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www.iesde.com.br T EC N O LO G IA D A IN FO R M A Ç Ã O E C O M U N IC A Ç Ã O N A E D U C A Ç Ã O Adriana Justin Cerveira Kampff NA EDUCAÇÃO TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-2848-1 Adriana Justin Cerveira Kampff IESDE Brasil S.A. Curitiba 2012 3.ª edição Tecnologia da Informação e Comunicação na Educação IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Jupiter Images/DPI Images © 2006-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza- ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________________________ K23t 3.ed. Kampff, Adriana Justin Cerveira Tecnologia da informação e comunicação na educação / Adriana Justin Cerveira Kampff. - 3.ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 220p. : 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-2848-1 1. Tecnologia educacional. 2. Inovações educacionais. 3. Tecnologia da informação. 4. Comunicação e tecnologia. 5. Comunicação de massa e educação. I. Título. 12-4024. CDD: 371.3078 CDU: 37.016:316.774 18.06.12 27.06.12 036410 ________________________________________________________________________________ Doutoranda em Informática na Educação (PGIE-UFRGS), Mestre em Ciência da Computação (PGCC-UFRGS) e Bacharel em Informática (PUCRS). Coordena proje- tos envolvendo tecnologias educacionais junto a escolas de Ensino Fundamental e Médio. Atua, também, como professora universitária em cursos de graduação e pós-graduação na área de computação e licenciaturas, aprofundando o tema das tecnologias na educação, sobre o qual pesquisa e tem artigos publicados em eventos, nacionais e internacionais, e revistas científicas. Trabalha, ainda, na capa- citação e acompanhamento de professores para o Ensino a Distância. Adriana Justin Cerveira Kampff Sumário Tecnologias ................................................................................. 11 Tecnologias instrumentais ..................................................................................................... 12 Tecnologias intelectuais.......................................................................................................... 12 Tecnologias educacionais ...................................................................................................... 14 Tempos de mudanças ............................................................. 23 As ondas civilizatórias .............................................................................................................. 23 Espaços diferenciados de aprendizagem ........................ 35 As inteligências múltiplas ....................................................................................................... 35 Implicações educacionais ...................................................................................................... 39 Mídias na Educação: impressos e rádio ............................ 51 Livros .............................................................................................................................................. 51 Jornais e revistas ........................................................................................................................ 54 Rádio .............................................................................................................................................. 55 Mídias na Educação: audiovisuais ...................................... 65 Televisão ....................................................................................................................................... 65 Programas educacionais ......................................................................................................... 67 Uso dos recursos audiovisuais .............................................................................................. 68 Produção de recursos audiovisuais .................................................................................... 69 Informática na Educação ....................................................... 79 Ensino e aprendizagem com a informática ..................................................................... 80 Ambientes virtuais para consulta multimídia ................................................................. 81 Softwares educacionais: aprendizagem envolvente .... 93 Editores gráficos ........................................................................................................................ 93 Editores de texto........................................................................................................................ 95 Jogos de computador.............................................................................................................. 96 Softwares educacionais: interatividade ...........................107 Linguagem Logo .....................................................................................................................108 Geometria dinâmica: Cabri-Géomètre ............................................................................110 Visualização de gráficos e funções ....................................................................................113 Geometria espacial .................................................................................................................114 Simuladores variados .............................................................................................................115 Edição de texto .......................................................................125 Microsoft® Word .......................................................................................................................126 Apresentação multimídia ....................................................143 Microsoft® PowerPoint 2003 ...............................................................................................144 Internet: revolução digital ...................................................161 Surgimento da internet .........................................................................................................162 Considerações finais ...............................................................................................................166 Internet: pesquisa...................................................................173 Acesso a sites ............................................................................................................................173 Ferramentas de busca ...........................................................................................................174 Bibliotecas virtuais ..................................................................................................................176 Enciclopédias virtuais ............................................................................................................179 Pesquisa em sala de aula ......................................................................................................180 Internet: comunicação .........................................................187 Correio eletrônico ...................................................................................................................188 Lista de discussões ..................................................................................................................190 Salas debate-papo .................................................................................................................191 Fóruns de discussão ...............................................................................................................194 Videoconferência.....................................................................................................................194 Ferramentas de comunicação instantânea ....................................................................195 Outras formas de comunicar ...............................................................................................195 Inclusão digital ........................................................................205 Acessibilidade ...........................................................................................................................206 Software livre ..............................................................................................................................207 Computadores nas escolas ..................................................................................................208 Venda de computadores com subsídios .........................................................................208 Reciclagem de equipamentos ............................................................................................209 Telecentros .................................................................................................................................210 Governo Eletrônico (e-gov) .................................................................................................210 Considerações finais ...............................................................................................................211 Apresentação Neste livro, você encontra informações sobre diversas tecnologias, de im- pressos à computação, passando por rádio e televisão. Tenho certeza de que, em muitos momentos, você se identificará com os exemplos apresentados, pois, quem não tem uma história fantástica para contar mediada por algum artefato tecnológico? Além de apresentar tecnologias e teorias que apoiam sua utilização na educa- ção, a nossa interação (sim, quem lê interage!) estará marcada pela discussão de possibilidades pedagógicas e exemplos para iniciar a caminhada na área. A utilização de tecnologias na educação não deve