Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
01 N.Cham. 65.01 M917t 17t Autor: Motta, Fernando C. Prestes, (F Maio: Teoria das organizaceies : evol MI 9134612 1011 111111!1611 E3CL iRile -en ft r‘iin r porr, Arqrt,e- livio I lir:yin%) s.. 1111.A.JVVIV0 Procurar-se-a, assim, identificar as principais matrixes e A. tendencias teoricas, referindo-se tambem a seus desenvolvimentos em nosso Pais, tanto na vertente empresarial quanto na area publica e da educacno. Igualmente, procurar-se-a identificar algumas tendencias e F alternativas que surgem nos paises centrais e no Brasil. Fernando C. Prestes Motta I Evolucao da Teoria Sobre as Organizacoes — XII — INTRODUPAO A teoria da Administracao, coloque-se ela como geral, ca empresarial, da educacao, hospitalar ou de qualquer outro tipo, tem suas origens na preocupacao corn a produtividade, dominante a partir da Revolucao Industrial. Por Revolucao Industrial deve- se entender urn longo process° que se inicia em fins do seculo XVIII e que implica em uma mudanca radical na cultura material do Ocidente. 0 desenvolvimento das maquinas muda a relacio do homem com a natureza e leva a paulatina desintegracao da sociedade estamental que entio caracterizava a Europa. Duplica em urn seculo a populacio daquele continente, multiplicam-se as cidades industriais, e a producao domiciliar e manufatureira di° Lugar a fabrica. urn periodo de grande mobilidade e de grandes desloca- mentos sociais. A burguesia dá urn salto em sua trajetOria ascen- dente e grandes massas populacionais dirigem-se para os centros industriais, onde a extrema miseria convive corn a riqueza 1 . 1. Uma excelente analise da Revolucio Industrial encontra-se in: Paul Mantotix. La Revolution Industrial en el Siglo XVIII (Madrid: Editora Agui- lar, 1962). OS PR EC U RSOR ES Por volta de 1755, Morelly publica o seu Codigo na Natu- reza, no qual propugna a formacao e o treinamento do trabalhador, antecipando Taylor em pouco mais de urn seculo e meio. Entre suas ideias esta a do trabalho de acordo corn a habilidade do trabalhador. Crescem, pouco a pouco, as ideias de que nao so o trabalho, mas a prOpria sociedade, poderiam ser organizados racional- mente. Varios filOsofos do seculo XIX empenham-se em desen- volver disciplinas cientificas corn esse objetivo. Nascido em 1760 e falecido em 1825, o Conde de Saint- Simon publica dois trabalhos importantes: 0 Organizador e 0 Sistema Industrial. Saint-Simon entende que a sociedade poli- tica deve se organizar em tres camaras: Invencao, Exame e Exe- cutiva. Esta Ultima deve ser composta pelos banqueiros, industriais e capitalistas em geral. Mais tarde sugere que o governo deve ser entregue aos cientistas, numa clara antecipacao dos ideais tecno- craticos do seculo seguinte. Inspirado nas ciencias naturais, Saint-Simon imagina as li- nhas gerais da "fisiopolitica", disciplina que trataria da direcao cientifica da sociedade. Proclama o fim da filosofia especulativa e prop& a filosofia normativa. E em grande medida urn precur- sor do planejamento e da racionalizacao do trabalho 2 . Vivendo entre 1772 e 1837, Charles Fourier denuncia a f a- lencia das instituicoes, costumes e tradicoes vigentes em seu tempo. Proclama a necessidade de reconstruir a sociedade, arcaica e rigida, adequando a cultura nao-material aos avancos da cultu- ra material. Fourier sonhava corn a adaptacao das ocupacoes as inclina- coes e capacidades, entendendo que o trabalho, repelente e mo- 2. A obra de Saint-Simone exposta e analisada em detalhe in: Pierre Ansart. Marx y el Anarquismo, Primeira Parte (Barcelona: Barral Editores, 1.q72)— nOtono, deveria se transtormar em fonte de prazer. Dessa forma, as melhores energias seriam canalizadas para a producao. Imagina uma sociedade organizada em "falansterios", co- munidades agroindustriais autogeridas que congregariam os tra- balhadores. Esses "falansterios" seriam federados sob urn governo de coordenacao a que chamava "omniarca". No "falansterio" nao haveria nenhum trabalho desagradaveP. Todos fariam o que desejassem, de acordo corn suas propensoes e junto aos que esti- mavam. 0 trabalho tornado digno e atrativo levaria ao aumento da producao 4 . Robert Owen, que viveu entre 1771 e 1857, merece desta- que entre os precursores da racionalizacao do trabalho e da so- ciedade, partindo do pressuposto de que o carater do homem prefabricado em grande medida pelos seus predecessores, mas de que a natureza humana podia ser facilmente treinada e dirigida. A maior parte de suas ideias sobre administracao foi apli- cada em New Lanark, na EscOcia, onde era alto executivo de uma empresa textil. Introduziu ali o treinamento de operarios, redu- ziu a jornada de trabalho de catorze para onze horas e meia; su- primiu os castigos, substituindo-os por notificacoes e adverten- cias; aboliu o trabalho de menores de dez anos; e instalou uma escola 5 . 0 empreendimento de Owen foi coroado de exito. Mais tarde, desenvolvendo ideias semelhantes as de Fourier, dirige-se para os Estados Unidos, onde, no Estado de Indiana, cria a co- 3. Charles Fourier. El Nuevo Mundo Amoroso (Mexico: Siglo Vein- tiuno Editores, 1972). 4. Urn born resumo das ideias de Charles Fourier esti em Branko Horvat. "A New Social System in the Making: Historical Origins and Deve- lopment of Self-Governing Socialism". In: Branko Horvat, Mihailo Markovic e Rudi Supek. Self-Governing Socialism. "A Reader", vol. I, 2.a ed. (Nova York: International Arts and Sciences Press, Inc., 1975). 5. Robert Owen. "Report to the Country of Lanark (1820)". Extraido de Robert Owen. A New View of Society and Other Writings (E. P. Dutton and Co., Inc. Everyman's Library Edition). In. Branko Horvat e outros. Self-Governing Socialism. Op. cit. — 4 — — 5 — munidade de Nova Harmonia. Essa experiencia fracassou, e Owen retornou a Gra-Bretanha. Comunidades baseadas em Owen e em Fourier multiplicaram-se, porem, em todo o mundo. De todas, a mais bem sucedida durou pouco mais de dez anos. Louis Blanc e tambem urn precursor da administracao. Blanc viveu entre 1811 e 1882. Em 1840 publicou um livro intitulado Organizacao do Trabalbo. Blanc imaginava que se po- deria construir uma sociedade igualitaria a partir do Estado, que poderia promover reformas sociais. 0 Estado criaria as "oficinas nacionais". No primeiro ano, seus diretores seriam designados pelo govern°. A seguir seriam escolhidos pelos prOprios traba- lhadores. As ideias de Blanc inspiraram as futuras cooperativas de pro- dutores, a criacao de oficinas desse tipo no Peru e no Chile du- rante o seculo XX, alem de algumas instituicoes vigentes na Iugoslavia 6 . OS PIONEIROS No inicio do seculo XX surgiram os pioneiros da teoria da administracao. Como suas ideias eram bastante semelhantes fica- ram conhecidos como os fundadores da Escola Classica. March e Simon distinguem duas vertentes na Escola Clas- sica, a que chamam respectivarnente Teoria da Administracao Cientifica e Teoria da Gerencia Administrativa 7 Mais recente- 6 . 0 essencial do exposto ate aqui encontra-se in: Alberto Guerreiro Ramos. Uma Introdu(do ao Hist6rico da Organizacao Racional do Trabalbo (Rio de Janeiro: Departan -tento de Imprensa Nacional, 1950); Louis Blanc. "Organization of Work", extraido de Louis Blanc. Organisation du Travail (Paris: Prevot, 1840). Para um aprofundamento nas ideias desses autores vide G. D. H. Cole. Historia del Pensamiento Socialista (vol. I, "Los Precursores 1789-1850)" (Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1975). 7. J. G. March e H. A. Simon. Organizations (Nova York: John Wiley & Sons, 1-958} mente, porem, escola classica e movimento de administracao cien- tifica tern sido usados como sinonimos. De modo bastante generic°, as ideias desses pioneiros po- deriam ser resumidas na afirmagao de que alguem sera urn born administrador na medida em que planejar cuidadosamente todos os seus passos, organizar e coordenaras atividades de seus su- bordinados e comandar e controlar o seu desempenho. Taylor, Fayol, Gulick, Urwick, Gantt e Gilbreth sao os principais representantes dessa corrente. No tratamento dado a questao da produtividade do trabalho destaca-se especialmente Taylor Frederick Taylor era um tecnico, cuja primeira atividade profissional fora a de mestre em uma fabrica. Em 1884 torna-se mecanico-chefe da Midvale Steel e passa a conduzir experien- cias destinadas a aumentar a produtividade do trabalho. No ano de 1903, Taylor publica um livro intitulado Administracao de Oficinas, para, tres anos mais tarde, tornar-se urn profissional de destaque como presidente. da Associacao Americana de Enge- nheiros. Em 1911 publica o seu livro mais importante intitulado Principios de Administracao Cientifica. E uma obra caracte- rizada pelo pensamento indutivo em consonancia corn o tipo de experiencia de seu autor. Taylor preocupou-se muito mais corn a racionalizacao dos metodos e sistemas de trabalho do que corn a racionalizacao da organizacao do trabalho. Em toda a sua obra percebe-se uma nocao de natureza humana: a ideia do ser eminente racional que, 8. Frederick Winslow Taylor. "The Principles of Scientific Management". In: Frederick Winslow Taylor. Scientific Management (Nova York: Harper, 1947); Henri Fayol. Administration Industrielle et Generale (Paris: Dunod, 1947); L. Gulick e L. Urwick. Papers on the Science of Administration (Nova York: Institute of Public Administration, 1937); Frank e Lillian Gilbreth. The Writting of the G lbreths, Spriegel and Myers (orgs.) (Homewood: Richard D. Irwin, 1953). — 6 — 7 ao tomar uma decisao, conhece todos os cursos de acao disponi- vets e as conseqiiencias da opcao por qualquer um deles. Pensando dessa forma, o homem e encarado como um agen- te capaz de maximizar suas decisoes. Como seus valores sat) tidos previamente como economicos, entende-se que o fara em termos de maiores ganhos pecuniarios. 