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ABORDAGENS TEÓRICAS DA CONTABILIDADE AULA 3 Prof. Ivanildo Viana Moura 2 CONVERSA INICIAL Olá, tudo bem? Seja bem-vindo(a) à nossa aula! Neste encontro vamos tratar dos seguintes temas: 1. Classificação de Contas de Resultado; 2. Regimes de escrituração: Competência; 3. Regimes de escrituração: Caixa; 4. Conteúdo informacional dos Accruals; 5. Aspectos conceituais do Método de Partidas Dobradas. Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se: a melhor maneira de aprender é praticando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Anteriormente conhecemos um pouco sobre as contas patrimoniais, o conjunto de bens, direitos e obrigações que formam o patrimônio da entidade. Essas contas representam a origem de recursos (passivo e patrimônio líquido) e a aplicação de recursos (ativo) e são reconhecidas no balanço patrimonial da entidade. No entanto, existe um grupo de contas que não são reconhecidas no balanço patrimonial, justamente por não fazer parte do patrimônio, mas, sim, contas que demonstram como a empresa chegou ao resultado de um período, ou seja, lucro ou prejuízo, fazendo a confrontação de receitas e despesas incorridas no período. A essas contas damos o nome de contas de resultado e serão estudadas nesta aula. Por estarmos falando das contas de resultado, importante também destacar sobre os regimes de escrituração, visto que estes podem ter impacto direto no resultado de um período, e veremos também que o regime de competência nos traz conceitos como accruals, que também serão estudados. Por fim, estudaremos o método das partidas dobradas, mais especificamente sua parte conceitual, visando a identificar cada grupo de contas e sua natureza para o correto lançamento dos fatos contábeis. 3 TEMA 1 – CLASSIFICAÇÃO DE CONTAS DE RESULTADO O conjunto de contas patrimoniais evidencia o patrimônio da entidade e é demonstrado pelo balanço patrimonial. Nesse grupo de contas, a empresa registra todos os seus bens, seus direitos e suas obrigações, e por meio de uma equação simples (equação patrimonial básica) pode-se evidenciar a situação líquida do patrimônio. Como vimos antes, quando a entidade se encontra em situação líquida negativa, o motivo de tal situação está principalmente relacionado a resultados negativos, ou seja, prejuízos acumulados no decorrer de exercícios anteriores. Nesse sentido, surge uma questão importante a ser considerada no contexto das atividades contábeis: de que forma é apurado o resultado do exercício? Quais contas são utilizadas para fazer essa apuração? Para responder a essa pergunta, vamos falar sobre os aspectos operacionais da entidade. Quando uma empresa se encontra em funcionamento, ela constantemente estará incorrendo em aquisições de bens e/ ou serviços necessários para a manutenção de suas atividades. Essas aquisições farão alterações no patrimônio, podendo incorrer em aumento ou diminuição do ativo (bens e direitos), assim como no passivo (obrigações), o que pode também afetar a situação líquida patrimonial (patrimônio líquido). Por exemplo: a empresa paga uma conta de energia elétrica. O valor mensal do uso desse recurso será registrado no patrimônio, mais especificamente no passivo, numa conta chamada de energia elétrica a pagar. Essa conta representa uma obrigação da entidade para com a empresa fornecedora de energia elétrica. Enquanto obrigação, ela é uma conta patrimonial, mas deverá ser paga em algum momento. Dessa forma, no momento em que a empresa incorrer no pagamento dessa obrigação, ela é baixada do grupo patrimonial e se transforma em uma conta de resultado, classificando-se como despesa. Do mesmo modo acontece com os produtos e/ ou serviços que a empresa vende. Ao fabricar um determinado produto, ele fica registrado no ativo da empresa pelo valor de todos os custos incorridos na sua produção. A empresa estabelece um preço de venda que deverá ser maior que o custo de fabricação desse item, e, ao vendê-lo, ele gera uma receita e também uma despesa (custo) que deverão ser lançadas na demonstração de resultado do exercício. 