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APOSTILA SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA UNIFATECIE

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Sistema Único de 
Segurança Pública
Professora Ma. Josiane Pilau Bornia
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do site Shutterstock.
AUTORA
Professora Mestre Josiane Pilau Bornia
INFORMAÇÕES RELEVANTES:
● Mestre em Direito Penal pela Universidade Estadual de Maringá (UEM)
● Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Maringaá (UEM)
● Especialista pela Escola Superior do Ministério Público e pela Escola da Magis-
tratura do Paraná
● Curso de metodologia em ensino superior pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná
● Docente no curso de Direito da UniFCV
● Docente em pós-graduação na UNIVEL Centro Universitário
● Docente em pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná
● Docente em pós-graduação na Universidade Estadual de Ponta Grossa
● Autora do livro DISCRIMINAÇÃO, PRECONCEITO E DIREITO PENAL
● Ex-membro do Conselho da Comunidade na Comarca de Maringá
● Link do Currículo na Plataforma Lattes. http://lattes.cnpq.br/8440890167883956
#CURRÍCULO LATTES#
Atua há mais de vinte anos ministrando aulas no ensino superior, com dedicação 
exclusiva para a pesquisa científica, possuindo vários artigos publicados, tendo sido bolsis-
ta da CAPES. 
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Prezados(as) alunos (as)!
Você está recebendo a apostila com o tema SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA 
PÚBLICA, matéria extremamente profícua e de poucas abordagens. Daí se demonstrar a 
importância do presente material que se propõe a descortinar com seriedade acadêmica os 
conceitos e delimitações do assunto, sem descurar de uma análise acessível.
Na unidade I conheceremos o conceito de Estado, os elementos que o compõem 
e os princípios que o regem. Seguindo a estrutura da Constituição Federal, destacar-se-á a 
organização do Estado, com a prevalência da tutela dos direitos fundamentais e previsão dos 
Poderes Constitucionais. Esta unidade é relevante para explorar que num Estado democrático 
de Direito existe a primazia da lei que mesmo em tempos de anormalidade será respeitada.
Já na unidade II delinearemos o Estado de Defesa que é um mecanismo a ser 
decretado como garantia da ordem pública ou a paz social diante de uma instabilidade ins-
titucional ou calamidade pública. Nesse sentido, destacaremos o conceito, características, 
quem pode decretar e os controles político e judicial.
Na sequência, na unidade III analisaremos o Estado de Sítio com suas nuances 
próprias e diferenças do Estado de Defesa. Aprofundaremos quanto ao conceito, limites, 
atribuições da autoridade que solicita e restrições passíveis de existirem diante de uma 
legalidade extraordinária.
Em nossa unidade IV finalizaremos o conteúdo dessa disciplina com as Forças 
Armadas e a Segurança Pública. Quanto às Forças Armadas indicaremos as forças que a 
constituem, natureza jurídica, características e situações que ensejam a sua atuação. Por sua 
vez, quanto à Segurança Pública a ênfase será demonstrar que é dever do Estado e direito 
e responsabilidade de todos, bem como quais os órgãos que a compõem e suas atribuições.
Desejo uma leitura frugal e que acarrete, além de uma verticalização quanto ao 
tema, o engrandecimento profissional. 
Muito obrigada e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 6
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
UNIDADE II ..................................................................................................... 37
Estado de Defesa
UNIDADE III .................................................................................................... 69
Estado de Sítio
UNIDADE IV .................................................................................................... 97
Forças Armadas e Segurança Pública
Plano de Estudo:
● Conceitos e classificação de Estado;
● Finalidades da Defesa do Estado e das instituições democráticas;
● Breve histórico da Defesa do Estado e das instituições democráticas nas Constituições
brasileiras;
● Princípios da Defesa do Estado e das instituições democráticas.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e classificar o Estado;
● Identificar a Defesa do Estado e das Instituições Democráticas;
● Definir as finalidades das medidas;
● Destacar os princípios norteadores.
UNIDADE I
Defesa do Estado e das Instituições 
Democráticas
Professora Ma. Josiane Pilau Bornia
6
INTRODUÇÃO 
Saudações caro aluno (a) 
É uma satisfação poder compartilhar o presente estudo que tem como objetivo 
apresentar as nuances do Estado brasileiro. 
A abordagem está composta de quatro tópicos que foram separados para garantir 
maior compreensão quanto ao assunto, o que não significa que não exista uma 
imbricação entre eles. 
No primeiro tópico, houve a necessidade de definir e classificar a República 
Federativa do Brasil, demonstrando a sua formação e características. Destaca-se que o 
Estado Democrático de Direito tem como fundamentos: a soberania, a cidadania, a 
dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e, por 
fim, o pluralismo político. Além da análise dos autores que tratam do assunto, fez-se 
referência à previsão constitucional e legal quanto ao assunto. 
No segundo tópico, incursionou-se quanto às medidas de defesa do Estado e das 
instituições democráticas. Oportunizando esclarecer que o Estado, de matriz 
democrática, precisa prever mecanismos em situações de anormalidade, conhecidas 
como sistema constitucional de crises. 
O terceiro tópico traz uma breve análise histórica da defesa do Estado e das 
Instituições democráticas nas Constituições brasileiras. 
Por fim, o quarto tópico elenca os princípios que norteiam um sistema 
constitucional de crises, demonstrando que nos momentos de instabilidade jurídica e 
política, o Estado não pode descurar das bases legais que o norteia. 
Bons estudos! 
7
1 DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 
1. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DE ESTADO
1.1. Conceito de Estado 
A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito, 
consagrando que o Estado é regido por um sistema de normas jurídicas dispostas 
hierarquicamente, isto é, o Estado está submetido às leis criadas por uma dos poderes 
que pertence ao próprio Estado. 
Acura-se que o Estado “é uma realidade cultural constituída historicamente em 
virtude
da própria natureza social do homem, que encontra a sua integração no 
ordenamento jurídico” (MALUF, 2018, online). 
 Dentre os Poderes presentes no Estado, está o Legislativo cuja função peculiar é 
a criação de normas legais que irão compor o Direito Positivo. Nesse conjunto de normas 
8
vigentes encontram-se uma ordenação em normas superiores e inferiores assumindo a 
forma piramidal, estando no ápice a Constituição Federal. 
Nesse contexto, as normas constitucionais têm primazia no ordenamento jurídico, 
sendo consideradas a fonte primária do Direito vigente, as demais normas, ditas 
infraconstitucionais, radica o seu fundamento de validade na Constituição, não se 
admitindo que referidas normas estejam em contradição com as normas constitucionais. 
Caso desrespeitem os ditames constitucionais serão consideradas inconstitucionais. 
Além do império da lei existente num Estado de Direito, existe o qualificativo 
democrático que sinaliza que as leis aplicadas são provenientes dos representantes do 
povo que elegeu os parlamentares que compõem o Poder Legislativo. 
As normas constitucionais têm a incumbência de organizar o Estado e estabelecer 
medidas destinadas à sua defesa e de suas instituições. O chamado direito constitucional 
de crise ou legalidade especial visa estabelecer os limites e garantias das medidas 
excepcionais, inclusive ferramentas que restabeleçam a normalidade (MONTI, 2018, p. 
29). 
Define-se o sistema constitucional das crises como uma reunião de normas 
constitucionais que informadas pelos princípios da necessidade, adequação e 
proporcionalidade, se prestam manter ou restabelecer a normalidade constitucional. 
Também chamado estado de exceção esclarece Thais Novaes Cavalcanti (2017, 
p. 03):
É um ato unilateral, em que o soberano atua em favor da ordem jurídica, 
interferindo diretamente no direito e na vida das pessoas. Há um limiar de atuação 
do Estado neste sentido e, por isso, pode ser associado a práticas totalitárias do 
soberano. No entanto, há também a percepção da sua utilização como 
mecanismo de defesa e conservação do próprio Estado, como direito potestativo, 
garantido pelo direito para manutenção da própria ordem social e soberania do 
Estado. 
Em tempos pretéritos tivemos estado de exceção durante a ditadura de Floriano 
Peixoto após a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca, no Estado Novo utilizado por 
Getúlio Vargas e nas intervenções militares de 1964 e 1968. 
9
 O estado de exceção nas constituições promulgadas tem por finalidade “a 
retomada do equilíbrio constitucional e normativo para se restabelecer o Estado de 
Direito” (CAVALCANTI, 2017, p. 03). 
 Assim, na organização do Estado Democrático de Direito o qual prevê as situações 
de crises, fica estabelecido o sistema constitucional das crises ou a chamada legalidade 
especial (DANTAS, 1989, p. 23). 
 O sistema de legalidade especial está baseado no conceito jurídico 
contemporâneo de crise que leva diretamente à ideia de necessidade de manutenção do 
Estado que significa o poder de transgredir o direito pelo interesse público (MONTI, 2018, 
p. 20). 
Antes de continuar falando sobre um estado de anormalidade, onde reina uma 
legalidade especial, calha conhecer a organização e princípios do Estado brasileiro. 
Nesse sentido, vários são os conceitos de Estado, entende-se que “é uma forma 
específica de sociedade política, organizada mediante regras e dotada de poder superior 
sobre os seus membros” (RANIERI, 2019, p. 18). “Estado é uma associação humana 
(povo), radicada em base espacial (território) que vive sob o comando de uma autoridade 
(poder) não sujeita a qualquer outra (soberania)” (FERREIRA FILHO, 2008, p. 49). 
Extrai-se que todo Estado necessariamente deve ter um povo que se localiza em 
determinado território e possui poder soberano para determinar os rumos de uma nação. 
É indispensável num Estado um poder político de comando que se apresenta através 
da soberania. Essa no plano interno, “é sinônimo de supremacia, que tem como 
consequência (...) a exclusividade da imposição de suas regulações” (CANOTILHO apud 
MARTINS, 2020, online). 
Oportuna a explicação de Sylvio Motta (2006, p. 217): 
 
