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Sistema Único de Segurança Pública Professora Ma. Josiane Pilau Bornia Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 4 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORA Professora Mestre Josiane Pilau Bornia INFORMAÇÕES RELEVANTES: ● Mestre em Direito Penal pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) ● Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Maringaá (UEM) ● Especialista pela Escola Superior do Ministério Público e pela Escola da Magis- tratura do Paraná ● Curso de metodologia em ensino superior pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná ● Docente no curso de Direito da UniFCV ● Docente em pós-graduação na UNIVEL Centro Universitário ● Docente em pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná ● Docente em pós-graduação na Universidade Estadual de Ponta Grossa ● Autora do livro DISCRIMINAÇÃO, PRECONCEITO E DIREITO PENAL ● Ex-membro do Conselho da Comunidade na Comarca de Maringá ● Link do Currículo na Plataforma Lattes. http://lattes.cnpq.br/8440890167883956 #CURRÍCULO LATTES# Atua há mais de vinte anos ministrando aulas no ensino superior, com dedicação exclusiva para a pesquisa científica, possuindo vários artigos publicados, tendo sido bolsis- ta da CAPES. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Prezados(as) alunos (as)! Você está recebendo a apostila com o tema SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA, matéria extremamente profícua e de poucas abordagens. Daí se demonstrar a importância do presente material que se propõe a descortinar com seriedade acadêmica os conceitos e delimitações do assunto, sem descurar de uma análise acessível. Na unidade I conheceremos o conceito de Estado, os elementos que o compõem e os princípios que o regem. Seguindo a estrutura da Constituição Federal, destacar-se-á a organização do Estado, com a prevalência da tutela dos direitos fundamentais e previsão dos Poderes Constitucionais. Esta unidade é relevante para explorar que num Estado democrático de Direito existe a primazia da lei que mesmo em tempos de anormalidade será respeitada. Já na unidade II delinearemos o Estado de Defesa que é um mecanismo a ser decretado como garantia da ordem pública ou a paz social diante de uma instabilidade ins- titucional ou calamidade pública. Nesse sentido, destacaremos o conceito, características, quem pode decretar e os controles político e judicial. Na sequência, na unidade III analisaremos o Estado de Sítio com suas nuances próprias e diferenças do Estado de Defesa. Aprofundaremos quanto ao conceito, limites, atribuições da autoridade que solicita e restrições passíveis de existirem diante de uma legalidade extraordinária. Em nossa unidade IV finalizaremos o conteúdo dessa disciplina com as Forças Armadas e a Segurança Pública. Quanto às Forças Armadas indicaremos as forças que a constituem, natureza jurídica, características e situações que ensejam a sua atuação. Por sua vez, quanto à Segurança Pública a ênfase será demonstrar que é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, bem como quais os órgãos que a compõem e suas atribuições. Desejo uma leitura frugal e que acarrete, além de uma verticalização quanto ao tema, o engrandecimento profissional. Muito obrigada e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Defesa do Estado e das Instituições Democráticas UNIDADE II ..................................................................................................... 37 Estado de Defesa UNIDADE III .................................................................................................... 69 Estado de Sítio UNIDADE IV .................................................................................................... 97 Forças Armadas e Segurança Pública Plano de Estudo: ● Conceitos e classificação de Estado; ● Finalidades da Defesa do Estado e das instituições democráticas; ● Breve histórico da Defesa do Estado e das instituições democráticas nas Constituições brasileiras; ● Princípios da Defesa do Estado e das instituições democráticas. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e classificar o Estado; ● Identificar a Defesa do Estado e das Instituições Democráticas; ● Definir as finalidades das medidas; ● Destacar os princípios norteadores. UNIDADE I Defesa do Estado e das Instituições Democráticas Professora Ma. Josiane Pilau Bornia 6 INTRODUÇÃO Saudações caro aluno (a) É uma satisfação poder compartilhar o presente estudo que tem como objetivo apresentar as nuances do Estado brasileiro. A abordagem está composta de quatro tópicos que foram separados para garantir maior compreensão quanto ao assunto, o que não significa que não exista uma imbricação entre eles. No primeiro tópico, houve a necessidade de definir e classificar a República Federativa do Brasil, demonstrando a sua formação e características. Destaca-se que o Estado Democrático de Direito tem como fundamentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e, por fim, o pluralismo político. Além da análise dos autores que tratam do assunto, fez-se referência à previsão constitucional e legal quanto ao assunto. No segundo tópico, incursionou-se quanto às medidas de defesa do Estado e das instituições democráticas. Oportunizando esclarecer que o Estado, de matriz democrática, precisa prever mecanismos em situações de anormalidade, conhecidas como sistema constitucional de crises. O terceiro tópico traz uma breve análise histórica da defesa do Estado e das Instituições democráticas nas Constituições brasileiras. Por fim, o quarto tópico elenca os princípios que norteiam um sistema constitucional de crises, demonstrando que nos momentos de instabilidade jurídica e política, o Estado não pode descurar das bases legais que o norteia. Bons estudos! 7 1 DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 1. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DE ESTADO 1.1. Conceito de Estado A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito, consagrando que o Estado é regido por um sistema de normas jurídicas dispostas hierarquicamente, isto é, o Estado está submetido às leis criadas por uma dos poderes que pertence ao próprio Estado. Acura-se que o Estado “é uma realidade cultural constituída historicamente em virtude da própria natureza social do homem, que encontra a sua integração no ordenamento jurídico” (MALUF, 2018, online). Dentre os Poderes presentes no Estado, está o Legislativo cuja função peculiar é a criação de normas legais que irão compor o Direito Positivo. Nesse conjunto de normas 8 vigentes encontram-se uma ordenação em normas superiores e inferiores assumindo a forma piramidal, estando no ápice a Constituição Federal. Nesse contexto, as normas constitucionais têm primazia no ordenamento jurídico, sendo consideradas a fonte primária do Direito vigente, as demais normas, ditas infraconstitucionais, radica o seu fundamento de validade na Constituição, não se admitindo que referidas normas estejam em contradição com as normas constitucionais. Caso desrespeitem os ditames constitucionais serão consideradas inconstitucionais. Além do império da lei existente num Estado de Direito, existe o qualificativo democrático que sinaliza que as leis aplicadas são provenientes dos representantes do povo que elegeu os parlamentares que compõem o Poder Legislativo. As normas constitucionais têm a incumbência de organizar o Estado e estabelecer medidas destinadas à sua defesa e de suas instituições. O chamado direito constitucional de crise ou legalidade especial visa estabelecer os limites e garantias das medidas excepcionais, inclusive ferramentas que restabeleçam a normalidade (MONTI, 2018, p. 29). Define-se o sistema constitucional das crises como uma reunião de normas constitucionais que informadas pelos princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade, se prestam manter ou restabelecer a normalidade constitucional. Também chamado estado de exceção esclarece Thais Novaes Cavalcanti (2017, p. 03): É um ato unilateral, em que o soberano atua em favor da ordem jurídica, interferindo diretamente no direito e na vida das pessoas. Há um limiar de atuação do Estado neste sentido e, por isso, pode ser associado a práticas totalitárias do soberano. No entanto, há também a percepção da sua utilização como mecanismo de defesa e conservação do próprio Estado, como direito potestativo, garantido pelo direito para manutenção da própria ordem social e soberania do Estado. Em tempos pretéritos tivemos estado de exceção durante a ditadura de Floriano Peixoto após a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca, no Estado Novo utilizado por Getúlio Vargas e nas intervenções militares de 1964 e 1968. 