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Fundamentos do Direto do Trabalho

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Fundamentos do 
Direito do Trabalho
Primeiramente, temos que entender que o Direito do Trabalho é fruto de séculos de exploração humana. 
Como produto do capitalismo industrial, o Direito do Trabalho fixou controles para esse sistema econômico, conferindo-lhe certa medida de civilidade, na intenção de minimizar ou eliminar meios perversos de utilização da força de trabalho pela economia.
A existência do trabalho livre nas indústrias permitiu o surgimento do trabalho subordinado, trata-se de uma situação jurídica em que o trabalhador se obriga a seguir a forma de direção do empregador sobre o modo de realização da prestação de serviços. 
A subordinação diverge da ideia de sujeição pessoal presente nas relações jurídicas escravistas e servis, porque a sujeição pressupõe falta de liberdade pessoal, o que não ocorre com o trabalho livre e subordinado nas fábricas europeias do século XVIII. 
Esse trabalho livre e subordinado nas grandes indústrias é o palco do surgimento do Direito do Trabalho. 
Obviamente que as primeiras leis trabalhistas na Europa foram do resultado de uma intensa luta de operários, de movimentos sindicais, da Igreja (Encíclica Católica Rerum Novarum, de 1891), e de obras científicas que denunciavam a exploração de trabalho. 
É preciso lembrar que estamos falando de péssimas condições de labor, sem preocupação com a saúde ou segurança do trabalhador, de jornadas exaustivas, de salários baixíssimos e de trabalho infantil, apenas para citar alguns exemplos.
As primeiras manifestações em prol da regulamentação das relações de trabalho tiveram o propósito de reduzir a violência brutal da superexploração sobre mulheres e menores. 
A partir do início do século XX, houve um grande reconhecimento do direito de associação e de consolidação das leis trabalhistas, principalmente após o surgimento da Organização Internacional do Trabalho, em 1919. 
Porém, uma boa fase de avanços e conquistas de direitos acabou por resultar numa crise do Direito do Trabalho. A economia global e o alto custo dos direitos sociais, a partir da década de 1980-1990, colocaram em xeque o princípio protetor do direito do trabalho e conclamaram a necessidade de flexibilizar os direitos trabalhistas. 
O Brasil, por sua vez, também presenciou a evolução e a consolidação do Direito do Trabalho, principalmente, a partir da década de 1940, cujo ápice ocorreu com a promulgação da CLT- Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943. 
A Constituição Federal brasileira de 1988 positivou diversos direitos trabalhistas já conquistados e avançou, no sentido de garantir direitos básicos aos trabalhadores, o mínimo existencial, ou seja, direitos essenciais a uma vida digna. Todavia, modificações mundiais, que se fizeram sentir também no Brasil, nos últimos anos, vêm exercendo enorme efeito sobre as relações de trabalho e, consequentemente, sobre o Direito do Trabalho. 
Em síntese, apenas para citar alguns exemplos, podemos destacar a inovação tecnológica, a modernização da organização da produção, a globalização econômica, a acirrada competitividade das empresas em nível nacional e internacional e a necessidade de combate ao desemprego. 
Podemos destacar, a partir da década de 1990, o forte discurso pela implementação de uma política neoliberal e, com ela, o fenômeno em prol da flexibilização dos direitos sociais. 
Segundo Barros (2017, p. 65), “o fenômeno da flexibilização é encarado sob o enfoque da ‘desregulamentação normativa’, imposta pelo Estado, a qual consiste em derrogar vantagens de cunho trabalhista, substituindo-as por benefícios inferiores”. Em outras palavras, flexibilizar direitos trabalhistas seria o mesmo que retirar a imperatividade de algumas normas, permitindo que as partes – trabalhador e empregador – estipulem, livremente, cláusulas no contrato de trabalho. 
O Direito do Trabalho brasileiro é constituído de diversas normas/leis imperativas. Isso significa que não é possível afastar o cumprimento dessas regras, ainda que o trabalhador e a empresa queiram modificá-las ou substituí-las. Dessa forma, a flexibilização tem a intenção de amenizar essa imperatividade e, assim, proporcionar às partes a livre estipulação de regras em uma relação de trabalho. Isso parece positivo, não é? Todavia, não podemos esquecer que as partes em uma relação de trabalho são desiguais, e, muitas vezes, é apenas a empresa quem estipula as cláusulas do contrato de trabalho, não havendo possibilidade de o trabalhador discuti-las.
O fato é que a flexibilização dos direitos trabalhistas parte do princípio de que se faz necessário avançar no sentido de não mais tratar o trabalhador como um hipossuficiente (pessoa com condições técnicas, econômicas ou sociais inferiores), mas uma pessoa apta a negociar o seu contrato de trabalho. 
Desse modo, a flexibilização permite adequar as cláusulas do contrato de trabalho às especificidades da empresa. Trata-se de um processo de adaptação das normas trabalhistas às grandes modificações verificadas no mercado de trabalho. 
A grande crítica atribuída à flexibilização é que ela poderá contribuir para a redução de direitos.
Embora o Direito do Trabalho esteja vinculado à economia, ele tem um papel importante, que é a elevação do nível social dos trabalhadores, por meio da redução da disparidade socioeconômica. Por outro lado, não podemos nos esquecer da necessidade de modernizar algumas regras, a fim de atender às novas demandas e às diversas relações de trabalho existentes atualmente. 
Tudo indica que a fase atual do Direito do Trabalho no Brasil é justamente pela consolidação da ideia de flexibilizar. 
A Lei nº 13.467/2017, publicada em 13 de julho de 2017, conhecida como Reforma Trabalhista, teve a intenção de alterar diversos dispositivos legais da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mediante a flexibilização das relações trabalhistas. A justificativa governamental para a alteração legislativa foi a de buscar a diminuição da informalidade e o aumento da empregabilidade, principalmente, por meio da intensificação da autonomia privada, ou seja, pela negociação direta entre trabalhadores, empregadores e sindicatos. 
É importante destacar que o fato de permitir uma liberdade maior na negociação e na estipulação de cláusulas contratuais não significa que o contrato de trabalho possa divergir da realidade, pois ele sempre deve retratar fielmente as condições de trabalho. Outro aspecto a ser considerado é que há limites na negociação e na flexibilização de direitos trazidos pela Constituição Federal, pela própria lei trabalhista, bem como por tratados internacionais que o Brasil tenha assinado e ratificado. Você não pode confundir a flexibilização com a desregulamentação de direitos. 
A princípio, a desregulamentação é totalmente vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro, inclusive no que se refere aos direitos sociais, pois podem representar um grande retrocesso na conquista de direitos. 
Referência: Legislação Social e Trabalhista -Janaina Carla da Silva Vargas Testa

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