ser apenas ilustrativa, pode ser transformadora: permite acessar um grande volume de informações, em di- ferentes formatos, e compartilhá-las; propicia interagir com pessoas distantes e acompanhar em tempo real os acontecimentos em diversos locais do planeta. Assim, nos tempos atuais, precisamos formar cidadãos com novas competên- cias, capazes de gerenciar informações e trabalhar em grupo, começando por nós! Urge que estejamos capacitados para discutir e utilizar tecnologias em situações oportunas de aprendizagem. É preciso não apenas conhecê-las, mas vivenciá-las. Adriana Justin Cerveira Kampff Uma das características fundamentais da espécie humana é a sua capacidade de criar. O homem cria, mas, certamente, não cria no vazio, não faz mágica. Sua inventividade é despertada por sua interação com o mundo, na construção de novos conhecimentos, na ação transformadora. O homem, dos primórdios aos dias atuais, produz tecnologias: movido por suas necessidades e desejos, inventa artefatos que modificam o mundo e a sua forma de relacionar-se com ele. Das ferramentas rudimentares da agricultura às modernas colheitadei- ras, do tratamento das primeiras peles que aqueciam o corpo às roupas antifogo dos pilotos de automobilismo, dos primeiros desenhos às máqui- nas fotográficas digitais e softwares de edição gráfica, a tecnologia é útil e fascinante. Mas, mesmo que os exemplos anteriores não façam parte do dia a dia de muitos, estes estão imersos em um mundo tecnológico. Seria possível pensar a vida moderna sem energia elétrica? Como ficar sem a geladeira para conservar os alimentos? Como acompanhar essas aulas sem TV e DVD? E aquele ar-condicionado, desejado por muitos, para refrescar no verão e aquecer no inverno? E os aparelhos dos hospitais, es- senciais para salvar vidas humanas? Muitas tecnologias, hoje, encontram-se tão incorporadas na vida coti- diana que passam despercebidas. Algumas delas, no entanto, que costu- mam ser classificadas como “novas tecnologias”, quando surgem são vistas com receio, como se uma tecnologia, por si só, pudesse ser boa ou ruim. Na verdade, tudo depende do uso que se faz dela: a tecnologia nuclear pode ser utilizada para gerar energia que sustente uma região ou para criar mísseis que a devastem; a internet, como fonte de informação e co- municação, pode divulgar valores universais de respeito à diversidade cul- tural rumo a uma solidariedade planetária, ou veicular material de grupos terroristas que semeiam discórdia. Por isso pergunta-se: que uso se quer? É preciso conhecer e, conscientemente, optar pelo uso de tecnologias e suas abordagens – não é possível ignorá-las ou omitir-se. Tecnologias 11 12 Tecnologias instrumentais Quando se fala em tecnologia, logo se pensa em máquinas, aparelhos e fer- ramentas, tais como aviões, carros, eletrodomésticos, computadores e telefones. Essas tecnologias, denominadas tecnologias instrumentais, trazem conforto, ra- pidez e qualidade às tarefas cotidianas. Para aqueles que discordam, mais alguns exemplos: seria possível ir de Porto Alegre a São Paulo e voltar no mesmo dia, não fossem os aviões? Seria possí- vel conversar, em tempo real, com um amigo que mora distante, não fossem os telefones? Ou mesmo vê-lo, diariamente, não fossem os computadores com webcams conectados à internet? Como acompanhar os momentos do primeiro astronauta brasileiro no espaço, os jogos da Copa do Mundo, a apuração das eleições ou as grandes festas populares, não fossem as transmissões televisivas ao vivo, com todo um complexo aparato tecnológico envolvido? Várias situações empregam tecnologias e muitas delas seriam simplesmente impossíveis na sua ausência. Quem não tem uma história marcante para contar, acompanhada pela televisão? Ou um telefonema/e-mail que chegou na hora certa, para mudar uma situação? Embora as tecnologias instrumentais monopolizem boa parte do que se dis- cute sobre o tema, as tecnologias intelectuais, em grande parte, embasam o seu desenvolvimento. Tecnologias intelectuais Como tecnologias intelectuais, também denominadas de tecnologias da inteligência ou simbólicas, destacam-se, inicialmente, a linguagem e a escrita, acrescentando-se hoje novas formas de representar o conhecimento, como os hipertextos, possíveis através da informática. Lévy (1996, p. 38) afirma que “uma tecnologia intelectual, quase sempre, exte- rioriza, objetiva, virtualiza uma função cognitiva, uma atividade mental”. Ou seja: ao falar, o homem exterioriza seu pensamento; ao escrever, exterioriza sua me- mória; ao tecer um hipertexto – texto construído em rede, com ligações entre di- versas informações –, exterioriza as relações que estabelece entre as informações que apresenta. Tecnologias Tecnologias 13 Com o desenvolvimento da linguagem, o homem passou a compartilhar in- formações, atualizando-as e passando-as de geração para geração, de maneira contextualizada ou na forma de mitos. Com a escrita, surge uma outra maneira de se comunicar, de compartilhar informações, em que os emissores das mensagens e seus receptores podem estar distantes no tempo e no espaço e, portanto, recebê-las fora do contexto em que foram concebidas, com todos os mal-entendidos que podem decorrer disso. Assim, ao escrever, tornou-se necessário pensar sistemas que possam ser compreendidos independentemente do tempo e do espaço, como os registros científicos. Por outro lado, acentuou-se a necessidade de desenvolver uma boa interpretação a partir da leitura dos materiais produzidos. Atualmente, com os hipertextos, reinventa-se a maneira de escrever,interli- gando informações em teia, de forma não linear, em um processo mais próximo à forma como as pessoas pensam, em que “uma ideia puxa outra”. O hipertexto permite visualizar, na tela do computador, o que há muito tempo a mente humana faz. Aproveitando um trecho da música de Lupicínio Rodrigues: “o pensamento parece uma coisa à toa / mas como é que a gente voa quando começa a pensar”. Ao interagir com um hipertexto “voa-se”, “navega-se” entre informações. Em um hipertexto, dois conceitos são importantes: nodo (um ponto da rede de informação) e ligação (a conexão entre os pontos da rede, denominada também de link). Os nodos podem conter, por exemplo, trechos ou textos com- pletos, imagens estáticas ou animações, sons ou filmes. E cada nodo pode conter ligações que levam a outros nodos. Cada escritor pode construir o seu hipertexto, incluindo ligações para hiper- textos externos ao seu, disponíveis na internet. Cada leitor pode optar, em sua leitura, por quais ligações selecionar. Um hipertexto, portanto, “é uma matriz de textos potenciais, sendo que alguns deles vão se realizar sob o efeito da intera- ção com o usuário” (LÉVY, 1996, p. 40). Ao contrário do texto manuscrito ou im- presso, que vem pronto, o hipertexto em meio digital é construído na interação com o leitor, através das suas seleções e, portanto, “toda leitura em computador é uma edição, uma montagem singular” (LÉVY, 1996, p. 41). A intenção aqui é abrir uma janela para o mundo atual, articulando o uso de várias tecnologias, tanto instrumentais quanto intelectuais, no contexto educacional. 14 Tecnologias educacionais Como caracterizar “tecnologia educacional”? Seu uso pode melhorar os pro- cessos de ensino e aprendizagem? Para responder a essas questões, inicia-se a discussão do tema. As tecnologias em geral, das mais simples às mais sofisticadas, ampliam o po- tencial humano, seja físico ou intelectual. As tecnologias empregadas com fim educacional colaboram nesse sentido, ampliando as possibilidades do professor ensinar e do aluno aprender. Da lousa e giz aos computadores ligados à internet, muitas são as tecnologias que, utilizadas adequadamente, podem auxiliar no processo educacional: livros didáticos permitem garantir a todos o acesso a um conjunto mínimo � de informações; assinaturas de jornais e revistas oferecem notícias atualizadas; � um vasto acervo na biblioteca, potencialmente, amplia e aprofunda a � pesquisa; bons laboratórios de ciências podem levar a criar/recriar experiências � científicas; recursos audiovisuais aproximam os alunos de realidades distantes; � computadores oferecem uma infinidade de possibilidades de acesso à in- � formação, à comunicação, à simulação etc.; lousas eletrônicas interativas permitem ao professor a manipulação de � imagens em 3D, tornando suas aulas mais dinâmicas e envolventes; dispositivos móveis, cada vez menores e mais leves, possibilitam assistir a � aulas em vídeo ou ler livros digitais onde quer que se esteja. Todos reconhecem o papel fundamental das instituições escolares no desen- volvimento intelectual, social e afetivo do indivíduo. Assim, em uma sociedade de bases tecnológicas, com mudanças contínuas e em ritmo acelerado, não é mais possível ignorar as alterações que as tecnologias – principalmente as tec- nologias da informação e da comunicação (TIC) – provocam na forma como as pessoas veem e apreendem o mundo, nem desprezar o potencial pedagógico que tais tecnologias apresentam quando incorporadas à educação. Tecnologias Tecnologias 15 As transformações necessárias para qualificar a educação são complexas, abrangendo a reestruturação dos currículos, a formação adequada de profes- sores e a inserção das diversas tecnologias de informação e de comunicação – desde bons materiais impressos, televisão, DVDs até computadores conectados à internet e videobooks entre outros. Lévy (1993, p. 8) afirma que a escola “há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, em um uso mo- derado da impressão”. Dessa forma, diz que (p. 8-9) “uma verdadeira integração da informática (como do audiovisual) supõe, portanto, o abandono de um hábito antropológico mais do que milenar, o que não pode ser feito em alguns anos”. Cabe à escola incorporar em seu trabalho, apoiado na oralidade e na escrita, outras formas de aprender (apoiadas na visão, na audição, na simulação, na cria- ção) possíveis com uma tecnologia cada vez mais avançada. Mais do que resistir, é preciso desvendá-la e, conscientemente, fazer uso dela. Diversas áreas se beneficiam do desenvolvimento tecnológico e a educação deve utilizá-lo também nesse sentido: trazer ganhos pedagógicos. Segundo Sancho (1998, p. 40), os professores costumam utilizar tecnologias que dominam e deixar de lado as “produzidas e utilizadas na contemporaneidade [...], dificultando aos seus alunos a compreensão da cultura do seu tempo e o desenvolvimento do juízo crítico sobre elas”. Para superar essa questão, é preciso investir em recursos e na capacitação do- cente, buscando conhecer e discutir formas de utilização de tecnologias no campo educacional, com o propósito de atualizar e qualificar os processos educativos. Texto complementar Invenções que mudaram o mundo e sobreviveram ao tempo (ÉPOCA, 2006) Luz elétrica (1879) O desenvolvimento da lâmpada incandescente pelo americano Thomas Edison é o marco da captura da energia elétrica. Ela alavancaria o desenvol- vimento da indústria e revolucionaria o modo de vida das pessoas. 