9 O estado de exceção nas constituições promulgadas tem por finalidade “a retomada do equilíbrio constitucional e normativo para se restabelecer o Estado de Direito” (CAVALCANTI, 2017, p. 03). Assim, na organização do Estado Democrático de Direito o qual prevê as situações de crises, fica estabelecido o sistema constitucional das crises ou a chamada legalidade especial (DANTAS, 1989, p. 23). O sistema de legalidade especial está baseado no conceito jurídico contemporâneo de crise que leva diretamente à ideia de necessidade de manutenção do Estado que significa o poder de transgredir o direito pelo interesse público (MONTI, 2018, p. 20). Antes de continuar falando sobre um estado de anormalidade, onde reina uma legalidade especial, calha conhecer a organização e princípios do Estado brasileiro. Nesse sentido, vários são os conceitos de Estado, entende-se que “é uma forma específica de sociedade política, organizada mediante regras e dotada de poder superior sobre os seus membros” (RANIERI, 2019, p. 18). “Estado é uma associação humana (povo), radicada em base espacial (território) que vive sob o comando de uma autoridade (poder) não sujeita a qualquer outra (soberania)” (FERREIRA FILHO, 2008, p. 49). Extrai-se que todo Estado necessariamente deve ter um povo que se localiza em determinado território e possui poder soberano para determinar os rumos de uma nação. É indispensável num Estado um poder político de comando que se apresenta através da soberania. Essa no plano interno, “é sinônimo de supremacia, que tem como consequência (...) a exclusividade da imposição de suas regulações” (CANOTILHO apud MARTINS, 2020, online). Oportuna a explicação de Sylvio Motta (2006, p. 217): O poder constituinte, que é quem verdadeiramente manda, institui a Constituição que cria e manda no Estado, que organiza e manda na Administração, que obedece a todos os seus superiores: o povo (titular do poder) a Constituição e o Estado. É na Constituição que o titular do poder determina como quer que seja o Estado e a sociedade. Esta é uma decisão de poder, por isso que se chama a Constituição de decisão política fundamental suprema. A Constituição é um contrato da sociedade entre si e com o Estado que é por ela criado. (grifo nosso) 10 Como é relevante não perder de vista, a norma constitucional vestibular que com maestria ecoa: todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (artigo 1º, parágrafo único, Constituição Federal). Tem-se a democracia representativa que é alçada ao status constitucional a partir da Revolução Francesa. A indagação que se faz é: os representantes eleitos seriam mandatários ou comissários do povo? Como mandatários do povo, os representantes eleitos atuariam em nome próprio e com ampla autonomia. Já como comissários, os representantes seriam agentes da vontade popular (GÓES & MELLO, 2018, p. 240). De maneira paralela, entende-se que “a democracia direta é a melhor forma de os cidadãos participarem da organização e da política geral do Estado em todos os campos do poder nacional (político, econômico, militar e social” (GÓES & MELLO, 2018, p. 238). Inclusive, poderia se exercitar a democracia direta, num futuro próximo, com uso de tecnologias que permitissem deliberações sobre certos assuntos pelo próprio povo. Nesse contexto, defender o Estado significa a proteção de sua soberania e independência, bem como a defesa do território e do povo. A defesa do território ocorre contra invasões estrangeiras, mediante a fiscalização das fronteiras exercida pelas Forças Armadas e pela Polícia Federal. O Decreto presidencial nº 8.903/16, criou o “Programa de Proteção Integrada de Fronteiras” que conta com a “atuação integrada e coordenada dos órgãos de segurança pública, dos órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda e do Estado-Maior conjunto das Forças Armadas” (artigo 2º, inciso I). A Polícia Federal (artigo 144, parágrafo 1º, inciso I da Constituição Federal) destina-se a: Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. 11 A Lei Complementar nº 97/99, no artigo 16-A determina que: Cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventiva e repressiva, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo. Além da defesa do território, que é a representação física do Estado, faz-se imperiosa a defesa do regime de governo e do Estado de Direito, assim cabe a Polícia Federal investigar crimes contra a segurança nacional (artigo 16 da Lei 7.170/83), com o objetivo de mudança no Estado com emprego de violência ou grave ameaça. A defesa do povo, quanto à incolumidade das pessoas e do patrimônio mereceu o Capítulo III da Constituição Federal para sua tutela. Sob o Título Defesa das Instituições Democráticas aproxima-se a proteção de institutos de titularidade do povo, como o voto popular, a ação popular, a iniciativa popular para elaboração de projetos de lei, controle social de órgãos públicos (MARTINS, 2020). 1.2. Classificação de Estado Quanto à classificação do Estado, há três aspectos: forma de governo (República ou Monarquia), sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) e forma de Estado (Estado unitário ou Federação). O artigo 2º do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias determina que “no dia sete de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País”. Exemplo de democracia direta, decidiu o povo através do plebiscito que o Brasil assumisse a forma republicana de governo e o sistema presidencialista de governo. 12 Quanto à forma Federativa de Estado, tem sua origem nos Estados Unidos em 1787. As 13 colônias britânicas da América que eram soberanas e independentes, aglutinaram- se em único Estado soberano, ou seja, cederam parcelas de soberania para criar o Estado, desta forma, houve um movimento centrípeto, de fora para dentro (LENZA, 2013, p. 447). Diferentemente, foi a formação do Estado no Brasil, aqui existiu o movimento centrífugo, o Estado unitário centralizado, fragmentou a sua soberania para atribuir parcelas de poderes ditos autônomos. É um federalismo por desagregação, “a federação surge a partir de um determinado Estado unitário que resolve descentralizar-se” (LENZA, 2013, p. 448). Num Estado Federal, existe a distribuição de poder político no território de modo que coexistem níveis de poder autônomo no âmbito de um mesmo Estado, ou seja, o ente central e os entes locais. A soberania é um atributo do Estado Federal como um todo enquanto os Estados- membros possuem a autonomia. Explica Gilmar Ferreira Mendes (2014, p. 802): A autonomia importa, necessariamente, descentralização do poder. Essa descentralização não é apenas administrativa, como, também, política. Os Estados-membros não apenas podem, por suas próprias autoridades, executar leis, como também é-lhes reconhecido elaborá-las. Isso resulta em que se perceba no Estado Federal uma dúplice esfera de poder normativo sobre um mesmo território e sobre as pessoas que nele se encontram, há incidência de duas ordens legais: a da União e a do Estado-membro. A coexistência da soberania e autonomia no Estado Federal propicia o equilíbrio de dois fins principais: a garantia da unidade nacional e a preservação da diversidade própria das localidades (BARCELLOS, 2020). A unidade nacional é tutelada pelas regras constitucionais que expressam a intervenção da União nos Estados e no Distrito Federal para manter a integridade nacional, repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra, pôr termo a grave comprometimento da ordem pública, garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes (artigo 34, Constituição Federal). 