4 Nesse entendimento, algumas contas patrimoniais geram entradas de recursos, enquanto outras geram saídas de recursos. As entradas são classificadas como receitas e as saídas são classificadas como despesas ou custos. Nesse contexto, “as contas de resultado representam basicamente as receitas, custos e despesas incorridos num determinado período pela empresa. São contas oriundas da movimentação das origens e das aplicações de recursos que a empresa possui” (Araújo; Assaf Neto, 2010, p. 170). O resultado do período é evidenciado fazendo a confrontação das receitas e despesas/ custos auferidos pela entidade num determinado período. Segundo Ferrari (2013, p. 109), “o resultado (ou rédito) de uma entidade, num determinado período, poderá ser lucro ou prejuízo. Será lucro se o total de receitas auferidas pela entidade for maior que o total de despesas. Será prejuízo caso contrário, isto é, se as despesas ultrapassarem as receitas”. O esquema a seguir mostra a relação das contas patrimoniais com as contas de resultado. Quadro 1 – Relação das contas patrimoniais com as contas de resultado Nesse contexto, é importante saber distinguir as contas patrimoniais das de resultado, pois elas possuem classificação distinta, conforme a Figura 1: 5 Figura 1 – Classificação das contas As contas de resultado são importante medida de desempenho da entidade, pois evidenciam a quantidade de receitas auferidas e todos os custos e despesas incorridos na obtenção dessas receitas. No entanto, é importante ressaltar que existem princípios a serem observados para a apuração do resultado, e um deles é o da competência. TEMA 2 – REGIMES DE ESCRITURAÇÃO: COMPETÊNCIA A origem da contabilidade está relacionada ao controle patrimonial, e, desde seu surgimento até os dias atuais, a contabilidade preocupa-se com esse controle. Segundo Padoveze (2016), a metodologia contábil de controle patrimonial é a identificação, o registro, a classificação e a mensuração dos fatos contábeis. Os registros dos fatos administrativos ou contábeis são também chamados de escrituração contábil, cuja técnica foi divulgada pelo frei Luca Pacioli, em 1.494, com o nome de método das partidas dobradas. De acordo com Crepaldi (2010, p. 107), “a escrituração é a técnica contábil para registro dos fatos administrativos ocorridos na entidade”. Segundo o autor, o registro de cada fato chama-se lançamento, e cada lançamento é efetuado nos livros contábeis. Os fatos contábeis podem ocorrer em momentos distintos, e, por conta disso, os registros também poderiam ser realizados na ocorrência desses momentos, mas a lei age no sentido de determinar qual regime de escrituração deve ser adotado pelas empresas. Classificação das Contas Contas Patrimoniais Ativo Passivo Patrimônio Líquido Contas de Resultado Receitas Despesas/ Custos 6 2.1 Regimes de Escrituração Contábil Os fatos contábeis têm sempre dois momentos de ocorrência: Momento econômico; Momento financeiro. Denominamos momento econômico aquele em que o evento provoca alteração no patrimônio empresarial no momento de sua geração ou identificação da existência. Na terminologia jurídica, o momento econômico é denominado do fato gerador da ocorrência. Já o momento financeiro é aquele em que o evento econômico provoca alteração nos elementos de caixa ou equivalentes de caixa, ou seja, quando estes são convertidos em moeda. (Padoveze, 2016, p. 30) Dessa forma, momento econômico e momento financeiro se distinguem, pois enquanto o primeiro provoca alterações no patrimônio no momento em que ocorre (fato gerador), o segundo só modifica o patrimônio no momento em que há entradasou saídas de dinheiro (caixa e/ ou equivalentes de caixa). Alguns exemplos de momentos econômico e financeiro são dados por Padoveze (2016): Quadro 2 – Fatos contábeis e seus momentos econômicos e financeiros Fato Contábil Momento econômico Momento financeiro Venda a prazo Data da venda Data do recebimento Venda à vista Data da venda Data da venda Compra a prazo Data da compra Data do pagamento Compra à vista Data da compra Data da compra Folha de pagamento Fim do mês Data do pagamento Serviço recebido Data da prestação do serviço Data do pagamento Tributos sobre compra Data da nota fiscal Data do recolhimento Tributos sobre venda Data da nota fiscal Data do recolhimento Tributos sobre o lucro Fim do mês ou trimestre Data do recolhimento Capital social Data do contrato ou estatuto Data da integralização Auto de infração Data do recebimento do auto Data do pagamento Juros de empréstimos Fim do mês Data do pagamento Juros de aplicação financeira Fim do mês Data do resgate Fonte: Padoveze, 2016, p. 30 Pode-se perceber que na maioria dos fatos contábeis os momentos econômico e financeiro divergem um do outro, enquanto em outros fatos eles ocorrem simultaneamente. Perceba que isso ocorre geralmente nas vendas ou compras à vista, pois nesses fatos as entradas (venda à vista) e as saídas (compra à vista) de dinheiro ocorrem no mesmo momento do fato gerador. Dessa 7 forma, momento econômico e momento financeiro ocorrem ao mesmo tempo. Nos demais fatos as datas são diferentes. Se os fatos contábeis ocorrem em momentos diferentes, em qual eles devem ser registrados? Uma vez que os fatos contábeis podem ocorrer em momentos distintos, os princípios e as normas que regem a contabilidade é que determinam de que forma eles serão registrados. Existem dois regimes de escrituração, sendo eles: Regime de Competência; Regime de Caixa. O regime de escrituração a ser utilizado pelas empresas é determinado pelas leis, normas e princípios que regem a contabilidade. 