16 Hoje: cerca de 90% das casas, no Brasil, possuem luz elétrica. Nos países desenvolvidos, esse número é de quase 100%. Fotografia (1839) O pintor e físico francês Louis Daguerre descobre que a imagem pode ser capturada e reproduzida por meio de uma câmera escura. Em sua homena- gem, durante os primeiros anos, a máquina fotográfica era conhecida como daguerreótipo. Hoje: a imagem digital, que dispensa filme e revelação, transformou a fotografia em um hobby de milhões de pessoas em todo o mundo. Carro (1886) O engenheiro alemão Gottlieb Daimler desenvolve o primeiro veículo de quatro rodas movido por motor a gasolina. O veículo é considerado o pri- meiro automóvel da história. Hoje: o carro é o principal meio de transporte da atualidade. Telefone (1876) Embora vários inventores estivessem trabalhando no projeto do telefone, foi o escocês Alexander Graham Bell quem realizou a primeira ligação entre dois aparelhos. “Doutor Watson, preciso do senhor aqui imediatamente”, foi a primeira frase pronunciada ao telefone para um de seus assistentes. Hoje: cada vez mais o celular facilita a vida do usuário em todos os sentidos. Computador (1945) Embora a invenção do computador pessoal date do fim dos anos 1970, ele está prestes a completar 60 anos. [...] O primeiro, o Eniac, pesava 30 toneladas, usava cartões perfurados e tinha, entre outras funções, de fazer cálculos de ba- Tecnologias Tecnologias 17 lística para o exército americano. O desenvolvimento de microprocessadores permitiu a criação de computadores pessoais de mesa e portáteis, os laptops. Hoje: o computador se tornou uma ferramenta indispensável na vida cotidiana, seja profissionalmente, seja como instrumento de pesquisa, comunicação pessoal ou entretenimento. Rádio (1896) Criado pelo italiano Guglielmo Marconi, o rádio teria sua primeira trans- missão realizada na virada do século XIX para o XX, em 1901. Ele enviou ondas de rádio de um balão, na Inglaterra, que foram captadas na Costa Oeste dos Estados Unidos. Hoje: o rádio trocou o entretenimento dos primeiros tempos pela prestação de serviços. Nisso, é imbatível. Satélite (1957) O Sputnik, russo, foi o primeiro satélite lançado no espaço. Criado para pesquisa espacial, seu uso foi ampliado para estudos meteorológicos a partir dos anos 1960. O Telstar, primeiro satélite de comunicações, foi lançado, em 1962, pelos Estados Unidos. Hoje: a ideia de AldeiaGlobal, para ser real, depende 100% dos satélites. Televisão (1924) A primeira transmissão, para a comunidade científica, ocorreu em Londres e foi captada em um aparelho de 30 linhas de definição. Era possível ver apenas o contorno de imagens de pessoas. Na França, a primeira transmissão foi feita em 1935, da Torre Eiffel. Nos Estados Unidos, em 1939. No Brasil, em 1953. Hoje: a TV é o principal meio de entretenimento das pessoas. No futuro próximo, cada telespectador montará a própria programação. 18 Internet (1969) Criada para fins militares, a comunicação em rede por computador passou a ser usada para pesquisa em universidades nos anos 1980 e ganhou uso comercial na metade dos anos 1990. No Brasil, o serviço foi implantado em 1995. Em 2000, o país adotou o sistema de banda larga. Hoje: há dez anos, a rede não existia. [...] Não dá nem para imaginar como seria a vida sem ela. Dica de estudo LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. Por meio da leitura desse livro é possível aprofundar o entendimento sobre as tecnologias intelectuais e compreender como as novas tecnologias da infor- mação e da comunicação, em especial as relacionadas com a informática, opor- tunizam o desenvolvimento de novas formas de pensar. Atividades 1. Para que servem as tecnologias? Discuta sobre a presença e o papel de dife- rentes tecnologias no cotidiano. Tecnologias Tecnologias 19 2. O que é uma tecnologia intelectual? 3. Destaque algumas tecnologias da informação e da comunicação, apresen- tando como o homem as utiliza em seu cotidiano. 20 Referências ÉPOCA. Invenções que Mudaram o Mundo e Sobreviveram ao Tempo. Dis- ponível em: <http://epoca.globo.com/especiais/2004/tecnologia/abre02.htm>. Acesso em: 20 jun. 2006. LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. LÉVY, Pierre. O que É o Virtual? 2. Reimp. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996. RODRIGUES, Lupicínio. Felicidade. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/ lupcinio-rodrigues/47152/>. Acesso em: 12 jun. 2012. SANCHO, Juana Maria (Org.). Para uma Tecnologia Educacional. 2. reimp. Porto Alegre: ArtMed, 1998. Gabarito 1. As tecnologias servem para trazer conforto, qualidade e agilidade para a re- alização de tarefas. As tecnologias ampliam nossa capacidade, seja física ou intelectual – por exemplo, um carro permite chegar mais longe e rapidamen- te a locais distantes do que caminhando; uma calculadora permite realizar cálculos complexos com mais rapidez e eficiência do que com lápis e papel; um hipertexto permite representar diversas ligações entre os conhecimen- tos; a televisão nos permite assistir em tempo real aos acontecimentos que estão ocorrendo no outro lado do mundo; o telefone celular permite que fa- çamos contato e sejamos contatados a qualquer momento. Esses são alguns exemplos - várias situações empregam tecnologias e muitas delas seriam simplesmente impossíveis na sua ausência. 2. Uma tecnologia intelectual (ou tecnologia da inteligência) exterioriza uma atividade mental. Por exemplo: ao falar, exterioriza-se o pensamento (nos ex- pressamos); ao escrever, exterioriza-se a memória (podemos registrar pensa- mentos); ao construir hipertextos, exteriorizam-se as relações (explicitamos como relacionamos as informações que fazem parte do hipertexto). 3. Alguns exemplos podem versar sobre livros, jornais, revistas, rádio, cinema, televisão e internet, discutindo formas de utilização que vão de entreteni- mento à fonte de informação e cultura. É importante considerar o acesso e a utilização crítica das tecnologias como recurso importante na formação de cidadãos mais conscientes e produtivos para o mundo atual. Tecnologias Tecnologias 21 É bastante comum ouvir essa afirmação: estamos imersos na socieda- de da informação, na Era Digital. Mas como definir essa nova sociedade? O que distingue essa era das demais, já vividas pelas gerações anteriores? Será que, no mundo globalizado, todos estão na mesma era? Que caracte- rísticas são desejadas para que os homens de seu tempo possam exercer plenamente sua cidadania? O texto que agora se inicia pretende apresentar elementos que auxi- liem a responder às questões acima. As ondas civilizatórias Alvin Toffler (1995), cientista social norte-americano, coloca que é possível dividir, em função de suas características, as sociedades em três ondas civilizatórias: a primeira onda é a agrícola, a segunda é a industrial e a terceira é a digital. A metáfora da onda, segundo Mrech (2001), “é usada para designar um fluir da sociedade que não vai em uma direção só, mas que apresenta fluxos e refluxos contínuos, tal como a água do mar, em seus aspectos su- perficiais e profundos de dinamização”. Assim, é importante destacar que, embora em determinados espaços físicos se identifique um maior número de características de uma onda, elas podem acontecer simultaneamente. Primeira onda A primeira onda, denominada de sociedade agrícola ou sociedade pri- mitiva, tem seu predomínio desde o surgimento do homem até o final do século XVII. Na sociedade agrícola, predominam os grupos humanos que vivem isolados de outros grupos, produzindo e consumindo o necessário para a sua própria sobrevivência. Tempos de mudanças 23 24 As informações, em geral, são propagadas de geração para geração, já que as escolas ainda são poucas no final desse período, e é bastante comum que as fa- mílias mantenham as mesmas profissões: avô artesão, pai artesão, filho artesão. Nessa era, o poder está, principalmente, nas mãos dos detentores de terra. Segunda onda A segunda onda inicia-se após o século XVII, marcada pela Revolução In- dustrial. Melhorias na agricultura permitem produzir alimentos em uma escala maior do que o que era consumido por um dado grupo, liberando mão de obra do campo para as grandes cidades, constituídas ao redor das indústrias que co- meçam a ser implantadas. Uma nova escala econômica surge. Se antes consumia-se o que o próprio sujeito (ou seu grupo) produzia, na Era Industrial consumidores e produtores são grupos diferentes – produz-se em excesso, para trocar por moeda corrente (dinheiro), que por sua vez será trocada por outros produtos necessários