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- ?Gll: UFRN, 1995. , o fa to de o Colégio NEGROS E EDUCAÇÃO , E.1sina-lhes latim. NO BRASIL ~ ::.i tações são dessa LUIZ ALBERTO OLIVEIRA GONÇALVES J'I'o---.'L<D"', escreveu Zaira -: :ém da ilustração, Rio de Janeiro: _ : T. Queiroz Edi ~ro que o Decreto _-.:::: ~acultava à mulher _~ ministro positivista :-_ ci t., p. 183. - 5. o também foram __do para o francês. -: ~ Paula Brito, 1845. ,"J, Florença, 1859. O título Cintilações ~ relações sexuais, r a amamentação _:.._ 1. op. cit., p. 97-8. veniência de as .~ eitos de uma boa K. C. de. & ' . ,1. Paris: Denoel gravidade da situação educacional dos negros élparece de forma gritante, não quan do comparamos negros e brancos, mas quando comparamos negros per tencentes a gerações mais jovens (en tre 20 e 40 anos) com outros negros mais idosos (entre 60 e 80 anos ou mais).1 Estes, cuja infância e juventu de estão mais próximas do início do século XX, padeéem de altíssimos ín dices de analfabetismo. Por exemplo, em um total de 3 milhões, o percen tual é de 70%. Entre as mulheres a si tuação é pior: quase 90%. Não é preciso muito esforço para constatar a precariedade da si tuação educacional desse segmento étnico. Há uma esperada inversão nas expectativas geracionais de forma que quanto mais diminui a idade mais aumenta o grau de escolarização. Desnecessário dizer que são os mais jovens (entre 20 e 40 anos) os que têm mais anos de contato com o sistema de ensino. Ao mesmo tempo, temos uma radiografia completa de como se distribuem os níveis de escolarização entre os negros brasileiros pertencen tes a diferentes gerações. De certa forma, esse estudo ge racional suscita uma série de questões e questiona a universalidade de um mito da teoria crítica educacional tão em voga, de que o sucesso escolar de pende, em grande medida, do capital cultural, em geral localizado na famí lia. Diante de nossos dados brutos, a situação é outra. Podemos teoricamen te vislumbrar três gerações - filhos, pais e avós - em es tágios de escolari dade absolutamente diferentes uns dos outros.2 Ao examinar a situação educa cional dos negros brasileiros, deve mos mudar a direção de nossos questionamentos. Não é mais possí vel continuar associando mecanica mente sucesso escolar e escolaridade dos pais. A questão é saber como avós analfabetos influenciaram a pouca es colarização de seus filhos, e como es tes, apesar da pouca escolaridade, têm estimulado suas gerações futu ras a terem êxito na escola . Sem desmerecer a importância do papel do capital cultural da famí lia no desempenho escolar das crian ças e dos jovens, no caso da população 500 anos de educação no Brasil Cel. Antonio Carlos, um dos fundadores do Centro Cívico Palmares, entregando diploma auma das formandas da primeira turma do curso de Corte e Costura (Belo Horizonte, 1952). negra no Brasil, esse papel teria de ser relativizado. Não foi por acaso que as mudanças começaram a ser significativas para as faixas etárias que, em 1990, estavam entre 20 e 40 anos, ou seja, indivíduos que nasceram no período caracteri zado pela expansão das políticas públicas ed ucacionais. Não é possível fixar o olhar apenas sobre as famílias, se se quiser saber o que aconteceu na educação das gerações mais novas é preciso fixá-lo também no Estado. A escola pública univer sal e gratuita teve algum peso na referida expansão. As idéias que pretendemos desenvolver, a seguir, falam do abandono ao qual os negros foram relegados: quem teria se ocupado de sua educação no período colonial ou mesmo nos anos imediatamente após a Abolição da Escravatura? Como os negros se organizam no início do século XX para lutar contra as precárias condições educacionais e contra o abandono a que foram deixados na fase de expansão urbana do país? COMECEMOS PELO ABANDONO. DE ONDE VEM ESSA IDÉIA? Fomos levados a buscar as possíveis respostas a essas importantes questões no século XIX. Este, apesar de já estar mos em plena travessia para o século XXI, permanece, para nós, tão misterioso quanto fascinante. Nele podemos estudar como o governo imperial preparou-se para garantir os cuida dos com as crianças negras, após a Lei do Ventre Livre de 1871. Exigia-se que os senhores de escravos tomassem a seu encargo as crianças livres até a idade de oito anos . No caso de abandono, previa-se que essas crianças fossem encaminhadas a instituições estatais criadas para esse fim. 3 326 - ~ :om assem a seu '::1OS. No caso de encaminhadas Negros e educação no Brasil - Luiz Alberto Oliveira Gonçalves Sobre essas instituições há al guns poucos estudos que apontam a existência de iniciativas, seja da par te do govern04 ou de certos setores privados das elites dominantes, que envolviam medidas visando à edu cação das crianças negras livres. Não foram, entretanto, iniciativas que se universalizaram. Embora os dados acerca das ações desenvolvidas por essas instituições sejam ainda parcos, sabe-se que uma delas nunca rece beu uma criança sequer.s As pesqui sas que já estão em andamento sobre essas instituições certamente nos trarão informações interessan tes quanto ao seu funcionamento, mas dificilmente poderemos dizer que elas responderam às necessida des educacionais das crianças negras. Em outros termos, a situação de aban dono não foi por elas superada. Podemos estudar ainda no sé culo XIX iniciativas voltadas para a educação de adultos . Criaram-se, as sim, os cursos noturnos, pelo Decreto 7.031 de 6 de setembro de 1878. No ano seguinte, a Reforma do Ensino Primá rio e Secundário proposta por Leôn cio Carvalho completava o projeto educacional do Império: instituía a obrigatoriedade do ensino dos 7 aos 14 anos e eliminava a proibição de escra vos freqüentarem as escolas públicas. Há registros de que em algumas pro~ víncias os escravos não só eram incen tivados a freqüentar aulas noturnas como de fato as freqüentavam. 6 Os cursos poderiam ser criados ou por de cisão dos poderes públicos ou por par ticulares, incluindo associação ejou entidades literárias e políticas? O fato de existirem iniciativas com vistas à inclusão dos escravos e dos negros livres em cursos de instru ção primária e profissional não nos autoriza inferir que essa tenha sido uma experiência universal. Porque não foi. A esse respeito, Peres nos cha ma a atenção para aquelas provín cias, como a do Rio Grande do Sul, onde "não só havia escolas que não ad mitiam a hipótese de matricular escra vos como também se negavam aceitar os negros livres e libertos" .8 A autora sugere que os cursos nos quais se re gistrava alguma presença de negros, eram aqueles encabeçados por"abo licionistas, republicanos e, ainda, fer renhos críticos da Igreja católica e defensores da instrução para o pOVO"9 Em outros termos, serviam-se desses cursos para divulgar idéias contra o sistema escravista e aproveitavam para envolver negros (livres, escravos ou libertos) na causa abolicionista. E ainda, como pretendiam "incutir pre ceitos de moralidade e civilidade", algo que se acreditava não existir nos africanos e seus descendentes, "as au las não podiam prescindir da presen ça dos negros" .10 Embora tenham existido inicia tivas dessa natureza, os registros sobre a participação efetiva dos negros são incipientes. Através deles é muito difí cil ou quase impossível saber quem, de fato, era negro. Como muitos desses cursos continuaram a existir após a Abolição, era de se esperar que as bar reiras que a mentalidade escravista criara para dificultar a freqüência de negros nas aulas noturnas diminuíssem ou desaparecessem. Mas não foi isso 327 500 anos de educação no BrasIl