O poder constituinte, que é quem verdadeiramente manda, institui a Constituição 
que cria e manda no Estado, que organiza e manda na Administração, que 
obedece a todos os seus superiores: o povo (titular do poder) a Constituição e o 
Estado. É na Constituição que o titular do poder determina como quer que seja o 
Estado e a sociedade. Esta é uma decisão de poder, por isso que se chama a 
Constituição de decisão política fundamental suprema. A Constituição é um 
contrato da sociedade entre si e com o Estado que é por ela criado. (grifo 
nosso) 
10
 
 Como é relevante não perder de vista, a norma constitucional vestibular que com 
maestria ecoa: todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (artigo 1º, parágrafo único, 
Constituição Federal). 
 Tem-se a democracia representativa que é alçada ao status constitucional a partir 
da Revolução Francesa. A indagação que se faz é: os representantes eleitos seriam 
mandatários ou comissários do povo? Como mandatários do povo, os representantes 
eleitos atuariam em nome próprio e com ampla autonomia. Já como comissários, os 
representantes seriam agentes da vontade popular (GÓES & MELLO, 2018, p. 240). 
 De maneira paralela, entende-se que “a democracia direta é a melhor forma de os 
cidadãos participarem da organização e da política geral do Estado em todos os campos 
do poder nacional (político, econômico, militar e social” (GÓES & MELLO, 2018, p. 238). 
Inclusive, poderia se exercitar a democracia direta, num futuro próximo, com uso de 
tecnologias que permitissem deliberações sobre certos assuntos pelo próprio povo. 
Nesse contexto, defender o Estado significa a proteção de sua soberania e 
independência, bem como a defesa do território e do povo. 
A defesa do território ocorre contra invasões estrangeiras, mediante a fiscalização 
das fronteiras exercida pelas Forças Armadas e pela Polícia Federal. O Decreto 
presidencial nº 8.903/16, criou o “Programa de Proteção Integrada de Fronteiras” que 
conta com a “atuação integrada e coordenada dos órgãos de segurança pública, dos 
órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da 
Fazenda e do Estado-Maior conjunto das Forças Armadas” (artigo 2º, inciso I). 
A Polícia Federal (artigo 144, parágrafo 1º, inciso I da Constituição Federal) 
destina-se a: 
Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de 
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e 
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão 
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser 
em lei. 
 
 
11
 
A Lei Complementar nº 97/99, no artigo 16-A determina que: 
 
Cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, também como 
atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias 
judiciárias, atuar, por meio de ações preventiva e repressiva, na faixa de fronteira 
terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da 
propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra 
delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com 
outros órgãos do Poder Executivo. 
 
 Além da defesa do território, que é a representação física do Estado, faz-se 
imperiosa a defesa do regime de governo e do Estado de Direito, assim cabe a Polícia 
Federal investigar crimes contra a segurança nacional (artigo 16 da Lei 7.170/83), com 
o objetivo de mudança no Estado com emprego de violência ou grave ameaça. 
 A defesa do povo, quanto à incolumidade das pessoas e do patrimônio mereceu o 
Capítulo III da Constituição
Federal para sua tutela. Sob o Título Defesa das Instituições 
Democráticas aproxima-se a proteção de institutos de titularidade do povo, como o voto 
popular, a ação popular, a iniciativa popular para elaboração de projetos de lei, controle 
social de órgãos públicos (MARTINS, 2020). 
 
1.2. Classificação de Estado 
 
Quanto à classificação do Estado, há três aspectos: forma de governo (República 
ou Monarquia), sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) e forma de 
Estado (Estado unitário ou Federação). 
O artigo 2º do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias determina que “no 
dia sete de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma 
(república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou 
presidencialismo) que devem vigorar no País”. Exemplo de democracia direta, decidiu o 
povo através do plebiscito que o Brasil assumisse a forma republicana de governo e o 
sistema presidencialista de governo. 
12
 Quanto à forma Federativa de Estado, tem sua origem nos Estados Unidos em 1787. 
As 13 colônias britânicas da América que eram soberanas e independentes, aglutinaram-
se em único Estado soberano, ou seja, cederam parcelas de soberania para criar o 
Estado, desta forma, houve um movimento centrípeto, de fora para dentro (LENZA, 2013, 
p. 447). 
Diferentemente, foi a formação do Estado no Brasil, aqui existiu o movimento 
centrífugo, o Estado unitário centralizado, fragmentou a sua soberania para atribuir 
parcelas de poderes ditos autônomos. É um federalismo por desagregação, “a federação 
surge a partir de um determinado Estado unitário que resolve descentralizar-se” (LENZA, 
2013, p. 448). 
Num Estado Federal, existe a distribuição de poder político no território de modo que 
coexistem níveis de poder autônomo no âmbito de um mesmo Estado, ou seja, o ente 
central e os entes locais. 
A soberania é um atributo do Estado Federal como um todo enquanto os Estados-
membros possuem a autonomia. 
Explica Gilmar Ferreira Mendes (2014, p. 802): 
 
A autonomia importa, necessariamente, descentralização do poder. Essa 
descentralização não é apenas administrativa, como, também, política. Os 
Estados-membros não apenas podem, por suas próprias autoridades, executar 
leis, como também é-lhes reconhecido elaborá-las. Isso resulta em que se 
perceba no Estado Federal uma dúplice esfera de poder normativo sobre um 
mesmo território e sobre as pessoas que nele se encontram, há incidência de 
duas ordens legais: a da União e a do Estado-membro. 
 
