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Lendas e Fábulas Brasileiras Para Crianças

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LENDAS	E	FÁBULAS
BRASILEIRAS
	
	
Para	Crianças
	
	
JOSSI	BORGES
	
	
	
	
	
	
©	2017	de	Jossi	Borges.
	
Revisão	e	diagramação:	Justtech	Informática
Capa:	Jossi	Borges	/	Justtech	Informática
Ilustrações:	Pixabay	/	Free	Bible	Images	/Jossi	Borges
Impressão:	Clube	de	Autores
	
	
	
SUMÁRIO
O	NASCIMENTO	DE	JESUS
A	MOURA	TORTA	E	A	MOURA	DA	MELANCIA
HOSPITALIDADE	E	GENEROSIDADE
TUPÃ,	DEUS-TROVÃO
MELANCIA	E	COCO	MOLE
O	URUBU	E	O	SAPO
A	LENDA	DE	SÃO	CRISTÓVÃO
A	AUTORA
O	NASCIMENTO	DE	JESUS
	
O	NASCIMENTO	DE	JESUS	CRISTO	é	uma	bela	história,	contada	na	Bíblia.
Também	é	uma	história	que	já	virou	filme,	história	longa,	história	curta	e	até
novela.	Mas	na	cultura	popular	do	Brasil	também	foi	contada!	Entre	nosso	povo
do	interior,	os	caboclos	e	as	pessoas	simples,	há	uma	pequena	fábula	que	conta	o
seguinte:
Quando	Jesus	nasceu,	todos	os	animais	participaram	desse	evento	tão	bonito.
Os	 pássaros,	 cavalos,	 cães	 e	 gatos,	 aves	 de	 criação,	 bois	 e	 vacas,	 ovelhas,
burrinhos...	até	os	animais	mais	selvagens,	como	raposas,	lobos,	esquilos.
Conta	uma	fábula	popular,	que	o	primeiro	animal	a	anunciar	o	nascimento	de
Jesus	foi	o	galo,	que	logo	cantou:
–	Jesus	nasceu,	Jesus	nasceu!
E	a	vaca,	que	pastava	numa	colina	próxima,	já	pergunta:
–	Aoooooondeeee?	–	Ela	queria	dizer:	Aonde?
	
	
Um	 carneiro	 que	 já	 tinha
conversado	com	seus	companheiros	e	porque	alguns	deles	foram	levados	à	gruta
por	seus	pastorzinhos,	onde	Jesus	nasceu,	responde:
–	Em	Be-léeeem!	–	ele	disse,	se	referindo	à	cidade	de	Belém.
Toda	a	bicharada	ficou	na	maior	alegria!	Pássaros	cantaram	mais	alegremente,
o	gado	mugiu	forte,	carneiros	e	ovelhas	baliram	tão	alto	que	até	doía	nos	ouvidos
das	pessoas!
O	 porco,	 entretanto,	 era	 um	 bicho	 teimoso.	 Não	 gostava	 dos	 carneiros	 e
enfiando	o	seu	grosso	focinho	contra	a	cerca	do	chiqueiro,	roncou	com	raiva:
–	Não	crreeee-io...	não	crreeee-io...	–	ele	queria	dizer:	Não	creio...
Os	 animais	 não	 deram	 bola	 para	 o	 porco	 teimoso	 e	 todos	 se	 dirigiram	 ao
presépio,	que	era	uma	gruta	na	cidade	de	Belém,	visitar	o	Menino	Jesus.
O	 Galo	 foi	 abençoado,	 segundo	 a	 fábula	 popular,	 porque	 foi	 o	 primeiro	 a
anunciar	o	nascimento	de	Jesus.
A	Vaca,	porque	chegando	na	gruta,	ajudou	a	aquecer	o	Menino	Jesus	com	seu
bafo	quentinho.
O	 Carneiro	 também	 foi	 abençoado,	 porque	 ajudava	 a	 todos	 a	 encontrar	 a
gruta,	 já	que	o	cincerro	(sininho)	que	 tinha	ao	pescoço,	 ia	 tilintando...	e	o	som
atraía	pessoas	e	bichos.
Até	a	velha	e	manhosa	Raposa,	vejam	só!
Foi	abençoada,	porque	ofereceu	seu	leite	à	Virgem	Maria,	mãe	do	Menino	Jesus,
para	 que	 ela	 o	 desse	 ao	 recém-nascido.	Mesmo	 recusando	 a	 oferta	 da	Raposa,
esse	animal	foi	também	abençoado.
E	 o	 Porco?	Bem,	 o	 Porco,	 coitado...	 Era	 tão	 teimoso,	 tão	 teimoso,	 que	 não
acreditou	no	que	o	Galo	anunciara.	E	assim,	não	 teve	a	bênção	de	ver	com	os
próprios	olhos	o	Menino	Jesus	e	a	sua	família.
	
Essa	é	uma	 fábula,	ou	seja,	uma	historinha	 inventada	pelo	povo,	que	 foi
ouvida	pelo	escritor	Oswaldo	Elias	Xidieh,	nas	seguintes	cidades	do	Estado	de
São	Paulo:	Jabuticabal,	Taiaçu	e	Taiúva.
Elas	constam	no	seu	livro	“Estórias	de	Nosso	Senhor	Jesus	Cristo	e	mais
São	Pedro	andando	pelo	Mundo”.
	
