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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO – UCDB CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL LUCAS CECCI MACEDO MARIANE MARTINS ZEM ANÁLISE DA VULNERABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO CEROULA Campo Grande – MS 2021 UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO – UCDB CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Título do Trabalho: Análise da Vulnerabilidade das Águas Subterrâneas na Área de Contribuição da Área de Proteção Ambiental do Córrego Ceroula Autores: Lucas Cecci Macedo e Mariane Martins Zem Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), sob a orientação do Prof. Dr. Guilherme Henrique Cavazzana e coorientação do Eng. Osmair Jorge Freitas Simões. Aprovada em: Banca examinadora: Prof. Me. Luiz Antônio Paiva UCDB Prof. Dr. Fernando Jorge C. M. F. UCDB Prof. Dr. Guilherme Henrique Cavazzana. Orientador - UCDB Eng. Osmair Jorge Freitas Simões Coorientador Campo Grande – MS 2021 RESUMO Aquíferos são reservatórios de água subterrânea importantes para o abastecimento púbico. No entanto, devem ser protegidos apropriadamente de potenciais cargas poluidoras, seja de origem antrópica ou natural. Embora as águas subterrâneas tenham certa resiliência e capacidade de atenuação natural de contaminantes, uma vez contaminadas, a restauração das águas subterrâneas é uma tarefa complexa e cara na maioria dos casos. A vulnerabilidade de um aquífero representa o quão fácil ou o quão difícil é o contaminante percorrer pelo subsolo até alcançar as águas subterrâneas. Nesse sentido, este estudo visa mapear os pontos de vulnerabilidade natural e à contaminação das águas subterrâneas da área de contribuição da bacia hidrográfica do Córrego Ceroula, localizada a noroeste do município de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul Palavras-chave: Aquíferos; Vulnerabilidade Natural; Vulnerabilidade à Contaminação. ABSTRACT Aquifers are important groundwater reservoirs for public supply. However, they must be adequately protected from potential pollution loads, whether man-made or natural. Although groundwater has a certain resilience and capacity for natural attenuation of contaminants, once contaminated, groundwater restoration is a complex and expensive task in most cases. The vulnerability of an aquifer represents how easy or how difficult it is for the contaminant to travel through the subsurface to reach the groundwater. In this sense, this study aims to map the points of natural vulnerability and groundwater contamination in the contribution area of the Ceroula stream watershed, located northwest of Campo Grande, in the state of Mato Grosso do Sul. Keywords: Aquifers; Natural Vulnerability; Vulnerability to Contamination. SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................... 3 ABSTRACT ................................................................................................................. 4 SUMÁRIO ................................................................................................................... 5 LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 6 LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..................................................................... 9 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10 2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 12 3. OBJETIVOS ..................................................................................................... 13 3.1. Objetivo Geral ............................................................................................. 13 3.2. Objetivos Específicos ................................................................................ 13 4. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 14 4.1. A Água e o Ciclo Hidrológico .................................................................... 14 4.2. Águas Subterrâneas .................................................................................. 16 4.3. Sistemas Aquíferos e o Fluxo da Água Subterrânea .............................. 17 4.4. Uso e Cobertura da Terra e as Possíveis Contaminações ..................... 20 4.5. Vulnerabilidade Natural das Águas Subterrâneas .................................. 22 4.6. Sistema Nacional de Unidades de Conservação ..................................... 25 4.6.1. Unidades de Conservação no Estado de Mato Grosso do Sul .............. 25 4.6.2. Unidades de Conservação em Campo Grande ..................................... 26 4.7. Geoprocessamento .................................................................................... 27 5. METODOLOGIA ............................................................................................... 30 5.1. Caracterização da área de estudo ............................................................ 30 5.2. Caracterização dos Aquíferos ................................................................... 31 5.2.1. Aquífero Formação Serra Geral............................................................. 32 5.2.2. Aquífero Formação Caiuá Botucatu ....................................................... 32 5.3. Estimativa das vulnerabilidades pelo método GOD ................................ 32 5.3.1. Aquisição e Seleção de Dados .............................................................. 33 5.3.2. Tratamento e Distribuição de Dados ..................................................... 34 5.3.3. Ponderação dos Dados ......................................................................... 34 5.3.4. Avaliação dos Índices Finais ................................................................. 36 5.3.5. Elaboração dos Mapas de Vulnerabilidade ........................................... 36 5.3.6. Indicadores Comparativos ..................................................................... 37 6. RESULTADOS ESPERADOS .......................................................................... 38 7. CRONOGRAMA ............................................................................................... 39 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ciclo da Água (E = evaporação; ET = evapotranspiração; I = infiltração; R = escoamento superficial). ........................................................................................... 15 Figura 2. Fluxo da água subterrânea. ....................................................................... 15 Figura 3. Zona de aeração e zona de saturação evidenciadas a partir do grau de saturação de água. .................................................................................................... 16 Figura 4. Classificação do aquífero quanto à porosidade. ........................................ 18 Figura 5. Tipos de aquífero e seu comportamento frente à perfuração de poço. ...... 