A coexistência da soberania e autonomia no Estado Federal propicia o equilíbrio 
de dois fins principais: a garantia da unidade nacional e a preservação da diversidade 
própria das localidades (BARCELLOS, 2020). 
 A unidade nacional é tutelada pelas regras constitucionais que expressam a 
intervenção da União nos Estados e no Distrito Federal para manter a integridade 
nacional, repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra, pôr 
termo a grave comprometimento da ordem pública, garantir o livre exercício de qualquer 
dos Poderes (artigo 34, Constituição Federal). 
13
 Já a diversidade local, está presente na Constituição Federal através das 
competências de cada ente federativo, que corresponde aos limites de sua autonomia. 
 Importante salientar que não existe hierarquia entre os entes que compõem a 
Federação, todos estão sob a égide da Constituição conforme os parâmetros de 
autonomia estabelecidos. 
Num panorama amplo, pode-se caracterizar o Estado brasileiro como uma 
descentralização política refletida na autonomia dos entes da federação, que possuem 
competências legislativas partilhadas expressamente pela Constituição, levando a 
constata-se de uma Constituição rígida que tem a virtude de garantir uma estabilidade 
institucional. “O processo interventivo surge como instrumento para assegurar o equilíbrio 
federativo e, assim, a manutenção da Federação” (LENZA, 2013, p. 451). 
 Os artigos 1º e 18 da Constituição Federal destacam as entidades que integram a 
estrutura federativa do Brasil que são a União, Estados-membros, Municípios e o Distrito 
Federal. 
 Interessante notar que a Constituição possui três ordens e não duas, como é 
normal no Estado federal. “Em primeiro lugar, a ordem central – a União- em segundo 
lugar, ordens regionais- os Estados- em terceiro lugar, ordens locais- os municípios” 
(FERREIRA FILHO, 2008, p. 60). 
 
Traz o art. 29, por sua vez, um considerável acréscimo de institucionalização, em 
apoio à concretude do novo modelo federativo estabelecido pelo art. 18, visto que 
determina seja o município regido por lei orgânica, com quorum qualificado de 
dois terços dos membros da Câmara Municipal – requisito formal que faz daquele 
estatuto um diploma dotado de grau de rigidez análogo ao que possuem as cartas 
constitucionais. (BONAVIDES, 2008, p. 345). 
 
 Entendendo melhor, percebe-se que a Carta Maior organiza os Estados e os 
Municípios e impõe o respeito aos princípios constitucionais estabelecidos no artigo 34, 
VII da Constituição Federal: a) forma republicana, sistema representativo e regime 
democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de 
contas da administração pública, direta ou indireta; e) aplicação do mínimo exigido da 
receita resultante de impostos estaduais, compreendidas a proveniente de 
14
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços 
públicos de saúde. 
 Visto a estrutura e organização, importa destacar o lastro do Estado, desta forma, 
o artigo 1º da Constituição Federal elenca que a República Federativa do Brasil tem os 
seguintes fundamentos: a soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores 
sociais do trabalho e da livre-iniciativa e o pluralismo político. 
O fundamento de um Estado é a sua base e principal apoio, isto é, destacar que 
na criação e aplicação das normas jurídicas serviram de interpretação do Direito vigente. 
 Seguindo nessa mesma toada, a Carta Magna no artigo 3º declina os objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e 
solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicara pobreza e a marginalização e 
reduzir as desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem preconceitos 
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 Vislumbra-se a coerência do Poder Constituinte Originário que inaugura a Carta 
Política disciplinando os fundamentos do Estado e apontando as suas finalidades. 
 Na sequência, elenca os princípios que regem a República Federativa do Brasil 
nas suas relações internacionais, quais sejam: independência nacional, prevalência dos 
direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os 
Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao 
racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de 
asilo político (artigo 6º da Constituição Federal). 
 Delineado o Estado quanto a sua nomenclatura, elementos, forma de Estado, 
sistema de governo, forma de governo, fundamentos, objetivos e princípios, passa a 
tutela constitucional a elencar os direitos e garantias fundamentais. 
 Essa proteção constitucional direciona-se aos sujeitos que integram o povo que 
compõem o Estado brasileiro, além dos direitos fundamentais esparge a previsão para 
os direitos sociais. 
 Há diferença entre os direitos fundamentais e os direitos humanos, aquele “é 
extremamente variável no tempo e no espaço, ou seja, altera-se profundamente 
conforme a sociedade dentro da qual o conceito seja formulado e o momento histórico” 
15
(MOTTA, 2019, p. 169). Os direitos humanos são os ínsitos à natureza humana, direitos 
que independem de previsão em lei nacional ou internacional. 
 Segundo Flávia Piovesan
(2015, p. 45), os direitos humanos são paradigma e 
referencial ético a orientar a ordem internacional, no instante em que os seres humanos 
se tornam supérfluos e descartáveis, quando vige a lógica da destruição e o valor da 
pessoa humana é mitigado, torna-se imprescindível a reconstrução desses direitos. 
 Os direitos fundamentais são classificados em gerações (BONAVIDES, 2008, p. 
593): 
a) Primeira geração corresponde aos direitos civis e políticos e têm como fundamento 
o princípio da liberdade; 
b) Segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais e têm por base o 
princípio da igualdade; 
c) Terceira geração são os direitos ligados ao desenvolvimento, à paz, ao meio 
ambiente, têm como lastro o ideal de fraternidade; 
d) Quarta geração são os direitos à democracia, à informação e ao pluralismo, 
concretizados na máxima da universalidade; 
e) Quinta geração o direito à paz como supremo direito da Humanidade. 
Os direitos fundamentais estão alocados principalmente no artigo 5º da 
Constituição, pode-se citar o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à 
propriedade, entre outros. 
São direitos ditos inalienáveis e indisponíveis, nesse sentido, “o direito à 
integridade física é inalienável, o indivíduo não pode vender uma parte do seu corpo ou 
uma função vital, nem tampouco se mutilar voluntariamente” (MENDES, 2014, p. 145). 
Quanto à indisponibilidade dos direitos fundamentais, sabe-se que não se pode 
abrir mão desses direitos, contudo é possível restrição de exercício tendo-se em vista 
uma finalidade. 
 Calha reportar o direito de defesa que está umbilicalmente ligado aos direitos de 
liberdade. “Esses direitos objetivam a limitação da ação do Estado. Destinam-se a evitar 
ingerência do Estado sobre bens protegidos (liberdade, propriedade...) e fundamentam 
16
pretensão de reparo pelas agressões eventualmente consumadas” (MENDES, 2014, p. 
157 - 158). 
 Os direitos fundamentais estão concentrados no artigo 5º da Constituição Federal 
que sinaliza “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em 
virtude de lei (inciso II), “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano 
ou degradante” (inciso III), “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o 
anonimato” (inciso IV), “é inviolável a liberdade de consciência e crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos” (inciso V), “é livre a expressão da 
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de 
censura ou licença” (inciso IX), “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas” (inciso X), entre outros. 
 Não se pode confundir os direitos que têm como finalidade um bem específico da 
pessoa com as garantias que são instrumentos que viabilizam a concretude do direito. 
Em outros termos, existe o direito à liberdade que quando ameaçada ou cerceada 
possibilita a impetração do habeas corpus . Esta é uma garantia do direito de liberdade. 
 Reprise que “a garantia constitucional é uma garantia que disciplina e tutela o 
exercício dos direitos fundamentais, ao mesmo passo que rege, com proteção adequada, 
nos limites da Constituição, o funcionamento de todas as instituições existentes no 
Estado” (BONAVIDES, 2008, p. 537). 
 Há diferença entre garantia constitucional e garantia institucional. Esta exerce a 
função de proteção de bens jurídicos indispensáveis a certos valores considerados 
essenciais (MENDES, 2014, p. 169) 
Por fim, o artigo 2º da Carta Magna expressa que “são poderes da União, 
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 
Nesse contexto, Francis Hamon explica: 
 
O Estado exerce ou deve exercer três atividades: ele faz a lei, ele executa e ele 
decide os litígios. Ele tem, portanto, três funções: legislativa, executiva e 
jurisdicional. (...) Essa especialização significa que cada uma das autoridades 
deverá exercer uma função, e que ela só deverá exercer uma delas, mas exercê-
la inteiramente. Em contrapartida, ela não deverá interferir de modo algum em 
outras funções (HOMAN, 2005, p. 88) . 
 . 
17
 Os poderes possuem funções típicas e atípicas. A função típica de cada poder 
demonstra o seu limite de atuação, demonstrando a especialização e preponderância 
quanto a suas atividades. 
Entretanto, visando evitar abusos em cada poder foi previsto o sistema de freios e 
contrapesos. 
O ideal é que os Poderes atuem em conjunto e harmonicamente, a bem da 
sociedade. A independência dos Poderes deve ser assegurada para que possa 
ser satisfatório o sistema de freios e contrapesos. Essa independência se 
manifesta primeiro através da consciência e do espírito público do agente político, 
da administração de cada Poder por si próprio e, de modo cabal, pela autonomia 
orçamentária (MOTTA FILHO, 2006, p. 380). 
 