à sobre- vivência. Detém o poder quem detiver maior capital financeiro. Nessa era, passa-se a produzir e consumir também informação e cultura de forma massificada. Surgem, sucessivamente, a imprensa, o rádio e a televisão, levando informações iguais para todos, simplificadas para que todos possam compreendê-las, favorecendo uma padronização de ideias e comportamentos. A escola, para atender às necessidades da sociedade industrial, também é massificada: deve formar cidadãos homogêneos, capazes de adequação ao tra- balho em série. Multiplicam-se as escolas, baseadas em uma concepção tradicio- nal de educação: o currículo é organizado em disciplinas estanques, privilegiando o desen- � volvimento de habilidades linguísticas e lógico-matemáticas; o professor é visto como fonte principal do conhecimento; � o aluno assume uma postura passiva, recebendo pacotes de informação pre- � viamente formatada, hierarquizada, em doses progressivas e predefinidas; a avaliação se baseia na memorização de informação e na devolução das � informações em conformidade com o modelo oferecido. Todas essas características colaboraram para o desenvolvimento industrial, reforçando aspectos importantes para sua sustentação. Tempos de mudanças Tempos de mudanças 25 Terceira onda A terceira onda, também denominada sociedade da informação ou digital, surge com as redes de computadores entre 1960 e 1970, propiciando uma am- pliação, em proporções sem precedentes, do acesso e divulgação de informa- ções. Hoje, com a internet, todos podem produzir e disponibilizar informações e, conforme seus interesses, consultá-las de maneira personalizada. O sujeito coloca-se,ao mesmo tempo, como produtor e consumidor de informações. Ju p ite r I m ag es /D PI Im ag es . A economia volta-se ao consumo interativo e personalizado: canais por as- sinatura, TV com transmissão digital, grupos e fóruns de discussão criados na internet. Mas, com o grande volume de informações, não basta apenas aprender a acessá-las, é preciso estabelecer relações, aprofundá-las, lidar com toda a com- plexidade envolvida. Novas são as necessidades em relação à educação: o currículo deve ser repensado em um mundo globalizado, de maneira inter- � disciplinar, valorizando a inteligência como fruto de múltiplas competências; o professor deve assumir uma postura de mediador no acesso ao conhe- � cimento e contribuir para que se estabeleçam relações significativas, que levem a outros patamares de conhecimento; 26 o aluno deve ser visto como agente ativo do processo, com interesses e � produções singulares; a avaliação não tem sua ênfase na memorização, mas nas relações e na � aplicação dos conhecimentos em novos contextos. As diversas ondas existem concomitantemente. No que diz respeito espe- cialmente à educação, observa-se ainda uma predominância da segunda onda. Porém, diversas iniciativas e discussões atuais pretendem transformar a escola, para formar cidadãos capazes de exercer plenamente seus direitos, em uma nova sociedade: a sociedade da informação, em que o maior valor é o conhecimento. Os códigos da modernidade Com as transformações sociais e, consequentemente, das relações de traba- lho, novas são as exigências em relação à educação. É preciso formar pessoas capazes de lidar com problemas a respeito dos quais ainda não se tem ideia, a lidar com o inesperado e com a incerteza (MORIN, 2000). Nesse contexto de mudanças, salientam-se competências importantes para a sobrevivência em um novo tempo – entre outras características, Bernardo Toro (2009), em seus Códigos da Modernidade, destaca sete competências para uma participação produtiva na sociedade atual: domínio da leitura e da escrita; � capacidade de fazer cálculos e resolver problemas; � capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações; � capacidade de compreender e atuar em seu entorno social; � capacidade para compreender criticamente os meios de comunicação; � capacidade de localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; � capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo. � Os estímulos aos quais a sociedade é exposta impulsionam uma mudança no papel da escola e, com isso, a necessidade de romper com velhos paradigmas educacionais, centrados em currículos fragmentados, em memorização e trans- missão de informações. Tempos de mudanças Tempos de mudanças 27 As habilidades linguísticas e lógico-matemáticas continuam essenciais, mas já não bastam. É importante ter acesso às informações, saber decodificá-las e compar- tilhá-las para ampliar seu potencial de utilização, articulando diversas capacidades. Busca-se o desenvolvimento da inteligência de forma coletiva, a partir das vivências do grupo, das trocas e do aprofundamento. Percebe-se a necessidade crescente de interagir para a resolução de problemas, para a realização de tare- fas. Torna-se necessária a reunião de pessoas competentes em seus domínios de conhecimento para trabalharem em projetos comuns, valorizando as com- petências individuais e a articulação destas, de maneira harmoniosa, durante o desenvolvimento de trabalhos em grupo. Nesse novo contexto, a valorização de capacidades cognitivas individuais, va- lores pessoais e habilidades que favoreçam o trabalho em grupo assumem fun- damental importância. Quer-se formar cidadãos atuantes em seu entorno social, com postura democrática, que saibam analisar os fatos e receber criticamente as informações. Para tanto, é preciso trabalhar o “conhecimento como um todo complexo” (MORIN, 2000), construído a partir de complexas interações do sujeito com outros sujeitos e com o meio, respeitando as particularidades de cada um. Em uma sociedade globalizada, interconectada por diversas tecnologias da informação e da comunicação, as competências destacadas nos códigos da mo- dernidade são ao mesmo tempo estimuladas e colocadas à prova. Uma educa- ção norteada pelo desenvolvimento de tais competências permitirá a formação de cidadãos mais atuantes, conscientes e produtivos. Texto complementar Criatividade e inteligência emocional A 4.ª onda no III milênio (FRANÇA, 2006) O homem nômade levou milênios domesticando plantas e animais. Pas- sou-se menos de dois séculos entre a descoberta da turbina a vapor até o domínio da energia nuclear. A ciência demorou menos de dez décadas entre a descoberta do telégrafo a fio de cobre e os cabos de fibras ópticas da rede 28 mundial de comunicação, a internet. Esses exemplos marcantes de transfor- mações tecnológicas exemplificam as três grandes ondas civilizatórias: Agri- cultura, Industrialização e Comunicação. Na primeira onda, o poder do homem foi representado pela posse da terra e pelo número de homens que podia comandar. Na segunda, o poder se dava pela posse das indústrias e se resumia ao número e à eficiência das máquinas que se podia adquirir. Na atual terceira onda, o poder do homem se caracteriza pelo volume de informação que pode dominar e manipular de forma rápida, em suas compactas máquinas que imitam e ampliam o seu próprio cérebro. É provável que a invenção de um novo insumo agrícola, máquina indus- trial ou computador pouco acrescente às fantásticas possibilidades do poder transformador do homem atual. Afinal, o volume de conhecimento disponi- bilizado e manipulável pela mente humana já é exageradamente suficiente para entreter qualquer mente curiosa. Seguindo as tendências naturais observadas nas três primeiras ondas, pode-se afirmar que, na 4.ª onda, as tecnologias e o estilo civilizatório so- frerão transformações fantásticas em intervalos menores que décadas. Esse ciclo se caracterizará por algo que o homem poderá desenvolver e guardar no interior de seu próprio ser. É a criatividade e a inteligência emocional que estão despontando como ferramentas capazes de fazer grande diferença no poder transformador do homem do III milênio. Os últimos cientistas agraciados com prêmios Nobel se caracterizam pela capacidade de criar alianças através de redes de especialistas, acumulando e combinando conhecimento e criatividade. Acabou-se o tempo dos gênios solitários, escondidos em laboratórios e bibliotecas. As descobertas atuais estão sendo feitas por pessoas capazes de fortalecer redes de relacionamen- tos, mantê-las produtivas, animadas e solidárias frente a uma meta comum. Sinergizar e compartilhar conhecimentos não são tarefas fáceis, exige-se muita capacidade de entender o ser humano nas suas necessidades mais delicadas. Entender e compreender, ter empatia e se comunicar de forma efetiva com o outro pressupõe uma profunda capacidade de reconhecer e considerar as emoções. Tempos de mudanças Tempos de mudanças 29 Esse homem transformador terá que saber trabalhar a si e ao outro no mundo subjetivo, onde se formatam as emoções. Esse enfoque já é dado atu- almente por várias empresas, que investem na capacitação emocional de seus funcionários, na sua preparação para entender e se fazer entendido no ambien- te de trabalho. Pode-se afirmar que quanto mais feliz o homem, mais fácil será a criação do espírito de equipe e a somatória dos frutos do trabalho coletivo. [...] E este é o grande desafio civilizatório – a construção da felicidade coletiva. Você já pensou nesta possibilidade? Dica de estudo TORO, Bernardo. Códigos da Modernidade. Disponível em: <http://www.es- cola2000.org.br/aprenda/eac/eac_literatura.aspx?eacl_id=93&eaca_id=39>. Acesso em: 20 jan. 2009. O texto apresenta as sete competências descritas nos Códigos da Modernida- de, ressaltando a importância de cada uma delas na sociedade atual. Atividades 1. Cite, para cada uma das três ondascivilizatórias, o símbolo de poder associa- do a cada onda. 30 2. As três ondas coexistem: busque identificar espaços geográficos (países, es- tados ou pequenas regiões) em que cada onda apareça com maior destaque, listando características que permitam sustentar essa classificação. Tempos de mudanças Tempos de mudanças 31 3. Complete o quadro a seguir. Analise os aspectos educacionais apresentados na primeira coluna e sintetize suas principais características nas sociedades industrial e digital. Educação X Sociedade Industrial Digital Currículo Postura do professor Postura do aluno Avaliação Referências FRANÇA, Valdo. Criatividade e Inteligência Emocional. Disponível em <http:// www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/coluna_livre/id081202.htm>. Acesso em: 1 set. 2006. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo/ Brasília: Cortez/Unesco, 2000. MRECH, Leny Magalhães. A Criança e o Computador: Novas formas de pensar. Disponível em: <http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=115>. Acesso em: 20 jan. 2009. TOFLLER, Alvin. A Terceira Onda. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995. TORO, Bernardo. Códigos da Modernidade. Disponível em: <http://www.es- cola2000.org.br/aprenda/eac/eac_literatura.aspx?eacl_id=93&eaca_id=39>. Acesso em: 20 jan. 2009. 32 Gabarito 1. Primeira onda: agrícola. Símbolo de poder: terra. Segunda onda: industrial. Símbolo de poder: capital financeiro. Terceira onda: digital. Símbolo de po- der: informação/conhecimento. 2. Os exemplos podem variar bastante. Vejamos: Primeira onda: tribos indígenas, comunidade de agricultores (pode citar grupos locais no seu estado). Características: informações propagadas de geração para geração; economia predominantemente de subsistên- cia; símbolo de poder é a terra. Segunda onda: regiões industriais (veja na sua região). Características: predomínio de informações massificadas (impressos, rádio, televisão); escola massificada, organizada em conteúdos e memorização; produção industrial em larga escala; símbolo de poder é o capital financeiro. Terceira onda: regiões produtoras de tecnologia e prestação de serviços (exemplo: Vale do Silício, na Califórnia, onde estão as maiores empresas de Informática no mundo). Características: desmassificação (internet: interati- vidade, consome-se e produz-se informação); escola baseada em compe- tências e interdisciplinaridade; produção personalizada; símbolo de poder é o conhecimento: quem detém conhecimento, detém o poder. 3. Educação X Sociedade Industrial Digital Currículo Fragmentado/Disciplinas estan- ques Interdisciplinar/Baseado em competências Postura do Professor Entregador do conhecimento Mediador/Orientador Postura do Aluno Passivo/Receptor Ativo/Singular Avaliação Baseada em memorização/ De- volução em conformidade com o modelo oferecido Baseada na interpretação, nas relações entre os conhe- cimentos, na aplicação Tempos de mudanças Tempos de mudanças 33 As pessoas recebem, processam e apresentam as informações de ma- neiras diferentes, de acordo com seus estilos próprios de aprendizagem. Ao organizar espaços de aprendizagem, no mundo atual, é necessário considerar os estilos cognitivos dos envolvidos e prover formas distintas de trabalho, com o intuito de motivar e envolver os sujeitos, de maneira participativa e responsável, em suas aprendizagens. Nesse sentido, como é possível promover novos ambientes de ensino e aprendizagem que respeitem as diferenças individuais? Como oportu- nizar atividades em que o conhecimento seja construído coletivamente pelos sujeitos? As tecnologias da informação e da comunicação podem contribuir significativamente nesse contexto? As inteligências múltiplas O que é inteligência? Para Gardner (1995, p. 14), a inteligência é a “capa- cidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam valoriza- dos em um ou mais ambientes culturais ou comunitários”. A partir dessa definição, afasta a ideia de que a inteligência é única e pode ser medida de maneira absoluta, destacando seu caráter múltiplo. A teoria das múltiplas inteligências considera as diferenças, as singularidades, apre- sentando uma nova dimensão humana: os sujeitos apresentam diversas in- teligências, em diferentes graus, que interagem na resolução de problemas. Na medida que seus estudos avançam, novas inteligências são incor- poradas à sua teoria. As primeiras sete inteligências definidas são apresen- tadas na sequência. Inteligência linguística A inteligência linguística relaciona-se à expressão verbal, oral ou escrita. Essa inteligência é exteriorizada na capacidade de escrever e contar histórias, fazer rimas, contar piadas, representar, interpretar fatos, criar metáforas. Espaços diferenciados de aprendizagem 35 36 Espaços diferenciados de aprendizagem Destacam-se como expoentes grandes jornalistas, políticos eloquentes, escri- tores e poetas. Bons vendedores e professores também costumam ter uma boa inteligência linguística. D om ín io p úb lic o. Monteiro Lobato. Inteligência lógico-matemática Essa inteligência vai além da resolução de cálculos matemáticos, abarcando o pensamento científico, que permite identificar problemas, levantar hipóteses e empregar métodos que levem a comprovar ou refutar as hipóteses iniciais, enfim, empregar lógica para organizar o pensamento e resolver problemas. Engenheiros, administradores, economistas, matemáticos e físicos, por exem- plo, costumam apresentar um bom nível de desenvolvimento desse tipo de inteligência. D om ín io p úb lic o. Albert Einstein – Prêmio Nobel de Física. Espaços diferenciados de aprendizagem 37 Inteligência corporal-cinestésica A inteligência corporal-cinestésica diz respeito aos movimentos corporais, envolvendo saber expressar emoção, por meio da dança e linguagem corporal, e realizar movimentos precisos, como na prática de esportes. Bailarinos e atletas de alto nível possuem uma boa inteligência corporal. Ri ca rd o St uc ke rt . Maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima. Inteligência espacial A inteligência espacial refere-se à visualização do espaço e à criação de imagens mentais a partir dele, facilitando sua representação e a orientação no mesmo. Arquitetos, escultores, desenhistas e cartógrafos representam bem o espaço; pilotos e navegadores localizam-se bem; bons jogadores de xadrez possuem a habilidade de visualizar os objetos a partir de múltiplas perspectivas e projetar novas configurações. Va lte r C am p an at o/ A Br . Oscar Niemeyer. 38 Espaços diferenciados de aprendizagem Inteligência musical A inteligência musical caracteriza-se pelo reconhecimento de padrões so- noros, ritmos e batidas, e pelo manuseio de instrumentos musicais. Interpretar, distinguir, reproduzir e criar sons, com a voz ou instrumentos, estão entre as possibilidades que sugerem a inteligência musical, presente em compositores, cantores e músicos. D om ín io p úb lic o. Ludwig van Beethoven - compositor de Música Clás- sica pintado por Joseph Karl Stieler. Inteligência interpessoal A inteligência interpessoal caracteriza-se pela capacidade de estabelecer contato com os outros e criar empatia, sabendo colocar-se no lugar dos outros e interpretar suas reações. Expressa-se na organização de grupos, na capacidade de liderança e gerência, na negociação de soluções. Embaixadores, religiosos, psicólogos, professores e apresentadores de pro- gramas televisivos costumam demonstrar um bom desenvolvimento dessa inteligência. Espaços diferenciados de aprendizagem 39 Ev er t O de ke rk en . Madre Teresa de Calcutá – Prêmio Nobel da Paz. Inteligência intrapessoal A inteligência intrapessoal relaciona-se à capacidade de autoconhecimento e automotivação, sabendo lidar com as frustrações e como superá-las. É a ca- pacidade de controlar a impulsividade, de encarar a vida com otimismo e de reagir positivamente em situações de insucesso, reorganizando-separa superar os obstáculos. Implicações educacionais A teoria das múltiplas inteligências tem implicações educacionais, cabendo à escola reconhecer que: cada sujeito é único; � as inteligências manifestam-se de maneiras diferentes, em níveis de de- � senvolvimento diferentes; todas as inteligências são importantes para que uma pessoa seja compe- � tente e produtiva na sociedade; 40 Espaços diferenciados de aprendizagem é fundamental considerá-las e oportunizar que se desenvolvam de manei- � ra adequada. Já que diferentes pessoas possuem as diversas inteligências em diferentes graus, torna-se necessário criar situações de aprendizagem tão diversificadas quanto são as inteligências. Todas as inteligências podem ser potencialmente desenvolvidas através de atividades diferenciadas. Uma das formas preferenciais de trabalho com esse objetivo é propiciar si- tuações-problema ao sujeito, preferencialmente através de uma pedagogia de projetos, em grupos e em ambientes ricos em recursos. Para Gardner (1995, p. 104), os projetos “engajam os alunos [...], estimulando-os a planejar, revisar seu trabalho e refletir sobre ele”, exigindo a articulação de inteligências variadas. Para que essa empreitada tenha êxito, o sujeito precisa ser motivado a envol- ver-se ativamente nesse processo, construindo o seu conhecimento a partir de múltiplas interações. E o professor deve projetar desafios que estimulem o ques- tionamento, a colocação de problemas e a busca de soluções. Os sujeitos não se tornam ativos aprendizes por acaso, mas por desafios projetados e estruturados, que visem à exploração e à investigação. O desenvolvimento de projetos no espaço educacional traz consigo uma série de possibilidades pedagógicas relevantes: considerar cada sujeito em sua singularidade – o ritmo, os interesses e as � habilidades dos envolvidos são contemplados em trabalhos dessa ordem. Cabe aos sujeitos negociarem, orientados por um professor mediador, os temas dos projetos e a forma de desenvolvê-los; oportunizar vivências – em um ambiente de desenvolvimento de proje- � tos, é possível “criar” situações imaginárias, representativas