19 Figura 6. Potenciais fontes de contaminação das águas subterrâneas. ................... 21 Figura 7. Zoneamento Ecológico-Econômico do município de Campo Grande – MS. .................................................................................................................................. 27 Figura 8. Representação da metodologia de álgebra de mapas............................... 29 Figura 9. Mapa de localização das áreas da Área de Contribuição e da APA do Ceroula. ..................................................................................................................... 30 Figura 10. Fluxograma do processo metodológico. ................................................... 33 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Cronograma de atividades relacionadas ao presente trabalho. ............... 39 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Estudos relacionados a vulnerabilidade natural das águas subterrâneas. 24 Tabela 2. Áreas de Proteção Ambiental no MS. ........................................................ 26 Tabela 3. Porcentagem de áreas de uso e manejo do solo da área de contribuição da APA do Ceroula. ........................................................................................................ 31 Tabela 4. Pesos para ponderação da tipologia do aquífero. ..................................... 35 Tabela 5. Pesos para ponderação da litologia do local. ............................................ 35 Tabela 6. Pesos para ponderação da profundidade do aquífero............................... 35 Tabela 7. Pesos para ponderação do uso e ocupação da área de estudo. .............. 36 Tabela 8. Resultados e classificações da metodologia GOD. ................................... 36 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANA Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico APA Área de Proteção Ambiental NA Nível D’água PLANURB Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano PNAS Programa Nacional de Águas Subterrâneas SIG Sistemas de Informações Geográficas SRHU Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano ZEE/MS Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do Sul SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza GUC Gerencia de Unidades de Conservação UNICECO Unidade de Cadastro e ICMS Ecológico UC Unidade de Conservação IMASUL Instituto de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso do Sul 10 1. INTRODUÇÃO A água subterrânea é muito importante para equilibrar a dinâmica da infiltração e escoamento da água, e tem sido por muitos anos usado como reservatório para a demanda futura e implicações na escassez de água iminente (FRANCO et al., 2018). Silva et al., (2017) menciona que a água subterrânea é uma das reservas de abastecimento de água mais importantes, e na maioria das vezes não necessita de tratamento para o seu consumo, devido ao processo de filtração natural do subsolo. No Brasil as reservas de água subterrânea é são de cerca de 42,3 mil m³/s, o que equivale a 24% da vazão média dos rios no país, ou 46% das águas superficiais disponíveis (ANA, 2010). O aumento da população no âmbito nacional gera uma crescente demanda de captação subterrânea, a qual muitas vezes acontece sem o gerenciamento adequado e estudos técnicos de recarga e de vazão permissível do aquífero. Como resultado, a quantidade de água fornecida aos rios pode ser reduzida, bem como ocorrer as secas de nascentes, o esgotamento de reservatórios e a diminuição do nível do lençol freático (ZOBY, 2005). Para estabelecer uma melhor gestão de consumo das águas subterrâneas em julho de 2014, foi publicado o Decreto N° 13.990 que regulamenta a outorga de direito de uso dos recursos hídricos, de domínio do Estado de Mato Grosso do Sul, a Política Estadual de Recursos Hídricos estabelece que a outorga de direito ao uso dos recursos hídricos é um instrumento que tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos das águas, superficiais ou subterrâneas, e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água (SEMADE, 2010). A Área de Proteção Ambiental – APA é uma das categorias de Unidades de Conservação de uso sustentável estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que busca o equilíbrio da preservação ambiental (BRASIL, 2000). Quando se fala em preservar uma APA, estamos nos referindo a uma esfera socioeconômica e ambiental. Dito isto, as águas subterrâneas são fundamentais para a recarga dos corpos hídricos e fonte de abastecimento, por meio de poços profundos. O Decreto Municipal N°. 8.264 de 2001 cria a APA da Bacia do Córrego Ceroula, que é uma das três APAs pertencentes ao município de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, ressalta-se ainda, que esta é a única do 11 município que possui nascentes no Município com drenagem para o Pantanal (SARAVAIA, 2019). A delimitação de áreas de proteção de aquíferos ou de poços e de áreas de restrição referem-se ao estabelecimento de diretrizes ambientais para o zoneamento e controle do uso e ocupação do solo, bem como ao controle da exploração da água subterrânea. Estas áreas visam proteger a qualidade da água captada contra contaminação bacteriológica e química ou restringir a captação em casos de contaminação ou de superexploração (CETESB, 2021). Tendo em vista a crescente demanda do uso de água subterrânea no abastecimento público, ganhou destaque as atividades potencialmente poluidoras dessa fonte, podendo citar o uso excessivo de agrotóxicos e fertilizantes, as fossas sépticas, os lixões, os esgotos industriais, os poços mal edificados e/ou abanados, os cemitérios e os acúmulos de produtos químicos e combustíveis (PINTO-COELHO et al., 2015). Levando em consideração que o uso e ocupação do solo na área da APA Ceroula possui inúmeras atividades que proporcionam grande risco a contaminação das águas subterrâneas, o Plano de Manejo da APA do Ceroula não trouxe detalhes relevantes para a proteção desse recurso natural. Uma das principais ferramentas para proteger as águas subterrâneas da contaminação é entender a vulnerabilidade natural dos aquíferos à contaminação, a qual demonstra sua maior suscetibilidade a ser adversamente afetado por uma carga contaminante imposta. (MUCHIMBANE, 2010). A utilização dessa ferramenta é aplicada em diversos municípios do Brasil, Oliveira (2017) fez uso dessa ferramenta no município de Lagoa da Confusão, no estado de Tocantins, a fim de mapear a vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas. Assim como PAES (2017), que avaliou a vulnerabilidade natural à contaminação das águas subterrâneas no município de Caetité, no estado da Bahia. Portanto, este trabalho propõe o realizar um mapeamento das áreas de água subterrânea vulneráveis à contaminação natural e antrópica, tal resultado poderá ser utilizado como subsídio para entidades público e/ou privadas afim de garantir qualidade da água subterrânea da Área de Contribuição da Bacia Hidrográfica do Córrego Ceroula, onde está inserido a APA do Córrego Ceroula. 