑋𝑌. 𝑀𝑌 + 𝑋𝑍. 𝑀𝑍 = 100. (1 − 𝛼) 1 + 𝛼 + 25. 𝛼 1 + 𝛼 + 75. 𝛼 1 + 𝛼 = 100 1 + 𝛼 Substituindo-se este último resultado na equação envolvendo a pressão e volume, rearranjando-se os termos de maneira a se introduzir a densidade da mistura (𝜌), tem-se: 𝑃. 100 1 + 𝛼 = 𝑚 𝑉 . 𝑅. 𝑇 = 𝜌. 𝑅. 𝑇 (1 + 𝛼) = 𝑃. 100 𝜌. 𝑅. 𝑇 = 1 . 100 3,0 . (0.08206). (27 + 273) = 1,35 → 𝛼 = 0,35 (35%) Questão 11 Considere a seguinte reação de decomposição do óxido de alumínio, que ocorre em um sistema fechado, a 25C. Al2O3(s) 2 Al(s) + 3/2 O2(g) Sabe-se ainda que para a referida reação a entalpia molar padrão () e a energia de Gibbs molar padrão (G) são respectivamente iguais a 90,83 kJ.mol-1 e 58,54 kJ.mol-1, na referida temperatura. 16 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO a) Determine pressão do O2(g) em equilíbrio com Al2O3(s) a 25C. b) Proponha ao menos dois caminhos, que permitam a elevação da quantidade de oxigênio produzido. Resolução a) Com base no G da reação, é possível calcular a constante de equilíbrio (K). 11 3 10.477,5 )27325.(314,8 10.54,58 expexpln.. −= + −= −=→−= RT G KKTRG No equilíbrio, K será numericamente igual a KP, logo: atmKPKPK OOP 73/22/3 10.442,1 22 −==→== b) Em se tratando de uma reação endotérmica, pelo princípio de Le Chatelier, um aumento de temperatura deve deslocar o equilíbrio no sentido dos produtos, ou seja, elevando-se a pressão parcial de O2. Outra alternativa seria reduzir a pressão total do reator. Isso pode ser visto, uma vez expressando-se a pressão parcial de O2 como o produto da pressão total e da fração molar de O2. 𝑃𝑂2 3/2 = 𝐾 → 𝑃3/2𝑋𝑂2 3/2 = 𝐾 → 𝑋𝑂2 3/2 = 𝐾 𝑃3/2 Logo, um aumento de pressão resulta em uma fração molar de O2 menor, ou seja, em uma produção de oxigênio menos eficiente. O efeito oposto é esperado para uma redução de P. Portanto, realizando-se a reação em um reator aberto, pode ser considerada como uma alternativa para elevar a concentração de O2 na atmosfera após a decomposição. Questão 12 Em um recipiente fechado com capacidade igual a dois L, que se encontrava completamente vazio, sob vácuo, foi colocada inicialmente uma amostra de 10,0 g de pentacloreto de vanádio gasoso. Logo em seguida, esta amostra foi aquecida a 1250 K, ocorrendo a decomposição de parte das moléculas de VCl5, conforme a seguinte equação química balanceada. VCl5(g) ⇄ VCl3(g) + Cl2(g) (∆𝐻𝑜 = 262,7 KJ. mol−1) Sabe-se que, no equilíbrio, a pressão medida no recipiente apresentou um valor igual a 3,51 atm. Considerando a mistura de gases ideal, calcule a constante de equilíbrio do processo a 1300 K. Resolução Uma vez de posse da pressão final no recipiente e do conhecimento do volume e da temperatura, pode-se facilmente computar o número de mols total da fase gasosa, admitindo-se que a mesma segue um comportamento ideal. 17 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 𝑛𝑔 = 𝑃𝑉 𝑅𝑇 = 3,551. (2) (0,08206). (1250) = 0,0684 mol O número de mols de gás pode ser utilizado para o cálculo do número de mols de VCl5 que de fato reagiram. Para tanto, façamos um balanço molar, considerando que inicialmente o número de mols de Cl2 e VCl3 são ambos nulos, e que o número de mols de VCl5 é dado por: 𝑛𝑉𝐶𝑙5 = 𝑚𝑉𝐶𝑙5 < 𝑀𝑀𝑉𝐶𝑙5 > = 10 228,2 = 0,0438 mol Espécie Início Equilíbrio VCl5 0,0438 0,0438-x VCl3 0 x Cl2 0 x Total 0,0438 0,0438+x Portanto, pode-se determinar o quanto em mols de VCl5 que reagiram até que o equilíbrio tenha sido atingido. 𝑛𝑔 = 0,0684 = 0,0438 + 𝑥 → 𝑥 = 0.0246 mol As pressões parciais de cada componente podem ser determinadas com base no valor encontrado para x (grau de avanço do processo), portanto, KP pode ser determinado, que é no equilíbrio numericamente igual a K. 𝐾𝑃 = 𝑃𝑉𝐶𝑙3𝑃𝐶𝑙2 𝑃𝑉𝐶𝑙5 𝑃𝑉𝐶𝑙3 = 𝑋𝑉𝐶𝑙3𝑃 = 𝑥. 𝑃 0,0438 + 𝑥 = (0,0246). (3,51) 0,0438 + 0,0246 = 1,262 𝑎𝑡𝑚 = 𝑃𝐶𝑙2 A pressão parcial de VCl5 pode ser calculada a partir da pressão total e das pressões de VCl3 e Cl2. 𝑃𝑉𝐶𝑙5 = 3,51 − 𝑃𝑉𝐶𝑙3 − 𝑃𝐶𝑙2 = 3,51 − 2. (1,262) = 0.986 atm Finalmente, o valor de KP pode ser encontrado: 𝐾𝑃 = 𝑃𝑉𝐶𝑙3𝑃𝐶𝑙2 𝑃𝑉𝐶𝑙5 = 1,2622 0,986 = 1,615 = 𝐾 O valor de K na temperatura de 1300 K pode ser encontrado mediante a aplicação direta da equação de Van't Hoff: 𝐾2 = 𝐾1. 𝑒𝑥𝑝 ( ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 }) = 1,615. 