de situações reais, permitindo a visualização de conceitos e a vivência de situações di- ferenciadas; oferecer acesso a vasto material – é fundamental oportunizar acesso a � material em quantidade e qualidade, possibilitando pesquisa, aprofun- damento, análise, depuração de ideias e afirmação ou criação de novas hipóteses. Esses materiais devem permitir a manipulação em diferentes formas e proporcionar diferentes estímulos; Espaços diferenciados de aprendizagem 41 motivar os sujeitos a se engajarem em suas aprendizagens – os sujei- � tos devem estar envolvidos em seu processo de aprendizagem, parti- cipando ativamente em todas as fases de aquisição de informações e construção do conhecimento; mediar o processo – todas as questões anteriores devem ser apoiadas por � um professor inovador e orientador, permitindo aos sujeitos ganhos signi- ficativos de aprendizagem. Diversas tecnologias, em especial as da informação e da comunicação, devem fazer parte do desenvolvimento dos projetos, oportunizando ampla pesquisa e múltiplos estímulos sensoriais, além de oferecer vários recursos para simulação, compartilhamento e representação do conhecimento, levando os sujeitos a par- ticiparem ativamente da construção de seu conhecimento. Texto complementar Os professores têm uma nova missão (THORNBURG, 1997) [...] ZH – Por que é tão importante que as escolas ofereçam acesso à tecnologia? DT – Há duas importantes razões para que as crianças tenham acesso à tecnologia. A primeira é que a tecnologia pode ser usada para dar suporte ao aprendizado natural. Nos Estados Unidos, temos uma pesquisa que mostra que existem sete maneiras de se aprender. Em uma sala de aula comum, so- mente uma ou duas são aproveitadas: a inteligência linguística, quando se recomenda alguma leitura, e a matemática, quando se promovem compe- tições. Mas as crianças também aprendem pelo movimento, relacionamen- to, música, interação com os colegas e contemplação. Em um ambiente de aprendizado que possa suportar todas as maneiras de aprender, os estudan- tes vão ter melhor aproveitamento. 42 Espaços diferenciados de aprendizagem ZH – Mas isso é uma tarefa fácil? DT – Claro que não. Uma das dificuldades é imaginar que todos os pro- fessores vão ser bons em todos esses tipos de inteligências. Essa é uma ex- pectativa irreal. Já não se pode dizer o mesmo em relação às máquinas mul- timídia. Os computadores multimídia permitem aos estudantes criarem seus próprios projetos, expressarem o que sabem de uma maneira natural. Um estudante de artes tem condições de criar seus próprios filmes de animação e usar sua inteligência espacial. Isso não é possível quando se usa apenas papel e caneta. Ou seja, o computador abre novas oportunidades de expres- sar aquilo que a criança já sabe. ZH – Qual seria a segunda razão? DT – Nós vivemos em uma sociedade cada vez mais informatizada. Sendo assim, quem quiser se formar e conseguir empregos bem remunerados vai precisar ter suas habilidades tecnológicas bem desenvolvidas. Muitas crian- ças têm acesso à tecnologia em casa, outras não. Por isso é importante que a escola, pública ou privada, esteja bem aparelhada. [...] ZH – Quais são essas transformações? DT – Quando eu era estudante, a maioria das escolas passava informações que seriam válidas por toda a vida. Hoje já não é assim. É claro que isso não se aplica à leitura, escrita e noções básicas de matemática e computação. Mas em termos de ciência e tecnologia ou tudo que diga respeito a habilidades, o que se aprende hoje não serve amanhã. A informação não é mais perene. ZH – O que os professores podem fazer para usar o computador de uma maneira correta? DT – A melhor maneira de usar adequadamente essa ferramenta é se manter informado. Na medida do possível, o professor deve participar de seminários e congressos que discutam o assunto e tomar conhecimento do exemplo de colegas que estão com experiências bem-sucedidas na área. É preciso se familiarizar com a tecnologia. A maioria dos adultos não se sente confortável diante de um computador, ao contrário das crianças. Espaços diferenciados de aprendizagem 43 ZH – Por que isso ocorre? DT – Porque as crianças nasceram junto com a tecnologia. As máquinas são coisas comuns para eles, mas para muitos professores são coisas total- mente novas. Eles têm medo de estragar a máquina ou de tornar pública a sua falta de intimidade com os equipamentos. Por isso, é preciso criar muitas oportunidades para que os professores aprendam a usar essas novas ferra- mentas, para mudar os currículos e não apenas adaptar os currículos velhos. Inventar novos currículos é o mais importante. ZH – Por quê? DT – O mundo está mudando mais rapidamente do que nunca. E a educa- ção precisa acompanhar esse ritmo. Mas não é o que acontece. As mudanças na educação são muito lentas, e o mundo não vai esperar. Veja o caso do Brasil, por exemplo. Eu acredito que o Brasil pode se tornar uma potência econômica, como a China, mas a chave está na educação. Enquanto não se investir em educação, não haverá condições de se explorar todo o potencial da nação. Por isso é importante preparar as crianças para o século XXI. O que está acontecendo neste momento, em todo mundo, é que as pessoas que re- cebem educação recebem cada vez mais e as que recebem pouca, recebem cada vez menos. Desta forma, é cada vez mais profundo o fosso entre edu- cados e deseducados, inclusive em países desenvolvidos como os Estados Unidos. E esse processo precisa ser estancado porque não haverá bons em- pregos para pessoas sem habilidades e que não saibam usar a tecnologia. [...] ZH – Isto quer dizer que estamos preparando pessoas sem saber exata- mente para o quê? DT – Exatamente. A mudança que precisa ser feita é a de não preparar pesso- as para trabalhos específicos, porque não se sabeque trabalhos serão esses. A saída, então, é desenvolver nas pessoas as habilidades que poderão ser usadas em qualquer tipo de trabalho que possa surgir. No passado era importante saber ler, conhecer os números, ser responsável, ético e pontual. Isto continua sendo importante, mas já não basta. Agora é preciso ser criativo. Saber tomar decisões com informações incompletas. Ser independente, ter iniciativa. Saber 44 Espaços diferenciados de aprendizagem como trocar de profissão quantas vezes for necessário. Essas são habilidades importantes e muito diferentes do que se costumava aprender na escola. ZH – O computador seria a ferramenta para mudar a escola? DT – É uma ferramenta importante, mas não é a única. O computador deve ser utilizado para coisas novas, não para reproduzir o antigo. Para mim, a transformação mais urgente e mais importante é a mudança no pensa- mento dos professores. ZH – Como se pode conciliar avanço tecnológico com pobreza crescente? DT – Bem, temos que parar de pensar que ou se alimenta o povo ou se dá tecnologia. As duas coisas precisam ocorrer simultaneamente. Caso isso não ocorra, ficaremos sempre à margem. Sem tecnologia nenhum povo será autossuficiente. Por isso a educação, para se usar as novas ferramentas, é tão importante quanto o alimento. É difícil, porque os recursos são limitados, mas não tem outro jeito. [...] ZH – Qual a sua opinião sobre a internet? DT – A rede mundial de computadores é uma ferramenta poderosa, porque reúne grande número de informações que não constam em livros ou que só vão ser publicadas daqui a alguns anos. Ao mesmo tempo, muitas in- formações são incorretas ou impróprias para crianças. Acho que a tarefa dos pais e dos professores é a de fazer a triagem destas informações e acolher o que é melhor para essa ou aquela idade. É importante saber interpretar as informações, da mesma forma que se faz com material publicado por jornais ou revistas. Nos Estados Unidos, acre- dito que aqui ocorra o mesmo, muitos professores têm medo de perder o controle sobre o que os alunos estão aprendendo. Com o uso do livro em sala de aula, os professores sempre controlaram os conteúdos. Com a inter- net isto já não é possível e muitos professores se sentem ameaçados, pois o aluno pode entrar na rede e encontrar informações que o professor não tenha conhecimento. Por isso é que eu digo que o papel do professor está mudando. De agora em diante, ele precisa ajudar o aluno a selecionar infor- mações. Escolher entre o que não presta e o que é realmente importante. Espaços diferenciados de aprendizagem 45 ZH – O avanço tecnológico está acabando com muitas profissões. Será que a do professor está indo pelo mesmo caminho? DT – Não. Eu acredito que a figura do professor vai existir para sempre. Faz parte da condição humana ensinar aos outros. A tecnologia é só uma ferra- menta, como um livro. Quando se iniciou a produção em massa dos livros, os professores também se sentiram ameaçados, exatamente como ocorre hoje com relação à internet. A história mostrou que não há razões para temores porque ainda precisamos de professores e vamos continuar precisando. A internet nos facilita o acesso à informação, mas sempre vamos precisar da sensibilidade humana para fazer uso desse material. Dica de estudo GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Nesse livro, Howard Gardner apresenta o conceito de inteligência presente em sua teoria e seus desdobramentos, trazendo muitos exemplos e os resulta- dos de suas pesquisas. Atividades 1. Reflita sobre cada uma das inteligências apresentadas, listando suas carac- terísticas e identificando pessoas conhecidas que apresentam um bom nível de desenvolvimento de tal inteligência. 