12 2. JUSTIFICATIVA As águas subterrâneas, além de reabastecerem parte do sistema hidrológico, são fundamentais para o abastecimento público no Brasil. Tais águas são resguardadas naturalmente por aquíferos. Porém, a atividade minerária da superfície, a agropecuária e outras atividades que gerem potenciais riscos a contaminação, promovem preocupação quanto a vulnerabilidade das águas subterrâneas (LOPES; SIMÕES, 2015; MACHADO, 2011; FOSTER et al., 2002). Tendo em vista que a localização alvo de investigação é uma APA dotada de Plano de Manejo que não contempla a vulnerabilidade das águas subterrâneas e que a referência para tal discussão é o ZEE/MS, ou seja, um estudo macro em relação a área de estudo, discorrer este assunto mostra-se necessário. A avaliação da vulnerabilidade das águas subterrâneas é fundamental para a exploração, utilização e proteção dos recursos hídricos (WU, LI e MA, 2018). Com isso, os resultados do estudo objetivam oferecer uma base científica para incorporar medidas de prevenção da água subterrânea caso necessário, bem como para subsidiar decisões do poder público. Justifica-se então que a importância deste trabalho se compõe em apresentar a vulnerabilidade natural da água subterrânea,de maneira micro, ou seja, apenas para área de estudo, na qual dará subsídios para a revisão do Plano de Manejo da APA do Ceroula e a atualização quanto as possíveis contaminações das águas subterrâneas. Além disso, o trabalho busca servir como instrumento público para subsidiar tomadas de decisão, podendo até ser citado no ZEE/CG 2° Aproximação. 13 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral O presente trabalho tem como objetivo avaliar a vulnerabilidade natural das águas subterrâneas dos aquíferos que afloram na área de contribuição da Área de Proteção Ambiental do Córrego Ceroula – APA do Ceroula. 3.2. Objetivos Específicos Os objetivos específicos estabelecidos são: • Utilizar dados hidrogeológicos para determinação de zonas homogêneas. • Classificar as zonas determinadas quanto a vulnerabilidade natural e à contaminação das águas subterrâneas. • Elaborar uma cartografia de síntese da vulnerabilidade natural e à contaminação das águas subterrâneas. • Verificar se os resultados apresentados correspondem aos resultados do ZEE- MS. • Discorrer sobre as diferenças e semelhanças do presente estudo (área menor) para com o ZEE-MS (área macro). 14 4. REVISÃO DA LITERATURA 4.1. A Água e o Ciclo Hidrológico A água é um dos minerais de maior abundância na natureza, estando presente nos estados sólido, líquido e gasoso. Além de ser vital para a sobrevivência de humanos e animais, a água também pode ser usada para geração de energia, produção industrial, transporte fluvial, captação de água para consumo, receber, diluir e transportar águas residuais. Sendo assim considerada um recurso natural especial, pois se renova por meio dos processos físicos que compõem o ciclo hidrológico e mantém um equilíbrio das condições ecológicas e ambientais (GARCIA et al., 2015; FREIRE, 2005). Os recursos hídricos são classificados quanto sua ocorrência em superficiais e subterrâneos, sendo que os superficiais são aqueles que correspondem à parcela de água que escoa superficialmente e são águas retiradas de rios, lagos ou represas e os subterrâneos são aqueles que se encontram na camada saturada do subsolo, sendo sua captação por meio de poços tubulares (GARCIA et al., 2015; MIGLIORINI et al., 2007). Tais recursos são participantes do ciclo hidrológico, que consiste na circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera (Figura 1). O ciclo é impulsionado pela radiação solar, pela gravidade e pela rotação terrestre, fornecendo energia para elevação da água pela evaporação, posteriormente a condensação e precipitação. Por fim, na superfície terrestre parte escoa superficialmente até os rios e oceanos e parte infiltra no solo e nas rochas (LIMA, 2017). 15 Figura 1. Ciclo da Água (E = evaporação; ET = evapotranspiração; I = infiltração; R = escoamento superficial). Fonte: Feitosa et al., 2008. Santos (2018) explica que o processo de escoamento subterrâneo ocorre em um caminho proporcional a profundidade do aquífero, sendo que quanto maior a profundidade, mais lentamente a partícula de água viajará de uma área de recarga para uma área de descarga (Figura 2). Além disso, há uma relação entre tempo de residência e taxa de recarga, sendo inversamente proporcionais, explicando assim uma possível demora de descontaminação através de processos naturais de descarga. Figura 2. Fluxo da água subterrânea. Fonte: Santos, 2018. 16 Em um contexto hidrológico, a água pode sofrer alterações, direta ou indiretamente, de qualidade devido a fatores variados, principalmente aos relacionados com as atividades antrópicas. Além disso, o uso e ocupação do solo, principalmente a impermeabilização de áreas urbanas, causam a redução da infiltração de água no solo, consequentemente, dificultando a recarga dos aquíferos. Bem como o desmatamento e a supressão vegetal de áreas no entorno de nascentes e de matas ciliares junto às áreas de drenagem superficial, influenciam na evapotranspiração (LOPES e SIMÕES, 2015; MILLION, 2004). 4.2. Águas Subterrâneas As águas subterrâneas é a parcela de água que permanece no subsolo, de onde flui lentamente até descarregar em corpos d’água superficiais, ser interceptada por raízes de plantas ou extraída por poços, tendo papel essencial quanto a umidade do solo, lagos e brejos e ao fluxo de base dos rios (MANZIONE, 2015). Manzione (2015) ainda explica que o processo de formação aquífera pode ocorrer em qualquer formação rochosa suficientemente porosa e permeável para constituir um retentor de água subterrânea. Tal processo de armazenamento é classificado de acordo com a localização da água no solo, sendo o aquífero apenas a água que circula na zona saturada, como mostra a Figura 3 (SANTOS, 2018). Figura 3. Zona de aeração e zona de saturação evidenciadas a partir do grau de saturação de água. Fonte: Feitosa et al., 2008. 17 Para Feitosa et al. (2008), a zona de saturação situa-se abaixo da superfície freática, onde os vazios existentes no solo estão preenchidos com água. A superfície freática é onde a água se encontra submetida à pressão atmosférica. Já a zona de aeração ou não saturada é aquela entre a superfície freática e a superfície do solo, onde os poros estão parcialmente preenchidos por gases e por água, sendo subdivididas em três zonas: i) Zona Capilar: estende-se da superfície freática até o limite de ascensão capilar da água, sua espessura depende da distribuição de tamanho dos poros e da homogeneidade do terreno, sendo considerado praticamente saturado (cerca de 75%). ii) Zona Intermediária: situada entre o limite de ascensão capilar e o limite de alcance das raízes das plantas. iii) Zona de Água do Solo: denominada igualmente de zona de evapotranspiração é compreendida entre os extremos radiculares da vegetação e a superfície do terreno, sua espessura depende da cobertura vegetal do terreno. 