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Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen CRB10/2150 B812e Brady, Nyle C. Elementos da natureza e propriedades dos solos [recurso eletrônico ] / Nyle C. Brady, Ray R. Weil ; tradução técnica: Igo Fernando Lepsch. – 3. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65837-79-8 1. Ciência do solo. 2. Pedologia. I. Weil, Ray R. II. Título. CDU 613.4 Quando a terra conseguirá... absorver a água da chuva com a mesma rapidez com que ela cai? — H. D. Thoreau, THE JOURNAL Le va nd o ág ua p ar a os s ol os d e va le s ár id os (R . W ei l) 5 A Água do Solo: Características e Comportamento A água, um dos mais simples compostos químicos da natureza, é um componente vital de to- das as células vivas. Suas propriedades exclusivas propiciam uma grande variedade de proces- sos físicos, químicos e biológicos. Esses processos têm grande influência sobre quase todos os aspectos da formação e do comportamento do solo, da intemperização de minerais à decom- posição da matéria orgânica, do crescimento das plantas à poluição das águas subterrâneas. Todos nós estamos acostumados com a água. Dela bebemos, com ela nos lavamos e nela nadamos. Mas a água no solo é muito diferente daquela contida em um copo. No solo, a associação íntima entre a água e as suas partículas altera o comportamento de ambos. A água faz com que as partículas do solo se expandam e se contraiam para unirem-se umas às outras e formarem os agregados estruturais. Além disso, ela participa de inúmeras reações químicas que liberam ou imobilizam nutrientes, geram acidez e desgastam os minerais, de modo que os elementos que os constituem possam, enfim, contribuir para a salinidade dos oceanos. Certos fenômenos que ocorrem com a água do solo parecem contradizer o nosso entendimento sobre como a água deve se comportar. Parte da circu- lação livre das moléculas de água é restringida pelas superfícies sólidas que as atraem, fazendo com que se comportem de uma forma menos líquida e mais sólida. No solo, a água pode fluir tanto para cima como para baixo. As plantas podem murchar e morrer em um solo cujo perfil contém um milhão de quilos de água por hectare. Uma camada de areia ou cascalho em um perfil de solo pode, de fato, inibir a drenagem, ao invés de melhorá-la. As interações solo-água determinam suas taxas de perda por lixiviação, escoamento superficial e evapotranspiração, bem como o equilíbrio entre o ar e a água nos poros do solo, a taxa de mudança na temperatura do solo, a taxa (e tipo de metabolismo) dos organismos do solo, além de capacitar os solos a armazenarem (e fornecerem) água para o crescimento das plantas. As características e o comportamento da água no solo abrangem um assun- to que inter-relaciona quase todos os capítulos deste livro. Os princípios desen- volvidos neste capítulo irão nos ajudar a entender por que os deslizamentos de Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 147 terra ocorrem em solos saturados com água (Capítulo 4); por que as minhocas podem melho- rar a qualidade do solo (Capítulo 10), por que as terras úmidas contribuem para a destruição da camada global de ozônio (Capítulo 12) e por que a fome persegue a humanidade em certas regiões do mundo. Compreender os princípios apresentados neste capítulo é fundamental para se trabalhar com o sistema solo. 5.1 ESTRUTURA E PROPRIEDADES ASSOCIADAS À ÁGUA1 A capacidade da água de influenciar tantos processos do sistema solo é determinada de forma fundamental pelo tipo de estrutura da molécula de água. Essa estrutura também é responsável pelo fato de a água estar presente na Terra mais na forma líqui- da, não na de um gás. Com exceção do mercúrio, a água é o único líquido inorgânico (sem ser à base de carbono) encontrado na Terra em condições normais de temperatura e pressão. A água é um composto simples: suas moléculas individuais contêm um átomo de oxi- gênio e dois átomos, muito menores, de hidrogênio. Esses dois elementos estão ligados por co- valência, ou seja, cada átomo de hidrogênio compartilha seu único elétron com o de oxigênio. Polaridade Os átomos de hidrogênio, em vez de se alinharem