2.2 Regime de Competência Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, art. 177: A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. (Brasil, 1976) Conforme contexto anterior, a lei determina que a escrituração deve estar de acordo com os princípios de contabilidade, e evidencia o regime de competência. Dessa forma, para entender o regime de competência, vamos analisar o que diz a Resolução CFC n. 750, de 29 de dezembro de 1993, em seu art. 9º: Momento Econômico Momento Financeiro 8 “Art. 9º. O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento”. Com base no princípio da competência, verifica-se que os fatos contábeis devem ser registrados no momento em que ocorre o fato gerador de sua ocorrência, e não no momento em que ocorrem as respectivas entradas e saídas de caixa relacionadas a esses fatos. Dessa forma, entende-se que o regime de competência deve escriturar os fatos pelo momento econômico e não pelo momento financeiro. Embora a lei das sociedades por ações seja antiga, sua determinação continua valendo até os dias atuais, pois o Brasil, ao aderir às normas internacionais de contabilidade, continua fazendo valer o regime de competência como sendo o permitido para a escrituração dos fatos contábeis, conforme o Comitê de Pronunciamentos Contábeis Pronunciamento Técnico CPC 26 (2011): A entidade deve elaborar as suas demonstrações contábeis, exceto para a demonstração dos fluxos de caixa, utilizando-se do regime de competência. Quando o regime de competência é utilizado, os itens são reconhecidos como ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas (os elementos das demonstrações contábeis) quando satisfazem as definições e os critérios de reconhecimento para esses elementos contidos na Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Perceba que o CPC menciona tanto as contas patrimoniais quanto as contas de resultado para o reconhecimento pelo regime de competência. Dessa forma, sempre que ocorrem fatos que venham a alterar o patrimônio da entidade, os registros devem ser realizados conforme o momento econômico, ou seja, pelo regime de competência. Diante de todo o exposto, o regime de competência é o regime de escrituração que registra os fatos contábeis no momento em que ocorre o fato gerador da ocorrência, ou seja, no momento econômico. Diante disso, o regime de competência é o que deve ser utilizado pelas empresas na escrituração dos fatos contábeis, conforme determina a lei. TEMA 3 – REGIMES DE ESCRITURAÇÃO: CAIXA O regime de caixa é uma “sistemática de registro contábil que considera apenas os pagamentos e os recebimentos da empresa, de acordo com a data de 9 entrada e de saída dos recursos financeiros – ou seja, somente no ato da movimentação financeira” (Bazzi, 2014, p. 175). Dessa forma, pelo regime de caixa o reconhecimento de despesas e receitas é realizado somente na data do seu pagamento ou recebimento. Esse regime não é aceito pela legislação brasileira, pois, conforme comentado no tema anterior, ele não atende aos princípios contábeis e nem às normas internacionais de contabilidade. De acordo com Marion (2009), embora o regime de caixa não seja aceito oficialmente, pode ser utilizado pelas empresas para contabilidade auxiliar, como valioso instrumento de controle e decisão. Conforme o autor, esse regime consiste basicamente em considerar como receita do exercício aquela que efetivamente foi recebida dentro do período, assim como as despesas, somente aquelas que foram pagas dentro do exercício. Para ficar mais claro o entendimento, imagine que uma determinada empresa faça uma venda de R$ 1.000,00, recebendo R$ 200,00 à vista e o restante dividido em quatro parcelas iguais. Considerando o regime de competência, o registro do fato consideraria como receita o valor total da venda, ou seja, os R$ 1.000,00, mas considerando o regime de caixa, somente seria registrado o valor que efetivamente foi recebido no momento em que entrou dinheiro no caixa, ou seja, os R$ 200,00. O restante do valor somente seria reconhecido quando entrasse dinheiro no caixa, ou seja, quando o cliente fizesse o pagamento das parcelas. 