4.3. Sistemas Aquíferos e o Fluxo da Água Subterrânea Os sistemas aquíferos são compostos por formações geológicas que se constitui essencialmente por rochas porosas, fraturadas e/ou com falhas. Tais vazios são preenchidos por água, sendo assim parâmetros fundamentais no acúmulo e fornecimento de água (MANZIONE, 2015). A constituição geológica do aquífero determina a velocidade do fluxo da água subterrânea e a qualidade desta água, além da capacidade de armazenar água, sendo esta constituição decorrente da sua origem geológica; podendo ser fluvial, lacustre, eólica, glacial e aluvial, vulcânica e metamórfica, determinando diferentes tipos de aquíferos (ABAS, 2021). A classificação (ABAS, 2021; LIMA, 2017; BORGHETTI et al., 2004) é apresentada na Figura 4 e descrita por: i) Aquífero Poroso ou Sedimentar: formado por rochas sedimentares consolidadas, sedimentos inconsolidados ou solos arenosos, apresentando espaços vazios de pequenas dimensões por onde a água circula. São capazes de armazenar um grande volume de água, ocorrendo em extensas áreas e constitui os mais importantes grupos de aquíferos. 18 ii) Aquífero Fissural: formado por rochas ígneas, metamórficas ou cristalinas, duras e maciças, onde a circulação da água ocorre nas fraturas, fendas e falhas. Ou seja, a capacidade de acúmulo de água está ligada a quantidade de fraturas, suas aberturas e intercomunicações para a permissão de infiltração e fluxo de água. Poços perfurados nestas rochas fornecem baixas vazões e sua produtividade dependerá da interceptação de fraturas capazes de conduzir água. iii) Aquífero Cárstico: formado por rochas calcáreas ou carbonáticas, onde a circulação da água ocorre nas fraturas e outras descontinuidades resultantes da dissolução do carbonato de cálcio pela água. Podem ser aquíferos de grandes dimensões criando rios subterrâneos. Figura 4. Classificação do aquífero quanto à porosidade. Fonte: Borghetti et al., 2004.Além disso, os aquíferos são classificados de acordo com a pressão das águas na sua superfície e em função da capacidade de transmissão de águas, podendo ser confinados ou livres. Dentre estes aquíferos, Feitosa et. al. (2008) classifica: i) Aquíferos Confinados: também nomeados de aquíferos sob pressão, são aqueles em que a pressão do topo é maior que a pressão atmosférica. 19 ii) Aquíferos Confinados Não Drenantes: aqueles com camadas limítrofes, superior e inferior, são impermeáveis. Quando um poço é perfurado neste tipo de aquífero, o nível da água subterrânea fica acima da camada confinante superior. iii) Aquíferos Confinados Drenantes: aqueles que pelo menos uma das camadas limítrofes é semipermeável, permitindo a entrada ou saída de fluxo, seja pela base e/ou pelo topo. Apresentam uma resistência hidráulica relativamente alta à passagem deste fluxo de água, entretanto, podem ser perdidas ou ganhas quantidades consideráveis de água por tais aquíferos. iv) Aquíferos Livres: denominados igualmente de freáticos ou não confinados são aqueles com limite superior igualado à superfície de saturação ou freática, sendo todos os seus pontos de pressão igualada à atmosférica. São também aqueles que são recarregados quando há excesso de chuvas. Na Figura 5, observa-se o aquífero freático como sendo o “Aquífero A”, e os “Aquífero B” e “Aquífero C” como sendo o aquífero confinado. Além de verificar como comporta-se o nível da água dos aquíferos quando um poço é perfurado. Figura 5. Tipos de aquífero e seu comportamento frente à perfuração de poço. Fonte: Feitosa et al., 2008. 20 Os aquíferos apresentam uma reserva permanente de água e outra reversa ativa ou reguladora, correspondentes ao escoamento de base dos rios, que são abastecidas continuamente através de eventos chuvosos e de outras fontes subterrâneas (ABAS, 2021; BORGHETTI et al., 2004). Essas reservas são recarregadas e descarregadas de diferentes maneiras, sendo representadas e classificadas pelas zonas de recarga direta, zonas de recarga indireta e zonas de descarga. Rebouças et al. (2002) distinguem que as maiores taxas de recargas ocorrem em regiões planas, bem arborizadas e nos aquíferos livres; nas regiões de relevo acidentado, sem cobertura vegetal, sujeitas às práticas de uso e ocupação que favorece enxurradas, a recarga ocorre de maneira lenta e limitada. As zonas de recarga são classificadas por Borghetti et al. (2004) como: i) Zonas de recarga direta: onde a chuva infiltra diretamente no aquífero, por meio de áreas de afloramento e fissuras de rochas sobrejacentes. Ocorre nos aquíferos livres, em toda superfície acima do lençol freático. Nos aquíferos confinados o reabastecimento ocorre preferencialmente nos locais onde a água aflora à superfície. ii) Zona de recarga indireta: locais onde o reabastecimento do aquífero se dá a partir do fluxo subterrâneo indireto e da drenagem superficial das águas, ao longo do pacote confinante sobrejacente, onde a carga potenciométrica favorece os fluxos descendentes. iii) Zona de descarga: onde as águas emergem do sistema, alimentando rios e jorrando com pressão quando há perfuração de poço. 4.4. Uso e Cobertura da Terra e as Possíveis Contaminações Ao conhecer as características de uso e cobertura da terra, é possível elaborar o mapa de vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas. Isto ocorre, pois, as áreas de uso e ocupação se dá na área acima do aquífero, sendo assim possível de identificar os tipos de contaminação e se estas são originalmente antrópicas ou naturais (SANTOS, 2014). A vulnerabilidade à contaminação está diretamente ligada à intervenção humana, além das características naturais do aquífero. Santos (2014) afirma que o conceito mais próximo de contaminação das águas subterrâneas é acarretado pela 21 correlação e interação entre a vulnerabilidade natural do aquífero e a carga poluidora imposta ao solo ou em superfície localizada diretamente acima do aquífero alvo de estudo. Correlacionar o estudo de vulnerabilidade natural com as atividades exercidas na superfície é fundamental. Estas atividades devem ser estudadas pelo tipo, pela intensidade, pela geração de contaminantes e pelo tempo de disposição. Em muitos casos, a forma de uso e cobertura do solo, pode alterar a qualidade dos recursos hídricos e colocar em risco sua conservação para o uso das gerações presentes e futuras (HAQUE et al., 2018; PAZINI, 2016; HASSUDA, 1999). Os conceitos de poluição e contaminação têm definições diferentes, mas complementares entre