simetricamente em cada lado do átomo de oxigênio (H-O-H), estão ligados ao oxigênio em um arranjo em forma de V, com um ângulo de apenas 105°. Por isso, a água é uma molécula assimétrica, com seus elétrons orbitando mais tempo quando estão mais próximos do oxigênio do que do hidrogênio. Consequente- mente, as moléculas de água apresentam polaridade, isto é, suas cargas não estão distribuídas uniformemente; pelo contrário, o lado em que os átomos de hidrogênio se situam tende a ser eletropositivo, e o lado oposto, eletronegativo. A polaridade explica por que as moléculas de água são atraídas tanto por íons eletrostati- camente carregados como por superfícies coloidais. Cátions, como H+, Na+, K+ e Ca2+, se hi- dratam por meio de sua atração pelo lado (negativo) onde se situa o oxigênio das moléculas de água. Da mesma forma, as superfícies de argila carregadas negativamente atraem água, desta vez através do lado (positivo) do hidrogênio da molécula. A polaridade das moléculas de água também provoca a dissolução dos sais na água, já que os seus componentes iônicos têm uma maior atração pelas moléculas de água do que uns pelos outros. Ligações de hidrogênio Por meio de um fenômeno chamado de ligação de hidrogênio (ou “ponte de hidrogênio”), um dos átomos de hidrogênio de uma molécula de água é atraído pelo oxigênio de uma molé- cula de água vizinha, formando assim uma ligação de baixa energia entre essas duas moléculas. Esse tipo de ligação é responsável pela polimerização da água. Coesão, adesão e tensão superficial O fenômeno da ligação de hidrogênio explica as duas forças básicas responsáveis pela retenção e movimento da água nos solos: a atração das moléculas de água umas pelas outras (coesão) e a atração das moléculas de água por superfícies sólidas (adesão). Algumas moléculas de água são retidas rigidamente nas superfícies dos sólidos do solo por adesão (também chamada de adsorção). Por sua vez, essas moléculas de água fortemente ligadas se unem, por coesão, a ou- tras moléculas de água mais distantes das superfícies sólidas (Figura 5.1). As forças de adesão e de coesão tornam possível para os sólidos do solo reter água e controlar o seu uso e movimen- 1 Para informações mais detalhadas sobre as interações água-solo, consulte Hillel (1998) e Warrick (2001). Propriedades da água: www.biologylessons.sdsu. edu/classes/lab1/semnet/ water.htm 148 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos to. A adesão e a coesão também tornam possível a plasticidade, que é uma das características das argilas (Seção 4.9). A tensão superficial é outra propriedade importante da água que influencia significati- vamente seu comportamento no solo. Nas interfaces líquido-ar, a tensão superficial decorre do fato de as moléculas de água terem uma maior atração entre si (coesão) do que pelo ar. O efeito disso é uma força dirigida da superfície da água para o seu interior, o que faz com que ela se comporte como se a superfície fosse coberta com uma membrana elástica esticada (Fi- gura 5.2). Devido à elevada atração relativa das moléculas de água umas pelas outras, a água passa a ter uma elevada tensão superficial (72,8 N/mm a 20°C), se comparada à maioria dos outros líquidos (por exemplo, 22,4 N/mm para o etanol, que é outro composto de baixo peso molecular). Como veremos, a tensão superficial é um fator importante para o fenômeno da capilaridade, que determina como a água é retida no solo. Figura 5.1 Ilustração das forças de coesão (entre as moléculas de água) e adesão (entre a água e uma su- perfície sólida) em um sistema solo-água. Essas forças são em grande parte resultado das ligações de hi- drogênio, mostradas na forma de linhas tracejadas. A força de adesão, ou adsorção, decresce rapidamentecom a diminuição da distância em relação à superfície sólida. A coesão de uma molécula de água com outra forma aglomerados temporários que estão em cons- tante mudança no tamanho e na forma, à medida que as moléculas individuais se libertam ou se juntam com outras. A coesão entre as moléculas de água também faz com que os sólidos limitem a liberdade dessas moléculas até a interface sólido-líquido. H H O H H O H H OH H