A	MOURA	TORTA	E	A	MOURA	DA	MELANCIA
	
	
NAS	 LENDAS	 ANTIGAS	 de	 Portugal
existem	 muitos	 relatos	 sobre	 as	 famosas	 mouras	 encantadas.	 Segundo	 essas
lendas,	as	mouras	ou	moiras	(como	também	são	conhecidas),	eram	belas	jovens
ou	 princesas	 de	 deslumbrante	 beleza,	 que	 estavam	 sob	 algum	 tipo	 de	 encanto
mágico.	 Também	 há	 lendas	 sobre	 as	mouras	 velhas	 e	 feias,	 que	 eram	 como
bruxas	malvadas	nas	lendas.
A	história	 que	vou	 contar	 é	 baseada	na	 lenda	da	Moura	Encantada	mais
famosa	no	Brasil,	contada	pelo	escritor	Sílvio	Romero.
Era	uma	vez...
Um	homem	já	idoso,	velhinho	mesmo,	sentiu	que	estava	no	fim	da	vida.
Lembrando-se	dos	seus	três	filhos,	pensou	numa	herança	boa	para	deixar	a
eles.
Ele	era	um	homem	pobre,	morava	com	a	família	num	pequeno	e	humilde
rancho,	no	sertão	do	Brasil	e	ele	pensou:	Só	temos	essa	casinha	velha.	O	que	eu
poderia	 dar	 aos	 meus	 filhos	 como	 herança,	 uma	 coisa	 que	 fosse	 útil	 ou	 que
pudesse	deixá-los	felizes?
E	 então	 ele	 se	 lembrou:	 Sim,	 ele	 tivera	 quando	 criança	 uma	 madrinha.
Uma	madrinha	fada.	Quando	já	era	adulto	ela	lhe	dera,	no	dia	que	ele	fez	dezoito
anos,	quatro	pacotes	grandes,	com	a	seguinte	advertência:
–	Tome,	meu	afilhado.	Esses	são	presentes	mágicos,	mas	veja	bem,	apenas
um	deles	é	seu.
–	Só	um?	Mas	e	os	outros	três?	O	que	tem	dentro?	Posso	abri-los?
Ela	meneou	a	cabeça:
–	Nunca!	Abra	apenas	um,	qualquer	um	desses.	Os	outros	três	devem	ser
guardados,	muito	bem	guardados.	Quando	 seus	 filhos	nascerem,	você	dará	um
pacote	desses	a	cada	um	deles.
Ele	 pegou	 o	 primeiro	 pacote	 e	 abriu,	 surpreendendo-se	 com	 o	 que	 ele
continha:	apenas	uma	melancia!
Olhou	de	volta	para	a	madrinha-fada.	Ela	sorriu	e	disse:
–	 Sim,	 parece	 apenas	 uma	 melancia...
mas	não	é.	Faça	o	que	lhe	disse,	guarde	os	outros	três	para	os	seus	filhos	que	irão
nascer	e	dê	a	eles,	quando	achar	que	deve.
O	homem	ficou	um	pouco	chateado	e	respondeu:
–	Sim,	madrinha.	Vou	guardar...	mas	para	que	me	servirá	essa	melancia?
Eu	nem	gosto	tanto	assim	dessa	fruta...
A	fada	falou	de	novo:
–	 Você	 pode	 guardá-la	 e	 abri-la	 o	 dia	 que	 quiser,	 mas	 só	 abra	 essa
melancia	perto	de	um	rio,	de	uma	fonte	ou	de	um	lugar	que	 tenha	muita	água.
Depois,	você	me	conta	o	que	achou	do	presente.
***
O	 tempo	 havia	 passado.	O	 homem	 fizera	 exatamente	 como	 a	madrinha-
fada	lhe	dissera	e	teve	uma	surpresa	muito	agradável.
Alguns	 anos	 mais	 tarde,	 ele	 estava	 casado,	 feliz	 com	 sua	 esposa	 e
nasceram	os	três	meninos,	exatamente	como	a	fada	tinha	previsto.
***
Agora,	 porém,	 ele	 estava	 velho.	 Achou	 que	 chegara	 a	 hora	 de	 dar	 os
presentes	mágicos	aos	filhos.
Chamou-os	e	deu-lhes	os	três	pacotes,	alertando-os	como	a	fada-madrinha
fizera	com	ele:
–	Essa	é	minha	herança	para	vocês.	Já	estou	velho	e	nada	mais	tenho	para
deixar	a	vocês,	exceto	essa	casinha	humilde.	Mas	essas	melancias	que	estão	aí
são	 mágicas	 e	 quando	 vocês	 forem	 abri-las,	 façam	 isso	 num	 lugar	 que	 tenha
água,	muita	água!	E	vocês	irão	ter	uma	surpresa	muito	boa.
Os	três	rapazes	se	entreolharam,	confusos.	Não	acharam	que	os	presentes
(ou	herança)	fosse	uma	coisa	assim,	tão	bacana...	eram	apenas	melancias!
–	Muito	bem,	pai.	Obrigado,	faremos	como	o	senhor	nos	instruiu.
Disse	o	filho	mais	velho.
***
Dias	depois,	os	três	se	despediram	do	velho	pai	e	da	velha	mãe,	e	saíram
em	viagem	pelo	mundo,	em	busca	de	trabalho.
O	mais	velho,	logo	que	tomou	uma	estradinha,	não	muito	longe	do	rancho
dos	 pais,	 ficou	 curioso	 e	 resolveu	 abrir	 a	 sua	melancia.	 Estava	muito	 ansioso
com	o	tal	“presente	mágico”.
Não	 havia	 nem	 sinal	 de	 rio,	 fonte	 ou	 poço	 por	 perto,	 mas	 ele	 arriscou
assim	mesmo:	Quebrou	a	melancia	no	chão.	No	mesmo	instante,	de	dentro	dela
surgiu	 uma	visagem...	 ou	melhor,	 uma	visão!	Era	 uma	mulher,	 jovem	e	muito
bonita,	que	aos	poucos	foi	se	tornando	mais	e	mais	sólida.	Não	parecia	mais	um
“espírito”	ou	uma	“fada”,	mas	uma	mulher	de	carne	e	osso.
Ao	ver	o	rapaz,	a	mulher	piscou	os	olhos	e	disse,	passando	as	mãos	pela
boca:
–	Estou	com	muita	sede...	por	favor,	me	dê	água	ou	leite...	por	favor,	por
favor...
O	rapaz,	todo	afobado,	olhou	em	torno	de	si	e	nada	de	água!	Nada!
–	Água	ou	leite...	por	favor.
Ele	ficou	aflito,	mas	nada	pode	fazer.	Não	havia	água	e	ele	não	 trouxera
sequer	uma	garrafinha,	para	matar	sua	própria	sede!
–	Espere,	dona.	Eu	vou	buscar	água	para	você,	só	um	momento...
Mas	a	linda	moça,	perdendo	os	sentidos,	caiu	ao	chão.	O	rapaz	se	apressou
em	 ajudá-la,	 tentou	 erguê-la,	 mas	 infelizmente	 ele	 percebeu	 que	 ela	 tinha
morrido...
***
O	 segundo	 dos	 filhos	 do	 velhinho,	 afastando-se	 muito	 da	 casa	 paterna,
sentiu	a	mesma	curiosidade	do	outro	irmão.	Pensou	consigo:	Quero	só	ver	o	que
meu	pai	me	deu...quero	só	ver	se	essa	melancia	tem	alguma	coisa	mágica	nela!
E	lept!	Jogou	a	sua	melancia	contra	uma	pedra.
A	 mesma	 coisa	 ocorreu:	 Uma	 moça	 lindíssima,	 de	 cabelos	 longos	 e
negros,	surgiu	diante	dele,	pedindo:
–	Água,	me	dê	água	ou	leite...	preciso	matar	a	sede...	depressa...
O	rapaz	coçou	a	cabeça	e	pensou:
Pois	meu	pai	 estava	 certo!	A	 coisa	 é
mágica	 mesmo...	 essa	 moça	 linda	 e	 maravilhosa	 é	 um	 presente	 mágico.	 Mas
onde	vou	achar	água,	agora?
–	Moça,	vou	até	minha	casa.	Num	instantinho	volto	com	sua	água.
Era	tarde	demais.	A	moça	apertou	o	peito,	soltou	um	profundo	suspiro	de
dor	e	caiu	morta	no	instante	seguinte.
O	pobre	rapaz	não	pode	fazer	mais	nada,	a	não	ser	chorar.
	
***
O	filho	mais	novo	do	velho,	porém,	era	mais	prudente	que	os	outros	dois.
Resolveu	seguir	os	conselhos	de	seu	pai	à	risca.
Andou	 muito	 a	 cavalo,	 até	 chegar	 à	 beira	 de	 um	 riachinho.	 Apeou	 do
cavalo,	 sacou	 o	 pacote	 e	 abriu-o.	 Tirou	 também	 um	 facão	 do	 cinto	 e	 se
aproximou	das	margens.
Usou	seu	facão	e	abriu	com	um	golpe	a	melancia.
	
Deu	um	passo	para	trás,	diante	da	belíssima	donzela	que	surgiu	diante	de
seus	olhos.
–	Água,	por	favor...	–	ela	pediu,	olhando	para	ele	com	a	face	pálida	de	um
anjo	e	uns	olhos	mais	brilhantes	que	o	céu	azul	da	primavera.
	
	
Ele	ficou	abismado	com	tal	beleza!	Mas	resolveu	correr	até	o	rio,	encher
uma	das	metades	da	melancia	com	água	e	trazer	para	a	moça.
A	donzela	tomou	a	água	em	goles	grandes,	como	se	não	bebesse	há	vários
dias.	Pediu	mais	água,	mais	e	mais.
Depois	de	ter	tomado	bastante,	ela	agradeceu.
Como	estivesse	sem	roupas,	ela	puxou	os	longos	cabelos	cor	de	ouro	para
ocultar-se.	Ficou	envergonhada.	O	rapaz	disse:
–	Você	é	muito	linda,	minha	senhorinha.	Eu...	eu...	gostaria	de	pedir	que	se
casasse	comigo...
Ele	 também	 ficou	 rubro,	 ao	 notar	 que	 a	 moça	 estava	 nua.	 Ele	 disse,
constrangido:
–	Oh,	vejo	que	está	sem	roupas.
–	Sim,	estou.	O	senhor	podia	conseguir	roupas	para	mim?	Não	posso	sair
andando	por	aí,	desse	jeito.
O	moço	disse	que	sim,	ia	até	a	cidade	e	traria	um	vestido	para	ela.
–	Mas	e	como	vou	ficar	aqui,	assim?
Ele	olhou	em	volta.	Numa	das	margens	do	rio	havia	uma	árvore	de	largos
e	frondosos	galhos.	Ele	teve	uma	ideia:
–	Venha,	você	pode	subir	nessa	árvore.	Fique	oculta	lá	em	cima,	no	galho
mais	largo.	Ninguém	irá	vê-la	ali.
A	moça	 olhou	 e	 viu	 que	 a	 árvore	 era	 realmente	 frondosa	 e	 suas	 folhas
largas	iam	abrigá-la	muito	bem.	Ninguém	a	veria.
Subiu	à	árvore,	enquanto	o	rapaz	se	apressou	em	ir	até	a	cidade.
–	Volte	logo,	ela	pediu.
–	Sim,	ele	respondeu,	sorrindo	para	ela.
Claro	que	voltarei	o	mais	depressa	possível,	ele	pensou.	Essa	 lindíssima
jovem	será	minha	esposa.	Mal	posso	esperar	para	leva-la	até	a	cidade,	comprar
um	par	de	alianças	e	pedir	ao	padre	para	nos	unir	em	matrimônio.	Meus	pais
ficarão	orgulhosos	de	minha	sorte!
O	rapaz	sumiu	na	curva	da	estrada.
Enquanto	 isso,	por	outra	estrada,	vinha	andando	até	o	 rio	uma	velha	mulher,	a
quem	todos	chamavam	de	‘Moura	Torta’.	Assim	era	chamada,	não	tanto	por	sua
feiúra,	mas	por	ser	uma	pessoa	maldosa,	invejosa	e	muito	reclamona.
	