 Esses poderes devem sempre considerar os ditames constitucionais quanto a sua 
atuação pois a Constituição Federal é o arcabouço de validade da ordem jurídica que 
forma o Direito Positivo. Ela atribui unidade ao ordenamento jurídico do Estado Federal 
compatibilizando com as regras jurídicas emanadas dos Estados-membros e dos 
Municípios. “A Federação gira em torno da Constituição Federal, que é o seu fundamento 
jurídico e instrumento regulador” (MENDES, 2014, p. 802). 
 Como disse outrora, essa mesma Constituição que estrutura e organiza o Estado, 
que declina direitos fundamentais, possui mecanismos de conservação que sob o título 
V- Da defesa do Estado e das Instituições democráticas (artigos 136 a 144 da 
Constituição Federal) expressa medidas excepcionais de suspensão da normalidade 
constitucional para dirimir controvérsias específicas por tempo determinado. É o Estado 
de Exceção ou sistema constitucional das crises. 
 O citado título inclui no capítulo I- Do Estado de Defesa e do Estado de Sítio, sendo 
na seção I trata detidamente sobre o Estado de Defesa (artigo 136 da Constituição) e na 
seção II do Estado de Sítio (artigos 137 a 139 da Constituição Federal) e seção III finaliza 
com disposições gerais quanto a ambos institutos. 
 O capítulo II do título V prevê Forças Armadas que “destinam-se à defesa da 
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e (...) da lei e da ordem” (artigo 142 da 
Constituição Federal). 
 O capítulo III do mesmo título insere a Segurança Pública como “dever do Estado, 
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e 
da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (artigo 144 e seguintes da Constituição 
Federal). 
 
 
 
18
2 FINALIDADES DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES 
DEMOCRÁTICAS 
 
 
 
FINALIDADES DAS MEDIDAS 
 
A legalidade estampada pela República Federativa do Brasil em tempos de 
normalidade justifica e fundamenta as condutas dos cidadãos e pontua a higidez estatal 
quanto a estrutura, princípios e poderes. 
Ocorre que essa normalidade em alguns momentos históricos, causou a ameaça 
à estabilidade e permanência do Estado e da ordem jurídica por um sistema 
constitucional de crises, compulsionando a Carta Política de 1988 a reagir em face de 
ideologias autoritárias. 
Os direitos fundamentais impõem rigorosas limitações ao poder estatal. Essas 
limitações são preservadas em tempo normalidade, pois quando existe uma crise, a ação 
governamental necessita de maior amplitude para coibir os inimigos externos. As crises 
que rompem a normalidade, são previsíveis (FERREIRA FILHO, 2008, p. 334). 
19
 
A experiência histórica ensina que todos os povos (...), passam por momentos de 
agitação, de desordem, de insubmissão, que não podem ser sufocados pelas 
medidas ordinárias de polícia, que não podem ser extintos dentro do respeito 
absoluto às garantias dos direitos fundamentais (FERREIRA FILHO, 2008, p. 
334). 
 
O tratamento ímpar expresso na Constituição para situações especiais
é uma 
resposta jurídico-institucional para evitar a exceção à própria Constituição (MENDES et 
al., 2017, online). “A Constituição consegue atravessar situações de crise grave sem ser 
abandonada (...), essa é a prova de sua estabilidade (...) tem força normativa suficiente 
para regular não apenas a normalidade, mas também a exceção” (MENDES et al., 2017, 
online). 
O cuidado da Constituição com sua estabilidade ocorre por momentos históricos 
em que crises graves romperam a ordem constitucional sendo abandonada a 
Constituição e implantação de ditaduras qualificadas como arbitrárias. 
Segundo Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros (2020, p. 64), que cita Giorgio 
Agamben, “a exceção é uma espécie de exclusão (...) um caso singular que se encontra 
forma na norma geral”. Pontualiza que a situação excepcional está incluída no 
ordenamento jurídico justamente porque não pertence a ele. 
Entende a doutrina que o estado inconstitucional de crise está mais ligado com um 
aspecto político que jurídico, pois nos períodos de crise política, soberanos fazem uso do 
estado emergencial para justificar a desqualificação constitucional. 
Exemplo disso foi no Brasil, perante a Constituição de 1967 e a Emenda 
Constitucional de 1969 provou-se o amargor de uma ditadura militar (1964 - 1985), que 
caracterizou um sistema de crise. 
A Constituição de 1967, no artigo 152, parágrafo 3º ditava que “a fim de preservar 
a integridade e a independência do País, o livre funcionamento dos Poderes e a prática 
das instituições, quando gravemente ameaçados por fatores de subversão ou corrupção”, 
caberia ao Presidente da República, com a apreciação do Congresso Nacional editar lei 
regulamentar que dispusesse e autorizasse medidas para conter uma possível ruptura 
das instituições. 
A emenda do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, possibilitou a 
decretação do estado de sítio sem aprovação do Congresso Nacional. A emenda 
20
Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, sem seu artigo 182 ratificou que 
“continuam em vigor o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, e os demais 
Atos posteriormente baixados”, equivaleu a suspensão parcial da Constituição, 
implantando um estado extraordinário. 
 Nesses regimes totalitários há restrição dos direitos individuais em prol do 
interesse público, referido interesse sem respaldo com vontade popular. Atualmente, não 
é mais aceitável a restrição aos direitos fundamentais com base somente no interesse 
público (MOREIRA, 2009, p. 90). 
A tensão existe entre a supremacia do interesse público e a restrição dos direitos 
fundamentais deve ser pautada nos objetivos da Constituição. 
Eduardo Ribeiro Moreira (2009, p. 90) completa dizendo: 
Tipos abertos como ordem pública e interesse público têm estar condicionados e 
preenchidos por um legítimo e razoável interesse constitucional para serem 
aplicados, bem como as políticas públicas devem estar vinculadas à Constituição. 
Não se admite mais uma decisão política ou jurídica que se fundamente 
meramente no interesse público se esse não estiver condicionado a um princípio 
constitucional. 
Calha nesse momento citar realidades internacionais que diante de um sistema 
de emergência afetaram em maior ou menor grau os direitos humanos: 
a) Países do sistema jurídico ocidental consolidado (EUA, Canadá, Europa
Ocidental e Japão), nesses as medidas de emergência são aplicadas mediante
as exigências formais de Direito constitucional e internacional, apresentando
violações graves de direitos humanos;
b) Países onde há uma consciência jurídica ocidental, porém, os meios
institucionais para a resolução pacífica dos conflitos não estão consolidado
(América Latina, Caribe, Israel, África do Sul, Índia), as medidas de emergência
estão ou estiveram em vigor, por longo período, com violações de direitos
humanos;
c) Países com tradições culturais diferentes dos sistemas constitucionais do
Direito Ocidental (sistema jurídico africano e islâmico), apresentam o maior
número de violações sistemáticas e generalizadas de direitos humanos;
21
d) Países do sistema jurídico do socialismo onde existe uma regulamentação 
dissuasiva e aparelho repressivo com eficiência generalizada como garantia 
das medidas de emergência (SALMOL apud CARDOSO, 2011, online). 
As convenções internacionais sobre direitos humanos como nas diversas 
Constituições nacionais admitem que, em estado de emergência, seja feita uma 
diferenciação entre os direitos fundamentais, criando-se as categorias dos direitos 
suspendidos e dos direitos irrevogáveis (LOPES, 2001, online). 
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos de San José de Costa Rica, no 
art. 27.1 diz: 
Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a 
independência ou segurança do Estado Parte, este poderá adotar disposições 
que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, 
suspendem as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que 
tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe 
impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em 
motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. 
 