si. Quando o parâmetro modificado não excede o valor máximo permitido, a poluição pode ser definida como uma modificação na qualidade da água. No entanto, a contaminação inclui substâncias prejudiciais à saúde humana e animal. Sendo assim, a contaminação é um derivado da poluição em que o uso da água se torna inviável (PAZINI, 2016; BRANCO et al., 1991). Pazini (2016) e Silva e Araújo (2003) explicam que há diversos fatores que podem vir a comprometer a qualidade da água subterrânea, seja por substância orgânica ou inorgânica, como a destinação final de efluentes por meio de sumidouros, a disposição inadequada de resíduos sólidos, contaminações através de postos de combustíveis, lavagem e modernização da agricultura. Observa-se tipos de contaminação na Figura 6. Figura 6. Potenciais fontes de contaminação das águas subterrâneas. Fonte: Foster et al., 2002. Por fim, ao abordar contaminação e poluição, lembra-se que o consumo humano de água provém também de águas subterrâneas, e que há uma necessidade de cautela para tal bem. No Mato Grosso do Sul, a Portaria GM/MS n° 888, de 04 de 22 maio de 2021 do Ministério da Saúde dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, visando assim que as águas retiradas para consumo não ofereçam risco à saúde. 4.5. Vulnerabilidade Natural das Águas Subterrâneas Apesar de as águas subterrâneas serem mais protegidas, não estão a salvo de contaminação e, quando contaminadas, é invariavelmente mais difícil e dispendiosa de ser diagnosticada, monitorada e remediada. O uso desta água tem importância para o abastecimento público e para produção econômica, e por isso, governos tendem a estabelecer programas de gestão de recursos hídricos. Para uma maior eficácia nestes programas, a vulnerabilidade de aquíferos auxilia os projetos de proteção e de monitoramento das áreas classificadas como vulneráveis, otimização do uso das reservas hídricas disponíveis, proteção das áreas de recarga e remediação de aquíferos contaminados (SILVA et al., 2021; MACHADO, 2011). No Brasil, Foster e Hirata (1988) introduziu o termo “vulnerabilidade de um aquífero” caracterizando-o como a sensibilidade de um aquífero em ser alterado por uma carga poluidora, considerando apenas as características intrínsecas do aquífero e variáveis externas. Calcagno (2001) destrinchou o conceito de vulnerabilidade de um aquífero como algo que diz respeito ao grau de proteção natural contra às potenciais contaminações, à litologia e hidrogeologia dos extratos que o separam da fonte de contaminação (geralmente superficial), e aos gradientes hidráulicos que interferem no transporte e no fluxo das substâncias tóxicas através dos sucessivos e do aquífero. Para a caracterização da vulnerabilidade natural das águas subterrâneas, existem alguns métodos dos quais apresentam parâmetros diferentes ao serem analisados, Feitosa et al. (2008) lista estes parâmetros entre as principais metodologias: i) Método GOD (Groundwater occurence; Overall of litology of aquiperm; Deph): avalia o tipo de aquífero, a litologia da zona não saturada e a profundidade da água. ii) Método AVI (Aquifer Vulnerability Index): analisa a espessura da zona vadosa e a condutividadehidráulica. 23 iii) Método DRASTIC (Deph; net Recharge; Aquifer media; Soil media; Topography; Impact of the unsaturate zone; hydraulic Condutivity): avalia a profundidade do lençol freático, a recarga, o material do aquífero, a topografia, a influência da zona vadosa e a condutividade hidráulica. iv) Método Sintacs (Soggicenza; Infiltrazione; Non saturo; Tipologia dela copertura; Acquifero; Conducibilità; Superficie topografica): semelhante ao DRASTIC, com pesos diferentes. No Brasil, os métodos GOD e DRASTIC são os mais utilizados (TUCCI e CABRAL, 2003). O presente estudo utiliza a avaliação dos índices de vulnerabilidade pela metodologia GOD, fundamentada e detalhada por Foster e Hirata (1988) seguindo os parâmetros: i) “Groundwater occurrence” (tipo de aquífero): expressa o tipo de ocorrência da água subterrânea, com os índices variando devido a presença de aquíferos confinados ou de aquíferos livres não cobertos. ii) “Overall of litology of aquiperm” (litologia): refere-se as características litológicas da zona não saturada, está ligado ao mapeamento geológico e de perfis litológicos de poços tubulares profundos. iii) “Deph” (profundidade da água subterrânea): representa a profundidade do nível estático, profundidade do lençol freático, sendo medido diretamente através dos poços escavados. Na Tabela 1 observa-se a relevância do assunto, tendo em vista que há trabalhos publicados que ressaltam o tipo de metodologia usada, os autores, o local de estudo, resultados e conclusões. Cabe aqui mencionar que a Carte Geotécnica de Campo Grande/MS, elaborada em 2020, utilizou da metodologia para observar a vulnerabilidade das águas subterrâneas da cidade. 24 Tabela 1. Estudos relacionados a vulnerabilidade natural das águas subterrâneas. Autor(es) Ano Local de Estudo Metodologia Aplicada Principais Resultados Conclusão Da Silva Peixoto; Cavalcante 2019 Fortaleza, Ceará GOD Áreas próximas as costas apresentam alta vulnerabilidade sob zonas de baixa qualidade sanitária. Os dados apontaram áreas prioritárias para ações corretivas de uso e ocupação do solo, como expansão da rede de esgotamento. SCHMIDT 2020 Região Metropolitana de São Paulo AVI Mapa de vulnerabilidade com apenas duas classificações, extremamente alto e alto. O método de AVI identificou áreas em que o contaminante atinge os níveis do lençol freático em um período menor do que 10 anos, contudo o método é bastante genérico, pois utiliza apenas dois parâmetros para execução. Simbe; Uamusse; Uacane 2020 Xai-xai, Moçambique DRASTIC Área de vulnerabilidade moderada a muito alta. Os dados permitem dar suporte ao planejamento urbano, principalmente quanto a gestão das águas. Milek; Kish; Gomes 2014 Almirante Tamandaré, Paraná SINTACS Mapa de vulnerabilidade onde apenas 6,9% da área do município foi classificada como de risco alto ou moderadamente alto Os dados obtidos mostram que o risco de contaminação estimado foi baixo, principalmente pelo baixo índice de perigo (IP), devido à pequena ocupação urbana na área de estudo, o que evidencia a importância do planejamento dos futuros uso e ocupação do solo da área de estudo. 25 4.6. Sistema Nacional de Unidades de Conservação No ano 2000, o Brasil instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (Brasil, 2000) como estratégia para proteger os recursos naturais de seu território. O sistema estipula que áreas com grande biodiversidade são definidas como unidades de proteção, que podem ser divididas em unidades de proteção geral e unidades de uso sustentável (LOPES, 2013). Existem dois tipos de Unidade de Conservação – UC, o primeiro tipo é uma Unidade de Proteção Integral que só permite o uso indireto de seus recursos naturais, como Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Refúgios de Vida Silvestre, Reservas Biológicas e Reservas Naturais (VILELA & BOMFIM, 2014). A segunda categoria são as Unidades de Uso Sustentável, que possuem menos restrições ao seu uso e visam proteger a natureza por meio do uso sustentável dos recursos naturais, como. Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista; Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Reserva Particular do Patrimônio Natural (VILELA & BOMFIM, 2014). Vale destacar que a segunda categoria inclui a Área de Proteção Ambiental - APA, que, de acordo com a Lei nº 9.985, é considerada uma grande área ocupada por certo grau de ocupação humana, com grande importância abiótica, biológica, estética ou atributos culturais para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar humano, tem como objetivo básico proteger a biodiversidade, regulamentar os procedimentos profissionais humanos e garantir a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (Brasil, 2000). 4.6.1. Unidades de Conservação no Estado de Mato Grosso do Sul Segundo dados do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul - IMASUL, atualmente existem cerca de 91 UC’s estaduais no Mato Grosso Sul. O departamento responsável pelo gerenciamento destas UC’s, é a Gerencia de Unidades de Conservação – GUU, que tem como objetivo de estabelecer unidades de conservação e outras áreas protegidas. Essas unidades de proteção representam a maior parte do estado, conforme mostrado na Tabela 2. 26 Tabela 2. Áreas de Proteção Ambiental no MS. Quantidade Área (ha) Relativa/grupo (%) Relativa/Estado (%) APA Federal 1 713.370,43 14,07 2,0 APAs Estaduais 2 25.548,50 0,50 0,1 APAs Municipais 37 4.330.217,54 85,42 12,1 Total 40 5.069.136,46 100 14,2 Fonte: Adaptado do UNICECO/GUC-IMASUL, 2021. 4.6.2. Unidades de Conservação em Campo Grande A capital do estado de Mato Grosso do Sul possui 13 Unidades de Conservação, sendo três APA’s, oito Parques, uma Reserva Particular de Patrimônio Natural e uma Estação Ecológica, das quais seis UC’s estão localizadas em seu território, das quais três são de nível estadual (IMASUL, 2015). Além dessas UC’s supracitadas, existem três unidades de nível municipal, a saber: a Área de Proteção Ambiental da nascente do córrego Guariroba, a APA da Bacia do Córrego Ceroula e a APA na nascente do córrego Lajedo. A área total dessas unidades ultrapassa 110 mil hectares (DOS SANTOS & KRAWIE, 2011 apud SARAVAIA, 2019), conforme Figura 7. 27 Figura 7. Zoneamento Ecológico-Econômico do município de Campo Grande – MS. Fonte: Campo Grande, 2017 Sendo o objeto desse estudo a Área de Contribuição da Bacia do Córrego Ceroula, é importante destacar que a APA do Ceroula, que está inserida dentro da área de contribuição da bacia hidrográfica do córrego Ceroula é criada por meio do Decreto Municipal n° 8.264 do ano de 2001 (CAMPO GRANDE, 2021). 4.7. Geoprocessamento Geoprocessamento pode ser compreendido como um conjunto de tecnologias matemáticas e computacionais que trabalham em bases de dados georreferenciadas (CÂMARA; MEDEIROS, 1998). Sua finalidade é fornecer ferramentas de processamento de informações geográficas, permitindo que os dados sejam processados em um único banco de dados cartográficos, gerando produtos como mapas, imagens e cadastros (YAMADA, 2007 apud LOPES; SIMÕES, 2019). Conforme (PENA, 2021), o Sistemas de Informações Geográficas (SIG) consiste na utilização de ferramentas, como satélites e radares, para a captação de informações e imagens acerca da superfície terrestre, ferramentas essas que 28 permitem realizar análises complexas, pois além de gerar documentos cartográficos, também podem integrar dados de diferentes fontes e criar bancos de dados georreferenciados. A principal característica do SIG é que, além de fornecer ferramentas para mesclar essas informações, ele também pode integrar dados de mapas, informações de censo, imagensde satélite e informações espaciais de modelos digitais de terreno em uma base de dados (CÂMARA, 1995, apud SANTOS, 2014). O que torna o SIG diferente de qualquer outro sistema de informação é sua capacidade de armazenar tanto atributos descritivos, como as características geométricas dos diversos dados geográficos (CÂMARA, 2005). A utilização de técnicas digitais tem revolucionado o estudo e o mapeamento da vulnerabilidade à poluição de aquíferos. Essas tecnologias melhoram os métodos de análise e reduzem o tempo para produzir mapas; a precisão das categorias de vulnerabilidade com base na compreensão do fluxo subterrâneo e do mecanismo de transporte de poluentes; e permitem a atualização rápida dos mapas existentes inserindo novos dados (SANTOS, 2014). Estudos como os de Santos (2014) e Yamada (2007), fazem uso de técnicas computacionais empregadas no conceito de geoprocessamento, na análise de vulnerabilidade de aquíferos, trazendo o potencial da ferramenta para estudos nessa área de conhecimento. Considerando que nesses levantamentos, métodos de avaliação de parâmetros são sempre usados onde dois ou mais mapas temáticos precisam ser combinados para produzir um mapa composto, então o uso dessas técnicas tem se mostrado muito útil (LOPES; SIMÕES, 2019). Segundo Yamada (2007), o estudo da vulnerabilidade natural é uma tarefa complexa que envolve várias áreas de estudo relacionadas a questões urbanas e rurais e a poluição de aquíferos. Em todas essas áreas, o SIG pode ser utilizado para promover o trabalho da comunidade científica e de órgãos e entidades ambientais, trazendo benefícios para à população (TEXEIRA et al., 1992, apud LOPES; SIMÕES, 2019). (Beraldo et al., 2017), objetivando estimar a vulnerabilidade natural dos aquífero poroso da região de Lagoa da Confusão, no Estado do Tocantins, empregou a metodologia GOD. Os diferentes parâmetros do modelo foram trabalhados através da técnica de álgebra de mapas em um ambiente SIG, resultando no mapa de vulnerabilidade da área de estudo. 