que aconteceu. A República não expandiu os direitos políti cos imediatamente após sua proclamação, nem garantiu o acesso de todos à educação durante muitas décadas. Agra vou-se muito a situação dos negros, que após a LeiÁurea foram lançados à própria sorte. Saltemos, assim, para uma segunda hipótese aparen temente plausível, uma vez que ela nos remete a sólidas associa ções religiosas cujos traços podem ser recuperados no século XVIII: são as irmandades dos negros católicos. Teriam elas exercido algum papel na educação dos negros brasileiros? Tal hipótese foi amplamente difundida no Brasil em 1988, por ocasião do Centenário da Abolição da Escravatura, momento em que teólogos e agentes pastorais negros busca vam recuperar o papel evangelizador da Igreja católica e sua ação na defesa dos oprimidos. Mas essas idéias, como mui tas outras, precisam ser relativizadas e contextualizadas para que se possa, de fato, avaliar seu potencial explicativo. NãO temos a intenção de polemizar para provar ou contestar o papel educador do associativismo católico ne gro, no século XIX. Ele existiu, difundiu-se e teve função bastante definida em várias regiões brasileiras . Resta saber se ele nos ajuda a compreender os processos educativos que envolviam os descendentes de africanos na travessia do século XIX para o XX . Para darmos conta dessa tarefa estudamos basicamente obras de história ou de antropologia, nas quais os autores apre sentam alguma interpretação acerca das ações desenvolvidas pelas irmandades de negros católicos brasileiros. São estudos riquíssimos. Comparados entre si, dão-nos um formidável pa norama do quão controversas eram as funções desempenha das por aquelas"confrarias de homens pretos". Por meio dessas divergências, construimos nosso modelo interpretati vo realçando todos os aspectos que, de certa maneira, indica vam como as irmandades acabavam influenciando o comportamento de seus membros. Dada a condição em que os escravos africanos foram lançados no continente americano, muitos pesquisadores bus caram compreender como se deu o processo de integração desses seres humanos em um ambiente que lhes era hostil, dominado pelos valores e pela cultura dos povos colonizado res. O cristianismo, em qualquer de suas versões, teve um papel muito importante na conversão de muitos cativos. 328 Negros e educação 110 Brasd - Luiz Alberto Oliveira Gonçalves Grandes mestres da Sociologia mínima condição de oferecer as ba já mostraram o quanto o cristianismo ses da emancipação dos negros ou foi crucial na construção do mundo seja, não tinha condição de educá-lo - a Lei Áurea moderno. Com ele se difunde e se ex para a liberdade. Para isso, somos pande a noção de sujeito que liberta tentados a comparar o papel da reli os indivíduos das amarras do siste gião dos colonizadores no Brasil e ma. Foi por meio da noção de sujeito nos Estados Unidos, no que se refere que os indivíduos passaram a lutar à libertação dos escravos. Isso ajuda contra todo tipo de dominação.]] Por a nossa argumentação. mais que essas idéias sejam atraen É do conhecimento de todos que tes, não concordo plenamente com a colonização desses países se deu sob elas. Nas conquistas iniciadas no sé a égide do cristianismo. Enquanto en culo XVI, as religiões dos coloniza tre nós dominou a doutrina católica, o dores eram cristãs. Entretanto, o protestantismo evangelizou, todo-po cristianismo dos colonizadores portu deroso, aquela imensa colônia da g~eses não emancipou os negros es América do Norte. cravos nem os livres. Ele não foi uma Em relação ao período colonial, religião da liberdade. Ao contrário, ele muitas comparações já foram feitas "legitimou prática e teoricamente o entre essas duas nações. Não temos, sistema colonial", aplicando castigos aqui, qualquer intenção de repeti-las. "aceitos na época como princípio mo Interessa-nos, sim, lançar algumas ral da formação do trabalhador" e idéias quanto ao papel do cristianis ameaçando os escravos fujões com a mo na educação dos negros, lá e cá. excomunhãoY Quando se fala em ca Comecemos assinalando algutequese dos negros, não há qualquer mas diferenças remarcáveis. Essasindício de que a educação dos cativos J autores apre nada têm a ver com a famosa dicotoestivesse nos planos da Igreja católi ..: d esenvolvidas mia criada por Gilberto Freyre, na qualca. Todas as vezes que evocamos o . São estudos o catolicismo dos senhores de escravosdescaso da Igreja para com a educa ~ formidável pa- brasileiros era tolerante e doce, enção dos negros no Brasil no período desempenha colonial, há sempre uma boa alma que quanto o protestantismo dos proprie _:-etos". Por meio tários estadunidenses era intolerantenos lembra do magnífico trabalho dos _~elo interpretati artistas mestiços do barroco mineiro e cruelY A diferença que inicialmen maneira, indica que bebiam, certamente, nos cálices di te assinalamos refere-se à qualidade : :1 ~ ! llenciando o vinamente dourados de Ouro Preto ou das relações que esses dois grupos de de São João Del Rey. Mas não são os representantes do escravismo no : .' à · icanos foram acidentes históricos que nos interes Novo Mundo estabeleciam com suas ~ _.::quisadores bus sam no momento e sim as regularida próprias convicções religiosas. de integração des da vida cotidiana. Roger Bastide oferece-nos um _ lhes era hostil, Seria mais interessante exami retrato dos proprietários de escravos colonizado nar algumas si tuações que mostram as muito interessante. Segundo ele, o . -ersões, teve um razões pelas quais o catolicismo prati aristocra tismo desses proprietários ~:os cativos. cado no Brasil colonial não tinha a era tão acintoso que criava entre eles 329 500 anos de educação 110 Brasil Solenidade de formatu ra da segunda turma do curso de Corte e Costura oferecido pela Associação José do Patrocínio. (Belo Horizonte, 1956). e seus cativos uma distância social extrema. Isso fez com que ficassem, durante muito tempo, absolutamente indiferentes quanto às manifestações religiosas dos escravos africanos14 Foi em função da arrogância e da indiferença dos pro prietários de escravos que cultos africanos puderam ser in troduzidos em solo brasileiro, criando seus próprios "nichos": lundus, candomblés, candombes, jongos.. . 15 A partir dessas observações, podemos interrogar-nos: se os proprietários de escravos brasileiros eram, de fato, indi ferentes ao que se passava no universo religioso dos cativos, quem, então, se interessava por sua evangelização? Tudo indica que era a própria Igreja católica e foi dura a batalha dos santos padres para convencer os proprietários de suas responsabilidades cristãs quanto ao batismo obrigaI~ tório dos negros 1 6 Os senhores adotavam a famosa posição do "tanto faz como tanto fez". O fato de africanos serem con vertidos ao catolicismo e, mesmo assim, continuarem sendo escravos não abalava, de forma alguma, a consciência cristã dos escravocra tas brasileiros. Mas não foi assim que as coisas se deram nos Estados Unidos. A evangelização dos escravos naquele país não era, em hipótese alguma, vista como algo puramente formal, sem qualquer conseqüência para a instituição cristã. Os proprietá rios de escravos proibiam aos negros o sacramento da conver são . Na verdade, "os cristãos brancos impediam, aos escravos, acesso à cristianização por causa das implicações de igualda de na Bíblia"Y Como no contexto do cristianismo protes tante evangelizar pressupunha educar em sentido pleno, tinha-se medo de que "a educação dada aos negros pudesse 330 Negros e educação no Brasil- Luiz Alberto Olivr::Íra Gonçalves - _:erença dos pro ::,uderam ser