3.1 Motivos da escolha do Regime de Competência para a Escrituração De acordo com o contexto anterior, o regime de caixa não permite o registro de fatos que ainda não ocorreram, ou seja, o registro de entradas e saídas de recursos que ainda não foram efetivados, enquanto o regime de competência faz os registros independentemente de pagamentos e recebimentos. Considerando esse contexto, por qual motivo a legislação e as normas contábeis determinam o regime de competência e não de regime de caixa para a escrituração dos fatos contábeis? Conforme exposto por Padoveze (2016, p. 39): Fundamentalmente, por dois motivos: (1) só o regime de competência identifica o momento da geração do evento econômico; (2) o regime de competência, ao identificar o momento da geração do econômico, automaticamente identifica a geração de um direito ou de uma obrigação, permitindo o controle posterior desses direitos e dessas obrigações no Balanço Patrimonial. 10 Diante do exposto, percebe-se que o uso do regime de competência também visa a evidenciação de informações que são de suma importância para os usuários da informação contábil, pois o regime de caixa não demonstraria as contas relacionadas a pagamentos e recebimentos futuros da entidade, deixandode demonstrar direitos e obrigações da empresa, informações essas que podem impactar na tomada de decisão. Ainda de acordo com Padoveze (2016, p. 31), sobre o motivo da escolha do regime de competência para escrituração: Esse regime é de fundamental importância para o entendimento da apuração do lucro, como os eventos de Despesas e Receitas. Assim, as Despesas e as Receitas devem ser registradas como tais no momento econômico de sua ocorrência, independentemente da data de seu pagamento. Dessa maneira, fica claro que a contabilidade não trabalha com o regime de caixa – o regime financeiro – para a apuração do lucro do período. O lucro sempre será apurado pelo regime de competência. Dessa forma, têm-se também na escolha do regime de competência uma forma de medição de desempenho operacional da entidade, visto que ele possibilita a confrontação de todas as despesas e receitas de um mesmo exercício para a apuração do resultado do período. No entanto, um detalhe deve ser ressaltado nesse contexto: no resultado evidenciado pelo regime de competência, são considerados os valores não recebidos e os valores não pagos, bem como outros valores referentes às contas que não movimentam caixa, o que se pode chamar em contabilidade de accruals. TEMA 4 – CONTEÚDO INFORMACIONAL DOS ACCRUALS O Comitê de Pronunciamentos Contábeis, por meio de seu texto R1 Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro (2011) informa que o regime de competência retrata com propriedade os efeitos de transações e outros eventos e circunstâncias sobre os recursos econômicos e reivindicações da entidade que reporta a informação nos períodos em que ditos efeitos são produzidos, ainda que os recebimentos e pagamentos em caixa derivados ocorram em períodos distintos. Conforme estudado no Tema 3, o regime de caixa não considera valores ainda não pagos e não recebidos, pois o momento financeiro ainda não ocorreu. Por outro lado, o regime de competência considera esses valores, conforme determinado pela legislação. Dessa forma, percebe-se que o uso de um ou de 11 outro regime pode impactar no resultado da empresa. Diante disso, o que seria o lucro para a entidade que reporta essa informação? 4.1 Conceito de lucro Se o regime de caixa reconhece somente recebimentos e pagamentos no momento em que ocorreram, significa dizer que ele não considera as vendas a prazo como receita, assim como não considera as compras a prazo como despesas antes que ocorra a movimentação no caixa. Diante disso, se a empresa faz a escrituração pelo regime de caixa, o que acontece com a conta clientes, com a conta de fornecedores, e com as demais contas que não movimentam recursos? Mais ainda, o que acontece com o resultado do período? Para explicar esse contexto, vamos analisar o trecho a seguir sobre o objetivo de se estabelecer o regime de competência para a escrituração dos fatos contábeis: O objetivo da contabilidade é claro: o que provoca o lucro é o momento econômico da transação, o momento de sua ocorrência. Assim, a questão do prazo para efetivação financeira da transação é vista apenas como um expediente natural em finanças e em economia, para dar maior flexibilidade para os negócios e permitir mais opções para realização das transações. (Padoveze, 2016, p. 31) O que o autor nos traz com esse contexto é que para a contabilidade, o conceito de lucro está relacionado aos fatos ocorridos no momento econômico, ou seja, não importa se a empresa já recebeu todos os valores referentes à venda de seus produtos, mercadorias ou serviços, nem se ela já pagou por todas as suas despesas; mas o que importa mesmo é saber o quanto ela vendeu e o quanto gastou dentro de um determinado período. A confrontação entre as contas de receitas e despesas evidenciam o