H H O H H O H H O H O H H O H H O O H H O H O H H H H O H H O H O H H H O H O H H H O Superfície da partícula de solo AdesãoCoesão Ligações de hidrogênio Figura 5.2 Evidências da tensão superficial da água em nosso dia a dia. À esquerda: insetos pousando na água sem se afundarem. À direita: exemplo de forças de coesão e adesão fazendo com que uma gota d’água seja mantida entre os dedos que se separam. (Fotos: cortesia de R. Weil) Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 149 5.2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CAPILARIDADE E ÁGUA DO SOLO O movimento da água subindo em um pavio é um bom exemplo do fenômeno da capilaridade. Duas são as forças responsáveis pela capilaridade: (1) a atração da água em direção a um sólido (adesão ou adsorção) e (2) a tensão superficial da água, que em grande parte se deve à atração das moléculas de água entre si (coesão). Mecanismos da capilaridade A capilaridade pode ser demonstrada colocando-se a extremidade de um tubo fino de vidro dentro d’água. A água se eleva no interior do tubo e, quanto menor o seu raio interno, mais a água subirá. As moléculas de água são atraídas para os lados do tubo (adesão) e começam a se espalhar ao longo do vidro, em resposta a essa atração. Ao mesmo tempo, as forças coesivas unem as moléculas de água entre si, criando tensão superficial e provocando a formação de uma superfície curva (chamada de menisco) na interface entre a água e o ar do tubo. A pressão menor sob o menisco no tubo de vidro permite que a maior pressão sobre o líquido, que não está em contato direto com as paredes laterais, empurre a água para cima. O processo continua até que a água tenha atingido altura suficiente no tubo para que seu peso equilibre a pressão diferencial na largura do menisco. A altura de elevação em um tubo capilar é inversamente proporcional ao raio interno do tubo r. A ascensão capilar é também inversamente proporcional à densidade do líquido e di- retamente proporcional à sua tensão superficial, bem como ao grau de sua atração adesiva ao tubo (ou superfície do solo). Se limitarmos nossa consideração para a água a uma dada tempe- ratura (por exemplo, 20°C), então esses fatores podem ser combinados em uma única constan- te, e podemos usar uma equação simples da capilaridade para calcular a altura da ascensão h: (5.1) onde h e r são expressos em centímetros. Esta equação nos diz que, quanto mais fino for o tubo, maior será a força capilar e maior a ascensão da água no tubo (Figura 5.3a). Altura da ascensão nos solos As forças capilares atuam em todos os solos úmidos. No entanto, a altura da ascensão e a taxa do movimento capilar são menores do que o previsível, se com base apenas no tamanho dos poros do solo. Uma das razões é que esses poros não são aberturas retilíneas e uniformes como os tubos de vidro. Além do mais, alguns poros do solo estão cheios de ar, o que pode estar dificultando, ou mesmo impedindo, o movimento da água por capilaridade (Figura 5.3b). Sendo o movimento capilar condicionado pelo tamanho dos poros, é a distribuição desses poros, conforme abordado no Capítulo 4, que determina em grande parte a magnitude e a velocidade do movimento da água capilar no solo. Em solos arenosos, a abundância de poros capilares de tamanho médio a grande permite um rápido aumento inicial da ascensão capilar, mas limita a sua altura final2 (Figura 5.3c). As argilas têm uma elevada proporção de poros capilares muito finos; contudo, as forças de atrito diminuem a taxa com que a água se move através deles. Consequentemente, nos solos argilosos a ascensão capilar é lenta, mas, com o tempo, geralmente excede a de solos arenosos. Os solos de textura franca apresentam proprie- dades capilares intermediárias entre os arenosos e os argilosos. 