in prios "nichos": _~ I terrogar-nos: ~ .. :11, de fato, indi - 7 050 dos cativos, ção? - :ó lica e foi dura "'_ proprietários ..: - atismo obriga ~ :a mosa posição __ .:: . l OS serem con . .. :nuarem sendo ;:: )nsciência cristã : 2c::-am nos Estados :::~ . e país não era, __ '::!' e formal, sem ~~:§. Os proprietá .L:.ento da conver _ ::n, aos escravos, . ;Õ€s de igualda õ-'anismo protes ~~ sentido pleno, ==. egros pudesse setransformar em fonte de rebelião anti-escravista".18 Os senhores de es cravos nos Estados Unidos considera vam o batismo como um atentado a seus direitos de proprietário.19 Temos, assim, duas maneiras opostas de se lidar com doutrinas e princípios religiosos, o que levou as Igrejas, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a adotarem postu ras em consonância com a forma pela qual os proprietários de escravos viam respectivamente suas respon sabilidades enquanto cristãos. No período colonial, o clero, apesar da negligência dos proprietá rios, ocupava-se de tudo o que se re feria à conquista de alma do cativo: batismo, catequese e outros sacramen tos. 20 O sacramento de conversão do africano era importante para o clero católico ao ponto de levá-lo a interfe rir na legislação das províncias para controlar a instituição do compadrio, que ficou proibido aos negros, segun do uma "interdição" publicada em 1719, na província 'de Minas Gerais. Nela se dizia: "os negros não poderão nunca serem padrinhos de outros ne gros, porque eles são bárbaros e inca pazes de catequizar e doutrinar seus afilhados através da ciência e da pre ocupação dos homens brancos, que fo ram nutridos com o leite da Igreja".21 Embora os historiadores te nham assinalado as preocupações da Igreja católica de catequização dos ne gros no Brasil, não há registros de uma ação educativa que os iniciasse na ár dua tarefa da leitura dos evangelhos. A palavra escrita lhes era inacessível. Como eram então doutrinados? 331 No catolicismo imposto às classes populares "a figura do Cris to Revelado no Novo Testamento é pra ticamente desconhecida"22 São os "santos" que estão na base do catoli cismo popular. Assim, a catequese dos africanos no Brasil não se fez acompanhar de um processo que pressupusesse, antes de mais nada, a aquisição da leitura . Na realidade, não se buscava decifrar no Novo Tes tamento as mensagens do Cristo Re velado; o catolicismo dos negros, no período colonial, foi estruturado a partir de suas devoções aos santos e à Virgem Maria. O que de fato eram as irmandades? Que função preen chiam na vida colonial? Alguns estudiosos definiram nas como "associações de tipo mutua lista ou corporativista", funcionando paradoxalmente nos interstícios de uma sociedade colonial dividida en tre senhores e escravosY Enquanto ideal tipo, as irmandades religiosas dos negros correspondem ao conceito de associação tal qual o descreveu George Simmel, a saber: uma forma social de longa duração cujo conteú do pode mudar, até desaparecer, sem que se altere a forma 24 Muitas irman dandes foram construídas no século XVIII e existem até os nossos dias. É importante ressaltar que es sas irmandades não surgiram de uma necessidade associativa dos negros, nem religiosa nem profana; os escra vos conservavam suas formas pró prias de associação. As irmandades foram criadas verticalmente pelo Es tado português, pois, no período co lonial, o Estado era o único agente 500 anos de educação no Brasil que podia autorizar a construção e o funcionamento de uma irmandade. 2s Entretanto, o terreno, os templos e outros pré dios construídos pelos membros das irmandades eram in corporados ao patrimônio da Igreja, graças a um contrato firmado com o Estado. Que tipo de problema poderiam as irmandades solu cionar caso fossem autorizadas a funcionar na colônia? Na literatura sobre o assunto, encontramos duas respostas. A primeira mostra claramente que coroa portuguesa, quando pressionada a autorizar a construção de irmandan des na colônia, viu nisso uma saída para se livrar das cláusu las do contrato que a obrigava a construir igrejas e assegurar o culto no Brasip6 A segunda não deixa dúvida de que as irmandades se riam uma solução que iria ao encontro do racismo dos proprie tários de escravos. Constrangidos pela hierarquia eclesiástica a catequizar seus escravos e a introduzi-los no mundo cristão, os escravocratas viram nas irmandades uma ótima oportlmidade para separar de uma vez por todas as igrejas dos brancos da igreja dos negrosY Ou seja, mandavam seus escravos à missa, entretanto não suportavam conviver com o mau cheiro exalado por eles.28 Como bons cristãos, agiram para conversão de seus escraVOS sem precisar aceitá-los no mesmo espaço de culto. Entretanto, as irmandades, assim como a Igreja católica como um todo, estavam atravessadas pelo"dualismo funda dor" da sociedade brasileira - senhores e escravos. Por causa dessa dualidade, elas acabavam refletindo divisões e conflitos de classe e de raça. 29 Refletiam rivalida des entre as próprias irmandades em fun ção de nações africanas revitalizadas no interior de cada irmandade (congos, ban tos ... ). Havia irmandades cuja presença majoritária era de africanos, que disputa vam com outras irmandades de negros já nascidos no Brasil (os crioulos), que se batiam contra as irman dades dos mulatos e assim por diante. As irmandades eram, para os negros e mulatos livres, um local onde podiam exercer uma "atividade mais social que mística", eram "um canal de ascensão social, um meio de melhorar o status quotidiano".3o Embora tenham constituído suas irmandades, os ne gros e os mulatos continuavam subordinados ao controle dos brancos; eram organizações leigas, mas "tinham sua direção 332 Negros e educação no BrasIl- Luiz Alberto Oliveira Gonçalves to de uma - o :rmandades solu irmandades se "';-mo dos proprie . eclesiástica a . lUl.do cristão, os - -'-'.l1a oportunidade _ i;.- dos brancos da __cravos . Por causa ~\-isões e conflitos ::-".21etiam rivalida .ar\dades em fun ,, ~ revitalizadas no :la e (congos, ban - ':es cuja presença ~os, que disputa _:ades de negros já . . contra as irman _'"TI1.andades eram, _ ':e podiam exercer "wn canal de diretamente subordinada ao vigário que controlava as decisões".3] Essa su bordinação corresponde à fase de mu dança das instituições católicas "fim do regime do Padroado", e foi ne cessário ao clero tomar medidas que garantissem sua unificação e sua au toridade sobre os leigos, "organizados em irmandades, confrarias, com lide ranças leigas e autônomas".32 O clero retomou o controle e centralizou o poder no Papa. Esse processo ficou co nhecido como "romanização do cato licismo brasileiro" .33 Ainda que representando a se paração de dois catolicismos - o dos brancos e o dos homens de cor - não chegou a existir no Brasil uma rup tura total entre eles tal como havia ocorrido nos Estados Unidos. Segun do Bastide, isso não ocorrera no Brasil porque as irmandades não permitiam à "consciência de raça exprimir-se através da experiência mística, já que o catolicismo negro era controlado por um líder branco".34 Voltando nossa atenção para o clero protestante nos Estados Uni dos, podemos perceber que sua pos tura reforça a separação das Igrejas ao extremo. Visto que para os proprietá rios o batismo de seus escravos re presentava uma ameaça a seus direitos, coube ao clero elaborar tex tos eclesiásticos consistentes, sepa rando o cristianismo da liberdade civil. Segundo a declaração do bispo anglicano de Londres, que viveu na primeira metade de 1800, os escravos podiam vir a ser cristãos e abraçar o evangelho sem causar qualquer dano para seus proprietários, pois a liber dade que o cristianismo oferecia aos cativos nada tinha a ver com a liber dade civil. Liberdade cristã significa va "a liberação do pecado de Satã, da concupiscência, das paixões e dos de sejos incontrolados". 