𝑒𝑥𝑝 ( 262700 8.314 . { 1 1250 − 1 1300 }) = 4,27 Questão 13 Considere a reação de decomposição do tetróxido de dinitrogênio, com variação da energia livre de Gibbs padrão(∆𝐺𝑜) igual a 5,8 kJ.mol-1 a 25°C. 18 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO A partir desta informação determine o grau de dissociação no equilíbrio, sabendo que a pressão total é igual a 10 atm. N2O4(g) 2 NO2(g) Resolução Considerando que n mols de N2O4 se encontram presentes inicialmente, pode-se realizar um balanço molar a partir da estequiometria da reação de interesse. N2O4(g) 2 NO2(g) Início n 0 Reage nα 2nα Equilíbrio n - nα 2nα Portanto, o número de mols total da mistura gasosa pode ser calculado. nT = nN2O4 + nNO2 nT = n – nα + 2nα nT = n + nα As pressões parciais de cada componente dependem diretamente do grau de dissociação. Mediante inserção na expressão de KP, a equação final fica independente do número de mols de N2O4 presentes no início. 𝑃𝑁2𝑂4 = (𝑛 − 𝑛𝛼) (𝑛 + 𝑛𝛼) . 𝑃 = 𝑛. (1 − 𝛼) 𝑛. (1 + 𝛼) . 𝑃 = (1 − 𝛼) (1 + 𝛼) . 𝑃 𝑃𝑁𝑂2 = (2𝑛𝛼) (𝑛 + 𝑛𝛼) . 𝑃 = 2𝑛𝛼 𝑛. (1 + 𝛼) . 𝑃 = 2𝛼 (1 + 𝛼) . 𝑃 Cálculo do grau de dissociação a partir da variação da energia livre de Gibbs padrão: 𝐾𝑝 = 𝑃𝑁𝑂2 2 𝑃𝑁2𝑂5 = [ 2𝛼 (1+𝛼) .𝑃]² (1−𝛼) (1+𝛼) .𝑃 = 4𝛼².𝑃2 (1+𝛼)2.{ (1−𝛼) (1+𝛼) .𝑃} = 4𝛼².𝑃 (1−𝛼²) A constante de equilíbrio pode ser calculada a partir do valor de informado no enunciado. 𝐾 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− 5,98. 103 8,314. (25 + 273) ) = 0,0895 No equilíbrio K e KP devem apresentar o mesmo valor. Portanto: 4𝛼². 𝑃 (1 − 𝛼²) = 𝐾 → 4𝛼² (1 − 𝛼²) = 𝐾 𝑃 = 0,0895 10 = 0,00895 = 𝐾∗ A equação acima pode facilmente ser convertida em uma equação do segundo grau expressa em termos do grau de dissociação. 19 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 𝛼2(4 + 𝐾∗) = 𝐾∗ → 𝛼 = ±√ 𝐾∗ 4 + 𝐾∗ = ±√ 0,0085 4 + 0,0085 = ±0.046 Com base na tabela de balanço molar se pode perceber que a raíz negativa não apresenta sentido físico, pois resultaria em valores igualmente negativos para o número de mols de NO2. Portanto, 𝛼 no equilíbrio dever ser igual a 0,046 (4,6%). Questão 14 Um aluno do curso de engenharia química estudou em seu projeto de iniciação científica a redução do óxido de cobre pelo hidrogênio a 1 atm e 300oC. CuO(s)+H2(g) = Cu(s)+H2O(g) Sabe-se que H e S da reação em questão apresentam valores respectivamente iguais a -90,4 kJ/mol e 38,3 J/mol.K. a) Determine a energia livre de Gibbs padrão molar do processo (∆𝐺𝑜). b) Determine a constante de equilíbrio nas condições dadas e comente sobre a viabilidade da reação. c) Calcule as frações molares de H2 e H2O no equilíbrio assumindo que a fase gasosa se comporta como ideal. Resolução a) A energia livre padrão do processo (∆𝐺𝑜) pode ser calculada diretamente a partir dos valores fornecidos para a entropia e entalpia padrão. ∆𝐺𝑜 = ∆𝐻𝑜 − 𝑇∆𝑆𝑜 = −90,4. 103 − (300 + 273). 38,3 = −112,4 kJ. mol−1 b) A constante de equilíbrio pode ser calculada diretamente a partir do valor encontrado para a energia livre padrão. 𝐾 = exp (− ∆𝐺𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− −112400 8,314. (573) ) = exp(23,605) = 1,78. 1010 O valor encontrado para K indica um equilíbrio fortemente deslocado no sentido de formação da água, ou seja, para o sentido direto do processo. Logo, pode-se dizer que a reação em questão deve apresentar elevada viabilidade termodinâmica. c) Considerando a fase gasosa ideal e a pressão total igual a 1 atm, tem-se: 1 = 𝑃𝐻2 + 𝑃𝐻2𝑂 → 𝑃𝐻2𝑂 = 1 − 𝑃𝐻2 20 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO No equilíbrio KP e K apresentam o mesmo valor, logo: 𝐾𝑃 = 𝑃𝐻2𝑂 𝑃𝐻2 = 1 − 𝑃𝐻2 𝑃𝐻2 = 𝐾 → 𝑃𝐻2 = 1 1 + 𝐾 = 1 1 + 1,78. 1010 = 5,62. 10−11 A pressão de H2 no equilíbrio é, como, esperado pela discussão do item (b), praticamente nula, logo, a pressão de H2O será igual a 1 atm, indicando que o equilíbrio está praticamente todo deslocado no sentido direto da reação de redução. Questão 15 Considere a reação de oxidação do N2 pelo oxigênio, representada pela seguinte equação química balanceada: N2(g) + O2(g) ⇄ 2 NO(g), ΔH° = + 55 kcal. Nos itens abaixo, comente sobre o efeito esperado das respectivas perturbações, no que tange o deslocamento do equilíbrio químico em questão. a) Aumento de temperatura à pressão constante. b) Diminuição de pressão à temperatura constante. c) Aumento de concentração de O2 à temperatura constante. d) Aumento de concentração de NO à temperatura constante. Resolução a) Como a reação é endotérmica, pela equação de Van’t Hoff fica claro que a derivada de lnK em relação à T deve ser uma grandeza positiva. Logo, um aumento de temperatura levará um aumento no valor da constante de equilíbrio, ou seja, estimulando o deslocamento do equilíbrio no sentido direto, favorecendo a formação do NO. d lnK dT = ∆ℎ° 𝑅𝑇² > 0 ⟹ 𝑇 ↑⟹ 𝑙𝑛𝐾 ↑⟹ 𝐾 ↑ b) No equilíbrio a uma temperatura fixa, KP e K devem ser iguais. 