 O artigo 27.2 dessa Convenção lista expressamente um núcleo básico intangível 
de direitos irrevogáveis cuja a suspensão não pode ocorrer mesmo em situação de 
emergência, são eles: direito ao reconhecimento da personalidade jurídica, direito à vida, 
direito à integridade pessoal, proibição da escravidão e servidão, proteção da família, 
direito ao nome, direitos da criança, direito à nacionalidade, direitos políticos, bem como 
as garantias indispensáveis para proteção de tais direitos. 
 As Convenções de Genebra de 1949, havendo um estado de anormalidade gerado 
por conflito armado, os seguintes atos são proibidos em qualquer tempo e lugar: violência 
à vida e à pessoa, em particular o homicídio de qualquer tipo, mutilação, tratamento cruel 
e tortura, tomada de reféns, ultrajes à dignidade pessoal, em particular os tratamentos 
humilhantes e degradantes e proferimento de sentenças e execuções sem julgamento 
prévio pronunciado por um tribunal regularmente constituído, com observância das 
garantias judiciais (LOPES, 2011). 
 O Pacto Internacional de Direito Civis e Políticos no artigo 4º expressa: 
 
Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam 
proclamadas oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, 
na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações 
que lhe sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação 
alguma apenas por motivos de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social. 
 
A Constituição brasileira trata de mecanismos de controle político e jurídico das 
medidas de defesa em períodos de crise do Estado. Nesse sentido, as medidas tomadas 
22
durante o estado de defesa só restringiram os direitos de reunião, de sigilo de 
correspondência, das comunicações telegráficas e telefônicas (artigo 136, parágrafo 1º, 
I, a-c da Constituição Federal). Já no estado de sítio, além das citadas, sofrerá limitação 
o direito de locomoção, a liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, o direito de 
inviolabilidade de domicílio e o direito de propriedade (artigo 139 da Constituição 
Federal). 
 Os direitos fundamentais são direitos de hierarquia constitucional podendo ser 
limitados por expressa disposição constitucional ou através de lei ordinária com previsão 
na própria Constituição (MENDES, 2014, p. 200). 
 Pelo esboço acima, percebe-se que a finalidade das medidas existentes num 
estado de crise é a manutenção do Estado com as suas instituições democráticas e 
garantia de determinados direitos fundamentais, ainda que outros sejam cerceados. 
 Nesse sentido, a defesa do Estado baseia-se na defesa do território nacional 
contra eventuais invasões estrangeiras (artigos 34, II e
137, II da Constituição), defesa 
da soberania nacional (artigo 91 da Constituição) e a defesa da Pátria (artigo 142 da 
Constituição) (SILVA apud LENZA, 2013, p. 987). 
 Já na defesa das instituições democráticas tem-se um equilíbrio entre os grupos 
de poder. “Se a competição entre os grupos sociais extrapola os limites constitucionais” 
haverá a situação de crise (SILVA apud LENZA, 2013, p. 987). 
 Existe diferença entre a defesa do Estado (preocupação permanente de disciplina 
das situações constitucionais de crise) com a defesa de certo governo (dificuldades 
políticas conjunturais, que merece resolução com a continuidade normal das instituições). 
Violações gravíssimas à Constituição, ao Estado e às instituições democráticas justificam 
medidas austeras de excepcionalidade (CANOTILHO, 2017,online). 
 Percebe-se um caráter de subsidiariedade: “os estados de exceção somente 
podem ser sacados quando os meios coercitivos normais não derem conta da situação” 
(CANOTILHO, 2017, online). 
 
 
 
 
23
3 BREVE HISTÓRICO DO ESTADO DE DEFESA E DAS INSTITUIÇÕES 
DEMOCRÁTICAS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 
 
 
 
 A Constituição do Império de 1824 trazia normas que tratavam do sistema 
constitucional das crises nos artigos 145 e 148, havia previsão de defesa para manter a 
independência e a integridade do Império, podendo ser empregado a Força Armada para 
evitar inimigos externos ou internos. O artigo 179 do mesmo documento sob a rubrica 
dos direitos civis e políticos, possibilitava a dispensa de formalidades que garantem 
direitos individuais (MARTINS, 2020). 
 Na Constituição de 1891, tem-se pela primeira vez o estado de sítio que era 
decretado pelo Congresso Nacional (artigo 34, n. 20), eventualmente, se ele não estiver 
reunido, poderia o Presidente da República decretá-lo (artigo 80, parágrafo 1º), com 
consulta posterior do Congresso (artigo 34, n. 20). 
 A Constituição de 1934 manteve o estado de sítio devendo ser decretado pelo 
Presidente da República e não mais pelo Congresso Nacional. 
24
 Em 1937, foi outorgada a Constituição por Getúlio Vargas que previu o estado de 
emergência e estado de guerra (artigo 166), eram de competência privativa do Presidente 
da República (artigo 74, m). Essa Constituição não exigia a autorização do Congresso 
Nacional, nem permitia que o Congresso suspendesse as medidas (artigo 166, parágrafo 
único). Implantando perante essa Constituição um estado emergencial, houve medidas 
restritivas de direitos que não caracterizavam violação constitucional (MARTINS, 2020, 
online). 
 Na Constituição de 1946, houve a retomada da democracia, o estado de sítio só 
poderia ser decretado pelo Congresso Nacional (artigo 206), podendo ser regional ou 
nacional conforme o artigo 212. 
 Como a história é um evolver de fatos, após um período democrático sucede um 
autoritário, a Constituição de 1967 determinava que a decretação do estado de sítio era 
da competência do Presidente da República (artigo 83, inciso XIV), não sendo necessário 
anuência do Congresso Nacional. Criou as medidas de emergência (artigo 152), estado 
de sítio (artigo 156) e estado de emergência (artigo 158). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25
4 PRINCÍPIOS DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 
 
 
 
PRINCÍPIOS NORTEADORES 
 
O sistema constitucional das crises baseado na reunião de normas 
constitucionais se submete a alguns princípios, como os da necessidade, 
temporariedade e não-supressão de direitos. Logo, esse sistema só deve ser 
acionado quando realmente inevitável, sendo que este período não perdura 
indefinidamente e as garantias são apenas suspensas, não podendo ser extintas 
ou suprimidas (MOTTA FILHO, 2006, p. 530). 
Esse sistema tem aporte na Constituição, devendo ser utilizado nos estritos 
limites previstos na Carta Magna. 
Pode-se listar os seguintes princípios norteadores (MARTINS, 2020, 
online) : 
 
26
a) Excepcionalidade: o sistema constitucional das crises (como estado de defesa ou 
o estado de sítio) será decretado em situações especialíssimas (excepcionais), 
porque rompe com normalidade do Estado, com o respeito integral aos direitos 
fundamentais e afeta as instituições democráticas. O artigo 4º do Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos expressa o presente princípio “quando 
situações excepcionais ameacem a existência da nação”. 
b) Taxatividade: as medidas presentes no sistema constitucional das crises ficam 
adstritas a previsão constitucional, somente as ocasiões elencadas na Carta 
Política ensejam a decretação do Estado de Defesa ou Estado de Sítio. 
c) Necessidade: as medidas são decretadas quando forem necessárias para 
contornar fatos como perturbação da ordem pública, ameaça à paz social, 
instabilidade institucional. A situação de gravidade põe em risco a estabilidade do 
Estado, a ordem constitucional e a existência das instituições democráticas. 
d) Temporariedade: as medidas perduram por tempo certo e limitado ou restringem 
ao período de fato específico. Desta forma, tem-se a duração previamente 
determinada. Cessado o prazo ou a situação que a ensejou, as medidas não terão 
mais validade. 
e) Proporcionalidade: a medida decretada deve ser proporcional a situação que 
justifica a sua adoção. Deve haver a justa medida entre a gravidade do fato e as 
medidas tomadas. Quando se puder adotar outras formas de solução ao invés das 
medidas concernentes ao sistema de crises, preferíveis àquelas. A ponderação 
entre meio e fim deve balizar a decretação das medidas. Característica desse 
princípio é a proibição do excesso, a medida da razoabilidade deve pautar o 
cumprimento das medidas. 
f) Determinação geográfica: as medidas excepcionais que vigoram no sistema 
constitucional de crises são adstritas a determinado espaço territorial, ou seja, há 
uma limitação quanto à área de abrangência. Em casos especialíssimos podem 
as medidas serem estendidas para todo território nacional conforme disciplina o 
artigo 138 da Constituição Federal quando prevê o estado de sítio. 
g) Publicidade: princípio reitor dos atos do poder público, com incidência mais 
acentuada em se tratando de medidas excepcionais. A publicidade possibilita o 
27
controle social e jurisdicional das medidas excepcionais decretadas no sistema 
constitucional de crises atendendo aos ditames do princípio democrático, do 
princípio republicano e do direito constitucional à informação. O Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos no artigo 4., item 3 ratifica a publicidade 
dizendo “os Estados Partes do presente Pacto que fizerem uso do direito de 
suspensão devem comunicar imediatamente aos outros Estados Partes do 
presente Pacto, por intermédio do Secretário-Geral da Organização das Nações 
Unidas, as disposições que tenham suspendido, bem como os motivos de tal 
suspensão”. 
h) Sujeição a controles: como apanágio da publicidade, existe a previsão de controle 
político e jurisdicional das medidas com possível responsabilização nos casos de 
excesso. 
i) Legalidade: o Estado deve agir estritamente dentro dos parâmetros legais e 
constitucionais no sistema constitucional de crises. 
 