2 Note que, se a água sobe por capilaridade a uma altura de 37 cm acima da superfície livre da água, em um solo de textura arenosa (como mostrado no exemplo da Figura 5.3c), então será possível estimar (reorganizando a equação capilar para r � 0,15/h) que os menores poros contínuos devem ter um raio de cerca de 0,004 cm (0,15/37 � 0,004). Esse cálculo dá uma ideia aproximada do raio efetivo mínimo dos poros capilares em um solo. Mude o raio capilar (Kappilarradius) para ver a subida da água. Universität Heidelberg: http://www.ito.ethz. ch:16080/filep/inhalt/ seiten/exp1200/ animation_1200.htm 150 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos A capilaridade é tradicionalmente ilustrada como uma acomodação para cima. Mas o mo- vimento ocorre em todas as direções, já que as atrações entre os poros do solo e a água são igualmente eficazes na formação de um menisco de água, tanto nos poros horizontais como nos verticais (Figura 5.4). A importância da capilaridade no controle do movimento da água em po- ros pequenos ficará mais evidente quando abordarmos os conceitos de energia da água do solo. Movimento da água por capilaridade (c) (a) (b) Areia grossa Raio do tubo h h h Areia finah (cm) = 0,15 (cm2) r (cm) Tex tura fra nco -aren osa Tex tura fra nco -arg ilos a Textura areia 10 2 3 80 100 60 40 20 0 Tempo (dias) A sc en sã o c ap ila r (c m ) 4 5 6 Figura 5.3 Movimento capilar ascendente da água através de tubos com raios internos diferentes e em solos com dife- rentes tamanhos de poros. (a) A equação capilar pode ser representada graficamente para mostrar que a altura de ascen- são h dobra quando o raio interno do tubo é reduzido pela metade. Essa relação pode ser demonstrada usando-se tubos de vidro de diferentes raios. (b) O mesmo princípio também correlaciona tamanhos de poros em um solo com a altura da ascensão capilar, mas a elevação da água no solo é bastante desordenada e irregular por causa da forma tortuosa e variável do tamanho dos poros do solo (bem como a ocorrência de bolsões de ar aprisionado). (c) Quanto mais fina for a textura do solo, maior será a proporção de poros de pequeno porte e, portanto, maior será também a elevação total da água acima de um lençol freático livre. No entanto, por causa das forças de atrito muito maiores nos poros menores, a as- censão capilar é muito mais lenta nos solos de textura mais fina do que nos de textura arenosa. (Diagramas: cortesia de R. Weil) Figura 5.4 Neste campo irrigado no Estado do Arizona (EUA), a água subiu por capilaridade, distanciando-se do sul- co de irrigação em direção ao topo do camalhão (foto à esquerda), bem como horizontalmente para ambos os lados (foto à direita). (Fotos: cortesia de N. C. Brady) Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 151 5.3 CONCEITOS DE ENERGIA DA ÁGUA DO SOLO Todos os dias podemos perceber que as coisas tendem para um estado de energia mais baixo (e que é preciso fornecer energia e trabalho para impedir que isso acon- teça). Ao usar um telefone celular, a bateria irá descarregar, passando de um estado de carga total e de energia potencial elevada para um estado descarregado, de baixa energia. Se você largar esse telefone, ele cairá de seu estado de energia potencial, rela- tivamente alta, em sua mão, para um estado de menor energia potencial, no chão (onde estará mais perto da fonte de força gravitacional). A diferença nos níveis de energia (a altura acima do chão na qual você está segurando o telefone) determina quão fortemente a transição irá ocorrer. A água do solo não é diferente – ela tende a passar de um estado de alta energia para um de baixa energia. Assim como no caso do celular, a diferença nos níveisde energia da água nos pontos afastados no perfil do solo é o que faz com que ela se movimente. Forças que afetam a energia potencial Na seção anterior, a discussão sobre a estrutura e as propriedades da água mostrou a existência de três forças importantes que afetam o nível de energia da água do solo. A primeira, a adesão, ou atração da água para os sólidos do solo (matriz), fornece uma força matricial (responsável pela adsortividade e capilaridade) que produz uma acentuada redução no estado de energia da água perto da superfície das partículas. A segunda, a atração de íons e outros solutos pela água, resulta em forças osmóticas, as quais exercem a tendência para reduzir o estado energético da água na solução do solo. A movimentação osmótica da água pura, através de uma membrana semipermeável para o interior de uma solução, é uma prova do estado de energia