Alguns,	no	povoado,	diziam	que	ela	era	bruxa	e	de	fato,	tinha	aparência	de
bruxa	mesmo:	Era	muito	alta	 e	magra,	 a	 tal	ponto	que	precisava	 se	curvar	um
pouco.	Seu	rosto	era	comprido,	enrugado	como	uma	passa	e	seus	cabelos,	meio
avermelhados,	 estavam	 já	 pintalgados	 de	 fios	 brancos.	 Eram	 volumosos,
espichados	e	arrepiados	como	um	tufo	de	espinheiro.
A	Moura	chegou	perto	do	rio,	com	um	grande	pote	para	coletar	água	e	se
debruçou	nas	margens,	sob	a	árvore	onde	a	donzela	estava	escondida.
–	 Ora,	 que	 coisa	 mais	 irritante...	 toda	 hora	 falta	 água...	 que	 coisa	 mais
chata.	Não	aguento	mais	isso...
De	repente,	ao	se	debruçar	para	a	água,	que	estava	lisa	e	brilhante,	viu	ali
refletida	a	 face	belíssima	da	donzela,	que	estava	na	árvore.	A	Moura,	 sorrindo
contente,	disse	em	voz	alta:
–	Puxa,	sou	eu!	Mas...	afinal,	sou	bonita!	Muito	bonita!	Ah,	por	que	esse
povo	miserável	do	povoado	diz	que	sou	feia?	Olha	para	esse	meu	rosto,	tão	claro
e	macio!	E	meus	cabelos?	São	 longos	e	dourados...	 eu	devia	 ter	comprado	um
espelho	antes!	Como	sou	linda!	Sim,	sim,	sou	linda!
A	donzela,	 que	 também	era	 uma	moura	 –	 só	que	de	outro	 tipo,	 filha	de
uma	fada	–	achou	graça	no	engano	da	velha	bruxa.	E	soltou	uma	gargalhada	alta.
A	 bruxa,	 ao	 ouvir	 aquilo,	 ergueu	 os	 olhos	 e	 viu	 lá	 em	 cima,	 escondida
entre	os	galhos,	a	pequena	moça	de	beleza	inigualável.
Ficou	muito	irritada.	Bateu	o	pé	no	chão,	mas	sua	mente	maligna	imediatamente
pensou	em	algum	tipo	de	vingança.
Disse,	com	voz	mansa:
–	Oh,	é	você,	minha	queridinha?	Ora,	ora...	que	faz	aí?	Não	quer	descer	e
conversar	um	pouco	com	uma	velhinha	solitária?
A	jovem	concordou	e	desceu	da	árvore.
A	bruxa,	 já	 pensando	no	 que	 faria	 com	 aquela	 criatura	 que	 se	 atreveu	 a
debochar	dela,	tomou	do	bolso	um	alfinete	que	usava	nas	suas	feitiçarias	e	disse:
–	Quem	é	você,	filhinha?
A	 jovem,	 confiante,
contou	 sua	 história	 à	 Moura	 Torta,	 que	 se	 aproximou	 dela,	 com	 um	 sorriso
meloso	nos	lábios	enrugados.
–	Hum...	sim.	Então	vai	se	casar	com	um	belo	moço,	heim?	Ah,	que	sorte
a	sua.	Venha	cá,	vou	ajeitar	esses	lindos	cabelos.	Posso	pentear	você?
A	jovem	deixou	que	a	bruxa	pusesse	as	mãos	nos	seus	longos	e	brilhantes
cabelos.	A	Moura	continuou	a	falar	e	fingia	pentear	as	madeixas	louras	com	as
mãos.	 De	 repente,	 ela	 segurou	 o	 alfinete	 e	 o	 enfiou	 com	 força	 na	 cabeça	 da
jovem,	que	deu	um	gritinho.
Imediatamente,	o	feitiço	que	ela	fizera	surtiu	efeito:	A	moura	encantada,	a
linda	fadinha,	se	transformou	numa	pomba	e	saiu	voando.	Sumiu	no	céu.
A	Moura	Torta	sorriu	e	sentou-se	na	pedra	à	margem	do	rio.
Passou	 uma	 ou	 duas	 horas,	 até	 que	 o	 rapaz	 voltou	 da	 cidade.	 Viu	 a	 velha
andrajosa	e	olhou	ansioso	para	a	árvore.	Nada	viu	e	perguntou	por	sua	noiva.
–	Sou	eu	–	disse	a	Moura	Torta.
–	Como?!	–	Assustou-se	o	rapaz.
–	Sou	eu,	sua	noiva,	saída	da	melancia.
–	Mas	minha	noiva	era	loura...	era	pequena	e	graciosa...	e...
–	Oh,	meu	querido!	Não	percebe?	Eu	fiquei	muito	tempo	naquela	árvore,
cansei...	 tive	 dor	 nas	 costas,	 acho	 que	 isso	me	 fez	 a	 coluna	 entortar	 assim.	 E
meus	cabelos	 tão	 louros	e	brilhantes	 ficaram	ressecados	nesse	sol	 forte.	Minha
pele	 tão	 macia	 ficou	 queimada	 e	 enrugada.	 Não	 tenho	 culpa.	 Acho	 que	 você
demorou	 muito.	 Eu	 precisava	 de	 mais	 água.	 Você	 não	 chegava,	 eu	 desci	 da
árvore	 e	 tomei	mais	 água,	 porém	 não	 adiantou.	 Agora	 estou	 assim,	 com	 essa
aparência	de	velha!
O	 rapaz	 ficou	 muito	 entristecido,	 porque	 saíra	 deixando	 uma	 fada	 e	 ao
voltar,	encontrara	uma	velha	com	cara	de	bruxa.	Aquilo	parecia	mais	um	castigo!
Porém	 ele	 era	 um	 homem	 honrado:	 Prometeu	 casar-se	 com	 a	mourinha
encantada	da	melancia	e	resolveu	assumir	o	compromisso.
Fez	que	sim,	meneando	a	cabeça	e,	com	uma	dor	no	coração,	conduziu	a
Moura	Torta	até	a	cidade,	onde	se	casou	com	ela.
***
O	 pai	 do	 rapaz	 ficou
muito	desapontado	quando	 conheceu	 a	 nora!	A	mãe,	 que	um	dia	 também	 fora
uma	Moura	Encantada,	 ficou	triste	e	confusa:	como	aquilo	fora	acontecer?	Por
que	sua	nora	não	tinha	nenhuma	beleza?	Seria	aquilo	efeito	do	sol	ou	da	falta	de
água,	como	a	Moura	dissera?
Mas	ninguém	podia	fazer	nada...	O	rapaz	se	resignou	ao	casamento	com	a
Moura	Torta	e	passaram	a	viver	numa	bonita	casa,	que	ele	comprou	na	aldeia.
Um	dia,	quando	o	menino	que	cuidava	do	jardim	aparava	as	plantas,	viu
pousar	 junto	 ao	 galho	 da	 árvore	mais	 florida	 do	 jardim,	 uma	 linda	 pombinha
branca.
Ficou	 um	 tempão	 admirando	 o	 bichinho.	 Da	 janela	 da	 casa,	 seu	 patrão
também	 olhava	 inquieto	 para	 aquela	 pombinha	 tão	 graciosa,	 de	 bico	 fino	 e
rosado,	plumas	brilhantes.
No	dia	seguinte,	aconteceu	o	mesmo.	O	rapaz	ficou	na	janela,	na	mesma	hora	e
viu	de	novo	a	pombinha	linda,	que	olhava	para	ele	com	olhos	brilhantes.
Afinal,	a	Moura	Torta	ficou	curiosa	com	aquelaatitude	do	marido	e	veio
olhar	também.	Reconheceu	a	pombinha	da	árvore	como	a	Moura	da	Melancia	e
estremeceu	de	ódio.	Disse:
–	 Oh,	 meu	 senhor	 marido!	 Ando	 sentindo	 alguns	 desejos	 estranhos.
Ontem,	tive	vontade	de	comer	fígado	de	pato.	Hoje,	vendo	aquele	pombo	ali,	me
deu	uma	vontade	de	comer	carne	de	pombo	assado!	Diga	para	alguém	pegar	esse
pombo	para	mim,	por	favor...
O	rapaz	estremeceu	de	horror,	mas	a	Moura	insistiu.	Ficou	insistindo	com
isso	por	vários	dias,	até	que	o	marido,	aflito,	pediu	ao	 jardineiro	que	 laçasse	a
pombinha.
O	 menino	 primeiro	 lançou	 uma	 cordinha,	 mas	 ouviu	 o	 bichinho	 dizer:
“Jardineiro,	oh,	 jardineiro...	como	está	 indo	o	meu	amado,	com	aquela	Moura
Torta?”.
O	menino	correu	e	contou	ao	patrão	o	que	ouviu	o	animal	dizer.	O	rapaz,
assustado,	 pensou	 na	 magia	 da	 melancia.	 E	 foi	 ele	 mesmo	 tentar	 laçar	 a
pombinha:	usou	primeiro	um	laço	com	fios	de	ouro,	não	conseguiu.	No	segundo
dia,	usou	um	laço	de	prata,	mas	nada	da	pomba	cair.	No	terceiro	dia	ele	teve	uma
ideia:	usou	um	laço	de	cordinha,	enfeitado	com	várias	pedrinhas	de	diamante.
O	brilho	das	pedras	atraiu	o	animalzinho,	que	caiu	na	armadilha.	O	rapaz	a
segurou	entre	as	mãos	trêmulas.	Como	era	bonita	aquela	pombinha!	Que	penas
macias,	que	olhinhos	vivos	e	doces!
–	Oh,	 lindo	 animalzinho...!	 Imagina	 se	 terei	 coragem	 de	matar	 você,	 só
para	satisfazer	o	apetite	louco	da	minha	esposa!
De	repente,	ao	passar	a	mão	pela	cabecinha	da	ave,	ele	sentiu	um	caroço,
uma	coisinha	esquisita.	Abriu	as	penas	e	viu	ali,	enfiado,	um	alfinete	grosso.	–
Que	é	isso?	–	ele	disse,	perturbado	e	nervoso.
Tirou,	com	delicadeza,	o	tal	alfinete	enfeitiçado.	Na	mesma	hora,	a	pomba
começou	 a	 mudar:	 pareceu	 crescer,	 crescer,	 tomar	 forma	 humana,	 as	 penas
encompridaram,	 se	 transformaram	 em	 uma	 longa	 e	 loira	 cabeleira,	 os	 olhos
ficaram	 enormes	 e	 azuis	 como	 céu	 de	 primavera,	 o	 biquinho	 róseo	 se
transformou	um	uns	lábios	delicados.
Era	 a	 sua	 noiva,	 sua
verdadeira	noiva!	A	Moura	da	Melancia!
–	 Ah,	 a	 minha	 bela	 e	 querida	 fadinha!	 Quem	 fez	 isso,	 quem?	 Quem	 a
transformou	em	pomba?
Então	a	moça	contou	 tudo:	 ele	 ficou	 indignado	com	a	maldade	da	velha
Moura	Torta,	que	ao	vê-los	juntos,	tentou	fugir.
Usou	de	vários	truques	de	feitiçaria,	mas	no	seu	nervosismo,	nada	pareceu
funcionar.
O	 ex-marido	 da	 Moura	 Torta	 chamou	 os	 amigos	 e	 vizinhos	 para
perseguirem	a	velha	malvada,	antes	que	ela	fugisse.
Um	deles	disse:
–	Sim,	 essa	mulher	 é	 uma	 feiticeira,	 vivia	 numa	 aldeia	 próxima.	Muitas
pessoas	sofreram	por	conta	de	suas	maldades.	Deve	ser	castigada	severamente.
O	rapaz	disse:
–	Sim,	 alguém	capaz	de	uma	maldade	 tão	grande	merece	um	castigo	do
mesmo	tamanho.
A	 bruxa,	 porém,	 tinha	 conseguido	 fugir,	 montando	 em	 um	 cavalo	 que
encontrou	nas	cocheiras.
Sua	maldade,	entretanto,	foi	seu	próprio	castigo:	ao	fugir,	o	cavalo	sentiu-
se	mal	 com	 seu	 peso	 –	 talvez	 o	 bicho	 pressentisse	 sua	maldade	 –	 e	 empinou,
raivoso.	 A	 Moura	 Torta	 caiu	 no	 chão,	 batendo	 a	 cabeça	 em	 uma	 pedra	 e
morrendo	em	seguida.
	