0 homem e ainda visto como um ser que procura urn maxim° de ganhos corn um minim° de es- forcos. Diante desse dado cabe ao administrador garantir que o trabalhador dispense o esforco de que e capaz. Para Taylor isto possivel porque existe uma Unica maneira certa de se realizar urn trabalho. Uma vez descoberta, ela maximizara a eficiencia. A descoberta depende do estudo do trabalho em suas dife- rentes fases e dos movimentos necessarios a sua execucao, corn vistas a simplifica-los e reduzi-los ao maxim°. Alem disso, devem ser feitas experiencias corn movimentos diferentes, medindo sua duracao, a fim de descobrir a maneira mais rapida. Entretanto, para determinar os padroes de producao, nao basta descobrir a "Unica maneira certa". E preciso, tambem, en- contrar quern a realize. Imaginando que ha pessoas ideais para determlnados trabalhos, Taylor desenvolve a ideia do "homem de primeira classe". Dessa forma, e o "homem de primeira clas- se" que deve servir de base para os estudos de tempos e movi- mentos. Uma vez descobertos os tempos e movimentos-padroes, caberia aos operarios apenas executar sem discussao. Para garantir que os padroes fossem atingidos, Taylor su- gere a selecao, o treinamento e controle dos trabalhadores. A primeira constituiria na descoberta do "homem de primeira das- se". 0 segundo seria bastante simples, na medida em que o tra- balho estaria totalmente padronizado. 0 terceiro diz respeito supervisao cerrada, de modo a garantir a realizacao do trabalho de acordo corn a Unica maneira certa. Em funcao de sua visao da natureza humana, Taylor sugere que se pague mais a quem produzir mais, de acordo corn urn sis- tema de- ince-ntivos monetarios. Acredita que, dessa forma, se garante maior producao, e como nao ve qualquer oposicao teresses entre trabalhadores e administracao, imagina que traduza necessariamente em maiores lucros e maiores salari, Taylor e o primeiro teorico da administracao. De uma ror- ma ou de outra, toda a teoria das organizacoes fundamenta-se em seu trabalho ou dialoga corn suas ideias. Ern 1916, urn engenheiro e administrador de cripula frances, charnado Henri Fayol, publicou um livro intitulado Administra- cao Geral e Industrial que, sob todos os aspectos, complementa o trabalho desenvolvido por Taylor. Voltado para a racionali- zacao da estrutura adrninistrativa, que gerencia o processo de tra- balho, Fayol desenvolve uma analise logico-dedutiva da adminis- tracao. E dele a classificacao das funcoes do administrador: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar. Dessas fun- coes deduz os principios da administracao. Entre os principios administrativos que garantiriam urn tra- balho mais produtivo, destacam-se especialmente aqueles que se referem a organizacao do trabalho. Fayol salienta o principio da unidade de comando, da divisao do trabalho, da especializacao e da amplitude de controle. Esses principios referem-se as formas estruturais dominantes em nossa sociedade. 0 taylorismo exerceu uma influencia pratica tambem pode- rosissima. A "taylorizacao" das relacoes de producao caracteriza todo urn periodo da industrializacao mundial. De fato, o pensa- mento de Taylor encontrou seguidores em todo o mundo. Urn exemplo disso e o trabalho de Stakhanov na Uniao Sovietica, a partir do esforco de Lenin de modernizar a indristria de seu pais 9 no campo da administracao, especialmente, ate o final da decada de 60. A obra de Fayol inspirou, sobretudo, a producao cultu- 9. George Filipetti. Industrial Management in Transition (Homewood: Richard D. Irwin, 1959). Nesse livro ha uma boa descricao do Stakhanovismo sovietico; Robert Leinhart. Lenin, os Camponeses, Taylor. (Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983). ral francesa. A maior parte dessas obras refere-sea administra- cao pUblica 1 ". Taylor e Fayol inspiraram a primeira fase da producao cul- tural brasileira no campo da administracao publica e de empre- sas ". Fayol inspirou, tambem, boa parte da producao cultural bra- sileira no campo da administracao da educacao, pensada entao fun- damentalmente como administracao escolar 12 . Jose Querino Ribeiro distingue os objetivos da escola, cuja fixacao se baseia na apreensao dos ideais propostos pela filosofia da educacao, do estilo de acao, moldado pelo conhecimento da politica de educacao e das tecnicas baseadas no conhecimento pro- piciado pelas diversas ciencias sobre os elementos envolvidos no processo de escolarizacao. A partir dessa distincao, entende a administracao escolar como urn conjunto de funcoes. Dessa forma, administrar a es- cola e basicamente planejar a acao, organizar as funcoes, assistir a execucao do planejado e controlar os resultados. Cada uma dessas funcoes e entao detidamente detalhada. A partir de 1927, George Elton Mayo, um psicOlogo indus- trial australiano, desenvolveu uma serie de experiencias na Wes- tern Electric, em sua fabrica de Hawthorne, nos Estados Unidos. 10. Lucien Sfez. L' Administration Prospective (Paris: Armand Colin, 1970); Paul de Bruyne. Esquisse d'une Theorie de L'Administration des Entre- prises (Paris: Dunod, 1963); Charles Debbasch. Science Administrative, 2.a ed. (Paris: Dalloz, 1972); B. Gournay. Introduction a la Science Administrative. "Cahiers de la Fondation Nationale des Sciences Politiques", n.° 139 (Paris: Armand Colin, 1966). 11. Ver de Benedito Silva: Taylor e Fayol, 2.a ed•. (Rio de Janeiro: Fundacao Getalio Vargas, 1965); Idem. Confronto entre a Administracao Pablica e a Administracao Particular (Rio de Janeiro: Fundacio Geri'lio Vargas, "Cadernos de Administracao Pliblica", 1954); Estelita Wagner Campos. Chefia: Sua Tecnica e Seus Problemas, 2.a ed. (Rio de• Janeiro: Fundacio Genilio Vargas, 1964). 12. Jose Querino Ribeiro. Ensaio de uma Teoria da Administracao Escolar (Sao Paulo: Editora Saraiva S/A, 1978); Hermano Gouveia Nero. Noceies de Ediciies GRD, 1971). Essas experiencias foram precedidas de outras, realizadas pela AcademiaNacional de Ciencias, que congregava seguidores de Taylor e Gilbreth, e que tentaram, sem sucesso, relacionar con- dice-es fisicas de trabalho corn produtividade. 0 trabalho de Elton Mayo na Western Electric durou cinca anos e as conclusoes a seu respeito sugerem algum tipo de rela- cao entre moral, satisfacao e produtividade. As ideias de Mayo parecem fundamentar-se num modelo de natureza humana que podemos chamar de "homo social". Nesse modelo o homem e entendido como urn ser cujo comportamento nab pode ser reduzido a esquemas mecanicistas, como urn ser a urn so tempo condicionado por demandas de ordem biolOgica e social. 0 homem e visto como amplamente movido por necessi- dades de seguranca, aprovacao social, afeto, prestigio e auto-reali- zacao is Outra ideia importante no trabalho de Elton Mayo se refere ao grupo informal no trabalho, a sua forca sobre o individuo. A nocao de grupo informal deriva da nocao de grupo primario, en- tendido em termos de urn conjunto suficientemente pequeno de individuos, de forma a que mantenham relacoes diretas, frequen- ted e repetitivas entre si. A administracao lidaria corn grupos bem formados e nao corn uma massa desorganizada de individuos, o que levaria a necessidade de conhece-los. Dal a utilizacao de di- versas tecnicas, que vao desde a simples observacao ate as tecni- cas da sociometria ". Se o que define o grupo sao as interacoes, os fatores que as provocam sao fundamentais no seu surgimento e desenvolvimen- to. Entre esses fatores destacam-se a tecnologia adotada e a se- melhanca de interesses. 13. Edgar H. Schein. Organizational Psychology (Englewood Cliffs: Prentice-Hall, Inc., 1965). 14. J. C. Moreno. Fondements de la Sociornetrie (Paris: Presses Univer- sitaires de France, 1954). - 10 — - — 0 grupo informal no trabalho preenche diversas funciies, entre as quais o atendimento das necessidades de seguranca, afeto e aprovacao social. Funciona ainda como derivativo para a mo- notonia e a fadiga. Uma outra ideia importante refere-se a participacao do tra- balhador nas decisoes que afetam seu trabalho. Essa participa- cao nao era mencionada sem restricoes e deveria variar conforme a situacao e o padrao de lideranca adotado. A participagao pre- gada pelos seguidores de Elton Mayo foi posteriormente criticada como uma pseudoparticipacao, como uma forma de manipulacao da forca de trabalho' . Analisando as experiencias de Mayo e seus colaboradores, todos professores da Universidade de Harvard, Miller e Form chegam a algumas conclusoes, entre as quais: o trabalho e uma atividade grupal; o mundo social do adulto e padronizado em ter- mos de seu trabalho; as necessidades de seguranca, reconheci- mento e o senso de pertencer constituem algo mais importante na determinacao do moral e da produtividade do que as condicoes fisicas de trabalho ". As ideias de Elton Mayo inspiraram toda uma corrente administrativa, que ficou conhecida pelo nome de Relacoes Humanas. A passagem da Administracao Cientifica para a Escola de Relacoes Humanas corresponde a urn deslocamento da atencao da organizacao formal para a informal e a uma certa "psicologizacao" das relacoes de trabalho ". A influencia da Escola de Relacoes Humanas sobre os desenvolvimentos posteriores da teoria das or- ganizacCies foi muito grande, na medida em que inaugurou a preocupacao psicossocial no campo. 15. George Elton Mayo. The Human Problems of an Industrial Civili- zation (Nova York: Viking Compass Edition, 1968). 16. Para uma descrigio detalhada das experiencias vide Roethlisberger e Dickson. Management and the Worker (Cambridge: Harvard University Press, 1955). 