46 Espaços diferenciados de aprendizagem 2. Faça um exercício de reflexão pessoal: quantas dessas inteligências você tem bem desenvolvidas? Espaços diferenciados de aprendizagem 47 3. Reconhecer o caráter múltiplo da inteligência e que, portanto, diferentes sujeitos apresentam diferentes níveis de cada inteligência, traz importantes implicações pedagógicas. Cabe aos professores propiciarem oportunidades para que todos possam desenvolver suas diferentes inteligências. Como po- deriam ser os espaços de aprendizagem que respeitem e desenvolvam as inteligências múltiplas? 48 Espaços diferenciados de aprendizagem Referências GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: A teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. THORNBURG, David. Os professores têm uma nova missão. Zero Hora, Porto Alegre, 9 jul. 1997. Entrevista. Gabarito 1. Algumas características e expoentes: Inteligência linguística � : expressar-se verbalmente com desenvoltura (oral ou escrita). Exemplos: William Bonner (jornalista); Machado de Assis (escritor). Inteligência lógico-matemática � : diz respeito ao raciocínio lógico-matemáti- co, ao pensamento científico, tais como levantar hipóteses, definir estratégias, resolver problemas. Exemplo: Isaac Newton (expoente na área da Física). Inteligência corporal-cinestésica � : relaciona-se à precisão dos movimen- tos corporais. Exemplos: Ana Botafogo (balé); Pelé (futebol). Inteligência espacial � : refere-se à visualização, localização e representação do espaço. Exemplos: Oscar Niemeyer (arquiteto); Amyr Klink (navegador); Leonardo da Vinci (escultor e pintor italiano da época do Renascimento). Inteligência musical � : liga-se ao reconhecimento de sons e manuseio de instrumentos musicais. Exemplo: Carlos Gomes (compositor de “O Guara- ni”, música de abertura do programa de rádio “Voz do Brasil”). Inteligência interpessoal � : refere-se à capacidade de estabelecer empa- tia, trabalhar em grupos, gerenciar pessoas e negociar soluções. Exemplos: Luciano Huck (apresentador de televisão); Madre Teresa de Calcutá (reli- giosa, Prêmio Nobel da Paz). Espaços diferenciados de aprendizagem 49 Inteligência intrapessoal � : relaciona-se à capacidade de autoconheci- mento e automotivação, sabendo lidar e superar frustrações. É difícil indi- car uma pessoa conhecida por todos, pois normalmente não conhecemos sua intimidade para poder destacá-la como uma pessoa com bom desen- volvimento dessa inteligência. 2. Essa questão deverá ser respondida de acordo com a percepção de cada um sobre si mesmo. É importante destacar que todos possuem todas as inteli- gências, porém cada pessoa possui cada uma delas em diferentes graus de desenvolvimento, por isso é bastante comum nos sentirmos confiantes em apenas algumas delas. 3. É importante que os espaços de aprendizagem sejam tão diversificados quan- to são as inteligências, propiciando o desenvolvimento e a articulação de in- teligências variadas na elaboração das atividades propostas. Deve-se possibi- litar que o aluno pesquise em vasto material (preferencialmente multimídia), que se comunique e negocie com colegas, organize e exponha seu raciocínio de diferentes formas. Sugestão: retomar as implicações educacionais e a pro- posta de trabalhar com projetos, itens presentes no capítulo estudado. Para se trabalhar com espaços diferenciados de aprendizagem, res- peitando diferentes estilos cognitivos, é preciso investir em recursos e em formação docente. Cabe ao professor conhecer e avaliar o potencial das diversas mídias ao seu alcance e oportunizar seu uso consciente por seus alunos, com o objetivo de envolvê-los e apoiá-los na construção do conhecimento. Esse texto dedica-se à discussão dos meios de comunicação de massa, especificamente os materiais impressos – de livros-texto a periódicos –, por se tratarem do meio predominante na escola; e o rádio, por seu alcance geográfico. Livros Os livros fazem parte da cultura escolar. Para organizar a discussão, dividem-se, aqui, em três espécies: os livros-texto, os de consulta e os de literatura. Livros-texto Os livros-texto são os mais utilizados, pois apresentam sequências di- dáticas, preparadas por seus autores,para atender a um público específi- co, em uma dada série e disciplina, com objetivos pedagógicos. G et ty Im ag es . Mídias na Educação: impressos e rádio 51 52 É fundamental avaliar sua adoção em classe, tanto do prisma da adequação de conteúdo quanto da metodologia que o sustenta, cabendo ao professor, em última análise, a elaboração de estratégias de utilização que contemplem o con- texto e a diversidade dos sujeitos. Moreira (1998, p. 110-111) apresenta algumas dimensões norteadoras para a análise de livros-texto: qual o modelo pedagógico sugerido pelo material? Analisar quais são as � finalidades educacionais e seus princípios curriculares; quais são os conteúdos culturais que são selecionados e como são apre- � sentados? Analisar os códigos de seleção e lógica de sequenciamento e estruturação, bem como as políticas de inclusões e exclusões de conteú- do, cultura e valores; quais as estratégias didáticas que estabelece? Qual é a instrumentalização � metodológica na transmissão cultural? qual é o modelo profissional implícito no material? � qual é o modelo de aprendizagem do estudante? � quais são as tarefas organizadoras que o livro estabelece para a escola? � avaliar o material e a sua relação com programas de formação dos profes- � sores. Livros de consulta Há também os livros de consulta, englobando publicações impressas como as enciclopédias, os dicionários e os almanaques, que devem estar ao alcance dos sujeitos para aprofundarem suas pesquisas e buscarem elementos que per- mitam novas relações entre os conhecimentos. Mídias na Educação: impressos e rádio Mídias na Educação: impressos e rádio 53 G et ty Im ag es . Uma sala de aula com bons materiais e, principalmente, uma biblioteca esco- lar organizada e rica em livros de consulta exigem que o professor possa orientar sua utilização de maneira adequada: na busca e na consulta de informações; no estabelecimento de critérios de análise e comparação entre as abordagens apresentadas por diferentes fontes; na elaboração de um trabalho próprio do su- jeito, apoiado em tais leituras. É preciso estabelecer estratégias que incentivem a pesquisa, a análise crítica e a construção do conhecimento. Livros de literatura Não se podem desprezar, quando se fala em livros, os de literatura, pois per- mitem ao sujeito que os lê estabelecer contato com diferentes realidades socio- culturais, através de textos de gêneros diversificados e de imagens que darão possibilidades de ampliar seus conhecimentos de mundo. Discute-se, também, o uso das histórias em quadrinhos como iniciação à leitura de textos e ima- gens, já que apresentam de forma lúdica elementos como cenários, diálogos e onomatopeias. 54 G et ty Im ag es . Jornais e revistas Jornais e revistas são meios de comunicação de massa que, embora não con- cebidos como recursos educacionais, apresentam um grande potencial nesse contexto, pela variedade e atualidade dos temas que abordam. IE SD E Br as il S. A . Há duas formas de integrar o uso de publicações impressas nos currículos: estudando-as como objetos em si, buscando desenvolver uma postura � crítica ao receber informações de meios de comunicação de massa, discu- Mídias na Educação: impressos e rádio Mídias na Educação: impressos e rádio 55 tindo papel social, interesses ideológicos, poder econômico, liberdade de expressão, entre outros aspectos; utilizando-as para aproximar o sujeito do mundo, com informações atua- � lizadas e contextualizadas, como, por exemplo, avanços científicos, políti- cas sociais, análises econômicas, conflitos. O professor pode pedir aos alunos que pesquisem temas atuais em jornais e revistas para promover debates em sala de aula, levando-os a pesquisar, depois, também em outras fontes. Outra possibilidade é pedir que cada um dos alunos eleja uma notícia de seu interesse, recorte-a, cole-a em uma folha e, na sequên- cia, escreva sua opinião, posicionando-se criticamente. Uma outra dinâmica seria o professor levar jornais de linhas editoriais dife- rentes para a sala de aula, organizar os alunos em grupos e sugerir que estabe- leçam pontos comuns e diferenças na forma como as notícias são abordadas em cada um dos materiais. Uma boa prática é trabalhar com a produção de jornais e revistas, como forma de expressão dos conhecimentos e culturas dos sujeitos. O professor pode or- ganizar a turma por grupos de interesse, em seções/cadernos (esportes, lazer e cultura, moda, economia, política, entre outros), sugerindo que façam pesquisas e entrevistas, elaborando um jornal da turma. Rádio Talvez uma das mídias menos exploradas educacionalmente seja o rádio, embora este seja um dos meios mais difundidos de comunicação e informação. O rádio é ouvido nos lares, nos carros, nas empresas, entretendo e prestando serviços. O rádio leva informações a pessoas próximas e distantes, podendo ser ouvido por aparelhos movidos a pilha ou baterias (tais como celulares, media players, como MP3) não necessitando, portanto, estar conectado à rede de energia elé- trica. Além disso, dependendo do tipo de frequência utilizada na transmissão, alcança localidades de difícil acesso, nas quais nem mesmo jornais e revistas cos- tumam chegar. Roquette Pinto (2009), considerado o patrono do rádio brasileiro, definia esse veículo de comunicação assim: O rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças, o consolador dos enfermos e o guia dos sãos – desde que o realizem com espírito altruísta e elevado. 