𝐾𝑃 = 𝑃𝑁𝑂 2 𝑃𝑁2𝑃𝑂2 = 𝐾 Substituindo-se as pressões parciais pelos respectivos produtos das frações molares de a pressão total (P), tem-se: 𝑃𝑁𝑂 2 𝑃𝑁2𝑃𝑂2 = 𝐾 → 𝑃2𝑋𝑁𝑂 2 𝑃2𝑋𝑁2𝑋𝑂2 = 𝐾 → 𝑋𝑁𝑂 2 𝑋𝑁2𝑋𝑂2 = 𝐾 Logo, percebe-se que a pressão total não deve apresentar influência sobre o equilíbrio em questão. 21 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO c) Do item anterior, percebe-se que as frações molares de produtos e reagentes estão correlacionadas através da constante de equilíbrio, que, uma vez fixando-se a temperatura apresentará um valor constante. Portanto, a elevação da concentração de O2, fará com que a razão entre as frações molares seja momentaneamente inferior ao valor no equilíbrio. O sistema então reagirá, consumindo as moléculas de O2 excedentes. Logo, o equilíbrio se deslocará no sentido da formação do NO. 𝑋𝑂2 ↑⟹ ( 𝑋𝑁𝑂 2 𝑋𝑁2𝑋𝑂2 ) ↓ d) O efeito da elevação na concentração de NO pode ser discutida usando a mesma lógica empregada no âmbito do item (c). Momentaneamente, a razão entre as frações molares de reagentes e produtos irá aumentar. Como a temperatura é constante e a referida razão deve ser igual a K, o sistema reagirá, consumindo as moléculas de NO excedentes. O equilíbrio será então deslocado no sentido inverso, ou seja, levando à produção de moléculas de N2 e O2. 𝑋𝑁𝑂 ↑⟹ ( 𝑋𝑁𝑂 2 𝑋𝑁2𝑋𝑂2 ) ↑ Questão 16 A síntese de amônia abaixo, é considerada por muitas pessoas como a maior descoberta do século XX, e é conduzida em âmbito industrial mediante a hidrogenação do N2, de acordo com a equação abaixo. N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g) (∆H°(25oC) = - 91,9 kJ; ∆G°(25oC) = - 32,8 kJ) a) Considerando que a reação é conduzida a 25oC, determine a variação de entropia padrão molar do processo. b) Determine a constante de equilíbrio do processo, caso o mesmo fosse realizado a 50oC. c) Considerando que você dispõe de dois reatores para produzido NH3, sendo o primeiro fechado e o segundo aberto. Assumindo-se que a pressão inicial no reator fechado é igual à pressão total no reator aberto, em sua opinião, qual dos reatores seria o mais recomendado para a execução do processo? Justifique. Resolução a) A variação de entropia molar padrão pode ser determinada diretamente a partir dos valores fornecidos para as variações de entalpia e energia de Gibbs. ∆𝐺𝑜 = ∆𝐻𝑜 − 𝑇∆𝑆𝑜 → ∆𝑆𝑜 = ∆𝐻𝑜−∆𝐺𝑜 𝑇 = −91,9.103+32,8.103 (25+273) = −198,32 J. mol−1. K−1 A variação de entropia molar encontrada sugere que há uma redução na desordem do sistema. Isto faz sentido, pois o número de moléculas gasosas no início (4 mol = 1 mol de 22 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO N2 + 3 mol de H2) é superior ao final (2 mol). A redução no número total de mols explica a redução de entropia. b) A constante de equilíbrio a 25oC pode ser calculada diretamente a partir do valor de energia de Gibbs padrão dado. 𝐾 = exp (− ∆𝐺𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (−32800)8.314. (25 + 273) ) = 5,61. 105 A constante de equilíbrio a 50oC, pode-se calculada mediante integração da relação de Van’t Hoff, considerando-se que a variação de entalpia padrão é constante na faixa de temperatura considerada. 𝐾2 = 𝐾1. 𝑒𝑥𝑝 ( ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 }) 𝐾2 = 5,61. 10 5. 𝑒𝑥𝑝 ( −91900 8.314 . { 1 (25 + 273) − 1 (50 + 273) }) = 3,19. 105 Convém observar o quão sensível é a constante de equilíbrio em relação à temperatura. Tal fato é explicado pelo expressivo valor da entalpia molar padrão, que sugere um processo fortemente exotérmico. c) Para analisarmos o efeito da pressão no equilíbrio e por fim na viabilidade do processo de síntese de NH3, convém escrever a equação para o KP do processo. 𝐾𝑃 = 𝑃𝑁𝐻3 2 𝑃𝐻2 3 𝑃𝑁2 = ( 𝑃2 𝑃4 ) . (𝑋𝑁𝐻3) 2 𝑋𝑁2𝑋𝐻2 3 = ( 1 𝑃2 ) (𝑋𝑁𝐻3) 2 𝑋𝑁2𝑋𝐻2 3 Como KP e K no equilíbrio devem ser iguais, fixando-se a temperatura do reator, K e KP serão constantes. ( 1 𝑃2 ) (𝑋𝑁𝐻3) 2 𝑋𝑁2𝑋𝐻2 3 = 𝐾(𝑇) = 𝑐𝑡𝑒 Realizando-se o processo em um reator fechado, como o número de mols total da mistura deve diminuir, conforme já apontado anteriormente, a pressão total deve também apresentar uma apreciável redução. Com isso, a razão entre as frações molares de produtos e reagentes no equilíbrio deve reduzir, ou seja, a reação é deslocada no sentido de formação dos produtos. (𝑋𝑁𝐻3) 2 𝑋𝑁2𝑋𝐻2 3 = 𝐾(𝑇). 