17. Vide Miller e Form. Industrial Sociology. In: J. A. C. Brown. Psicologia Social da Indtistria (Sao Paulo: Ed. Atlas, 1967, p. 63). Tambem foi marcante sua influencia na primeira face do ensino da administracao de empresas no Brasil. Um grande mimero de trabalhos revela o peso dessas ideias por essa epoca 18 No campo da administracao da educacao, a influencia da corrente de Relacoes Humanas tambern foi importante no Brasil, favorecida por uma tradicao psicologica mais antiga, A TRANSIPAO 0 livro de March e Simon marca a transicao da teoria da administracao para a teoria das organizacoes ", isto é, a tentativa de estudar o sistema social em que a administracao se exerce, corn vistas a sua maior eficiencia, face as determinacoes estruturais e comportamentais. A preocupacao com a produtividade clá lugar a preocupacao corn a eficiencia do sistema. Em grande medida, .o trabalho desses autores reflete uma tentativa de aplicacao do metodo cientifico desenvolvido nas cien- cias humanas, principalmente na psicologia social, na sociologia e na ciencia politica norte-americana, as ideias de Chester Bar- nard ", que the sao anteriores. sobretudo clara a influencia da sociologia politica de Max Weber, tal como foi divulgada nos Estados Unidos pelo socio- logo funcionalista Talcott Parsons ". Fundamentando-se em urn 18. Yolanda Ferreira Bala° e Laerte Leite Cordeiro (orgs.). 0 Com- portamento Humano na Empresa (Rio de Janeiro: Fundacio Gettilio Vargas, 1967); Luiz C. Bresser Pereira. Duas Escolas em Confronto (Sao Paulo: Funda0o- Greta° Vargas, mimeografado, s/d); Carlos Osmar Bertero. "Algu- mas Observacoes sobre a Obra de G. Elton Mayo". Revista de Administracao de Empresas, vol. 8, 27 (Rio de Janeiro: Fundacio Gettilio Vargas, 1968). 19. J. G. March e H. A. Simon. Organizations. 20. Chester Barnard. As Funcoes do Executivo (Sao Paulo: Ed. Atlas, 1971). 21. Max Weber. The Theory of Social and Economic Organization (Talcott Parsons, org.) (Nova York: The Free Press, 1947); J. Cohen, L. E. — 12. — — 13 — numero consideravel de pesquisas de campo, os autores concluem pela nao-existencia demonstrada de uma relacao simples e cons- tante entre moral, satisfacao ou, ainda, coesao e produtividade. Lembram que moral elevado nao e condicao bastante para alta produtividade, nao levando, ainda, necessariamente a uma major produtividade do que moral baixo. Percebem que o comporta- mento no trabalho parece ser mais motivado pela percepcao das relacoes entre eventuais condicoes futuras e as alternativas atuais do que pelas condiciies atuais propriamente ditas. Percebem, ainda, que uma parte consideravel da confusao entre moral e produtividade esta relacionada a uma ausencia de distincao entre duas decisOes que os membros de uma organi- zacao tern que tomar. A primeira dessas decisoes refere-se a participacao ou nao no sistema. A segunda refere-se a produzir ou nao na escala exigida pela administracao. A producao tecirica anterior teria lidado muito mais corn motivacao para produzir do que corn produtividade propriamen- te dita. Essa motivacao, entretanto, seria funcao da influencia sobre a evocacao no individuo de alternativas de acao, das con- seqiiencias que o individuo preve nas alternativas evocadas e no valor que atribui a essas consequencias. March e Simon entendem que parte dos fatores que exer- cem essa influencia estao sob o controle da administracao, mas que boa parte, no entanto, se refere a aspectos psicossociais e culturais que fogem a esse controle. A organizacao e entendida como uma rede de tom_ ada de de- cisoes. A eficiencia dessa rede dependera da articulacao de di- versos fatores estruturais e comportamentais. A teoria procura dar conta dessa articulacao. Simon 22 estuda em detalhe o processo decisorio e especial- mente os limites da racionalidade nesse processo. Como resulta- do desenvolve-se uma linha teOrica que tern no processo decisOrio o seu centro de atencao. Essa linha tearica ficou conhecida como "behaviorismo", fundamentalmente pelos seus pontos de contato corn a corrente psicologica de Watson, F. H. Allport e Miller e Dollard, embora se afaste bastante dela, pelas dificuldades da aplicacao do con- ceito de estimulo aos contextosorganizacionais. A divulgacao das obras de Simon e de Chester Barnard no Brasil foi grande e ha alguns trabalhos na area de administracao pablica e de empresas que refletem sua influencia 23 No ensino da administracao da educagdo, a obra de Chester Barnard foi assimilada especialmente atraves de urn livro de Da- niel E. Griffiths, bastante utilizado em cursor numa determina- da epoca. Griffiths propoe uma teoria centrada na decisao Outra obra mais ecletica, tambem divulgada no Brasil nessa epoca, apresenta tambem influencias claras dessa linha. Trata-se de urn trabalho de Campbell, Corbally e Ramseyer 25 22. De Herbert A. Simon consultar as obras: 0 Comportamento Admi- nistrativo (Rio de Janeiro: Fundacao Gettilio Vargas, 1970); A Capacidade de Decisao e Lideranca (Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1963); "The Architecture of Complexity". Proceedings of the American Philosophical So- ciety, 106, 1962; em colaboragao corn Donald W. Smithburg y Victor A. Thompson: Aaministracion PUblica (San Juan: Universidad de Puerto Rico, 1956). 23. De Luiz C. Bresser Pereira consultar: A Organizacao do Futuro (Sao Paulo: Fundacao Gettilio Vargas, mimeografado, s/d); A Organizacao Humanizada (Sao Paulo: Fundacio Gettilio Vargas, s/d). 24. Daniel E. Griffiths. Teoria da Administracao Escolar. "Atualidades Pedagogicas", vol. 105, trad. de Jose Augusto Dias (Sao Paulo: Companhia Editora Nacional — Editora da Universidade de Sao Paulo, 1971). 25. Roald F. Campbell, John E. Corbally Jr. e John A. Ramseyer. Introduction to Educational Administration (Boston: Allyn and Bacon, 1962). Hazelrigg e W. Pope. 'The Parsonizing Weber: A Critique of Parson's Inter- pretation of Weber's Sociology". American Sociological Review, vol. 40, abril, 1975, pp. 229 a 241 e, especialmente, Talcott Parsons. The Structure of Social *lion Glenroe• The Free Press, 1949). — 14 — Outro trabalho de orientacio nitidamente behaviorista, corn muitos pontos de contato corn March e Simon, e o de Getzels, que tambem tem sido divulgado no Brasil ". 0 FUNCIONALISMO NA TEORIA DAS ORGANIZAcoES A ciencia social norte-americana foi profundamente marca- da pelo funcionalismo, dominante na antropologia inglesa de Malinovski e Radcliffe-Brown. Na sociologia americana, o fun- cionalismo tornou-se rapidamente a linha dominante, a partir da obra de Talcott Parsons. Seus trabalhos, em pouco tempo, in- fluenciaram diretamente quase todos os campos de investigacao social. Desses trabalhos, o que indiscutivelmente mais marcou os desenvolvimentos posteriores foi 0 Sistema Social". A decada de 60 nos Estados Unidos representa a consolida- cao dessa influencia na teoria das organizacOes, inicialmente atra- ves do estruturalismo e, posteriormente, da teoria dos sistemas abertos. A presenca do parsonismo na teoria das organizacoes mani- festa-se inicialmente nos trabalhos de Robert King Merton, Al- 26. De Jacob W. Getzels consultar: "Administration as a Social Process". In: Andrew W. Halpin (org.). Administrative Theory in Education (Chicago: Midwest Administration Center, 1958); em colaboracio corn Egon G. Cuba: "Social Behavior and the Administrative Process". School Review, vol. 34, 1957; em colaboracio corn James L. Lipham e Roald F. Campbell: Educational Administration as a Social System (Nova York: Harper and Row, 1968). 27. De Talcott Parsons consultar: The Social System (Nova York: The Free Press, 1964); "Suggestions for a Sociological Approach of the Theory of Organizations", Administrative Science Quarterly, I (1, 2) (Ithaca, 1956); Societies: Evolutionary and Comparative Perspectives (Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1972); The Structure of Social Action (Glencoe: The Free Press, 1949); "Pattern Variables Revised — A Response to Robert Dubin". Ame- rican Sociological Review, agosto, 1960; em colaboracao corn Edward A. Shills: ' • • Harper, Tochbooks, 1951). vin Gouldner, Phillip Selznick e Peter Blau para, em seguida, tornar-se muito popularizada atraves do livro Organizacoes Mo- dernas de Amitai Etzioni, que chamou a essa tendencia de estru- turalismo". Em comum, principalmente, essas visoes tern a obediencia a urn mesmo paradigma tecirico. Dahrendorf procurou resumir as linhas gerais desse paradigma em oposicao aquelas que carac- 28. Robert K. Merton. "Bureaucratic Structure and Personality". In: R. K. Merton. Social Structure and Social Theory (Glencoe: The Free Press, 1957). De Phillip Selznick consultar: TVA and the Grass Roots (Berkeley: University of California, 1953); Leadership in Administration (Illinois: Evanston, 1957); "Cooptacio: Urn Mecanismo para a Estabilidade Organiza- tional'. In: Edmund° Campos (org.). Sociologia da Burocracia (Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1966); Alvin Gouldner. Patterns of Industrial Bureaucracy (Glencoe: The Free Press, 1954). De Peter Blau consultar: The Dynamics of Bureaucracy (Chicago: University of Chicago Press, 1955); Bureaucracy in Modern Society (Nova York: Random House, 1956); em colaboragio corn W. Richard Scott: Formal Organizations: A Comparative Approach (San Francisco: Chandler, 1962). A obra de Etzioni comecou a ser divulgada no Brasil por volta de 1968, no campo da administracao de empresas. 0 estru- turalismo na teoria das organizacoes foi sistematizado no Brasil em fins de 1970. Vide Fernando C. Prestes Motta. "0 Estruturalismo na Teoria das OrganizacCies",_Revista de Administraciio de Empresas,...vol. n.° 4, dez. 1970. (Rio de Janeiro: Fundacio Gettilio Vargas.) Esse artigo foi posteriormente publicado em Fernando C. Prestes Motta. Teoria Geral da Administracao: Uma Introduciio, ta ed., 1974, cap. 4 (Sao Paulo: Livraria Pioneira Editora, 13.a ed., 1986). De Amitai Etzioni consultar: Modern Organizations (Engle- wood Cliffs: Prentice-Hall Inc., 1964). Corn efeito, de acordo corn Jean Pouillon ("Uma Tentativa de Definicao", em Pouillon, Godelier e outros, Problemas do Estruturalismo. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1965), o funciona- lismo representa uma das quatro grandes correntes estruturalistas; A Compa- rative Analysis of Complex Organizations (Glencoe: The Free Press, 1966); Political Unification (Nova York: Rinehart and Winston Inc., 1965); The Active Society (Nova York: The Free Press, 1968); Victor A. Thompson. Moderna Organizacao (Rio de Janeiro: USAID, 1967); William H. Whyte, Jr. The Organization Man (Garden City: Doubleday and Co. Inc., 1956); Robert Presthus. The Organizational Society (Londres: Vintage Books, 1965); Carlos Osmar Bertero. "Influencias Sociologicas em Teoria Organizational'. Revista de Administracao de Empresas, vol. 6, n.° 15, nov./dez., 1975 (Rio de Janeiro: Fundagaolio Vargas). — 16 — - 17 — trz terizaram a ciencia social dominante no periodo imediatamente anterior. Os postulados do novo paradigma de Dahrendorf sao os se- guintes: a) sociedade industrial pode ser entendida como urn siste- ma em mudanca continua; b) o conflito entre os grupos sociais deve ser visto como um processo social bisico; c) o conflito entre os grupos tende a institucionalizacao; d) a resolucao dos conflitos entre os grupos determina a di- recao da mudanca; e) o bem-estar social esti na dependencia do resultado dos conflitos entre os grupos. Esses pressupostos estao em oposicao aqueles que norteavam a sociologia dominante na primeira metade do seculo XX, a saber: a) qualquer sociedade e vista como uma constelnao de ele- mentos relativamente estiveis; b) qualquer sociedade e vista como uma configuracao sufi- cientemente integrada de todos os seus elementos; c) qualquer componente da sociedade contribui para seu funcionamento; d) qualquer sociedade se apOia no consenso de seus ele- mentos ". Merton, Gouldner e Selznick concentram suas anilises nas disfuncoses da burocracia; na ideia de que esse sistema possui fun- coes manifestas e latentes; na ideia de que os mesmos fatoresque levam a eficiencia podem tambem levar a ineficiencia. 0 que esti em jogo e a racionalidade do sistema, dificul- tada pelas fontes de imprevisibilidade que the sao inerentes. As- 29. Ralph Dahrendorf. "Toward a Theory of Social Conflict". The 8 sim, a excessiva burocratiznao, bem como as resistencias a con- formidade, podem levar A ineficiencia do sistema. A excessiva formalizacao tende, em primeiro lugar, atraves da imposicao da disciplina via sistema de recompensas e punic6es, a estimular o apego as regras, em prejuizo dos fins tiltimos da organizacao. Os meios se transformam em fins, dificultando a adaptacao da organiznao a novas exigencias. Em segundo lugar, a excessiva formaliznao tende a fixar os padroes minimos de desempenho, que se nao obedecidos impli- cam em punicoes. Isto pode levar a concentrnao de esforcos nesses padroes minimos, o que implica na consecucao minima dos objetivos organizacionais e nao em sua maximizacao. Em terceiro lugar, o excesso de zelo burocritico em termos de utiliznao de documentos escritos pode levar ao excesso de processos e tramitnoes e ao excesso de pessoal, comprometendo a eficiencia global. Em quarto lugar, a pritica necessiria da delegacao de auto- ridade leva a bifurcnao de interesses, via departamentaliznao. Essa bifurcacao tende a comprometer os objetivos globais e ulti mos, na medida em que implica em interioriznao de subobje- tivos. Em quinto lugar, o excesso de impessoalidade pode levar, via adocao de diretrizes gerais e impessoais, a um aumento da visibilidade das relnoes de poder o que, por sua vez, implica em aumento do nivel de tensao interpessoal e no reforco nessas di- retrizes, e que, tambem por sua vez, estimula o conhecimento dos padroes minimos de desempenho. Ern sexto lugar, o excesso de impessoalidade leva a cate- goriznao dos casos individuais e, portanto, dos clientes da orga- niznao. Enquanto o cliente espera um tratamento pessoal e es- pecial, o burocrata the di um tratamento impessoal e geral. Isto estimula os conflitos entre burocracia e publico e, portanto, a ineficiencia no servico aos clientes, razao Ultima de existencia da burocracia. — 18 — — 19 — As resistencias a conformidade exigida pela burocracia de- correm fundamentalmente das necessidades de autonomia dos participantes e da estrutura e das normas dos grupos sociais exis- tentes na organizacio ou ainda dos grupos de referencia de seus participantes. Assim, a imposicao de um padrao de comportamento pode gerar frustragoes que levam a desobediencia, a deteriorizacao do moral ou a reducao da produtividade, comprometendo a con- secucao dos objetivos organizacionais ". As tens5es e conflitos constituem o centro da analise estru- turalista na teoria das organizacoes. Enquanto Gouldner concen- tra boa parte de sua analise no conflito entre orientacao profissio- nal e burocritica ", Merton sublinha os conflitos entre a burocra- cia e public°. Amitai Etzioni acentua o papel dinamico do conflito no desenvolvimento das organizacoes. Esses conflitos sao mul- tiplos na organizacio e decorrem de tensOes entre racionalidade e irracionalidade, organizacao formal e organizacao informal, na estrutura departamental, na hierarquia, etc.. . . Blau e Scott, numa linha semelhante, concentram sua analise dos dilemas entre ordem e liberdade, que se revelam num processo dialetico de de- senvolvimento, a partir das tensoes entre planejamento e iniciati- va, orientacao burocratica e profissional, e coordenacao e comu- nicacao. Tambern e bastante importante a analise da cooptacio nas organizacoes burocriticas desenvolvida por Selznick, entendida como processo de reforco burocritico. Isto tende a ocorrer nas organizacoes de virias formas. De forma aberta ocorre quando o recrutamento se di por relacoes pessoais e afinidades de ordem 30. Luiz C. Bresser Pereira. Organizacno Humanizada. Este texto foi atualizado e publicado em Fernando C. Prestes Motta e Luiz C. Bresser Pereira. Introducao a Organizacao Burocratica, 3.2 ed. (Sao Paulo: Ed. Brasi- liense, 1983). 31. Alvin Gouldner. "Cosmopolitans and Locals". Administrative Science Quarterly, 2 (Ithaca, 1957-1958). emocional. De forma dissimulada, quando, obedecendo a regras burocriticas, a selecao implica de fato nessas relacoes e afinida- des 32 Na Franca, as anilises de Gouldner, Selznick e Merton foram divulgadas e desenvolvidas especialmente por Michel Cro- zier. A partir desse autor, a producao intelectual francesa no campo organizacional passou por modificac5es consideriveis, de modo que podemos falar de uma passagem da escola clissica ao funcionalismo sem mediacao ". A analise estrutural-funcionalista das organizacoes, fiel as orientac5es de Talcott ParsoiD, tern tambem gerado uma teoria organizacional de nivel medio, via estabelecimento de tipologias organizacionais. Destaca-se aqui o trabalho de Etzioni que, a partir do consentimento como criterio comparativo, procura estudar as organizac5es utilitarias, coercivas, normativas e mistas. As primeiras se referem ao exercicio do poder por meio de recompensas materiais e ao consentimento via envolvimento calculado por parte dos rhembros de nivel mais baixo. As em- presas constituem born exemplo desse tipo de organizacio. As segundas se referem ao exercicio do poder por coercao e a orientacao para corn a instituicao caracterizada pela aliena- cao dos participantes de nivel mais baixo. As prisoes constituem born exemplo desse tipo de organizacao. As terceiras dizem respeito ao exercicio do poder por meios simbolicos e ao consentimento caracterizado pelo alto engaja- 32. Mauricio Tragtenberg. Sobre Educacao, Politica e Sindicalismo. Parte I, "Aplicacao das Teorias de Weber Selznick e Lobrot a Educacao" (Sao Paulo: Ed. Cortez, 1982). 33. De Michel Crozier consultar: Le Monde des Employes de Bureau (Paris: Points, 1965); Le Phenomene Bureaucratique (Paris: Editions du Seuil, 1963); La Societe Bloquee (Paris: Points, 1970); em colaboracao corn Erhard Friedberg: L'Acteur et le Systeme: Les Contraintes de l'Action Collective (Paris: Editions du Seuil, 1977); em colaboracao corn Erhard Friedberg: L'Analyse Sociologique des Organisations (Paris: Grep. 1972). — 20 — ____ 21 --- mento dos participantes de nivel mais baixo. As ordens religiosas constituem o exemplo mais tipico dessas organizacoes. As universidades e escolas de todos os tipos constituem urn tipo especifico de organizacoes normativas. Sua especificidade deriva da utilizacao de controles normativos como fonte prima- ria de consentimento e da utilizacio de controles coercivos como fonte secundaria. Outras organizacoes apresentam estruturas mistas. Assim, por exemplo, os sindicatos devem ser entendidos como utilita- rio-normativos e as unidades de combate como coercivo-norma- tivas. A teoria dos sistemas abertos foi introduzida na analise or- ganizacional da mesma forma que na psicologia, na ciencia poli- tica, na sociologia e na economia, isto é, atraves da divulgacao do trabalho do biologo Ludwig von Bertalanffy nos Estados Unidos, onde dirigiu o Centro de Biologia Tearica da Universidade Esta- dual de Nova York, em Buffalo. Bertalanffy admitia a existencia de leis, prindpios e mode- los que podiam ser aplicados a qualquer tipo de sistema ou ainda a seus subsistemas. Em funcao disso propunha a teoria geral dos sistemas como uma nova disciplina cientifica, entendida como campo logico-maternatico, cuja tarefa seria formular e desenvol- ver os principios aplicaveis a todos os tipos de sistemas. Essas ideias eram semelhantes as de Norbert Wiener, o fundador da cibernetica; e de Kenneth Boulding, que desenvolveu a aplicacao da nocao de ecossistema a economia. Logo, o movimento sistemico chegou a psicologia, corn c tra- balho de urn grupo liderado por J. G. Miller, a sociologia, corn o trabalho de Walther Buckley, e a politica,corn o trabalho de David Easton. Na teoria organizacional tern sido incontaveis os esquemas te6ricos baseados na teoria geral dos sistemas. Dentre eles, foram especialmente divulgados no Brasil os de Trist e Rice, do Insti- tuto Tavistock, de Londres, bem como o de Katz e Kahn, da Universidade de Michigan, Ann Arbor ". Trist e Rice sublinham a relacizo entre organizacito e am- biente, vendo a primeira como urn sistema sOcio-tecnico, isto é, como composta de um subsistema social e de um subsistema tecni- co. 0 segundo tern por principais elementos as demandas da tarefa, a implantacao fisica e o equipamento existente, o que im- plica em uma eficiencia potencial. 