13 Já a diversidade local, está presente na Constituição Federal através das competências de cada ente federativo, que corresponde aos limites de sua autonomia. Importante salientar que não existe hierarquia entre os entes que compõem a Federação, todos estão sob a égide da Constituição conforme os parâmetros de autonomia estabelecidos. Num panorama amplo, pode-se caracterizar o Estado brasileiro como uma descentralização política refletida na autonomia dos entes da federação, que possuem competências legislativas partilhadas expressamente pela Constituição, levando a constata-se de uma Constituição rígida que tem a virtude de garantir uma estabilidade institucional. “O processo interventivo surge como instrumento para assegurar o equilíbrio federativo e, assim, a manutenção da Federação” (LENZA, 2013, p. 451). Os artigos 1º e 18 da Constituição Federal destacam as entidades que integram a estrutura federativa do Brasil que são a União, Estados-membros, Municípios e o Distrito Federal. Interessante notar que a Constituição possui três ordens e não duas, como é normal no Estado federal. “Em primeiro lugar, a ordem central – a União- em segundo lugar, ordens regionais- os Estados- em terceiro lugar, ordens locais- os municípios” (FERREIRA FILHO, 2008, p. 60). Traz o art. 29, por sua vez, um considerável acréscimo de institucionalização, em apoio à concretude do novo modelo federativo estabelecido pelo art. 18, visto que determina seja o município regido por lei orgânica, com quorum qualificado de dois terços dos membros da Câmara Municipal – requisito formal que faz daquele estatuto um diploma dotado de grau de rigidez análogo ao que possuem as cartas constitucionais. (BONAVIDES, 2008, p. 345). Entendendo melhor, percebe-se que a Carta Maior organiza os Estados e os Municípios e impõe o respeito aos princípios constitucionais estabelecidos no artigo 34, VII da Constituição Federal: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta ou indireta; e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendidas a proveniente de 14 transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Visto a estrutura e organização, importa destacar o lastro do Estado, desta forma, o artigo 1º da Constituição Federal elenca que a República Federativa do Brasil tem os seguintes fundamentos: a soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e o pluralismo político. O fundamento de um Estado é a sua base e principal apoio, isto é, destacar que na criação e aplicação das normas jurídicas serviram de interpretação do Direito vigente. Seguindo nessa mesma toada, a Carta Magna no artigo 3º declina os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicara pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Vislumbra-se a coerência do Poder Constituinte Originário que inaugura a Carta Política disciplinando os fundamentos do Estado e apontando as suas finalidades. Na sequência, elenca os princípios que regem a República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, quais sejam: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político (artigo 6º da Constituição Federal). Delineado o Estado quanto a sua nomenclatura, elementos, forma de Estado, sistema de governo, forma de governo, fundamentos, objetivos e princípios, passa a tutela constitucional a elencar os direitos e garantias fundamentais. Essa proteção constitucional direciona-se aos sujeitos que integram o povo que compõem o Estado brasileiro, além dos direitos fundamentais esparge a previsão para os direitos sociais. Há diferença entre os direitos fundamentais e os direitos humanos, aquele “é extremamente variável no tempo e no espaço, ou seja, altera-se profundamente conforme a sociedade dentro da qual o conceito seja formulado e o momento histórico” 15 (MOTTA, 2019, p. 169). Os direitos humanos são os ínsitos à natureza humana, direitos que independem de previsão em lei nacional ou internacional. Segundo Flávia Piovesan (2015, p. 45), os direitos humanos são paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional, no instante em que os seres humanos se tornam supérfluos e descartáveis, quando vige a lógica da destruição e o valor da pessoa humana é mitigado, torna-se imprescindível a reconstrução desses direitos. Os direitos fundamentais são classificados em gerações (BONAVIDES, 2008, p. 593): a) Primeira geração corresponde aos direitos civis e políticos e têm como fundamento o princípio da liberdade; b) Segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais e têm por base o princípio da igualdade; c) Terceira geração são os direitos ligados ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, têm como lastro o ideal de fraternidade; d) Quarta geração são os direitos à democracia, à informação e ao pluralismo, concretizados na máxima da universalidade; e) Quinta geração o direito à paz como supremo direito da Humanidade. Os direitos fundamentais estão alocados principalmente no artigo 5º da Constituição, pode-se citar o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade, entre outros. São direitos ditos inalienáveis e indisponíveis, nesse sentido, “o direito à integridade física é inalienável, o indivíduo não pode vender uma parte do seu corpo ou uma função vital, nem tampouco se mutilar voluntariamente” (MENDES, 2014, p. 145). Quanto à indisponibilidade dos direitos fundamentais, sabe-se que não se pode abrir mão desses direitos, contudo é possível restrição de exercício tendo-se em vista uma finalidade. Calha reportar o direito de defesa que está umbilicalmente ligado aos direitos de liberdade. “Esses direitos objetivam a limitação da ação do Estado. Destinam-se a evitar ingerência do Estado sobre bens protegidos (liberdade, propriedade...) e fundamentam 16 pretensão de reparo pelas agressões eventualmente consumadas” (MENDES, 2014, p. 157 - 158). Os direitos fundamentais estão concentrados no artigo 5º da Constituição Federal que sinaliza “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (inciso II), “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (inciso III), “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (inciso IV), “é inviolável a liberdade de consciência e crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos” (inciso V), “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (inciso IX), “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas” (inciso X), entre outros. Não se pode confundir os direitos que têm como finalidade um bem específico da pessoa com as garantias que são instrumentos que viabilizam a concretude do direito. Em outros termos, existe o direito à liberdade que quando ameaçada ou cerceada possibilita a impetração do habeas corpus . Esta é uma garantia do direito de liberdade. Reprise que “a garantia constitucional é uma garantia que disciplina e tutela o exercício dos direitos fundamentais, ao mesmo passo que rege, com proteção adequada, nos limites da Constituição, o funcionamento de todas as instituições existentes no Estado” (BONAVIDES, 2008, p. 537). Há diferença entre garantia constitucional e garantia institucional. Esta exerce a função de proteção de bens jurídicos indispensáveis a certos valores considerados essenciais (MENDES, 2014, p. 169) Por fim, o artigo 2º da Carta Magna expressa que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Nesse contexto, Francis Hamon explica: O Estado exerce ou deve exercer três atividades: ele faz a lei, ele executa e ele decide os litígios. Ele tem, portanto, três funções: legislativa, executiva e jurisdicional. (...) Essa especialização significa que cada uma das autoridades deverá exercer uma função, e que ela só deverá exercer uma delas, mas exercê- la inteiramente. Em contrapartida, ela não deverá interferir de modo algum em outras funções (HOMAN, 2005, p. 88) . . 