Os	 jovens	 noivos,	 novamente	 unidos,	 casaram-se	 na	 igreja	 do	 povoado.
Dessa	vez	 fizeram	uma	enorme	 festa	 e	 a	Moura	da	Melancia	 foi	 a	noiva	mais
linda	que	aquelas	terras	jamais	viram.
Viveram	 felizes	 por	 toda	 sua	 longa	 vida,	 que	 foi	 abençoada	 com	 o
nascimento	de	muitos	filhos.
HOSPITALIDADE	E	GENEROSIDADE
	
ESSA	É	UMA	PEQUENA	ESTÓRIA,	que	o	povo	brasileiro	conta	a	respeito	da
vida	e	obras	de	Jesus	Cristo.	Não	é	uma	história	verdadeira,	porque	não	consta
nem	na	Bíblia,	nem	em	livros	de	História.	Porém	é	contada	pelo	povo	como	uma
pequena	 “lição”,	 mostrando	 a	 adultos	 e	 crianças	 que	 todos	 nós	 devemos	 ser
generosos	 e	 hospitaleiros.	 Pois	 dessa	 forma,	 seremos	 sempre	 abençoados	 por
Deus.
Essa	 estória,	 que	 o	 grande	 folclorista	Luís	 da	Câmara	Cascudo	 recolheu
em	um	de	seus	livros,	ele	classifica	de	religious	stories	ou	religious	tales	(como
é	chamado	na	língua	inglesa).	Ou	seja:	estórias	ou	contos	religiosos.
Era	uma	vez...
Numa	 cidade,	 há	 muitos	 e	 muitos	 anos	 atrás,	 havia	 dois	 homens.	 O
primeiro	chamava-se	Elazar	e	era	muito	rico,	dono	de	grandes	fazendas,	muito
gado	e	de	uma	casa	enorme	e	cheia	de	serviçais.
O	 segundo,	 chamado	 João,	 era	 dono	 de	 uma	 pequena	 casa	 de	 tijolos,
simples	e	muito	humilde.
Certa	feita,	eles	conheceram	Nosso	Senhor	Jesus	Cristo	na	aldeia,	quando
Jesus	 realizava	 um	 dos	 seus	 inúmeros	milagres.	 Jesus	 conversou	 com	 ambos,
que	demonstraram	a	Jesus	sua	admiração	e	amor.
Jesus	 olhou	 para	 ambos	 e	 pensou:	 “Vamos	 ver	 qual	 desses	 dois	 homens
ama	realmente	a	Deus”.
Dirigiu-se	a	Elazar	e	João	e	disse:
–	Será	que	posso	ir	jantar	com	vocês,	um	dia	desses?
Os	 dois	 homens	 menearam	 a	 cabeça,	 felizes,	 dizendo	 quase	 ao	 mesmo
tempo:
–	Sim,	Senhor!	Será	uma	grande	honra!
Marcaram	o	dia,	para	alegria	dos	dois	homens.
Eles	de	imediato	correram	às	suas	casas	e	conversaram	com	suas	esposas,
felicíssimos	pela	oportunidade	de	darem	um	jantar	em	honra	do	Mestre	Jesus.
Elazar,	 que	 era	 rico,	 avisou	 aos	 seus	 criados	 que	 preparassem	 uma	 ceia
farta	 e	 variada.	Queria	muita	 carne	 assada,	 grandes	 pratos	 de	 legumes,	muitas
saladas,	peixes,	pães	e	bolos	deliciosos	e	vinho.
João,	que	era	muito	humilde,	pediu	que	a	esposa	matasse	uma	galinha	–
porque	não	tinha	gado,	nem	grandes	rebanhos	de	ovelhas	ou	porcos	–	e	a	assasse
com	todo	capricho.
Prepararam-se	as	mesas:	Na	casa	de	Elazar,	forraram	uma	mesa	imensa	de
toalha	branca	e	encheram-na	com	os	pratos	de	alimentos	gostosos	e	cheirosos	e
vários	jarros	de	vinho.
Na	casa	de	João,	a	esposa	dele	arrumou	a	mesinha	da	sala	do	melhor	jeito
que	 pode,	 colocando	 sua	melhor	 toalha	 e	 o	 frango	 assado	 ao	 centro.	 Também
colocou	 ali	 um	 jarro	 com	 água	 e	 um	 pão	 caseiro,	 que	 ela	 acabara	 de	 tirar	 do
forno.
As	 duas	 famílias,	 após	 arrumarem	 suas	 mesas,	 ficaram	 aguardando	 a
chegada	de	Jesus.
Pouco	 antes	 do	 horário	 marcado,	 alguém	 bateu	 à	 porta	 da	 casa	 do	 Sr.
Elazar.	Ele	mesmo	correu	para	abrir,	ansioso.	Entretanto,	fechou	a	cara,	fazendo
uma	carranca.
Ao	invés	do	Senhor	Jesus,	ali	à	sua	porta	estava	um	mendigo,	um	homem
coberto	de	roupa	velha,	uma	touca	torta	sobre	a	cabeça,	rosto	todo	enrugado.	O
velhinho,	com	voz	rouca,	pediu	ao	rico	senhor	que	 lhe	desse	um	bocadinho	de
comida.
–	Ah,	 não	 posso.	Hoje	 estou	 esperando	Nosso	 Senhor	 Jesus	Cristo	 para
jantar	 comigo.	 Não	 vou	 deixar	 que	 um	 mendigo	 entre	 e	 suje	 minha	 casa	 e
desarrume	minha	mesa.
E	fechou	a	porta,	fazendo	com	que	o	mendigo	se	retirasse.
Porém,	mal	ele	retorna	à	sua	bela	sala,	de	novo	batem	à	porta.	Lá	vai	de	novo
Elazar	abri-la,	e	de	novo	se	depara	com	outro	mendigo:	esse	parecia	mais	jovem,
mais	limpo,	porém	ainda	usava	roupas	velhas	e	estava	descalço.
–	Oh,	não	de	novo!	Não,	não	posso	dar-lhe	nenhuma	esmola	ou	alimento
hoje.
Bateu	outra	vez	a	porta	na	cara	do	segundo	mendigo,	que	baixou	a	cabeça
muito	triste	e	foi	embora.
Quando	Elazar	se	sentou	em	seu	rico	divã	cheio	de	almofadas,	outra	vez
batem	à	porta.	Ele	pensa:	“Dessa	vez	deve	ser	o	Mestre,	o	Senhor	Jesus”!
E	corre	de	novo	para	abrir	a	porta.
Que	 surpresa	 não	 teve	 e	 o	 quão
nervoso	 ficou!	 Era	 outro	 mendigo,	 diferente	 dos	 dois	 primeiros,	 porém	 ainda
assim	 mal	 vestido,	 descalço	 e	 um	 manto	 remendado	 em	 torno	 do	 pescoço.
Parecia	mais	velho	do	que	o	primeiro.
–	Ora	bolas!	–	Disse	Elazar.	–	Não,	não	tenho	nada	para	dar	a	você	hoje,
saia	logo.
Na	casa	de	João,	aconteceu	o	mesmo.	O	mendigo	que	fora	à	casa	de	Elazar
bateu	à	porta	de	João,	que	abriu-a	com	surpresa	e	olhou	com	assombro	para	o
velhinho.
–	Só	temos	uma	galinha	para	a	ceia	–	disse	João	–	mas	entre,	entre.
O	velho	mendigo	entrou	e	sentou-se	à	mesa.	João	conversou	em	voz	baixa
com	a	mulher:
–	 O	 que	 faremos?	 Vamos	 cortar	 o	 frango	 antes	 da	 chegada	 do	 Senhor
Jesus?
–	Podemos	tirar	uma	asa	–	disse	amulher.
E	 assim	 fizeram,	 cortaram	 uma	 das	 asas	 e	 puseram	 no	 prato	 para	 o
mendigo,	junto	com	um	bom	pedaço	de	pão.
O	velho	comeu,	agradeceu	e	foi	embora.	Passados	alguns	minutos,	bateu	à
porta	o	segundo	mendigo,	e	toda	a	história	se	repetiu:	João	não	quis	deixar	outro
infeliz	com	fome,	e	o	fez	entrar.
Dessa	vez,	cortaram	a	outra	asa	da	galinha	e	deram	ao	mendigo,	com	pão
fresco.
Logo	que	 este	 agradeceu	e	 saiu,	 o	 terceiro	mendigo	bateu	 à	porta.	 João
coçou	a	cabeça,	apertou	os	lábios	em	dúvida.
Mandou	o	homem	maltrapilho	entrar	e	sentar-se	à	mesa.	Ele	serviu	uma	coxa	da
galinha,	afinal,	dizendo:
–	 Bem,	 espero	 que	 essa	 janta	 esteja	 gostosa...	 esperamos	 pelo	 Senhor
Jesus,	mas	Ele	ainda	não	chegou...
Quando	 a	 mulher	 de	 João	 serviu	 uma	 grossa	 fatia	 do	 pão	 no	 prato	 do
visitante,	 esse	 ergueu-se	 da	 mesa,	 tirou	 o	 manto	 esfarrapado	 e	 seu	 rosto
iluminou-se,	subitamente	mudando	as	feições.
–	Obrigado	por	sua	hospitalidade,	João	–	desse	Jesus,	que	era	na	realidade
o	suposto	mendigo.
	