 
 
 
 
 
 
Princípios do sistema das crises 
 
 
 
 
 
Excepcionalidade 
Taxatividade 
Necessidade 
Temporariedade 
Proporcionalidade 
Determinação geográfica 
Publicidade 
Sujeição a controles 
Legalidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28
 
SAIBA MAIS 
 
O presente Programa visa o fortalecimento da prevenção, do controle, da fiscalização e 
da repressão aos delitos transfronteiriços. Determina a atuação integrada e coordenada 
dos órgãos de segurança pública, dos órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita 
Federal e o Estado-Maior das Forças Armadas, juntamente com a atividade dos países 
vizinhos ao Brasil.Institui o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras e organiza a 
atuação de unidades da administração pública
federal para sua execução. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8903.htm Acesso em 
05 de abri. 2021. 
 
 
REFLITA 
 
O sistema constitucional das crises é distinto de golpe de Estado. No sistema 
constitucional das crises os princípios e postulados constitucionais que o prevêem serão 
observados. Diferente, ocorre no golpe de Estado, onde há uma transgressão 
constitucional. O governo golpista rompe com ordem constitucional, outorgando uma 
nova Constituição (MARTINS, 2020, online). 
 
 
 
 
29
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8903.htm
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Neste momento, chega-se ao ponto alto da narrativa para concluir determinados 
aspectos que foram analiticamente abordados ao longo da apostila. 
A República Federativa do Brasil regida por uma estrita legalidade, debruça a 
sua legitimidade na Constituição Federal que estabelece a organização, fundamento, 
princípios, finalidades do Estado e direitos fundamentais. O Estado Federado 
representado pela União possui soberania enquanto os Estados-membros detêm 
autonomia. 
A Carta Política, ao mesmo tempo que organiza o Estado brasileiro, prevê 
mecanismos de manutenção ou restabelecimento da ordem política ou jurídica em 
momentos de anormalidades, chamados de sistema constitucional de crises ou 
legalidade extraordinária. 
Num sistema constitucional de crises existem restrições a liberdades e garantias 
individuais dos cidadãos proporcionalmente as medidas para manter ou restabelecer a 
normalidade constitucional e a harmonia social e do Estado. 
Os meios de autopreservação do Estado estão expressos num Estado 
Democrático através mecanismos listados na Constituição como aptos para garantir o 
Estado e as Instituições democráticas, bem como a observância dos direitos 
fundamentais, ainda que outros sejam limitados. Percebeu-se que os direitos 
fundamentais em situações de emergência podem ser restringidos ou suspensos, mas 
nunca extintos. 
Tem-se o estado de defesa e estado de sítio que podem ser decretados pelo 
Presidente da República como ato de soberania adstrito obrigatoriamente aos ditames 
legais como forma de estabilização institucional. 
Essas medidas excepcionais estavam presentes nas Constituições brasileiras 
com maior ou menor amplitude e intensidade conforme demonstrado numa breve 
referência histórica. 
Por fim, enumerou-se os princípios, que assim como as regras constitucionais, 
são reitores na implantação de estado emergencial. 
 
30
LEITURA COMPLEMENTAR 
Este artigo discute a interpretação de Giorgio Agamben sobre a posição paradoxal 
do soberano, que estaria, ao mesmo tempo, dentro e fora do ordenamento jurídico. 
Pretende mostrar que esta interpretação, pelo menos na forma em que é enunciada, por 
meio do conceito de estado de exceção de Carl Schmitt, não se sustenta. Agamben 
enfraquece o teor jurídico do pensamento de Schmitt em favor de uma teoria da exceção 
e faz uma projeção indevida da situação paradoxal do estado de exceção para o 
soberano. 
Fonte: BARROS, Alberto Ribeiro Gonçalves de. Soberano e Estado de Exceção: Ressalvas a Agamben. 
Revista Universidade de São Paulo. N. 37, vol. 2. p. 63-71. Disponível em: 
https://www.revistas.usp.br/cefp/index Acesso em: 07 abril de 21. 
31
https://www.revistas.usp.br/cefp/index
MATERIAL COMPLEMENTAR 
LIVRO 
• Título: Estado de Exceção no Direito Constitucional
• Autor: Jorge Bacelar Gouveia.
• Editora: Almedina.
• Sinopse: o autor faz uma abordagem sobre a situação de emergência vivida em
Portugal, pontualizando sobre a delimitação, fundamento e natureza da teoria geral do 
estado de exceção constitucional. 
32
FILME/VÍDEO 
 
• Título: Getúlio 
• Ano. 2014 
• Sinopse: A intimidade de Getúlio Vargas (Tony Ramos), então presidente do Brasil, em 
seus 19 últimos dias de vida. Pressionado por uma crise política sem precedentes, em 
decorrência das acusações de que teria ordenado o atentado contra o jornalista Carlos 
Lacerda (Alexandre Borges), ele avalia os riscos existentes até tomar a decisão de se 
suicidar. 
 
 
 
33
REFERÊNCIAS 
ATOS DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. CÂMARA DOS 
DEPUTADOS. Disponível em: 
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/conadc/1988/constituicao.adct-1988-5-outubro-
1988-322234-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso: 06 jun. 2021. 
BARCELLOS, A. P. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2020. 
BARROS, A. R. Soberano e Estado de Exceção: Ressalvas a Agamben. Cadernos 
de ética e filosofia política , 63-71, 2020. 
BONAVIDES, P. Curso de Direito Constitucional. 23 ed. São Paulo: Malheiros, 2008 
MENDES, G. F.; et. al. Comentários à constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. Disponível em: https://app.saraivadigital.com.br/biblioteca/main Acesso 
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CARDOSO, P. P. Estado de emergência (sistema de emergência) dimensões jurídico-
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https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0a
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&hitguid=I45204de0682111e181fe000085592b66&spos=1&epos=1&td=1&context=12&
crumb-action=append&crumb-
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Acesso em: 21 jul. 2021. 
CAVALCANTI, T.N.; COELHO, E.P.M. O sistema constitucional das crises: 
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Revista de Direito Constitucional e Internacional, São Paulo, n. 104, p. 65-85, 
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34
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https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad6adc60000017acab4089c1f573b66&docguid=I45204de0682111e181fe000085592b66&hitguid=I45204de0682111e181fe000085592b66&spos=1&epos=1&td=1&context=12&crumb-action=append&crumb-label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChunk=1
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Plano de Estudo:
● Conceitos, hipóteses, procedimentos e titularidade do Estado de Defesa;
● Prazo e abrangência do Estado de Defesa;
● Controles do Estado de Defesa;
● Restrições de direitos no Estado de Defesa.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o Estado de Defesa;
● Compreender os tipos de Estado de Defesa;
● Estabelecer a importância do Estado de Defesa.
UNIDADE II
Estado de Defesa
Professora Ma. Josiane Pilau Bornia
37
 
INTRODUÇÃO 
 
 Caro Aluno. 
 