resultado do exercício, ou, se a empresa tiver um bom desempenho, o lucro. Mas o que seria o lucro propriamente dito, considerando o regime de competência? De acordo com Coelho e Lins (2010, p. 208): A apuração do resultado não se resume a uma mera questão matemática, a uma simples diferença de valores. É fruto de uma série de decisões que implicaram em ações que fizeram o patrimônio variar em quantidade e/ou qualidade. Quando essa variação configura-se positiva, temos o lucro e, quando negativa, o prejuízo. Lucro, é o montante que pode ser consumido sem reduzir o capital. O lucro representa o rendimento atribuído especificamente ao capital investido diretamente por uma empresa. A lucratividade pode ser medida a partir de um conjunto de operações dentro de um prazo de tempo devidamente estabelecido, sendo o lucro o resultado de várias receitas cujo somatório 12 apresenta-se superior ao volume de custos e despesas do mesmo período. Assim, temos o conceito de lucro evidenciando uma questão muito importante dentro da contabilidade, que é a tomada de decisão. Quando os autores mencionam o fato de o lucro ser “uma série de decisões que implicaram em ações que fizeram o patrimônio variar em quantidade e/ou qualidade” está relacionando basicamente às técnicas de mensuração e reconhecimento de itens patrimoniais que devem ser estimados dentro do exercício. Nesse contexto, temos a evidenciação de itens derivados do regime de competência que têm impacto direto no resultado do exercício e, caso a empresa tenha obtido um bom desempenho, em seu lucro. Assim, Takamatsu (2011, p. 18) explica como é formado o lucro (ou resultado) do período. Os lucros são constituídos, basicamente, pelos fluxos de caixa e pelos accruals. Os componentes de fluxos de caixa englobam receitas e despesas que corresponderam a efetivas entradas ou saídas de recursos financeiros no período. Por outro lado, os accruals são ajustes temporários aos fluxos de caixa. No contexto apresentado pela autora supracitada, tem-se a configuração do lucro levando em conta, em primeiro lugar, os fatos evidenciados pelo momento financeiro, ou seja, as entradas e saídas de dinheiro (fluxos de caixa). Por outro lado, a autora menciona os accruals como fatores que também influenciam o resultado do exercício, os quais são conceituados a seguir. 4.2 Conceito de accruals Um fato que deve ser levado em conta na divulgação de informações aos usuários tomadores de decisões é que em decorrência da utilização do regime de competência devemos considerar os accruals, os quais impactam significativamente na evidenciação do resultado. De acordo com Martinez (2008), os accruals representam a diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa operacional líquido da entidade. Para o autor, o conceito representa todas as contas que entram na contabilização do resultado do período, mas que não implicam na movimentação de disponibilidades. A figura a seguir demonstra essa relação: 13 Figura 3 – Evidenciação do resultado pelo regime de competência Fonte: Adaptado de Martinez, 2008 Dessa forma, pode-se considerar como accruals todos os valores referentes a itens que se formaram nas contas patrimoniais e que serão lançados na demonstração de resultados para a evidenciação do resultado do exercício. Nesse entendimento, Takamatsu (2011, p. 8) explica que quando remetente ao balanço patrimonial, os accruals dizem respeito a obrigações de pagamentos e direitos de recebimentos no futuro. Quando empregado à Demonstração de resultado, o mesmo refere-se à parcela do resultado não realizada financeiramente, consequência da adoção do regime de competência. Nesse contexto, os accruals podem ser caracterizados como as contas patrimoniais que dizem respeito a direitos e obrigações da entidade e que tendem a impactar no resultado do exercício em decorrência da escrituração dos fatos pelo regime de competência. Alguns exemplos de contas que podem ser classificadas como accruals em decorrência da apuração de resultado pelo regime de competência: Clientes a receber; Depreciação; Provisões do ativo; Fornecedores; Provisões do passivo. Todas essas contas serão lançadas na demonstração de resultados para a apuração do lucro/ prejuízo do período. No entanto, elas ainda não movimentaram caixa, sendo que contas como a depreciação nem ao menos possuem essa característica, mas devem ser contabilizadas como uma despesa. Dessa forma, devemos considerar que os valores da conta de clientes a receber serão reconhecidos como receita do período, mesmo não tendo movimentado caixa ainda. Do mesmo modo, as provisões, os fornecedores e a depreciação serão lançados como despesas do período, mesmo ainda não tendo Fluxo de Caixa Accruals