E	 explicou	 ao	 casal	 surpreso,	 que	 ele	 fizera	 o	 mesmo	 na	 casa	 do	 rico
fazendeiro	 Elazar,	 aparecendo	 três	 vezes	 sob	 o	 disfarce	 de	 três	 mendigos	 ou
homens	pobres.	Pediu	um	prato	de	alimento.	E	 	Elazar	negara	o	pedido	as	 três
vezes.
João	 e	 a	 mulher	 se	 entreolharam,	 assustados	 e	 fascinados.	 E	 Jesus
prosseguiu:
–	 Não	 posso	 dizer	 que	 Elazar	 ame	 a	 Deus	 verdadeiramente,	 ele	 não	 se
mostrou	generoso	e	hospitaleiro	com	os	pobres.	Mas	você,	João	e	sua	esposa	e
seus	 filhos,	 sim.	Estou	muito	 feliz	 porque	vocês	demonstraram	 seu	verdadeiro
amor	a	Deus.
Jesus	 disse,	 sorrindo	 e	 olhando
para	o	delicioso	frango	assado	sobre	a	mesa.
–	Mesmo	tendo	tão	pouco	para	oferecer,	vocês	ofereceram	o	que	tinham,
de	todo	coração.	Deus	se	agrada	com	a	bondade	e	a	generosidade.
E	assim	dizendo,	Jesus	os	abençoou,	voltou	a	sentar-se	à	mesa	com	João	e
toda	sua	família	e	jantaram.
A	humilde	família	sentiu	uma	grande	alegria	e	conforto	no	coração,	pois
fizeram	o	que	era	agradável	aos	olhos	de	Nosso	Senhor.
TUPÃ,	DEUS-TROVÃO
	
Era	uma	vez,	no	 início	do	Brasil,
quando	 os	 primeiros	 portugueses	 aqui	 chegaram	 e	 os	 índios	 começaram	 a
conhecê-los...	 E	 com	 os	 portugueses	 colonizadores	 chegaram	 também	 os
primeiros	padres	jesuítas...
Era	uma	vez,	entre	as	densas	florestas	virgens	do	Brasil...
A	 indiazinha	 estava	deitada	na	 rede,	 enquanto	ouvia	 sua	mãe,	 Inã,	 contar	uma
história	para	que	ela	adormecesse.	Entretanto,	lá	fora	a	mata	estava	escura	como
breu,	os	pássaros	tinham	emudecido.	Ao	longe,	ouviram	ribombar	uma	trovoada,
lá	para	os	lados	do	Grande	Rio.
A	indiazinha	abriu	muito	seus	grandes	olhos	negros,	brilhantes	e	bonitos
como	 jabuticabas.	Estremeceu	um	pouco	 e	 apontou	para	 a	 porta	 abeta	 da	oca,
que	era	a	habitação	dos	indígenas,	feita	de	troncos	de	árvores	e	coberta	de	folhas
de	palmeiras.
Inã	meneou	a	cabeça,	sorrindo	para	a	criança.
–	Eu	sei	–	disse	a	mãe,	olhando	também	para	a	mata	escura.
–	Que	é	esse	barulhão?	–	Pergunta	a	menina.
–	É	Tupã	–	disse	a	mãe,	acocorando-se	ao	 lado	da	rede	da	filha.	–	Quando	ele
está	aborrecido,	ele	grita	com	o	mundo.	Esse	barulhão	é	o	grito	de	Tupã.
A	menina	abriu	a	boca,	arregalando	ainda	mais	os	olhos.
–	Quem	é	Tupã?	–	A	criança	perguntou.
A	mãe	fez	um	gesto	indeciso.	Então	lembrou-se	de	um	homem	branco,	um
padre	jesuíta	que	sempre	visitava	sua	aldeia.	Era	um	homem	que	falava	muito	e
explicava	muitas	coisas	sobre	a	vida	dos	brancos.
Também	explicava	sobre	os	Seres	Grandes,	os	que	ele	chamava	Deuses.
A	mãe	disse	à	menina:
–	Tupã	é	um	Ser	Grande,	que	mora	nos	céus.	Assim	me	disse	o	homem
branco,	Padre	Francisco.
A	menina	ouviu	outro	rimbombo	de	trovão	na	mata.
–	 E	 esse...	 Tupã	 é	 mau?	 Ele	 vem	 nos	 pegar	 e	 nos	 levar	 para	 um	 lugar
ruim?
A	índia	Inã	deu	uma	boa	gargalhada,	lembrando-se	das	palavras	do	padre
Francisco.
–	Não,	menina!	Durma,	pois	os	homens	brancos	nos	ensinaram	que	Tupã	é
um	Ser	grande,	 que	 criou	 tudo	o	que	 existe:	Homens,	matas,	 pássaros,	 peixes,
veados,	 onças,	 tudo...	 E	 ele	 gosta	 dos	 homens,	 mesmo	 quando	 dá	 seus	 gritos
fortes	no	céu.
A	 indiazinha	 ficou	mais	 calma,	principalmente	porque	 tinha	começado	a
chover	 forte.	 Sentiu	 uma	 brisa	 úmida	 entrar	 pela	 porta	 da	 oca	 e	 olhou	 para	 o
outro	lado,	onde	outras	crianças	dormiam	tranquilas,	em	suas	redes.
Ali	dentro	da	oca	estava	quente	e	aconchegante,	a	brisa	úmida	e	fria	não
chegava	até	eles.	Sua	mãe	estava	ao	seu	lado,	tomando	conta	dela.
E	lá	no	alto	do	céu,	havia	um	Ser	Grande,	que	criara	tudo.
Ele	 era	 Tupã,	 o	 deus-com-voz-de-trovão	 e	 gostava	 dos	 índios	 e	 dos	 brancos
igualmente.
Ela	deitou-se	sossegada	na	sua	rede	e	adormeceu.
***
Tupã	 não	 era	 um	 dos	mitos	 indígenas	mais	 conhecidos,	mas	 quando	 os
padres	jesuítas	chegaram	ao	Brasil,	souberam	que	havia	uma	espécie	de	“deus”,
que	os	índios	não	adoravam	como	o	nosso	Deus	cristão,	mas	tinham	medo.
Era	 apenas	 um	Ser	Desconhecido,	 que	 os	 índios	 associavam	 ao	 barulho
dos	trovões,	aos	quais	chamavam	tupã	ou	tupana.	Assim,	os	padres	começaram
a	ensinar	 o	Cristianismo	aos	 índios,	mas	para	que	 eles	 compreendessem	quem
era	Deus,	o	Criador	do	Universo,	usaram	a	palavra	“Tupã”.
Desde	 então,	 Deus	 supremo,	 para	 os	 primeiros	 indígenas	 brasileiros,
passou	a	ser	conhecido	como	Tupã.
MELANCIA	E	COCO	MOLE
	
No	 Sergipe	 há	 um	 conto	 popular
muito	 interessante,	que	pertence	ao	folclore	 local.	Esse	conto	foi	coletado	pelo
escritor	Sílvio	Romero	–	no	seu	livro	“Contos	Populares	do	Brasil”.
A	história	é	mais	ou	menos	assim...
Era	uma	vez	um	jovem	casal	de	namorados,	que	muito	se	amavam.
A	 moça	 era	 morena,	 de	 belas	 feições	 angelicais	 e	 longos	 cabelos	 mais
escuros	do	que	um	céu	sem	estrelas.	O	seu	namorado	era	forte,	de	olhos	negros	e
feições	de	príncipe.
	