17 Os poderes possuem funções típicas e atípicas. A função típica de cada poder demonstra o seu limite de atuação, demonstrando a especialização e preponderância quanto a suas atividades. Entretanto, visando evitar abusos em cada poder foi previsto o sistema de freios e contrapesos. O ideal é que os Poderes atuem em conjunto e harmonicamente, a bem da sociedade. A independência dos Poderes deve ser assegurada para que possa ser satisfatório o sistema de freios e contrapesos. Essa independência se manifesta primeiro através da consciência e do espírito público do agente político, da administração de cada Poder por si próprio e, de modo cabal, pela autonomia orçamentária (MOTTA FILHO, 2006, p. 380). Esses poderes devem sempre considerar os ditames constitucionais quanto a sua atuação pois a Constituição Federal é o arcabouço de validade da ordem jurídica que forma o Direito Positivo. Ela atribui unidade ao ordenamento jurídico do Estado Federal compatibilizando com as regras jurídicas emanadas dos Estados-membros e dos Municípios. “A Federação gira em torno da Constituição Federal, que é o seu fundamento jurídico e instrumento regulador” (MENDES, 2014, p. 802). Como disse outrora, essa mesma Constituição que estrutura e organiza o Estado, que declina direitos fundamentais, possui mecanismos de conservação que sob o título V- Da defesa do Estado e das Instituições democráticas (artigos 136 a 144 da Constituição Federal) expressa medidas excepcionais de suspensão da normalidade constitucional para dirimir controvérsias específicas por tempo determinado. É o Estado de Exceção ou sistema constitucional das crises. O citado título inclui no capítulo I- Do Estado de Defesa e do Estado de Sítio, sendo na seção I trata detidamente sobre o Estado de Defesa (artigo 136 da Constituição) e na seção II do Estado de Sítio (artigos 137 a 139 da Constituição Federal) e seção III finaliza com disposições gerais quanto a ambos institutos. O capítulo II do título V prevê Forças Armadas que “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e (...) da lei e da ordem” (artigo 142 da Constituição Federal). O capítulo III do mesmo título insere a Segurança Pública como “dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (artigo 144 e seguintes da Constituição Federal). 18 2 FINALIDADES DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS FINALIDADES DAS MEDIDAS A legalidade estampada pela República Federativa do Brasil em tempos de normalidade justifica e fundamenta as condutas dos cidadãos e pontua a higidez estatal quanto a estrutura, princípios e poderes. Ocorre que essa normalidade em alguns momentos históricos, causou a ameaça à estabilidade e permanência do Estado e da ordem jurídica por um sistema constitucional de crises, compulsionando a Carta Política de 1988 a reagir em face de ideologias autoritárias. Os direitos fundamentais impõem rigorosas limitações ao poder estatal. Essas limitações são preservadas em tempo normalidade, pois quando existe uma crise, a ação governamental necessita de maior amplitude para coibir os inimigos externos. As crises que rompem a normalidade, são previsíveis (FERREIRA FILHO, 2008, p. 334). 19 A experiência histórica ensina que todos os povos (...), passam por momentos de agitação, de desordem, de insubmissão, que não podem ser sufocados pelas medidas ordinárias de polícia, que não podem ser extintos dentro do respeito absoluto às garantias dos direitos fundamentais (FERREIRA FILHO, 2008, p. 334). O tratamento ímpar expresso na Constituição para situações especiais é uma resposta jurídico-institucional para evitar a exceção à própria Constituição (MENDES et al., 2017, online). “A Constituição consegue atravessar situações de crise grave sem ser abandonada (...), essa é a prova de sua estabilidade (...) tem força normativa suficiente para regular não apenas a normalidade, mas também a exceção” (MENDES et al., 2017, online). O cuidado da Constituição com sua estabilidade ocorre por momentos históricos em que crises graves romperam a ordem constitucional sendo abandonada a Constituição e implantação de ditaduras qualificadas como arbitrárias. Segundo Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros (2020, p. 64), que cita Giorgio Agamben, “a exceção é uma espécie de exclusão (...) um caso singular que se encontra forma na norma geral”. Pontualiza que a situação excepcional está incluída no ordenamento jurídico justamente porque não pertence a ele. Entende a doutrina que o estado inconstitucional de crise está mais ligado com um aspecto político que jurídico, pois nos períodos de crise política, soberanos fazem uso do estado emergencial para justificar a desqualificação constitucional. Exemplo disso foi no Brasil, perante a Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional de 1969 provou-se o amargor de uma ditadura militar (1964 - 1985), que caracterizou um sistema de crise. A Constituição de 1967, no artigo 152, parágrafo 3º ditava que “a fim de preservar a integridade e a independência do País, o livre funcionamento dos Poderes e a prática das instituições, quando gravemente ameaçados por fatores de subversão ou corrupção”, caberia ao Presidente da República, com a apreciação do Congresso Nacional editar lei regulamentar que dispusesse e autorizasse medidas para conter uma possível ruptura das instituições. A emenda do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, possibilitou a decretação do estado de sítio sem aprovação do Congresso Nacional. A emenda 20 Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, sem seu artigo 182 ratificou que “continuam em vigor o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, e os demais Atos posteriormente baixados”, equivaleu a suspensão parcial da Constituição, implantando um estado extraordinário. Nesses regimes totalitários há restrição dos direitos individuais em prol do interesse público, referido interesse sem respaldo com vontade popular. Atualmente, não é mais aceitável a restrição aos direitos fundamentais com base somente no interesse público (MOREIRA, 2009, p. 90). A tensão existe entre a supremacia do interesse público e a restrição dos direitos fundamentais deve ser pautada nos objetivos da Constituição. Eduardo Ribeiro Moreira (2009, p. 90) completa dizendo: Tipos abertos como ordem pública e interesse público têm estar condicionados e preenchidos por um legítimo e razoável interesse constitucional para serem aplicados, bem como as políticas públicas devem estar vinculadas à Constituição. Não se admite mais uma decisão política ou jurídica que se fundamente meramente no interesse público se esse não estiver condicionado a um princípio constitucional. Calha nesse momento citar realidades internacionais que diante de um sistema de emergência afetaram em maior ou menor grau os direitos humanos: a) Países do sistema jurídico ocidental consolidado (EUA, Canadá, Europa Ocidental e Japão), nesses as medidas de emergência são aplicadas mediante as exigências formais de Direito constitucional e internacional, apresentando violações graves de direitos humanos; b) Países onde há uma consciência jurídica ocidental, porém, os meios institucionais para a resolução pacífica dos conflitos não estão consolidado (América Latina, Caribe, Israel, África do Sul, Índia), as medidas de emergência estão ou estiveram em vigor, por longo período, com violações de direitos humanos; c) Países com tradições culturais diferentes dos sistemas constitucionais do Direito Ocidental (sistema jurídico africano e islâmico), apresentam o maior número de violações sistemáticas e generalizadas de direitos humanos; 21 d) Países do sistema jurídico do socialismo onde existe uma regulamentação dissuasiva e aparelho repressivo com eficiência