𝑃 2 23 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Em um reator aberto, a pressão é constante, e como é numericamente igual à pressão inicial no reator fechado, será, em todo momento, superior à pressão existente no mesmo. Essas reflexões sugerem que a reação deve ser conduzida em um reator aberto, preferencialmente a uma pressão superior à pressão atmosférica. Questão 17 Considere as reações químicas apresentadas a seguir, cujas constantes de equilíbrio foram determinadas a 400oC. Fe2O3(s) + 3 CO(g) 2 Fe(s) + 3 CO2(g) K1 = 2,6.102 C(s) + CO2(g) 2CO(g) K2 =7,6.10-5 a) Construa equações que permitam determinar KP pra ambos os processos. b) Discuta possíveis efeitos do aumento da temperatura na reação de redução do Fe2O3, sabendo que a 400oC, a entalpia molar padrão (∆𝐻𝑜) é igual a -36,2 kJ/mol. c) Discuta possíveis efeitos da diminuição do volume do reator sobre o equilíbrio, para a reação de decomposição do CO2, considerando que a temperatura permanece constante. d) Determine a pressão parcial de CO no equilíbrio para a reação de redução do Fe2O3 pelo grafite, considerando que a mesma será realizada a 400oC. Fe2O3(s) + 3C(s) = 2 Fe(s) + 3 CO(g) Resolução a) Por definição, KP consiste na razão entre os produtos das pressões parciais de reagentes e produtos, cada pressão elevada ao respectivo coeficiente estequiométrico. Naturalmente, nessas equações, somente os reagentes e produtos gasosos são contemplados. 3 3 2 1 CO CO p P P K = 2 2 2 CO CO p P P K = b) Na temperatura considerada, como a entalpia molar padrão é negativa (-36,2 kJ/mol), a elevação da temperatura fará com que a constante de equilíbrio (K) seja reduzida. Logo, a condução da reação em temperaturas mais elevadas não favorece o processo, pois o equilíbrio é deslocado no sentido dos reagentes. = KKT TR H dT Kd ln,0 ². ln 0 c) Observando-se a estequiometria do processo é possível concluir que para cada mol de CO2 consumido, dois mol de CO são gerados. 24 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Portanto, o número de mols na fase gasosa (𝑛𝑔) deve aumentar no decorrer do processo. Considerando a fase gasosa ideal, a pressão do reator deve ser proporcional a 𝑛𝑔. 𝑃 = 𝑛𝑔𝑅𝑇 𝑉 Logo, ao conduzirmos a reação em um reator fechado, a pressão deve naturalmente aumentar. Este aumento é mais expressivo à medida que o volume do reator se torna menor. A pressão afeta o equilíbrio através do KP, que no equilíbrio é numericamente igual a K. 𝐾𝑃2 = 𝑃𝐶𝑂 2 𝑃𝐶𝑂2 = 𝐾(𝑇) ⟹ ( 𝑃2 𝑃 ) . 𝑋𝐶𝑂 2 𝑋𝐶𝑂2 = 𝐾 ⟹ 𝑋𝐶𝑂 2 𝑋𝐶𝑂2 = 𝐾 𝑃 = 𝐾∗ Fixando-se a temperatura e elevando-se P, o valor de K* deve reduzir, e, consequentemente, o mesmo deve ocorrer com a razão entre as frações molares de CO e CO2. Desta forma, a redução do volume do reator deve então contribuir para a redução da fração molar de CO, deslocando o equilíbrio no sentido dos reagentes. 𝐾∗ ↓⟹ 𝑋𝐶𝑂 2 𝑋𝐶𝑂2 ↓ d) A reação de redução do Fe2O3 pelo carbono, pode ser obtida a partir de uma combinação linear da reação "1'' e "2". Para tal, basta multiplicarmos a reação "2" por três e somarmos à reação "1". Ao multiplicarmos a reação "2" por três, o valor do seu ∆𝐺𝑜 também será multiplicado pelo mesmo fator, e, consequentemente, o valor de K3 deverá ser atualizado. Isso pode ser feito elevando-se o valor original a potência de três. 𝐾2 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺2 𝑜 𝑅𝑇 ) → (𝐾2) 3 = 𝑒𝑥𝑝 (− 3. ∆𝐺2 𝑜 𝑅𝑇 ) Fe2O3(s) + 3 CO(g) 2 Fe(s) + 3 CO2(g) K1 = 2,6.102 + x 3C(s) + 3CO2(g) 6CO(g) K2 =7,6.10-5 ____________________________ Fe2O3(s) + 3C(s) = 2 Fe(s) + 3 CO(g) K3=K1.(K2)3 Ao somarmos as reações "1" e "2", após a multiplicação da última por três, o ∆𝐺𝑜 da reação final será obtido a partir do somatório dos valores das reações adicionadas, lembrando que no caso da reação "2" tal grandeza deve ser multiplicada por três. ∆𝐺3 𝑜 = ∆𝐺1 𝑜 + 3. ∆𝐺2 𝑜 25 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Consequentemente, o K da reação três, será o produto das constantes de equilíbrio das reações adicionadas. 𝐾3 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺3 𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (∆𝐺1 𝑜 + 3. ∆𝐺2 𝑜) 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺1 𝑜 𝑅𝑇 ) . 𝑒𝑥𝑝 (− 3. ∆𝐺2 𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝐾1(𝐾2) 3 𝐾3 = (2,6. 10 2). (7,6. 10−5)3 = 1,14. 10−10 Sabe-se que no equilíbrio KP e K devem apresentar um mesmo valor. 𝐾𝑃 = 𝑃𝐶𝑂 3 = 𝐾3 → 𝑃𝐶𝑂 = (𝐾3) 1/3 = 4,85. 