O	amor	de	ambos	era	grande	e	 eles	 sempre	 se	 encontravam,	quando	era
possível,	sob	uma	grande	árvore	nos	fundos	da	casa	da	moça.
Como	as	famílias	de	ambos	não	sabiam	do	namoro,	eles	inventaram	dois
apelidos	–	para	que	 assim,	quando	quisessem	se	 falar	ou	 trocar	mensagens,	 as
pessoas	 da	 família	 ou	 vizinhos	 não	 soubessem.	 A	 moça	 era	 “Melancia”	 e	 o
namorado,	“Coco	Mole”.
Um	 dia,	 estando	 o	 casal	 mãos	 dadas	 sob	 a	 sombra	 da	 árvore,	 o	 jovem
ergueu	 as	 mãos	 da	 sua	 amada	 até	 os	 lábios	 e	 as	 beijou,	 dizendo	 com	 um	 ar
tristonho:
–	Minha	querida,	tenho	uma	notícia	ruim	para	dar-lhe.
Melancia	olhou-o	com	susto.
–	O	que	há?	O	que	aconteceu?
–	Fui	chamado	para	a	guerra.	Fui	ontem	ao	quartel	da	cidade,	pois	tive	que
alistar-me.
Ela	 apertou	 os	 lábios	 trêmulos.	 Seus	 olhos
perderam	o	brilho,	numa	tristeza	imensa.
–	Vai?	Você	vai...	lutar	na	guerra?	Oh,	Deus	do	céu...	Isso	quer	dizer	que
vamos...
–	Sim,	minha	adorada.	Vamos	ter	que	nos	separar,	por	algum	tempo.
Melancia	não	queria	acreditar	naquilo.	Meneou	a	cabeça:
–	Mas	então	não	poderemos	nos	casar...!	E	não	saberemos	quando	voltaremos	a
nos	encontrar!	E	se...
Ela	não	falou	mais	nada,	com	o	coração	apertado	de	tristeza.
Coco	Mole	replicou:
–	 Não	 se	 esqueça	 de	 mim,	 minha	 querida!	 Nunca	 se	 case	 com	 outro
homem,	pois	eu	voltarei	para	casar	com	você!	Promete?
Ela	ergueu	os	olhos	tristonhos	para	ele	e	disse,	meneando	a	cabeça:
–	Claro	que	prometo.	Nunca	poderei	amar	outro	homem	no	mundo.
O	 rapaz	deu	um	beijo	 suave	nas	 faces	da	amada	e	 assim	despediram-se,
com	o	coração	dolorido	de	tristeza.
Melancia,	com	a	cabeça	baixa,	afastou-se	da	árvore,	que	estava	cheia	de
folhas	secas	–	como	se	até	a	natureza	estivesse	triste	–	e	voltou	para	sua	casa.
	
	
****
O	tempo	passou.
Um	 ano	 inteiro	 passou	 e	Melancia	 não	 tinha	 nenhuma	 notícia	 de	Coco
Verde,	cuja	família	morava	numa	fazenda	próxima	à	dela.
Quando	passou-se	o	segundo	ano,	o	pai	dela	disse-lhe:
–	Minha	 filha,	 vejo	 que	 você	 está	 com	 quase	 vinte	 e	 dois	 anos,	 está	 na
hora	de	se	casar!	Não	pensa	nisso?
–	Não,	papai!	Não	me	quero	casar.	Nãome	obrigue	a	isso.
–	 Mas	 filha,	 é	 preciso.	 Sua	 mãe	 casou-se	 comigo	 quando	 tinha	 apenas
dezoito	 anos.	Você	 já	 tem	vinte	 e	 dois.	Deve	 se	 casar,	 antes	 que	 se	 torne	uma
velha	e	nenhum	mancebo	mais	a	queira	por	esposa.
Melancia	 disse	 que	 não,	 não	 e	 não.	Mas	 seu	 pai	 e	 sua	mãe	 tornaram	 a
tocar	nesse	assunto.	Falavam	disso	o	tempo	todo.
Passou-se	 mais	 um	 ano	 e	 ela	 não	 tinha	 nenhuma	 notícia	 do	 seu	 antigo
namorado,	 do	 qual	 não	 conseguia	 esquecer.	 Entretanto,	 um	 belo	 dia,	 seu	 pai
levou	à	casa	outro	rapaz.
Era	um	moço	de	ar	 simpático,	 filho	de	um	caboclo	amigo	da	 família.	O
moço	não	demorou	muito	a	se	encantar	pela	beleza	de	Melancia	 e	 a	pediu	em
casamento.
Ela	 relutou,	mas	com	a	 insistência	dos	pais,	 sentiu-se	obrigada	a	aceitar;
afinal,	Coco	Mole	nunca	mais	apareceu,	pensou	ela,	muito	tristonha.
***
	
Chegou,	 enfim,	 o	 dia	 do	 casamento	 de	Melancia	 com	 o	 outro	 rapaz.	A
casa	estava	em	festa.
Por	coincidência,	nesse	mesmo	dia	Coco	Mole	retornava	da	guerra,	muito
abatido,	com	as	roupas	velhas	e	meio	sujas.
Chegando	 à	 sua	 casa,	 desceu	 do	 cavalo	 e	 foi	 recebido	 com	 abraços	 e
alegria	pelos	seus	pais	e	por	Bentinho,	um	caboclo	muito	esperto	e	 inteligente,
que	era	o	companheiro	de	Coco	Mole	desde	a	infância.
Quando	 os	 pais	 se	 afastaram	 um	 pouco,	 Coco	 Mole	 dirigiu-se	 ao
Bentinho:
–	E	então,	rapaz?	Como	estão	as	coisas	por	essas	bandas?
Bentinho	 o	 informou	 que,	 naquele	 dia,	 havia	 muitas	 coisas	 a	 serem
celebradas	na	cidade:	a	volta	do	seu	patrão	e	o	casamento	da	filha	dos	vizinhos.
Coco	Mole	adivinhou...	era	sua	Melancia	que	estava	a	casar-se!
Quando	o	jovem	ficou	triste,	Bentinho	perguntou	o	que	havia	de	errado.
Coco	Mole	explicou	toda	a	história	de	amor,	tudo	o	que	sentira	pela	jovem	que
hoje	 se	 casaria.	Contou	 como	 sentira	 falta	 e	 saudades	 dela	 durante	 as	 guerras,
como	ela	prometera-lhe	nunca	se	casar	com	outro...
–	 E	 veja	 só,	 disse	 o	 rapaz	 –	 ela	me	 traiu.	 Vai	 se	 casar!	 Como	 a	 vida	 é
enganosa...
Bentinho,	porém,	retrucou:
–	Não	se	avexe,	não,	sinhô.	Eu	tenho	aqui	uma	ideia.	O	casamento	ainda
não	aconteceu,	o	padre	não	chegou	à	casa	da	sua	Melancia.	Faça	assim,	vá	até	a
árvore	 nos	 fundos	 do	 sítio,	 aquela	 árvore	 na	 qual	 vocês	 se	 encontraram	 pela
última	vez...	antes	do	sinhô	partir	para	a	guerra.
–	Mas	por	quê?	–	Indagou	o	rapaz,	curioso.
–	Faça	o	que	digo,	tudo	vai	dar	certo.	Pode	ir,	mas	antes	tome	seu	banho,
vista	uma	roupa	mais	bonita.
Coco	Verde	fez	o	que	Bentinho,	sempre	tão	vivo	e	inteligente,	recomendou
e	lá	se	foi,	para	os	fundos	do	sítio	e	sob	a	árvore	antiga.
Enquanto	 isso,	Bentinho	 também	vestiu	 seu	melhor	 terno	 de	 domingo	 e
dirigiu-se	a	alguns	lugares,	antes	de	ir	à	festa	de	casamento.
Entrando	 lá,	 encontrou	 uma	 casa	 cheia	 de	 convidados.	Os	 pais	 de	Melancia	 o
reconheceram	e	o	convidaram	a	participar	da	festa.
–	Estamos	felizes	porque	você	veio,	moleque	–	disse	o	pai	da	noiva.	–	Cá
estamos,	aguardando	o	reverendo,	para	dar	início	à	cerimônia.
A	noiva,	muito	bela	num	vestido	 rendado,	estava	sentada	ao	 lado	de	sua
mãe,	enquanto	o	noivo	conversava	com	os	demais	convivas.
Bentinho	 deu	 um	 passo	 adiante	 e	 falou,	 num	 tom	 alto,	 para	 chamar
atenção:
–	Quero	fazer	uma	saudação	à	noiva,	através	de	uns	versos	que	compus.
Todos	 pareceram	 achar	 boa	 a	 ideia,	 assim	 ele	 tomou	 da	 sua	 viola	 e
cantarolou,	com	sua	voz	bem	modulada:
	