29 Para analisar o fenômeno geograficamente, é necessário o uso de estimação estatística no mapa temático. A interpolação espacial no ambiente GIS permite que a superfície seja refinada com base em valores de amostra ou estimativa geoespacial para estimar o comportamento de um determinado fenômeno (LOPES; SIMÕES, 2019). Uma das funções do SIG é processar diferentes dados espaciais e realizar operações de sobreposição de camadas de informação para gerar novos dados espaciais (BONHAM-CARTER, 1996, apud MIRANDA, 2013) tecnologia de álgebra de mapas é uma extensão da álgebra tradicional, em que as variáveis manipuladas são dados geográficos (BERRY, 1993, apud SANTOS, 2014). Os dados espaciais são calculados na forma de equações, onde são atribuídos pesos a cada informação ponderada, e por meio de operações específicas (como adição e multiplicação), novos mapas temáticos podem ser feitos (MIRANDA, 2013). Ao realizar essas operações matemáticas, definindo os pesos para cada uma das cartas cartográficas é possível modelar um resultado específico para cada situação, Figura 8. Figura 8. Representação da metodologia de álgebra de mapas. Fonte: NOBREGA et al., 2016 30 5. METODOLOGIA 5.1. Caracterização da área de estudo O presente estudo abrange uma área que avança, no estado de Mato Grosso do Sul, pelos municípios de Campo Grande e Terenos, à sul; Rochedo, à norte; e Jaraguari à nordeste. O limite político-administrativo da Area de Proteção Ambiental da Bacia do Córrego Ceroula – APA do Ceroula corresponde a área de 56.580ha (565,80km²), sendo inserida apenas no município de Campo Grande/MS e representando 50,82% da área de contribuição que corresponde a 111.325,80ha (1.111,2580km²), como pode ser observado na Figura 9. Figura 9. Mapa de localização das áreas da Área de Contribuição e da APA do Ceroula. Fonte: Campo Grande, 2020 – adaptado pelos autores. O Plano de Manejo da APA do Ceroula (Campo Grande, 2020), identificou para a área de estudo a geologia, a geomorfologia, a litologia, a hidrografia e a hidrogeologia, de maneira que as classificou como: i) Geologia: composta por 84,75% de Formação Serra Geral, a qual aflora na porção central; seguida de 11,14% da Formação Botucatu, de afloramento na porção noroeste; por 2,58% do Grupo Caiuá na porção 31 do extremo leste; e por 1,53% de Depósitos Aluvionares Holocênicos no extremo noroeste da área. ii) Geomorfologia: composta por 69,41% de Planalto Dissecado da Borda Ocidental da Bacia do Paraná; seguido por 17,68% de Planaltos de Campo Grande; e por 12,91% de Planaltos Sul-mato-grossenses. iii) Litologia: composta por 68,78% de Latossolo Vermelho Distrófico na porção oeste; seguido por 16,08% de Neossolo Quartzarênico Órtico na porção leste; e por 15,14% de Neossolo Litólico Eutrófico na região das morrarias. iv) Hidrografia: os cursos d’água presentes na área são, por ordem decrescente de comprimento de drenagem, o Ceroula, Piraputanga, Angico, Retiro e o Imbirussu. v) Hidrogeologia: a caracterização hidrogeológica local é representada 87,23% do Sistema Aquífero Serra Geral (SASG) e 12,77% do Sistema Aquífero Guarani (SAG). Além destas caracterizações, o Plano de Manejo da APA do Ceroula (Campo Grande, 2020) analisou o uso e manejo do solo, sendo representado na Tabela 3. Tabela 3. Porcentagem de áreas de uso e manejo do solo da área de contribuição da APA do Ceroula. Classe Área (%) Floresta Natural 24,810 Floresta Plantada 0,043 Formação Campestre 0,633 Pastagem 57,920 Cana-de-açúcar 0,003 Soja 12,457 Outras Lavouras Temporárias 3,208 Infraestrutura Urbana 0,599 Outras áreas não vegetadas 0,255 Corpos d’água 0,072 Fonte: Campo Grande, 2020 – adaptado pelos autores. 5.2. Caracterização dos Aquíferos A caracterização dos aquíferos alvos do estudo, ou seja, o Formação Serra Geral e o Formação Caiuá Botucatu, foi estabelecida no Relatório de Avaliação Ambiental de Campo Gande/MS, em 2015. 32 5.2.1. Aquífero Formação Serra Geral O aquífero é do tipo fraturado, com capacidade de acumular água relacionado a quantidade de fraturas, suas aberturas e suas intercomunicações, resultando em uma necessidade de prévia exploração local, apesar das grandes áreas de afloramento. A Formação Serra Geral está localizada em rochas basálticas, com propriedades hidrológicas e comportamentos hidrogeológico marcados por mudanças intensas e abruptas (CAMPO GRANDE, 2015). 5.2.2. Aquífero Formação Caiuá Botucatu Aquífero do tipo poroso, capaz de armazenar um grande volume de água e com ocorrência em grandes áreas é encontrado em rochas sedimentares. As águas preenchem os espaços entre os grãos das rochas criando um fluxo intimamente ligado ao tamanho das partículas e seu grau de retenção. A Formação Caiuá Botucatu ocupa uma grande área que vai do Sul ao Norte do Estado MS e abastece uma região bastante povoada. É um aquífero freático com recarga direta da precipitação pluvial e proporciona grandes vazões nas regiões de confinamento e semi-confinamento (CAMPO GRANDE, 2015). 5.3. Estimativa das vulnerabilidades pelo método GOD Para a realização integral da metodologia GOD, ou seja, a concepção de um mapa temático de vulnerabilidade à poluição das águas subterrâneas da área de contribuição da APA do Ceroula foi elaborado um fluxograma do plano de trabalho, conforme ilustrado na Figura 10. 33 Figura 10. Fluxograma do processo metodológico. Fonte: Simbe et al., 2020 – adaptado pelos autores. 5.3.1. Aquisição e Seleção de Dados A aquisição e seleção dos dados utilizados para os parâmetros da metodologia GOD será realizada da seguinte forma: i) Parâmetro referente a tipologia do aquífero (G): obtenção através do arquivo shapefile disponibilizado pela Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano– PLANURB. ii) Parâmetro de litologia local (O): também disponível pela Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano – PLANURB por meio de arquivo shapefile. iii) Parâmetro relacionado a profundidade do aquífero (D): utilização de dados contidos em perfis de poços de monitoramento e poços tubulares profundos correspondentes ao aquífero alvo de estudo, fornecidos pela empresa Hidrosul Ambiental Serviços Geológicos Ltda. Cabe aqui ressaltar que os poços fornecidos pela empresa Hidrosul Ambiental Serviços Geológicos Ltda foram perfurados e são monitorados por responsável técnico credenciado no CREA/MS. Além disso, para o parâmetro de profundidade do aquífero (D) utilizou-se pontos de nascentes dos córregos, fornecidos por arquivo 34 shapefile pela PLANURB, correspondentes ao nível d’água igual a zero, visto que são pontos de afloramento da água subterrânea. 5.3.2. Tratamento e Distribuição de Dados Inicialmente para que seja possível cruzar os dados de todos os parâmetros da metodologia GOD, o parâmetro de profundidade do aquífero sofrerá o tratamento de maneira a realizar a espacialização dos poços com relação a área de estudo. O arquivo então será convertido em shapefile e então possuirá uma tabela, denominada pelo QGis 3.14 como tabela de atributos, e nesta tabela estará contida as informações de cota altimétrica, nível d’água e nível piezométrico. Para a distribuição dos valores referente a tabela de atributos dos pontos de amostragem na superfície do local de estudo utilizará técnicas de geoestatística, o método inferencial de Krigagem ordinária, que estabelece um procedimento de ajustamento com base no método dos mínimos quadrados ordinários e a precisão da estimativa se baseia na função de covariância entre as variáveis, que incorpora a localização geográfica no ponto UTM, o que permite observar a tendência de comportamento direcional do valor no espaço geodésico da amostra (BORGES, 2020). Assim, através da Krigagem é possível realizar a delimitação da área de influência de cada atributo do ponto e por fim ponderar cada variável de maneira a gerar um novo arquivo tipo raster. Cabe mencionar que todas os arquivos gerados estarão em coordenadas planas UTM e Datum SIRGAS 2000, fuso 21. 