35 Quanto à con dição de homem livre ou cativo, nada disso seria alterado.36 Foi portanto dentro dessas preocupações que se efetuou, nos Es tados Unidos, a separação social dos cultos. A segregação começa nas igre jas, mas depois ela se espalha para toda sociedade estadunidense.37 A se paração racial das igrejas se realizou, primeiro no norte dos Estados Unidos,à época, antiescravista, e não no sul, a sede da aristocracia racista. Para Cone, esse fato mostrava que o anti escravismo do norte estadunidense não era tão humanitário como se ima ginava. Na realidade, a escravidão não era vital para a economia daque la região, tal como era para a região sul. Os proprietários do norte se pre ocupavam com os negros não como mão-de-obra indispensável para a la voura, mas como elementos úteis em suas campanhas pró-abolicionistas. Por isso, consentiam e toleravam igre jas só para negros, com líderes reli giosos negros.38 Já no sul, intolerantes e tradicio nais, os proprietários de escravos su listas não admitiam a separação das igrejas. Viam o liberalismo do norte com escárnio e medo, uma vez que re voltas abolicionistas eram geradas no interior das igrejas freqüentadas pelos negros. Como autodefesa, proibiam, por meio de leis, qualquer iniciativa 333 500 anos de educação no Brasd que oferecesse aos negros educação; vetavam-lhes o direito de se organizarem sem a vigilância dos brancos.39 De certa forma, vários estudos mostram que a separação dos cultos nos Estados Unidos, embora tenha aprofundado o sistema segregacionista, favoreceu a constituição não de uma igreja para os negros, mas de uma Igreja negra.40 Foi a partir daí que surgiu uma Teologia Negra - a leitura do Evangelho, mensagens do Cristo Revelado, tendo como referência a práti ca e a experiência dos "povos negros". Liberdade de culto e direito de livre organização passam a ser sinônimos. Bem ou mal, a separação das igrejas no norte dos Esta dos Unidos teve importante papel na vida cultural estadu nidense pós-abolição. O protestantismo ensinou os negros a ler, a escrever, a encontrar formas artísticas para expres sar os sofrimentos vividos. Os Blues e os Negro-spirituals são apenas uma parte desse movimento.41 Tudo isso contri buiu para criar uma subcultura. Do gueto? Muito provavel mente. Mas foi a partir daí que os teólogos negros acreditavam que nasceria o verdadeiro Cristo.42 Um Cristo que conclamava uma Igreja capaz de ajudar a liberar os cris tãos negros do racismo da sociedade. Uma Igreja autônoma dirigida por negros e ao serviço de suas reivindicações.43 . Como se pode ver, em dois países cristãos tivemos dois modelos de cristianização, com impactos muito diferentes na educação dos negros. Mas será que as irmandades não influen ciaram o comportamento dos negros? Vimos que não deram contribuição alguma à sua escolarização, pelo menos no perío do que se situa entre a segunda metade do século XIX e a pri meira do século XX, mas contribuíram muitíssimo para preservar tradições africanas. Se quisermos entender o lado da resistência, temos que entender como funcionavam essas irman dades. Embora supervisionadas por brancos, elas incorpora ram elementos africanos, o que fez com que o catolicismo negro brasileiro tivesse algo de original. Vale talvez destacar a seguir como elas contribuíram para educar os negros no Brasil. Antes porém gostaríamos de situar em que perspecti va pretendemos examinar o tema da educação. Como dito anteriormente, ao fazer o balanço da situação educacional dos negros no Brasil, concentramos nossas observações na quilo que se referia à escolarização (graus e níveis de educa ção escolar). Mas sabíamos que operávamos em limites assaz estreitos. Como muitos outros pesquisadores compartilhamos 334 Negros e educação no Brasil - Luiz Alberto Olivelic7 Gonçalves -am-Ihes o direito ::l que a separação aprofundado o .:.:..ição não de uma : a.40 Foi a partir :- -ra do Evangelho, :-eferência a práti - Idade de cul to e 7:- -inou os negros .__,-as para expres _~ _ egro-spírítuals udo isso contri - _1uito provavel -_ó logos negros 42 Um Cristo -greja autônoma -:-~ - -indicações_43 - menos no perío <_ -ulo XIX e a pri ~ r -am essas irman : _=- elas incorpora .:. :::atolicismo negro destacar a seguir no BrasiL :: :'1i\ eis de educa- o tm1 limi tes assaz ::ompartilhamos da idéia de que ed ucação não se res tringe à aquisição da escrita, menos ainda ao saber exclusivamente esco lar. Colocaremos, aqui, o acento nos processos de educação para a cida dania . Foi por meio deles que os ne gros brasileiros aprenderam a lutar contra o preconceito e a discrimi nação raciais, incluindo em seu ideário reivindicações que visavam romper com o abandono exigindo di reitos sociais e iguais oportunidades de educação e trabalho. Na realidade, quando falamos em educação o mais adequado seria buscar nas ações de pessoas, grupos ou instituições indícios de que têm a capacidade de alterar o comporta mento de outrem em uma dada dire ção. Como se pode ver, o conceito de educação que aqui adotamos exclui prudentemente todas as formulações idealizadoras de p.edagogia humanis ta, tão em voga na segunda metade do século XIX europeu. 44 Optamos por um conceito mais sociológico de educação. Ele inclui o desejo dos clás sicos de que educar é "conduzir pela mão". Trata-se entretanto de "um conduzir" bem direcionado, voltado para fins práticos. Chegamos, dessa forma, ao conceito de educação, no sentido que Karl Mannheim lhe deu, ou seja, técnica social capaz de influ enciar comportamentos.45 Dito isso, sentimo-nos aptos para indicar o que as irmandades te riam ensinado aos negros - como fo ram educados por elas? Os autores mostram que, apesar da baixa condição social de seus mem bros, as irmandades funcionaram como associações de assistência e de ajuda materia1.46 Um exemplo disso foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Paulo_ Se gundo Raul Joviano do Amaral (mem bro dessa irmandade e posteriormente um dos líderes do movimento negro no início do século XX), a irmandade de São Paulo funcionava como uma espécie de associação mutualista, onde famílias africanas após terem obtido sua liberdade vinham se ins talar para viver e desenvolver seu próprio comércio_47 A Irmandade do Rosário dos Arturos em Contagem, estado de Minas Gerais, tem até hoje uma estrutura comunitária nos mol des descritos por AmaraL48 Outros estudos mostram ainda que muitas dessas irmandades controlavam se tores em hospitais e prestavam as sistência aos escravos mutilados ou inválidos_ 49 Existiam, no século XIX, irmandades praticamente em todo o Brasil. Todas funcionando em áreas urbanas_Ali praticavam-se algumas funções administrativas que acaba vam preparando os indivíduos para conduzir atividades comunitárias e "as relações comunitárias faziam-se na medida exata da identificação en tre os que dela participavam" .50 Eram associações que integravam e libera vam os indivíduos liberando seus anseios, "funcionando como um ca nal de suas queixas, palco de suas discussões".51 Por tudo isso, podiam interferir (como interferiram) no com portamento de seus membros, edu cando-os para vida associativa no mundo urbano. Formava-se a partir delas um embrião do que seriam as organizações negras combativas que 335 500 anos de educação no Brasil dominaram a primeira metade do século XX; é delas que falaremos a seguir. De certa