10−4atm Cabe realizar uma observação sobre a unidade referente à pressão parcial de CO calculada. De uma maneira geral, se está assumindo que a pressão de referência é 1 atm. Tal fato está subentendido quando definimos uma grande termodinâmica acrescentando como índice superior o símbolo "o", por exemplo, S°, H°, G°. Por este motivo, as pressões envolvidas na definição de KP serão obrigatoriamente avaliadas em atm. Questão 18 Seja a reação de decomposição do N2O4, representada pela equação abaixo. N2O4(g) 2 NO2(g) (S°(25oC) = + 175,83 J.K-1.mol-1; G°(25oC) = + 4,73 kJ.mol-1) a) Calcule a variação de entalpia padrão, (H°), em kJ.mol-1 da reação a 25°C, e diga se o processo é exotérmico ou endotérmico. b) Determine KP. c) Calcule a variação da energia livre, G, da reação, a 25°C, no momento em que estão presentes 0,20 mol de N2O4 e 0,80 mol de NO2 em um recipiente fechado de um litro, e determine em que sentido o processo pode ser considerado espontâneo. Resolução a) Energia de Gibbs, entalpia e entropia estão intimamente ligados, já dizia Willard Gibbs. 𝐺 = 𝐻 − 𝑇. 𝑆 No que se refere às propriedades padrão molares, tem-se: −= STHG Inserindo-se os valores do enunciado, pode-se resolver a equação acima para a entalpia molar padrão do processo. kJ/mol 1,57)83,175).(25273(4730)83,175).(25273(4730 =++=+−= HH Como a entalpia molar padrão é positiva, a entalpia do sistema deve aumentar à medida que a reação avança. Portanto, 57,1 kJ calor devem ser fornecidos ao sistema para decompor um mol de N2O4, configurando um processo endotérmico 26 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO b) A constante de equilíbrio (K) pode ser determinada diretamente através do conhecimento da energia de Gibbs molar padrão e da temperatura. ∆𝐺𝑜 = −𝑅𝑇𝑙𝑛𝐾 Portanto, inserindo-se os dados do enunciado, tem-se: PKeK K K K KTR === −= =− −= −= − 148,0 91,1ln ln 57,2477 4730 ln.298).314,8(4730 ln..4730 )91,1( c) A variação de energia de Gibbs por mol de N2O4 decomposto pode ser calculada mediante o conhecimento de Q e K. ∆𝐺 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇. 𝑙𝑛𝑄 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝑁𝑂2 2 𝑃𝑁2𝑂4 ) O cálculo das pressões parciais de cada componente requer o conhecimento prévio das suas respectivas frações molares. Como a fase gasosa é considerada ideal, o volume do reator e a temperatura do mesmo são conhecidos, a pressão parcial de cada componente passa ser diretamente proporcional ao número de mols. .89,4 )25273).(08206,0.(2,01. ... 42 42 42 atmp p TRnVp ON ON ON = += = .56,19 )25273).(08206,0.(8,01. ... 2 2 2 atmp p TRnVp NO NO NO = += = Portanto, G pode ser finalmente determinado: ( ) ( ) 1 2 J.mol 66,15531 89,4 ²56,19 ln).298).(314,8(4730ln.. 42 2 −=+=+= ON NO P P TRGG Como o valor encontrado é positivo, isso significa que a reação será espontânea no sentido de regenerar moléculas de N2O4, ou seja, no sentido inverso. 27 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Questão 19 O equilíbrio de Bourdouix, representado pela equação química abaixo, apresenta considerável relevância para a indústria metalúrgica. C(s)+CO2(g) = 2CO(g) a) Com base nas reações de formação do CO e CO2, determine a constante de equilíbrio para a reação de Bourduix a 250oC. C(s)+O2(g) = CO2(g) (∆𝐻𝑜(400oC) = −393,668 kJ mol ; ∆𝑆𝑜(400oC) = 2,49 J mol . K) C(s)+1/2O2(g) = CO(g) (∆𝐻𝑜(400oC) = −110,036 kJ mol ; ∆𝑆𝑜(400oC) = 90,79 𝐽 𝑚𝑜𝑙 . 𝐾) b) Assumindo que a fase gasosa é ideal, determine as pressões parciais de O2, CO e CO2 no equilíbrio a 250oC e 1 atm. c) Finalmente, discuta se nas condições dadas a redução da hematita (Fe2O3) gerando magnetita (Fe3O4) seria possível, sabendo que a constante de equilíbrio da referida a reação a 400oC apresenta um valor igual a 9,347.105. 3 Fe2O3(s) + CO(g) = 2 Fe3O4(s) + CO2(g) Resolução a) CO2(g)=C(s)+O2(g) (−∆𝐺𝐶𝑂2 𝑜 ) + 2C(s)+O2(g)=2CO(g) (2. ∆𝐺𝐶𝑂 𝑜 ) ________________ C(s)+CO2(g)=2CO(g) (∆𝐺𝑓 𝑜 = 2. ∆𝐺𝐶𝑂 𝑜 − ∆𝐺𝐶𝑂2 𝑜 ) A reação de Bourduix pode ser encontrada mediante uma combinação linear das reações de formação do CO e CO2. Para tal, devemos inverter a reação de formação do CO2 e somar à reação de formação do CO multiplicada por dois. A constante de equilíbrio da reação de Bourdouix pode então ser determinada a partir da variação de energia de Gibbs padrão final. 𝐾𝑓 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝑓 𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (2. ∆𝐺𝐶𝑂 𝑜 − ∆𝐺𝐶𝑂2 𝑜 ) 𝑅𝑇 ) = (𝐾𝐶𝑂) 2 𝐾𝐶𝑂2 As constantes de equilíbrio para as reações de formação do CO (𝐾𝐶𝑂) e CO2 (𝐾𝐶𝑂2) podem ser determinadas a partir dos dados do enunciado para a entalpia molar padrão e entropia molar padrão, considerando uma temperatura de 400oC. 𝐾𝐶𝑂 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝐶𝑂 𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (∆𝐻𝐶𝑂 𝑜 − 𝑇∆𝑆𝐶𝑂 𝑜 ) 𝑅𝑇 ) 𝐾𝐶𝑂 = 𝑒𝑥𝑝 (− (−220. 103 − (250 + 273). 181,85) 8,314. (250 + 273) ) = 1,919. 1013 𝐾𝐶𝑂2 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆𝐺𝐶𝑂2 𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− (∆𝐻𝐶𝑂2 𝑜 − 𝑇∆𝑆𝐶𝑂2 𝑜 ) 𝑅𝑇 ) 28 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 𝐾𝐶𝑂2 = 𝑒𝑥𝑝 (− (−393,67. 