0 primeiro e dotado de nor- mas, aspiracoes e valores. A conjugacao dos dois subsistemas transforma a eficiencia potencial em eficiencia real. 34. Daniel Katz e Robert L. Kahn. The Social Psychology of Organi- zations (Nova York: John Wiley and Sons, Inc., 1967); A. K. Rice. The Entreprise and its Environment (Londres: Tavistock Publications, 1963); E. L. Trist, G. W. Higgins, H. Murray e A. B. Pollock. Organizational Choice (Londres: Tavistock Publications, 1963); E. J. Miller e A. K. Rice. Systems of Organization (Londres: Tavistock Publications, 1967). De Fernando C. Prestes Motta: "A Teoria Geral dos Sistemas na Teoria das Organizacoes". Revista de Administracao de Empresas, vol. 11, n.° 1, marco, 1971. Este artigo foi publicado posteriormente em Fernando C. Prestes Motta. Teoria Geral de Administracao: Uma Introducao, op. cit., cap. 5; "A Teoria das Organizagoes nos Estados Unidos e na Uniao Sovietica: Introducao a uma Analise Comparativa", Revista de Administracao de Empresas, vol. 14, n.° 2, 1974, posteriormente publicado em Fernando C. Prestes Motta e Luiz C. Bresser Pereira. Introducao a Organizacao Burocrtitica, op. cit., cap. VI; Ludwig von Bertalanffy. Teoria Geral dos Sistemas (Petropolis: Ed. Vozes, 1973); Rensis Likert. New Patterns of Management (TOquio: International Student Edition, Kogakusha Co., 1961. Trad. Livraria Pioneira Editora, 2.a ed., 1979); George C. Homans. El Grupo Humano (Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1950); R. L. Kahn, D. M. Wolfe, R. P. Quinn, J. D. Snoeck e R. A. Rosenthal. Organizational Stress: Studies in Role Con- flict and Ambiguity (Nova York: Jolin Wiley and Sons, Inc., 1964); Fremont E. Kast e James E. Rosenzweig. Organization and Management: a Systems Approach (Nova York: McGraw-Hill, 1970); Ervin Laszlo. The System's View of the World (Nova York: Braziller, 1972); R. Young. "A Survey of General System's Theory". In: Yearbook of the Society for General Systems Research, vol. 19 (Nova York, 1964); James D. Thompson. Organizations in Action (Nova York: McGraw-Hill, 1972); Jacques Monod. Le Hasard et la Necessite: Essai sur la Philosophie Naturelle de la Biologie Moderne (Paris: —Editions— du Seuil, 1970). - 22 — - Entendendo igualmente a organizacio como um sistema so- cial e, portanto, aberto, Katz e Kahn afirmam que, enquanto tal, a organizacio apresenta as seguintes caracteristicas: a) importacao de energia A organizacao recebe insumos do ambiente tais como ma- teria-prima, mao-de-obra, materiais, ou alunos e professores. b) processamento A organizacao processa esses insumos energeticos corn vistas a transforms-los em saidas. Isto se refere a fabricacao, ao treina- mento ou ao ensino. c) exportacao de energia A organizacao coloca suas saidas no ambiente, isto é, produ- tos finais ou formados. d) ciclos de eventos Ha um retorno para a organizacao da energia colocada no ambiente, para a repeticao dos ciclos necessarios ao processamen- to. Assim, o metodo basico para identificar uma estrutura orga- nizacional e seguir os eventos encadeados da importacao ao re- torno da energia. 0 retorno sobre o investimento é dense tipo. e) entropia negativa A entropia refere-se a urn processo pelo qual toda e qual- quer forma organizada tende a indiferenciacao e a morte. Os sis- temas-sociais, porem, repoem energia para resistir ao processo entrOpico. Ao processo de reposicao de energia chamamos en- tropia negativa ou negentropia. Desse tipo e a entrada de conhe- cimento diferenciado. A relacao entre as saidas e as entradas por urn lado, e a . • - - • - • - g * 2.e * • 2.---se respeito a eficiencia da organizacao burocratica e e garantida por meios tecnicos e econotnicos. f) informacao como insumo, controle por retroalimentacao e processo de codificacao Os insumos recebidos pela organizacao referem-se tambem a informacoes que the possibilitam conhecer a qualidade de sua relacao corn o meio ambiente. A codificacao refere-se a seletivi- dade em termos das informacoes. 0 controle por retroalimenta- cao diz respeito a possibilidade de correcao de desvios (feedback). As empresas, escolas, hospitais, partidos politicos, sindicatos, etc . . . recebem informacoes a respeito de seu funcionamento, em termos de imagem. Distorcoes na imagem junto ao public° devem poder ser percebidas pela organizac5o de forma a corn-- gin a sua operacao. g) estado estavel e homeostase dindmica No afa" de impedir a entropia, as organizacoes procuram manter uma relacao constante entre exportacao e importacao. Essa relacao define sua eficacia e e garantida por meios politicos. Todavia, no esforgo de adaptacao, as organizagoes procuram absorver novas funcoes ou ate mesmo novos subsistemas. Em principio, as organizacoes tendem a expansao. Esse esforco as leva a estados estaveis de niveis diferentes. Uma empresa pode optar pela pesquisa e desenvolvimento, para controlar melhor seu ambiente cientifico. Uma escola pode treinar seus proprios professores de acordo corn sua filosofia edu- cacional, ao inves de confiar apenas em outras agencias. h) diferenciacao A caracteristica anterior implica na diferenciacao interna maior e na multiplicacao de papas. As organizacoes tendem a multiplicar func_oes de linlia_e_de coordenacao, e a desenvolver — 24 — — 25 — 29 NOVi:5 I 1 2 - c novos cargos. A pesquisa e desenvolvimento, no exemplo dado, exige criacao de novos papeis e sua articulacao e, talvez, urn de- partamento especial. 0 mesmo ocorre corn o treinamento de pro- fessores. i) eqiiifinalidade A visao sistemica pressupoe a inexistencia de uma unica maneira certa de se atingir urn estado estavel. Esse estado pode- ria ser atingido a partir de condicoes e meios diversos. Assim, uma empresa tem opcoes tecno-administrativas para produzir algo ou prestar um servico. Algo semelhante ocorre corn uma escola, que pode optar entre tecnicas pedagagicas. Toda organizacao apresenta ainda fronteiras que dao o seu campo de acao no am- biente. Uma empresa precisa conhecer os seus limites em termos de sua transacao planejada corn o ambiente, o que interfere na definicao do tipo de produto ou de servico prestado. Coisa seme- lhante ocorre corn a escola. Isto sugere que ha uma divisao de trabalho entre organizacoes. As organizacoes apresentam ainda graus de abertura diver- sos, que implicam em maior ou menor receptividade aos insumos informativos e energeticos do ambiente e a maiores ou meno- res possibilidades de sobrevivencia, crescimento e desenvol- vimento ". Qualquer organizacao, ainda, apresenta uma cultura e urn clima organizacionais, que dizem respeito aos valores domi- nantes e as formas pelas quais esses valores se manifestam ". Mesmo urn visitante casual distingue a atmosfera reinante na Volkswagen e na Secretaria da Educacao, no PT e no PDS, na 35. William H. Starbuck. "Organization Growth and Development". In: James G. March (ed.). Handbook of Organizations (Chicago: Rand Mc- Nally and Co., 1965). 36. Rey Payne e Dereck Pugh. "Organization Structure and Climate". In: Marvin D. Dunnette (ed.). Handbook of Industrial and Organization Psychology (ChicaKo: Rand McNally, 1976). Universidade de Sao Paulo, na Pontificia Universidade Catolica e na Fundacao Gettilio Vargas, na Forde na Fiat. Enquanto sistema social, toda organizacao possui ainda urn subsistema de producao, relacionado corn o processo de transformacao: fun- goes relacionadas a fabricacao ou ao ensino-aprendizagem, por exemplo. A organizacao possui, tambem, subsistemas de suporte, que se encarregam da busca e da colocacio de energia no ambiente e que tratam do born relacionamento corn esse ambiente. Os con- selhos de administracao de muitas empresas e instituicoes uni- versitarias, bem como algumas associacoes de pais e mestres, tern essa funcao. A organizacao apresenta, tambem, urn subsis- tema de manutencao que trata da Egg -do dos participantes ao sistema. Esse subsistema se refere: aos processor de socializacao na organizacao, inclusive recrutamento, selecao, treinamento, administracao de salarios, avaliacao de desempenho, sistema de promocoes e sistemas de incentivos ". Possui igualmente subsis- temas de adaptacao, que :percebem" mudancas ambientais im- portantes, e as traduzem para a organizacao. "As pesquisas de produto e de mercado" tern essa funcao para as empresas; "de opiniao", para os partidos politicos; "estudos econornicos, demograficos, sociais e politicos", para as escolas. Finalmente, a organizacao possui subsistemas administra- tivos, que tratam do controle, coordenacao e de direcao dos sub- sistemas diversos. Esses subsistemas compreendem as estruturas normativas, bem como as estruturas de tomada de deciseies. Esses subsistemas dizem respeito ao aspecto mais propria- mente gerencial das organizacoes burocraticas e se manifestam nas formas de gestao da empresa, do Estado, da escola, do hospi- tal, do sindicato, do partido politico, da Igreja, das ordens reli- 37. Lyman W. Porter, Edward E. Lawler e J. Richard Hackman. Behavior in Organizations (Tdquio: McGraw-Hill Kogakusha International Stildent Fri itin 1975)- --26— — 27 — giosas e do clube. De forma semelhante, existem: (1) organiza- goes economicas ou produtivas, (2) organizacoes de