forma, a educação como técnica foi ampla mente utilizada pelos movimentos sociais dos negros no iní cio do século XX. Que movimentos foram esses? Revoltas e rebeliões que dominaram praticamente todo o período da escravidão negra no Brasil, dando à luz modelos de organizações sociais forjadas pelos escravos rebeldes, co nhecidas como quilombos, reapareceram na era republicana sob a forma de movimentos sociais. Foi no início de nosso sé culo, mais precisamente na segunda metade dos anos lO, que os movimentos de protesto dos negros no Brasil adquiriram um caráter eminente mente urbano. Agem como atores coleti vos, contribuindo para "projetar o povo na história".52 Tanto os documentos quan to os registros de algumas entidades ne grastestemunharam manifestações contraa discriminação e o preconceito raciais, ainda que de forma minoritária, em prósperas regiões urbanas: Porto Alegre, Santos, Rio de Janeiro, Recife. Mas foi na cidade de São Paulo que o movimento assu miu proporções imensas. Sua urbanização seguia rapidamen te os paradigmas da modernidade. O modo de ser moderno, ao mesmo tempo rompendo e tensionando o modo de ser tra dicional, propicia a emergência de novos atores sociais, por conseguinte, de novos conflitos de classe, raciais e étnicos, afe tando a convivência entre os próprios nativos ou entre eles e os imigrantes estrangeiros53 Os estudos desses primeiros movimentos suscitam ques tões sobre as mudanças que se processavam no interior das comunidades negras, ou seja, nos grupos que envolviam os descendentes de africanos, incluindo todos os que resultaram de mestiçagem dos negros ou com os brancos ou com os índi os. Afinal de que estamos falando? De algo que, em geral, é aceito como tácito ou óbvio, mas que, no entanto, não é nem uma coisa nem outra. Quando estudávamos as condições sociohistóricas, que favoreceram a emergência de movimentos negros no Brasil, já nos chamava a atenção o fato de que os líderes desses movi mentos eram recrutados entre os mais educados, entre aqueles 336 - Negros e educação no Brasil- Luiz Alberto Oliveira Gonçalves _ XX; é delas que à luz modelos :_a era republicana ~.:úcio de nosso sé :'2 dos anos lO, que . -to dos negros no .:.ará ter eminente - ~mo atores coleti "projetar o povo C':> ,a I,. lJC':> contra que de forma - -: Porto Alegre, ::xguia rapidamen ::...;) de ser moderno, . iJ modo de ser tra :'i:ores sociais, por ::-']5 ou com os índi ~ _ que, em geral, é =- .an to, não é nem desses movi -'O.'::os, entre aqueles que já haviam atingido um certo nível de escolarização. E alguns deles com formação em nível superior.54 Veja-se como José Correia Leite, nascido em 1900 na cidade de São Pau lo, um dos líderes desses movimentos, pronunciou-se a esse respeito em seu livro de memórias. Intitulando-se au todida ta, diz ele que aqueles movimen tos eram liderados por uma "minoria preocupada em apontar os erros e as injustiças da tal abolição da escravatu ra". A seu ver, "só os negros (pode riam) advogar essa questão", pois era "uma carga muito forte e negativa dos 400 anos de retardamento não só físi co, mas também mental e espiritual".55 Foi assim que, segundo o velho militante, "um grupo mais ou menos esclarecido entendia que o negro de via ir a campo para se conscientizar e combater com a mesma arma do bran co: cultura e instrução, o que o negro não tinha nem se preocupava em ter" .56 Talvez essa constatação expli que porque no ideário de luta dos ne gros brasileiros a educação sempre ocupou lugar de destaque: ora vista como estratégia capaz de equiparar os negros aos brancos, dando-lhes oportunidades iguais no mercado de trabalho; ora como veículo de ascen são social e por conseguinte de inte gração; ora como instrumento de conscientização por meio do qual os negros aprenderiam a história de seus ancestrais, os valores e a cultura de seu povo, podendo a partir deles reivin dicar direitos sociais e políticos, direi to à diferença e respeito humano. A grosso modo, a educação, em geral, e a educação escolar, em particular, sempre estiveram no topo das reivindicações desses movimen tos. A educação, apesar das diferen tes situações em que é reivindicada, aparece como um valor. A questão é saber: como esse valor foi dissemina do entre os descendentes de africa nos, principalmente no início de nosso século? Quem teria escolariza do a minoria negra que, à época, en cabeçava aqueles movimentos? Depoimentos apontam para a existência de entidades negras de ca ráter cívico e recreativo que manti nham em suas dependências cursos destinados às crianças e aos jovens negros . Em geral, essas entidades conservavam nomes de personagens abolicionistas ou datas significati vas relativas à emancipação da raça negra . Surgiram da iniciativa dos próprios negros, com o objetivo de promover e melhorar auto-imagem 57 da população negra. Infelizmente carecemos de fon tes documentais sobre essas entida des, embora consideremos que só recentemente os pesquisadores (aqui me incluo) tenham se lançado na busca de documentos que registrem sua história. Por isso não creio que se possa dizer, com certeza, que es ses documentos não existam. Há muito trabalho ainda pela frente . Por enquanto temos nos servido das fontes orais . Em 1988, tivemos a oportunida de de ouvir o valioso relato de uma professora, Efigênia Pimenta, no Insti tuto de Recursos HumanosJoão Pinhei ro, por ocasião de um evento no qual se discutia o centenário da Abolição. 337 500 anos de educação 110 Brasil Visita da diretoria e de alguns membros da Associação José do Patrocínio a uma galeria de arte, como parte das atividades culturais da entidade. Seu pai, coronel da polícia e militante em organizações negras paulistas, veio para Minas Gerais, residiu em Juiz de Fora e Uberlândia. Após fixar residência em Belo Horizonte, criou a Associação José do Patrocínio, em 1951, cujo objetivo era pro mover a raça negra por meio da educação e da instrução e orientar as famílias quanto à formação de crianças e de jo vens. Efigênia, como participante ativa do movimento, pôde, na ocasião, esclarecer questões do tipo: quem dava os cursos? Que espécie de curso era oferecido? Como eram mantidos/58 Entretanto, é preciso ressaltar que essas associações não eram exclusivamente educacionais. Na realidade, eram entida des beneficentes, ou seja, educação e assistência social caminha vam juntas. Pelo menos, é o que mostra o depoimento de alguns líderes paulistas. Segundo Correia Leite, o assistencialismo teria de predominar pelas seguintes razões: "Naquele tempo era fa vor, era caridade ( ... ). Era tudo por meio de favor. Eu achava isso injusto, com relação a nós negros. Pois, as colônias estrangeiras resolviam isso formando associações beneficentes e mútuo so corro. Os italianos tinham essas associações . Quando eu es tava em uma roda de negros eu procurava discutir isso: ( ... ) porque nós não podemos ter também uma associação assim?"59 Entre 1906 e 1940, foram registradas, no estado de São Paulo, várias associações de assistência . Para ilustrarmos cita mos algumas: "Flor de Maio", em São Carlos; "José do Patrocí nio", em Rio Claro; "Luiz Gama " , em Jundiaí; e, ainda, "Organização de Cultura e Beneficência Jabaquara" e "Socie dade Beneficente 13 de Maio", ambas em São Paul0 60 338 Negros e educação no Brasil- Luiz Alberto Oliveira Gonçalves = ~_ izações negras __ Juiz de Fora e ~orizonte, criou a _'':>j etivo era pro d a instrução e Tianças e de jo <; associações não e, eram entida ocial caminha de alguns estrangeiras e mútuo so uando eu es ":Í5cutir isso: ( ... ) ;:z:s A primeira entidade de que se tem o