livre mais re- duzido da solução. A terceira grande força em ação na água do solo é a gravidade, que sempre tende a puxar o líquido para baixo. O nível de energia da água no solo em uma determinada altura no perfil é, portanto, maior que o da água a uma altura mais baixa. É essa diferença no nível de energia que faz com que o fluxo de água se direcione para baixo. Potencial da água do solo A diferença no nível de energia da água de uma posição ou de uma condição para outra (p. ex., entre um solo saturado com água e um solo seco) determina a direção e a velocidade do movi- mento da água nos solos e nas plantas. Em um solo saturado com água, a maior parte dela é re- tida em poros grandes na forma de espessas películas em torno de partículas; portanto, a maioria das moléculas de água em um solo nessas condições não está muito próxima de uma superfície de partícula e, por isso, não são retidas com muita força pelos sólidos (ou matriz) do solo. Dessa forma, as moléculas de água têm uma considerável liberdade de movimento, sendo que seu nível de energia permanece próximo ao das moléculas de água pura, como em uma poça d’água sobre o solo. No entanto, em um solo mais seco, a água residual está localizada em pequenos poros dentro dos quais ela está na forma de delgadas películas – permanecendo, assim, firmemente retida pelos sólidos do solo. Por isso, as moléculas de água em um solo não saturado têm pouca liberdade de movimento, e seu nível de energia é muito menor do que o das moléculas de água no solo saturado. Se as amostras de solo saturado e seco são postas em contato umas com as ou- tras, a água vai passar do solo saturado (estado de alta energia) para o solo seco (baixa energia). Para avaliar o estado da energia da água do solo em uma determinada posição do seu per- fil, seu nível de energia é comparado com o da água pura em temperatura e pressão normais, não afetada pelo solo e localizada a certa altura de referência. A diferença de níveis de energia entre esta água livre, no estado de referência, e o da água do solo é denominado potencial da água do solo (Figura 5.5). Os termos potencial e pressão implicam em uma diferença no estado de energia. A água irá passar de uma zona do solo com alto potencial para outra com Energia da água do solo e sua dinâmica: http://faculty.washington. edu/slb/esc210/soils15.pdf 152 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos um menor potencial de água do solo. Esse fato deve ser sempre considerado quando estamos cogitando sobre o comportamento da água nos solos. Diversas forças estão envolvidas no potencial da água do solo, sendo cada uma delas um componente do potencial total da água do solo, �t. Esses componentes decorrem de dife- renças nos níveis de energia, os quais são o resultado das forças gravitacional, matricial, hi- drostática submersa e osmótica – chamados, respectivamente, de potencial gravitacional, �g, potencial matricial, �m, potencial hidrostático, �h, e potencial osmótico, �o. Todos esses componentes atuam simultaneamente, influenciando o comportamento da água nos solos. A relação geral do potencial da água do solo com os níveis de energia potencial é ilustrada na Figura 5.5 e pode ser expressa como: �t � �g + �m + �o + �h + ... (5.2) onde as reticências (...) indicam a possível contribuição de potenciais adicionais ainda não mencionados. Potencial gravitacional A força da gravidade atrai a água do solo em direção ao cen- tro da Terra. O potencial gravitacional, �g, da água do solo é o produto da aceleração decorrente da gravidade e da altura da água no solo acima de um plano de referência. A altura do plano de referência é geralmente escolhida dentro do perfil do solo, ou no seu limite inferior, para garantir que o potencial gravitacional da água do solo acima do plano de referência seja sempre positivo. Potencial gravitacional: http://zonalandeducation. com/mstm/physics/ mechanics/energy/ gravitational PotentialEnergy/ gravitationalPotential Energy.html 0 + – – Energia potencial da água do solo em uma altura maior que a do estado de referência padrão O nível de energia potencial da água livre em estado de referência padrão é dado