103 − (250 + 273). 2,49) 8,314. (250 + 273) ) = 4,849. 1030 Finalmente, a constante de equilíbrio para a reação de Bourdouix a 400oC pode ser determinada: 𝐾𝑓 = (𝐾𝐶𝑂) 2 𝐾𝐶𝑂2 = 7,6. 10−5 b) Denominando-se de X, Y e Z as pressões parciais de O2, CO e CO2, como a pressão total é igual a 1atm e a fase gasosa é ideal, tem-se: 𝑋 + 𝑌 + 𝑍 = 1 O equilíbrio no presente sistema pode ser descrito por duas reações independentes, por exemplo, as reações de formação de CO e CO2. No entanto, convém considerar uma dessas reações juntamente com a reação de Bourdouix. Escolhendo-se a reação de formação do CO2, tem-se: C(s) + O2(g) = CO2(g) (𝐾𝐶𝑂2 = 4,849. 10 30) C(s) + CO2(g) = 2CO(g) (𝐾𝑓 = 7,6. 10 −5) As constantes KP para cada uma das reações acima podem ser escritas como função de X, Y e Z. 𝐾𝑃 𝑓 = 𝑌2 𝑍 → 𝑍 = 𝑌2 𝐾𝑃 𝑓 𝐾𝑃 𝐶𝑂2 = 𝑍 𝑋 → 𝑋 = 𝑍 𝐾𝑃 𝐶𝑂2 = 𝑌2 𝐾𝑃 𝐶𝑂2𝐾𝑃 𝑓 No equilíbrio as constantes KP são respectivamente iguais às constantes de equilíbrio, determinadas anteriormente. 𝐾𝑃 𝑓 = 𝐾𝑓 𝐾𝑃 𝐶𝑂2 = 𝐾𝐶𝑂2 Substituindo-se as últimas relações na equação de cálculo da pressão total é possível construir uma equação do segundo grau em Y (pressão parcial de CO). 𝑋 + 𝑌 + 𝑍 = 1 → 𝑌2 𝐾𝐶𝑂2𝐾𝑓 + 𝑌 + 𝑌2 𝐾𝑓 − 1 = 0 → 𝑌2 ( 1 𝐾𝑓 + 1 𝐾𝐶𝑂2𝐾𝑓 ) + 𝑌 − 1 = 0 𝑎𝑌2 + 𝑌 − 1 = 0 29 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 𝑎 = ( 1 𝐾𝑓 + 1 𝐾𝐶𝑂2𝐾𝑓 ) = 1.3158. 104 Resolvendo-se a equação, e considerando somente a raiz positiva, tem-se: 𝑌 = (−1 ± √1 + 4. 𝑎) 2. 𝑎 → 𝑌 = (−1 + √1 + 4. 𝑎) 2. 𝑎 = 0,0087 atm = 𝑃𝐶𝑂 𝑍 = 𝑌2 𝐾𝑃 𝑓 = 0,9913 atm = 𝑃𝐶𝑂2 𝑋 = 𝑌2 𝐾𝑃 𝐶𝑂2𝐾𝑃 𝑓 = 2,04. 10−31atm = 𝑃𝑂2 c) Para que a reação de redução seja viável, ∆𝐺deve apresentar um valor negativo. ∆𝐺 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐶𝑂2 𝑃𝐶𝑂 ) = −𝑅𝑇𝑙𝑛𝐾 + 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐶𝑂2 𝑃𝐶𝑂 ) = 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐶𝑂2 𝐾. 𝑃𝐶𝑂 ) Substituindo-se os valores encontrados para as pressões parciais de CO2 e CO, juntamente com o valor de K para a reação de redução dado no enunciado, tem-se: 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐶𝑂2 𝐾. 𝑃𝐶𝑂 ) = (8,314). (400 + 273). 𝑙𝑛 ( 0,9913 (9,347. 105). (0,0087) ) = −5.0414. 104J. mol−1 Como ∆𝐺 apresenta um valor negativo, pode-se concluir que a redução da hematita pode ser realizada na temperatura pretendida. Questão 20 Considere a reação de decomposição térmica de um óxido genérico (X2O), representada pela equação química balanceada a seguir: X2O(s) 2 X(s) + ½ O2(g) (H = + 35,0 kJ.mol-1; S = 0,088 kJ.mol-1.K-1) a) Com base no valor de G, proponha uma temperatura mínima para a realização do processo. b) Determine a pressão de oxigênio no equilíbrio, na temperatura proposta. c) Finalmente, discuta possíveis efeitos relacionados à elevação da temperatura e da pressão total sobre o valor determinado no item (b). 30 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Resolução a) Quando a variação de energia de Gibbs padrão do processo se torna negativa, pode- se dizer que está contribuindo para que o processo de interesse ocorra no sentido direto, logo: ∆G° = ∆H° − T. ∆S° < 0 35 − T. (0,08) < 0 T. (0,08) > 35 → T > 437,50 𝐾 b) A pressão de O2 no equilíbrio será aquela que fizer com que K e KP apresentem o mesmo valor na temperatura proposta. O valor de K, pode ser obtido diretamente a partir dos dado do enunciado. ∆G° = ∆H° − T. ∆S° = 35. 103 − (437,5). (0,088) = 3,496. 104 J. mol−1 𝐾 = 𝑒𝑥𝑝 (− ∆G° 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− 3,496. 104 (8,314). (437,5) ) = 6,697. 10−5 Como KP e K devem ser idênticos, tem-se: 𝐾𝑝 = 𝑃𝑂2 = 𝐾 = 6,697. 10 −5 atm c) Em ambos os casos a pressão parcial de O2 no equilíbrio será modificada. Como a entalpia molar padrão é positiva, isso sugere que a reação seja endotérmica, como é intuitivamente esperado para reações de decomposição térmica, em que energia térmica é investida para romper as ligações químicas do material original. Em se tratando de um processo endotérmico, de acordo com o princípio de Le Chatelier, a elevação da temperatura deve deslocar o equilíbrio no sentido direto, ou seja, da formação de O2, logo contribuindo para a elevação da sua respectiva pressão parcial. No que tange o efeito da pressão, basta considerar a igualdade entre KP e K no equilíbrio. 𝐾𝑝 = 𝑃𝑂2 = 𝐾 → 𝑃. 