registro do funcionamento como escola de formação de líderes sur giu em 1926, na cidade de São Paulo, Centro Cívico Palmares. Florestan Fernandes dedicou algu mas páginas de sua obra à analise dessa entidade. Ele a descreve como um espaço de agitação polí tica, que contribuiu para reduzir os riscos de um movimento acéfalo: formou quadros61 Até os adversários do Centro Palmares reconheceram seu papel de liderança. Veja-se, por exemplo, como Correia Leite (um de seus opositores) definia os objetivos daquela entidade: fazer a aproximação do negro ( ... ) para acabar com a dispersão que havia ( .. ) O que o Palmares queria era que o negro se tornasse um ele mento de força, de conjunto. Não precisava que toda raça negra se reunisse, mas pelo menos parte dela tivesse aquela consciência ( ... ) O clamor era sempre esse: de que o negro tinha de ter uma lideran ça, um caminho (... ) Toda a preo cupação era ( ...) unir os negros para umaluta de reivindicação junto aos governos, para que eles ouvis sem nosso apelo.62 Foram relatos como esses que me fizeram repensar o papel da edu cação para os negros naquele momen to da história brasileira. Penso que fica clara a idéia anteriormente apresenta da de que a ed ucação para os negros, no início do século XX, teria de fun cionar como técnica social de influen ciar comportamentos. Havia ali uma necessidade histórica. As mudanças de atitudes e de mentalidade eram muito difíceis, pois como nos lembra 339 Correia Leite, "o treze de maio não estava longe". Muitos dos que milita vam no Centro Palmares teriam sido netos ou filhos de escravos. Os negros tinham de aprender que eram irmãos, que "tinham o mesmo problema, a história era uma só". Era a consciên cia da origem que os unia, fosse dou tor ou fosse de classe baixa, "todos vinham da senzala ". Mesmo aque les que por acidente "tinham sido apoiados pela família dos escravo cratas" não podiam fugir a essa cons ciência. Os poucos esclarecidos sabiam disso. "A maioria, entretanto, saiu da escravidão completamente abandona da (.. . ) não entendia absolutamente nada, vivia pelos porões, completa mente esquecida das origens". 63 Não há como não reconhecer o quão significativo é o relato que aca bamos de reproduzir. Nele podemos apreender o clima de desorientação vivido pelos negros em São Paulo, no início do século XX. Tal clima já havia sido assinalado por Fernandes, ao estudar as relações entre negros e brancos naquela cidade. As relações inter-raciais passavam por mudan ças, fazendo com que São Paulo mer gulhasse em um profundo estado de anomia social. Era possível consta tar a ti tudes do tipo "cada um por si" ou disposições psicossociais, dando a sensação de estar em completa vi gência de uma"guerra de todos con tra todos". Já tivemos oportunidade de cri ticar essa visão unilateral dos fatos . Insisto na idéia de que outras expe riências vividas pelos negros em São Paulo precisam ser levadas em 500 anos de educação no BrasIl consideração, pois novas teias de solidariedade foram tecidas naquele momento . Não quero com isso desvalorizar as fontes orais sobre as quais trabalhamos. Quero, sim, ressaltar a ne cessidade de cruzá-las com outras fontes, pois só assim pode remos validar as informações que delas tiramos. Por exemplo, o relato de Correia Leite se torna significativo na medida em que, contrastado com outras experiências ou histórias de vida, expressa a luta de um negro que teve de contar consigo mes mo, com sua própria iniciativa, para sair de um terrível esta do de anomia social. Não é por acaso que, para ele, a escola tenha aparecido em sua vida como algo quase inacessível e as poucas experiên cias escolares nunca lhe tenham dado a sensação de que teria aprendido alguma coisa. Teve dificuldade em matricular-se em uma escola quando criança, pois, como ele mesmo diz, "não tinha quem se responsabilizasse por mim (... ). Eu era um meni no prejudicado porque tinha de enfrentar sérios problemas da minha vida. E já era 'minha vida"'.64 Freqüentou pela primeira vez uma escola na adolescência. Tratava-se de um estabeleci mento particular. A professora o aceitou porque, em troca, ele varreria o quintal da escola.65 Mal começou a ler as primeiras letras, a professora fechou a escola mudando-se para o interior do es.tado. Dali para frente, as experiências não foram muito diferentes. Descobriu que a maçonaria tinha escolas que aten diam os pobres e negros. Estudou um tempo em uma dessas escolas até que fechou. Teve ainda experiência em uma escola dirigida por um padre que atendia meninos jornaleiros, mas tudo assim, sem muita sistematização.66 Florestan Fernandes apresenta outros depoimentos que indicam que para muitos negros a vivência escolar, quando houve, foi marcada por essa fluidez que dava o tom ideológico àquele momento histórico. Para Fernandes, a doutrina liberal orientava as mudanças. O clima era competitivo. Na competi ção, os negros estavam em desvantagem. Despreparados para responder às novas exigências do mercado de trabalho, tinham que disputar com os imigrantes europeus e com os brancos brasileiros, supostamente mais adaptados à nova ordem competitiva.67 A convivência dos negros com os trabalhadores estrangeiros teve conseqüências que a meu ver ainda não fo ram suficientemente estudadas. Houve, sim, conflitos raciais. Mas houve também troca de experiências e aprendizado mú tuo. Correia Leite nos oferece informações muito interessantes 340 - Negras e educação no Brasil - LuÍZ Alberto Oliveira Gonçalves as fontes ressaltar a ne - :0 assim pode Por exemplo, . . a medida em : --"-'=' ara o interior :BO foram muito -colas que aten em uma dessas omaleiros, mas ::.e. oimentos que . -colar, quando :: .om ideológico outrina liberal ~: o interessantes de sua convivência com a "italianada". "Os italianos começaram a gostar de mim porque além de eu ser um meni no abandonado, era educado, maleá vel e sabia responder o que devia e o que não devia ( ... ) assim, passei a con viver no meio dos italianos, a gostar da ópera e de outro tipo de música". 68 Fernandes insiste no fato de que mui tas atitudes novas adotadas pelos lí deres negros foram inspiradas ou incitadas no e pelo confronto com os imigrantes europeus. Assim como as entidades dos italianos, dos espanhóis e dos portugueses se formaram para defender os seus interesses nacionais e étnicos, os negros buscaram construir entidades nos mesmos moldes para defender seus próprios interesses. Criaram como eles uma imprensa ati va e militante e passaram a incentivar atitudes de autonomia, apelando para o esforço de cada um, para a respon sabilidade do ptóprio indivíduo no seu sucesso ou fracasso e defenderam a educação como instrumento de as censão social. Enfim, agiram, segun do Fernandes, como "verdadeiros puritanos do liberalismo".69 Concordamos parcialmente com essas idéias. Outras experiên cias têm de ser consideradas. Não se pode esquecer que o movimento ne gro no Brasil cria suas organizações de luta no mesmo período em que a classe operária amplia suas ações. Edgar Carone, estudando o movi mento operário no início do século XX, traz registros importantes sobre organizações dos trabalhadores em várias partes do país. O autor destaca algumas atividades que caracteriza ram bastante o proletariado urbano, 341 enfatizando que tais atividades esta vam a exigir uma melhoria das condi ções educacionais dos trabalhadores, principalmente os nativos, uma vez que os imigrantes traziam consigo já uma certa qualificação . Para este au tor muito se aprendeu com a expe riência dos imigrantes estrangeiros; foi um período farto em material es crito. Forjou-se, naquele momento, uma significativa imprensa operária, apareciam assim reivindicações que implicavam a escolarização do mun do do trabalho. 