generalizada como garantia das medidas de emergência (SALMOL apud CARDOSO, 2011, online). As convenções internacionais sobre direitos humanos como nas diversas Constituições nacionais admitem que, em estado de emergência, seja feita uma diferenciação entre os direitos fundamentais, criando-se as categorias dos direitos suspendidos e dos direitos irrevogáveis (LOPES, 2001, online). A Convenção Americana sobre Direitos Humanos de San José de Costa Rica, no art. 27.1 diz: Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado Parte, este poderá adotar disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendem as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. O artigo 27.2 dessa Convenção lista expressamente um núcleo básico intangível de direitos irrevogáveis cuja a suspensão não pode ocorrer mesmo em situação de emergência, são eles: direito ao reconhecimento da personalidade jurídica, direito à vida, direito à integridade pessoal, proibição da escravidão e servidão, proteção da família, direito ao nome, direitos da criança, direito à nacionalidade, direitos políticos, bem como as garantias indispensáveis para proteção de tais direitos. As Convenções de Genebra de 1949, havendo um estado de anormalidade gerado por conflito armado, os seguintes atos são proibidos em qualquer tempo e lugar: violência à vida e à pessoa, em particular o homicídio de qualquer tipo, mutilação, tratamento cruel e tortura, tomada de reféns, ultrajes à dignidade pessoal, em particular os tratamentos humilhantes e degradantes e proferimento de sentenças e execuções sem julgamento prévio pronunciado por um tribunal regularmente constituído, com observância das garantias judiciais (LOPES, 2011). O Pacto Internacional de Direito Civis e Políticos no artigo 4º expressa: Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações que lhe sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por motivos de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social. A Constituição brasileira trata de mecanismos de controle político e jurídico das medidas de defesa em períodos de crise do Estado. Nesse sentido, as medidas tomadas 22 durante o estado de defesa só restringiram os direitos de reunião, de sigilo de correspondência, das comunicações telegráficas e telefônicas (artigo 136, parágrafo 1º, I, a-c da Constituição Federal). Já no estado de sítio, além das citadas, sofrerá limitação o direito de locomoção, a liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, o direito de inviolabilidade de domicílio e o direito de propriedade (artigo 139 da Constituição Federal). Os direitos fundamentais são direitos de hierarquia constitucional podendo ser limitados por expressa disposição constitucional ou através de lei ordinária com previsão na própria Constituição (MENDES, 2014, p. 200). Pelo esboço acima, percebe-se que a finalidade das medidas existentes num estado de crise é a manutenção do Estado com as suas instituições democráticas e garantia de determinados direitos fundamentais, ainda que outros sejam cerceados. Nesse sentido, a defesa do Estado baseia-se na defesa do território nacional contra eventuais invasões estrangeiras (artigos 34, II e 137, II da Constituição), defesa da soberania nacional (artigo 91 da Constituição) e a defesa da Pátria (artigo 142 da Constituição) (SILVA apud LENZA, 2013, p. 987). Já na defesa das instituições democráticas tem-se um equilíbrio entre os grupos de poder. “Se a competição entre os grupos sociais extrapola os limites constitucionais” haverá a situação de crise (SILVA apud LENZA, 2013, p. 987). Existe diferença entre a defesa do Estado (preocupação permanente de disciplina das situações constitucionais de crise) com a defesa de certo governo (dificuldades políticas conjunturais, que merece resolução com a continuidade normal das instituições). Violações gravíssimas à Constituição, ao Estado e às instituições democráticas justificam medidas austeras de excepcionalidade (CANOTILHO, 2017,online). Percebe-se um caráter de subsidiariedade: “os estados de exceção somente podem ser sacados quando os meios coercitivos normais não derem conta da situação” (CANOTILHO, 2017, online). 23 3 BREVE HISTÓRICO DO ESTADO DE DEFESA E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS A Constituição do Império de 1824 trazia normas que tratavam do sistema constitucional das crises nos artigos 145 e 148, havia previsão de defesa para manter a independência e a integridade do Império, podendo ser empregado a Força Armada para evitar inimigos externos ou internos. O artigo 179 do mesmo documento sob a rubrica dos direitos civis e políticos, possibilitava a dispensa de formalidades que garantem direitos individuais (MARTINS, 2020). Na Constituição de 1891, tem-se pela primeira vez o estado de sítio que era decretado pelo Congresso Nacional (artigo 34, n. 20), eventualmente, se ele não estiver reunido, poderia o Presidente da República decretá-lo (artigo 80, parágrafo 1º), com consulta posterior do Congresso (artigo 34, n. 20). A Constituição de 1934 manteve o estado de sítio devendo ser decretado pelo Presidente da República e não mais pelo Congresso Nacional. 24 Em 1937, foi outorgada a Constituição por Getúlio Vargas que previu o estado de emergência e estado de guerra (artigo 166), eram de competência privativa do Presidente da República (artigo 74, m). Essa Constituição não exigia a autorização do Congresso Nacional, nem permitia que o Congresso suspendesse as medidas (artigo 166, parágrafo único). Implantando perante essa Constituição um estado emergencial, houve medidas restritivas de direitos que não caracterizavam violação constitucional (MARTINS, 2020, online). Na Constituição de 1946, houve a retomada da democracia, o estado de sítio só poderia ser decretado pelo Congresso Nacional (artigo 206), podendo ser regional ou nacional conforme o artigo 212. Como a história é um evolver de fatos, após um período democrático sucede um autoritário, a Constituição de 1967 determinava que a decretação do estado de sítio era da competência do Presidente da República (artigo 83, inciso XIV), não sendo necessário anuência do Congresso Nacional. Criou as medidas de emergência (artigo 152), estado de sítio (artigo 156) e estado de emergência (artigo 158). 25 4 PRINCÍPIOS DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS PRINCÍPIOS NORTEADORES O sistema constitucional das crises baseado na reunião de normas constitucionais se submete a alguns princípios, como os da necessidade, temporariedade e não-supressão de direitos. Logo, esse sistema só deve ser acionado quando realmente inevitável, sendo que este período não perdura indefinidamente e as garantias são apenas suspensas, não podendo ser extintas ou suprimidas (MOTTA FILHO, 2006, p. 530). Esse sistema tem aporte na Constituição, devendo ser utilizado nos estritos limites previstos na Carta Magna. Pode-se listar os seguintes princípios norteadores (MARTINS, 2020, online) : 26 a) Excepcionalidade: o sistema constitucional das crises (como estado de defesa ou o estado de sítio) será decretado em situações especialíssimas (excepcionais), porque rompe com normalidade do Estado, com o respeito integral aos direitos fundamentais e afeta as instituições democráticas. O artigo 4º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos expressa o presente princípio “quando situações excepcionais ameacem a existência da nação”. b) Taxatividade: as medidas presentes no sistema constitucional das crises ficam adstritas a previsão constitucional, somente as ocasiões elencadas na Carta Política ensejam a decretação do Estado de Defesa ou Estado de Sítio. c) Necessidade: as medidas são decretadas quando forem necessárias para contornar fatos como perturbação da ordem pública, ameaça à paz social, instabilidade institucional. A situação de gravidade põe em risco a estabilidade do Estado, a ordem constitucional e a existência das instituições democráticas. d) Temporariedade: as medidas