manutencao, (3) organizacoes adaptativas e (4) organizacoes politico-ad minis- trativas. As primeiras compreendem as empresas industriais, corner- ciais, financeiras e prestadoras de servicos. As segundas corn- preendem as escolas, colegios, universidades e organizacoes edu- cacionais de todos os tipos, bem como as igrejas. As organizacoes adaptativas relacionam-se corn a criacao de conhecimento e corn sua aplicacao a solucao de problemas concretos. Sao os laboratOrios e instituicoes de pesquisa, bern como as organizacoes de consul- toria. Com frequencia, as universidades se caracterizam como de manutencao e de adaptacao. Já as organizacoes politico-adminis- trativas dizem respeito a coordenacao e ao controle de recursos humanos e materiais. Os aparelhos de Estado, os sindicatos e algumas associacoes de classe sao orgonizacOes desse tipo. Pode- mos tambem mencionar as associaceiel de dirigentes cristaos, de dirigentes de recursos humanos, de diretores de vendas, a APEOESP, a ADUSP, etc. Por essa tipologia se percebe claramente que uma organi- zacao pode ser vista como sistema, subsistema ou supersistema, dependendo do objeto de analise. Em principio, o sistema mais autemomo que o subsistema, e menos autemomo que o super- sistema. A analise funcionalista das organizacoes desenvolveu-se tambem na Uniao Sovietica, onde varios estudos nessa linha foram realizados durante a decada de 60 ". No Brasil, a teoria de sistemas inspirou diversas teses de mestrado e de doutoramento, especialmente no campo da admi- nistracao de empresas. No que se refere a analise ambiental pro- priamente dita, numa linha semelhante ao trabalho de Kenneth Boulding na economia, ha o trabalho de Zaccarelli, Fischmann e Silva Leme ". No campo da administracao da educacao, o modelo de Katz e Kahn e uma das principais matrizes de um trabalho de Mirtes Alonso. No campo da administracao pliblica, a obra mais antiga de Fred Riggs, que prop& uma analise ecolOgica da administracao, exerceu tambem bastante influencia na producao cultural brasi- leira, embora sua maior influencia tenha lido no ensino 40 . TEORIA DA CONTINGENCIA Por teoria da contingencia se entende urn conjunto de co- nhecimentos, derivados de diversos empreendimentos de pesquisa de campo que procuraram delimitar a validade dos principios gerais de administracao e .organizacio a situagoes especificas. A maior parte desses conhecimentos foram desenvolvidos a partir de Burns e Stalker, Joan Woodward e do Grupo de Aston, e se ref erem a diferentes formas estruturais e processuais derivadas de variaveis contextuais, tais como tecnologia, tamanho, interdepen- dencia, origem e histciria da organizacao, cultura e objetivos orga- nizacionais, propriedade e controle, localizacao e recursos utili- zados ". 39. Sergio B. Zaccarelli, Adalberto A. Fischmann e Ruy Aguiar da Silva Leme. Ecologia de Empresas: Urn Estudo do Ambiente Empresarial (Sao Paulo: Ed. Atlas, 1980). 40. Fred W. Risg_s_jA. Ecologia da Administracao Publica (Rio de Ja- neiro: Fundacao Gettilio Vargas, s/d). 41. Tom Burns e G. M. Stalker. The Management of Innovation (Lon- dres: Tavistock Publications, 1968). As nocoes de sistema mednico e sistema organico se baseiam fundamentalmente em Durkheim. Vide Emile Durkheim. Division of Labor in Society (Nova York: The Free Press, 1947); Joan Woodward. Industrial Organizations: Theory and Practice (Londres: Oxford University Press, 1968); e Tom Reeves (orgs.). Industrial Organizations: 38. Cecile Jampol'skaja. "Quelques Aspects de la Methode de la Scien- ce Administrative". In: L'Administration Publique. "Recueil de Textes Pre- pare par les Instituts Belge et Francais des Sciences Administratives" (Paris: Armand Colin, 1971); Robert F. Miller. "The New Science of Administration in the URSS". Administrative Science Quarterly (Ithaca, setembro, 1971). Esse artigo procura resumir e sistematizar a teoria organizacional na URSS. — 28 -- Burns e Stalker entendem que ha dois "tipos ideais" de organizacao, que devem ser ent-• • • •MO os pontos_extremps de urn con muum . 0 primeiro e o sistema mecanico; o se - - o sistema organico. 0 sistema mecanico e adequado a condicoes relativamente estaveis de tecnologia e mercado, enquanto que o sistema organic° e adequado as condic6es opostas. Caracteriza-se por uma divisao de trabalho rigida, por uma nitida hierarquia de controle, pela concentragao de autoridade de linha na cupula administrativa, pela concentragao de informaciies e de conheci- mento no mesmo nivel, e pela valorizacao das comunicacoes e interacOes verticais entre superiores e subordinados. Caracteri- za-se, ainda, pela obediencia e pela exigencia estrita de lealdade a organizacao. E o caso de muitas empresas, orgaos ptiblicos, escolas e universidades tradicionais. 0 segundo se caracteriza pelo ajustamento continuo as mudancas ambientais e pela redefinicao continuada de tarefas correspondentes, pela valorizacao do saber especializado e das comunicacoes horizontais e verticais exigidas pelo processo de trabalho, bem como por urn alto grau de engajamento corn os Behavior and Control (Londres: Oxford University Press, 1970). De D. S. Pugh, D. J. Hickson e Diana Phesey. "Operation Technology and Organiza- tion Structure". Administrative Science Quarterly, vol. 14, n.° 3, setembro (Ithaca, 1969); em colaboracao corn C. R. Hinings: "An Empirical Taxonomy of Structures of Work Organizations". Administrative Science Quarterly, vol. 14, n.° 1, margo (Ithaca, 1969); em colaboracao corn C. Turner: "The Context of Organization Structures". Administrative Science Quarterly, vol. 14, n.° 1, marco (Ithaca, 1969); "Dimensions of Organization Structure". Administra- tive Science Quarterly, vol. 14, n.° 1, margo (Ithaca, 1969); em colaboragao corn K. M. Mc Donald e T. Lupton: "A Conceptual Scheme for Organization Analysis". AdministrativeScience Quarterly, vol. 8, n.° 3, dezembro (Ithaca, 1963); G. H. Amber e P. S. Amber. Anatomy of Automation (New Jersey: Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1962); Jerald Hague e Michael Aiken. "Rou- tine, Technology, Social Structure and Organization Goals", Administrative Science Quarterly, vol. 14, ri.° 3, setembro (Ithaca, 1969); Fernando C. Prestes Motta. "Estrutura e Tecnologia: A Contribuicao Britanica", Revista de Admi- nistracao de Empresas, vol. 16, n.° 1, jan./fev. (Rio de Janeiro: Fundacao Gettilio Vargas, 1976). fins da organizacao como um todo. E o caso de certas empresas, partidos politicos, escolas e universidades modernas. Joan Woodward e seus colaboradores demonstraram urn alto nivel de determinagao tecnolOgica da estrutura e do controle organizacionais. Nao entenderam a tecnologia como -Unica variavel determinante, mas como uma das principais. Perceberam que fabricas, que adotam sistemas produtivos de pequenos lotes ou ainda de producao unitaria, tendem a apresentar uma estrutura organizacional muito achatada, onde planejamento e execucao sac, separados de forma pouco nitida. No que se refere a organizacao do trabalho, a comum nessas fabricas a existencia de grupos de trabalhadores que mantem urn contato relativamente pessoal corn seus superiores. Nessas fabricas tambem predominam as comunicagoes orais e a divisao de traba- lho pouco rigida. 0 sistema de controle tende a ser unitario e pessoal. Os niveis hierarquicos sao poucos e a amplitude de controle e grande. Urn grande mimero de pequenas pre-escolas, que adotam pedagogias nao-diretivas, tendem a apresentar esse tipo de estrutura e de gestao. Nas fabricas que adotam a producao de grandes lotes ou em massa, a estrutura e piramidal, mas menos achatada que no primeiro caso. Ha urn grande /Rimer° de trabalhadores diretos e, proporcionalmente, um numero menor de funcionarios de escritOrio e de administradores. Nessas fabricas, ha tambem uma hierarquia administrativa relativamente complexa em termos de cirgaos de linha e de "staff", e uma separacao muito rigida entre direcao e execucao. A amplitude de controle nos niveis mais baixos tende a ser grande, mas bem definida, havendo uma grande preocupacao em termos de politica de relagoes humanas. Predominam, em muitos casos, ainda as comunicagoes escritas e verticais. Em alguns casos essas fabricas apresentam urn sistema de controle fragmentado e predominantemente pessoal; em outros fragmentado mas predominantemente impessoal. Esse tipo de — 30 — — 31 — estrutura e encontrado corn grande frequencia em escolas e uni- versidades onde predominam as pedagogias diretivas. 8 tambem caracteristico de instituicoes "organicas" corn relacao a regimes politicos autoritarios e voltadas para a producao em massa de diplomas Urn terceiro tipo de fabrica é aquele que adota sistemas produtivos por processo. Constituem unidades produtivas de tecnologia capital-intensiva avancada. Essas fabricas tendem a exibir hierarquias alongadas, onde predomina a administracao por comites, mais do que a autoridade de linha. Os trabalhadores diretos sao relativamente poucos se comparados corn o pessoal qualificado. Ha mais trabalhadores de manutencao e de controle do que de execucao. Elas empregam urn grande mimero de espe- cialistas corn estudos pas-graduados, e o relacionamento do pessoal tende a ser pouco burocratizado. 0 sistema de controle tende a ser unitario e predominantemente impessoal. Grande mimero de instrumentos de controles sao mecanicos ou automaticos. Algumas universidades grandes e modernas norte-america- nas se aproximam desse tipo de organizacao, embora em menor grau do que as fabricas. Algumas poucas faculdades e instituicoes de pesquisa brasileiras, dotadas das mesmas caracteristicas, tambem exibem essa aproximacao. Ha tambem alguns colegios particulares em Sao Paulo, que utilizam pedagogias modernas, que tambem apresentam essa proximidade. Joan Woodward e seus colaboradores verificaram que as fabricas, nas quais aparecia de forma clara a correlacao positiva entre tecnologia e estrutura, eram caracterizadas pelo melhor de- sempenho financeiro e mercadolOgico. Observaram, tambem, que a tecnologia depende em grande medida do tipo de produto e do tipo de mercado que se pretende atingir, havendo portanto limites as °Noes tecnolOgicas. 