70 A partir das pistas apontadas por Carone, passamos a nos interro gar sobre o nível de organização de algumas profissões ou ocupações que concentravam, como bem nos retratou Fernandes, grandes contigentes da população negra masculina: marcena ria, carpintaria e outras atividades que se ajustavam aos poucos à nova reali dade econômica do país. Foi ali que encontramos registros de um tipo de educação voltada para o mundo do trabalho, da qual os negros participa vam.71 Faltam pesquisas sobre essas experiências e não temos condição de dizer se a presença de negros nos cur sos era significativa. Mas nada disso justifica sustentar a idéia de que tudo era anomia social. A tese do abando no é correta, mas não absoluta. Estu dando a inserção dos negros no mercado de trabalho na Bahia, em particular na cidade de Salvador, a pesquisadora Luiza Bairros ajuda a entender que a absorção de mão-de obra negra exigia qualificação e esco larização.72 Aos negros só foi possível a qualificação porquenão estavam 500 anos de educação /10 BrasIl isolados, abandonados à própria sorte. Contaram com outro tipo de solidariedade: a de classe. Para finalizar este artigo, pareceu-nos interessante apre sentar as orientações daquela que foi a primeira grande pro posta visando ao desenvolvimento moral e intelectual do negro brasileiro. O texto foi redigido por Raul Joviano do Amaral, na ocasião presidente da Frente Negra Brasileira, em 1936. Nele aparece um programa de ação que se estrutura em três eixos: agrupar, educar e orientar. Agrupar significava, naquele contexto, mobilizar ou desenvolver uma capacidade de mobilização dentro dos "im perativos dos tempos modernos", que exigiam de todos os setores raciais, econômicos e filosóficos "harmonia de ação para defender os interesses vitais da existência" . A educa ção aparecia nitidamente como um mecanismo de ascensão social. O texto ressaltava criticamente os efeitos perversos do ensino difundido nas escolas, onde a maioria era branca. Nessas escolas, "o negro minado por terríveis insinuações carregadas de preconceitos se afasta de outros negros me nos favorecidos" . Diante dessa situação a Frente Negra se propunha a tomar para si a educação coletiva dos negros "do curso primário até as noções necessárias para as lutas do tréj.balho cotidiano". A Frente Negra criou uma escola: "Nos cursos os pro fessores davam aulas gratuitas . Os frentenegrinos que estu davam e estavam fazendo Engenharia, outros que faziam Biologia, outros Comércio, eles se propuseram a dar aulas (.. . ) a escola era formada por quatro classes, com professoras no meadas pelo governo. Nas classes a gente aceitava até filhos de japoneses, que moravam ali pertinho"?3 Ao longo do século XX, foram poucas as experiências que, a exemplo da Frente Negra, criaram suas próprias escolas. Ini ciativas dessa natureza concentraram-se na cidade de Salva dor. Essas escolas aparecem no interior de movimentos associados aos blocos afros, por volta de 1970. A maioria das ações dos movimentos negros tem sido junto às Secretarias de Educação. A luta para melhorar a situação educacional da po pulação negra tem sido cada vez mais intensa. Alguns traba lhos têm se mostrado bem sucedidos, tais como os que são desenvolvidos nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Gran de do Sul, desde meados de 1980. Ali, o Núcleo Estudos Ne gros de Santa Catarina tem liderado importante movimento 342 - Negros e educação no Brc1sil - Luiz Alberto Oliveira Gonçalves --:-~ram com outro ~ reressante apre - '='~ra grande pro :.z::.:ectual do negro :1'10 do Amaral, ~-::. . em 1936. Nele -a em três eixos: nobilizar ou - - ~entro dos "im ~ 1 de todos os - o ~onia de ação ~ ~ ia ". A educa _ · 0 de ascensão - :e :tos perversos :s insinuações _::-Ll negros me ':= ::ênte Negra se te ::-;-a dos negros • "-.< para as lutas .:: .:lUSOS os pro - ~::nos que estu =_s que faziam - " dar aulas (... ) =~ofessoras no : ._.:..,n-a até filhos _eriências que, _ .. ':"::il: escolas. Ini - _.::.ade de Salva .::..? movimentos • - _ A maioria das ,;;:: _l€c retarias de -::. _:i.l.cional da po r- - .~uuns traba ;: _. . 0 os que são _-tLtá e Rio Gran Estudos Ne -=- :e movimento de reforma educacional tendo como dizer que o aumento, se houvesse, alvo o combate da discriminação ra afetaria principalmente os outros seg cial no sistema de ensino. mentos: negro e pardo. Em nossas Terminamos este artigo lem projeções, a população entre 20 e 30 brando um dado que não nos sai da anos, já no início do século XXI, seria cabeça desde que refletimos sobre a majoritariamente negra e mestiça, situação educacional dos negros no com predominância masculina. Em Brasil no limiar do século XXI. Bus bora corramos riscos ao prever o fu cando decifrar sinais do futuro na de turo, nada nos impede de imaginá mografia, pareceu-nos curioso a ten lo. Se as projeções acima estiverem dência de redução da população corretas, muito provavelmente as jovem brasileira. De fato, ela se con pressões por melhores condições edu firmava. Só que afetava mais direta cacionais virão inicialmente de jovens mente a população definida tecnica negros e pardos. Esperemos para ver mente como branca, o que significava o que vai dar. NOTAS 1 Por ocasião do centenário da Declaração dos Direitos Humanos, o professor Kabengele Munanga encomendou-me um trabalho para ser apresentado na abertura de um ciclo de conferências, por ele organizado, cujo objetivo era examinar, em diferentes perspectivas, qual teria sido o impacto da referida Declaração nas melhorias das condições de vida da população negra, n·o limiar do século XXI. O tema que me foi proposto, "Situação educa cional dos negros no Brasil", pareceu-me dificílimo. Tinha-se uma expectativa de que eu fizesse um balanço dos últimos cinqüenta anos. E foi isso que fiz. Com o auxílio de alguns colegas da universidade, experts em estudos estatísticos, pude aventurar-me a experimentar novas maneiras de ler a longa combinação de dados do censo brasileiro. Recusei-me, entretanto, a comparar década por década. Procedimento correto mas enga noso, pois por pior que ainda esteja a situação educacional dos negros, todas as vezes que comparamos as décadas sempre encontramos alguma melhora, algum avanço. Fun ciona como uma espécie de tranqüilizante em relação às mazelas do passado. E quanto ao futuro, esse tipo de leitura evolutiva acaba reforçando a eterna esperança de que tudo há de ficar melhor. Indo por outras vias, decidi comparar dados dentro de uma mesma década, tomando como referência o censo de 1990. A unidade de comparação foi a das gerações segundo a cor e o grau de escolarização. O ponto médio, por questões óbvias, recaiu sobre a população cuja idade estava em torno de 50 anos, ou seja, os nascidos ime diatamente após a Declaração dos Direitos Humanos. A partir daí pude estudar a situação educacional das gerações abaixo ou acima dos 50. Não agrupei na categoria "negro" da dos que se referiam aos que se declararam, à ocasião do censo, pretos e pardos, ou seja, o "homem de cor". Foram analisados separadamente. Para efeito da presente exposição, não entrarei em detalhes sobre a arquiconhecida defasagem que há entre brancos, pardos e pretos quando se lhes comparam oportunidades e chances educacionais respectivamen te. Aliás, estudos dessa natureza são feitos com freqüência. Dentre eles, destacam-se os trabalhos de Carlos Hasenbalg e de outros pequisadores do IURPEJ. Cf: HASEN BALG, C. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal,1979 343 500 anos de educação no Brasil e Perspectivas sobre raça e classe. Rio de Janeiro, 1981, mimeo e Notas sobre relações de raça no Brasil e na América Latina, São Paulo, 1990, mimeo. 2 GONÇALVES, Luiz Alberto de O. Situação educacional do negro no Brasil. Seminário sobre os Direitos Humanos no limiar do século XXI, São Paulo: Universidade de São Paulo, 1998 (mimeo) . 3 CAMPOLINA, A M. P. e outros. "Escravidão em Minas Gerais". Cadernos do Arquivo. N. 1, Belo Horizonte, 1988. 4 Informações mais detalhadas acerca dessas instituições nos foram repassadas por Mar cus Vinícius Fonceca, pesquisador do Grupo de Estudo sobre Educação e Etnias, FaE/ UFMG. Investigando relatórios do Ministério e da Secretaria dos Negócios de Agricultu ra e do Comércio, relativas às duas últimas décadas do século XIX, Fonceca identificou nove instituições destinadas a receber crianças beneficiadas pela Lei do Ventre Livre, distribuídas nas seguintes províncias: Pará, Piauí, Pernambuco, Goiás, Ceará, Rio de Ja neiro e Minas Gerais. Todas subsidiadas pelo Ministério. Foram criadas entre 1871 e 1881. O resultado dessa pesquisa deve sair ainda no primeiro semestre de 2000, com o título: Concepções e práticas educacionais em relação aos negros no processo de abolição do trabalho escravo no Brasil - 1867-1888. 5 Idem. h VanildaPaiva registra a freqüência de escravos na província do Pará Cf: PAIVA, V. P. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: Loyola, 5. ed. 1987. Celso R. Beisiegel descreve uma experiência na qual um tipógrafo na província do Paraná ministrava cur sos em escolas noturnas para escravos em 1882. Cf. BEISIEGEL, C. R. Estado e educação popular: um estudo sobre a educação de adultos. São Paulo: Pioneira, 1975, p. 64. 7 PERES, E. T. "Templo da Luz": os cursos noturnos masculinos de instrução primária da biblioteca pública pe!otense (1875-1915). Porto Alegre: UFRGS, dissertação de Mestra do, 1995, p. 106. x Ibdem, p. 100. 9 Idem. 10 Ibdem, p. 115. 11 TOURAINE, A. Crítica da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1995. 12 VALENTE, A. V. L. La mort chez les noirs de lafratemitédu Rosário. UFMS, 1994. mimeo, p.4. !3 FREYRE, G. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1933. 14 BASTIDE, R. As religiões africanas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1985, p. 223. 15 Idem. Ih CARVALHO, J. M. "Escravidão e razão nacional". In: Dados. Rio de Janeiro: Ed. Vértice, v. 31 (n" 3): 287-308, 1988. 17 CONE, J. H. "A igreja branca e o poder negro". In: CONE, J.H. e WILMORE, G.S. Teolo gia negra. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 131-149. 18 Idem. 19 Idem. 20 VALENTE, 1994, p. 4. 21 CAMPOLINA, A e outros. Cademos do Arquivo. 22 OLIVEIRA, P. R. "Catolicismo 'popular' como base religiosa". In: CAMARGO, c.P.F. (org.) Católicos, protestantes e espíritas. Petrópolis: Vozes, 1973, p. 7. 344 -,: :'lJbre relações de ~r:15 il. Seminário -ersidade de São . - de Agricultu =><idas entre 1871 e <=-.=L' "" de 2000, com o _ _ "<.'550 de abolição -_--o. Cf: PAIVA, V. P. - --' ministrava cur _ ~ ::: .ado e educação : 75, p. 64. ------:tção primária da _ ~-5-tação de Mestra .:::, ~994. mimeo, p. 4. _. fORE, G.S. Teolo ~~-\ MARGO, C.P.F. Negros e educação no BrasIl- Luiz Alberto Oliveira Gonçalves 23 HOORNAERT, E. Formação do catolicismo brasileiro 1500-1800. Petrópolis: Vozes, 1978. SALLES, F. T. Associações religiosas no ciclo do ouro. Introdução ao estudo do compor tamento social das irmandades de Minas Gerais no século XVIII. Belo Horizonte. Centro de Estudos Mineiros, 1963. 24 SIMMEL, G. Sociologie et épistémologie. Paris: PUF, 1981. 25 MELLO, V. As Confrarias de Nossa Senhora do Rosário como reação contracultural no Brasil. Afro-Ásia, Salvador, (13): 107-118, abril, 1980. p.I11-2; SCARANO, J. Devoção e escravidão: a irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Distrito Diamanti nense do século XVIII. São Paulo: Ed. Nacional, 1976, p. 19. 26 SALLES, op. cit., p. 29. 27 BASTIDE, op. cito 2~ HOORNAERT, E. (coord.) História da Igreja no Brasil. Primeira época. TomoU/ I, 3d ed., Petrópolis: Vozes/Paulinas, 1983, p. 385. 2Y BASTIDE, op. cit., p. 222. 30 Idem. 31 VALENTE, op. cit., p. 6. 32 Idem. 33 Idem. 34 BASTIDE, op. cit., p. 79. 35 CONE, J. H. The spirituals and bllles. New York: Seabuty Press, 1972, p. 147. 36 Idem. 37 HASELDEN, Kyle. The racial problem in Christian perspective. N. Y.: Harlor & How, 1959, p. 29. 3H CONE, 1986, P 148. 39 Idem. 4Q A literatura sobre esse assunto é muito abundante. Para se ter alguma idéia sobre o tema consultar: FRAZIER, E. F. The negro church in American. New York: Schokem Books, 1964; JOHSON, Joseph A. Or). The soul of the black preacher. Philadelphia: United Church Press, 1971 . 41 CONE, 1972. 42 THURMAN, H. Jesus and the desinherited. Nashville: Abingdon-Ckesbury Press, 1949. 43 FORMAN, J. "Manifesto negro". In: CONE & WILMORE. Teologia negra. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 99-109. 44 Isso se deve ao fato de que nossa pesquisa lidou com fontes primárias muito incipiente mente, ou seja, nos debruçamos muito pouco sobre documentos da época; a fonte oral utilizada (entrevistas com militantes dos anos 20 e 30) limitou-se aos dados já coletados e disponibilizados em arquivos ou livros. 45 MANNHEIM, K. e STEWART, W. A. C. Introdução à sociologia da educação. São Paulo: CuItrix, 1962. 46 SCARANO, op. cit., p. 79. 47 AMARAL, R. J. OS pretos do Rosário de São Paulo. São Paulo: Alarico, 1954, p. 57-59. 4B SANTOS, E. P. Religiosidade, identidade negra e educação: o processo de construção da subjetividade de adolescentes negros dos Arturos. Belo Horizonte, FaE/UFMG, 1997. Dissertação de Mestrado. 345 49 RUSSEL-WOOLD, A. J. R. Fidalgos and philantropists. The Santa Casa de Misericordia of Bahia. (1550-1755), Berckeley, University of Berckeley, 1968. 50 BOSCHI, 1996, p. 26. 51 Idem. 52 FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classe. São Paulo: Ática, 1986, v. 2. 53 FERNANDES, F. Idem. GONÇALVES, L. A. O. Le mouvement noir au Brésil. Ulle: Presses Universitaires du Septentrion, 1997. 54 Encontramos essas referências em alguns depoimentos desses líderes. Todos participa ram na organização de uma poderosa entidade no início do século XX: Frente Negra Brasileira. São eles: Aristides Barbosa, formou-se em Letras e Sociologia ("Depoimen tos", 1998, p. 15), Francisco Lucrécio, cursou ginásio na cidade de Campinas e em São Paulo estudou na Escola Livre de Odontologia. Cf. BARBOSA, M. (org.) Frente negra brasileira. "Depoimentos" . São Paulo: Quilombhoje, 1998. 55 CORREIA LEITE, J. e CUTI. ... E assim dizia o velho militante Correia Leite. Depoimen tos e artigos. São Pa ulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992, p. 19. 56 Idem. 57 GONÇALVES, op. cit. 5l! Há um vídeo sobre esse depoimento que pertence à associação José do Patrocínio, hoje sediada em Belo Horizonte. 59 CORREIA LEITE, p. 55. 60 Cf. CUNHA, Jr. 1995, p. 71 e FERNANDES, op. cit., p. 45. 61 FERNANDES, op. cit., p. 41-2. 62 CORREIA LEITE, p. 74. 63 Idem. fi ' Ibidem, p. 23, grifos do autor. n5lbidem, p. 25 . 66 Idem. 67 FERNANDES. Op. cito 68 CORREIA LEITE, p. 25. 69 FERNANDES. Op. cito 70 CARONE, E. A República Velha. Instituições e classes sociais (1889-1930). São Pa ulo: Difel, DIFEL, 1978. 7\ GONÇALVES, 1997. 72 BAIRROS, L. Pecado no paraíso racial: o negro na força de trabalho na Bahia (1950-1980), Salvador: UFBa, 1987. 73 Francisco Lucrécio. "Depoimento". In: BARBOSA, M. op. cit., p. 42.
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