perduram por tempo certo e limitado ou restringem ao período de fato específico. Desta forma, tem-se a duração previamente determinada. Cessado o prazo ou a situação que a ensejou, as medidas não terão mais validade. e) Proporcionalidade: a medida decretada deve ser proporcional a situação que justifica a sua adoção. Deve haver a justa medida entre a gravidade do fato e as medidas tomadas. Quando se puder adotar outras formas de solução ao invés das medidas concernentes ao sistema de crises, preferíveis àquelas. A ponderação entre meio e fim deve balizar a decretação das medidas. Característica desse princípio é a proibição do excesso, a medida da razoabilidade deve pautar o cumprimento das medidas. f) Determinação geográfica: as medidas excepcionais que vigoram no sistema constitucional de crises são adstritas a determinado espaço territorial, ou seja, há uma limitação quanto à área de abrangência. Em casos especialíssimos podem as medidas serem estendidas para todo território nacional conforme disciplina o artigo 138 da Constituição Federal quando prevê o estado de sítio. g) Publicidade: princípio reitor dos atos do poder público, com incidência mais acentuada em se tratando de medidas excepcionais. A publicidade possibilita o 27 controle social e jurisdicional das medidas excepcionais decretadas no sistema constitucional de crises atendendo aos ditames do princípio democrático, do princípio republicano e do direito constitucional à informação. O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos no artigo 4., item 3 ratifica a publicidade dizendo “os Estados Partes do presente Pacto que fizerem uso do direito de suspensão devem comunicar imediatamente aos outros Estados Partes do presente Pacto, por intermédio do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, as disposições que tenham suspendido, bem como os motivos de tal suspensão”. h) Sujeição a controles: como apanágio da publicidade, existe a previsão de controle político e jurisdicional das medidas com possível responsabilização nos casos de excesso. i) Legalidade: o Estado deve agir estritamente dentro dos parâmetros legais e constitucionais no sistema constitucional de crises. Princípios do sistema das crises Excepcionalidade Taxatividade Necessidade Temporariedade Proporcionalidade Determinação geográfica Publicidade Sujeição a controles Legalidade 28 SAIBA MAIS O presente Programa visa o fortalecimento da prevenção, do controle, da fiscalização e da repressão aos delitos transfronteiriços. Determina a atuação integrada e coordenada dos órgãos de segurança pública, dos órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita Federal e o Estado-Maior das Forças Armadas, juntamente com a atividade dos países vizinhos ao Brasil.Institui o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras e organiza a atuação de unidades da administração pública federal para sua execução. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8903.htm Acesso em 05 de abri. 2021. REFLITA O sistema constitucional das crises é distinto de golpe de Estado. No sistema constitucional das crises os princípios e postulados constitucionais que o prevêem serão observados. Diferente, ocorre no golpe de Estado, onde há uma transgressão constitucional. O governo golpista rompe com ordem constitucional, outorgando uma nova Constituição (MARTINS, 2020, online). 29 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8903.htm CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste momento, chega-se ao ponto alto da narrativa para concluir determinados aspectos que foram analiticamente abordados ao longo da apostila. A República Federativa do Brasil regida por uma estrita legalidade, debruça a sua legitimidade na Constituição Federal que estabelece a organização, fundamento, princípios, finalidades do Estado e direitos fundamentais. O Estado Federado representado pela União possui soberania enquanto os Estados-membros detêm autonomia. A Carta Política, ao mesmo tempo que organiza o Estado brasileiro, prevê mecanismos de manutenção ou restabelecimento da ordem política ou jurídica em momentos de anormalidades, chamados de sistema constitucional de crises ou legalidade extraordinária. Num sistema constitucional de crises existem restrições a liberdades e garantias individuais dos cidadãos proporcionalmente as medidas para manter ou restabelecer a normalidade constitucional e a harmonia social e do Estado. Os meios de autopreservação do Estado estão expressos num Estado Democrático através mecanismos listados na Constituição como aptos para garantir o Estado e as Instituições democráticas, bem como a observância dos direitos fundamentais, ainda que outros sejam limitados. Percebeu-se que os direitos fundamentais em situações de emergência podem ser restringidos ou suspensos, mas nunca extintos. Tem-se o estado de defesa e estado de sítio que podem ser decretados pelo Presidente da República como ato de soberania adstrito obrigatoriamente aos ditames legais como forma de estabilização institucional. Essas medidas excepcionais estavam presentes nas Constituições brasileiras com maior ou menor amplitude e intensidade conforme demonstrado numa breve referência histórica. Por fim, enumerou-se os princípios, que assim como as regras constitucionais, são reitores na implantação de estado emergencial. 30 LEITURA COMPLEMENTAR Este artigo discute a interpretação de Giorgio Agamben sobre a posição paradoxal do soberano, que estaria, ao mesmo tempo, dentro e fora do ordenamento jurídico. Pretende mostrar que esta interpretação, pelo menos na forma em que é enunciada, por meio do conceito de estado de exceção de Carl Schmitt, não se sustenta. Agamben enfraquece o teor jurídico do pensamento de Schmitt em favor de uma teoria da exceção e faz uma projeção indevida da situação paradoxal do estado de exceção para o soberano. Fonte: BARROS, Alberto Ribeiro Gonçalves de. Soberano e Estado de Exceção: Ressalvas a Agamben. Revista Universidade de São Paulo. N. 37, vol. 2. p. 63-71. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cefp/index Acesso em: 07 abril de 21. 31 https://www.revistas.usp.br/cefp/index MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Estado de Exceção no Direito Constitucional • Autor: Jorge Bacelar Gouveia. • Editora: Almedina. • Sinopse: o autor faz uma abordagem sobre a situação de emergência vivida em Portugal, pontualizando sobre a delimitação, fundamento e natureza da teoria geral do estado de exceção constitucional. 32 FILME/VÍDEO • Título: Getúlio • Ano. 2014 • Sinopse: A intimidade de Getúlio Vargas (Tony Ramos), então presidente do Brasil, em seus 19 últimos dias de vida. Pressionado por uma crise política sem precedentes, em decorrência das acusações de que teria ordenado o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), ele avalia os riscos existentes até tomar a decisão de se suicidar. 33 REFERÊNCIAS ATOS DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/conadc/1988/constituicao.adct-1988-5-outubro- 1988-322234-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso: 06 jun. 2021. BARCELLOS, A. P. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2020. BARROS, A. R. Soberano e Estado de Exceção: Ressalvas a Agamben. Cadernos de ética e filosofia política , 63-71, 2020. BONAVIDES, P. Curso de Direito Constitucional. 23 ed. São Paulo: Malheiros, 2008 MENDES, G. F.; et. al. Comentários à constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em: https://app.saraivadigital.com.br/biblioteca/main Acesso em: 21 jul. 2021. CARDOSO, P. P. 