𝑋𝑂2 = 𝐾 → 𝑋𝑂2 = 𝐾 𝑃 Logo, se P aumenta e K é fixo (temperatura constante), a fração molar de O2 no equilíbrio deve diminuir, o que configura um deslocamento do equilíbrio no sentido de regeneração do óxido.Questão 21 Considere que você deseja reduzir uma amostra de NiO em uma atmosfera contendo CO a 450oC. NiO(s) + CO(g) = Ni(s) + CO2(g) (H(400oC) = -46,2 kJ.mol-1) 31 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Para tal, você dispõe de um forno com entrada para gases, e decide por injetar uma mistura contendo CO e CO2, sendo a razão entre as pressões parciais de CO e CO2 igual a 1.10-5. Sabe-se que a reação de redução do NiO apresenta uma constante de equilíbrio a 400oC igual a 4,34.103. a) Calcule a razão entre as pressões parciais de CO e CO2 associada ao equilíbrio em questão a 450oC. b) Em sua opinião, a redução pretendida é termodinâmicamente viável nas condições impostas? Justifique. Resolução a) A razão entre as pressões parciais de CO e CO2 no equilíbrio pode ser no presente caso determinada a partir do valor de KP, que será igual ao valor de K a 450oC. 𝐾𝑃 = 𝑃𝐶𝑂2 𝑃𝐶𝑂 = 𝐾(450oC) O valor de K a 450oC, pode ser obtido diretamente a partir da equação de Van't Hoff, mediante a inserção do valor de entalpia padrão molar do enunciado. 𝐾2(450 oC) = 𝐾1(400 oC). 𝑒𝑥𝑝 ( ∆𝐻° 𝑅 . { 1 𝑇1 − 1 𝑇2 }) 𝐾2 = (4,34. 10 3). 𝑒𝑥𝑝 ( −46,2. 103 8,314 . { 1 (400 + 273) − 1 (450 + 273) }) = 2,4519. 103 Logo: 𝑃𝐶𝑂2 𝑃𝐶𝑂 = 𝐾2 → 𝑃𝐶𝑂 𝑃𝐶𝑂2 = 1 𝐾2 = 4,08. 104 b) Se a razão entre as pressões parciais de CO e CO2 na mistura admitida for superior ao valor associado ao equilíbrio a 450oC, CO deve ser consumido, ou seja, a redução ocorrerá, uma vez que o equilíbrio será constantemente deslocado para o sentido dos produtos. Caso o contrário ocorra, a redução será termodinamicamente inviável. Neste caso, como a referida razão é inferior ao valor requerido pela condição de equilíbrio, o equilíbrio será constantemente deslocado no sentido de geração do CO, ou seja, no sentido inverso. No presente caso, observa-se que a razão entre as pressões parciais é inferior ao valor requerido no equilíbrio. Logo, nas condições impostas a redução do NiO não é termodinamicamente viável. 32 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Questão 22 Considere a reação de Shift, muito empregada em âmbito industrial para a produção de misturas de CO e H2 (gás de síntese). Considere que a reação é conduzida em um reator aberto (pressão constante) a 580oC, alimentado com uma corrente gasosa, onde as pressões parciais de CO2, H2, CO e H2O, são respectivamente iguais a 0,4 atm, 0,4 atm, 0,1 atm, 0,1 atm. CO2(g) + H2(g) = CO(g) + H2O(g) (H(580oC)=36,4 kJ.mol-1; S(580oC)=33,7 J.mol-1.K-1) a) Defina se nas condições propostas a reação é ou não viável de um ponto de vista termodinâmico. b) Admitindo-se que reagentes e produtos permanecem tempo suficiente dentro do reator para que o equilíbrio seja atingido, determine a composição do gás de síntese gerado. Resolução a) A avaliação da viabilidade termodinâmica do processo requer o cálculo de ∆𝐺. ∆𝐺 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐻2𝑂𝑃𝐶𝑂 𝑃𝐻2𝑃𝐶𝑂2 ) Inserindo-se os valores fornecidos no enunciado, tem-se: ∆𝐺𝑜 = ∆H° − T. ∆S° = 36,4. 103 − (580 + 273). 33,7 = 7,654. 103 ∆𝐺 = 7,654. 103 + 8,314. (580 + 273)𝑙𝑛 ( (0,1). (0,1) (0,4). (0,4) ) = −1,2. 104 Como ∆𝐺 é negativo, há força-motriz para a condução do processo, ou seja, a reação desejada é viável no sentido direto. b) A composição do gás de síntese requer a determinação do número de mols de reagentes e produtos no equilíbrio. Para tanto, convém realizar um balanço molar com base na estequiometria do processo. Assumindo-se um mol de mistura total como base de cálculo, tem-se: Espécie Início Equilíbrio CO2 0,4 0,4-x H2 0,4 0,4-x CO 0,1 0,1+x H2O 0,1 0,1+x Total 1 1 A constante de equilíbrio (K) do processo a 580oC, pode ser calculada diretamente a partir do valor de ∆𝐺𝑜. 33 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO 𝐾 = exp (− ∆𝐺𝑜 𝑅𝑇 ) = 𝑒𝑥𝑝 (− 7,654. 103 (8,314). (580 + 273) ) = 0,34 No equilíbrio, KP e K devem ser iguais, logo: 𝑃𝐻2𝑂𝑃𝐶𝑂 𝑃𝐻2𝑃𝐶𝑂2 = 𝐾 → (0,1 + 𝑥). (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥). (0,4 − 𝑥) = 𝐾 (0,1 + 𝑥). (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥). (0,4 − 𝑥) = 𝐾 → [ (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥) ] 2 = 𝐾 A última equação é uma equação do segundo grau na variável x, e, portanto, apresenta duas soluções. [ (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥) ] 2 = 𝐾 → (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥) = +√𝐾 → 𝑥1 = 0,4. √𝐾 − 0,1 √𝐾 + 1 = 0,0841 [ (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥) ] 2 = 𝐾 → (0,1 + 𝑥) (0,4 − 𝑥) = −√𝐾 → 𝑥2 = 0,4. √𝐾 + 0,1 √𝐾 − 1 = −0,79 Como pela resolução do item (a) é sabido que há força motriz para a realização do processo no sentido direto, x1 configura a única solução com significado físico. Portanto, a composição química do sistema na saída do reator pode ser unicamente determinada. 