como zero Potencial gravitacional Nível da energia potencial da água contendo sais e outros solutos O n ív el d e en er g ia é m ai o r d o q ue n o p la no d e re fe rê nc ia p ad rã o P o si ti vo O n ív el d e en er g ia é m en o r d o q ue a á g ua p ur a e liv re no p la no d e re fe rê nc ia N eg at iv o Nível da energia potencial da água atraída pelos sólidos (matriz) do solo Potencial osmótico Potencial matricial Figura 5.5 Relação entre a energia potencial da água livre em um estado de referência padrão (pressão, temperatura e altura) e a da água do solo. Se a água do solo contém sais e outros solutos, a atração mútua entre as moléculas de água e estes compostos químicos reduz a energia potencial da água, sendo o grau de redução denominado potencial osmótico. Da mesma forma, a atração mútua entre os sólidos (ou matriz) do solo e as moléculas da água do solo tam- bém reduzem a energia potencial da água. Neste caso, a redução é chamada de potencial matricial. Uma vez que am- bas as interações reduzem o nível da energia potencial da água quando comparado com o da água livre, as mudanças no nível de energia (potencial osmótico e matricial) são todas consideradas negativas. Em contraste, as diferenças de energia devidas à gravidade (potencial gravitacional) são sempre positivas, porque a altura de referência da água livre é propositadamente indicada em um ponto no perfil do solo, inferior ao da água do solo. A raiz de uma planta, quando tenta remover água de um solo úmido, tem que superar todas essas três forças simultaneamente. Capítulo 5 A Água do Solo: Características e Comportamento 153 Após fortes chuvas, derretimento de neve ou irrigação, a força da gravidade desempenha um importante papel na remoção do excesso de água dos horizontes superiores, bem como na recarga das águas subterrâneas situadas abaixo do perfil do solo (Seção 5.5). Potencial de pressão O componente de pressão potencial é responsável por todos os outros efeitos do potencial da água do solo, além da gravidade e dos níveis de solutos. O potencial de pressão, na maioria das vezes, inclui (1) a pressão hidrostática positiva decorrente do peso da água em solos saturados e aquíferos e (2) a pressão negativa decorrente das forças de atração entre a água e os sólidos ou a matriz do solo. O potencial hidrostático, �h, é um componente que é operacional apenas para água em zonas saturadas abaixo do lençol freático. Qualquer pessoa que tenha mergulhado para o fun- do de uma piscina já sentiu a pressão hidrostática nos seus tímpanos. A atração da água para as superfícies sólidas dá origem ao potencial matricial, �m, que é sempre negativo porque a água atraída pela matriz do solo tem um estado de energia menor do que o da água livre. (Essas pressões negativas são muitas vezes referidas como sucção ou tensão, significando que os seus valoressão positivos.) O potencial matricial opera em um solo não saturado situado acima de um lençol freático (Figura 5.6). O potencial matricial, �m, que resulta de forças adesivas e capilares, influencia tanto a re- tenção como o movimento da água do solo. Diferenças entre os dois �m de duas zonas adja- centes do solo promovem o movimento da água de áreas mais úmidas (estado de alta energia) para áreas mais secas (estado de baixa energia) ou de poros grandes para poros pequenos. Embora esse movimento possa ser lento, ele é extremamente importante para o fornecimento de água às raízes das plantas e para aplicações em obras de engenharia. Potencial osmótico O potencial osmótico, �o, é atribuído tanto à presença de solutos inorgânicos como orgânicos na solução do solo. Como as moléculas de água se aglomeram em torno dos íons ou de moléculas de solutos, a facilidade de circulação (e, portanto, a energia potencial) da água é reduzida. Quanto maior a Animação sobre osmose: http://www.stolaf. edu/people/giannini/ flashanimat/transport/ osmosis.swf 0 Potencial de pressão Potencial hidrostático, valores positivos – + + Nível freático Profundidade no perfil do solo – PotencialPotencial matricial,matricial, valores negativosvalores negativos – Potencial matricial, valores negativos Figura 5.6 Tanto o