Esta unidade tem como objeto de estudo a abordagem o Título V, Capítulo I, 
Seção I da Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988. A 
presente seção intitulada DO ESTADO DE DEFESA que ficou previsto no artigo 136 do 
Diploma Constitucional. 
 Uma incursão na organização da Constituição Federal mostra as matérias 
relevantes na constituição do Estado, ou seja, o que a Assembleia Constituinte elegeu 
como valores supremos numa escala de importância. 
Desta forma, o primeiro Título da Carta Magna indica os princípios fundamentais 
que regem a República Federativa do Brasil. Inseridos neste título estão os fundamentos, 
objetivos, os princípios que orientam o Brasil nas suas relações internacionais, os 
poderes da União e, em especial, a declaração que todo poder emana do povo, que o 
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. 
O segundo Título abarca um rol extenso de direitos e garantias fundamentais, 
extrai-se a idéia que depois de prever a estrutura do Estado, a Constituição Federal tutela 
o indivíduo como sujeito de direitos e ao mesmo tempo expressa os remédios 
constitucionais a serem utilizados no caso de eventuais desrespeitos a esses direitos. 
Não se pode deixar
de registrar, neste momento, a preocupação que tem a Carta Magna 
em não simplesmente arrolar os direitos mas garantir a sua efetividade. 
O título terceiro prevê a organização político-administrativa dos entes da 
federação, como a União, os Estados federados, os Municípios e o Distrito Federal, para 
garantir a harmonia entre eles, incluindo a intervenção federal como mecanismo de 
preservação da integridade política, jurídica e física da federação. A intervenção é um 
aparato excepcional destinado a manter a integridade dos princípios basilares da 
Constituição. 
38
A organização dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário está estampado no 
Título Quarto, que destaca composição e atribuição de cada poder, que são 
considerados harmônicos e independentes entre si. 
Por fim, o Título Quinto anuncia as formas de defesa do Estado e das instituições 
democráticas que são o estado de defesa e o estado de sítio. Não esquecendo de 
disciplinar as Forças Armadas e a Segurança Pública como instrumento de defesa do 
País e da sociedade. 
O panorama acima demonstra que além do Estado brasileiro ter sólida base de 
formação e organização, não descurou de formas de preservar a higidez contra ameaças 
ou ataques ao ente político. 
Nesse sentido, apresenta-se a análise do Estado de defesa quanto aos seus 
aspectos iniciais, hipóteses de abrangência, procedimento, titularidade para sua 
decretação, prazo de duração, controle exercido pelos Poderes Legislativo e Judiciário 
e, finalmente, as restrições dos direitos enquanto perdurar as medidas. 
Boa leitura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39
 
1 CONCEITOS, HIPÓTESES, PROCEDIMENTOS DO ESTADO DE DEFESA 
 
 
 
 
1.1. Conceitos 
 
 A Constituição Federal estabeleceu dois mecanismos de defesa do Estado e das 
instituições democráticas, quais sejam: a) sistema constitucional de crises que são 
medidas excepcionais para manter ou restabelecer a ordem nas situações de 
anormalidades constitucionais; e b) defesa do País ou sociedade, através da Forças 
Armadas e da Segurança Pública. 
Como bem esclarece Thais Novaes Cavalcanti (2017, p. 2), o sistema 
constitucional das crises tem por finalidade a proteção do ordenamento jurídico e dos 
direitos e garantias individuais dos cidadãos contra processos violentos de mudança ou 
perturbação daquela ordem e situações críticas de guerra externa. 
 O sistema constitucional de crises ocorre quando decretado o estado de defesa 
ou o estado de sítio conforme disciplinado na Constituição Federal. 
Verifica-se o estado de defesa quando houver instabilidade institucional ou 
calamidades de grandes proporções na natureza, desde que afete a ordem pública ou a 
paz social (TAVARES, 2020, p. 954). 
40
Nesse mesmo sentido, Nagib Slaibi Filho (2009, p. 597) acrescenta que o estado 
de defesa é uma salvaguarda constitucional, considerado um instituto constitucional de 
defesa do Estado e das instituições democráticas, como garantia da ordem pública com 
a intensificação do poder de polícia que acarreta a restrição do exercício de certas 
garantias constitucionais. 
Consubstancia na instauração de uma legalidade extraordinária, por tempo 
determinado, em locais restritos e pontuais. Ressalta-se o caráter temporário e localizado 
da medida conforme o artigo 136 e parágrafo 1º da Constituição Federal (MOTTA FILHO, 
2006, p. 534). 
A legalidade extraordinária caracteriza por uma série de competências 
extraordinárias taxativamente enumeradas na Lei Maior, demonstrando a suspensão de 
alguns aspectos constitucionais. 
 Oportuno o esclarecimento de Alexandre de Moraes (2004, p. 206 : 
O Estado de Defesa é uma modalidade mais branda de estado sítio e às antigas 
medidas de emergência do direito constitucional anterior e não exige para sua 
decretação, por parte do Presidente da República, autorização do Congresso 
Nacional. O decreto presidencial deverá determinar o prazo de duração; 
especificar as áreas abrangidas e indicar as medidas coercitivas, nos termos e 
limites constitucionais e legais. 
 Salienta-se que num sistema constitucional de crise, especialmente, no estado 
de defesa onde existe um momento de anormalidade, há possibilidade da suspensão 
de determinadas garantias constitucionais em lugar específico e por tempo 
determinado, aumentando o poder repressivo do Estado, fundamentado na gravidade 
da perturbação da ordem pública. 
As hipóteses previstas no art. 136, caput, da Constituição Federal: 
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o 
Conselho de Defesa Nacional decretar o estado de defesa para preservar ou 
prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública 
ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou 
atingidas por calamidade de grandes proporções na natureza. (grifo nosso). 
A previsão constitucional pode ser fragmentada nos seguintes aspectos que 
compõe o conceito de estado de defesa (MARTINS, 2020, online): 
a) Preservar ou prontamente restabelecer: com esses termos sabe-se que o estado
de defesa classifica-se em preventivo ou repressivo. O estado de defesa
preventivo servirá para preservar a ordem pública ou a paz social. Enquanto que
41
o estado de defesa repressivo é decretado quando a ordem pública ou a paz social 
foram rompidas, sendo imperativo restabelecer a normalidade. 
b) Locais restritos e determinados: necessariamente no estado de defesa identifica-
se a região de abrangência das medidas adotadas. Decorre tal exigência do 
princípio da determinação geográfica, que orienta no sentido de que no estado de 
defesa o local será restrito, ou seja, em lugar limitado não se estendendo a todo 
território nacional. Além do que, o decreto de estado de defesa deve indicar de 
maneira determinada a localidade de sua incidência. 
c) A ordem pública ou a paz social: o estado de defesa ocorrerá justamente quando 
houver a desordem pública ou a perturbação da paz social, com o fito de 
restabelecer o estado constitucional de todos os direitos e instituições 
democráticas. Frise-se que o estado de defesa é indicado no caso de instabilidade 
institucional ou calamidades de grandes proporções na natureza que tenham 
reflexos na ordem pública ou paz social. 
d) Ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por 
calamidades de grandes proporções na natureza: a situação está marcada por 
uma gravidade ímpar e de futuro próximo que afete a instabilidade institucional 
não sendo suficientes os instrumentos regulares, como as polícias civil ou militar. 
Deve existir uma relação de proporcionalidade entre a situação grave e iminente 
e a decretação do estado de defesa, essa medida deve ser estritamente 
necessária. As calamidades de grandes proporções na natureza demonstram a 
pertinência do estado de defesa, pode-se citar como exemplos terremotos, 
maremotos, enchentes... 
 