42. Carlos Benedito G. Martins. Ensino Pago: Um Retrato sem Reto- ques (S5o Paulo: Ed. Global, 1981). Trata-se de um interessante trabalho de analise de uma das universidades particulares de Sao Paulo. Warren Bennis, por sua vez, observou que, tendencialmente, os sistemas caminham do mecanico para o organic°, o que reflete o tipo de desenvolvimento das forcas produtivas no capitalism moderno ". 0 Grupo de Aston realizou urn trabalho semelhante ao do gr(ipo de Joan Woodward. Trabalhou, porem, corn sistemas e subsistemas organizacionais, e nao necessariamente corn unidades de producao. Seus estudos confirmaram a correlagao positiva entre tecnologia e estrutura organizacional, revelando, porem, que a influencia tecnolOgica decresce na medida em que o tama- nho aumenta. Esse grupo de pesquisadores concluiu que a varidvel contextual mais explicativa da estrutura e o tamanho, seguido da tecnologia e da interdependencia. Outras variaveis contextuais sao menos explicativas. Suas pesquisas levaram a definicao de sete perfis organiza- cionais diferentes: (1) burocracia plena, (2) burocracia plena nascente, (3) burocracia de pessoal, (4) burocracia de fluxo de trabalho, (5) burocracia de fluxo de trabalho de nascente, (6) burocracia de pre-fluxo de trabalho, e (7) organizacoes implicita- mente estruturadas. 0 primeiro tipo apresenta alta estruturacio de atividades e alta concentracao de autoridade de linha. Apresenta, igualmente, alta dependencia do fluxo de trabalho, mas uma integracao tecno- lOgica baixa desse fluxo. Os procedimentos de selecao e promocao sao altamente padronizados e os papeis altamente formalizados. Algumas empresas ptiblicas tendem a apresentar esse tipo de estrutura. As pesquisas conhecidas identificaram-no em depar- tamentos industriais de Orgaos publicos e em estatais ligadas ao sistema ferroviario e a eletricidade na Gra-Bretanha. As organi- zagoes educacionais, bem como as empresas privadas, tendem a se afastar, em graus diversos, desse perfil. 43. Vide Warren Bennis. Changing Organizations (Nova York: McGraw- Hill, 1966). — 32 — -- 33 --- O segundo tipo apresenta as mesmas caracteristicas, mas menos pronunciadas. 0 grupo identificou-o em uma fabrica de abrasivos, em urn departamento governamental local de trans- portes, em uma empresa de construcao civil e em uma fabrica de papel. Algumas organizacoes educacionais tendem a aproximar- se desse perfil. 0 terceiro apresenta baixos niveis de estruturacao de ativi- dades e altos niveis de concentracao de autoridade de linha e de controle de linha. E tipico dos Orgaos governamentais. Muitos colegios e universidades podem provavelmente ser incluidos nessa categoria. As empresas privadas e mesmo estatais tendem a afastar- se dele, da mesma forma que os colegios e universidades mais modernos. O quarto apresenta as caracteristicas contrarias as do ter- ceiro, e e tipico de organizacoes maiores e mais dependentes corn relacao ao ambiente. Tendem a utilizar tambem tecnologia mais avancada. 0 quinto apresenta as mesmas caracteristicas menos pronunciadas, revelando uma independencia relativamente maior. O sexto apresenta as mesmas caracteristicas, mas uma estru- turacao de atividades consideravelmente mais baixa. E tipica de empresas menores, mas consideravelmente mais independentes. Algumas faculdades isoladas podem aproximar-se desse perfil. As organizacoes implicitamente estruturadas, o setimo tipo, apresentam alta centralizacao de decisoes e padronizacao de proce- dimentos de selegao e promocao. Os niveis de controle de linha do fluxo de trabalhosao altos, mas a estruturacao de atividades e consideravelmente mais baixa do que no caso da burocracia plena. As grandes cedes comerciais tendem a exibir esse perfil. E pouco encontrado nas empresas industriais e financeiras. Tam- bem e tipico das organizacoes educacionais. A questa() dos limites da opcao tecnologica, em termos do produto ou do servico a ser prestado, fica clara quando conside- ramos diferentes organizacoes. Assim, a producao de automOveis, nos dias atuais, implica numa tecnologia rigida. Isto leva geral- mente a uma importancia maior das atividades ligadas a procura de materiais e colocacao do produto e a uma maior rigidez estru- tural. No caso de urn grande ntimero de instituicoes educacionais o produto sao ideias, e a tecnologia e bastante flexivel. Isto leva a sublinhar a importancia da obtencao de consenso. Em outras organizacoes educacionais, o alto nivel de espe- cializacao do produto leva a uma tecnologia mais rigida. Dal a importancia da obtencao de suporte para a consecucao do objetivo. As universidades geralmente implicam nos dois tiltimos tipos considerados, ja que trabalham ao mesmo tempo corn pro- dutos abstratos e tecnologia flexivel, e produtos abstratos e tecnologia fixa. Finalmente, indtistrias como a de plasticos geralmente impli- cam em tecnologia flexivel, o que leva a uma maior importancia da inovacao e, portanto, a uma maior organicidade da estrutura organizacional o que foi exposto sobre a teoria contingencial refe- re-se a diferencas entre organizacoes. Entretanto, diferentes fato- res contextuais no interior de uma mesma organizacao podem, corn freqiiencia, implicar em diferentes formal de integracao e de diferenciacao estrutural e processual. As pesquisas de Law- rence e Lorsch revelaram dados interessantes a esse respeito ". Esses autores construiram urn modelo a que chamaram diferen- ciacao-integracao, corn base no estudo empirico de dez empresas norte-americanas, funcionando em diferentes ambientes. 44. Thompson e Bates. Technology, Organization and Administration (Ithaca: Business and Public Administration, Cornell University, mimeog., 1969). 45. De Paul Lawrence e Jay W. Lorsch consultar: Organization and Envi- ronment (Cambridge: Harvard University Press, 1967); Developing Organi- zations: Diagnosis and Action (Massachusetts: Addison-Wesley, 1969). — 34 — — 35 — Fundamentados na visao da organizacao como sistema aberto, partem do pressuposto de que nao hd uma -Unica maneira certa de administrar e estruturar atividades. 0 modelo procura compreender as caracteristicas organizacionais que sao exigidas para o desempenho eficiente em ambientes dotados de determi- nadas particularidades. Para tanto, e importante saber o nivel de diferenciacao entre os diversos grupos na organizacao, que as diferentes demandas ambientais exigem. Essa diferenciacao depende das caracteristicas internal que cads grupo precisa desenvolver, para levar a cabo suas transacoes planejadas corn o setor do ambiente que the e mais relevante. Em termos bem mais especificos, depende da magnitude em que se manifesta a certeza quanto as informacoes nos diferentes seto- res do ambiente. Ha casos em que tais setores sao razoavelmente homogeneos quanto ao grau de certeza. Assim, por exemplo, mercado, tecnologia e ciencia podem ser, em conjunto, seme- lhantemente estaveis ou semelhantemente dinamicos. Nessa situa- cao, as unidades organizacionais, que lidam corn esses setores, precisarao ser razoavelmente semelhantes no que se refere a sua estrutura, as praticas administrativas e a orientacao de seus membros. No caso oposto, os setores ambientais relevantes podem ser muito heterogeneos quanto ao nivel de certeza das informacoes. Nessa situacao, as unidades organizacionais precisarao ser mais diferenciadas quanto a estrutura, praticas administrativas e orien- tacao dos membros. E bastante freqiiente que essas diferentes envolvam formas fundarnentais em termos de linha de pensa- mento e de valores, bem como de tipo de comportamento. Isto significa que ha tipos de personalidade mais adequados ao trabaiho em condicoes de alto nivel de certeza e outros tipos adequados as condicoes inversas. Evidentemente, ha tipos que se situam num continuum de certeza-incerteza. 0 modelo diferenciacao-integracao leva-nos a concentrar a atencao nao apenas no grau de diferenciacao requerida, mas tarn- bem no grau de integracao requerida, e essa integracao requerida funcao da maior ou menor necessidade que as unidades tem de trabalhar conjuntamente. Em principio, existe uma alta relacao inversa entre diferen- ciacao e integracao. E evidente que quando a diferenciacao reque- rida a alta, torna-se mais dificil a integracao. Isto significa que os meios de integracao em organizacoes mais homogeneas podem ser mais simples e tradicionais, o que nao ocorre em organizac5es mais heterogeneas. Quando o nivel de diferenciacao quanto a estruturas, prati- cas administrativas e orientacao dos membros e baixo, a hierar- quia pode ser suficiente para a conducao da colaboracao inter- grupal requerida. 0 mesmo nao ocorre nas organizac5es que precisam trabalhar corn estruturas, praticas administrativas e orientacoes dos membros muito diversas. Nesse caso os mecanis- mos de integracao precisam ser mais complexos. nessa Ultima situacao, ou em situacoes que dela se aproxi- mam, que se desenvolvem diversos sistemas de coordenacao, que podem implicar em coordenadores individuais, em equipes inter- departamentais e ate mesmo em departamentos integradores. 