potencial matricial como o hidrostático são potenciais de pressão que podem contribuir para o potencial total da água. O potencial matricial é sempre negativo, e o hidrostático é positivo. Quando a água está em um solo não saturado acima do lençol freático (acima da zona saturada), ela está sujeita à influência de potenciais matriciais. Por outro lado, a água situada em um solo saturado abaixo do nível freático está sujeita a potenciais hidros- táticos. No exemplo mostrado aqui, o potencial matricial diminui linearmente à medida que a altura acima do lençol freático aumenta, o que significa que a água que se eleva acima do lençol freático, por atração capilar, é a única fonte de água neste perfil. A chuva ou a irrigação (ver linha pontilhada) iria alterar (ou curvar) a linha reta, mas não alteraria as relações fundamentais aqui ilustradas. 154 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos concentração de solutos, mais reduzido será o potencial osmótico. Como sempre, a água tenderá a se mover em direção a um ponto onde seu nível de energia é menor; neste caso, para a zona de maior concentração de soluto. No entanto, a água em estado líquido somente se moverá em resposta a diferenças de potencial osmótico (o processo denominado osmose) se existir uma membrana semipermeável entre as zonas de alto e baixo potencial osmótico, permitindo que somente a água passe e impedindo o movimento do soluto. Se nenhuma mem- brana estiver presente, o movimento do soluto, em vez do da água, iguala em grande parte as concentrações. Por as diferentes zonas do solo normalmente não estarem separadas por membranas, o potencial osmótico, �o, tem pouco efeito sobre o movimento da massa de água dos solos. Seu efeito principal é constatado pela absorção de água pelas células das raízes das plantas que estão isoladas da solução do solo pelas suas membranas celulares semipermeáveis. Em solos ricos em sais solúveis, �o pode ser menor (ter um valor negativo maior) na solução do solo do que nas células da raiz da planta; isso leva a restrições na absorção de água pelas raízes das plantas. Em um solo muito salino, o potencial osmótico da água do solo pode ser suficientemente baixo para fazer com que plântulas novas entrem em colapso (ou se plasmolisem) à medida que a água caminha das células para a zona de menor potencial osmótico do solo. Métodos de expressão dos níveis de energia Várias unidades podem ser usadas para expressar as diferenças nos níveis de energia da água do solo. Um deles é a altura de uma coluna de água (geralmente em centímetros), cujo peso se iguala ao potencial considerado. Já vimos esse meio de expressão quando definimos o signi- ficado do h na equação da capilaridade (Seção 5.2), a qual nos fornece o potencial matricial da água em um poro capilar. Uma segunda unidade é a pressão atmosférica padrão ao nível do mar, que é de 760 mm Hg ou 1020 cm de água. Outra unidade denominada bar tem valores aproximadamente iguais aos da pressão de uma atmosfera padrão. A energia pode ser expressa por unidade de massa (joules/kg) ou por unidade de volume (newtons/m2). No Sistema Internacional de Unidades (SI), 1 pascal (Pa) é igual a 1 newton (N) atuando sobre uma área de 1 m2. Neste livro, usamos Pa ou quilopascal (kPa) para expressar o potencial de água no solo. Considerando que outras publicações podem usar outras unidades, a Tabela 5.1 mostra a equivalência entre os meios mais comuns de expressar os potenciais da água do solo. Tabela 5.1 Equivalentes aproximados entre expressões de potencial da água do solo e o diâmetro equivalente de poros esvaziados de água Altura da coluna unitária de água, cm Potencial da água do solo, bars Potencial da água do solo, kPaa Diâmetro equivalente de poros esvaziados, �mb 0 0 0 – 10,2 –0,01 –1 300 102 –0,1 –10 30 306 –0,3 –30 10 1.020 –1,0 –100 3 15.300 –15 –1.500 0,2 31.700 –31 –3.100 0,97 102.000 –100 –10.000 0,03 a A unidade SI quilopascal (kPa) é equivalente a 0,01 bars. b Menor poro passível de ser esvaziado pela tensão equivalente, como calculada usando-se a Eq. 5.1. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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