𝑋𝐶𝑂2 = 𝑋𝐻2 = 0,4 − 𝑥 = 0.316 𝑋𝐶𝑂 = 𝑋𝐻2𝑂 = 0,1 + 𝑥 = 0,184 Questão 23 Considere que você deseja produzir grafeno (C(s)) em um reator aberto que opera a 900oC e 0,0054 atm. O reator é alimentado com uma corrente contendo CH4 e H2, sendo a pressão parcial de CH4 igual a 0,0027 atm. CH4(g) = C(s) + 2H2(g) (H(900oC)=89,9kJ.mol-1; S(900oC)=109,1 J.mol-1.K-1) a) Defina se nas condições propostas a reação é ou não viável de um ponto de vista termodinâmico. b) Admitindo-se que reagentes e produtos permanecem tempo suficiente dentro do reator para que o equilíbrio seja atingido, determine a massa em gramas de grafeno produzido, para cada mol de mistura (CH4 + H2) alimentados. Resolução a) A definição da viabilidade do processo em questão depende do valor de ∆𝐺. ∆𝐺 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐻2 2 𝑃𝐶𝐻4 ) 34 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO O valor de ∆𝐺𝑜 pode ser determinado diretamente a partir dos valores de entalpia e entropia molares padrão. ∆G° = ∆H° − T. ∆S° = 89,9. 103 − (900 + 273). (109,1) = −3,81. 104 J. mol−1 Como a pressão total é o somatório das pressões parciais e na atmosfera somente se encontram presentes H2 e CH4, concluí-se, pela informação do enunciado que a pressão parcial de ambos é idêntica no início. 𝑃𝐻2 = 𝑃𝐶𝐻4 = 0,0027 atm Inserindo-se os valores na equação para cálculo da força-motriz, tem-se: ∆𝐺 = ∆𝐺𝑜 + 𝑅𝑇𝑙𝑛 ( 𝑃𝐻2 2 𝑃𝐶𝐻4 ) = −3,81. 104 + (8,314). (900 + 273). ln(0,0027) = −9,57. 104 Como ∆𝐺é negativo, o processo de formação do grafeno é viável nas condições impostas no esperimento. b) A determinação da massa de grafeno produzida por mol de mistura alimentada pode ser facilmente encontrada mediante a realização de um balanço molar. Como as pressões parciais de H2 e CH4 na alimentação são as mesmas, as frações molares de ambos serão também idênticas e iguais a 0,5. Para um mol de mistura inicial, tem-se: Espécie Início Equilíbrio CH4 0,5 mol 0,5-x H2 0,5 mol 0,5+2.x C 0 x Total 1 1+x Convém comentar que o somatório dos números de mols na condição de equilíbrio contempla somente as espécies que entram na definição de KP, ou seja, as espécies gasosas. No equilíbrio, K e KP são idênticos, logo: 𝑃𝐻2 2 𝑃𝐶𝐻4 = 𝐾 → 𝑃. ( 𝑋𝐻2 𝑋𝐶𝐻4 ) = 𝐾 → ( 𝑋𝐻2 𝑋𝐶𝐻4 ) = 𝐾 𝑃 As frações molares de H2 e CH4 podem ser determinadas a partir da tabela do balanço molar. 𝑋𝐻2 = 0,5 + 2. x 1 + x 𝑋𝐶𝐻4 = 0.5 − x 1 + x 35 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO Inserindo-se na equação de equilíbrio, tem-se: (0,5 + 2. x)2 (1 + x). (0,5 − x) = 𝐾 𝑃 = 𝐾′ A equação acima pode ser rearranjada algebricamente como uma equação do segundo grau em x. 𝑎𝑥2 + 𝑏𝑥 + 𝑐 = 0 𝑎 = 1 𝑏 = 2 + 0,5. 𝐾′ (4 + 𝐾′) 𝑐 = 0,5. (0,5 − 𝐾′) (4 + 𝐾′) 𝑥1 = (−𝑏 + √𝑏2 − 4. 𝑎. 𝑐) 2. 𝑎 = 0,4962 𝑥2 = (−𝑏 − √𝑏2 − 4. 𝑎. 𝑐) 2. 𝑎 = −0,9962 Percebe-se claramente que somente a raiz positiva faz sentido. Desta forma, a quantidade de grafite em massa produzida pode ser facilmente encontrada. 𝑚𝐶 = 𝑛𝑐. 12 = 12. 𝑥1 = 5,95 g36 CAPÍTULO VI – EQUILÍBRIO QUÍMICO SOBRE O AUTOR Alexandre Vargas Grillo é Doutor em Engenharia de Materiais e Processos Químicos e Metalúrgicos pela PUC-Rio, Mestrado em Engenharia de Materiais e Processos Químicos e Metalúrgicos pela mesma instituição (PUC-Rio), pós-graduação em licenciatura de ensino fundamental e médio em química pela Cândido Mendes e Engenheiro Químico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Atualmente atua como Professor do Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ – Campus Nilópolis, lecionando Físico-Química Avançada e Nanotecnologia para os cursos de Bacharelado, Licenciatura e Técnico. Na pesquisa atua como professor colaborador em Engenharia de Processos Químicos e Metalúrgicos em Síntese de Nanopartículas pela PUC-Rio e também no laboratório de Modelagem, Automação e Controle (LaMaC) da mesma instituição. Revisor do Journal of Materials Science e consultor Ad Hoc Faperj e membro da coordenação de Olimpíadas de Química do Estado do Rio de Janeiro – OQRJ, atuando na área científica no preparo para a IChO e Iberoamericana. Coordenador da turma olímpica de Química do Instituto Federal do Rio de Janeiro – Campus Nilópolis. Área de atuação: Nanoparticles, Titanium Nitride, Characterization, Physical Chemistry, Chemical Kinetics, Artificial Intelligence, Neural networks.
Compartilhar