0 modelo diferenciacao-integracao indica que certas organi- zacoes trabalham internamente corn sistemas de tipo mecanico e corn sistemas de tipo organic° simultaneamente e que sua eficien- cia depende da adequacao estrutural, administrativa e comporta- mental a diferenciacao e integracao requeridas. Lawrence e Lorsch analisaram empresas ligadas a indlistria de "containers", de plasticos e de alimentos empacotados. Verifi- caram que as primeiras tendiam a caracterizar-se como altamente homogeneas. As segundas caracterizavam-se como altamente bete- rogeneas e as terceiras como intermediarias. Verificaram tambem que essas empresas tendiam a ter estru- turas de poder diversas conforme o subsistema vital para seu fun- cionamento. Isto e, o subsistema lider era aquele que lidava corn o setor ambiental mais relevante. Dessa forma, quando o ambiente 36 --- — 37 — mercadolOgico era o mais importante, o subsistema lider era vendas; quando o ambiente cientifico era o mais relevante, pes- quisa e desenvolvimento liderava e, quando o ambiente tecnolo- gico era o mais relevante, liderava producao. As universidades constituem urn tipo de organizacao educa- cional que trabalha corn ambientes relevantes altamente diferen- ciados. Isto explica, em parte, o sucesso das instituicoes que conse- guem desenvolver estruturas flexiveis e diferenciadas, e que se baseiam mais na coordenacao do que na hierarquia como fonte de integracao. Entretanto, isto nao pode ocorrer nos casos em que o objetivo e a producao em massa de diplomas, o que leva a rigidez processual. No Brasil, alguns estudos interessantes tern-se concentrado na angise contingencial. Boa parte deles se refere aos campos de administracao de empresas e da engenharia de producao. Em outros campos, como a administracao priblica, a administracao da educacao e a administracao hospitalar, percebe-se ja algum movi- mento nessa direcao. Alguns autores entendem que os estudos de Lawrence e Lorsch marcam o final da.primeira etapa da abordagem dos siste- mas abertos na teoria das organizacoes. Os anos 70 e os primeiros anos da decada de 80 seriam caracterizados pot uma nova fase baseada na relacao sistema aberto-agente social ". Os te6ricos mais significativos dessa nova fase seriam James March, da Universidade de Stanford, veterano da teoria organiza- cional e Karl Weick, da_ Universidade de Cornell. Trata-se de colocacoes queprocuram "iiiitantar—aideral-do-agehte racional, caracteristico de uma .epoca mais estavel, pela do agente social. O ambiente organizacional e visto como o imperio da desor- dem, exigindo consideracao dos membros da organizacao como agentes sociais complexos, com suas idiossincrasias, suas contra- dicoes, seus absurdos, suas forcas e suas fraquezas. Assume-me 46. Thomas J. Peter e Robert H. Waterman, Jr. In: Search of Ex- cellence (Nova York: Harper and Row, 1982), pp. 111-33. como pressuposto que tudo esti em moviinento, o que inclui os meios e os fins da organizacao tanto quanto as forcas externas ". Urn ponto importante a ser ressaltado é a proposta do fim, ou pelo menos da reducao radical, do formalismo, bem como a colocacao central da questao da iniciativa individual e da evolugao. Para Weick, a teoria organizacional esteve durante muito tempo escravizada pelas metiforas militares. Essas cadeias teriam lido responsaveis pela incapacidade de pensar corn autonomia e inteligencia as questoes da administracao contemporanea, subme- tendo-as a procedimentos arcaicos ligados a disciplina e ao con- trole militates. Tanto para Weick quanto para March, a nova visao dos problemas organizacionais parece especialmente perigosa para os administradores formados na antiga tradicao e habituados a uma forma rigida de pensamento. Tudo isto porque o novo modelo proposto incorpora tracos tradicionalmente tidos como irracionais nos meios organizacionais, sejam empresariais ou academicos. Assim entendem que a administracao contemporanea exige uma nova flexibilidade, baseada em metaforas novas, vindas do iatismo, da fantasia, das feiras, das estacOes espaciais, dos esgotos, das futilidades e das tribos selvagens ". 0 centro dessas colocacoes nao me parece implicar uma ruptura corn a abordagem sistemica tradicional. 0 que parece novo e a extrema importancia dada ao papel do administrador 47. W. Richard Scott. "Theoretical Perspectives". In: Marshall W. Meyer et alii. Environments and Organizations (San Francisco: Jossey-Bass, 1978). 48. De James G. March consultar: "The Technology of Foolishness". In: Harold Leavitt, Louis R. Pondy e David M. Bojie (eds.). Readings in Managerial Psychology (Chicago: University of Chicago Press, 1980); em co- laboracao corn Johan P. Olsen: Ambiguity and Choice in Organizations (Ber- gen: Universitets Forlaget, 1976); Karl E. Weick. The Social Psychology of Organizing (Addison Massachusetts Wesley, 1979). Para a aplicagio dessas ideias ao campo educational vide Karl E. Weick. "Educational Organizations as Loosely Coupled Systems". Administrative Science Quarterly, vol. 21, n.° 1 (Ithaca, 1976). — 38 — --39- como modelador da cultura organizacional e delineador de sua evolucao. A criacao de valores comuns compartilhados por todos os membros da organizacao e condicao de seu sucesso. A tecnologia da automacao, o gigantismo organizacional, o desafio japones, bem como o alto nivel de conflito social na sociedade contemporinea, alem da necessidade de cooptacao e das crises de legitimidade, parecem explicar esse deslocamento que ja vinha ha muito sendo esbocado. Nos anos 80, uma nova vertente da analise funcionalista vem se impondo nos Estados Unidos. Conhecida como network analysis, essa nova linha sociologica, centrada na acao social e utili- zando bastante os metodos quantitativos, ja vem sendo aplicoda ao campo organizacional, incluindo empresas e universidades ". Edward J. Jay define uma rede (network) como a "totali- dade de todas as unidades conectadas por urn certo tipo de rela- cionamento" ". Assim, uma network e construida mediante o encontro "das ligacoes entre todas as organizacoes numa popu- lack) em estudo, sem que seja levado em conta o modo pelo qual a populacao esta organizada em conjuntos de organizacoes ou conjuntos de acao. Dado urn sistema dotado de limites, os inves- tigadores identificam todas as ligacoes entre os elementos na 49. Ronald S. Burt. "Corporate Philanthropy as a Cooptive Relation", Social Forces, dezembro, 1983, vol. 62, n.° 2, bem como Ronald S. Burt et alii. Applied Network Analysis: A Methodological Introduction (Beverly Hills: Sage, 1983) e Ronald S. Burt. Toward a Structural Theory of Action; Network Models of Social Structure, Perception, and Action (Quantitative Studies in Social Relations) (Nova York: Academic Press, 1982); Philip M. Marcus. Social Networks and Complex Organizations. Department of Sociology and Social Science Research Bureau (Michigan State University, East Lansing, Xerox, s/d.). 50. Edward J. Jay. "The Concepts of 'Field' and `Network' in Anthropological Research". Man, 64, p. 138. In: Howard Aldrich e David A. Wheten. "Organizations-Sets, Action-Sets and Networks: Making the Most of Simplicity". In: Paul C. Nystrom e Willian H. Starbuck (eds.). Handbook Universit Press 1981 . populacao do interior desses limites" ". Trata-se, mais uma vez, de um desenvolvimento do funcionalismo sistemico voltado para a analise do universo interorganizacional, que, entretanto, aplicado tambem a outros niveis de complexidade social. NOVAS MATRIZES, NOVAS TENDENCIAS Nos anos mais recentes, muitas novas tendencias tem se desenvolvido na analise organizacional, qualquer que seja o seu campo de aplicacao, algumas bastante afastadas da teoria conven- cional, opondo-se a ela, enquanto outras nao. Em primeiro lugar, urn grande niimero de estudos tem se concentrado em questoes relacionadas corn os sistemas de partici- pacao na administracao das organizacoes. Alguns desses estudos referem-se a formas relativamente simples de participacao e vimento, derivadas principalmente das novas necessidades tecnicas da producao. Dizem respeito principalmente a mudancas no siste- ma produtivo do tipo de euriquecimento de tarefas, dos circulos de controle de qualidade e dos grupos semi-autonomos ". 51. Howard Aldrich e David A. Wheten. "Organizations-Sets, Action- Sets and Networks: Making the Most of Simplicity", p. 387. 52. Na realidade o funcionalismo domina toda a teoria organizacional convencional. No campo educacional, vide por exemplo, entre muitas outras obras, Stephen Jr. Beneett. The School: An Organizational Analysis (Londres: Blackie, 1974) e Charles E. Bind -well. "The School as a Formal Organiza- tion". In: James G. March (ed.). Handbook of Organizations (Chicago: Rand McNally, 1965). 53. J. L. Burbidge. Final Report on a Study of the Effects of Group Production Methods on the Humanization of Work (Turim: International Center for Advanced Technical and Vocational-Training, 1975). Sobre os gru- pos semi-autOnomos na Uniao Sovietica vide Marcel Drach. "Zoblin entre Taylor et Stakhanov". Le Travail a l'Est, Travail 2/3, junho (Paris, 1983). Sobre o caso brasileiro vide Claudio Cintrao Forghieri. Grupos Semi-AutO- nomos (Sao Paulo: Fundacao Genilio Vargas, 1981); Louis E. Davis, Albert B. Cherns e col. The Quality of Working Life (Londres: Collier Mac Millan, 1975); Louis E. Davis e James C. Taylor (eds.). Design of Jobs (Londres: Penguin Books, 1972); William Ouchi. Teoria Z, 7,° ed. (Sao Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983). — 40 — — 41 — Outros se referem a experiencias setoriais ou nacionais mais avancadas de participacao, tais como os sistemas vigentes em de- terminados paises europeus como Alemanha, Gra-Bretanha, Franca, Holanda, paises escandinavos e paises do Leste ". Outros, ainda, se referem a experiencias histOricas de auto- gestao ou, pelo menos, que se proclamaram autogestionarias, tais como a Comuna de Paris (1871), o movimento machnovista na Ucrania (1917 ) , a experiencia espanhola (1936-1939) , a expe- riencia dos Kibbutzin israelenses (1945-) e a experiencia iugos- lava (1950-) ". Muitos estudos ainda se concentram na analise dos pressupostos filosOficos, econOrnicos, sociolOgicos, antropo- lOgicos e organizacionais das formas diversas de participacao e de
Compartilhar