"Eu	venho	lá	de	tão	longe,
Corrido	de	tanta	guerra...
Melancia,	Coco	Mole
É	chegado	nesta	terra!”
A	 jovem	 noiva	 arregalou	 os	 olhos	 para	 Bentinho,	 relembrando	 da
promessa	feita	ao	antigo	namorado.	Ficou	comovida.
O	pai	e	anfitrião	pediu	a	Bentinho	mais	versos,	e	este	cantou	de	novo:
Não	há	bebida	tão	boa
Como	seja	o	aluá...
Melancia,	Coco	Mole
Vos	espera	no	lugar!
Todos	 aplaudiram	 e	 pediram	mais	 versos,	 todos	 alegres	 com	o	 toque	 da
viola.	Melancia	estava	cada	vez	mais	emocionada...
Bentinho	tocou	mais:
Moça,	que	estais	tão	bonita
Não	vos	lembrais	do	passado?
Melancia,	Coco	Mole
Vos	manda	muito	recado!
Desta	vez	Melancia	entendeu	perfeitamente	o	recado.
Levantou-se,	deu	um	longo	olhar	ao	esperto	Bentinho,	sorriu-lhe	de	leve	e
disse	 à	 sua	 mãe	 que	 ia	 tomar	 água.	 Bentinho	 continuou	 a	 tocar	 sua	 viola,
entretendo	os	convivas,	enquanto	Melancia	deixou	a	sala	do	casarão,	 saiu	pela
cozinha	e	foi	caminhando	para	os	fundos	do	quintal.
Caminhou	até	a	velha	árvore	e	lá,	de	pé,	estava	o	seu	amado.	Parecia	ainda
mais	bonito	que	antes,	mais	forte	e	garboso,	mesmo	com	o	rosto	bronzeado	de
sol	e	com	algumas	cicatrizes.
Aproximou-se	 dele	 e	 ele	 a	 recebeu	 de
braços	abertos.	Logo	a	seguir	surgiu	o	padre,	que	fora	chamado	por	Bentinho.
–	 É	 então	 verdade?	 –	 Perguntou	 o	 padre,	 com	 ar	 sério.	 –	 Vocês	 dois,
jovens,	tem	certeza	de	que	querem	se	casar	em	segredo?
–	Sim,	sim,	padre	–	disse	Melancia	–	É	este	o	meu	amado,	meu	pai	não
consentiu	que	eu	esperasse	por	seu	retorno.	É	só	com	ele	que	quero	casar-me.
Coco	Mole	também	falou:
–	Sim,	padre.	Nós	fizemos	promessas,	um	ao	outro,	de	que	nos	casaríamos
logo	que	eu	voltasse	da	guerra.
Desta	forma,	eles	se	casaram,	sob	as	bênçãos	da	Igreja	e	viveram	felizes
pelo	resto	de	suas	vidas.
	
	
O	URUBU	E	O	SAPO
	
EIS	 UMA	 PEQUENA	 HISTÓRIA	 do	 nosso
folclore,	muito	engraçada.
Conta-se	que	o	Urubu,	um	bicho	orgulhoso	e	fanfarrão,	foi	convidado	para
uma	festa	de	aves,	no	céu.	Tinha	ele	o	Sapo	por	compadre.
Lembrou-se,	o	maldoso	Urubu,	de	fazer	uma	brincadeira	maldosa	com	o
compadre	Sapo,	já	que	este	não	tinha	asas	e,	portanto,	não	teria	como	ir	à	festa
no	céu.
Foi	Urubu	à	casa	do	Sapo,	à	beira	do	banhado.	Lá	chegando,	foi	recebido
pelo	anfíbio	sorridente,	que	o	fez	entrar.
Depois	de	uma	conversa,	Urubu	disse,	rindo-se:
–	E	então,	compadre!	Soube	da	 festança	no	céu?	Quero	convidá-lo,	pois
quero	ir	junto	com	você.
O	Sapo	ficou	pensativo	e	disse,	após	um	minuto:
–	Pois	não,	compadre	Urubu.	Irei,	mas	você	tem	que	levar	sua	viola!
–	Ah,	isso	não	é	problema.	Claro	que	levo.	E	você	leva	seu	pandeiro,	pode
ser?
–	Combinado!	–	disse	o	Sapo.
Marcaram	o	dia	da	viagem	e	o	Urubu	foi	embora.
No	dia	combinado,	Urubu	voltou	ao	banhado,	na	casa	do	compadre.	Este	o
mandou	entrar,	dizendo:
–	Minha	esposa,	sua	comadre,	quer	conversar	com	você!	Ela	está	lá	atrás
daquele	tufo	de	capim,	dando	comida	aos	nossos	filhos.
O	Urubu	foi	lá	ter	com	a	senhora	Sapa.	Quando	o	Urubu	se	afastou,	o	sapo
pegou	 a	 viola,	 que	 o	 velhaco	 tinha	 deixado	 sobre	 uma	 pedra,	 e	 entrou	 dentro
dela.	E	disse	em	voz	alta:
–	Bem,	compadre...	como	eu	sou	lerdo,	já	vou	na	frente...	te	encontro	lá	na
festa.
O	 Urubu	 despediu-se	 da	 Sapa,	 pegou	 a	 viola,	 onde	 estava	 o	 Sapo	 bem
quietinho	e	voou	para	o	céu.
A	festa	era	na	copa	de	uma	altíssima	árvore,	onde	vários	pássaros	e	aves
da	 floresta	 dançavam	 e	 cantavam.	 Alguém	 perguntou	 ao	 Urubu	 pelo	 seu
compadre	Sapo.	Ele	respondeu:
–	 Oras,	 se	 meu	 compadre	 anda	 devagar	 até	 em	 terra,	 imagina	 se	 há	 de
voar!
Nesse	instante,	quando	todos	estavam	entretidos,	o	Sapo	saiu	de	fininho	de
dentro	da	viola	e	se	apresentou:
–	Ahá!	Cheguei,	amigos!
Todos	 se	 admiraram.	 O	 Urubu	 mal	 podia	 crer,	 mas	 voltou	 a	 dançar	 e
sambar	com	o	resto	do	povo	das	alturas.	O	Sapo	 também	cantou	e	dançou	um
pouco.
Chegando	 ao	 fim	 da	 festa,	 o	 danado	 do	 Sapo	 esperou	 que	 o	 Urubu
estivesse	 entretido,	 despedindo-se	 de	 uma	 Garça,	 e	 entrou	 de	 volta	 dentro	 da
viola.
Mais	 tarde,	 o	 Urubu	 tomava	 a	 viola	 e	 se	 lançava	 ao	 voo	 para	 a	 terra,
quando	o	Sapo	mexeu-se	de	leve,	dentro	do	violão.	O	Urubu,	muito	malvado	e
sacana,	percebeu	como	o	Sapo	o	enganara.	E	resolveu	fazer	uma	malandragem
com	o	pobre	compadre.
Virou	a	viola	de	boca	pra	baixo,	fazendo	com	que	o	pobre	Sapo	caísse	de
dentro.	O	infeliz	gritou,	quando	caía:
–	Socorro!	Vou	me	arrebentar	nas	pedras!
O	Urubu,	muito	sacana,	riu-se	e	disse:
–	Que	nada,	o	compadre	Sapo	sabe	voar	tão	bem...!A	 sorte	 do	 Sapo	 é	 que	 estavam	 próximos	 do	 pântano	 onde	 ele	morava.
Assim,	 ao	 cair,	 machucou-se	 um	 pouco	 nas	 pedras...	 saiu	 todo	 cheio	 de
arranhões	e	feridas,	mas	vivo,	enfim.
Por	 isso,	 diz	 a	 lenda,	 o	 Sapo	 tem	 aquelas	 manchas	 meio	 amarronzadas
pelo	 corpo:	 marcas	 do	 tombo	 que	 levou,	 quando	 caiu	 da	 viola	 do	 compadre
Urubu.
A	LENDA	DE	SÃO	CRISTÓVÃO
	