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Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar o Estado de Defesa; ● Compreender os tipos de Estado de Defesa; ● Estabelecer a importância do Estado de Defesa. UNIDADE II Estado de Defesa Professora Ma. Josiane Pilau Bornia 37 INTRODUÇÃO Caro Aluno. Esta unidade tem como objeto de estudo a abordagem o Título V, Capítulo I, Seção I da Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988. A presente seção intitulada DO ESTADO DE DEFESA que ficou previsto no artigo 136 do Diploma Constitucional. Uma incursão na organização da Constituição Federal mostra as matérias relevantes na constituição do Estado, ou seja, o que a Assembleia Constituinte elegeu como valores supremos numa escala de importância. Desta forma, o primeiro Título da Carta Magna indica os princípios fundamentais que regem a República Federativa do Brasil. Inseridos neste título estão os fundamentos, objetivos, os princípios que orientam o Brasil nas suas relações internacionais, os poderes da União e, em especial, a declaração que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. O segundo Título abarca um rol extenso de direitos e garantias fundamentais, extrai-se a idéia que depois de prever a estrutura do Estado, a Constituição Federal tutela o indivíduo como sujeito de direitos e ao mesmo tempo expressa os remédios constitucionais a serem utilizados no caso de eventuais desrespeitos a esses direitos. Não se pode deixar de registrar, neste momento, a preocupação que tem a Carta Magna em não simplesmente arrolar os direitos mas garantir a sua efetividade. O título terceiro prevê a organização político-administrativa dos entes da federação, como a União, os Estados federados, os Municípios e o Distrito Federal, para garantir a harmonia entre eles, incluindo a intervenção federal como mecanismo de preservação da integridade política, jurídica e física da federação. A intervenção é um aparato excepcional destinado a manter a integridade dos princípios basilares da Constituição. 38 A organização dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário está estampado no Título Quarto, que destaca composição e atribuição de cada poder, que são considerados harmônicos e independentes entre si. Por fim, o Título Quinto anuncia as formas de defesa do Estado e das instituições democráticas que são o estado de defesa e o estado de sítio. Não esquecendo de disciplinar as Forças Armadas e a Segurança Pública como instrumento de defesa do País e da sociedade. O panorama acima demonstra que além do Estado brasileiro ter sólida base de formação e organização, não descurou de formas de preservar a higidez contra ameaças ou ataques ao ente político. Nesse sentido, apresenta-se a análise do Estado de defesa quanto aos seus aspectos iniciais, hipóteses de abrangência, procedimento, titularidade para sua decretação, prazo de duração, controle exercido pelos Poderes Legislativo e Judiciário e, finalmente, as restrições dos direitos enquanto perdurar as medidas. Boa leitura. 39 1 CONCEITOS, HIPÓTESES, PROCEDIMENTOS DO ESTADO DE DEFESA 1.1. Conceitos A Constituição Federal estabeleceu dois mecanismos de defesa do Estado e das instituições democráticas, quais sejam: a) sistema constitucional de crises que são medidas excepcionais para manter ou restabelecer a ordem nas situações de anormalidades constitucionais; e b) defesa do País ou sociedade, através da Forças Armadas e da Segurança Pública. Como bem esclarece Thais Novaes Cavalcanti (2017, p. 2), o sistema constitucional das crises tem por finalidade a proteção do ordenamento jurídico e dos direitos e garantias individuais dos cidadãos contra processos violentos de mudança ou perturbação daquela ordem e situações críticas de guerra externa. O sistema constitucional de crises ocorre quando decretado o estado de defesa ou o estado de sítio conforme disciplinado na Constituição Federal. Verifica-se o estado de defesa quando houver instabilidade institucional ou calamidades de grandes proporções na natureza, desde que afete a ordem pública ou a paz social (TAVARES, 2020, p. 954). 40 Nesse mesmo sentido, Nagib Slaibi Filho (2009, p. 597) acrescenta que o estado de defesa é uma salvaguarda constitucional, considerado um instituto constitucional de defesa do Estado e das instituições democráticas, como garantia da ordem pública com a intensificação do poder de polícia que acarreta a restrição do exercício de certas garantias constitucionais. Consubstancia na instauração de uma legalidade extraordinária, por tempo determinado, em locais restritos e pontuais. Ressalta-se o caráter temporário e localizado da medida conforme o artigo 136 e parágrafo 1º da Constituição Federal (MOTTA FILHO, 2006, p. 534). A legalidade extraordinária caracteriza por uma série de competências extraordinárias taxativamente enumeradas na Lei Maior, demonstrando a suspensão de alguns aspectos constitucionais. Oportuno o esclarecimento de Alexandre de Moraes (2004, p. 206 : O Estado de Defesa é uma modalidade mais branda de estado sítio e às antigas medidas de emergência do direito constitucional anterior e não exige para sua decretação, por parte do Presidente da República, autorização do Congresso Nacional. O decreto presidencial deverá determinar o prazo de duração; especificar as áreas abrangidas e indicar as medidas coercitivas, nos termos e limites constitucionais e legais. Salienta-se que num sistema constitucional de crise, especialmente, no estado de defesa onde existe um momento de anormalidade, há possibilidade da suspensão de determinadas garantias constitucionais em lugar específico e por tempo determinado, aumentando o poder repressivo do Estado, fundamentado na gravidade da perturbação da ordem pública. As hipóteses previstas no art. 136, caput, da Constituição Federal: Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional decretar o estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidade de grandes proporções na natureza. (grifo nosso). A previsão constitucional pode ser fragmentada nos seguintes aspectos que compõe o conceito de estado de defesa (MARTINS, 2020, online): a) Preservar ou prontamente restabelecer: com esses termos sabe-se que o estado de defesa classifica-se em preventivo ou repressivo. O estado de defesa preventivo servirá para preservar a ordem pública ou a paz social. Enquanto que 41 o estado de defesa repressivo é decretado quando a ordem pública ou a paz social foram rompidas, sendo imperativo restabelecer a normalidade. b) Locais restritos e determinados: necessariamente no estado de defesa identifica- se a região de abrangência das medidas adotadas. Decorre tal exigência do princípio da determinação geográfica, que orienta no sentido de que no estado de defesa o local será restrito, ou seja, em lugar limitado não se estendendo a todo território nacional. Além do que, o decreto de estado de defesa deve indicar de maneira determinada a localidade de sua incidência. c) A ordem pública ou a paz social: o estado de defesa ocorrerá justamente quando houver a desordem pública ou a perturbação da paz social, com o fito de restabelecer o estado constitucional de todos os direitos e instituições democráticas. Frise-se que o estado de defesa é indicado no caso de instabilidade institucional ou calamidades de grandes proporções na natureza que tenham reflexos na ordem pública ou paz social. d) Ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza: a situação está marcada por uma gravidade ímpar e de futuro próximo que afete a instabilidade institucional não sendo suficientes os instrumentos regulares, como as polícias civil ou militar. Deve existir uma relação de proporcionalidade entre a situação grave e iminente e a decretação do estado de defesa, essa medida deve ser estritamente necessária. As calamidades de grandes proporções na natureza demonstram a pertinência do estado de defesa, pode-se citar como exemplos terremotos, maremotos, enchentes... 1.2 Hipóteses O estado de defesa admite as seguintes hipóteses de decretação: 1ª ) instabilidade institucional; 2ª ) calamidades de grandes proporções na natureza. A instabilidade institucional denota que a situação de crise afeta a vida comunitária como um todo e não apenas parcelas da sociedade (CARDOSO, 2011, p. 1123). 