Resultado Contábil Lucro/Prejuízo 14 sido pagas. Dessa forma, tem-se a configuração dessas contas em accruals quando da apuração do resultado do exercício pelo regime de competência. Pode-se perguntar, então, em relação à apuração do resultado considerando valores que ainda não se realizaram, tanto das despesas quanto das receitas, seria correto fazer essa apuração? A mensuração do resultado a partir dessas contas não fica enviesada? Sobre esse contexto, Martinez (2008) explica que: Nada de errado existe no registro de accruals; na verdade, o intuito é mensurar o lucro no seu sentido econômico, aquele que representa acréscimo efetivo na riqueza patrimonial da unidade econômica, independente da movimentação financeira. A diferença entre a contabilidade pelo regime de caixa e a contabilidade pelo regime de competência reside no aspecto temporal de reconhecimento de receitas e despesas. A longo prazo, os dois sistemas proporcionam o mesmo resultado. Entretanto, no curto prazo, o processo de reconhecimento de receitas e despesas cria diferenças. O regime de competência tende a evidenciar a performance da entidade ao considerar os accruals na mensuração do resultado de um determinado período. Dessa forma, esse regime de escrituração faz com que sejam reportadas informações aos usuários da contabilidade não somente de valores já realizados, tanto na forma de receitas quanto de despesas, mas também de direitos e obrigações que a entidade possui. TEMA 5 – ASPECTOS CONCEITUAIS DO MÉTODO DE PARTIDAS DOBRADAS Conforme visto anteriormente, os regimes de escrituração visam a registrar os fatos contábeis ou administrativos, que atualmente também podem ser conceituados como eventos econômicos. Segundo Padoveze (2016), o registro de eventos econômicos em contas contábeis dá-se por débitos e créditos, sendo que os primeiros aumentam um saldo devedor e diminuem um saldo credor. Por outro lado, segundo o autor, os registros a crédito aumentam um saldo credor e diminuem um saldo devedor. Os conceitos de débito e crédito adotados pela contabilidade tiveram seu início com a divulgação do livro do frei Luca Pacioli, em 1494. De acordo com Favero et al. (2011), a ideia central desse método consiste no fato de que em qualquer operação realizada haverá para cada débito um crédito de igual valor. De modo análogo, Crepaldi (2010, p. 109) explica o funcionamento do método: Em consequência, no método das partidas dobradas, o registro de um fato administrativo exige a movimentação de, no mínimo, duas contas. 15 Por esta razão o somatório dos valores creditados, em todas as contas, a qualquer época, será sempre igual aos valores debitados. O lançamento em duplicidade, de um débito e um crédito, sempre de mesmo valor, dá uma garantia relativa de que estes foram efetuados corretamente. No método das partidas dobradas, o lançamento a débito sempre corresponde à aplicação e o crédito à origem, considerando que o fato administrativo sempre apresenta esta situação. De forma simplificada, poderíamos dizer: o dinheiro sai de um lugar (origem) e vai para outro (aplicação). Nesse entendimento, tem-se a caraterização da origem e aplicação de recursos conforme visto no Tema 2. Assim, conforme o autor supracitado, as contas de origem de recursos são as contas do passivo e patrimônio líquido, e as contas de aplicação de recursos são as contas do ativo. A origem das palavras débito e crédito, conforme Hendriksen e Van Breda (2007), remontam à Renascença, assim como outros termos, como lançamentos de diário, razão, contas, balancetes, balanços e demonstrações de resultados. Foi nesse período da história da contabilidade que surgiu o método das partidas dobradas, tendo todos esses termos surgido basicamente em decorrência do método. Os termos débito e crédito nos remetem a deveres e credores, conforme explicam Hendriksen e Van Breda (2007, p. 41): Dívidas, devedores, debêntures e débitos, por exemplo, são palavras que resultada da base debere, ou dever, cuja contração é dr, nos lançamentos de diário. Créditos vêm da mesma raiz da palavra credo, ou seja, algo em que se acredita, como a profissão de fé cristã enunciada no Credo dos Apóstolos. Também pode referir-se a pessoas nas quais se acredita, como credores – depositamos nelas nossa confiança, emprestando-lhes dinheiro. A origem latina é credere, cuja concentração é cr, nos lançamentos de diário. Nesse contexto, os lançamentos a débito e crédito evidenciam, respectivamente, a origem de recursos, a qual é creditada nos lançamentos; e sua aplicação, na qual o lançamento é realizado a débito, seguindo a metodologia das partidas dobradas, a qual determina que, a cada débito em uma ou mais contas de determinado valor, corresponderá a um crédito de igual valor, em uma ou mais contas. Para realizar os lançamentos, é importante que se tenha conhecimento de cada grupo de contas e sua natureza, pois as contas do ativo possuem natureza distinta das contas do passivo, bem como as contas de resultado possuem suas particularidades em relação às demais contas. Dessa forma, a correta classificação dos itens patrimoniais fará com que o lançamento dos fatos contábeis seja realizado também de forma correta. 