CONTAM	AS	LENDAS	DE	VÁRIAS	PARTES	DO	MUNDO,	que	um	dia,	em
tempos	muito	antigos,	nasceu	um	homem	muito	grande.
Era	considerado	quase	gigante,	 tão	alto	e	 tão	forte	ele	era.	Seu	nome	era
Cristóvão.
Ele	 queria	 por	 todos	 os	 modos	 servir	 ao	 rei	 mais	 poderoso	 da	 terra.
Alguém	disse-lhe	que	havia	um	certo	Rei	–	um	rei	riquíssimo,	dono	de	um	dos
maiores	tesouros	do	mundo.	E	todos	diziam	que	era	o	mais	poderoso	também.
Cristóvão,	o	homenzarrão,	 lá	se	foi	atrás	do	tal	Rei	poderoso	e	se	tornou
seu	servo.
Um	dia	houve	guerra...	E	o	seu	senhor,	o	Rei,	foi	derrotado	pelos	inimigos.
Cristóvão,	descontente,	se	tornou	servo	do	outro	Rei-Vencedor.
Um	 dia,	 esse	 outro	 Rei	 mostrou-se	 temeroso	 com	 alguma	 coisa...
Cristóvão	quis	saber:
–	Mas	o	que	temes,	meu	senhor	Rei?	És	vencedor	dos	vencedores!
–	 Ah,	 meu	 caro	 amigo...	 tem	 outro	 que	 temo	 mais	 que	 aos	 homens:	 o
diabo.	Esse	tem	mais	poder	que	todos	os	reis	juntos!
–	Mas	quem	é	esse?	Vou	servir	a	ele!
–	O	 que	 dizes,	meu	 servo?	Não,	 do
diabo	temos	que	ficar	longe!	Ele	é	o	Mal,	nunca	te	aproximes	dele!
Cristóvão,	porém,	era	um	homem	grande	no	tamanho,	mas	com	alma	pura
de	criança.	Achou	que	era	seu	destino	“servir	ao	maior	dos	reis”	e	imaginou	que
esse	“maior”	seria	o	diabo.
Tanto	 andou	 vagando	 pelo	 mundo,	 que	 um	 dia	 encontrou	 o	 Diabo.	 E
fazendo	com	este	um	trato,	 tornou-se	seu	servidor.	Mesmo	sem	saber	o	quanto
havia	de	malvado	e	horrível	naquele	seu	amo...
Certo	dia,	quando	ele	acompanhava	o	Diabo	por	uma	estrada,	notou	que
este	desviou	o	caminho,	quando	viu	uma	cruz	grande,	fincada	à	beira	da	estrada.
O	Diabo	pareceu	muito	temeroso	diante	da	cruz.
–	Por	que	desvias	daquilo?	O	que	é	aquilo?
–	É	uma	cruz	–	diz	o	Diabo.
–	E	o	que	ela	representa?
–	O	sacrifício	do	Cordeiro	–	disse	o	Demo.
Cristóvão	não	entendeu,	mas	continuou	perguntando:
–	Sacrifício?	Do	Cordeiro?	Quem	é	assim	chamado,	“Cordeiro”?
O	 Diabo,	 logicamente,	 não	 podia	 pronunciar	 o	 sagrado	 nome	 de	 Jesus
Cristo,	apenas	deu	uma	risadinha.
–	E	tu	então,	senhor	Diabo,	tens	medo	da	cruz?
–	Claro.
–	 Mas	 não	 és	 tão	 poderoso?	 Não	 me	 disseste	 que	 eras	 o	 “senhor	 do
mundo”?
O	Diabo	deu	outra	risadinha	e	disse:
–	Sim,	afinal	sou	o	Senhor	da	Mentira!
Ora,	pensou	Cristóvão.	Eu	vou	então	servir	a	esse	Senhor	da	Cruz,	que	é
mais	poderoso	do	que	tudo!
E	abandonou	o	Diabo,	indo	atrás	do	verdadeiro	Mestre	do	Mundo,	aquele
que	 diziam	 ser	 o	Senhor	 da	Cruz.	Viajou,	 viajou,	 correu	 pelo	mundo...	 a	 cada
cruz,	ele	parava	e	indagava	às	pessoas:
–	Onde	posso	encontrar	o	Senhor	da	Cruz?	Quero	servi-lo!
–	Tu	o	encontrarás	nas	igrejas	–	certas	pessoas	diziam.
–	Tu	o	encontrarás	apenas	no	céu	–	outros	opinavam.
E	 Cristóvão	 continuou	 procurando,	 porque	 ele	 queria	 ver	 e	 falar	 ao
Senhor.
Correu	o	mundo.	Um	dia,	parou	à	beira	de	um	grande	rio,	construiu	uma
cabana	e	passou	a	ajudar	as	pessoas	que	queriam	atravessar	o	rio;	sendo	alto	e
fortíssimo,	erguia-as	nos	ombros	para	fazer	a	travessia.
Certa	noite	de	tempestade,
alguém	 bateu	 à	 sua	 porta,	 e	 ele	 atendeu	 prontamente.	 Era	 um	menininho,	 que
pediu	para	ajuda-lo	a	atravessar	o	rio.
–	Ora,	menino	–	disse	Cristóvão.	–	Mas	estás	sozinho?
–	Não	estou,	estou	contigo,	Cristóvão.
O	gigantesco	homem	coçou	a	cabeça,	mas	vendo	o	céu	escuro	e	a	chuva
começar	a	 cair,	 colocou	um	grosso	manto	 sobre	os	ombros	e	 tomou	a	criança,
colocando-a	nas	costas.
Notou	 que	 ela	 pesava	 demais	 para	 um	menininho	 tão	 frágil.	 Ele	 pensou
que	havia	algo	com	ele	mesmo,	talvez	estivesse	ficando	velho	e	fraco:	o	menino
parecia	pesar	uma	tonelada.
Ele	sofreu,	arrastou-se	pelo	rio	adentro	e	perguntou:
–	Como	podes	pesar	tanto,	criança?	És	tão	pequeno!
–	É	que	trago	o	mundo	nas	mãos	–	disse	o	garotinho.
Cristóvão,	então,	reparou	que	nas	mãos,	o	garoto	trazia	mesmo	um	globo
dourado,	e	em	cima	desse	globo	do	mundo,	havia	uma	cruz,	também	de	ouro.
–	Então,	se	trazes	o	mundo	nas	mãos,	és	muito	poderoso...	és	o	Senhor	da
Cruz,	Aquele	a	quem	procuro?
–	Sim,	sou	eu.	–	disse	o	Pequeno,	com	voz
meiga	e	doce	sorriso.
E	assim	Cristóvão,	o	bondoso	gigante,	conheceu	o	Menino	Jesus,	Senhor
da	Cruz.	E	desde	então	tornou-se	servo	desse	símbolo	santo	do	Cristianismo,	a
Sagrada	Cruz,	mais	 poderosa	 do	 que	 todos	 os	 reinos	 da	 terra,	 do	 inferno	 e	 de
todo	o	universo.
	
FONTES	BIBLIOGRÁFICAS	PRINCIPAIS:
	
	
Arthur	Ramos	–	O	Folclore	Negro	do	Brasil
João	Simões	Lopes	Neto	–	Lendas	do	Sul
Lindolfo	Gomes	–	Contos	Populares
Luís	da	Câmara	Cascudo	–	Contos	Tradicionais	do	Brasil
Luís	da	Câmara	Cascudo	–	Geografia	dos	Mitos	Brasileiros
Luís	da	Câmara	Cascudo	–	Literatura	Oral	no	Brasil
Oswaldo	 Elias	 Xidieh	 –	 Narrativas	 populares;	 estórias	 de	 Nosso	 Senhor	 Jesus	 Cristo	 e	mais	 São	 Pedro
andando	pelo	Mundo
Raimundo	Morais	–	Histórias	Silvestres	do	Tempo	em	que	Animais	e	Vegetais	Falavam	na	Amazônia
Ruth	Guimarães	–	Lendas	e	Fábulas	do	Brasil
Silvio	Romero	–	Contos	Populares	do	Brasil
A	AUTORA
	
JOSSI	 BORGES	 é	 web	 designer,	 diagramadora	 e	 escritora.	 Com	 formação	 técnica	 em	 Design	 Gráfico,
cursando	 atualmente	 Licenciatura	 em	 Letras,	 durante	 três	 anos	 trabalhou	 no	 ramo	 de	 comércio	 e
informática.	Participou	da	 sua	primeira	antologia	em	“Encontro	 III”	 (concurso	promovido	pela	Fundação
Copel,	1987),	onde	teve	um	poema	publicado.
Publicou	várias	antologias,	como	“Estranhas	Histórias	de	Amor”	(2010),	participando	e	organizando	outras
quatro	antologias	de	contos,	nesse	mesmo	ano.
Publicou	ainda	muitos	romances,	contos,	poesias	e	livros	infanto-juvenis.	Também	participou	da	antologia
“Histórias	Fantásticas”	volume	II,	pela	editora	Cidadela	e	da	antologia	de	tradutores	da	Revista	Literária
em	Tradução	(n.t.)	nº	8,	com	o	conto	Os	Habitantes	da	Ilha	Middle,	de	William	Hope	Hodgson.
Todos	 os	 livros	 da	 autora	 podem	 ser	 adquiridos	 no	 site	 Clube	 de	 Autores,	 pelo	 site	 da	 Amazon	 ou
diretamente	com	ela,	nos	formatos	eletrônicos:	PDF	e	Epub.
SITES	E	E-MAIL
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caminho-conservador.blogspot.com.br/
jossiborges@gmail.com

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