42 Outra hipótese da decretação são as calamidades de grandes proporções na natureza, o estado de defesa não tem caráter repressivo como no estado de sítio, sendo um instrumento de emergência, dissociado de ameaça política (FERREIRA, 2008, p. 345). A calamidade é invariavelmente um desequilíbrio, que nos termos do texto constitucional, terá que ser de grandes proporções e provocar a perturbação à ordem pública ou à paz social para decretação do estado de exceção (CAVALCANTI, 2017, online). Limita-se aos desastres naturais com proporção consideráveis para justificar medidas tão excepcionais. O Sistema Nacional de Defesa Civil (Decreto 7.257/2010) em seu artigo 2º, IV define estado de calamidade pública como “situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido”. Sylvio Clemente da Motta Filho (2006, p. 534) explica: Existem os requisitos fáticos (ameaça à ordem pública ou à paz social por grave iminente instabilidade institucional ou calamidade de grandes proporções na Natureza), o Presidente poderá deflagrar a instauração do estado extraordinário de legalidade em questão. Entende-se por ordem pública como regramento que assegura o funcionamento da sociedade, sendo o respeito aos direitos humanos uma premissa maior a garantir a credibilidade do governo frente a determinadas violações (CARDOSO, 2011, p. 1223). Interpreta-se paz pública como “o conjunto de regras que assegura o funcionamento da sociedade onde os direitos sociais, econômicos e culturais são, (...) respeitados e procura-se colocar em prática o princípio da não discriminação por origem social” (CARDOSO, 2011, p. 1123). Celso Ribeiro Bastos (apud CAVALCANTI, 2017, online) defende que a expressão ordem pública já englobaria paz social, contudo o discurso repetitivo do Texto Constitucional demonstra o excesso de redundâncias à escassez de disciplinamento. A gravidade desses requisitos fáticos demonstra que as restrições ordinárias não são aptas a conter o estado de anormalidade, sendo insuficientes. 43 1.2. Procedimento e titularidade O artigo 136 da Carta Magna expressa que o Presidente da República pode consultar o Conselho da República e o Conselho da Defesa Nacional decretar o estado de defesa. O artigo 84, X, da Constituição Federal ratifica essa premissa estabelecendo que é competente privativamente o Presidente da República decretar o estado de defesa e o estado de sítio. Extrai-se que somente ele pode fazê-lo. O procedimento para decretar o estado de defesa é que primeiramente o Presidente da República deve consultar o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional previstos nos artigos 89 a 91 da Constituição Federal. O Conselho da República é órgão superior destinado a assessorar o Presidente da República. Explica Eduardo Ribeiro Moreira (2010, online): A falta de inovação por parte do legislador, quando da regulamentação do Conselho (Lei 8.041/1990), e a falta de iniciativa dos Presidentes da República relega um papel figurativo ao Conselho da República, pois oportunidades não faltaram para que fosse discutido o papel do Governo, até mesmo em questões de Estado, acerca de crises que no fundo repercutiram na democracia brasileira. O artigo 3º da Lei 8041/90 enumera quem compõe o Conselho da República, além do Presidente da República, seriam: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados, designados na forma regimental; 44 V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal, designado na forma regimental; VI - o Ministro da Justiça; VII - 6 (seis) cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 (trinta e cinco) anos de idade, todos com mandato de 3 (três) anos, vedada a recondução, sendo: a) 2 (dois) nomeados pelo Presidente da República; b) 2 (dois) eleitos pelo Senado Federal: e c) 2 (dois) eleitos pela Câmara dos Deputados. A presença de seis cidadãos no Conselho denota o caráter democrático. Nesse sentido, Eduardo Ribeiro Moreira (2010): “a convocação do Conselho nos momentos de crise democrática é vital para resposta à sociedade das questões democráticas relevantes, (...) sob uma análise distante das argumentações políticas de persuasão popular”. Percebe-se que o presente Conselho é um colegiado onde prevalecem os representantes das instituições civis e parlamentares. Segundo Sylvio Motta Filho (2006, p. 440), “curiosamente, não há qualquer membro do Judiciário no Conselho''. O Presidente pode convocar Ministro para participar da reunião (artigo 90, parágrafo 1º, da Constituição)”. A participação no Conselho da República é considerada atividade relevante e não remunerada (artigo 2 º, parágrafo 4º da Lei 8.041/90). Por sua vez, o Conselho de Defesa Nacional previsto no artigo 91 da Constituição Federal trata dos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático (artigo 91, parágrafo 1º da Constituição). Participam como membros natos do Conselho de Defesa Nacional: o Vice- Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal, o Ministro da Justiça, o Ministro de Estado da Defesa, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro do Planejamento, os Comandantes da Marinha, do 45 Exército e da Aeronáutica (artigo 91 da Constituição). Nota-se que o Conselho de Defesa Nacional tem a participação de ministros militares, sendo assim esse Conselho cuida de assuntos externos enquanto o Conselho da República se interessa por assuntos internos. A Carta Política no artigo 91, parágrafo 1º e artigo 1º, parágrafo único da Lei 8.183/91 estabelecem que é competente o Conselho de Defesa Nacional opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal. O Presidente da República poderá designar membros eventuais para as reuniões do Conselho de Defesa Nacional, conforme a matéria a ser apreciada (artigo 2º, parágrafo 1º da Lei 8.183/91). Para o trato de problemas específicos da competência do Conselho de Defesa nacional poderão ser instituídos junto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, grupos e comissões especiais, integrados por representantes de órgãos e entidades, pertencentes ou não à Administração Pública Federal (artigo 4º parágrafo único da Lei 8.183/91). O artigo 5º da Lei 8.183/91 disciplina que o exercício da competência do Conselho de Defesa Nacional terá como diretriz o conhecimento das situações nacional e internacional, para planejamento, condução política e estratégia da defesa nacional. Esses conselhos são órgãos de consulta, desta forma, o Presidente da República pode ou não considerar as manifestações dos citados conselhos, o que não afasta a necessidade de consulta prévia. É relevante esclarecer que o Presidente deve exaustivamente expor os motivos (de Direito e de fato) que fundamentaram a decretação do estado de emergência. Após ouvidos o Conselho da República e o Conselho da Defesa Nacional, o Presidente da República decreta o estado de defesa, fixando o tempo de duração, delimita os locais e as medidas coercitivas (MARTINS, 2020, online). Na sequência, o Presidente da República submete o ato de justificativa da decretação do estado de defesa ao Congresso Nacional que decidirá por maioria absoluta. Se o Congresso estiver em recesso, será convocado extraordinariamente, no prazo de cinco dias (artigo 136, parágrafo 5º da Constituição Federal). Caberá ao Presidente do Senado Federal a convocação conforme o artigo 57, parágrafo 6º, inciso 46 I da Constituição Federal. O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa (artigo 136, parágrafo 4º da Constituição Federal). Haverá regime de urgência de apreciação na Câmara dos Deputados conforme o Regime Interno da Câmara dos Deputados (artigo 159, parágrafo 2º, inciso II, Resolução Nº 17/89) e no Senado Federal (artigo 353, inciso I, alínea b da Resolução Nº 93/70). A espécie normativa quanto apreciação do estado de defesa é o decreto legislativo (artigo 59, inciso VI da Constituição Federal). Se o decreto não for aprovado, cessa imediatamente o estado de defesa. Segundo André Ramos Tavares (2020, online) “há possibilidade de restrição às comunicações''.
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