16 Conforme já comentado, as contas do ativo possuem natureza devedora, o que significa que o débito aumenta essas contas. Contas retificadoras do ativo possuem natureza credora, o que significa que essas contas diminuem ativo. Por exemplo: na aquisição de um imobilizado, um veículo por exemplo, o valor desse bem será debitado, aumentando a conta do ativo da empresa. Ne medida em que esse bem começar a ser depreciado, a sua depreciação deve ser lançada a crédito, diminuindo o valor da conta do ativo imobilizado, pois é uma conta retificadora. Do mesmo modo são feitos os lançamentos de contas do passivo e patrimônio líquido. As contas do lado direito (passivo e PL) possuem natureza credora, o que significa que para aumentá-las elas devem ser creditadas e para diminuí-las, deve-se debitá-las. As contas retificadoras devem ser debitadas, e, para diminuí-las, deve-se fazer o lançamento a crédito. Para lançamento das contas de resultado, é importante que se saiba: as contas de despesas possuem natureza devedora, ou seja, o débito aumenta essas contas, enquanto as contas de receita possuem natureza credora, ou seja, são aumentadas por meio do crédito. Para ficar mais fácil o entendimento, o quadro a seguir apresenta as contas patrimoniais e de resultado, suas naturezas e o efeito do débito e do crédito sobre elas: Quadro 3 – Contas patrimoniais e de resultado, suas naturezas e o efeito do débito e do crédito sobre elas Grupo de Contas Natureza Débito Crédito Ativo Devedora Aumenta o saldo Diminui o saldo Retificadoras do Ativo Credora Diminui o saldo Aumenta o saldo Passivo Credora Diminui o saldo Aumenta o saldo Patrimônio Líquido Credora Diminui o saldo Aumenta o saldo Retificadoras do Passivo Devedora Aumenta o saldo Diminui o saldo Retificadoras do PL Devedora Aumenta o saldo Diminui o saldo Despesas Devedora Aumenta o saldo Diminui o saldo (estorno) Receita CredoraDiminui o saldo (estorno) Aumenta o saldo Conforme exposto no quadro, quando uma conta possui natureza devedora o lançamento a débito tem como efeito o aumento do saldo dessa conta, e o crédito a diminuição do saldo. Do mesmo modo ocorre com contas que possuem natureza credora, na qual o crédito aumenta o saldo e o débito diminui o saldo. De forma resumida, Padoveze (2016, p. 44) explica que: 17 Saldo devedor é matematicamente inverso a saldo credor; Um lançamento a débito aumenta um saldo devedor; Um lançamento a débito diminui um saldo credor; Um lançamento a crédito aumenta um saldo credor; Um lançamento a crédito diminui um saldo devedor; Um débito é inverso a um crédito. De um modo geral, essa é a lógica do método das partidas dobradas: “no mínimo duas contas são alteradas por um fato contábil. Dessa maneira, desenvolveu-se o hábito de chamar de partida o registro contábil na primeira conta alterada e de contrapartida o registro da segunda conta alterada” (Padoveze, 2016, p. 45). Nesse contexto, tem-se então a lógica das partidas dobradas, na qual a obrigatoriedade das partidas e da contrapartida dão origem ao método. TROCANDO IDEIAS Os registros dos fatos administrativos ou contábeis são também chamados de escrituração contábil, cuja técnica foi divulgada pelo frei Luca Pacioli, em 1.494, com o nome de método das partidas dobradas. Atualmente, o registro desses fatos é realizado utilizando-se o regime de competência, conforme determinado pela n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Com base no que você aprendeu nesta aula, você acha correto que a escrituração contábil seja realizada pelo regime de competência? O que poderia ocorrer se a escrituração fosse feita pelo regime de caixa? Entre no fórum e exponha sua opinião debatendo o assunto com seus colegas. NA PRÁTICA Responda às questões a seguir. (As respostas encontram-se ao final deste documento). 1. Assinale a alternativa que corresponde ao conceito de contas de resultado: a. Evidencia o patrimônio da entidade e é demonstrado pelo balanço patrimonial. b. Representa o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma entidade. c. Representam basicamente as receitas, custos e despesas incorridos num determinado período pela empresa. 