56 Uma das formas de trabalhar com o rádio é estimular os alunos a ouvir pro- gramas e discutir as notícias, propagandas, músicas e serviços veiculados. Aten- dendo à diversidade dos ouvintes, as estações radiofônicas são muitas: progra- mação musical diversificada; abordagens jornalísticas variadas, com notícias, entrevistas e debates; dicas de cultura local; programas esportivos, humorísti- cos, entre outros. A interatividade, normalmente por carta, fax, e-mail ou mesmo telefone, marca muitas das programações. Além das rádios comerciais, há um bom número de rádios comunitárias (com legislação específica), que buscam atender às necessidades e aos interes- ses da comunidade a que pertencem. Para uma boa programação, tais rádios devem considerar: público-alvo – é o ouvinte que dará sentido à mensagem que ouve e, por- � tanto, o formato e o conteúdo devem ser adequados ao público que se pretende atender; linguagem – simples (próxima da realidade dos ouvintes), clara (boa dic- � ção), envolvente (boa entonação); programação – criatividade e bom humor são ingredientes fundamentais; � entrevistas e debates sobre temas sociais da região, divulgação de servi- ços da comunidade, dicas de lazer e cultura devem fazer parte de uma programação qualificada. Partindo da ideia de uma rádio comunitária, é possível idealizar uma rádio escolar. Para tanto, seria preciso mobilizar os alunos, organizar reuniões de defi- nição dos objetivos e pautas, buscando planejar pequenos programas de rádio a serem transmitidos na escola. Os programas da rádio escolar poderiam, por exemplo, acontecer no horário do intervalo (recreio), com músicas, entrevistas, debates, dicas etc. Esporádicos ou regulares, ao vivo ou gravados, são um exce- lente exercício de cidadania: sair de si mesmo para pensar no outro, desenvol- vendo uma programação que possa entreter e informar a todos. Destacam-se, ainda, programações radiofônicas com caráter explicitamen- te pedagógico, como as produzidas no projeto Rádio Escola, da Secretaria de Educação a Distância (SEED) do Ministério da Educação (MEC). Atualmente, os programas são disponibilizados gratuitamente através da internet visando à capacitação e atualização de alfabetizadores de jovens e adultos de todo o país (SEED/MEC, 2009). Mídias na Educação: impressos e rádio Mídias na Educação: impressose rádio 57 O projeto Rádio Escola foi organizado em três séries: série do professor: são programas de caráter formativo, com duração apro- � ximada de 15 minutos, que apresentam temas para formação docente – o ouvinte é o professor. Orienta sua utilização individual ou em estudos em grupo. Oferece, para cada programa, sugestões de atividades a serem rea- lizadas com os alunos e texto complementar; série do aluno: são programas produzidos para serem utilizados direta- � mente em sala de aula – o ouvinte é o aluno. Apresenta, também, suges- tões de atividades para o professor, com várias propostas de trabalho que podem ser desencadeadas a partir de tais materiais; série do radialista: traz 60 programas, com duração aproximada de três � minutos cada um, que podem ser inseridos na programação de rádios, fornecendo dicas para os professores alfabetizadores. As tecnologias estão aí para ampliar o acesso à informação. Consulte as mídias produzidas, reflita sobre o potencial pedagógico e crie novas propostas. Incorporar tecnologias em métodos educacionais qualificados pressupõe conhecê-las em sua complexidade e propor sua utilização em atividades envolventes e significativas. Texto complementar A invasão dos marcianos: A Guerra dos Mundos que o rádio venceu Especialistas brasileiros analisam o programa que mais marcou a História da mídia no século XX (ORTRIWANO, 2006) Nove horas da noite de 30 de outubro de 1938. A rádio CBS – Columbia Broadcasting System – e suas afiliadas de costa a costa, transmitem, dentro do programa Radioteatro Mercury, A invasão dos marcianos. Na adaptação da obra A guerra dos mundos, do escritor inglês H. G. Wells, centenas de mar- cianos chegam com suas naves extraterrestres a uma pequena cidade de New Jersey chamada Grover’s Mill. 58 Era uma peça, literalmente. E os méritos públicos da adaptação, produ- ção e direção do programa foram para sempre creditados ao então jovem e quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles. Sessenta anos depois, a ousadia ainda fascina. E a história do rádio passou a ter um antes e um depois... Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos Manchete do jornal Daily News de 01/11/1938 No especial do Raditeatro Mercury da véspera do Dia das Bruxas de 1938 – denominado Mercury’s Halloween Show –, usando somente sons e silên- cios, foi representada uma invasão de marcianos sob a forma de uma cober- tura jornalística. Todas as características do radiojornalismo usadas na época – às quais os ouvintes estavam habituados e nas quais acreditavam – se faziam presentes: reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de especialistas e autori- dades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emotividade dos envolvi- dos, inclusive dos pretensos repórteres e comentaristas, davam a impressão de um fato, que estava indo ao ar em edição extraordinária, interrompendo outro programa, o radioteatro previsto. Na realidade, tratava-se do 17.º pro- grama da série semanal de adaptações radiofônicas realizadas por Orson Welles e o Radioteatro Mercury (ou Teatro Mercury no Ar) que explorava as técnicas jornalísticas com a ambientação sonora requerida pela linguagem específica do rádio. A CBS calculou na época que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade passaram a sintonizá-lo quando já havia começado, perdendo a introdução que informava tratar-se do radio- teatro semanal. Pelo menos 1,2 milhão tomaram a dramatização como fato, acreditando que estavam mesmo acompanhando uma reportagem extraor- dinária. E, desses, meio milhão tiveram certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico e agindo de forma a confirmar os fatos que estavam sendo narrados: sobrecarga de linhas telefônicas interrompendo realmen- te as comunicações, aglomerações nas ruas, congestionamentos de trânsito provocados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo que lhes pa- recia real etc. O medo paralisou três cidades. Pânico ocorreu principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS emitia e Welles situou Mídias na Educação: impressos e rádio Mídias na Educação: impressos e rádio 59 sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores de Newark e Nova York (além de Nova Jersey), que sofreram a invasão virtual dos marcianos da história. [...] O bombardeamento de informações em um meio e em um formato aos quais os ouvintes estavam habituados e que já tinham conquistado sua cre- dibilidade foi, sem dúvidas, importante desencadeador da reação da audi- ência: acreditar que as informações vindas do rádio, em forma de notícias, seriam sempre verdadeiras. [...] No final do programa, o narrador constata a morte dos marcianos, seres tão poderosos e aterrorizadores, vítimas de micro-organismos terráqueos, seres tão minúsculos contra os quais não tinham defesa. Os terríveis mar- cianos foram vencidos pelo seu próprio corpo! Afinal, tamanho não é docu- mento. Mas essa notícia, na peça, só foi dada quando os ouvintes já tinham vivenciado o pânico. [...] A transmissão constituiu um alerta para o próprio rádio. Ficou demons- trado que sua influência era tão forte e determinante que poderia causar reações imprevisíveis na audiência. [...] A experiência indicou que era necessário realizar estudos sistematizados de audiência/recepção e do poder do rádio na formação da opinião pública. Mostrou, sobretudo, a necessidade de pesquisas sobre o assunto. Veio à tona a problemática muito mais complexa das audiências e de suas possibilida- des de manipulação. A experiência permitiu que várias das características do rádio, da audi- ência e da estrutura da mensagem radiofônica pudessem ser analisadas e posteriormente utilizadas – ou evitadas – conscientemente. Deixou patente, acima de tudo, a questão da responsabilidade do comunicador com relação à mensagem que emite e suas consequências, entre elas, o sensacionalismo. [...] 60 Lá estará a voz de Orson Welles, jovem e imponente, na noite anterior ao Dia das Bruxas de 1938... “... Fizemos o que deveria ser feito. Aniquilamos o mundo diante de seus ouvidos e destruímos a CBS. Mas vocês ficarão aliviados ao saber que tudo não passou de um entretenimento de fim de semana. Tanto o mundo como a CBS continuam funcionando bem. Adeus e lembrem-se, pelo menos até amanhã, da terrível lição que aprenderam hoje à noite: aquele ser inquieto, sorridente e luminoso que invadiu sua sala de estar, é um representante do mundo das abóboras e, se a campainha de sua porta tocar e ninguém estiver lá, não era um marciano... é Halloween!” Dicas de estudo MULTIRIO. Para Criar uma Rádio Escolar. Disponível em: <http://www.multirio. rj.gov.br/portal/area.asp?box=N%F3s+da+Escola&area=Na+sala+de+aula&obj eto=na_sala_de_aula&id=3006&id_rel=3005>. Acesso em: 30 jun. 2006. Esse texto apresenta algumas dicas de como conduzir a criação de uma rádio na escola. No item “Conheça os equipamentos necessários”, há três sugestões de configuração de equipamentos. SEED/MEC. Projeto Rádio Escola. Disponível em: <http://200.130.3.122/>. Acesso em: 10 fev. 2009. No site do Projeto Rádio Escola é possível encontrar programas radiofônicos produzidos pelo MEC para a capacitação de educadores que trabalham com a alfabetização de jovens e adultos. Atividades 1. Cite os critérios que devem nortear a adoção de livros-texto na escola. Mídias na Educação: impressos e rádio Mídias na Educação: impressos e rádio 61 2. A utilização de jornais e revistas possibilita trabalhar questões relevantes de maneira contextualizada e atualizada. Levante alternativas para trabalhar com a mídia impressa em sala de aula, preparando os alunos para analisar e entender criticamente as informações apresentadas. 3. Quais aspectos devem ser considerados para garantir o êxito de uma rádio comunitária ou escolar? 62 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
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