5.3.3. Ponderação dos Dados Para a ponderação dos dados da metodologia GOD, todos os pesos adotados foram seguidos do livro de Foster et al. (2002). Tais pesos também são encontrados em estudos como Peixoto e Cavalcante (2019), Kemerich et al. (2020) e Silva et al. (2021). Tipologia do Aquífero – G: Para a avaliação da tipologia do aquífero haverá a geração de um mapa com base nos pesos apresentados na Tabela 4. 35 Tabela 4. Pesos para ponderação da tipologia do aquífero. Tipologia do Aquífero (G) Peso Transbordante 0 Confinado 0,2 Semi-Confinado 0,4 Não confinado (coberto) 0,6 Não confinado 1,0 Fonte: Foster et al., 2020 – adaptado pelos autores. Litologia da área de estudo (O): A litologia local será ponderada a partir dos pesos apresentados na Tabela 5. Tabela 5. Pesos para ponderação da litologia do local. Litologia do local (O) Peso Argila lacustrina / estuarina 0,4 Solos residuais 0,4 Silte, loess, till glacial 0,5 Areia eólica 0,6 Areia aluvial e fluvioglacial 0,7 Cascalho de leques aluviais 0,8 Não consolidado (sedimentos) 0,9 Fonte: Foster et al., 2020 – adaptado pelos autores. Profundidade do aquífero (D): A profundidade será ponderada a partir dos pesos apresentados na Tabela 6. Tabela 6. Pesos para ponderação da profundidade do aquífero. Profundidade do Aquífero (D) Peso Maior que 50 m 0,6 Entre 20 e 50 m 0,7 Entre 20 e 5 m 0,8 Menor que 5 m 0,9 Todas as profundidades 1,0 Fonte: Foster et al., 2020 – adaptado pelos autores. A ponderação dos dados de uso e ocupação do solo para elaboração do mapa de vulnerabilidade à poluição das águas subterrâneas adota os pesos do estudo de Simbe et al. (2020), modificados para a metodologia GOD e para os usos do presente trabalho, apresentados na Tabela 7. 36 Tabela 7. Pesos para ponderação do uso e ocupação da área de estudo. Uso e Ocupação Peso Floresta Natural 0,3 Floresta Plantada 0,6 Formação Campestre 0,3 Pastagem 0,7 Cana-de-açúcar 1,0 Soja 1,0 Outras Lavouras Temporárias 0,7 Infraestrutura Urbana 0,8 Outras áreas não vegetadas 0,7 Corpos d’água 0,1 Fonte: Simbe et al., 2020 – adaptado pelos autores. 5.3.4. Avaliação dos Índices Finais A Equação (1) e a classificação dos resultados (Tabela 8) é apresentada por Foster et al, (2006), para a avaliação final dos índices da metodologia GOD. GOD = G x O x D Equação (1) Tabela 8. Resultados e classificações da metodologia GOD. Resultado GOD Classificação Definição 0,0 – 0,1 Insignificante Leitos confinados sem fluxo vertical de água subterrânea significativo. 0,1 – 0,3 Fraca Vulnerável a poluentes conservadores que são descarregados de forma contínua e em grande quantidade. 0,3 – 0,5 Moderada Vulnerável a alguns poluentes que são descarregados de forma contínua e em grande quantidade. 0,5 – 0,7 Forte Vulnerável a muitos tipos de poluentes (exceto aos fortemente absorvidos ou prontamente transformados) em muitos cenários de poluição. 0,7 – 1,0 Extrema Vulnerável a maioria dos poluentes, com rápido impacto em muitos cenários de poluição. Fonte: Foster et al., 2006 – adaptado pelos autores. 5.3.5. Elaboração dos Mapas de Vulnerabilidade Inicialmente, a ponderação dos mapas, com pesos apresentados no item “5.3.3 Ponderação dos Dados”, serão classificados a partir da tabela de atributos, gerando um arquivo tipo raster. Os mapas de vulnerabilidade natural e à contaminação serão gerados a partir de cruzamento dos arquivos raster, por meio da ferramenta álgebra de mapas, 37 considerando a ponderação da metodologia GOD. A aplicação desta ferramenta só é possível quando todos os arquivos estiverem padronizados e no mesmo formato. Após o uso da ferramenta, o produto gerado será no formato raster, com a representação da vulnerabilidade. Para juntar a informação do local da área de estudo, o raster será convertido para o formato shape file, e por fim será feita a quantificação das áreas de cada classe de vulnerabilidade. 5.3.6. Indicadores Comparativos Os indicadores são variáveis que caracterizam com capacidade de sintetizar, representar ou proferir um significado que se pretende avaliar ou estudar. Os indicadores expressam resultados de maneira a padronizá-los e então compará-los, no presente estudo, tais indicadores são expressos em índices. A forma de índice são indicadores multidimensionais que podem envolver diversas variáveis para a padronização (LOPES e SIMÕES, 2015). Os índices serão comparados entre si no trabalho e com os resultados de vulnerabilidade da água subterrânea do Zoneamento Ecológico e Econômico do Mato Grosso do Sul. 38 6. RESULTADOS ESPERADOS Espera-se que as zonas homogêneas sejam classificadas de acordo com a presença dos aquíferos mais próximos a superfície, ou seja, o Formação Serra Geral e o Formação Caiuá. Após as devidas ponderações e às análises da metodologia GOD, espera-se que os resultados sejam obtidos de maneira que represente verdadeiramente as vulnerabilidades natural e à contaminação das águas subterrâneas. Com as análises prontas, os resultados serão expressos em cartografias, elaboradas com o software QGis, de maneira a compactar os indicadores e assim comparar com os resultados obtidos no estudo do Zoneamento Ecológico-Econômico de Mato Grosso do Sul (ZEE-MS). Por fim, espera-se que seja possível discorrer sobre os estudos, visando mostrar as diferenças e semelhanças de pesquisas feitas em áreas micro e em áreas macro. 39 7. CRONOGRAMA O cronograma a ser seguido no presente trabalho está descrito no Quadro 1. Quadro 1. Cronograma de atividadesrelacionadas ao presente trabalho. Atividades Meses Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Escolha do Tema X Revisão da Literatura X X X X X X X X X X Coleta de dados primários X X X X X X Coleta de dados secundários X X X X X X X X Espacialização dos dados X Quantificação de parâmetros X Aplicação do método X Elaboração de Mapas de Vulnerabilidade X X Análise da Vulnerabilidade X X Comparação entre estudos Resultados e Discussões X X X X Conclusões X X X Defesa X Elaboração do Trabalho X X X X X X X Apresentação do Trabalho X 40 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS – ABAS. Disponibilizado em < https://www.abas.org/aguas-subterraneas-o-que-sao/> . Acesso em: 02 abr. de 2021. ANA. Atlas Brasil. Abastecimento Urbano de Água. Panorama Nacional. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Vol. 1, Brasília, DF. 2010. Disponível em: <http://atlas.ana.gov.br/Atlas/downloads/atlas/Resumo%20Executivo/Atlas%20Brasil %20-%20Volume%201%20-%20Panorama%20Nacional.pdf>. Acesso em abril de 2021. BARROS, J. G. C. 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