1.2 Hipóteses 
 
O estado de defesa admite as seguintes hipóteses de decretação: 
1ª ) instabilidade institucional; 
2ª ) calamidades de grandes proporções na natureza. 
A instabilidade institucional denota que a situação de crise afeta a vida comunitária 
como um todo e não apenas parcelas da sociedade (CARDOSO, 2011, p. 1123). 
42
Outra hipótese da decretação são as calamidades de grandes proporções na 
natureza, o estado de defesa não tem caráter repressivo como no estado de sítio, sendo 
um instrumento de emergência, dissociado de ameaça política (FERREIRA, 2008, p. 
345). 
A calamidade é invariavelmente um desequilíbrio, que nos termos do texto 
constitucional, terá que ser de grandes proporções e provocar a perturbação à ordem 
pública ou à paz social para decretação do estado de exceção (CAVALCANTI, 2017, 
online). 
Limita-se aos desastres naturais com proporção consideráveis para justificar 
medidas tão excepcionais. 
O Sistema Nacional de Defesa Civil (Decreto
7.257/2010) em seu artigo 2º, IV 
define estado de calamidade pública como “situação anormal, provocada por desastres, 
causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da 
capacidade de resposta do poder público do ente atingido”. 
Sylvio Clemente da Motta Filho (2006, p. 534) explica: 
 
Existem os requisitos fáticos (ameaça à ordem pública ou à paz social por grave 
iminente instabilidade institucional ou calamidade de grandes proporções na 
Natureza), o Presidente poderá deflagrar a instauração do estado extraordinário 
de legalidade em questão. 
 
 Entende-se por ordem pública como regramento que assegura o funcionamento 
da sociedade, sendo o respeito aos direitos humanos uma premissa maior a garantir a 
credibilidade do governo frente a determinadas violações (CARDOSO, 2011, p. 1223). 
 Interpreta-se paz pública como “o conjunto de regras que assegura o 
funcionamento da sociedade onde os direitos sociais, econômicos e culturais são, (...) 
respeitados e procura-se colocar em prática o princípio da não discriminação por origem 
social” (CARDOSO, 2011, p. 1123). 
 Celso Ribeiro Bastos (apud CAVALCANTI, 2017, online) defende que a expressão 
ordem pública já englobaria paz social, contudo o discurso repetitivo do Texto 
Constitucional demonstra o excesso de redundâncias à escassez de disciplinamento. 
 A gravidade desses requisitos fáticos demonstra que as restrições ordinárias não 
são aptas a conter o estado de anormalidade, sendo insuficientes. 
43
 
1.2. Procedimento e titularidade 
 
O artigo 136 da Carta Magna expressa que o Presidente da República pode 
consultar o Conselho da República e o Conselho da Defesa Nacional decretar o estado 
de defesa. 
O artigo 84, X, da Constituição Federal ratifica essa premissa estabelecendo que 
é competente privativamente o Presidente da República decretar o estado de defesa e o 
estado de sítio. Extrai-se que somente ele pode fazê-lo. 
O procedimento para decretar o estado de defesa é que primeiramente o 
Presidente da República deve consultar o Conselho da República e o Conselho de 
Defesa Nacional previstos nos artigos 89 a 91 da Constituição Federal. 
O Conselho da República é órgão superior destinado a assessorar o Presidente 
da República. 
Explica Eduardo Ribeiro Moreira (2010, online): 
 
A falta de inovação por parte do legislador, quando da regulamentação do 
Conselho (Lei 8.041/1990), e a falta de iniciativa dos Presidentes da República 
relega um papel figurativo ao Conselho da República, pois oportunidades não 
faltaram para que fosse discutido o papel do Governo, até mesmo em questões 
de Estado, acerca de crises que no fundo repercutiram na democracia brasileira. 
 
 O artigo 3º da Lei 8041/90 enumera quem compõe o Conselho da República, além 
do Presidente da República, seriam: 
I - o Vice-Presidente da República; 
II - o Presidente da Câmara dos Deputados; 
III - o Presidente do Senado Federal; 
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados, designados na 
forma regimental; 
44
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal, designado na forma 
regimental; 
VI - o Ministro da Justiça; 
VII - 6 (seis) cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 (trinta e cinco) anos de 
idade, todos com mandato de 3 (três) anos, vedada a recondução, sendo: 
a) 2 (dois) nomeados pelo Presidente da República; 
b) 2 (dois) eleitos pelo Senado Federal: e 
c) 2 (dois) eleitos pela Câmara dos Deputados. 
A presença de seis cidadãos no Conselho denota o caráter democrático. Nesse 
sentido, Eduardo Ribeiro Moreira (2010): “a convocação do Conselho nos momentos 
de crise democrática é vital para resposta à sociedade das questões democráticas 
relevantes, (...) sob uma análise distante das argumentações políticas de persuasão 
popular”. 
 Percebe-se que o presente Conselho é um colegiado onde prevalecem os 
representantes das instituições civis e parlamentares. 
 Segundo Sylvio Motta Filho (2006, p. 440), “curiosamente, não há qualquer 
membro do Judiciário no Conselho''. O Presidente pode convocar Ministro para 
participar da reunião (artigo 90, parágrafo 1º, da Constituição)”. 
 A participação no Conselho da República é considerada atividade relevante e 
não remunerada (artigo 2 º, parágrafo 4º da Lei 8.041/90). 
 Por sua vez, o Conselho de Defesa Nacional previsto no artigo 91 da 
Constituição Federal trata dos assuntos relacionados com a soberania nacional e a 
defesa do Estado democrático (artigo 91, parágrafo 1º da Constituição). 
 Participam como membros natos do Conselho de Defesa Nacional: o Vice-
Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do 
Senado Federal, o Ministro da Justiça, o Ministro de Estado da Defesa, o Ministro das 
Relações Exteriores, o Ministro do Planejamento, os Comandantes da Marinha, do 
45
Exército e da Aeronáutica (artigo 91 da Constituição). 
 Nota-se que o Conselho de Defesa Nacional tem a participação de ministros 
militares, sendo assim esse Conselho cuida de assuntos externos enquanto o 
Conselho da República se interessa por assuntos internos. 
 A Carta Política no artigo 91, parágrafo 1º e artigo 1º, parágrafo único da Lei 
8.183/91 estabelecem que é competente o Conselho de Defesa Nacional opinar sobre 
a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal. 
 O Presidente da República poderá designar membros eventuais para as 
reuniões do Conselho de Defesa Nacional, conforme a matéria a ser apreciada (artigo 
2º, parágrafo 1º da Lei 8.183/91). 
 Para o trato de problemas específicos da competência do Conselho de Defesa 
nacional poderão ser instituídos junto ao Gabinete de Segurança Institucional da 
Presidência da República, grupos e comissões especiais, integrados por 
representantes de órgãos e entidades, pertencentes ou não à Administração Pública 
Federal (artigo 4º parágrafo único da Lei 8.183/91). 
 O artigo 5º da Lei 8.183/91 disciplina que o exercício da competência do 
Conselho de Defesa Nacional terá como diretriz o conhecimento das situações nacional 
e internacional, para planejamento, condução política e estratégia da defesa nacional. 
 Esses conselhos são órgãos de consulta, desta forma, o Presidente da 
República pode ou não considerar as manifestações dos citados conselhos, o que não 
afasta a necessidade de consulta prévia. É relevante esclarecer que o Presidente deve 
exaustivamente expor os motivos (de Direito e de fato) que fundamentaram a 
decretação do estado de emergência. 
 Após ouvidos o Conselho da República e o Conselho da Defesa Nacional, o 
Presidente da República decreta o estado de defesa, fixando o tempo de duração, 
delimita os locais e as medidas coercitivas (MARTINS, 2020, online). 
 Na sequência, o Presidente da República submete o ato de justificativa da 
decretação do estado de defesa ao Congresso Nacional que decidirá por maioria 
absoluta. Se o Congresso estiver em recesso, será convocado extraordinariamente, no 
prazo de cinco dias (artigo 136, parágrafo 5º da Constituição Federal). Caberá ao 
Presidente do Senado Federal a convocação conforme o artigo 57, parágrafo 6º, inciso 
46
I da Constituição Federal. 
 O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu 
recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa 
(artigo 136, parágrafo 4º da Constituição Federal). Haverá regime de urgência de 
apreciação na Câmara dos Deputados conforme o Regime Interno da Câmara dos 
Deputados (artigo 159, parágrafo 2º, inciso II, Resolução Nº 17/89) e no Senado 
Federal (artigo 353, inciso I, alínea b da Resolução Nº 93/70). 
 A espécie normativa quanto apreciação do estado de defesa é o decreto 
legislativo (artigo 59, inciso VI da Constituição Federal). Se o decreto não for aprovado, 
cessa imediatamente o estado de defesa. 
 Segundo André Ramos Tavares (2020, online) “há possibilidade de restrição às 
comunicações''.

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