18 d. São a origem de recursos de uma entidade, cujas contas possuem natureza credora. e. São a aplicação de recursos de uma entidade, cujas contas possuem natureza devedora. 2. Considerando que os fatos contábeis têm sempre dois momentos de ocorrência, assinale a alternativa correta: a. Numa venda a prazo, o momento econômico é a data do recebimento. b. Numa venda à vista, o momento econômico e o momento financeiro ocorrem ao mesmo tempo. c. Numa compra a prazo, a data da compra representa o momento financeiro. d. Numa compra à vista, o momento financeiro não ocorre na data da compra. e. Numa venda a prazo, o momento financeiro é a data da venda. 3. Sobre o regime de caixa, analise as assertivas a seguir: I. O reconhecimento de despesas e receitas é realizado somente na data do seu pagamento ou recebimento. II. Considera como despesa do exercício aquela que efetivamente foi paga dentro do período. III. No resultado evidenciado pelo regime de caixa, tem-se a incidência de accruals. IV. Considera como receita do exercício aquela que efetivamente foi recebida dentro do período. V. Esse regime não é aceito pela legislação brasileira. Assinale a alternativa correta: a. Está correto somente o que se afirma em I, II e V apenas b. Está correto somente o que se afirma em I, II, IV e V apenas c. Está correto somente o que se afirma em I, III, IV e V apenas d. Está correto somente o que se afirma em II, III e IV apenas e. Todas as assertivas estão corretas 4. De acordo com o CPC_00_R1 o regime de competência retrata com propriedade os efeitos de transações e outros eventos e circunstâncias sobre os recursos econômicos e reivindicações da entidade que reporta a informação nos períodos em que ditos efeitos são produzidos, ainda que os recebimentos e pagamentos em caixa derivados ocorram em períodos distintos. Assinale a alternativa que apresenta o item ao qual nos remete o contexto dado pelo CPC: a. Escrituração contábil. b. Contas de resultado. c. Contas patrimoniais. d. Método das partidas dobradas. 19 e. Accruals. 5. Considerando o método das partidas dobradas, assinale a alternativa falsa: a. As contas do ativo são aumentadas pelo débito. b. As contas do passivo são de natureza credora. c. O crédito aumenta o saldo das contas do patrimônio líquido. d. Contas de despesas possuem natureza credora. e. Contas retificadoras do ativo têm seu saldo diminuído por meio do débito. FINALIZANDO Nesta aula estudamos sobre as contas de resultado e sobre os regimes de escrituração. Vimos que o regime de competência é aceito pela legislação e por qual motivo o regime de caixa não o é. Também estudamos sobre os accruals e sobre o método das partidas dobradas. Os temas tratados foram: 1. Classificação de Contas de Resultado; 2. Regimes de escrituração: Competência; 3. Regimes de escrituração: Caixa; 4. Conteúdo informacional dos Accruals; 5. Aspectos conceituais do Método de Partidas Dobradas. 20 REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. M. P. de; ASSAF NETO, A. Aprendendo contabilidade. Ribeirão Preto, SP: Inside Books, 2010. BAZZI, S. Contabilidade em ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;j sessionid=BDBD12BEEB881EFFB91708785938E72D.proposicoesWeb1?codteor =131065&filename=LegislacaoCitada+-PL+896/2003>. Acesso em: 20 maio 2019. COELHO, C. U. F.; LINS, L. dos S. Teoria da contabilidade: abordagem contextual, histórica e gerencial. São Paulo: Atlas, 2010. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Comitê de Pronunciamentos Contábeis, 15 dez. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 20 maio 2019. CREPALDI, S. A. Curso básico de contabilidade: resumo da teoria, atendendo às novas demandas da gestão empresarial, exercícios e questões com resposta. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. FAVERO, H. L. et al. Contabilidade: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 13. ed. rev. ampl. e atual. com as seguintes posições dos Pronunciamentos e Interpretações Técnicas do CPC. Niterói, RJ: Impetus, 2013. HENDRIKSEN, E. S.; BREDA, M. F. V. Teoria da contabilidade. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MARION, J. C. Introdução à contabilidade: com ênfase em teoria. Campinas, SP: Alínea, 2009. MARTINEZ, A. L. Detectando earnings management no Brasil: estimando os accruals discricionários. R. Cont. Fin., USP, São Paulo, v. 19, n. 46, p. 7–17. Janeiro/abril 2008. 21 PADOVEZE, C. L. Contabilidade geral. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2016. TAKAMATSU, R. T. Accruals contábeis, persistência dos lucros e retorno das ações. 106 p. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade) – Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. 22 RESPOSTAS 1. c. 2. b. 3. b. 4. e. 5. d.
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